as polÍticas pÚblicas educacionais e as especificidades

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AS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E AS ESPECIFICIDADES REGIONAIS NAS ZONAS RURAIS DO AMAZONAS Cinthya Martins Jardim 1 José Aldemir de Oliveira 2 Resumo Este artigo é um recorte do capítulo II da Dissertação de Mestrado da autora, defendido junto ao Programa de Pós- Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia UFAM. O mesmo se propõe a analisar as ações das políticas públicas educacionais que foram implantadas e amplamente divulgadas pelo Governo Federal na década de 1990 (Lei n.º 9.394/96 e Emenda Constitucional 14) e seu reflexo na atualidade das escolas localizadas na zona rural amazonense, quando os financiamentos destinados à educação priorizam quantitativamente o ato de “ganhar” ou “perder” recursos na esfera municipal ou estadual pela preocupação em garantir os financiamentos destinados à educação. Palavras-chave: Amazônia; descentralização do ensino; políticas públicas educacionais; nucleação escolar; PUBLIC EDUCATIONAL POLICIES AND REGIONAL SPECIFICITIES IN THE AMAZON RURAL AREAS Abstract This article is a cut of chapter two of the Master's Dissertation of the author defended in the program of Post-Graduation in Society and Culture of the Amazon - UFAM.This same article proposed to analyze the actions of public educational policies that were implemented and widely publicized by the Federal Government in the 1990s (Law 9.394/96 and Constitutional Amendment 14)and its reflection in the actuality of the schools located in the rural zone of the state of Amazonas. Especially when funding for education prioritizes quantitatively the act of "winning" or "losing" resources at the municipal or state level for the concern to guarantee funding for education. Keywords: Amazon, decentralization of education, educational public policies, school nucleation. 1 Doutoranda em Sociedade e Cultura da Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (PPGSCA / UFAM). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira (NEPECAB). E-mail: [email protected] 2 Professor Titular de Geografia da Universidade Federal do Amazonas, pesquisador do CNPq e professor no Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura e Geografia da UFAM.

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Page 1: AS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E AS ESPECIFICIDADES

AS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E AS ESPECIFICIDADES REGIONAIS NAS

ZONAS RURAIS DO AMAZONAS

Cinthya Martins Jardim1 José Aldemir de Oliveira2

Resumo Este artigo é um recorte do capítulo II da Dissertação de Mestrado da autora, defendido junto ao Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia – UFAM. O mesmo se propõe a analisar as ações das políticas públicas educacionais que foram implantadas e amplamente divulgadas pelo Governo Federal na década de 1990 (Lei n.º 9.394/96 e Emenda Constitucional 14) e seu reflexo na atualidade das escolas localizadas na zona rural amazonense, quando os financiamentos destinados à educação priorizam quantitativamente o ato de “ganhar” ou “perder” recursos na esfera municipal ou estadual pela preocupação em garantir os financiamentos destinados à educação.

Palavras-chave: Amazônia; descentralização do ensino; políticas públicas educacionais; nucleação escolar;

PUBLIC EDUCATIONAL POLICIES AND REGIONAL SPECIFICITIES IN THE AMAZON RURAL AREAS

Abstract

This article is a cut of chapter two of the Master's Dissertation of the author defended in the program of Post-Graduation in Society and Culture of the Amazon - UFAM.This same article proposed to analyze the actions of public educational policies that were implemented and widely publicized by the Federal Government in the 1990s (Law 9.394/96 and Constitutional Amendment 14)and its reflection in the actuality of the schools located in the rural zone of the state of Amazonas. Especially when funding for education prioritizes quantitatively the act of "winning" or "losing" resources at the municipal or state level for the concern to guarantee funding for education.

Keywords: Amazon, decentralization of education, educational public policies, school nucleation.

1 Doutoranda em Sociedade e Cultura da Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (PPGSCA / UFAM).

Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira (NEPECAB). E-mail: [email protected]

2 Professor Titular de Geografia da Universidade Federal do Amazonas, pesquisador do CNPq e professor no

Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura e Geografia da UFAM.

Page 2: AS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E AS ESPECIFICIDADES

I. INTRODUÇÃO

O presente artigo é um recorte do capítulo II da pesquisa de Dissertação de

Mestrado defendida em 2003 pela autora, junto ao Programa de Pós-Graduação em

Sociedade e Cultura na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, que teve

como título Espacialidade e saber: a nucleação das escolas rurais de Nova Olinda do

Norte/Amazonas. O mesmo se propõe a discutir as políticas públicas educacionais

implantadas na década de 1990, pela Lei n.º 9.394/96 e Emenda Constitucional 14 e o seu

impacto nas escolas da zona rural do Amazonas, especificamente no município de Nova

Olinda do Norte – Amazonas.

O objetivo desse artigo volta-se para verificar de que maneira essas leis

promoveram profundas mudanças no ensino e no cotidiano das crianças da zona rural do

Amazonas, realizando um estudo comparativo dos dados observados no início da pesquisa

realizada em 2000 com a realidade encontrada cerca de uma década após o auge da

municipalização do ensino em todo Brasil, a qual foi marcada pelos momentos que

provocaram alterações na distribuição dos recursos municipais, estaduais e federais

destinados à educação e que propiciaram a descentralização do ensino em todo o país.

Especificamente no Amazonas, desde 1997, as Secretarias Municipais de

Educação passaram a reduzir o número de estabelecimentos escolares da zona rural,

adotando uma alternativa pedagógica que culminou com a implantação de uma estratégia

educacional denominada como: nucleação escolar. 3 A redução dos estabelecimentos

escolares foi realizada em estreita articulação com os órgãos municipais envolvidos e tinha

como finalidade, concentrar maior número de alunos em escolas–núcleo, inseridos em uma

ação seletiva e redistributiva, pois o valor dos recursos destinados a educação que deveria

ser aplicado a cada estabelecimento escolar, era fixado de acordo com o número de alunos.

A estratégia pedagógica adotada pelas Secretarias Municipais de Educação do

Amazonas, teve por base o modelo de gestão adotada pelo Projeto Nordeste.4 Embora

3 A nucleação escolar foi considerada como um artifício informal e não obrigatório. No entanto, foi amplamente utilizada com a finalidade de concentrar os benefícios do FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério), pois para o MEC a prioridade não é o número de escolas e, sim, o número de alunos que recebe o atendimento escolar. Daí ser constatado desde 1997 um acelerado processo de redução dos estabelecimentos escolares na zona rural realizado pelas Secretarias de Educação Municipais em municípios como Parintins, Eirunepé, Iranduba, São Gabriel da Cachoeira, Nhamundá, Manacapuru, Manaquiri, Autazes, Nova Olinda, Barreirinha, Maués, Urucará e outros. Dados coletados junto ao Departamento de Planejamento e Avaliação da Secretaria Estadual de Educação do Amazonas – Deplan, 2002. 4 Programa que propõe diagnosticar as múltiplas dimensões dos problemas educacionais que afetam as escolas públicas do Nordeste. Foi estruturado a partir do Programa de Pesquisas e Operacionalização de Políticas Educacionais (PPO), tendo seu início em Brasília no dia 8/2/1997, em parceria com representantes da coordenação do Banco Mundial, Unicef, Mec e equipes de trabalho formadas por especialistas em educação. Uma das metas propostas para superação dos elevados

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conste no referido programa que decisões como essas precisem estar fundamentadas com

os aspectos geográficos, demográficos, econômicos, administrativos e técnico-pedagógicos

de cada local ou microrregião, alguns municípios do Estado do Amazonas adotaram essa

estratégia na tentativa de concentrar um número de matrículas superior a vinte e um alunos

em algumas escolas rurais, que passariam a se classificar como escolas-núcleo. A

efetivação desse processo gerou e continua gerando até os dias atuais o fechamento de

escolas que possuem o quadro de matrículas inferior a esse total de alunos, as quais

passam a ser classificadas como escolas nucleadas, cedendo seus alunos e professores à

escola-núcleo.

II. DESENVOLVIMENTO

Segundo Edgar Morin (1997), a questão do olhar é primordial para que

percebamos a complexidade das coisas que ocorrem em nosso campo de visão, pois

conhecer é sempre poder rejuntar uma informação ao seu contexto e ao conjunto ao qual

pertence. Mediante esse desafio, é preciso que juntemos duas noções antagônicas, e, ao

mesmo tempo, complementares: as singularidades regionais e a implementação das

políticas públicas nacionais direcionadas para o campo da educação rural amazônica. Ao

analisarmos por essa perspectiva percebemos a complexidade desse processo, pois ao

mesmo tempo em que o homem rural atua na sociedade amazônica com seu modo de vida,

lendas, linguagem e alimentação, também se torna objeto da mesma, à medida que lhe são

impostas proibições, normas e modificações na sua organização espacial. Daí ser

impossível a realização de um estudo sobre nucleação escolar sem analisar a interação e os

reflexos que essa política pública reproduziu nas comunidades rurais e no cotidiano dos

seus comunitários.

2.1 O sistema nacional de ensino e as singularidades locais

Diariamente todos nós somos induzidos a fazer novas escolhas. A escolha do

caminho a ser seguido dependerá das diferentes visões que cada um tem do mundo. No

caso das escolhas realizadas pelos sujeitos sociais que vivem na floresta amazônica, as

mesmas se tornam o produto da sua interação na sociedade e de sua integração nela.

Oliveiros Ferreira (1994, p. 97) afirma que ao adquirimos novos conhecimentos somos

induzidos a formar novos valores, assim, embora a totalidade brasileira empreenda formas

índices de fracasso escolar na zona rural do Nordeste articula sobre a necessidade de criar meios eficientes de pulverização das escolas nessas áreas, por meio da criação de um forte esquema técnico, agrupado em torno de uma escola-pólo. Programa de Pesquisa e Operacionalização de políticas Educacionais, Chamada à ação: combatendo o fracasso escolar no Nordeste, 1997, p. 50.

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de adaptação social às particularidades amazônicas, nestas permanecem cristalizadas as

suas peculiaridades resultantes das ações desenvolvidas em seu cotidiano.

A ação organizada por determinados grupos sociais possibilita que se instale em

determinadas áreas do país, ações juridicamente apoiadas pelo Estado, que passam a ser

ideologicamente construídas por um organismo uno, capaz de fortalecer os laços de

dependência com essa totalidade, com a finalidade de realizar sua incorporação, tornando-a

como parte efetivamente integrante da mesma. Oliveiros Ferreira (1994, p. 100-101) afirma

que esta realidade sempre esteve presente na historicidade encontrada na região

amazônica, e hoje, mais do que nunca, se faz presente de forma cada vez mais acentuada

quando direcionamos nosso olhar para as peculiaridades encontradas nessa região.

Sobre tais questionamentos, Bertha Becker (1994, p. 105-106) assevera que a

nova ordem pensada para a Amazônia no final do século XX permitiu a estruturação de

políticas públicas que nos desafiam a buscar novas respostas para explicar a organização

da vida política entre Nação e Região, pois tais elementos afetam diretamente aqueles que

compõem a sociedade, suas relações com a natureza e a sua atuação no meio social a

partir do momento em que são anexadas às suas particularidades locais, novas estruturas

sociais, culturais e principalmente econômicas, as quais passam a se relacionar com o

espaço e o tempo amazônico, como elementos capazes de alterar suas relações sociais e

desrespeitar as peculiaridades do cotidiano local.

Uma análise dialética entre o que é estabelecido pelo global e o que precisa ser

cumprido pelo local se faz necessária para entendermos como, na prática, essa política

pública direcionada à educação, influenciou indiretamente na nucleação das escolas rurais

de Nova Olinda do Norte e da maioria dos municípios do Amazonas, demonstrando que a

mesma se encontrava e continua se encontrando, desarticulada com o modo de vida do

homem rural amazônico, visto que a totalidade nacional se compõe de partes heterogêneas

com diferentes ritmos de funcionamento, e a tentativa de homogeneizar o ensino em todo o

país está inserida em uma questão ampla e complexa que vai muito além dos discursos

oficiais ou dos dados quantitativos apresentados pelos censos escolares.

Com a conclusão da pesquisa de Dissertação em 2003, de acordo com dados

fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação (2001), encontravam-se quatorze escolas

integradas ao processo seletivo de Nucleação Escolar com 96 escolas ativas na zona rural

do município e 2.239 alunos no quadro de matrícula inicial do município. Em 2012, durante

trabalhos de campo realizados no referido município, o número de escolas ativas diminuiu

para 65 escolas rurais com 6.400 alunos em seu quadro de matrícula inicial, atendidos em

turmas multisseriadas no Ensino Fundamental.5

5 Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Nova Olinda do Norte/2012.

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Estes dados evidenciam que, muito embora se tenha constatado durante o

trabalho de Dissertação as dificuldades enfrentadas pelos comunitários da zona rural ao se

adaptarem a esse processo, o mesmo continuou a ser realizado de forma intensiva no

referido município estudado, demonstrando claramente uma preocupação voltada para

obtenção dos recursos destinados a educação, adequando-se ao perfil proposto pela LDB

na busca da “qualidade de ensino”.

Na década de 1990, a preocupação em instalar no país uma educação mais

democrática e de melhor qualidade a partir de um esforço conjunto compartilhado com

Estados, municípios e União foi finalmente sancionada em 20 de dezembro de 1996, com a

Lei n.º 9.394, responsável por estabelecer as novas diretrizes e bases da educação

nacional. O seio da concepção neoliberal responsável por definir as novas diretrizes do

ensino no Brasil ainda carrega consigo muitas semelhanças das concepções e fundamentos

encontrados na Lei n.º 4.024/61. Ao realizarmos a análise apurada de três implicações

diretamente ligadas à questão educacional: “trata-se das contradições entre o homem e a

sociedade, entre o homem e o trabalho e entre o homem e a cultura” (SAVIANI, 2000, p.

192).

A redução dos estabelecimentos escolares na zona rural do Amazonas colocada

em prática em 1997 com a nucleação escolar foi motivada pela necessidade de enquadrar a

escola como beneficiária dos recursos advindos do FUNDEF (Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério), pois a verba

destinada a cada estabelecimento escolar era fixada de acordo com o número de alunos.

Dessa forma, todas as vezes que a escola rural apresentasse número de matrículas inferior

a 21 alunos (fato este muito peculiar nas escolas rurais do Amazonas, com quadro de

matrículas que apresentavam no máximo doze alunos no ensino multisseriado), haveria

queda nos recursos do salário-educação, comprometendo o desempenho financeiro do

município. É nesse sentido, que se abrem amplas discussões quanto aos financiamentos

destinados à educação, visto que o fato de “ganhar” ou “perder” recursos na esfera

municipal ou estadual demonstra que prioriza os dados quantitativos pela preocupação em

conseguir os financiamentos destinados às escolas da zona rural, deixando em segundo

plano o esforço conjunto para a melhoria qualitativa da educação no campo.

Pedro Demo (2001, p. 28-29) destaca que a qualidade no setor educacional

deve estender-se ao acesso universalizado capaz de proporcionar o conhecimento básico

educativo, garantindo aos envolvidos nesse processo, condições de participar do mesmo,

pois a efetivação dessa proposta precisa ser composta pela criação de uma qualidade

formal aliada à criação de políticas públicas adequadas em termos qualitativos e

Page 6: AS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E AS ESPECIFICIDADES

quantitativos que deveriam se tornar a força motriz para o processo de modernização da

sociedade e da economia.

Daí a necessidade de realizarmos uma análise investigativa sobre a

problemática relacionada com a implantação de uma política pública educacional a nível

macro, iniciada com a Lei nº 93947/96 e Emenda Constitucional 14 e sequenciada com a Lei

nº 11.494 de 20 de junho de 2007, que regulamenta o FUNDEB (Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), de

que trata o art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; alterando a Lei no

10.195, de 14 de fevereiro de 2001 e revoga os dispositivos das Leis nº 9.424, de 24 de

dezembro de 1996, 10.880, de 9 de junho de 2004, e 10.845, de 5 de março de 2004.

A preocupação em instalar no país uma educação mais democrática e de melhor

qualidade, permitiu o surgimento de iniciativas isoladas, amplos debates e propostas

defendidas por entidades nacionais e gestores de órgãos públicos ligados à educação,

questionando o binômio qualidade x quantidade. Analisar os parâmetros que regem a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação e suas diretrizes com relação à municipalização do Ensino

Infantil e Fundamental proporciona ao pesquisador o reconhecimento do quão amplo e

complexo é a tentativa de homogeneização do ensino nacional, visto que, a realidade

educacional encontrada na zona rural dos municípios do Estado do Amazonas, está

envolvida em uma totalidade considerada estrutural por proporcionar significados e valores a

diferentes atores sociais que, por sua vez, ali se encontram integrados a um ritmo e

dinâmica própria do lugar sem deixarem de sofrer as consequências advindas dessa

totalidade.

2.2 As políticas públicas e os aspectos geográficos dos lugares amazônicos

Na qualidade de geógrafos, a efetivação da estratégia de Nucleação Escolar

posta em prática na zona rural dos municípios do Amazonas, passou a nos interessar

significativamente principalmente por proporcionar estudos mais aprofundados sobre o

reconhecimento da aplicabilidade e viabilidade de uma política pública nacional que interfere

diretamente nas formas de organização social encontradas em dois ecossistemas singulares

da Amazônia – a várzea e a terra firme.6

6 Classificação atribuída aos dois ecossistemas amazônicos responsáveis por compor o quadro geomorfológico

da região e o modo de vida das populações que habitam a margem dos rios. Nas áreas de várzea, encontramos

planícies periodicamente inundáveis extremamente férteis que constituem cerca de 1,5% da Amazônia. Essa

fertilidade é amplamente aproveitada no cultivo de culturas temporárias como banana, melancia, milho e feijão.

Nessas áreas é comum maior concentração populacional, embora, pela questão da enchente e vazante dos rios,

aqueles que ali estabelecem moradia periodicamente sejam forçados a realizar migrações sazonais em virtude do

regime fluvial que começa a subir em novembro e atinge sua máxima nos meses de maio a junho, caracterizando

o período das “cheias” para decair de agosto a outubro, denominado como “vazante”. Nas áreas de terra firme,

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Sob esse aspecto, a Nucleação Escolar, embora propicie o aumento no quadro

de matrícula inicial das escolas núcleo situadas nas zonas rurais do município, não gera

direitos iguais à população rural por enfraquecer a democratização do ensino ao contribuir

para o fechamento de muitas escolas na zona rural do Amazonas, visto que a implantação

de um ensino democrático deve possibilitar o acesso educacional de forma igualitária,

estendendo-se a todos e não apenas centralizado em algumas áreas.

Quando as políticas publicas são direcionadas ao ambiente amazônico,

percebemos com clareza que é preciso muito mais do que um simples olhar para

entendermos a complexidade desses ambientes. Distâncias a serem percorridas para que

as crianças tenham acesso ao transporte fluvial e assim conseguir chegar diariamente à

escola núcleo, podem ser encurtadas ou acrescidas de quilômetros, dependendo do período

da enchente ou da vazante dos rios que cortam a região. É preciso que haja maior

integração com o lugar, pois são nos lugares amazônicos que se desenrolam as

singularidades naturais e socioculturais capazes de constituir ou, ao mesmo tempo,

desarticular o ecossistema amazônico. É necessário que se estabeleça um olhar

englobando a totalidade simbólica tecida pelas particularidades humanas e naturais que

compõem essa espacialidade, pois, ao contrário do que se observa ao primeiro olhar sobre

a região, não é a homogeneidade e, sim, a diversidade que proporciona os encantos e os

mistérios sobre a Amazônia.

Além da problemática natural da região ressaltada pela questão da

espacialidade marcada pelas grandes distâncias, colocar em prática a Nucleação Escolar

nas comunidades rurais se confronta com duas fortes barreiras: a questão política, que

influencia diretamente na escolha da comunidade que será classificada como o núcleo

escolar, surgindo daí divergências entre os comunitários das comunidades rurais que terão

suas escolas fechadas, visto que as mesmas normalmente foram instaladas nas

comunidades pelas promessas realizadas em períodos eleitorais; e a barreira social,

defendida pelos comunitários e pela ação da Igreja, que resistem à saída da escola de sua

comunidade, pois a retirada desse ponto de integração social reflete a perda do valor

sociocultural frente às outras comunidades.

A ausência da participação democrática na viabilização desse tipo de processo,

quando as decisões são impostas pelas Secretarias Municipais de Educação de forma

encontramos os terrenos que geralmente apresentam baixa fertilidade e um ecossistema frágil formado por vastas

áreas de floresta exuberante resultante do processo de reciclagem de nutrientes advindos da própria floresta, isto

é, em virtude dessa baixa fertilidade, a própria floresta repõe seus nutrientes reaproveitando a decomposição de

toneladas de folhas, flores, frutos e galhos que anualmente caem no solo. Essas áreas constituem cerca de 98%

da região e se encontram longe das ações das águas dos rios e das marés e a sua fragilidade pedológica é

revelada no momento dos grandes desmatamentos e pelas ações das queimadas. IBGE. Geografia do Brasil –

Região Norte, 2000, p. 15-17.

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verticalizada, demonstra claramente que os comunitários não possuem poder de decisão na

escolha da comunidade que será nucleada e da comunidade que se tornará núcleo. Este

fato também é um agravante do grau de descontentamento por parte de pais, alunos,

professores e lideranças políticas das comunidades rurais que passam a perder sua

importância de uso comum ao se depararem com o fechamento da escola na sede de sua

comunidade.

Nesse caso, após uma década de efetiva aplicabilidade desse processo de

ensino, se torna interessante analisar até que ponto a Nucleação Escolar aplicada nos

municípios do Amazonas contribuiu para a democratização da educação na zona rural, pois

a dimensão dessa política pública ultrapassa as especificidades locais. Esse processo de

democratização reproduz as “normas (aparentes) de igualdade e neutralidade social da

educação – em nome das quais os grupos médios superiores obtêm uma série de medidas

que os favorecem – agem como legalidade que exclui os socioculturalmente inferiores”

(SAVIANI, 2000, p. 61). É importante lembrar que, com as transformações originadas pela

Nucleação Escolar na zona rural, surgem tendências à instabilidade sociocultural que

constantemente propiciam grandes mudanças no cotidiano dos comunitários.

Embora o processo lento e doloroso colocado em prática com a Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional possa vir a se caracterizar como moderno, a reestruturação

do sistema de ensino a nível macro proporcionou a inserção de mudanças que não

ocorreram de forma isolada. É necessário identificar as tendências neoliberais aplicadas ao

processo educacional vivenciado no Amazonas e o seu reflexo sobre o papel do Estado na

atualidade. Para Guiomar de Mello (1993, p. 76-77), o ato de descentralizar o ensino só se

tornará eficaz à medida que se reconheça a diversidade nos pontos de partida assegurando

a equidade nos pontos de chegada, pois reduzir a descentralização ao ato de

“prefeiturização” do gerenciamento do ensino não proporciona o estabelecimento de um alto

grau de integração, solidariedade e identidade dos propósitos que deveriam estar voltados

para as necessidades educacionais vivenciadas nos municípios brasileiros.

O impacto originado por essas mudanças no setor educacional do município

não se restringe apenas aos aspectos econômicos e políticos, mas significativamente e

principalmente às questões sociais, pois o principal poder gerado pelas atividades

educacionais está na sua capacidade de formar sujeitos participativos e atuantes na

sociedade, capazes de contribuir para modificar a sua história. Para Pedro Demo (1997, p.

64-65), somente através de uma política reconstrutiva da aprendizagem haverá a evolução

da realidade, pois não se muda a história de determinada sociedade tendo por base apenas

a qualidade política. É preciso que se estabeleça a qualidade formal expressa através da

competência técnica de manejar o conhecimento.

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Oliveira & Duarte (1992, p. 14) acentuam que a principal dificuldade de

compreender as especificidades resultantes das políticas públicas educacionais e sua

adaptação às particularidades está na relação recíproca entre dois polos distintos e, ao

mesmo tempo, complementares, por encontrarem-se integrados em um todo dinâmico que é

a sociedade. Dessa forma, são inúmeros os debates sobre a importância política da

educação no processo de socialização do conhecimento, principalmente quando as políticas

publicas nacionais são elaboradas alheias às peculiaridades locais, embora todos os lugares

necessitem estar incluído no processo, por constituírem-se como parte do conjunto que

compõem essa totalidade.

Para o Ministério da Educação e Cultura (MEC, 2010), os fatores que

legalizaram e sustentaram os benefícios do processo de implantação da Nucleação Escolar

nas áreas rurais dos municípios brasileiros, ampararam-se defendendo a ideia de que a

melhoria dos benefícios relativos à qualidade educacional está associada à geração de

escolas mais estruturadas com salas unisseriadas, organizadas em escolas núcleo se

comparadas com a histórica precariedade das escolas multisseriadas. No entanto, no caso

do Amazonas, a estratégia de Nucleação Escolar também serviu de base para dar

continuidade ao processo educacional aplicado em salas multisseriadas, como podemos

analisar:

A coordenadora do Escola Ativa no Amazonas, Zélia Laray, explica que as classes multisseriadas já foram mal vistas, mas isso mudou: “bem trabalhadas, são ferramentas capazes de promover e oferecer um ensino público de qualidade a crianças que precisam enfrentar horas de ônibus ou barco para chegar nas escolas mais próximas. Estamos fortalecendo o ensino nas classes da própria localidade”, enfatiza. Em 2009, 41 municípios amazonenses aderiram ao Escola Ativa. Em 2010, com a adesão de mais dez localidades, chegou a 51 o número de municípios participantes do programa”.(SEDUC, Assessoria de Comunicação/Secretaria de Educação do Amazonas, 2012). 7

Alguns setores da educação em esfera nacional e municipal, amparados no

sucesso do programa adotado em outras regiões do Brasil, ainda sustentam argumentos de

permanência desse viés econômico-administrativo, afirmando que os custos com a

nucleação frequentemente são mais baixos que os custos da manutenção das salas

multisseriadas, dada a menor necessidade de contratação de professores e serventes por

aluno, o que implicaria em melhores investimentos em infraestrutura e formação docente.

Segundo Carmo (2010), é preciso que levemos em consideração que no caso da

Amazônia existe uma singularidade local originada pela necessidade de se estabelecer na

grande maioria das zonas rurais das cidades amazônicas um fluxo de transportes via fluvial

marcado por percursos que podem durar horas entre essas comunidades em períodos de

7 Dados do Censo Escolar, 2011. A viabilização dos trabalhos em salas multisseriadas no Estado do Amazonas é

realizado pelo Programa Escola Ativa, o qual até 2010 contemplava cerca de 51 municípios do Estado do

Amazonas (fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/conteudoJornal.html. Acesso: 24.01.2017).

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enchente vazante dos rios. Nesse sentido a implantação da Nucleação Escolar tem gerado

certos antagonismos na região, pois se por um lado, as Secretarias Municipais de Educação

continuam a defender a nucleação como alternativa para superar o quadro de matricula

inicial deficitário em algumas escolas, a outra vertente nos demonstra que a implantação

dessa estratégia não contribuiu para a eliminação das classes multisseriadas, que

continuam atendendo em um mesmo espaço várias séries e as escolas núcleo continuam

funcionando em escolas sem estruturas adequadas que ferem o direito à educação dos

sujeitos na zona rural, uma vez que a nucleação tem significado o fechamento de muitas

escolas nas comunidades rurais do Amazonas.

O fechamento das escolas rurais com a implantação do processo de Nucleação

Escolar permitiu que um grande número de crianças da zona rural do Amazonas passassem

a estudar longe de seus domicílios, dada ás peculiaridades encontradas ao promover a sua

sujeição ao transporte coletivo diário via fluvial, ao mesmo tempo que, permitiu a violação

dos direitos e as garantias das crianças e adolescentes em idade escolar, no que se refere

aos princípios constitucionais enumerados nos artigos 206, incisos I - igualdade de

condições para o acesso e permanência na escola; VI - gestão democrática do ensino

público, na forma da lei; 208 , Inciso IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de

zero a seis anos de idade e art. 53, inciso V do ECA - acesso à escola pública e gratuita de

ensino publico próximo a sua residência.

As críticas feitas ao processo de nucleação denunciam que o distanciamento da

escola-núcleo das comunidades de origem de seus alunos e de suas respectivas famílias,

provocam riscos e desgastes ocasionados pelas longas viagens realizadas em estradas

precárias.

[...] esse processo indica também que a política de nucleação contribui para o desenraizamento cultural dos alunos do campo, tanto por deslocá-los para longe da comunidade de origem, como por oferecer um modelo de educação urbano, alheio ao seu cotidiano, favorecendo o desestímulo à gestão participativa da escola, uma vez que, longe de sua comunidade de origem, os alunos e seus respectivos pais não teriam meios para participar desse processo. (ARROYO, 1999, p. 68).

Nesse sentido, é importante não esquecer que:

[...] a questão educacional não pode ser medida apenas pelas taxas quantitativas de acesso, evasão, retenção e desempenho, mas pelo investimento na relação dos aprendizes com os outros seres humanos e com o ambiente. Para se ter acesso a qualidade da educação, é necessário seguir o princípio da igualdade e equidade em que todos os brasileiros tivessem acesso a educação mesmo na diversidade. (Ednir e Bassi, 2009, p.101 ).

III. CONCLUSÃO

A municipalização educacional pode ser valiosa ou não, à medida que venha a

se desenvolver articulada com a democratização, o acesso e a permanência da população

rural nas escolas públicas. A eficácia dessa política publica educacional dependerá do

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reconhecimento e do entendimento da realidade social onde esse processo está sendo

colocado em prática. Portanto, concluímos que ainda existam questões-problemas que

necessitam continuar sendo investigadas na tentativa de responder: De que modo o

processo de Nucleação Escolar contribuiu no processo de democratização do ensino em

outros lugares na zona rural amazônica? Qual o papel da escola como mediadora das

possibilidades de acesso à educação diante da forma limitada que o processo de nucleação

impõe no cotidiano das comunidades rurais amazônicas? Existe realmente uma

infraestrutura de transporte escolar na zona rural adaptada para atender as necessidades de

locomoção nos períodos das cheias e vazantes dos rios em ecossistemas de várzea e terra

firme, com a finalidade de viabilizar o processo de nucleação e a acessibilidade dessas

crianças à escola?

A busca para responder a esses questionamentos nos permitem investigar de

que maneira as políticas públicas nacionais são efetivadas, regulamentadas e perpetuadas

de forma articulada ou desassociada da realidade local. A terra, o rio, o calor escaldante ou

os temporais bravios, a natureza enfim tem forte conotação na vida do homem rural

amazônico. É junto à natureza que se estabelece o recanto de suas relações sociais e o

desenrolar de todas as suas atividades. Nas relações sociais encontradas nessas áreas não

há graves preocupações enfrentadas pela vida urbana, pois ali se vive respeitando o tempo:

o tempo das águas, o tempo da pesca, o tempo da caça, o tempo de plantar e o tempo de

colher. Essas particularidades compõem tudo aquilo que chamamos de Amazônia e é em

meio a elas e por causa delas que se estabelecem conceitos de complexidade, que devem

ser amplamente repensados ao se idealizar políticas publicas para essa região.

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