avaliaçãode planos diretores

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  • 123DOI: 10.5418/RA2015.1115.0005

    DISSONNCIAS ENTRE PLANOS DIRETORES MUNICIPAIS E PLANEJAMENTO TERRITORIAL: DESARTICULAO

    ENTRE ESCALAS DE PLANEJAMENTO E SEUS REFLEXOS NOS INDICADORES DE INFRAESTRUTURA URBANANOS

    MUNICPIOS PAULISTAS (BRASIL)

    MASTER PLANS AND TERRITORIAL PLANNING DISAGREEMENT THE MISMATCH AMONG DIFFERENT PLANNING SCALES AND ITS

    IMPACTS IN URBAN INFRASTRUCTURE INDICATORS IN SO PAULO STATE MUNICIPALITIES (BRAZIL)

    DISONANCIAS ENTRE PLANOS Y PLANIFICACIN TERRITORIAL DESARTICULACIN ENTRE ESCALAS DE PLANIFICACIN Y SUS

    REFLEJOS EN LOS INDICADORES DE INFRAESTRUCTURA URBANA EN LAS ALCALDAS DE SO PAULO (BRASIL)

    Tiago Augusto da CunhaArquiteto e Urbanista - Escola de Engenharia de So Carlos - Universidade de So Paulo (EESC-USP). Doutor em Demografia - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor Adjunto do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU), Universidade Federal de Viosa (UFV).Campus de Viosa, Avenida Peter Henry Rolfs, s/n, Campus Universitrio, Viosa, Minas Gerais, Brasil. CEP: 36570-900Email: [email protected]

    RESUMOA Lei Federal 10.257/2001 configura-se como importante instrumento de gesto territorial municipal, sobretudo, ao priorizar o Plano Diretor Municipal como ferramenta de regulamentao do espao. Todavia, nem todos os municpios so obrigados a realiz-lo. Este desamparo legal gera, por vezes, assimetrias na gesto do territrio intramunicipal, mas, principalmente, no tocante escala regional. Nesse sentido, um dos principais objetivos do presente artigo discutir a reproduo de desequilbrios regionais oriundos da falta de regulamentao municipal especfica e, principalmente, da desarticulao entre as intenes das diferentes escalas de gesto do territrio: municipal e estadual. Para tanto so manejados e analisados os dados oriundos da pesquisa Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). As anlises so complementadas segundo as Informaes dos Municpios Paulistas (IMP) da Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados (SEADE) do Estado de So Paulo. Por fim, os cartogramas foram gerados atravs do programa livre e gratuito de Informaes Geogrficas (SIG) TerraView do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Os dados sugerem que parte

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

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    considervel do territrio paulista no regulada, fato que se reflete, inclusive, em seus ndices de infraestrutura urbana, reafirmando desigualdades regionais persistentes.

    PALAVRAS-CHAVE: Planos Diretores; Lei 10.257/2001; So Paulo; Planejamento Urbano e Regional

    ABSTRACTThe Federal Law 10.257 / 2001 is an important instrument of municipal territorial management, especially to prioritize the Master Plan as a regulatory space tool. However, not all municipalities are required to accomplish it. This legal lack generates sometimes asymmetries in managing intra-municipal territory, but especially the regional territory. In this sense, the main purpose of article is to discuss the reproduction of regional imbalances rose from the lack of specific municipal regulations and, mainly, the disarticulation between the goals of municipal and regional scales. To do so, the presente paperworkwiththe data fromthesurvey Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC) of Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). The analyses are supplementedaccordingto Informaes dos Municpios Paulistas (IMP) from Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados (SEADE). Finally, cartograms were generated through public and free software TerraView from InstitutoNacional de PesquisasEspaciais (INPE). The data suggest that considerable part of the State territory is not regulated, a fact that is reflected in their levels of urban infrastructure, reaffirming persistent regional disparities.

    KEYWORDS: Master Plans; Federal Law 10.257/2001; So Paulo; Urban and Re-gional Planning

    RESMENLa Ley Federal 10.257/2001 configurase como importante instrumento de gestin territorial de las municipalidades, sobre todo, al priorizar el Plan de Ordenamiento como herramienta de regulacin del espacio. Sin embargo, ni todas las alcaldas son obligadas a realizarlo. Este desamparo legal, por veces, genera asimetras en la gestin del territorio intramunicipal, pero, principalmente, en su articulacin con planos regionales. As, uno de los principales objetivos del presente artculo es discutir la reproduccin de los desequilibrios regionales derivados de la falta de reglamentacin municipal especfica y, luego, la desarticulacin entre las metas das distintas escalas de gestin del territorio: municipal y departamental. Por lo tanto, son manejados y analizados los datos de la encuesta Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC) del Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Lasanlisisson complementadas segnlas Informaes dos Municpios Paulistas (IMP) de la Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados (SEADE) del Departamento de So Paulo (Brasil). Por fin, los mapas fueran generados a travs del software pblico y gratuito de informaciones geogrficas (SIG) TerraView del Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Los datos sugieren que parte considerable del territorio del Departamento de So Paulo no es reglada, fato que se reflete, incluso, en sus ndices de infraestructura urbana, reproduciendo desigualdades regionales perennes.

    PALABRAS CLAVE: Planos de Ordenamiento; Ley 10.257/2001; So Paulo; Planea-miento Urbano y Regional

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    INTRODUO

    indiscutvel que a Lei Federal 10.257 de 2001 se trata de um grande avano na gesto do territrio, uma vez que obriga gestores e populao a uma reflexo aprofundada sobre os problemas, meios de san-los e objetivos futuros para omunicpio. No restringindo-se, pa-ra tanto, a uma discusso tipicamente urbana; mas sim muito mais abrangente, abordando, tambm, problemticas rurais.Ou seja, refere-se, a todo momento, a um territrio nico.

    Nesse sentido, a simples existncia de um Plano Diretor nos moldes como enten-dido por Villaa (2010) , ao menos indica os anseios, objetivos e metas para aquela par-cela do territrio e sua populao. Mais importante, pode ser um (dos inmeros) instru-mentos de equalizao de diferenas territoriais regionais, sobretudo, quando articulado aos propsitos, por exemplo, estaduais. Mas e quando ele, Plano Diretor, inexiste, o que isso indica? Quais so seus significados? Parte-se aqui do pressuposto que, da mesma for-ma, sua inexistncia est cheia de sentido e reflexos territoriais.

    A mesma lei federal estipula quais os critrios de seleo daqueles que devero obri-gadoriamenteelabor-los: a) municpios com 20.000 ou mais habitantes, b) integrantes de regies metropolitanas ou aglomeraes urbanas, c) de reconhecido interesse turstico, d) situados em reas de risco ou sob influncia de significativos empreendimentos ou ativi-dades de interesse nacional.

    Este esforo de regulao e reflexo sobre o territrio local origina-se da progressiva transmisso da responsabilidade justamente aos municpios, descentralizando esta com-petncia s menores unidades territoriais da Federao, por entender que so elas as que realmente compreendem, de modo mais umbilical, suas carncias e qualidades por expe-rienci-las de modo mais recorrente. Em resumo, pressupe-se que os planejadores mu-nicipais preferencialmente, com participao popular adequariam, de modo mais efi-ciente, as diretrizes constantes no Estatuto das Cidades s suas realidades locais.

    Embora, preciso lembrar, que a transmisso da responsabilidade pelo planejamen-to do territrio municipal aos prprios municpios conduziu, em outros tantos casos, a,-como dito por Brando (2007), paroquialismos; leia-se, favorecimentos ou, no mnimo, a uma desarticulao entre o planejamento local e o regional.

    A liberdade, nesse sentido, traduziu-seem desamparo, uma vez que criou assimetrias entre os condicionantes legais e jurdicos que so decisivos para os processos de ocupa-

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    o do solo e, logo, para a gesto do territrio de municpios que muitas vezes eram lin-deirose cujas dinmicas complementavam-se1.

    Atravs da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e sua pesquisa Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC), sobretudo seu mdulo sobre Ges-to Pblica, objetiva-se, no presente artigo, mapear e caracterizar as pores do territrio paulistas com Planos Diretores e sem os mesmos, problematizando a prximidade fsico--geogrfica entre ambas as categorias de municpios e a desarticulao entre as diferen-tes escalas de planejamento municipal/local e estadual , indicando seus reflexos atra-vs de uma dimenso em particular: por meio de indicadores de infraestrutura urbana.

    Pretende-se, tambm, descrever a perenidade e evoluo da cobertura territorial da lei em questo, tomando-se o Estado de So Paulo como estudo de caso2. Tal exerccio pode dar mostras que os critrios de obrigatoriedade deveriam ser outros. Ou, no mni-mo, deveriam ser complementados. dizer, afora o critrio demogrfico (valor absoluto da populao residente3), h de se considerar a partir de um prisma consciente da rele-vncia da escala regional critrios geogrficos ao se constatar que parcela considervel do espao ainda no regulada.

    Dessa forma, o presente estudo afora esta pequena introduo e concluso sub-dividido em outras 5 sees.

    Na primeira, discute-se os objetivos do Plano Diretor como ferramenta de planejamento, abordando sua construo ao longo da histria e problematizando alguns de seus aspectos.

    A segunda seo voltada discusso metodolgica do presente estudo.

    J na terceira, preocupa-se em mapear existncia de Planos Diretores segundo os anos de 2004, 2005, 2008, 2009, 2012 e 2013, problematizandoa evoluo da rea e da popula-o abrangida por este instrumento legal. Nela, possvel constatar que, territorialmente, boa parte do Estado de So Paulo desprotegida legalmente, criando-se um vcuo entre o planejamento municipal e estadual.

    1 No pretende-se aqui afirmar que o Plano Diretor a soluo definitiva para todos os problemas municipais. So inmeros os casos de Planos Diretores de gaveta, ou seja, legalmente aprovados, mas jamais postos em prtica. Sua eficcia , logo, pfia. Tampouco possvel menosprez-lo. Pois, alm de indicar os objetivos futuros, ele em maior ou menor medida regula, restringe, limita ou, ao contrrio, fomenta, permite, induz, etc.. Norteando, de uma forma ou de outra, o planejamento.

    2 Segundo a Constituio do Estado de So Paulo de 1989, todo municpio paulista deve elaborar Planos Diretores. Contudo, h uma grande diferena entre os preceitos de 1989 em elabor-los e os do Estatuto das Cidades de 2001. Presume-se que a legislao de 2001 traz novos ganhos e que os municpios deveriam revisar seus planos de acordo com suas diretrizes.

    3 A Lei Federal 10.257 de 2001 estipula outros critrios. No se pretende aqui afirmar que o total absoluto de populao residente seja o nico. Os demais critrios foram mencionados no primeiro pargrafo da introduo.

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    Na quarta, os dados sugerem que so justamente os municpios sem Planos Diretores os que apresentam carncias fsicas em sua infraestrutura urbana. Infere-se que sua ine-xistncia seja uma das causas dessas inequalidades.

    Por fim, debate-se a proximidade fsica entre municpios com e desprovidos de Pla-nos Diretores. E, como ela, aliada a desproteo legal, pode ser um dos motores da desi-gualdade de infraestrutura intraregional em So Paulo.

    A Problemtica e a Fundamentalidade dos Planos DiretoresA preocupao em regulamentar o territrio a fim de mitigar negatividades ineren-

    tes ao desamparo jurdico sobre o espao no de modo algum recente.

    Como asseverado por Braga (1995), j desde 1967 a partir da Lei Orgnica dos Mu-nicpios (Lei n. 9.842/67 complementada por Decreto Lei n. 09 em 1969) tal preocupa-o fazia-se presente.

    A fim de garantir que todos os municpios elaborassem seus respectivos Planos Di-retores, o Estado de So Paulo atrelou-o ao repasse de recursos e ajudas financeiras diver-sas. Ou seja, os municpios s os atingiriam se os possussem.

    Esse nexo forado, embora as intenes fossem boas, produziu, por outro lado, re-flexes ora superficiais, ora desvinculadas da dinmica e contexto local. Desdobrou-se-em Planos Diretores e, logo, proposies de gaveta. Em suma, meramente meios para se atingir um fim: o recurso em si (VILLAA; 2005; 2010).

    A transferncia da responsabilidade e, consequentemente, da tarefa em planejar aca-baram por criar um novo problema de um paradigma, por sinal, muito contemporneo: a desarticulao entre as diferentes escalas de planejamento proveniente da emergncia do localismo (BRANDO, 2007).

    Ainda que todos os municpios paulistas possussem planos diretores e ainda que hipoteticamente todos eles fossem razoavelmente qualificados (por mais subjetivo que o termo qualificado seja), o resultado final seria uma colcha de retalhos de tal modo he-terognea que somente interesses intramunicipais seriam atendidos (VILLAA; 2005; 2010, BRANDO, 2007).

    Talvez, neste cenrio atomizado - derivado da falncia de uma viso regional dos problemas e questes territoriais - a mesquinhez e a guerra fiscal tornar-se-iam seus fru-tos mais visveis e sentidos. Responsveis por reificar e ratificar conservadorismos lo-cais (BRANDO, 2007).

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    Neste ambiente, o Estado mero apetrecho destinado a desobstruir os obstculos de mercado seja diretamente ou indiretamente pela inoperncia, fomentando-o ao revs, j que seu objetivo principal no a mitigao de desigualdades sociais e de infraestrutura regionais, seno o contrrio, catalisando a concentrao e, logo, acentuando os desiquil-brios frutos da persistente reproduo das diferenas estruturais (BRANDO, 2007). Si-tuao esta muito oportuna para alguns.

    Seria ingnuo pensar que a universalizao de Planos Diretores municipais solucio-naria todos esses problemas. Contudo, presume-se que ele tanto parte da causa como o reflexo dessas inequalidades.

    Da mesma forma que a exacerbao do planejamento intramunicipal no sinni-mo de sucesso, a falta de um projeto e objetivos futuros para pores expressivas do espa-o tambm carregada de significados. Tm suas razes em processos histricos, econ-micos, culturais e sociais que produziram e continuam a reproduzir desigualdades estru-turais persistentes. Explicitam, em suma, atrasos e hiatos vantajosos para alguns pequenos segmentos da populao, enquanto a maioria se v continuamente manejada e privada.

    Parte desta desarmonia deriva da supervalorizao do ambiente urbano e da cidade co-mo escopo central dos Planos Diretores. preciso, pois, considerar que a dinmica urbana de parte dos municpios interioranos menos intensa, no caracterizando-os plenamente.

    Todavia, ainda que cenrio urbano de inmeros municpios seja incipiente, a des-regulamentao fosse sobre o ambiente urbano ou rural,tornou-os mais suscetveis ou, a partir de um outro ponto de vista, locais privilegiados para o investimento fundirio al-tamente especulativo.

    indubitvel que o ritmo de crescimento das cidades mdias de 1970 resultou na formao de periferias e entornos vinculados quelas cidades, exigindo, portanto, para maior preci-so analtica, que a investigao do desenvolvimento urbano nacional incorpore essas no-vas territorialidades (ANDRADE; SERRA, 2001, p. 167)

    Ainda que no se trabalhe aqui com a noo de cidades mdias, interessante pres-tar ateno s implicaes destas sobre as pequenas municipalidades dada a alta vincula-o da rede urbana, particularmente, paulista.

    O processo de interiorizao do Desenvolvimento [...]engendrou um padro de urbanizao articulado ao grande capital imobilirio e existncia de contingentes de excludos, residen-tes tanto em pequenas cidades do interior, como nas metrpoles, nas grandes e nas mdias cidades. (IPEA/IBGE/NESUR, 2001, p. 183)

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    Dada a coeso e complementariedade4 da dita rede de cidades, sobretudo no Esta-do de So Paulo, parece inadimissvel que parte considervel do territrio estadual esteja, ainda hoje e indiferentemente dos critrios para a elaborao de Planos Diretores, desre-gulados legalmente, produzindo e reproduzindo desigualdades a partir da desarticulao.

    Como dito, presume-se que este seja um dos condicionantes de desequilbrios regio-nais. Da derivado, questiona-se que este hiato legal transforma essa poro do territrio em alvo de crescimentos urbanos especulativos por exemplo, na transformao de re-as rurais em urbanas, sem a devida qualificao de sua infraestrutura , criando passivos que perduraro.

    Aspectos MetodolgicosNo presente artigo, elege-se o Estado de So Paulo como recorte territorial.

    Trata-se do Estado mais rico, populosoe economicamente desenvolvido da Federao. Tambm o que apresenta maior grau de urbanizao. Em suma, pressupe-se que seja um territrio caracterizado pelo contnuo conflito entre regulao e desregulamentao alme-jada pelo mercado fundirio. Em suma, onde Planos Diretores Municipais provavelmente se fazem mais necessrios.Justamente por isso um interessante estudo de caso quando o objetivo o de se retratar e problematizar a pluralidade de situaes dentro do universo de bonana. Em outras palavras, as nuances e carncias dentro do todo tido como ideal.

    Para tanto, os dados foram desagregados ao seu nvel municipal, mapeando, dessa forma, regies do Estado reguladas pelos Planos e, consequentemente, a localizao/es-pacialidade de outras pores no regulamentadas, possibilitando se averiguar e se discu-tir seus significados e consequncias.

    Ademais, a fim de se retratar diferenas internas estaduais, optou-se aqui pelo ma-nuseio dos dados provenientes da Pesquisa de Informaes Bsicas Municipais, tam-bm conhecida como MUNIC, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Es-tatstica (IBGE). 4 Compreende-se por coeso, a interrelao e interao entre as partes/elementos de uma dada estrutura, lhe conferindo unidade.

    Quanto maior a interao entre todas as partes, maior a coeso entre elas.Nesse sentido, pode-se pensar que o conjunto de cidades a prpria estrutura maior o territrio/ a regio em si , sendo os

    municpios suas partes/elementos constituintes. A noo de complementariedade deriva deste nexo entre parte e todo. Guarda em si, da mesma forma, a particularidade das parcelas,

    sem se esquecer que as caractersticas das fraes do significado ao conjunto. Parte do raciocnio representado pela relao entre binmios: reas de atrao-repulso, origens-destinos, rurais-urbanas, trabalho-moradia, etc.. Mas no s atravs de um prisma dicotmico dos processos e fenmenos, como tambm por meio de uma paleta mais extensa de categorias de uma mesma varivel: reas industriais, comerciais, servios, residenciais, etc.. Parece ser pouco provvel se elucidar as caractersticas de uma determinada regio-municpio sem, concomitantemente, se compreender a maneira como ele se encaixa dentro dessa estrutura maior, tendo suas propriedades complementadas e complementando outras partes do grupo.

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    Ela capta dados, fornecendo subsdios para a investigao acerca da estrutura, din-mica e funcionamento das instituies pblicas municipais,ilustrando [...] a qualidade dos servios pblicos locais como tambm a capacidade dos gestores municipais em aten-der s populaes (IBGE, 2013), inclusive mediante a existncia (ou no) de Planos Di-retores a partir do seu mdulo Gesto Pblica.

    Como trata-se da principal fonte de dados utilizada no presente artigo, vale comen-tar algumas de suas particularidades.

    A primeira delas se refere a sua periodicidade. Uma das qualidades da MUNIC que ela anual. Isto significa que os indicadores so acompanhados mais recorrentemente. Propicia, desse modo, uma anlise mais fidedigna da efervescncia nas alteraes legais e territoriais no Estado de So Paulo. Em suma, permite compreender o avano ou, o con-trrio, o recrudescimento, da rea legalmente amparada por Planos Diretores, diferente-mente do que ocorreria se o perodo entre entrevistas fosse mais longo, j que, nesse caso, Planos Diretores poderiam ser aprovados, deixados de existir e voltar a ser reelaborados durante o perodo entre pesquisas, no sendo este processo, portanto, captado.

    Um breve parntese. Essa dinmica de execuo, aprovao, reviso e reaprovao aqui encarada como um dos sintomas de desarticulao e fragmentao territorial ao menos no nvel intramunicipal , pois, presume-se que os Planos esto sendo utilizados como polticas partidrias e no de Estado, uma vez que no h tempo suficiente para sua real implementao e, principalmente, consolidao.5

    A criao da MUNIC deu-se em 1999e seu ltimo ano de aplicao foi2013. No en-tanto, os dados tabulados e disponibilizados at 2003 se encontravam parte agregados, inclusive, por unidade da Federao. Ou seja, tendo-se em vista o nvel de desagregao aqui proposto, o municpio, eles foram de pouca valia. Justamente por isso, optou-se aqui por no utiliz-los.

    J as pesquisas de 20066e 20117no apresentavam qualquer quesito afim ao assunto aqui tratado. Por este motivo, tambm no foram tomadas em conta.

    Outro seno da pesquisa a forma como sua coleta conduzida. O principal infor-mante a prpria Prefeitura atravs de seus diversos setores, diretorias, pastas, etc.. Em-bora haja todo um esforo na qualificao do entrevistado geralmente o gestor respon-

    5 No se pretende afirmar que no h espao para revises, mas que elas devem ser mais conscienciosas.6 No havia qualquer dado para o ano de 2007.7 Os dados de 2010 no foram disponibilizados atravs do site do IBGE. Pressupe-se que a pesquisa no foi aplicada nesse

    ano devido a j aplicao do Censo Demogrfico no mesmo perodo. Contudo, o IBGE at o fim da elaborao do presente artigo no confirmou essa suposio inicial.

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    svel pela rea por parte do IBGE, no raro ocorrer discrepncias, at certo ponto, sig-nificativas entre o que informado e a realidade de fato, quase que num processo de ma-quear os dados e, logo, a realidade local.

    Posteriormente, os dados foram tabulados tanto no software Excel, quanto a partir do programa estatstico SPSS.

    Por fim,cartogramas foram criados lanando-se mo da Malha Digital Municipal (MDM) do IBGE (escala: 1:2.500.000, projeo geogrfica, SAD69). A verso de 2005 j dispe dos novos municpios criados aps o Censo Demogrfico de 2000. Embora, no ca-so do Estado de So Paulo, nenhum novo municpio foi criado no perodo. Tampouco no-vos municpios paulistas foram criados posteriormente, ou seja, o mesmo pode ser dito quanto malha digital municipal de 2007.

    A fim de se retratar a relao de proximidade fsico-espacial-territorial e geogrfica entre municpios com e sem Planos Diretores, evidenciando dissonncias na gesto do ter-ritrio de um ponto de vista regional, definiu-se raios de influncia, ou seja, buffers de 30 quilmetros (CUNHA et al; 2013, RANDOLPH; 2010) desde alguns municpios con-siderados de maior relevncia em suas sub-regies. Ou seja, sedes8 que exercem alguma fora de atrao em relao aos demais municpios da sub-regio.

    Vale pena relembrar que a discusso aqui no gira em torno de uma hierarquia de rede de cidades, sequer da emergncia de cidades mdias, mas sim do descompasso e dos seus reflexos entre pores do territrio regulamentadas por Planos Diretores e outras, no. Em suma, da relevncia de se pensar o territrio de maneira integrada e articulada.

    Nesse sentido, adotou-seraios que ao menos no caso paulista demonstrassem uma possvel conexo entre municpios, por exemplo, atravs de fluxos pendulares (CUNHA et al; 2013, RANDOLPH; 2010), ilustrando a esfera de influncia dos processos e fenme-nos urbanos oriundos das sedes e que espraiam-se, repercutindo seus vizinhos, principal-mente, municpios que no possuem meios legais de regulao do territrio.

    As sedes aqui adotadas muitas delas de regies de governo ou administrativas do Estado encontram-se em consonncia com estudos como os de: Regies de Influncia das Cidades (REGIC), Regies Integradas de Articulao Urbana (RIAU), ou ainda, re-as de Concentrao de Populao (ACP); todas encabeadas pelo IBGE.

    8 Araatuba, Araraquara, Assis, Bauru, Bragana Paulista, Campinas, Caraguatatuba, Guaratinguet, Itanham, Itapetininga, Jundia, Marlia, Piracicaba, Presidente Prudente, Registro, Ribeiro Preto, So Jos do Rio Preto, So Jos dos Campos, So Paulo e Sorocaba.

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    J objetivando retratar ou ao menos indiciar as modificaes ocorridas dentre os municpios logo, da poro do territrio paulista que no possua Planos Direto-res at 2013, aborda-se, tambm, uma srie de outros indicadores municipais provenien-tes essencialmente da Fundao SEADE, ilustrando as assimetrias regionais: indicadores de infraestrutura urbana, grau de urbanizao e taxa geomtrica de crescimento popula-cional anual, essencialmente.

    EVOLUO DA REGULAO-REGULAMENTAO DO SOLO PAULISTA AO LONGO DOS ANOSObjetiva-se atravs dasFigura 1, Figura 2, Figura 3, Figura 4, Figura 5 e Figura 6dis-

    criminar aqueles municpios9que possuam ou no planos diretores e, assim, retratar, ain-da que num primeiro momento de maneira puramente visual, as pores e propores do territrio paulista regulamentadas e no regulamentadas por leis municipais especfi-cas ao longo de alguns anos dos anos 2000. Figura1: Municpios paulistas, segundo existncia de Planos Diretores - 2004

    Fonte: IBGE. Base Cartogrfica. Malha Municipal Digital 2005. Projeo Geogrfica (LatLong. Datum:SAD69). Escala 1:2.500.000. Disponvel em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2005/escala_2500mil/proj_geografica/arcview_shp/uf/sp/. Acessado em: 20 de Agosto de 2014. IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica 2004. Varivel A30. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2004/default.shtm. Acessado em: 20 de Agosto de 2014. Elaborao do autor.

    9 De um universo de 645 municpios.

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    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

    Figura2: Municpios paulistas, segundo existncia de Planos Diretores - 2005

    Fonte: IBGE. Base Cartogrfica. Malha Municipal Digital 2005. Projeo Geogrfica (LatLong. Datum:SAD69). Escala 1:2.500.000. Disponvel em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2005/escala_2500mil/proj_geografica/arcview_shp/uf/sp/. Acessado em: 20 de Agosto de 2014. IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica 2005. Varivel A77. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2005/default.shtmAcessado em: 20 de Agosto de 2014. Elaborao do autor.

    Figura3: Municpios paulistas, segundo existncia de Planos Diretores - 2008

    Fonte: IBGE. Base Cartogrfica. Malha Municipal Digital 2007. Projeo Geogrfica (LatLong. Datum:SAD69). Escala 1:2.500.000. Disponvel em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2007/escala_2500mil/proj_geografica_sad69/uf/sp/Acessado em: 20 de Agosto de 2014. IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica 2008. Varivel A79. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2008/default.shtm. Acessado em: 20 de Agosto de 2014. Elaborao do autor.

  • Tiago Augusto da Cunha

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

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    Figura4: Municpios paulistas, segundo existncia de Planos Diretores - 2009

    Fonte: IBGE. Base Cartogrfica. Malha Municipal Digital 2007. Projeo Geogrfica (LatLong. Datum:SAD69). Escala 1:2.500.000. Disponvel em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2007/escala_2500mil/proj_geografica_sad69/uf/sp/Acessado em: 20 de Agosto de 2014. IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica 2009. Varivel A56. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2009/default.shtmAcessado em: 20 de Agosto de 2014. Elaborao do autor.

    Figura5: Municpios paulistas, segundo existncia de Planos Diretores - 2012

    Fonte: IBGE. Base Cartogrfica. Malha Municipal Digital 2007. Projeo Geogrfica (LatLong. Datum:SAD69). Escala 1:2.500.000. Disponvel em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2007/escala_2500mil/proj_geografica_sad69/uf/sp/Acessado em: 20 de Agosto de 2014. IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica 2012. Varivel A36. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2012/default.shtmAcessado em: 20 de Agosto de 2014. Elaborao do autor.

  • Dissonncias entre planos diretores municipais e planejamento territorial 135

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

    Figura6: Municpios paulistas, segundo existncia de Planos Diretores - 2013

    Fonte: IBGE. Base Cartogrfica. Malha Municipal Digital 2007. Projeo Geogrfica (LatLong. Datum:SAD69). Escala 1:2.500.000. Disponvel em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2007/escala_2500mil/proj_geografica_sad69/uf/sp/Acessado em: 20 de Agosto de 2014. IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica 2013. Varivel A34. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2013/default.shtmAcessado em: 20 de Agosto de 2014. Elaborao do autor.

    Curiosamente, nota-se que em anos posteriores ao incio da srie temporal aqui retra-tada (2004, no caso) a quantidade de municpios sem planos diretores oscila ora maior, ora menor (Tabela 1). Contudo, o nmero de municpios com populao total acima de 20.000 habitantes se incrementa continuamente (Figura 7).Tabela1: Municpios paulistas, segundo existncia de Planos Diretores, Estado de So Paulo 2004-2005-2008-2009-2012-2013

    SituaoAnos

    2004 2005 2008 2009 2012 2013

    No h Plano Diretor 478 514 366 340 481 314

    H Plano Diretor 167 131 279 305 164 331

    Total de Municpios (N) 645

    Fonte: IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica. Elaborao do autor.

  • Tiago Augusto da Cunha

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

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    Figura 7: Municpios paulistas, segundo quantidade de habitantes (20.000 habitantes ou mais), Estado de So Paulo 2004-2005-2008-2009-2012-2013

    Fonte: SEADE. Informaes dos Municpios Paulistas (IMP). Estimativa. Elaborao do autor.

    Seria de se supor que a proporo de municpios sem planos diretores sempre dimi-nusse ao longo dos anos, j que a linha de corte dos 20.000 habitantes atingida por mais municpios no mesmo perodo. Todavia, no isso o que se constata. O que poderia, en-to, explicar essas flutuaes?

    A primeira explicao reside na prpria fonte de dados manejada: a Pesquisa de In-formaes Bsicas Municipais (MUNIC) proveniente do Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatstica (IBGE).

    Como brevemente abordado na seo anterior do presente artigo, ainstituio Pre-feitura, por meio de seus responsveis setoriais, a principal entrevistada. No entanto, preciso frisar que a qualidade do dado discutvel, posto que o questionrio lhe simples-mente entregue, no sendo o IBGE responsvel por sua aplicao.

    Outra possvel explicao ainda que se trate de uma suposio, que parte do in-cremento dos municpios sem planos em determinados momentos se devesse ao fato de que ele [plano] estivesse sendo revisado no momento da aplicao da entrevista.

    Essa hiptese, por sua vez, conduz outras consideraes. Dado que municpios ates-tam que num ano possuem Planos Diretores para, num horizonte temporal pequeno (1 a 2 anos, no mximo, 4 anos), voltarem atrs em suas afirmaes, s evidencia que as revi-ses tm uma periodicidade muito curta.

  • Dissonncias entre planos diretores municipais e planejamento territorial 137

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

    Um dos primeiros reflexos dessa constante rotina de modificaes legais que no h tempo hbil para que as diretrizes dos Planos Diretores sejam realmente implementa-das e sentidas no territrio em questo e para a populao em questo. Em suma, no h tempo suficiente para que os instrumentos de induo, permisso e restrio surtam efei-to. Em outras palavras, ainda que haja Planos Diretores vigentes e, de certa maneira bem construdos, sua eficcia contestvel.

    Parece, pois, que os Planos Diretores no esto sendo aplicados como instrumento ou polticas de Estado, mas sim como apetrecho poltico. dizer, cada novo prefeito es-fora-seem conferir identidade ao seu mandato atravs da concepo de um novo Plano Diretor, no se dando conta que esse eterno processo de descarte e reformulao mui-tas vezes a partir do zero constri pari passu, ao longo de grandes perodos, a identida-de desses municpios: fragmentados, divergentes, contraditrios, etc., prestando-se uni-camente para reforar localismos e favorecimentos polticos.

    Basta atentar justamente para aFigura5, referente aos dados de 2012. Neste ano h um retrocesso com a diminuio dos municpios com Planos Diretores frente aos que no o detinham, contrariamente ao apresentado no ano de 2011. Curiosamente, 2012, como se sabe, foi o ano de eleies municipais, corroborando esse processo recorrente de recons-truo dos instrumentos legais de gesto do territrio. Mas, como dito, trata-se de uma especulao, posto que o recrudescimento na quantidade de municpios com Planos Di-retores no ocorreu no ano de 2008 em comparao ao de 200510.

    De um ponto de vista mais otimista, os dados tambm demonstram uma quantida-de muito maior de municpios que tomaram as rdeas de seus territrios mesmo sem a obrigatoriedade em faz-lo.

    Afinal, desde 2004 at mais recentemente 2013 apenas 10 municpios ultrapassa-ram o limiar dos 20.000 habitantes, porm a quantidade de municpios que idealizaram seus Planos foi imensamente maior ainda que com variaes (Figura 8).

    10 Os dados tambm no podem ser analisados para 2004, posto que trata-se do primeiro ano da srie. Ou seja, dados anteriores inexistem a fim de se afirmar se houve ou no diminuio.

  • Tiago Augusto da Cunha

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

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    Figura 8: Municpios paulistas, segundo existncia de Planos Diretores, Estado de So Paulo 2004-2005-2008-2009-2012-2013

    Fonte: IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica. Elaborao do autor.

    Embora haja decremento no nmero de municpios com Planos Diretores nos anos de 2005 e 2012, quando o conjunto observado a tendncia , em geral, de crescimento.

    Passa-se, portanto, de 167 municpios regulamentados em 2004 para um total de 331 em 2013, uma variao surpreendente de 98,2%, contra 4,2% de municpios que ultrapas-saram os 20.000 habitantes. Ou seja, lhe sendo imensamente superior.

    Obviamente a cifra de municpios possuidores de Planos Diretores est diretamente associada rea do Estado protegida ou, no mnimo, normatizada por este especfico fer-ramental (Figura 9).

  • Dissonncias entre planos diretores municipais e planejamento territorial 139

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

    Figura 9: Proporo do territrio paulista, segundo existncia de Planos Diretores, Estado de So Paulo 2004-2005-2008-2009-2012-2013

    Fonte: SEADE. Informaes dos Municpios Paulistas (IMP). Elaborao do autor.

    Desta maneira, em 2004, um pouco mais de um quarto (25,9% mais precisamente) do Estado possua Planos Diretores vigentes, fato que correspondia a pouco mais de 30% do territrio paulista. J em 2013, mais da metade dos municpios do Estado (51,3%) apre-sentavam Planos Diretores, o que se refletiu em 63,6% do territrio. Um aumento de al-go como 30% da rea amparada.

    Por outro lado, preciso notar que cerca de 40% do Estado de So Paulo ainda no regulamentado por Planos Diretores ou seja, quase metade do territrio estadual mes-mo com todos os avanos. Do ponto de vista regional, parece ser esse um tema a ser pro-blematizado dada suas repercusses no desenvolvimento regional intra Estado.

    Contudo, importante tambm frisar que a porcentagem no tocante populao co-berta por Planos assaz distinta.

    Neste caso, a imensa maioria da populao paulista abrangida, at mesmo pela obri-gatoriedade legal dada pela seletividade presente na lei: municpios com populao supe-rior a 20.000 habitantes (Figura 10).

  • Tiago Augusto da Cunha

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

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    Figura 10: Proporo da populao paulista, segundo existncia de Planos Diretores, Estado de So Paulo 2004-2005-2008-2009-2012-2013

    Fonte: SEADE. Informaes dos Municpios Paulistas (IMP). Estimativa. Elaborao do autor.

    Talvez essa seja uma das principais problemticas que aqui se tenta estabelecer.

    Como quase a totalidade da populao paulista atendida a partir dos critrios de seleo dos municpios que devero ou no arquitet-lo, a necessidade em elabor-lo no est mais necessariamente associada ao tamanho da populao atendida, pois, como di-to, praticamente quase a totalidade da populao o . Trata-se, pois, de uma demanda ter-ritorial-geogrfica.

    Por sinal, um desdobramento da presente pesquisa seria investigar o perfil da popu-lao residente em municpios sem Planos Diretores, comparando-os aos que residem em municpios com Planos Diretores. Talvez essa caracterizao fornecesse mais insumos te-se de desarticulao entre as escalas de planejamento. Na verdade, na total ausncia dele.

    Indcios de desproteoUma das principais hipteses do presente estudo , portanto, que esse descompao uma

    das causas de problemas de gerenciamento territorial a partir de uma perspectiva regional.

    Um dado que indicia os desequilbrios regionais derivados da desregulamentao do territrio como um todo pode ser visualizado a partir da Tabela2.

  • Dissonncias entre planos diretores municipais e planejamento territorial 141

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

    Tabela2: ndice de Infraestrutura Urbana, segundo existncia de Planos Diretores em 2009, Estado de So Paulo 2000-2010

    Situao (2009)

    ndice de Infraestrutura Urbana (Abastecimento de gua, Coleta de Esgoto e Lixo) %

    2000 2010

    No h Plano Diretor (N=340) 94,0 96,0

    H Plano Diretor (N=305) 94,9 97,4

    Total de Municpios (N=645) 94,4 96,7

    Fonte: SEADE. Informaes dos Municpios Paulistas (IMP). Elaborao do autor.

    Nela, foram selecionados todos os municpios paulistas de acordo com a existncia ou inexistncia de Planos Diretores para o ano de 2009, na falta de dados para 2010.

    Percebe-se que h um claro descompasso entre os indicadores de infraestrutura urba-na11 entre as duas categorias de municpios. Pode-se inferir da que so municpios onde o rural predomina, mas, da mesma forma, cujas cidades so mais desprovidas fisicamente, ilustrando as assimetrias regionais. Da mesma forma, no parece casual que os piores in-dicadores de infraestrutura encontrem-se justamente em municpios sem regulao espe-cfica. Presume-se que essa desproteo seja uma das causas das desigualdades regionais.

    Como ventilado no pargrafo anterior, o perfil segundo situao de domiclio mais rural ou mais urbano destes municpios pode ser notado atravs da Tabela3.Tabela3: Grau de Urbanizao, segundo existncia de Planos Diretores em 2009, Estado de So Paulo 2000-2010

    Situao (2009)Grau de Urbanizao (%)

    2000 2010 Variao (%)

    No h Plano Diretor (N=340) 79,0 83,2 4,2

    H Plano Diretor (N=305) 82,5 85,6 3,1

    Total de Municpios (N=645) 94,4 96,7 2,3

    Fonte: SEADE. Informaes dos Municpios Paulistas (IMP). Elaborao do autor.

    11 O ndice leva em conta a cobertura em porcentagem dos domiclios particulares permanentes urbanos ligados rede geral de abastecimento de gua, atendidos por rede geral de esgoto sanitrio ou pluvial e por servio regular de coleta de lixo. Na verdade, a mdia aritmtica dessas 3 variveis segundo os anos levantados.

  • Tiago Augusto da Cunha

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    Municpios sem Planos Diretores so de fato mais rurais, como seria de se supor, j que dentro desta categoria encontram-se todos aqueles que esto abaixo da linha de corte dos 20.000 habitantes. Ou seja, municpios de menor porte, onde o rural ainda ocupa um papel central em seus cotidianos.

    No entanto, o que vale a pena ressaltar a partir dos dados expostos da Tabela3 a va-riao mais pronunciada no grau de urbanizao experienciado nestes territrios em con-traponto aos municpios j previamente mais urbanizados e com Planos Diretores.

    Este dado ainda que no se aborde aqui as diferenas entre os valores absolutos de domiclios (por situao) entre ambas categorias de municpios atesta um maior cres-cimento dos domiclios urbanos, justamente entre os municpios desprovidos de Planos.

    Pode ser esta uma das causas da origem de passivos tipicamente urbanos (processos de periferizao, favelizao e, sobretudo, especulao fundiria e carncias de infraestru-tura, para citar alguns) que os acompanharo ao longo de muitos anos. Em outras pala-vras, passivos e problemas causados por um crescimento no planejado e condicionado.

    ATabela4 esfora-se em complementar a anlise ao discutir a taxa de crescimento po-pulacional anual nestas municipalidades entre 1991 e 2010.Tabela4: Taxa Geomtrica de Crescimento Populacional Anual, segundo existncia de Planos Diretores em 2009, Estado de So Paulo 1991/2000-2000/2010

    Situao (2009)Taxa Geomtrica de Crescimento Populacional Anual (%)

    1991-2000 2000-2010

    No h Plano Diretor (N=340) 1,03 0,88

    H Plano Diretor (N=305) 2,21 1,21

    Total de Municpios (N=645) 1,59 1,04

    Fonte: SEADE. Informaes dos Municpios Paulistas (IMP). Elaborao do autor.

    possvel perceber que a populao de municpios sem Planos Diretores cresce nu-ma velocidade menor do que aquela que os possuem. O que, ento, explicaria a variao mais acentuada do grau de urbanizao dos municpios que no possuem Planos Direto-res, como comentado anteriormente a partir da Tabela3?

    Possivelmente, o grau de urbanizao destes se incrementou no pelo crescimento vegetativo ou migratrio das suas populaes urbanas, mas sim pela anexao de novos domiclios ao urbano, ou seja, simplesmente pela transformao da situao do domic-

  • Dissonncias entre planos diretores municipais e planejamento territorial 143

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

    lio. Em outras palavras, a partir da agregao de novas reas logo, novos domiclios e re-sidentes anteriormente rurais aos seus permetros urbanos.

    Tal dado d mostras do aqui hipotetizado, ainda que superficialmente. dizer, d in-dcios de um processo de especulao fundiria motivado por desamparo legal, haja vis-ta a incorporao de terras anteriormente rurais ao urbano, acentuando assimetrias e de-sequilbrios regionais a partir da reproduo de carncias urbanas oriundas de uma falta de reflexo e de atuao dos poderes pblicos municipais em consonncia com o gover-no estadual, mas que refletir-se- da mesma forma em toda a regio.

    As persistncias, reprodues e gravitaes

    J a Figura11ilustra, a partir de duas categorias bsicas, os municpios que jamais ao longo da srie temporal em questo passaram pela experincia de construo de Planos Diretores e aqueles que, em algum momento, o realizaram.Figura11: Municpios paulistas, segundo a perenidade de Planos Diretores, Estado de So Paulo 2004-2005-2008-2009-2012-2013

    Fonte: IBGE. Base Cartogrfica. Malha Municipal Digital 2007. Projeo Geogrfica (LatLong. Datum:SAD69). Escala 1:2.500.000. Disponvel em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2007/escala_2500mil/proj_geografica_sad69/uf/sp/.Acessado em: 20 de Agosto de 2014. IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica 2004, 2005, 2008, 2009, 2012 e 2013. SEADE. Informaes dos Municpios Paulistas (IMP). Elaborao do autor.

    Em suma, 273 municpios paulistas nunca elaboraram Planos Diretores, ou seja, 42,3% de um total de 645 municpios. Por outro lado 66 municpios sempre os possuram ao longo do mesmo perodo, correspondendo a 10,2% deste mesmo total de municpios.

  • Tiago Augusto da Cunha

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

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    A categoria Nunca possuram PD representa 30,6% (76.016,9 km) da rea total do Estado. Por sua vez, os que Sempre possuram PD correspondem a aproximadamente 12% (11,9% mais precisamente) (29.541.11 km) do mesmo total.

    Percebe-se que o exerccio de planejar o territrio ao menos segundo as diretrizes do Estatuto das Cidades muito recente e limitada no Estado. Nota-se, da mesma for-ma, que sua perenidade restringe-se a uma parcela muito pequena do territrio paulista12.

    Talvez uma das formas de se aquilatar a problemtica aqui estabelecida qual seja: diferenas estruturais nascidas do desamparo legal e seus reflexos na infraestrutura do ter-ritrio passa por caracterizar a proximidade fsico-geogrfica entre municpios sem pla-nos diretores e centros urbanos mais expressivos e regulados (Figura12).Figura12: rea de influncia (30, 60 e 90 km), segundo centralidades regionais (sedes de mesorregies e microrregies), Estado de So Paulo 2004-2005-2008-2009-2012-2013

    Fonte: IBGE. Base Cartogrfica. Malha Municipal Digital 2007. Projeo Geogrfica (LatLong. Datum:SAD69). Escala 1:2.500.000. Disponvel em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2007/escala_2500mil/proj_geografica_sad69/uf/sp/Acessado em: 20 de Agosto de 2014. IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica 2004, 2005, 2008, 2009, 2012 e 2013. SEADE. Informaes dos Municpios Paulistas (IMP). Elaborao do autor.

    12 Como a composio deste grupo em sua maioria de municpios que no so obrigados a arquitetar Planos, no casual que as tendncias sejam mantidas. Ademais, tal categoria representa um percentual muito pequeno da populao paulista segundo o ano de 2013, apenas 4,6% (1.942.386 habitantes). Enquanto que os que sempre os executaram abrangem 61,5% do total da populao paulista do ano de 2013 (26.007.575 indivduos).

  • Dissonncias entre planos diretores municipais e planejamento territorial 145

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

    A imagem ilustra o raio de influncia a partir de algumas municipalidades paulistas de maior vulto13.

    Estipulou-se, de incio e ainda que de uma forma pouco criteriosa, raios mltiplos de 30 quilmetros em relao ao limite do municpio sede. A opo por tal medida deveu--se ao fato de que boa parte dos municpios integrantes da microrregio da qual a sede faz parte so por ela abarcados.

    Pressupe-se que so justamente estes os municpios mais influenciados por essas se-des. Ademais, ao menos de acordo com o contexto urbano e regional paulista, com muni-cpios relativamente pequenos ao menos em comparao com outros municpios de ou-tros Estados (notadamente os da regio Centro-Oeste e Norte) , trata-se de uma extenso que abrange grande parte dos movimentos pendulares de mais curta distncia (CUNHA et al; 2013, RANDOLPH; 2010). Presume-se que a pendularidade um indcio de gran-de conectividade entre os municpios atravs da complementariedade de suas dinmicas.

    A partir de uma perspectiva mais abrangente, praticamente todos os municpios pau-listas que nunca tiveram um Plano Diretor esto a um raio de 90 quilmetros de sedes re-gionais (Figura13). Figura13: Municpios no obrigados a elaborar e que nunca dispuseram de Planos Diretores Municipais 90 km de centros regionais, Estado de So Paulo 2004-2005-2008-2009-2012-2013

    Fonte: IBGE. Base Cartogrfica. Malha Municipal Digital 2007. Projeo Geogrfica (LatLong. Datum:SAD69). Escala 1:2.500.000. Disponvel em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2007/escala_2500mil/proj_geografica_sad69/uf/sp/Acessado em: 20 de Agosto de 2014. IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica 2004, 2005, 2008, 2009, 2012 e 2013. SEADE. Informaes dos Municpios Paulistas (IMP). Elaborao do autor.

    13 Foram selecionados os municpios sedes das mesorregies do Estado, por entend-los como ilustraes de centralidades mais ou menos emergentes dada a heterogeneidade da categoria em torno dos quais os demais municpios, em maior ou menor medida, gravital. Em suma, influenciando-os de alguma maneira, dada a concentrao de servios, comrcios especficos, atividades diversificadas, indstrias e populao.

  • Tiago Augusto da Cunha

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

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    Apenas 19 municpios desta categoria (Nunca tiveram Planos Diretores) no esto localizados dentro deste raio mais amplo de influncia, so eles: Ribeira, Riversul, Tagua, Sarutai, Euclides da Cunha Paulista, Itobi, Divinolndia, Caconde, Tapiratiba, Pedregu-lho, Paranapu, Tumalina, Guarani DOeste, Macednia, Mespolis, Populina, Ouroeste, Indiapor e Mira Estrela.

    Presume-se que estes no sofram de modo to recorrente, ou ao menos to intenso, s especulaes e assdios oriundos dos mercados urbanos de seus centros e sedes regionais da-do a distncia fsica entre eles e, inclusive, sedes de outras meso ou microrregies paulistas.

    No entanto, h todo um universo de pequenos municpios que no dispem de Pla-nos Diretores e que esto contidos por este raio de influncia. No total, tratam-se de 255. Como bem se nota, uma quantidade considervel.

    Sobretudo, vale se ressaltar que eles totalizam quase 2 milhes de habitantes (1.900.009) e, talvez mais importante do que isso, 71.188 km, ou seja, algo como 30% da rea total do Estado (28,7%).

    Por fim, no so poucos aqueles ainda mais prximos s sedes (Figura14). Figura14. Municpios no obrigados a elaborar e que nunca dispuseram de Planos Diretores Municipais 30 km de centros regionais, Estado de So Paulo 2004-2005-2008-2009-2012-2013

    Fonte: IBGE. Base Cartogrfica. Malha Municipal Digital 2007. Projeo Geogrfica (LatLong. Datum:SAD69). Escala 1:2.500.000. Disponvel em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2007/escala_2500mil/proj_geografica_sad69/uf/sp/Acessado em: 20 de Agosto de 2014. IBGE. Base de Dados. Perfil dos Municpios Brasileiros (MUNIC). Gesto Pblica 2004, 2005, 2008, 2009, 2012 e 2013. SEADE. Informaes dos Municpios Paulistas (IMP). Elaborao do autor.

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    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

    Em realidade, tratam-se de 152 municpios que nunca elaboraram Planos Diretores dentro de um raio de apenas 30 quilmetros das centralidades regionais.

    Estes 152 municpios correspondem a 1.186.834 (pouco menos de 3% da populao paulista: 2,8%) e 44.592 km (18% do territrio).

    Em resumo, boa parte dos municpios que no dispem de Planos Diretores esto muito prximos a municpios cujas leis mais restritivas condicionam processos de espe-culao urbana em busca de novas frentes de expanso: justamente nos municpios no amparados pela mesma ferramenta.

    guisa das conclusesA Lei Federal 10.257 ao definir os critrios de seleo e obrigatoriedade dos munic-

    pios que deveriam construir Planos Diretores, mesmo que sem inteno, isentou outros tantos, justamente por entender que a necessidade em elaborar Planos Diretores nascia, por um lado, de questes tipicamente urbanas e, por outro, de demandas de contingentes populacionais expressivos. Em outras palavras, associava-se ao tamanho da populao.

    Contudo, a ateno dada questo demogrfica no foi a mesma concedida ao ter-ritrio, haja vista que de um total de 645 municpios 273 nunca chegaram a elaborar um Plano Diretor Municipal, o que corresponde a praticamente 30% (30,6%) da rea total do Estado. Trata-se, portanto, de uma problemtica fsica, espacial, territorial e geogrfica e no to somente demogrfica-urbana.

    Mais impressionante constatar que muitos (152 para ser mais preciso) localizam--se a menos de 30 quilmetros de sedes regionais regulamentadas. Total este que equiva-le a 18% do territrio estadual.

    As desigualdades de acesso terra urbana, as diferenas sintomticas de valores dos imveis e da terra entre municpios, a enormidade de reas urbanas subutilizadas, ou ain-da, o constante assdio sofrido por reas rurais lindeiras grandes centros regionais no so fortuitas de acordo com essa perspectiva.

    Assim como no casual o fato de municpios sem Planos Diretores apresentarem piores ndices de infraestrutura urbana.

    Parece, portanto, que embora a individualizao-atomizaodos Planos Diretores possa conduzir a um processo de desarticulao e fragmentao territorial, ele ainda apre-senta muito mais vantagens do que desvantagens ao balizar o planejamento municipal, amparando territrio e populao em diversos aspectos e, consequentemente, abrandan-do desigualdades regionais ao menos em termos de infraestrutura.

  • Tiago Augusto da Cunha

    Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege).p.123-149, V.11, n.15, jan-jun.2015.

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    A fim de complementar as primeiras anlises aqui realizadas outros dados poderiam futuramente ser levantados e analisados.

    Por exemplo, seguir comparando as duas categorias de municipalidades segundo: mdia da populao residente, saldo migratrio, ndice de rotatividade migratria e va-riao da taxa lquida de migrao com o objetivo de caracterizar a dinmica populacio-nal e elucidar a intensidade de transformao dos municpios de pequeno porte e desre-gulamentados. Seria interessante levantar o perfil sociodemogrfico dessas populaes.

    A pergunta : embora, boa parte da populao paulista esteja abrangida pelos Planos, quem so os no cobertos por eles?

    Outro ponto seria o prprio impacto morfolgico nestes municpios: adensamen-to urbano e desconfigurao da sua identidade fsica, por exemplo. Dentro desta mesma dimenso, dados que subsidiem anlises de evoluo urbana: crescimento e variao da rea urbana fosse por meio de imagens de satlite ou, uma aproximadao desta: a partir da mensurao da rea de setores censitrios urbanos ao longo do tempo.

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    Artigo recebido em 8 de julho de 2015.Artigo aceito em 27 de agosto de 2015.