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AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA EM AGROSSISTEMAS DE BASE FAMILIAR: uma aplicação do MESMIS junto a produtores de leite do município de Umbuzeiro-PB JAYSA ELIUDE AGUIAR DOS SANTOS UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE [email protected] GESINALDO ATAÍDE CÂNDIDO Universidade Federal de Campina Grande [email protected]

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AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA EMAGROSSISTEMAS DE BASE FAMILIAR: uma aplicação doMESMIS junto a produtores de leite do município deUmbuzeiro-PB

 

 

JAYSA ELIUDE AGUIAR DOS SANTOSUNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA [email protected] GESINALDO ATAÍDE CÂNDIDOUniversidade Federal de Campina [email protected] 

 

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AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA EM AGROSSISTEMAS DE

BASE FAMILIAR: uma aplicação do MESMIS junto a produtores de leite do município

de Umbuzeiro-PB

RESUMO

Em decorrência da complexidade do ambiente organizacional e das novas posturas de

mercado, em que se verifica a degradação dos recursos naturais, o aumento da poluição e o

aumento nos níveis de desigualdade social, o desenvolvimento sustentável se mostra cada vez

mais necessário à sobrevivência das atividades agrícolas e da sociedade como um todo. É

nesse contexto que este trabalho tem como objetivo avaliar o nível de sustentabilidade da

atividade agrícola de produção de leite do município de Umbuzeiro-PB, fazendo-se uso da

metodologia MESMIS. Para tanto foi realizada uma pesquisa comparativa entre dois grupos

de produtores de leite de Umbuzeiro-PB. Esta pesquisa é classificada como sendo descritiva e

exploratória, foram utilizadas como técnicas de pesquisa a pesquisa bibliográfica e

documental, além da realização de entrevistas seguindo um roteiro semi-estruturado junto a

esses produtores. As entrevistas foram analisadas com base na técnica de análise de conteúdo

descrita por Bardin (1977). Os resultados apontam para um nível regular de sustentabilidade

nos dois grupos analisados. Isso pode ser justificado pela atuação individual e pontual dos

produtores e da baixa participação de órgãos de apoio na atividade agrícola.

Palavras-chave: Atividade Agrícola; Indicador de Sustentabilidade; Produção de Leite.

ASSESSMENT OF SUSTAINABILITY IN AGRICULTURAL BASE FAMILY

AGROECOSYSTEMS: an application of MESMIS together the milk producers of the

municipality of Umbuzeiro-PB

ABSTRACT

Due to the complexity of the organizational environment and new postures market, where

there is degradation of natural resources, increased pollution and increased levels of social

inequality, sustainable development is increasingly necessary to the survival of activities

shows agriculture and society as a whole. In this context, this work aims at assessing the level

of sustainability of agriculture production of milk in the municipality of Umbuzeiro-PB,

making use of the methodology MESMIS. To do a comparative study between two groups of

milk producers of Umbuzeiro-PB was performed. This research is classified as being

descriptive and exploratory, were used as research techniques to bibliographic and

documentary research, in addition to conducting interviews following a semi-structured script

with such producers. The interviews were analyzed based on the technique of content analysis

described by Bardin (1977). The results point to a regular level of sustainability in both

groups analyzed. This can be explained by individual and punctual performance of producers

and the low participation of organs of support in agriculture.

Key words: Agricultural activity; Indicator of Sustainability; Milk Production.

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1 INTRODUÇÃO

O atual contexto organizacional é baseado no crescimento das relações de produção e

consumo, implicando na modificação dos ecossistemas naturais, seja com a degradação dos

recursos naturais, aumento da poluição e com o aumento nos níveis de desigualdade social.

É nesse contexto, que surge o conceito de desenvolvimento sustentável. De acordo

com Veiga (2005), a ideia de sustentabilidade sugere que haja uma compatibilidade entre

produção e conservação de recursos naturais ao longo do tempo, embasados em aspectos

ambientais e ecológicos e associados aos fatores econômicos e socioculturais. É fazer com

que as gerações do presente atendam suas necessidades, sem comprometer a possibilidade de

que gerações futuras também atendam suas necessidades (RELATÓRIO DE BRUNDTLAND-

NOSSO FUTURO COMUM, 1988).

Dada à complexidade que envolve o desenvolvimento sustentável, surgem os

indicadores de sustentabilidade que captam mais facilmente dados e aspectos relevantes para

o processo e análise do desenvolvimento. Esses indicadores atuam como ferramenta capaz de

mensurar o nível de sustentabilidade de atividades produtivas.

Existem diversos Sistemas de Indicadores capazes de analisar os níveis de

sustentabilidade em agrossistemas. Destacam-se: Biograma (SEPÚLVEDA, 2005); Método

IDEA (MARZALL, 1999) e MESMIS (Marco para la Evaluación de Sistemas de Manejo de

recursos naturales incorporando Indicadores de Sustentabilidad - MASERA et al. 1999),

dentre outros. Para efeito deste trabalho o Sistema de Indicadores de Sustentabilidade em

agrossistemas escolhido foi o MESMIS, por ser de fácil operacionalização e flexível,

adaptável ao ambiente no qual se opera e por ter sido desenvolvido para a avaliação da

sustentabilidade em agrossistemas de base familiar, o que se aplica a este trabalho.

Em atividades agrícolas as discussões sobre a sustentabilidade se apresentam cada vez

mais necessárias. As atuais práticas produtivas são agressivas e bem distantes do que se

espera em termos de sustentabilidade. Dentre as atividades agrícolas, a produção de leite tem

grande representatividade cultural e social por permitir o pequeno produtor à sobrevivência e

é uma fonte de renda para a família, e será a atividade foco deste estudo.

A atividade agrícola escolhida para a realização desse trabalho foi a de produção de

leite do município de Umbuzeiro-PB, em virtude de ser esta atividade representativa para os

produtores em termos culturais e econômicos. Além da acessibilidade dos pesquisadores

nessa região.

Diante disso, este trabalho tem como objetivo avaliar o nível de sustentabilidade da

atividade agrícola de produção de leite do município de Umbuzeiro-PB, fazendo-se uso da

metodologia MESMIS. Para tanto, os aspectos metodológicos que conduziram esta pesquisa

foram a pesquisa qualitativa e de campo, de caráter descritivo e exploratório. Como técnicas

de coleta de dados utilizaram-se: a realização de entrevistas com agricultores selecionados a

partir do volume de produção; representantes de instituições de apoio, seguidas de um roteiro

pré-estruturado (a partir de método MESMIS na perspectiva de Masera et al (1999)); a

pesquisa bibliográfica; a pesquisa documental e; a observação participante. Para facilitar a

codificação das informações coletadas foi utilizada a técnica análise de conteúdo descrita por

Bardin (1977), seguindo as etapas de pré-análise, análise descritiva, e interpretação

inferencial.

Além desta parte introdutória, este artigo contempla um referencial teórico abordando

os seguintes temas: Desenvolvimento Sustentável em Atividade Agrícola; Produção de Leite

na Paraíba e Indicadores de Sustentabilidade. Posteriormente, são explicitados os

procedimentos metodológicos que conduziram esta pesquisa, seguido da exposição e análise

dos resultados obtidos, das considerações finais e das referências utilizadas.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Desenvolvimento Sustentável em Atividade Agrícola

O atual contexto organizacional conta com o crescimento da população humana. Esse

crescimento, muitas vezes sem planejamento e desorganizado leva a modificações nos

ecossistemas naturais, porque junto desse aumento populacional, há aumento na demanda por

alimento, água, energia, bens e serviços que advindos desses ecossistemas. Tal fator pode

causar e causa diversos impactos ambientais, alguns irreversíveis. E, uma vez existindo a

exploração dos recursos naturais de forma desordenada e irracional a sociedade sofre todas as

consequências. Com o passar dos anos a ideia de desenvolvimento, antes ligada

especificamente a crescimento econômico, passou a ser substituída pelo conceito de

desenvolvimento sustentável, no sentido de se desenvolver e manter e preservar os recursos

naturais.

Nessa perspectiva, o conceito de desenvolvimento sustentável deve ser disseminado

entre as diversas esferas da sociedade, sendo necessária uma delimitação clara do que se

pretende sustentar e quem tem a responsabilidade sobre essa nova denominação de

desenvolvimento. Faz-se necessário que as empresas e que a sociedade de um modo geral

repensem seus modelos de comportamento com relação ao uso dos recursos naturais, para que

alcancem o desenvolvimento dito como sustentável.

De acordo com Veiga (2005), a ideia de sustentabilidade sugere que haja uma

compatibilidade entre produção e conservação de recursos naturais ao longo do tempo,

embasados em aspectos ambientais e ecológicos e associados aos fatores econômicos e

socioculturais. É fazer com que as gerações do presente atendam suas necessidades, sem

comprometer a possibilidade de que gerações futuras também atendam suas necessidades

(RELATÓRIO DE BRUNDTLAND- NOSSO FUTURO COMUM, 1988). Nesse sentido, o

desenvolvimento será sustentável à medida que as dimensões econômica, ambiental e

sociocultural encontrarem equilíbrio.

Partindo-se dessas discussões, surgem os sistemas de indicadores de sustentabilidade,

ferramenta capaz de mensurar o nível de sustentabilidade de atividades produtivas. Esses

indicadores facilitam a avaliação do avanço de uma determinada localidade em busca do

desenvolvimento sustentável, além de ser eficaz no processo de identificação e

reconhecimentos de problemas, assim como criação, implantação e avaliação de políticas de

desenvolvimento.

Diante de tais considerações, conhecer os índices de desenvolvimento sustentável

local, a partir do conhecimento acerca dos indicadores possibilitará entender quais variáveis

podem ser melhoradas, para que no âmbito da atividade foco, as oportunidades de aumento da

competitividade possam ser potencializadas.

Em atividades agrícolas as discussões sobre a sustentabilidade se apresentam cada vez

mais necessárias. As atuais práticas produtivas são agressivas e bem distantes do que se

espera em termos de sustentabilidade. Observa-se o uso intensivo de agrotóxicos, que afetam

o desequilíbrio ecológico, mau uso do solo, falta de técnicas adequadas de manejo dos

animais, muitas vezes abates em locais impróprios. A agricultura familiar, muitas vezes,

consegue fazer melhor uso dos recursos naturais, por exemplo, da biodiversidade, solo, água,

dentre outros, apresentando melhoria da produtividade, desenvolvimento e crescimento para a

localidade no qual se inserem. Altieri (2002 apud GAVIOLI, 2011) afirma que os sistemas

familiares de produção conseguem atingir bons resultados de produção quando equalizam

fatores biológicos, (por exemplo, doenças e insetos-praga) com fatores econômicos (por

exemplo, otimização na utilização de energia externa).

Dentre as atividades agrícolas, a produção de leite tem grande representatividade

cultural e social. Esta atividade permite o pequeno produtor a sobrevivência e é uma fonte de

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renda para a família, além de não sofrer significativamente com as variações climáticas, o que

fortalece a atividade perante essas variações.

2.2 Produção de Leite na Paraíba

Em se tratando de atividade agrícola, a produção de leite tem grande representatividade

cultural e social. No Brasil, o volume de produção corresponde a 4,6%, deixando o Brasil

como o 6º maior produtor a nível mundial. (IBGE, 2011). A atividade leiteira é, dessa forma,

atividade importante no agronegócio e tem desempenhado relevância no processo de

desenvolvimento econômico e social do país.

No estado da Paraíba, a pecuária tem se mostrado a principal atividade econômica do

agronegócio. De acordo com Nascif (2012) depois do ano 1998 a produção de leite vem

crescendo a uma taxa de 6% ao ano, o que justifica sua contribuição na economia do estado.

A produção de leite na Paraíba está concentrada principalmente na região do Sertão e Agreste

Paraibano, com 192.962 cabeças de vacas ordenhadas e uma produção anual de 148.599 mil

litros.

No município de Umbuzeiro-PB, ambiente escolhido para estudo em função da

representatividade econômica e cultural da atividade leiteira, a produção de leite segundo

dados do IBGE (2011) chega a 2450 mil litros/ dia, gerando uma renda de RS 1.960,00/dia. É

uma atividade forte na região, uma oportunidade para produtores rurais crescerem e se

desenvolverem. A quantidade de vacas ordenhadas é de 2.100 cabeças e a produção individual

das vacas tem média de 10 litros de leite/dia. Esse resultado demonstra que no atual cenário

ambiental, a pecuária, mais especificamente a produção de leite é uma alternativa para a

sobrevivência de produtores rurais.

Apesar das potencialidades existentes na região, algumas dificuldades de expansão e

melhoramento da atividade surgem. A baixa escolaridade e a desorganização dos produtores

acabam interferindo no crescimento da atividade leiteira; a falta de controle por parte dos

produtores também é um fator agravante. O investimento e melhoramento na atividade

dependem do controle de gastos e lucros advindos dela, mas este não acontece. O que se

percebe é que a maior fonte de informação de alguns agricultores (maioria) é a televisão,

reportagens e notícias sobre o campo e ainda boa parte desses agricultores não recebem ou

receberam visitas de técnicos agrícolas.

A visita desses técnicos facilitaria o controle de custos com a produção; melhoraria a

qualidade do leite, uma vez que técnicas de manejo do leite seriam ensinadas; orientações de

como agir antes e depois da ordenha; técnicas de alimentação e manejo do gado, dentre

outras. Fatores estes que potencializariam a atividade e a força individual de cada produtor.

Diante disso, verifica-se a necessidade de utilizar mecanismos que verifiquem a

sustentabilidade dessa atividade agrícola, como forma de manter seu funcionamento e ao

mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento local sustentável. Nesse sentido, os

indicadores de sustentabilidade assumem a capacidade de analisar o nível de sustentabilidade

e os pontos críticos do sistema.

2.3 Indicadores de Sustentabilidade

Na busca por um instrumento capaz de mensurar a sustentabilidade, surge os

indicadores de sustentabilidade. Estes proporcionam o diagnóstico da realidade estudada e

orientação para o processo de práticas sustentáveis de desenvolvimento, ou seja, identifica

problemas e aponta soluções para resolvê-los.

Um indicador age como uma medida de comportamento do agrossistema de ações

expressivas e perceptíveis. Há um processo de percepção e inferência no diagnóstico a base de

indicadores. De acordo com Masera et al (1999), os indicadores de sustentabilidade devem ter

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as informações integradas, ser de fácil mensuração, servir de base de informação para outros

agrossistemas e permitir avaliar mudanças ao longo do tempo.

Várias são as vantagens em se utilizar os indicadores de sustentabilidade. As

informações são mais claras e concisas e aproveitadas ao máximo; há uma maior facilidade na

identificação de pontos críticos; maior a interação com os participantes; minimização de erros

de interpretação; possibilidade de verificação contínua de respostas; metodologia

interdisciplinar o que facilita a análise dos dados.

Existem diversos Sistemas de Indicadores capazes de analisar os níveis de

sustentabilidade em agrossistemas. Destacam-se: Biograma (SEPÚLVEDA, 2005); Método

IDEA (MARZALL, 1999) e MESMIS (Marco para la Evaluación de Sistemas de Manejo de

recursos naturales incorporando Indicadores de Sustentabilidad - MASERA et al. 1999),

dentre outros.

Para efeito deste trabalho foi utilizado o MESMIS, uma vez que é um metodologia

participativa, de abrangência na coleta de dados e informações e por propor a análise da

sustentabilidade especificamente para agrossistemas de base familiar, o que se aplica a este

trabalho.

O método MESMIS foi desenvolvido nos anos 90 pelo Grupo Interdisciplinar de

Tecnologia Rural Apropriada (GIRA) do México com o objetivo de avaliar a sustentabilidade

de atividades agrícolas, mais especificamente os agrossistemas de base familiar. Busca

compreender as limitações e as possibilidades de desenvolvimento dos sistemas produtivos,

descrever as atividades que são desenvolvidas e avaliá-las em termos de sustentabilidade. Para

isso, sua estrutura faz uso de Indicadores de sustentabilidade que possuem características

específicas de acordo com o agrossistema ao qual se propor analisar.

Essa metodologia determina que a sustentabilidade se promulga em três dimensões:

ecológica, econômica e sociocultural. Estas dimensões, por sua vez, se relacionam com cinco

atributos da sustentabilidade em agrossistemas. Quais sejam: produtividade; estabilidade/

resiliência; adaptabilidade; equidade, e; autonomia. (VERONA, 2010; MASERA et. al 1999).

Masera et al (1999) definem esses atributos, em que a produtividade está relacionada à

capacidade que o agrossistema tem de gerar bens e serviços em relação a seus insumos; a

estabilidade está relacionado ao mantimento do equilíbrio dinâmico e estável ao longo do

tempo para que os produtores possam ter produtividade; a confiabilidade se relaciona à

capacidade de manter os benefícios desejados e a produtividade; a resiliência está relacionada

à capacidade de recuperar as condições de atuação em momentos de impactos e voltar ao

equilíbrio; a adaptabilidade está relacionada à capacidade de mudança e adaptação as questões

(ambientais, sociais e econômicas) impostas pelo ambiente no qual o sistema está inserido; a

equidade está relacionado à capacidade de igualdade na distribuição dos benefícios humanos,

custos e outros benefícios adquiridos a partir de interações; e autogestão que se refere à

interdependência dos produtores. Trata-se de avaliar como um agrossistema busca se expandir

e alcançar seus objetivos por conta própria

A aplicação dessa metodologia busca por intermédio de uma análise comparativa entre

distintos sistemas de produção agrícola ou recortes temporais analisar os níveis de

sustentabilidade. Além de apontar o grau de sustentabilidade, a aplicação dos indicadores

permite reconhecer os pontos críticos e o funcionamento do agrossistema, oferece um novo

panorama de soluções e intervenções para o incremento de níveis de sustentabilidade.

(GAVIOLI, 2011).

Para a operacionalização e aplicação da metodologia segue-se um conjunto de passos

que permite efetivar todo o ciclo de avaliação, este será descrito no tópico subsequente.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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Esta pesquisa é caracterizada como sendo descritiva e exploratória. Para tanto, foi

realizado um estudo comparativo entre dois grupos de produtores de leite da cidade de

Umbuzeiro-PB. Um grupo que apresenta resultados econômicos mais expressivos em termos

de produção e outro que apresenta resultados menos expressivos. A escolha por esses agentes

foi decorrente da média da quantidade de leite produzido pelos produtores cadastrados na

Associação de Produtores Rurais de Umbuzeiro-PB, três produtores que tivessem produção

acima da média (Grupo A +) e três que tivessem abaixo da média (Grupo B -). São no total 18

produtores associados. O somatório da produção em litros/dia é igual a: 2.195 litros/dia, que

resulta numa média igual a: 121,94 litros/dia.

Para a efetivação da pesquisa utilizou-se como técnicas de pesquisa a pesquisa

bibliográfica, como forma de obter embasamento teórico, pesquisa documental para levantar

dados e informações necessárias às propriedades e aos agricultores. Essas informações foram

complementadas pela verificação in loco mediante visitas as propriedades, na qual foram

realizadas entrevistas seguindo um roteiro semi-estruturado junto aos produtores selecionados

e representantes de instituições de apoio a fim de reconhecer os principais pontos fracos e

estabelecer os indicadores de análise de sustentabilidade adequados a atividade leiteira, a

partir de método MESMIS na perspectiva de Masera et al (1999). As entrevistas foram

analisadas com base na técnica de análise de conteúdo descrita por Bardin (1977) seguindo as

etapas de pré-análise; análise descritiva e interpretação individual.

Para operacionalização e aplicação da metodologia segue-se um conjunto de passos

que permite efetivar todo o ciclo de avaliação da sustentabilidade, como pode ser observado

na figura 1: Figura 1: Ciclo de evolução do MESMIS

Fonte: MASERA et al (1999)

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a) Determinação do ambiente de estudo: nessa etapa fez-se estudo detalhado do

ambiente de estudo, qual seja as propriedades produtoras de leite de Umbuzeiro-PB; b)

Determinação dos pontos críticos do agrossistema: nessa etapa fez-se estudo com a

participação dos produtores e representantes institucionais dos fatores que limitam e que são

favoráveis à sustentabilidade; c) Seleção de indicadores estratégicos: nessa etapa foram

determinados os critérios de diagnóstico para se fazer as avaliações. Esses indicadores foram

selecionados de acordo com a realidade de cada agrossistema; d) Medição e monitoramento

de indicadores: os indicadores foram avaliados com o objetivo de quantificar as informações

coletadas no que se refere ao diagnóstico da sustentabilidade, nessa etapa, foi necessário uma

normalização dos indicadores para que pudessem servir de parâmetro para a avaliação do

nível de sustentabilidade. Assim, para cada indicador foram estabelecidos valores de 01 a 03,

em que 01 representa uma baixa contribuição para a sustentabilidade; 02 indiferente para a

sustentabilidade, e; 03 alta contribuição para a sustentabilidade; e) Apresentação e integração

dos resultados: nessa etapa as avaliações de diagnóstico tomaram forma. Os resultados

encontrados na avaliação foram analisados e discutidos com todos os atores; f) Conclusão e

recomendação: nesta última etapa, foram geradas as conclusões da avaliação e as propostas de

alternativas para fortalecer a sustentabilidade dos sistemas.

Essa metodologia é cíclica, contínua, de forma que chegada última fase, há um novo

início, partindo da identificação e determinação de um novo ambiente de estudo.

Realizando essas seis etapas, o pesquisador alcança melhor entendimento do

agrossistema e pode contribuir mais efetivamente para a melhoria do funcionamento desse

sistema. Assim como fazer sugestões e recomendações compatíveis com a realidade de como

mudar práticas produtivas para um futuro mais sustentável. Nesse sentido, para o alcance

dessas considerações fez-se uso da triangulação dos dados coletados a partir de fontes

primárias, secundárias e as inferências dos pesquisadores acerca das suas percepções quanto à

vinculação entre o fenômeno estudado e a base teórica e conceitual utilizada.

A partir da realização dos três primeiros passos da metodologia descrita anteriormente,

chegaram-se aos indicadores estratégicos que estão elencados no quadro 1.

Quadro 1: Dimensões da gestão sustentável. GESTÃO SUSTENTÁVEL

ATRIBUTO CRITÉRIOS DE

ANÁLISE

(ORIENTAÇÃO)

INDICADORES DIMENSÕES

Produtividade Retorno e eficiência Eficiência de

utilização do

trabalho familiar;

Sociocultural

Eficiência no

controle de gastos e

lucros;

Econômica

Controle da

qualidade do leite e

derivados;

Econômica

Aproveitamento do

solo;

Ecológica

Resiliência Conservação e

diversidade

Diversidade de

criação;

Ecológica; Econômica

Diversidade de

canais de

comercialização;

Econômica

Estabilidade Capacidade de

funcionamento

Participação em

redes (religiosas, de

trabalho,

Sociocultural

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associações);

Presença de jovens; Sociocultural

Controle sobre o

preço dos produtos;

Econômica

Confiabilidade Capacidade para

manter

a produtividade

Frequência nas

compras;

Econômica

Fidelidade de

clientes;

Econômica

Relação com

concorrentes;

Econômica

Adaptabilidade Capacidade de

mudança e inovação

Existência de

pluriatividade;

Econômica

Intercâmbio de

conhecimentos;

Sociocultural

Melhoramento de

material genético;

Ecológica; Econômica

Equidade Distribuição e

participação

Ocupações no lote

agrícola;

Econômica

Divisão de terras

para herdeiros;

Sociocultural

Autogestão Autossuficiência

organizacional

Uso de insumos

externos;

Ecológica

Produção para

autoconsumo;

Econômica

Uso de

conhecimentos

locais.

Sociocultural

Fonte: Elaboração própria com base no método MESMIS (2014).

Esses indicadores foram estabelecidos a partir da interação e participação dos

produtores na discussão de pontos positivos e negativos da atividade agrícola,

potencializadores e inibidores da atividade.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 Caracterização do ambiente de pesquisa

O município de Umbuzeiro tem 124 anos de existência e está situado na mesorregião

do estado da Paraíba. Possui uma área de aproximadamente 390 km² e cerca de 9.298

habitantes. Limita-se com o Estado de Pernambuco e com os municípios de Santa Cecília,

Alcantil, Gado Bravo, Aroeiras e Natuba. Está a 533 metros do nível do mar o que indica ser

uma das áreas mais altas do Estado da Paraíba, com forma estreita e ligeiramente alongada,

distante a 134 km da Capital João Pessoa. Ocupa 0,0046% do território Nacional e 0,69% da

Paraíba. A temperatura média anual desse município oscila em torno de 24°C. (IBGE, 2010).

As principais atividades econômicas circundam o funcionalismo público, comércio e

atividade agrícola. Em relação à atividade agrícola, são cadastrados na Secretaria de

Agricultura do município 1.240 agricultores.

4.2 Detalhamentos da metodologia MESMIS

Para efeito dos resultados, as etapas 1, 2 e 3 serão omitidas, em função de serem

responsáveis pelo estabelecimento dos indicadores conforme descrito na metodologia. Assim

sendo, os resultados consistir-se-á no detalhamento da metodologia MESMIS a partir do

passo 4.

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00,5

11,5

22,5

3

Eficiência deutilização do…

Presença dejovens;

Intercâmbio deconheciment…

Divisão deterras para…

Uso deconheciment…

Avaliação Comparativa dos Indicadores Socioculturais

Grupo A +

Grupo B -

A avaliação dos indicadores se deu pela investigação do agrossistema de produção de

leite do município de Umbuzeiro-PB a partir de entrevistas e visitas in loco.

O grupo aqui denominado, A +, é um grupo que apresenta resultados de produção

acima da média e o Grupo B- aqueles que apresentaram resultados abaixo da média

(conforme descrito na metodologia). Foram tiradas as médias das respostas e elencadas em

gráficos do tipo radar para facilitar a compreensão.

4.2.1 Avaliação Comparativa da dimensão Sociocultural

Na dimensão Sociocultural foram estabelecidos como indicadores: Eficiência de

utilização do trabalho familiar; participação em redes (religiosas, de trabalho, associações);

presença de jovens; intercâmbio de conhecimentos; divisão de terras para herdeiros e uso de

conhecimentos locais.

Em relação à essa dimensão, chegou-se ao gráfico 1:

Gráfico 1: Avaliação Comparativa dos Indicadores Socioculturais

Fonte: Dados da pesquisa. 2014.

Nessa dimensão, os resultados nos dois grupos apontam para „indiferente para a

sustentabilidade‟. No Grupo A + a média foi 2,2 e no Grupo B - foi de 1,8. Esse resultado

aponta que tanto o Grupo A + como o Grupo B- consegue manter um desempenho aceitável

em termos de sustentabilidade. Com as visitas e entrevistas, foi possível perceber que há

eficiência na utilização do trabalho familiar, uma vez que, em todas as propriedades visitadas

a mão-de-obra é composta por pelo menos dois membros da família. Sendo assim, a

distribuição de terras para herdeiros, acaba acontecendo de forma natural em algumas

propriedades.

Aqui somos eu, meus filhos (três) e três peão. Agora fulano (um dos filhos) tá

trabalhando no caminhão e não fica mais na „lida‟ com a gente. [...] Cada um tem

seu pedaço de terra e suas vacas. É criado tudo junto e a ordenha é feita tudo junto

também, mas cada um tem que tomar conta do que é seu. (PROPRIETÁRIO 1 DO

GRUPO A +)

Eu trabalho aqui com minha família. Os homens cuidam do gado comigo e fica no

curral. A mulher e a filha fica na casa, faz comida e os queijos. Cuida das

encomendas de venda. Meus netos estudam e não tem tempo de ajudar a gente na

lida com o gado. [...] (PROPRIETÁRIO 3 DO GRUPO B-)

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Dentre os participantes das atividades, percebeu-se presença de jovens, em sua

maioria, jovens não familiares dos proprietários, estes deveriam estudar e buscar novas

oportunidades e explorar horizontes diferentes, segundo os proprietários. Nessa dimensão,

curiosamente merece destaque o indicador „intercâmbio de conhecimento‟, que recebeu as

menores médias nos dois grupos A + e B-, 1,7 e 1,3, respectivamente. De acordo com as

entrevistas, cada „peão‟ como são chamados os empregados, têm a sua função e não “há a

necessidade de se intrometer nas tarefas dos outros”. Esse fator estagna a possibilidade de

expansão e de melhoramento no desenvolvimento da atividade agrícola.

Os mais velhos são quem geralmente lideram as atividades e, por sua vez, apresentam

comportamentos mais arredios. Na realização das visitas, foi possível identificar

comportamento impaciente de alguns produtores com a presença da pesquisadora. E quando

questionados sobre atuação da Associação e dos agentes da prefeitura, eles afirmaram que há

muito tempo não recebem visitas e que conseguem sobreviver sem a presença deles.

Olhe, cada um aqui tem sua função, mas ninguém se intromete na tarefa de

ninguém. Quando falta alguém eles fazem a tarefa, por que „tudim‟ sabe fazer de

tudo um pouco. Mas aprende olhando, não tem isso de ficar conversando e

ensinando não. (PROPRIETÁRIO 1 DO GRUPO A +)

Aqui, a gente não conversa muito de bicho não, porque não tem o que conversar.

[...] Mas olhe tem dois meninos que trabalha aqui que eu trato como se fossem da

família, eles moram num quartinho de despensa no quintal de casa.

(PROPRIETÁRIO 2 DO GRUPO B-)

Faz muito tempo que não vem ninguém do governo e nem de associação. A gente

aqui só tem as „coisa‟ porque meu menino é entendido e vai. (PROPRIETÁRIO 2

DO GRUPO A +)

Diante do exposto pode-se perceber que, embora não haja o relacionamento presente

de agentes governamentais e não governamentais e de relacionamentos internos às

propriedades direcionados ao intercâmbio de conhecimentos, há um ambiente de trabalho com

aconchego familiar em que cada um tem sua função e contribuição para a atividade como um

todo, como pode ser percebido no discurso do PROPRIETÁRIO 2 DO GRUPO B-.

Essa contribuição da comunicação e do intercâmbio de conhecimentos a nível interno,

muitas vezes não acontece, porque há uma carência de conhecimento de técnicas de manejo e

de desenvolvimento da atividade. O conhecimento que se tem é acumulado, herdado de

antepassados e aprendidos pelas novas gerações pela observação.

Embora apresente alguma diferença nas médias, os Grupos A + e B-, apresentam

comportamentos semelhantes no que se refere aos indicadores Socioculturais. De uma forma

geral, mesmo apresentando algumas dificuldades em relação ao compartilhamento de

conhecimento e falhas na comunicação que possam contribuir para a melhoria da atividade, a

dimensão sociocultural foi avaliada de forma indiferente, que não é ótimo, mas que também

não apresenta maiores riscos à sustentabilidade da atividade.

4.2.2 Avaliação Comparativa da dimensão Ecológica

Na dimensão Ecológica foram estabelecidos como indicadores: uso de insumos

externos; melhoramento do material genético; diversidade de criação e aproveitamento do

solo.

Com base na dimensão Ecológica, tem-se o gráfico 2: Gráfico 2: Avaliação Comparativa dos Indicadores Ecológicos

Page 12: AVALIAÇÃODASUSTENTABILIDADEAGRÍCOLAEM ... · atividade agrícola de produção de leite do município de Umbuzeiro-PB, fazendo-se uso ... sustentável local, a partir do conhecimento

Fonte: Dados da pesquisa. 2014.

Os resultados nessa dimensão apontam para os dois Grupos analisados „indiferente

para a sustentabilidade‟, com média igual a 1,9.

No Grupo A+, esse resultado pode ser justificado pela atuação quase que pontual na

atividade agrícola de produção de leite. O aproveitamento do solo existe, mas não para a

produção de outros cultivares nem de outros animais. O solo é prioritariamente destinado ao

pastio das vacas e bois. Nesse sentido, há um maior desgaste do solo, uma vez que com a

perda da camada vegetal da área através da presença desses animais, há uma maior

compactação do solo, tornando-o infértil.

No que se refere ao indicador „melhoramento de material genético‟, somente no Grupo

A + foi verificada a existência de melhoramento genético. Existe na cidade de Umbuzeiro um

banco de sêmen do Gir leiteiro (Raça leiteira) na Estação Experimental João Pessoa

(EMEPA) que é considerada o berço da seleção do Gir leiteiro a nível Paraíba. Alguns

produtores tiveram acesso a esse banco de sêmen e fizeram a inseminação para a purificação

das raças, receberam apoio e treinamento dos agentes e técnicos da EMEPA. No entanto, esse

contato é tido por pouquíssimos produtores, sendo os sêmens, em sua maioria, vendidos sob

encomenda a produtores de fora do município ou armazenados na EMEPA para posterior

inseminação. Para os produtores que adquiriram os sêmens, os benefícios são expressivos, o

aumento na produção de leite é significativo, segundo os proprietários e técnicos da EMEPA,

esse aumento chega a 35%. Isso reflete que em se tratando do melhoramento genético, os

produtores que possuem melhores condições de produção e consequentemente maior

quantidade de produção são beneficiados.

Uma ação da Associação dos Produtores de Leite de Umbuzeiro, descrita pelos

proprietários de ambos os grupos foi conseguir os sêmens de raça leiteira na EMEPA e

distribuir entre os Associados. Mas isso segundo eles foi a única atividade proveitosa da

associação e já faz algum tempo.

No Grupo B- não foi identificado o melhoramento genético a partir do banco de sêmen

da EMEPA, consequentemente há uma queda na produção de leite se comparado ao outro

grupo analisado. Isso foi decorrente, segundo relatos dos proprietários do Grupo B-, de na

época da distribuição dos sêmens por parte da Associação eles não serem associados. No

entanto, o Grupo B- consegue ser melhor avaliado nos outros indicadores em relação ao

Grupo A +, ou seja, explorar melhor o solo e ter produção diversificada. Esse acaba sendo um

diferencial do Grupo B-.

Além da criação de vacas, o Grupo B- mantém a criação de galinhas, porcos e, em

minoria, de carneiros. Ademais, cultiva mandioca, jerimum, milho, feijão e diversas hortaliças

00,5

11,5

22,5

Uso de insumosexternos;

Melhoramento dematerial genético;

Diversidade decriação;

Aproveitamentodo solo;

Avaliação Comparativa dos Indicadores Ecológicos

Grupo A +

Grupo B -

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para consumo interno. Em casos de boa produção desses subsistemas, há a comercialização.

Essa diversidade do subsistema animal otimiza o uso dos recursos disponíveis, incrementando

a ciclagem de nutrientes através do esterco na bovinocultura. Esse desenvolvimento

diversificado de culturas contribui para a preservação do solo, uma vez que a matéria orgânica

resultante da atividade produtiva serve de adubo para o solo e pode potencializar a atividade

de subsistência.

Os dois grupos apresentaram valores que indicam para „indiferentes para a

sustentabilidade‟ no indicador „Uso de insumos externos‟. A compra de materiais é feita no

período de três meses, principalmente ração, isso faz com que não haja fidelização e

frequência nas compras.

De uma maneira geral a dimensão Ecológica foi avaliada de forma „indiferente para a

sustentabilidade‟. O que fica evidente nessa pesquisa é que se existisse maior atuação de

órgãos de apoio esse resultado poderia assumir valores mais positivos.

4.2.3 Avaliação Comparativa da dimensão Econômica

Na dimensão Econômica foram estabelecidos como indicadores: eficiência no controle

de gastos e lucros; controle da qualidade de leite e derivados; diversidade de canais de

comercialização; controle sobre os preços dos produtos; frequência nas compras; fidelidade

dos clientes; relação com concorrentes; existência de pluriatividade; ocupações do lote

agrícola e produção para autoconsumo.

Em relação à dimensão Econômica, tem-se o gráfico 3:

Gráfico 3: Avaliação Comparativa dos Indicadores Econômicos

Fonte: Dados da Pesquisa. 2014.

Nessa dimensão os resultados levam a „indiferente para a sustentabilidade‟, com

médias iguais a 2,02 (Grupo A +) e 2,3 (Grupo B-). Na dimensão Econômica, embora de uma

forma geral tenha obtido esse resultado de indiferente para a sustentabilidade, vale ressaltar

que apresentou indicadores avaliados na menor escala utilizada (1) que representa baixa

contribuição para a sustentabilidade tanto no Grupo A+ como no Grupo B- . Os indicadores

foram: „eficiência no controle de gastos e custos‟ e „controle sobre o preço dos produtos‟.

Nesse caso o controle dos gastos e lucros não são avaliados pelos proprietários. Eles atuam

comprando e vendendo seus produtos sem nenhum controle sobre eles. Alguns afirmaram que

o que ganham se reverte em insumos para a atividade, principalmente ração.

Como a gente usa ordenha mecânica é preciso fazer manutenção nas máquinas,

comprar produtos pra higienizar o peito da vaca antes e depois da ordenha. Se uma

mangueira dessa rompe a gente paga uns trezentos reais por uma pecinha de nada.

0

1

2

3Eficiência no…

Controle da…

Diversidade de…

Frequência nas…

Fidelidade de…

Relação com…

Existência de…

Produção para…

Avaliação Comparativa dos Indicadores Econômicos

Grupo A +

Grupo B -

Page 14: AVALIAÇÃODASUSTENTABILIDADEAGRÍCOLAEM ... · atividade agrícola de produção de leite do município de Umbuzeiro-PB, fazendo-se uso ... sustentável local, a partir do conhecimento

[...]. Nossa ração é cara. A gente compra cevada da Itaipava e uma ração pronta, a

Maxleite. [...] Como a gente gasta muito dinheiro com a ração, o retorno acaba sendo

baixo. O que é vantagem e o lucro da gente vem da venda dos bezerros.

(PROPRIETÁRIO 3 DO GRUPO A +)

Agente tira o leite e a mulher faz o queijo, às vezes a gente ajuda também. [...] Toma

cuidado com a higiene do leite. [...] A gente vende o queijo aqui em casa e um

queijeiro compra uns 30 kg pra vender no sábado na feira de Umbuzeiro. [...] De

dinheiro a gente recebe e gasta de novo com mantimento de casa e compra ração pro

gado. [...] (PROPRIETÁRIO 1 DO GRUPO B-)

O que se pode perceber é que os produtores não controlam os gastos e não fazem

separação de custos, receita e lucro. Isso faz com os produtores acabem acreditando que a

atividade não é rentável, consequentemente que o êxodo rural aumente, que a atividade

agrícola seja desvalorizada. O que também acontece é que os proprietários não têm poder

sobre o preço dos produtos que vendem, esse fica por conta dos compradores. Os

compradores são em sua maioria fixos e o mercado se restringe a queijarias (venda do leite in

natura); padarias e supermercados locais (leite in natura, queijo, nata e outros derivados do

leite), além da população circunvizinha a essas propriedades.

Preço a gente não controla. Se o quilo do queijo aumenta, o leite tem que aumentar

também. O litro de leite semana passada „tava‟ R$1,05 e agora „tá‟ R$ 1,10 porque o

queijo aumentou, se a gente não muda o preço sai no prejuízo. (PROPRIETÁRIO 2

DO GRUPO A +)

Em relação aos indicadores „diversidade de canais de comercialização‟ e „existência de

pluratividade‟, foram avaliados mais positivamente no Grupo B-. Esse grupo, menos

desenvolvido em termos de produção de leite, explora outras atividades, como descritas na

dimensão Ecológica, isso faz aumentar a renda e potencializar as propriedades rurais. Em

relação à diversidade de canais de comercialização, como os produtores do Grupo B- lidam

com diversas culturas de produção e, em sua maioria, vendem seus produtos diretamente aos

clientes acabam possuindo maiores possibilidades de comércio. Seus principais canais são,

feiras municipais e regionais, clientes que compram o leite e outros produtos na própria

propriedade, queijarias, supermercados.

No Grupo A+, os compradores são em sua maioria, queijarias e clientes que vão até a

propriedade. Nesse grupo, a atividade circunda a produção de leite e é comum a presença de

atravessadores que compram o leite e fazem revenda. No entanto, também existe a

participação em feiras de gado em que há a venda de bezerros, que não é o objetivo de criação

dessas propriedades.

Os relacionamentos que deveriam agir como aquecedores de mercado parecem não

existir. O contato com concorrentes é baixo, fator justificado pela atuação simplória da

Associação dos Produtores de leite de Umbuzeiro; com fornecedores acaba sendo também

baixo em função do volume de compra não ser frequente, a compra de insumos acontece a

cada três meses, segundo os proprietários.

Merece destaque positivo nessa dimensão, os indicadores „controle da qualidade do

leite e derivados‟, „ocupação do lote agrícola‟ e „produção para autoconsumo‟. Em relação à

qualidade do leite, o que se percebe é que os proprietários conseguem cuidar do gado desde a

alimentação, pastio, ordenha e pós ordenha e manter a qualidade do leite e derivados. O que

não necessariamente é feito de forma consciente. O que se percebe é que a atuação dos

produtores surte resultado positivo nesses aspectos, mas eles não sabem o porquê disso.

Fazem porque acreditam ser o certo. Não há muitas vezes nenhum treinamento de manejo dos

animais que pudessem de fato contribuir mais efetivamente para a melhoria da qualidade dos

produtos e da atividade como um todo.

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No Grupo A+, em que os produtores tiveram acesso mais diretivo aos agentes e

técnicos da EMEPA, em função do banco de sêmen do Gir leiteiro, houve um treinamento

mais diretivo por parte desses agentes em relação à qualidade do leite, o que é um diferencial

para os produtores do Grupo A+. Mas é válido destacar que esse treinamento não é frequente.

Em relação ao contato com o sêmen da raça leiteira, é válido destacar que foi uma

ação pontual da Associação e que nos dias atuais é difícil para os produtores conseguirem

acesso a esse sêmen. O que acontece e foi citado pelos proprietários é que eles fazem

pequenas parcerias com outros produtores para fazer o cruzamento com reprodutor de raça

pura, melhorando parcialmente a genética dos animais, ou seja, a raça que nascerá a partir

desse cruzamento é chamada por eles de „meia‟, que representa meio raça pura e meio

mestiço.

Outra forma de contato com animais de raça pura leiteira e de reprodução (Gir,

Guzerá e Sindi) é a partir de leilões que acontecem uma ou duas vezes ao ano nas cidades de

Umbuzeiro-PB ou Alagoinha-PB. Este ano, a edição do leilão será na cidade de Umbuzeiro

no final do mês de setembro, em que serão leiloados 71 animais adultos e quatro crias ao pé

(Gir, Guzerá e Sindi), distribuídas por raça e sexo, avaliados em R$ 205.050,00 pela

Comissão de Avaliação da EMEPA. No entanto, os lances individuais desses animais são

avaliados em no mínimo R$ 2.500,00, o que muitas vezes é incompatível com a realidade dos

produtores locais.

Uma vez existindo contribuição e apoio de agentes governamentais e não

governamentais para todos os produtores o cenário da atividade agrícola em termos de

sustentabilidade e os resultados econômicos poderia ser outro. Principalmente para o pequeno

produtor, que adquire os insumos de forma individualizada a altos custos; não tem poder de

barganha na compra; e tem dificuldade no acesso a redes de crédito para custear a atividade

produtiva.

Diante de todos esses resultados, pode-se fazer um diagnóstico da atividade agrícola

de produção de leite na cidade de Umbuzeiro-PB. Embora haja algumas divergências entre os

grupos analisados, eles apresentam níveis regulares de sustentabilidade. Esse resultado deixa

claro que essa atividade agrícola tem condições de se desenvolver e melhorar a qualidade de

vida de toda população que dela sobrevive, mas que para que isso aconteça, torna-se

necessário a existência de políticas públicas mais diretivas e específicas para o

desenvolvimento da atividade e a participação incisiva dos órgãos de apoio como governos e

associações.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade agrícola de produção de leite tem grande representatividade cultural e

econômica para os produtores da cidade de Umbuzeiro-PB. Diante da aplicação da

metodologia MESMIS nessa atividade agrícola, a partir da interação e participação dinâmica

no ambiente estudado, foi realizado um diagnóstico da sustentabilidade na atividade que

aponta para nível regular de sustentabilidade.

Isso é decorrente da atuação individual e pontual de cada produtor e da participação

simplória de órgãos de apoio, a exemplo da Associação de Produtores de Leite do município

de Umbuzeiro-PB e governos. A ausência de relacionamento por entre os produtores e com os

diversos atores dentro da cadeia produtiva se torna um gargalo para a melhoria da atividade,

em função do baixo conhecimento dos produtores e da falta de articulação entre esses agentes.

A atuação dessas instituições poderia atuar como promotoras de desenvolvimento e

crescimento da atividade, no sentido de ampliar o acesso a linhas de crédito; incentivar a

compra coletiva de insumos (conseguir melhores preços); ampliar os canais de

comercialização; oferecer capacitação e técnicas de manejo do rebanho; melhorar a qualidade

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do leite a partir do melhoramento genético; dentre outras. Em relação à qualidade do leite,

deve-se pensar no início do processo, com o melhoramento do rebanho. Esse melhoramento

poderia acontecer por intermédio da inseminação artificial e/ou do cruzamento de espécies

para garantir matrizes leiteiras com melhores padrões genéticos, a exemplo do Gir leiteiro,

que garantem leite de melhor qualidade.

A existência de pessoas de uma mesma família trabalhando na atividade agrícola é um

diferencial e uma vantagem para os produtores que ficam a mercê de suas próprias decisões e

ações, uma vez que representa diminuição de gastos com funcionários e faz o processo de

tomada de decisão ser mais participativo. Essa é uma das principais características nos dois

grupos analisados no que se refere à dimensão Sociocultural.

A diversificação de subsistemas e de cultivos no estabelecimento agrícola contribui

para o aumento da sustentabilidade na dimensão Ecológica. De acordo com os resultados, o

Grupo B-, embora não possua melhoramento genético a partir do banco de sêmen da EMEPA,

consegue se igualar em termos de retornos financeiros aos produtores do Grupo A+ que

possuem um gado mais selecionado e consequentemente uma produção de leite maior. Isso é

decorrente da melhor utilização do solo com desenvolvimento de subsistemas e diversidade

de criação por parte do Grupo B-.

Na dimensão Econômica, os dois grupos sofrem com a falta de controle de custos,

receitas e lucros e com a dependência dos compradores em determinação do preço de seus

produtos. Em função da pluriatividade, o Grupo B- consegue maiores canais de

comercialização em relação ao Grupo A+, o que faz com que os mesmos tenham retornos

econômicos significativos e consigam maior poder de barganha com clientes e fornecedores.

Nesse sentido, pode-se dizer que tanto o Grupo A+ quanto o Grupo B-, apresentam

resultados regulares em relação à sustentabilidade. Mesmo existindo algumas diferenças entre

eles, os dois grupos conseguem manter boas práticas produtivas que são contributivas para o

aumento do nível de sustentabilidade agrícola. Um possuindo maior volume de produção e

melhor qualidade do leite decorrente da raça de seus animais (a partir do melhoramento

genético- Grupo A+) e o outro, diversidade de cultivares e do subsistema animal (criação de

vacas, galinhas, porcos e, em minoria, de carneiros; cultivo de mandioca, jerimum, milho,

feijão e diversas hortaliças para consumo interno- Grupo B-).

Diante disso, pode-se dizer que a atividade agrícola de produção de leite é uma

atividade potencial que merece destaque, em função das condições climáticas e cultuais da

região, mas que para que possam de fato se desenvolver necessitam do apoio, participação e

da ação dos agentes governamentais e não governamentais no desenvolvimento de políticas

públicas de apoio a essa atividade agrícola. Um exemplo é a Associação, que é o contato mais

próximo do pequeno produtor com as atuais práticas de manejo e criação do rebanho, assim

como melhor aproveitamento do solo, mas esta não funciona. Teve há algum tempo sua

contribuição no melhoramento genético de alguns produtores que eram associados, mas que

não existe mais. O pequeno produtor fica a mercê de suas próprias convicções, ações e

atitudes. Isso representa, em alguns casos, a estagnação da atividade e consequentemente faz

aumentar o êxodo rural e a desvalorização da atividade agrícola.

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