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AVALIAÇÃO NEOCLÁSSICA E ECOLÓLIGA PARA O
EXTRATIVISMO DE ERVA-MATE CANCHEADA NO PARANÁ
Auberth Henrik Venson – Mestrando Economia Regional-UEL, e-mail: [email protected]
Fabiano Prado Pedroso – Mestrando Economia Regional-UEL e-mail: [email protected]
Marcia Regina Gabardo da Camara - Docente Programa de Mestrado em Economia Regional, e-mail: [email protected]
Irene Domenes Zapparoli – Docente Programa de Mestrado em Economia Regional, e-mail: [email protected]
Resumo
O presente artigo tem como objetivo realizar uma avaliação econômica da atividade
de extrativismo de erva-mate cancheada no Paraná, para isso foi utilizado o cálculo
do Valor Presente Líquido (VPL) e também foi medida a sensibilidade do VPL em
relação à taxa de desconto adotada tendo com base os dados da Produção da
Extração Vegetal e Silvicultura (PEVS) do IBGE. Os resultados obtidos mostraram
que a extrativismo de erva-mate cancheada é uma atividade que aumenta a riqueza,
mas também é bem sensível a mudanças na taxa de desconto.
Palavras chave: economia dos recursos naturais, extrativismo, valor presente líquido.
Abstract
The aim of this paper is conduct an economic evaluation of the extraction activity of
mate in Paraná, calculating the Net Present Value (NPV) was used and was also
measured the sensitivity of NPV with respect to the discount rate adopted taking
database of Plant Production and Forestry Extraction (PEVS) from IBGE. The results
showed that the extraction of mate cancheada is an activity that increases wealth, but
is also very sensitive to changes in the discount rate.
Keywords: natural resource economics, extraction, net present value.
1. Introdução
Segundo a economia neoclássica, os agentes econômicos têm como objetivo
maximizar o lucro sujeito às restrições. Conceitualmente a atribuição de valores na
produção está relacionada aos desejos ilimitados dos consumidores, que são
limitados pelas restrições orçamentárias e pela disponibilidade de recursos.
A economia ecológica vem interpolar o limite para o consumo, sustentada
sobre o diagnostico do nível de degradação do meio ambiente, sugere novo modelo
com ritmo de extração minimizado e a necessidade de integração humana com o
meio ambiente. O limite recebe o conceito de taxa de reposição de estoques naturais.
O presente estudo tem como objetivo realizar uma avaliação econômica da
atividade de extrativismo de erva-mate cancheada no Paraná, que é o maior produtor
desse gênero vegetal no Brasil.
Como a produção de erva-mate cacheada no Paraná baseia-se no plantio
domesticado fica definido o intuito de analisar uma taxa de desconto que suprira a
manutenção dos estoques.
De acordo com Homma (2006) é possível perpetuar a extração de qualquer
vegetal, desde que mantenha o estoque e buscam alternativas de substituições. A
domesticação pode ser uma das soluções para o processo de substituição de vegetal
com pouco estoque natural.
Como a produção de erva mate cacheada no Paraná baseia-se no plantio
domesticado fica definido o intuito de analisar uma taxa de desconto que suprira a
manutenção dos estoques. Resgatando a metodologia do Valor Presente Liquido
(VPL) o objetivo é trazer toda a produção a valor presente e analisar a sensibilidade
do VPL em relação à taxa de desconto, visando avaliar criação de valor econômico da
atividade extrativista bem como sua variação em relação a mudanças na taxa de
desconto.
Esse artigo se divide em cinco partes, além dessa introdução, será
apresentada uma revisão de literatura a respeito da economia dos recursos naturais e
a atividade extrativista, em seguida será mostrada a metodologia utilizada para a
realização do estudo, logo após serão apresentado os resultados obtidos e por fim
são feitas as considerações finais.
2. Revisão de Literatura.
A dinâmica dos preços são os sinais que indicam às famílias e às empresas
que seus desejos conflitantes podem ser conciliados. A interdependência de mercado
leva ao equilíbrio econômico entre oferta e demanda (SEARLE, 2010).
A teoria neoclássica utiliza o pensamento do equilíbrio geral nas
fundamentações das suas teorias ligadas à microeconomia, utiliza-se do método
hipotético-dedutivo, o qual deduz logicamente e matematicamente o modelo de
maximização sujeita a restrições, este método contribui com o conhecimento marginal
de utilização (SEARLE, 2010).
O modelo de crescimento econômico, na visão neoclássica microeconômica,
mantém a composição dos fatores básicos como: capital (K), trabalho (L) e terra (N),
os quais estão em função da produção (Y), porém ao apropriar-se do método
hipotético-dedutivo para maximizar a produção com objetivo de obter o lucro ótimo, o
fator N não restringe. Porque não é precificado, sendo assim a função produção é
representada por:
Y = f (K, L) (1)
Também introduz os pressupostos:
Concorrência perfeita e pleno emprego dos fatores de produção
em todos os mercados.
Economia fechada e sem governo.
Função de produção com rendimentos constantes à escala e
rendimentos decrescentes quando se altera apenas um dos fatores.
O nível do produto (Y) aparece como função do emprego de capital, trabalho e
terra, fatores estes que foram herdados da teoria econômica clássica, porém o
contexto teórico convencional traz, desde os fisiocratas, a terra como fator, logo este
fator em modelo de maximização, representa um fator menosprezado, porque o
entende como abundante e gratuito (PAZ, 1972).
A crítica ao abstratíssimo na economia neoclássica é introduzindo pela
economia do meio ambiente, que volta a resgatar a importância do fator natural para o
nível de produção, não somente como terra, mas como recursos naturais
indispensáveis à produção econômica (ENRIQUEZ, 2010).
No método maximização o preço dos fatores são restrições, através dos
conceitos trazidos pela neoclássica, analisa-se o acréscimo marginal dos fatores,
neste ponto a crítica da economia do meio ambiente, ou ecológica, é que geralmente
não se valoriza o recurso natural, tornando-o obsoleto na decisão de produzir e com
isso caracteriza o estoque natural como infinito (ENRIQUEZ, 2010).
Interpolando com as teorias financeiras tem-se por Young e O´Byrne (2001)
definem como custo de capital, a taxa de retorno que o provedor de capital espera
receber, analogamente seria necessário custear o capital natural no meio econômico.
Buscando na metodologia da economia financeira os preços dos fatores de
produção, deveriam ser medidos a valor de mercado em termo de fluxo corrente,
estes fatores são encontrados no próprio mercado, isto assegura que o mercado pode
desempenhar papel relevante na apuração dos custos de oportunidade
(EHBAR,1999).
Levando em consideração os extrativos vegetais e baseando-se no conceito
de mundo vazio de Daly (2003), não considerava o capital natural na engenharia
financeira, pois o consumo em mundo vazio estava menor que a produção dos
serviços de ecossistêmicos, dava-se a ideia de sustentabilidade induzindo ao
pressuposto que a falta dos recursos naturais não aconteceria.
A figura 1 representa as principais diferenças e acréscimos teóricos entre a
economia neoclássica e a economia ecológica.
Figura 1 - Visão do capital Neoclássico e Ecológico
Fonte: Denardin e Sulzbach (2002).
A essência das relações de produção, de humano para humano, não
interagem com o meio natural, este meio fica como suporte para as ilimitadas
necessidades produtivas, mas conforme Daly (2003) o cognitivo conceitual de mundo
vazio e mundo cheio, onde o primeiro mostrava-se o nível de capital natural acima da
linha da capacidade produtiva humana, o segundo o capital natural esgota abaixo da
2 - NEOCLÁSSICA 2 - ECOLÓGICA
Capital Cultural: recursos intelectuais humanos que
interagem com adaptação, modificação e exploração do
meio natural suprindo a sociedade consumista.
Capital Manufaturado: produzido por meio de atividade
econômica com tecnologia para maximizar a produção
sem considerar o impacto ambiental.
Capital Cultivado: é hibrido entre o capital
manufaturado e natural supre o esgotamento do capital
natural, ignorando a extinção.
Capital Natural: Gratuito, só apenas custo de transição e
produção , os recursos naturais são fontes de matéria
prima ilimitada e meio ambiente é receptor dejetos
imensurável.
Capital Cultural: filosofia e conhecimento ecológico que
interagem com o meio ambiente ditando o ritmo de
exploração dos recursos renováveis e não renováveis.
Capital Manufaturado: produzido por meio de atividade
econômica com tecnologia de baixa entropia minimizando
o impacto ambiental.
Capital Cultivado: é hibrido entre o capital manufaturado
e natural supre o estoque de capital natural levando em
consideração o tempo de resiliência do ecossistema.
Capital Natural: valorizado pelo custo de oportunidade
de extrai-lo em relação com o estoque finito, os recursos
naturais são produtos da natureza com capacidade
limitada pelo tempo dos serviços ecossistêmicos e de
decomposição de dejetos.
necessidade de produção, revê que a relações devem tornar-se natural para humano
e humano para meio ambiente (ANDRADE, 2013).
A definição de capital natural é o estoque que permite o fluxo de
recursos naturais, por exemplo, populações de peixes que permitem o fluxo de
pescado, as florestas que possibilitam o fluxo de madeiras e o estoque de petróleo
que permite o fluxo de óleo (DALY, 1991).
É compreensiva a complementaridade do capital natural e econômico, porém a
não substituição está notável, porque quando o econômico resume-se em fatores de
produção automaticamente necessita dos insumos naturais. A tecnologia implica na
condição, forma e momento dos recursos econômicos e ao mesmo tempo deve-se
regulamentar o capital natural de certa forma que todo o esforço em um não seja
perdido pela falta do outro (CONSTANZA, 1994).
O capital natural, para O'Connor (1999), pode ser qualquer elemento do
mundo geofísico e ecológico que, envolvidos por processos econômicos fornecem
materiais, energia, serviços, alimentos e vida à sociedade, suportando a extração e
provisionando a capacidade produtiva futura.
Desta forma, o capital natural é um conceito híbrido, formado a partir da
economia e da ecologia, que ressalta a importância da existência da natureza como
pré-condição para atividade humana e sua sustentabilidade econômica (BROWN,
1994).
As principais características no contexto de produção da economia
convencional, o mundo vazio onde o meio ambiente supre toda a qualidade e
quantidade dos insumos. O ecossistema degenera todos os dejetos dentro do ciclo de
resiliência sem afetar o tempo de produção ou extração. Os principais aspectos de
mundo vazio são introduzidos pela economia do meio ambiente, mas o contexto
econômico produtivo vem em conformidade com a economia neoclássica (ANDRADE,
2013).
O imperativo do meio ambiente verso produção econômica, pela ótica da
produção o suporte de recursos naturais supera todo o fluxo econômico, os recurso
naturais são abundantes e gratuitos a ponto de suprir as necessidades e somente as
restrições tecnológicas de extrações pode inibir o sistema. Na ótica dos recursos
naturais inverte o binômio abundante e capaz para escasso e valorizado a ponto de
inviabilizar o crescimento da produção (CONSTANZA, 1994).
Segundo Paz (1972), os inputs primários não são os insumos naturais e sim o
trabalho humano e os outputs representam o consumo final na economia neoclássica,
segundo O'Connor (1999) o meio ambiente é receptor de dejetos, no entanto existindo
um fluxo circular monetário o modelo convencional econômico só preocupa-se com a
utilidade direta, valorável e produzível, na sociedade.
O fluxo de resíduo esta intrínseco aos outputs, de fato, para que todo o dejeto
gerado pelo consumo que alimenta a oferta seja decomposto é preciso considerar que
o meio ambiente, na parte de serviços ecossistêmicos, faz-se capaz de envolver todo
o processo, mas as consequências naturais atuais revelam a sobrecarga do sistema
de resiliência.
A economia dos recursos naturais precifica o fator N da função (1), desta
forma a função da produção é representa por:
Y = f (K, L, N) (2)
De modo que N representa os recursos naturais, terra e qualquer fator natural,
sendo assim, introduz na dinâmica dos preços a valoração dos insumos naturais,
deste modo atribui-se relevância nas restrições dado que há um valor para
representar os serviços ambientais (MAY, 2003).
O sistema circular monetário defendido pelo modelo econômico influência um
sistema de produção também circular, no entanto, com a defesa monetária dos
produtos ecossistêmicos inibe-se o ritmo de extração. Esta produção circular divide-se
em três principais fluxos: de insumos, produtos e de resíduos (MAY, 2003).
A delimitação de estoque de insumos naturais fica evidente em culturas
agrícolas que sofrem as intempéries naturais, as quais provocam quedas na
produção, com isso corrobora com o conceito que o tempo de extração tornou
escasso e bem valorizado a ponto de diminuir a demanda.
A lógica e o ritmo de extração de erva mate podem ser ditados pelo preço,
quando o bem-estar humano é resultante deste produto gerado pelo capital natural.
As extrações dos recursos renováveis estão ligadas ao princípio do máximo possível,
que consecutivamente, os conjuntos dos pontos de lucro máximo estão contidos no
estoque de erva-mate produzidos sob os serviços ambientais.
O ótimo econômico, introduzido pelos princípios neoclássicos, sugeria a
maximização da extração a fim de maximizar o lucro e somente sujeito as restrições
econômicas, mas se o estoque produtivo de erva mate é ligado aos recursos
renováveis uma das restrições notável é a taxa natural de recomposição do estoque,
conforme Constanza (1994) regulamentar o capital natural de certa forma que todo o
esforço, na produção máxima não seja perdido pela falta de recursos como: terra
produtiva, minerais e outros produtos ambientais.
O programa de otimização de extração somente baseado na taxa de
recomposição do estoque de vegetal não está ligado aos sistemas biológicos
responsáveis por tal aumento de estoque. Conforme May (2003) o rendimento
máximo sustentável requer que a taxa de recomposição natural do extrativo seja
função de uma taxa de desconto.
A taxa de desconto conforme os princípios da teoria dos recursos renováveis,
pode ser custo de oportunidade, desta forma, a razão entre o lucro 1, obtido em
relação somente a taxa de recomposição de estoque do vegetal, com o lucro 2 obtido
com relação a taxa de recomposição que é função do custo de oportunidade,
resultaria em uma taxa de descontos sustentável (MAY,2010).
Se a taxa de desconto sustentável for além do crescimento da população há
risco de esgotamento dos recursos produtivos para erva mate, podendo haver
escassez de terra produtiva deste vegetal, consecutivamente o lucro cessará em
determinado tempo, se a taxa de desconto tender a zero na visão ecológica preconiza
a melhor forma de ganho em conservar o estoque para o futuro extraindo por tempo
indeterminado.
Novamente discorrendo tópicos da economia financeira, o custo de
oportunidade ou de alternativa, compreende que, em um ambiente de decisões, uma
opção escolhida em detrimento de outra ou pluralmente tem-se um custo, desta
forma, a melhor das oportunidades vem ser a aplicação da escolha maximizada
(NASCIMENTO 1998, p.28).
Custo de oportunidade pode ser entendido como retorno de investimento,
conforme Copeland, Koller e Murrin (2000), capital total representa o montante
investido nas operações de produção, o seu retorno entende-se como oportunidade
no tempo.
Uma crítica ao rendimento máximo sustentável é que existem critérios
exclusivamente biológicos, onde o rendimento não pode ser máximo, a gama de
recursos naturais que se encaixam nestes critérios não podem sofrer a interação
econômica – ambiental, desta forma, deve-se interagir com outros métodos de
extração (BROWN, 1994).
Através da contribuição regra de Hotelling, que conforme Enriquez (2006) foi
baseada em recursos exauríveis, mostra-se que a utilização dos recursos varia
conforme seu valor econômico, neste ponto acrescenta royalty na composição de
preço, para que o preço aumente e quantidade demandada diminua no equilíbrio, mas
lucro cresce ao longo do tempo com menor risco de queda brusca.
O conceito de royalty é similar ao custo de oportunidade, baseando-se na
regra Hotelling, aplica-se um estudo no caso da produção de erva mate no Paraná, o
objetivo é analisar a sensibilidade do lucro em relação à taxa de desconto aplicada,
consecutivamente como ficaria a relação com a quantidade produzida desde 1994 à
2012, será usado um custo de oportunidade. O problema de pesquisa resume em
verificar duas alternativas:
Existem benefícios em extrair tudo no momento inicial, ter lucro
máximo logo no início do ciclo, mesmo com o risco de diminuir o lucro ao longo
do tempo devido ao excesso consumo de recurso mineral produtivo.
Como será análise comparativa entre ter lucro médio ao longo
do tempo com capacidade de estoque suficiente.
Antes de aplicar o modelo pratico vale discorrer sobre os dois tipos de
extrativismo, os estágios desses têm características especificas, o extrativismo extinto
tem relevância em sua historia econômica, mas não tem relevância na atualidade, por
exemplo, extração do pau-brasil, atualmente todo o retorno desta cultura é pela
escassez (HOMMA, 1996).
Os ambientalistas sugerem que é possível perpetuar a extração de qualquer
vegetal, desde que mantenha o estoque e buscam alternativas de substituições. A
domesticação pode ser uma das soluções para o processo de substituição de vegetal
com pouco estoque natural (HOMMA, 1996).
A fonte dominada pela agricultura atual é a domesticação, mas segundo
Clement (2005) a evolução da agricultura seria desenvolver pesquisas de produtos
substitutos similares.
As culturas de extrativismo e plantio, outro tipo de extrativismo, se deparam
com o dilema do temporal ou permanente, de forma que para resolver tal dilema são
necessárias as pesquisas dos recursos da biodiversidade, que significa dividir a
extração com a descoberta de substitutos similares. (HOMMA, 1996).
Discorrendo sobre May (2003) nota-se que pesquisa e desenvolvimento na
área de descoberta de substitutos complementares, poderiam ser estimulados e
financiados pela própria taxa de desconto, que nada mais é que uma restrição em
conformidade da manutenção dos estoques, desta forma a pesquisas e a retração do
consumo ao longo do tempo podem se complementar.
3. Procedimentos Metodológicos.
Nesta seção serão apresentadas a base de dados e a metodologia que foram
adotadas para a realização da avaliação econômica da atividade de extrativismo da
erva-mate cancheada.
3.1. Base de dados
Os dados utilizados para realizar a avaliação econômica do extrativismo de
erva-mate cancheada no Paraná foram obtidos através da pesquisa do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre Produção da Extração Vegetal e
Silvicultura (PEVS).
Os dados se referem produção extrativa de erva-mate no estado do Paraná,
para o período de 1994 à 2012, esses dados estão disponíveis no Banco de Dados
Agregados pelo Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA).
3.2. Metodologia
Para realizar a avaliação econômica do extrativismo de erva-mate cancheada
no Paraná é empregada a análise do Valor Presente Líquido (VPL). Homma (2010)
mostra é possível empregar a análise do VPL para avaliar a viabilidade da atividade
extrativista, cabe ressaltar que esse procedimento não considera o impacto ambiental,
seja esse positivo ou negativo, da atividade.
O VPL representa a riqueza de uma atividade, refletindo o quanto esta
atividade agregou de valor econômico. Um VPL positivo significa que a atividade cria
valor econômico (ASSAF NETO E LIMA, 2008).
O cálculo do VPL é dado por:
∑
(3)
Em que:
= período do tempo.
= fluxo de benefícios líquidos da extração de erva-mate cancheada de cada
período.
= taxa de desconto.
O cálculo do VPL exige a definição prévia da taxa de desconto, representada
pela rentabilidade mínima requerida, a ser utilizada nos vários fluxos de benefícios
(ASSAF NETO E LIMA, 2008).
De acordo com Homma (2010) também é possível avaliar a variação do
VPL em relação a mudanças na taxa de desconto, para isso é preciso diferenciar o
VPL em relação à taxa de desconto.
Diferenciando VPL em relação à r, teremos:
∑
(4)
Podemos perceber que (4) é sempre negativa, ou seja, à medida que o
valor da taxa de desconto cresce o VPL decresce.
Tomando por base o conceito de elasticidade no ponto conforme Varian
(2006), é possível medir a sensibilidade do VPL em relação à taxa de desconto.
O cálculo da elasticidade fica definido como:
(5)
Através do cálculo da elasticidade obtemos a variação percentual do VPL em
relação a uma variação percentual na taxa de desconto adotada
.O custo de oportunidade escolhido para calculo do VPL foi extraído da
ideologia da rentabilidade da terra, conforme Young (2001), calculando a rentabilidade
da terra para pequenos e médios produtores empenhados em plantios não
mecanizados, ou seja, exclui-se algumas culturas como soja, milho, trigo e outras,
delimitando o grupo de culturas baseadas no extrativismo e na domesticação menos
expansiva, chegou a uma taxa media em Mato Grosso de 10,7%. Aplicou-se esta taxa
como taxa mínima para preservar de atratividade do produtor.
4. Resultados e Discussão.
Nesta seção serão apresentados os resultados da pesquisa a respeito da
produção extrativista de erva mate cancheada no Paraná. Primeiramente podemos
observar os locais onde há produção extrativa da erva-mate cancheada no estado do
Paraná conforme a figura 2 a seguir.
Figura 2 - Numero de Estabelecimentos Produtores em 2005 à 2008
Fonte: IBGE – Censo Agropecuário.
A figura 2 mostra a distribuição dos estabelecimentos produtores de erva-mate
no Paraná, podemos perceber a relevância dessa atividade extrativa pela quantidade
de locais em que existem estabelecimentos produtores, é possível também que os
produtores da erva-mate cancheada se concentram em maior intensidade na região
centro-sul do estado.
A tabela 1 apresenta os valores de produção de erva-mate cancheada em
toneladas do período entre 1994 e 2012, no Paraná, Região Sul e Brasil.
Analisando a tabela 1 é possível observar a evolução da produção da erva
mate cancheada no Brasil, a Região Sul é responsável por quase a totalidade da
produção. O Paraná tem um papel de destaque na produção extrativa da erva-mate
sendo atualmente o maior estado produtor. Ao longo do período analisado pode-se
perceber crescimento da importância do Paraná na produção de erva-mate no Brasil,
tendo sua participação relativa na produção nacional crescido de 29,75% no ano de
1994 para 76,63% em 2012.
Esse crescimento na participação se deveu ao fato de que enquanto a
produção nacional oscilou entre crescimento e redução, a produção paranaense se
manteve crescente ao longo de todo período observado. Assim o estado do Paraná a
ser o principal produtor de erva-mate cancheada no Brasil.
A figura 3 a seguir apresenta a distribuição da quantidade de erva-mate colhida
no Estado do Paraná para os períodos de 1994 a 1996 e 2005 a 2008.
Tabela 1 - Quantidade produzida na extração de erva-mate no Paraná, Região Sul e Brasil. (Toneladas)
Ano Paraná Sul Brasil
1994 61875 205135 207980
1995 59022 201784 204065
1996 77052 166889 169031
1997 100640 186987 189469
1998 104811 181837 183504
1999 106978 175131 176922
2000 109575 172776 174481
2001 122695 180201 182177
2002 109798 226413 229701
2003 105867 217906 220189
2004 137809 246237 246837
2005 139657 283464 238869
2006 152971 232931 233360
2007 156444 225605 225957
2008 154701 219494 219773
2009 156563 217820 218102
2010 166682 227187 227462
2011 169549 229245 229681
2012 193636 252461 252700
Fonte: IBGE - Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura
Razão Paraná/Brasil (%)
29.75
28.92
45.58
53.12
57.12
60.47
62.80
67.35
47.80
48.08
55.83
73.82
76.63
58.47
65.55
69.24
70.39
71.78
73.28
Figura 3 - Quantidade De Erva Mate Colhida.
Fonte: IBGE – Censo Agropecuário.
Ao observarmos a figura 3 podemos verificar em quais municípios se
concentra a produção de erva-mate no Paraná bem como sua evolução, em ambos os
períodos a produção ficou concentrada em grande parte no sul do estado.
A extração da erva-mate cancheada pode ser proveniente tanto de plantações
nativas quanto de cultivo domesticado, a figura 4 apresenta a distribuição da produção
domesticada de erva-mate cancheada no Paraná.
Figura 4 - Quantidade De Erva Mate Domestica Colhida.
Fonte: IBGE – Censo Agropecuário.
Observando a figura 4 e comparando com a figura 3 observada anteriormente,
pode-se notar que grande parte da produção extrativa de erva-mate é proveniente de
cultivo domesticado e a região do estado em que concentra a produção total também
é a região que mais concentra a produção domesticada.
Isso revela a importância do cultivo domesticado na produção extrativa de
erva-mate no Paraná. De acordo com Homma (2006) a domesticação seria uma
solução para garantir a preservação e perpetuar a atividade de extrativismo de
qualquer vegetal.
A tabela 2 faz a tradução da quantidade produzida em tabela 1 para valores
monetários deflacionados a preço correntes de 1994, critério este necessário para a
aplicação da metodologia.
* valores deflacionados pelo IGP-DI
Ao deflacionar os valores é possível verificar o VPL com data base de 1994,
este é o objetivo para os testes finais. A tabela 3 mostra o resultado dos testes que
foram:
A tabela 3 representa os fluxos dos 19 anos a valor presente de 1994 a uma
taxa de desconto 10,7%, dado pela taxa de rentabilidade da terra. A taxa de desconto,
conforme os princípios da teoria dos recursos renováveis, pode ser considerada como
custo de oportunidade (MAY, 2010).
Os valores positivos do VPL indicam que o extrativismo de erva-mate
cancheada é uma atividade que cria valor econômico, aumenta a riqueza, portanto
Ano Sul Paraná Brasil Razão Paraná/Brasil (%)
1994 89,604.00 27,191.00 89,922.00 30.24
1995 97,927.34 29,864.96 99,030.32 30.16
1996 79,022.03 41,086.70 79,804.49 51.48
1997 63,021.23 30,170.98 63,851.55 47.25
1998 60,809.45 32,039.43 61,436.36 52.15
1999 51,747.45 28,514.54 52,260.24 54.56
2000 50,631.31 28,845.39 51,184.60 56.36
2001 54,070.38 32,888.87 54,717.39 60.11
2002 89,297.00 24,840.51 89,411.97 27.78
2003 23,298.90 13,858.42 23,399.42 59.23
2004 25,053.50 16,413.05 25,074.19 65.46
2005 24,869.29 16,220.74 24,885.51 65.18
2006 27,155.80 19,344.09 27,171.74 71.19
2007 25,384.85 18,462.79 25,397.02 72.70
2008 27,244.42 20,833.61 27,253.19 76.44
2009 23,314.66 16,965.20 23,325.43 72.73
2010 24,322.55 18,300.66 24,331.02 75.22
2011 27,191.83 21,173.40 27,211.65 77.81
2012 33,103.45 27,181.16 33,114.76 82.08
Fonte: IBGE - Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura
Tabela 2 - Valor da produção na extração de erva-mate cancheada no Paraná, Região Sul, Brasil (Mil reais de 1994)*
Sul Paraná Brasil
VPL 471,687.29 216,007.82 475,330.09
dVPL/dr 426,095.11- 195,129.01- 429,385.81-
elasticidade -10% -10% -10%Fonte: Elaborado pelos autos autores.
Tabela 3 - Calculo dos Indicadores - VPL - dVPL/dr - Elasticidade
pode-se considerar essa atividade atrativa.
Como esperado o sinal da diferenciação do VPL em relação á taxa de
desconto é negativa, mostrando a relação inversa entre o VPL e a taxa de desconto.
Para complementar essa avaliação é importante analisar a elasticidade, que mostra a
sensibilidade da variação do VPL em relação à variação da taxa de desconto. Os
resultados obtidos mostram que um crescimento de 1% na taxa de desconto causa
uma redução de 10% no VPL, apontado uma grande sensibilidade da variação VPL
em relação a variações na taxa de rentabilidade da terra.
5. Considerações Finais
Este artigo procurou avaliar a atratividade do extrativismo de erva-mate
cancheada no Paraná. Para Homma (2006) As culturas de extrativismo e plantio,
outro tipo de extrativismo, se deparam com o dilema do temporal ou permanente.
Nesse sentido os resultados do VPL e de sua sensibilidade em relação a variações no
custo de oportunidade podem indicar a preferência ao longo do tempo em relação à
produção extrativista.
O resultado do VPL mostrou que a extrativismo de erva-mate cancheada
aumenta a riqueza, portanto é uma atividade atrativa. A análise da elasticidade
mostrou que mesmo sendo uma atividade atrativa, o extrativismo de erva-cancheada
é altamente sensível a variações na taxa de rentabilidade da terra.
O extrativismo de a erva-mate cancheada ser uma atividade que aumenta a
riqueza do produtor tem implicação importante no sentido da preservação dessa
espécie vegetal. Uma vez que plantio da erva-mate no Paraná é em sua maior parte
domesticado o fato da atividade extrativa ser atrativa garante sua preservação, pois
os produtores optarão por permanecer com plantio e extração da erva-mate
cancheada ao invés de utilizar a terra para outros cultivos, porém deve-se também
levar em consideração que mudanças na taxa rentabilidade da terra afetam de forma
significativa a atratividade do extrativismo da erva-mate cancheada.
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