avaliação inclusiva - operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a...

17

Upload: truongnhi

Post on 09-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação
Page 2: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

1

Avaliação Inclusiva – O aluno surdo no contexto da avaliação na Educação

Física.

Autor: Osni Aparecido da Silva¹

Orientador: Fábio Mucio Stinghen²

Resumo: Este artigo descreve a implementação da Proposta de Intervenção

Pedagógica, desenvolvida no Programa de desenvolvimento Educacional – PDE do

Estado do Paraná, realizada no ano de 2011. Este estudo reportou-se à discussão e

às reflexões sobre os tipos de avaliação dos alunos surdos. Promoveu crescimento

e desenvolvimento dentro de suas possibilidades nas aulas de Educação Física. A

pesquisa foi realizada com alunos surdos do Ensino fundamental, Médio e

professores de Educação Física do colégio Estadual Amyntas de Barros, município

de Pinhais. A avaliação inclusiva dos alunos surdos requer métodos e técnicas para

realização de um trabalho sistemático e contínuo. As atividades propostas

verificaram: as formas de avaliações utilizadas com os surdos; como está atuação

dos professores de Educação Física nas avaliações, estratégias utilizadas e as

dificuldades enfrentadas pelos educadores. Pode-se concluir que o processo de

avaliação inclusiva exige um melhora no seu formato e uma preparação dos

professores para garantir ao aluno surdo, em sua individualidade, que todo seu

esforço venha superar suas dificuldades e pensar na evolução do aprendizado,

proporcionando uma integração plena.

Palavras-chave: Inclusão; alunos surdos; avaliação.

¹ Professor Especialista da Rede Pública de Educação do Estado do Paraná e pesquisador do

PDE –Programa de Desenvolvimento Educacional.

² Mestre do Curso de Bacharelado em Educação Física da Universidade Tecnológica Federal do

Paraná.

Page 3: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

2

1. Introdução

No dia a dia da sala de aula, os professores do ensino regular e médio têm

que vivenciar uma realidade diferente ao trabalhar com alunos surdos. A avaliação

da aprendizagem escolar dos surdos é uma das dificuldades enfrentadas,

principalmente pelas limitações dos alunos, falta de compreensão dos educadores e

falta de conhecimento do corpo docente para trabalhar com alunos surdos.

Conforme (Paraná 2008, p. 77), um dos primeiros aspectos que precisa ser

garantido é não exclusão, é a avaliação, que deve estar a serviço da aprendizagem

de todos os alunos, de modo que permeie o conjunto das ações pedagógicas e não

seja um elemento externo a esse processo.

A avaliação tem sido ao longo do tempo, uma preocupação constante entre

educadores, bem como de todos aqueles que acompanham a evolução de todo o

sistema educacional. É necessária uma reflexão sobre o objetivo de avaliar,

perguntar-se sobre as várias funções da avaliação, desde medir o nível de

aprendizagem obtido pelos alunos surdos, bem como a busca do entendimento

sobre o processo de ensino aprendizagem. Sabe-se que a dificuldade no ato de

avaliar os alunos surdos é um problema que aflige os professores na escola. Não só

os alunos de inclusão, mas todos os alunos ouvintes também.

As aulas de Educação Física possuem características diferenciadas, por

serem desenvolvidas nas quadras ou ginásios, permitem aos alunos maior

liberdade, tornando-os mais espontâneos e criativos. Nessas práticas acontece uma

constante troca de relações sociais, podendo contribuir para estimular a participação

dos alunos surdos. Além disso, a prática dessas atividades físicas ao ser realizado

como prazer, liberdade, diversão, estimula as emoções das crianças. É o momento

também, em que acontece a comunicação entre os ouvintes e surdos sem a

percepção de diferenças, proporciona novas descobertas, revela novas formas de

movimentos, onde estão interligados, principalmente nos aspectos emocional,

cognitivo e corporal.

A concepção de avaliação estabelecida no Projeto Político Pedagógico da

escola nem sempre é discutida com todos os professores, apenas estabelece o que

a legislação prevê: que a avaliação deve ser continua, diagnóstica, formativa e

somativa. Além do que, a avaliação de forma contínua e formativa nem sempre se

Page 4: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

3

concretizam na prática. Muitas vezes a avaliação contínua é entendida como

aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação

formativa é confundida com a formação do aluno.

Este artigo não tem a pretensão de apontar soluções e nem ser um

receituário para a avaliação na Educação Física escolar, mas proporcionar

momentos de leitura e reflexão das práticas avaliativas, buscando auxiliar aos

professores que trabalham diretamente com esses alunos, proporcionando um

melhor entendimento de como avaliá-los. A partir de suas vivências, estratégias que

vise à diminuição do fracasso escolar desses alunos, visto que, o aluno surdo tem as

mesmas possibilidades de desenvolvimento que o aluno ouvinte, precisando

somente, que as suas necessidades especiais sejam supridas.

2. Avaliação

Frequentemente o termo avaliação é associado a outro como exame, nota,

sucesso e fracasso, promoção e repetência. A atividade educativa não tem por meta

atribuir notas, mas realizar uma série de objetivos que se traduz em termos de

mudança de comportamento dos alunos. E cabe justamente à avaliação verificar em

que medida esses objetivos são realmente alcançados, para ajudar o aluno avançar

na aprendizagem.

A avaliação de acordo com os DCEs (Diretrizes Curriculares da Educação

Básica) propõe formar sujeitos que construam sentidos para o mundo, que

compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e que,

pelo acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção cidadã e

transformadora na sociedade.

Nesta perspectiva, a avaliação, visa contribuir para compreensão das dificuldades de aprendizagem dos alunos, com vistas às mudanças necessárias para que aprendizagem se concretize e a escola se faça mais próximo da comunidade, da sociedade como um todo, no atual contexto histórico e no espaço onde os alunos estão inseridos (PARANÁ, 2008 p.31).

Page 5: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

4

Os critérios de avaliação segundo Parâmetros Curriculares Nacionais

apontam as experiências educativas a que os alunos devem ter acesso e que são

consideradas essenciais para o seu desenvolvimento e socialização. Nesse sentido,

eles devem refletir de forma equilibrada os diferentes tipos de capacidade e as três

dimensões de conteúdos (conceitos, procedimentos e atitudes), e servir para

encaminhar a programação e as atividades de ensino e aprendizagem (PCNs1998

p. 80).

A obra da autora HAYDT (2004) mostra que a avaliação faz parte do trabalho

docente, de forma a verificar e julgar o rendimento dos alunos, avaliando os

resultados do ensino. Há pessoas que aprendem mais rapidamente, enquanto outras

o fazem de maneira mais lenta. Há, também, aquelas que retêm e aplicam melhor o

que lhes é ensinado. Em outro momento porque o progresso alcançado pelos alunos

reflete a eficácia do ensino. Ensinar e aprender são dois verbos indissociáveis.

Nesse sentido, pode-se dizer que o rendimento do aluno é uma espécie de espelho

do trabalho desenvolvido em classe. A autora conclui que ao avaliar os seus alunos,

o professor está também avaliando seu próprio trabalho. Portanto, a avaliação está

sempre presente na sala de aula, fazendo parte da rotina escolar. E ensinar o aluno

surdo significa entender que a perda auditiva traz-lhes novas possibilidades de

apropriação do conhecimento, muito mais baseada em experiências visuais que

experiências auditivas. Entre as características da avaliação, a autora mostra-nos

que ela pode ser:

Processo contínuo e sistemático, portanto, ela não pode ser esporádica

nem improvisada, mas ao contrário, deve ser constante e planejada.

Nessa perspectiva, a avaliação faz parte de um sistema mais amplo que é

o processo ensino-aprendizagem, nele se integrando. Como tal, ela deve

ser planejada para ocorrer normalmente ao longo de todo o processo,

permitindo a recuperação imediata quando for necessário.

Funcional, porque se realiza em função de objetivos, consiste em verificar

em que medida os alunos estão atingindo os objetivos previstos. Por isso,

os objetivos constituem o elemento norteador da avaliação.

Orientadora, pois nesse sentido, a avaliação permite ao aluno conhecer

seus erros e acertos, auxiliando-o a fixar as respostas corretas e a corrigir

Page 6: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

5

as falhas. Nesse processo não visa à eliminação do aluno, mas uma

orientação no processo de ensino.

Integral, nesse caso analisa e julga todas as dimensões do

comportamento, considerando o aluno como um todo. Desse modo, ela

incide não apenas sobre os elementos cognitivos, mas também sobre o

aspecto afetivo e o domínio psicomotor.

A autora afirma que esses são os princípios básicos que norteiam a avaliação

do processo ensino-aprendizagem. É interessante lembrar que a forma de encarar e

realizar a avaliação reflete a atitude do professor e suas relações com o aluno. Em

relação à função da avaliação, segundo Bloom et. All apud HAYDT (2004) pode ser

apresentada três funções: diagnosticar; controlar e classificar.

A avaliação diagnóstica é aquela realizada no início de um curso, período

letivo ou unidade de ensino, com intenção de constatar se os alunos apresentam ou

não domínio dos pré-requisitos necessários, isto é, se possuem os conhecimentos e

habilidades imprescindíveis para as novas aprendizagens. Pela avaliação

diagnóstica, o professor constata se os alunos estão ou não preparados para

adquirir novos conhecimentos e identificam as dificuldades de aprendizagem.

A avaliação formativa caracteriza-se como a função de controle. É realizada

durante todo o decorrer do período letivo, com intuito de verificar se os alunos estão

atingindo os objetivos previstos, isto é, quais os resultados alcançados durante o

desenvolvimento das atividades. Portanto, é através da avaliação formativa que o

aluno conhece seus erros e acertos e encontra estímulo para um estudo sistemático.

Essa modalidade de avaliação é basicamente orientadora, pois orienta tanto o

estudo do aluno como trabalho do professor.

A avaliação somativa tem a função classificatória, realiza-se ao final de um

curso, período letivo ou unidade de ensino e consiste em classificar os alunos de

acordo com níveis de aproveitamento previamente estabelecidos, geralmente tendo

em vista sua promoção de uma série para outra, ou de um grau para outro. Essas

formas de avaliação estão intimamente vinculadas. Para garantir a eficiência do

sistema de avaliação e a eficácia do processo ensino-aprendizagem, o professor

poderá fazer uso conjugado das três modalidades.

Page 7: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

6

O outro tipo de avaliação citado por Hoffmann (1993) é a mediadora,

concebida como a ideal, pois tem como metodologia dar ênfase ao qualitativo, onde

o processo é mais importante que a finalização. O professor e o aluno buscam

coordenar seus pontos de vista, trocando idéias e reorganizando-as. Essa avaliação

possibilita a construção da autonomia do sujeito e a escola passa a ser vista como

instituição do processo do conhecimento que visa interesse, aspirações, projeções e

ideias da sociedade. A avaliação é um processo contínuo e permanente de

cooperação integrando o processo/aprendizagem. Está intimamente ligada aos

objetos educacionais, e juntamente a avaliação da aprendizagem, está inserida no

projeto político-pedagógico das escolas.

Nos estudos de Luckesi (2006) defende-se que a avaliação diagnóstica

possui elevado valor didático, permite uma correção de rumos do sistema de ensino,

do professor e do aluno no processo ensino-aprendizagem. Enfim terá de constituir-

se como instrumento de reconhecimento dos caminhos percorridos e da

identificação dos caminhos a serem perseguidos. A avaliação, como ato diagnóstico,

tem por objetivo a inclusão e não a exclusão. Define ainda, a avaliação da

aprendizagem como um ato amoroso, no sentido de que a avaliação, por si, é um

ato acolhedor, integrativo, inclusivo.

Transportando essa compreensão para a aprendizagem, podemos entender a avaliação da aprendizagem escolar como um ato amoroso, na medida em que avaliação tem por objetivo diagnosticar e incluir o educando, pelos mais variados meios, no curso da aprendizagem satisfatória, que integre todas suas experiências de vida. (LUCKESI, 2006, p. 173)

Nesse contexto, o autor diz simbolicamente que a avaliação, por si, é

acolhedora e harmônica. Quando chamamos alguém para nosso círculo de amigos,

estamos acolhendo-o. Avaliar um aluno com dificuldades é criar a base do modo

como incluí-lo no círculo da aprendizagem; o diagnóstico permite a decisão de

direcionar ou redirecionar aquilo ou aquele que está precisando de ajuda. Os alunos

surdos da rede regular de ensino necessitam desse acolhimento, principalmente

Page 8: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

7

com o propósito de conduzir a criança surda em condições de vincular-se aos

ouvintes.

3. Avaliação na Educação Física

A avaliação na Educação Física, ainda hoje, para muitos profissionais, é vista

como sinônimo de medida, atribuição de notas ou conceito, esquecendo-se assim

que a avaliação é um processo e que realizar testes, provas, notas e conceitos são

apenas parte deste processo. Este modelo avaliativo foi ou deveria ser superado,

pois alguns professores ainda adotam postura tecnicista, cobrando avaliações

práticas e bom desempenho nas execuções de técnicas esportivas. A avaliação na

Educação Física Escolar vem buscando novas formas que supere tais conceitos de

aptidão física e rendimento esportivo.

As diretrizes curriculares destacam que a avaliação deve estar vinculada ao

projeto político-pedagógico da escola, de acordo com os objetivos e a metodologia

adotada pelo corpo docente e deve caracterizar como um processo contínuo,

permanente e cumulativo, tal qual preconiza a LDB n°9394/96, em que o professor

organizará e reorganizará o seu trabalho, sustentado nas diversas práticas

corporais, como a ginástica, o esporte, os jogos e brincadeiras, a dança e a luta.

A autora Darido (2007) levanta outro interessante aspecto em relação à

avaliação, que pode e deve oferecer ao professor elementos para uma reflexão

contínua sobre sua prática, no que se refere à escolha de competências, objetivos,

conteúdos e estratégias.

A avaliação em Educação Física deve considerar a observação, a análise e a

conceituação dos elementos que compõem a totalidade da conduta humana, ou

seja, avaliação deve estar voltada para aquisição de competências, habilidades,

conhecimento e atitudes do aluno. Ela deve abranger as dimensões cognitivas,

relacionada às competências e conhecimentos: motora relacionada às habilidades

motoras; capacidades físicas e atitudinal caracterizado pelos valores. (DARIDO,

2007 p. 23)

Page 9: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

8

A autora em seus estudos fala na observação do aluno durante todas as

aulas e ser for necessário solicitar a sua interpretação dos conceitos. Evitar utilizar

provas escritas em que se deve responder exatamente conforme o que foi

apresentado em sala de aula. Essa forma de avaliar pode ser utilizada com os

alunos surdos, desde que aconteça um entendimento das atividades propostas.

O professor pode utilizar-se de vários instrumentos para avaliação na

Educação Física. É importante ressaltar que o ato avaliativo deve estar a serviço da

formação e inclusão do aluno surdo. Essa prática pedagógica pode ser constituída

nas experiências de práticas corporais, diferentes expressões de corpo e do

movimento, nas dinâmicas em grupos (da experimentação de novas formas de

movimento seja nos jogos, nas lutas, nos esportes, na ginástica, na dança),

proposta de trabalho junto com outra disciplina e seminários que englobam os

conteúdos trabalhados em aula, desdobrando questões que possam enriquecer e

alargar a compreensão das práticas corporais que surgem no cotidiano escolar.

3.1 Avaliação Inclusiva

A autora Simões (2010) mostra que o processo de avaliação do surdo incluso,

tendo como base à avaliação diagnóstica e formativa. Quando se percebe a

aprendizagem como processo de aquisição de conhecimentos e capacidades, a

avaliação ganha como sentido real, o aperfeiçoamento da aprendizagem. Logo,

respeitar o aluno em sua individualidade e em todo seu esforço para superar suas

dificuldades é pensar a avaliação como evolução do aprendizado.

A avaliação deve, portanto, ser diagnóstica e contínua, mostrando a real

condição em que se encontra o aluno para que, a partir daí o professor possa rever

o que foi ensinado e modificar suas práticas ou prosseguir com sua linha de

raciocínio. A avaliação também deve ser participativa, sendo discutida por todos os

envolvidos no processo, tanto alunos quanto professores, para que assim, todos se

vejam como co-responsáveis pelos resultados obtidos através dela. (FERRARI,

2010)

Page 10: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

9

Nos estudos de Ferrari (2010), consta que é necessário a criação de

estratégias, por parte dos professores e da escola, para atender aos alunos surdos e

as especificidades da sua escrita. Partindo desse pressuposto, podemos dizer que a

avaliação do aluno surdo deve contar com o auxilio do intérprete que o acompanha

em sala de aula, acompanhamento este garantido por lei. Dessa forma, o professor

avaliará, de forma contínua, o processo do ensino-aprendizagem, renunciando a

visão tradicionalista e conservadora que muitos carregam até os dias de hoje ao se

tratar de avaliação.

Outro aspecto relevante quanto às avaliações é o uso de textos de circulação

social que, por fazer parte do cotidiano do aluno, é mais prático e fácil no

desenvolvimento da escrita em Português, uma vez que, a única via de acesso à

língua portuguesa para os surdos é a escrita. A autora adverte também que, é

importante que o professor observe quais aspectos gramaticais poderão ser

sistematizados devido às dificuldades na compreensão do texto que o aluno possa

ter, levando em consideração que, nesse caso, os aspectos gramaticais não se

referem à gramática tradicional, mas os conhecimentos que são naturais no

processo de aquisição da linguagem oral-auditiva desconhecidas pelo aluno surdo.

Para se comunicar com os alunos surdos é fundamental que os professores

aprendam a língua de sinais, mesmo com ajuda de interprete em sala de aula é

necessário conhecimento básico de língua de sinais.

Isto significa afirmar não somente a necessidade de os surdos estarem juntos num mesmo espaço – escolar, neste caso – para que tenham acesso ao conhecimento e elaborem novos conceitos sobre ele, mas principalmente, que a língua de ensino destes alunos seja a de sinais, língua natural dessa comunidade. Neste sentido, seus professores necessitam não apenas conhecer esta língua, mas fundamentalmente, serem usuários dela, pois é por seu meio que se dá a construção de conceitos nos sujeitos surdos.(RAMIREZ, 2009, p. 34)

Nessa afirmação do autor fica evidente a necessidade de uma formação

específica que habilita o profissional docente para o ensino da Língua de Sinais.

Enfim, se faz urgente uma reflexão maior sobre a formação adequada do

profissional e cursos que visem uma habilitação para a docência dessa língua.

Page 11: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

10

3.2 O que é Língua de Sinais

A língua de sinais é utilizada para comunicação dos surdos. É uma língua

visual-espacial que, diferente das línguas orais-auditivas como a língua portuguesa,

utiliza da visão para ser aprendida e de elementos corporais e faciais. Para

acontecer uma comunicação entre aluno e professor são necessários

conhecimentos básicos da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Essa é a língua

natural da maioria dos surdos e é reconhecida no Brasil pela Lei 10.436/2002 e pelo

Decreto-lei 5.626/2005. A LIBRAS teve sua origem na Língua de Sinais Francesa.

As línguas de sinais não são universais, cada país possui sua própria língua de

sinais que sofre influências da cultura nacional. Como qualquer outra língua, ela

também possui expressões que diferem de região para região (regionalismo), o que

a legitima ainda mais como língua. (Maia e Veloso 2009).

A LIBRAS é composta de todos os elementos pertinentes às línguas orais, como a gramática, semântica, pragmática, sintaxe entre outros, preenchendo os requisitos científicos para ser reconhecida como instrumental lingüístico de poder e força. Foi na década de 60 que a língua de sinais foi estudada e analisada. Pesquisas com crianças surdas de pais surdos estabeleçam que a aquisição precoce da Língua de Sinais dentro do lar é um benefício e que esta aquisição contribui para o aprendizado da língua oral como segunda língua para os surdos. (MAIA; VELOSO, 2009, p.13).

Os sinais não se reduzem a um simples sistema de gestos naturais, como

pensa a maioria das pessoas. Por se utilizar das mãos e o corpo na comunicação,

costuma-se compará-la com mímicas o que não é verdadeiro. É tão eficaz quanto à

oral, pois é plena e tem estrutura gramatical própria, permite a expressão de

qualquer significado, pois contém todos os mecanismos adequados de

comunicação. No entanto, para ocorrer avanço nesta área, faz-se necessário o

treinamento de intérpretes e professores, para que utilizem a LIBRAS com maior

facilidade.

Page 12: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

11

4.1 Metodologia

Esta pesquisa, que faz parte do Plano de desenvolvimento Educacional do

Governo do Paraná, turma PDE 2010-2011 teve como público alunos surdos do

Ensino fundamental e Médio do Colégio Estadual Amyntas de Barros, localizado no

município de Pinhais, Estado do Paraná. Foi aplicado em 09 etapas, período de 27

horas aula, sendo 03 h/a por encontro, de agosto a novembro de 2011, na disciplina

de Educação Física.

O trabalho foi desenvolvido com um total de 16 alunos surdos e 04

professores de Educação Física. Onde se verificou as principais dificuldades dos

alunos quando são avaliados e propiciou discussões sobre estratégias dos

professores para avaliar os alunos surdos.

4.3 Implementação

Inicialmente, foi apresentado o projeto aos professores e equipe pedagógica

do Colégio Amyntas de Barros. Mostrou-se a importância da avaliação inclusiva para

alunos surdos e que todos os profissionais envolvidos nesse processo deverão estar

conscientes que o mais importante é que os alunos consigam aplicar os

conhecimentos adquiridos em seu dia a dia, de forma que esses conhecimentos

possibilitem uma avaliação para os alunos surdos.

Foi realizada uma reunião com os pais para apresentar o projeto e as devidas

autorizações para participarem em horário de contra turno. Os pais mostraram-se

interessados no assunto, principalmente em melhorar as avaliações das crianças.

As atividades aplicadas procuraram conhecer os alunos surdos e verificar como

acontecem suas avaliações, quais a dificuldades, quais as estratégias que os

professores utilizam. Foi apresentado aos alunos surdos como deve ocorrer a

comunicação entre eles e os professores, postura dos professores, utilização de

Page 13: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

12

imagens, posicionamento dos alunos surdos em sala, a função da interprete e o

mais importante, um relato de como acontecem suas avaliações.

Nas declarações dos alunos foi constatado que as avaliações nem sempre

são diferenciadas, a maioria das avaliações são idênticas dos alunos ouvintes. Os

alunos apresentam dificuldades em relação ao entendimento da Língua Portuguesa,

pois nem todos são oralizados. Alguns alunos apresentam dificuldades na Língua

de sinais, principalmente os alunos de 6º ano.

As discussões realizadas com os professores de Educação Física tiveram

como objetivo verificar as principais dificuldades ao avaliarem os alunos surdos,

propiciando discussões sobre estratégias para avaliar essas crianças. Com os

professores foi realizado um questionário e uma discussão sobre a contribuição do

material didático.

Foi constatado que os professores sentem a necessidade de realizar cursos

de formação continuada para estar aptos para receber os alunos surdos em sala de

aula, estar minimamente preparados para receber e dar condições de seu aluno com

deficiência se integrar e ter acesso ao conhecimento.

Para finalizar a implementação foi realizado um debate, entre os professores

e alunos surdos a fim de encontrar as melhores estratégias para realizar as

avaliações dos alunos surdos. Essa discussão foi realizada com ajuda de uma

interprete.

Nos relatos dos alunos, verificou-se que na maioria de suas avaliações são

realizadas através de tarefas, trabalhos, provas e participação em aulas práticas.

Mas nem sempre as avaliações são diferentes dos alunos ouvintes, por isso

encontram dificuldade em resolver as questões. A comunicação ocorre sempre com

ajuda da interprete em Libras, pois sem ajuda desses profissionais é muito difícil

entender o que os professores falam durante as explicações.

Na aplicação de questionário aos professores verificou-se que todos os

professores têm mais de 03 anos de experiências com alunos surdos, porém em sua

formação não houve um treinamento em Libras para comunicar com os surdos. Em

relação à língua de sinais, eles afirmam dominar parcialmente, mas consideram que

essa formação deverria ocorrer durante a formação e através de cursos

proporcionados pela escola e pela Secretaria de Estado de Educação. Em relação

às avaliações de Educação Física, verifica-se que são realizadas iguais as dos

alunos ouvintes e dificilmente ocorrem mudanças. Ao trabalhar o conteúdo de forma

Page 14: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

13

expositiva poucas vezes utilizam recursos gráficos e visuais, como cartazes,

gravuras e fotos.

Em relação às dificuldades encontradas os professores apontam: todos são

unânimes na complexidade de compreender a cultura surda; a necessidade de

treinamento em língua de sinais; a insuficiência de cursos oferecidos pela Secretaria

de Estado de Educação; muito importante o trabalho das interpretes em sala de

aula, o excesso de alunos em sala de aula e a necessidade de maior compromisso

com alunos de inclusão. Porém, os professores também afirmaram compreender a

cultura dos surdos e a relevância do trabalho das interpretes.

A última etapa das ações foi realização uma trilha na região de mata no

Município de Piraquara para promover a integração e sociabilização entre alunos,

professores e interpretes. Essa atividade teve a participação de alunos ouvintes e a

orientação de um guia, que nos mostrou como caminhar na mata, sentir o ar fresco

da região, os nomes das plantas e animais da região da mata atlântica. Após seis

quilômetros de caminhada foi realizado um lanche comunitário entre todos

participantes da trilha.

4.4 Resultados Obtidos

Durante a implementação constatou-se que avaliação inclusiva para surdos

representa apenas o início de um trabalho. Contudo, tal discussão ainda não atingiu

a maioria dos educadores e equipe pedagógica do colégio, agentes

importantíssimos no processo educacional. Percebeu-se que muitos alunos não

dominam a língua de sinais, principalmente aqueles que iniciam o ensino

fundamental no 6º ano, pois a Prefeitura de Pinhais não tem interprete em Libras nas

primeiras séries.

Os professores nem sempre utilizam material adequado na apresentação das

aulas expositivas, como a utilização de cartazes, figuras, vídeos e outros. Muitas

vezes utilizam textos e livros dificultando o entendimento dos surdos. Os alunos se

identificam com a prática das atividades, eles aprendem visualizando o movimento

dos alunos ouvintes e a explicação dos professores, e utilizam o visual para

assimilar as informações. Essa identificação e aprendizagem dos movimentos

Page 15: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

14

poderão ser utilizadas na avaliação, como preconiza a autora DARIDO (2007) a

avaliação na Educação Física deve considerar a observação, análise e a

conceituação de elementos que compõem a totalidade de conduta humana. Essas

observações avaliadoras podem ser utilizadas em todas as aulas e situações.

5. Conclusão

Com base no estudo aqui apresentado, pode-se concluir que há necessidade

de uma maior reflexão da avaliação, no âmbito educacional, com o intuito de

transformar a escola em um espaço verdadeiramente comprometido com a inclusão

dos alunos surdos.

Percebeu-se que ao trabalhar os conteúdos de avaliação na Educação Física,

o educador deve estar atento com o que a avaliação está comprometida, quais os

objetivos, quais os conteúdos, quais as metodologias e estratégias utilizadas pelo

professor. Fez-se notar também, a importância dos professores de diferentes

disciplinas se articularem, a partir de suas vivências e experiências. Compreender a

importância da Libras e o interprete na sala de aula, buscando alternativas e

estratégias para melhorar a avaliação. Em outras palavras, que avaliação venha

auxiliar e orientar os educadores na tomada de decisões, contribuindo assim para o

aprimoramento das necessidades dos alunos surdos.

Em relação aos professores evidenciou-se que estão preocupados com a

formação e com o preparo que deveria ser oferecidos nos cursos de capacitação,

manifestam que diante da proposta de educação inclusiva dos alunos surdos,

deveriam ser aptos para atendê-los em toda sua especificidade. Também que se faz

necessário a inserção da língua de sinais (Libras) nos espaços escolares, assim

como o profissional capacitado para atender os alunos surdos.

Durante a realização do Grupo de Trabalho de Rede (GTR), os depoimentos

dos professores cursistas manifestaram diversas dificuldades apresentadas ao se

atuar com o aluno surdo: na formação acadêmica não tiveram informações sobre

inclusão; os cursos de formação são ineficientes; a necessidade de receberem

auxilio freqüente de um interprete de língua de sinais; o grande número de alunos

ouvintes em sala dificultam o trabalho com os alunos surdos e declararam que há

Page 16: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

15

necessidade da continuidade de discussões sobre avaliação inclusiva, visto que nem

todos estão familiarizados com avaliação dos surdos. Consideram necessário um

estudo sobre teorias da avaliação, para realizarem uma avaliação justa e mais

acertada.

Para finalizar, é necessário entender que há muito, ainda, a saber, sobre

processo de avaliação escolar dos surdos, por isso deve-se abrir espaço à

discussões e elaboração de estratégias pedagógicas na avaliação inclusiva,

garantindo uma aprendizagem satisfatória e de qualidade. Esforço esse que vem

sendo feito por muitos educadores e para o qual espera-se que este estudo

contribua na avaliação inclusiva dessas crianças.

6. Referências

BRASIL. Ministério Educação de do Desporto. Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional. Lei 9394/96. Brasília, 1996.

DARIDO, Suraya Cristina. Para ensinar educação física: possibilidades de

intervenção na escola: Campinas: Papirus 2007.

Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos:

Disponível em: http:// www.feneis.com.br. Acesso em: 22 de ago.2010.

FERRARI, Ana Carolina Machado. Avaliação do aluno surdo na escola

regular:generalização e fracasso. Disponível em: http://www.webartigos.com.

Acessado em: 03 /abril/ 2011.

HAYDT, Regina Célia Cazux.Avaliação do Processo Ensino-Aprendizagem: 6

ed,São Paulo: Atica,2006

HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-

escola à universidade. Porto Alegre: Educação e Realidade, 1993.

Page 17: Avaliação Inclusiva - Operação de migração para o ... · aplicação de testes e provas a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação ... Os critérios de avaliação

16

LEI FEDERAL nº 10.436 de 24 de abril de 2002. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/index.php. Acesso em: 28 de jun. 2011.

LUCKESI, Carlos Cipriano. Avaliação da aprendizagem escolar. 2 ed.,São

Paulo:Cortez,2006.

MAIA, Valdeci; VELOSO, Éden: Aprenda LIBRAS com eficiência e rapidez: 1º ed

Curitiba: Mãos Sinais, 2009.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Departamento de

Educação Básica. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Ciências. Curitiba:

Jam3 Comunicação, 2008.

PASETTO, Silmara Cristina; ARAÚJO, Paulo Ferreira de: Dicas visuais na

aprendizagem motora para aprendizes surdos: Disponível em:

http://www.efdeportes.com/efd79/dicas.htm. Acesso em: 20 de jun. 2011.

RAMIREZ, Alejandro Rafael Garcia; MASSUTTI, Mara Lúcia: A Educação de

surdos em uma perspectiva bilíngüe: Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2009.

SIMÕES. Yêrecê Regina Medeiros: Inquietações da Inclusão dos Alunos Surdos.

Disponível em: http:// www.profala.com/artdef2.htm. Acesso em: 22 de ago. 2010.