avaliaÇÃo do uso do etanol em substituiÇÃo ao...
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AVALIAÇÃO DO USO DO ETANOL EM SUBSTITUIÇÃO AO
ÓLEO DIESEL EM ÔNIBUS URBANOS
Raí Mariano Quintas
Projeto de Graduação apresentado ao Curso de
Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título de
Engenheiro.
Orientadores: Alexandre Salem Szklo e David
Alves Castelo Branco
Rio de Janeiro
Dezembro de 2016
iii
Quintas, Raí Mariano
Avaliação do Uso do Etanol em Substituição ao Óleo Diesel
em Ônibus Urbanos/ Raí Mariano Quintas – Rio de Janeiro:
UFRJ/Escola Politécnica, 2016.
Orientadores: Alexandre Salem Szklo e David Alves Castelo
Branco
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso
de Engenharia Mecânica, 2016.
Referências Bibliográficas: p. 75 - 81
1.Óleo Diesel. 2. Etanol. 3. Emissões I. Szklo, Alexandre e
Castelo Branco, David. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Escola Politécnica, Programa de Engenharia Mecânica. III
Avaliação do Uso do Etanol em Substituição ao Óleo Diesel em
Ônibus Urbanos.
iv
AGRADECIMENTOS
A meus orientadores, Alexandre Salem Szklo e David Alves Castelo Branco, que
mesmo diante de suas diversas responsabilidades, foram sempre muito solícitos, dando
o apoio essencial ao desenvolvimento desse projeto final.
Ao Professor Sílvio Carlos Anibal de Almeida que, mesmo não sendo meu orientador,
cedeu seu tempo para me atender e contribuir para a construção desse trabalho.
À minha família, por estar sempre ao meu lado, me dando forças para continuar, mesmo
nas horas mais difíceis.
Aos meus amigos de faculdade, que acompanharam todo o processo de
desenvolvimento desse projeto final me incentivando e torcendo por mim.
v
Resumo do Projeto de Graduação à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção de grau de Engenheiro
Mecânico.
Avaliação do Uso do Etanol em Substituição ao Óleo Diesel em Ônibus
Urbanos
Raí Mariano Quintas
Dezembro/2016
Orientadores: Alexandre Salem Szklo e David Alves Castelo Branco
Curso: Engenharia Mecânica
Nesse estudo são avaliados, do ponto de vista técnico, alternativas
tecnológicas com a finalidade de promover a substituição do óleo diesel pelo etanol
nas frotas de ônibus urbanos.
Apesar do óleo diesel apresentar ótimas características combustíveis e de já
possuir um mercado consolidado, sua utilização está relacionada a sérios problemas
para a sociedade.
Primeiramente, vale lembrar que o Brasil não é autosuficiente na produção de
óleo diesel, por isso parte do total consumido tem que ser importado, afetando
negativamente a balança comercial externa do país. Além disso, a combustão de óleo
diesel nos motores está associada à poluição sonora e atmosférica, agravando
problemas relativos ao aquecimento global e de saúde publica.
Por conta dessas questões, é proposto como potencial substituto do óleo diesel
o etanol, que além de ser um combustível limpo e renovável, tem grande importância
vi
estratégica para o país.
Baseadas no uso do etanol como combustível, três possíveis soluções de
configuração motor/combustível são propostas: Motor Otto com alta razão de
compressão, motor Diesel bicombustível e motor Diesel utilizando etanol aditivado.
Essas alternativas são simuladas pela ferramenta PAMVEC e têm suas
performances energéticas comparadas com a de um motor Diesel movido a óleo diesel,
configuração ususal das frotas de ônibus no Brasil.
Os resultados mostram que as alternativas apresentadas são viáveis e que sua
implantação pode representar uma redução relevante no consumo de óleo diesel.
vii
Abstract of Undergraduate Project presented for POLI/UFRJ as a part of
the requirements for obtaining the degree of Mechanical Engineer.
Evaluation of the Use of Ethanol in Substitution to Diesel in Urban Buses
Raí Mariano Quintas
December/ 2016
Advisors: Alexandre Salem Szklo and David Alves Castelo Branco
Department: Mechanical Engineering
In this study, technological alternatives are evaluated, from a technical point
of view, in order to promote the replacement of diesel by ethanol in the urban buses
fleet.
Although diesel presents excellent characteristics as a fuel and holds a
consolidated market, its use is related to serious problems for society.
First of all, it is worth remembering that Brazil is not self-sufficient in diesel
production, so part of the total amount consumed has to be imported, negatively
affecting the country’s external trade balance. In addition, combustion of diesel oil in
engines is associated with noise and atmospheric pollution, worsen problems related
to global warming and public health.
Because of these issues, ethanol is proposed as a potential substitute for diesel,
as, besides being clean and renewable, it also has a great strategic importance for the
country.
Based on the use of ethanol as a fuel, three possible engine / fuel configuration
viii
solutions are proposed: Otto engine with high compression ratio, Dual Diesel engine
and Diesel engine using additivated ethanol.
These alternatives are simulated in PAMVEC tool and have their energetic
performances compared to that of a Diesel engine powered by diesel, usual bus fleets
configuration in Brazil.
Results shown that the presented alternatives are viable and that their
implementation may represent a relevant reduction in diesel consumption.
ix
Sumário
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 14
1.1 O Problema .................................................................................................................... 18
1.1.1 Insuficiência na produção de óleo diesel ................................................................ 18
1.1.2 Poluição atmosférica .............................................................................................. 19
1.1.2.1 Gases de efeito local (GELs) ........................................................................... 20
1.1.2.2 Gases de efeito estufa (GEEs) ......................................................................... 22
1.1.3 Poluição sonora ...................................................................................................... 23
1.2 O Objetivo ..................................................................................................................... 24
1.3 A Estrutura do Projeto Final .......................................................................................... 25
2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................. 27
2.1 Combustíveis ................................................................................................................. 27
2.1.1 Óleo Diesel ............................................................................................................. 27
2.1.1.1 O Proconve ...................................................................................................... 27
2.1.1.2 A evolução do óleo diesel ............................................................................... 28
2.1.1.3 Tecnologia atual .............................................................................................. 29
2.1.2 Etanol ...................................................................................................................... 31
2.1.2.1 A produção de etanol ....................................................................................... 32
2.1.2.2 A evolução do etanol no Brasil ....................................................................... 38
2.1.2.3 O mercado atual .............................................................................................. 40
2.1.2.4 O etanol como alternativa ao óleo diesel ......................................................... 41
2.2 Motores de Combustão Interna ..................................................................................... 43
2.2.1 Motores do ciclo Otto ............................................................................................. 44
2.2.2 Motores do ciclo Diesel .......................................................................................... 45
2.3 Adaptações Tecnológicas Necessárias para a Utilisação do Etanol como Combustível46
2.3.1 Motor Otto com alta razão de compressão ............................................................. 48
2.3.2 Motor Diesel bicombustível .................................................................................... 49
2.3.2.1 Injeção de mistura etanol/óleo diesel .............................................................. 49
2.3.2.2 Fumigação de etanol no coletor de admissão .................................................. 50
2.3.2.3 Dupla injeção................................................................................................... 50
2.3.2.4 Injeção de etanol no cilindro do motor no início do tempo de compressão .... 50
2.3.3 Motor Diesel com etanol aditivado ......................................................................... 51
3 METODOLOGIA ....................................................................................................... 51
3.1 A Ferramenta PAMVEC ............................................................................................... 52
x
3.2 Cálculos e Modelagens.................................................................................................. 53
3.2.1 Potência de tração .................................................................................................. 53
3.2.2 Potência dissipada nos freios ................................................................................. 55
3.2.3 Potência dissipada pelo sistema de transmissão .................................................... 56
3.2.4 Potência requerida pelo motor de combustão ........................................................ 56
3.2.5 Massa total do veículo ............................................................................................ 56
3.2.6 Consumo de energia ............................................................................................... 57
3.2.7 Rendimento veicular ............................................................................................... 57
3.2.8 Consumo de combustível ........................................................................................ 58
4 SIMULAÇÕES ............................................................................................................ 59
4.1 Dados de Entrada Gerais ............................................................................................... 60
4.2 Caso 1 ............................................................................................................................ 62
4.2.1 Dados de entrada específicos ................................................................................. 62
4.2.2 Resultados ............................................................................................................... 63
4.3 Caso 2 ............................................................................................................................ 63
4.3.1 Dados de entrada específicos ................................................................................. 64
4.3.2 Resultados ............................................................................................................... 64
4.4 Caso 3 ............................................................................................................................ 64
4.4.1 Dados de entrada específicos ................................................................................. 66
4.4.2 Resultados ............................................................................................................... 66
4.5 Caso 4 ............................................................................................................................ 66
4.5.1 Dados de entrada específicos ................................................................................. 67
4.5.2 Resultados ............................................................................................................... 67
4.6 Comparação de Resultados ........................................................................................... 67
4.6.1 Potência requerida pelo motor ............................................................................... 68
4.6.2 Consumo de energia ............................................................................................... 68
4.6.3 Eficiência veicular .................................................................................................. 69
4.6.4 Consumo de combustível ........................................................................................ 70
4.6.5 Economia de óleo diesel ......................................................................................... 71
5 CONCLUSÕES ........................................................................................................... 72
5.1 Considerações Finais ..................................................................................................... 72
5.2 Sugestão de Trabalhos Futuros ..................................................................................... 73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 75
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Rotas tecnológicas para a produção do etanol. Fonte: Horta (2008). ....................... 33
Figura 2: Fluxograma da produção de açúcar e etanol de cana. Fonte: Seabra (2008). .......... 38
Figura 3: Fases do funcionamento de um motor do ciclo Otto. Fonte: Milhor (2002). ........... 45
Figura 4: Fases do funcionamento de um motor do ciclo Diesel. Fonte: Gonçalves (2016). .. 46
Figura 5: Modelo ilustrativo do funcionamento do PAMVEC. Fonte: Castro (2013). ........... 53
Figura 6: Representação gráfica do ciclo de condução Manhattan Bus Cycle. Fonte: Barlow et
al. (2009). ................................................................................................................................. 61
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Comparação entre o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar e do milho.
Elaboração própria com base em Manochio (2014). ............................................................... 35
Tabela 2: Demanda de fertilizantes. Fonte: Lascala (2011). ................................................... 35
Tabela 3: Descrição resumida das análises realizadas no PAMVEC ...................................... 59
Tabela 4: Dados de entrada gerais – Plataforma veicular ........................................................ 60
Tabela 5: Dados de entrada gerais – Objetivos de performance .............................................. 60
Tabela 6: Dados de entrada gerais – Ciclo de condução ......................................................... 61
Tabela 7: Dados de entrada gerais – Sistema de transmissão .................................................. 62
Tabela 8: Dados de entrada específicos – Motor – Caso 1 ...................................................... 62
Tabela 9: Dados de entrada específicos – Combustível – Caso 1............................................ 63
Tabela 10: Resultados – Caso 1 ............................................................................................... 63
Tabela 11: Dados de entrada específicos – Motor – Caso 2 .................................................... 64
Tabela 12: Dados de entrada específicos – Combustível – Caso 2.......................................... 64
Tabela 13: Resultados – Caso 2 ............................................................................................... 64
Tabela 14: Dados de entrada específicos – Motor – Caso 3 .................................................... 66
Tabela 15: Dados de entrada específicos – Combustível – Caso 3.......................................... 66
Tabela 16: Resultados – Caso 3 ............................................................................................... 66
Tabela 17: Dados de entrada específicos – Motor – Caso 4 .................................................... 67
Tabela 18: Dados de entrada específicos – Combustível – Caso 4.......................................... 67
Tabela 19: Resultados – Caso 4 ............................................................................................... 67
xiii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: População brasileira e projeções. Fonte: ONU ([s.d].). .......................................... 14
Gráfico 2: Evolução dos principais modais no transporte coletivo do Rio de Janeiro em 2013.
Fonte: Fetranspor (2013).......................................................................................................... 17
Gráfico 3: Evolução das vendas nacionais, pelas distribuidoras, dos principais derivados de
petróleo – 2005-2014. Fonte: ANP (2015). ............................................................................. 18
Gráfico 4: Comparação dos resultados de potência requerida pelo motor em relação ao caso
base (100%). ............................................................................................................................ 68
Gráfico 5: Comparação dos resultados de consumo de energia em relação ao caso base
(100%)...................................................................................................................................... 69
Gráfico 6: Comparação dos resultados de eficiência do veículo em relação ao caso base
(100%)...................................................................................................................................... 70
Gráfico 7: Comparação dos resultados de consumo de combustível em relação ao caso base
(100%)...................................................................................................................................... 71
Gráfico 8: Comparação dos resultados de consumo de óleo diesel e etanol em base
energética. ................................................................................................................................ 72
14
1 INTRODUÇÃO
Ao longo das últimas décadas, o Brasil tem experimentado um crescimento significativo de
sua população urbana. Historicamente, a partir do começo do século XX, famílias passaram a
abandonar a vida no campo em busca de melhores oportunidades que começavam a surgir nas
cidades, principalmente por conta da intensificação da industrialização (BRITO, 2006;
BRITO; HORTA; AMARAL, 2001; MARTINE, 1994).
Com o passar dos anos, o acúmulo desse fenômeno, somado ao crescimento urbano natural1,
originou regiões de intensa concentração urbana. Apesar de a uma menor taxa, previsões
indicam que esse fenômeno tende a continuar pelos próximos anos, como mostram os dados
apresentados no Gráfico 1 (BRITO, 2006; BRITO; HORTA; AMARAL, 2001; MARTINE,
1994).
Gráfico 1: População brasileira e projeções. Fonte: ONU ([s.d].).
Inevitavelmente, esse aumento da população nos grandes centros urbanos pressiona as
cidades a evoluírem no sentido de proporcionar a infraestrutura de serviços necessária para
1 Crescimento líquido advindo da diferença entre a taxa de natalidade e a de mortalidade no meio urbano.
15
absorver tal crescimento. Nesse contexto, é preciso que a oferta e a qualidade dos serviços
públicos acompanhem esse consequente aumento da demanda, evitando assim um colapso no
sistema público como um todo, o que afetaria de forma negativa a economia e o bem-estar da
população.
Frente a esse cenário, um dos serviços detém um papel fundamental na integração das
cidades com seu crescimento: o sistema de transporte público. É imprescindível que esse
serviço acompanhe o ritmo de crescimento e desenvolvimento das cidades. Assim, o aumento
dos investimentos em transporte público torna-se indispensável na promoção do
desenvolvimento sustentável das metrópoles, oferecendo boa qualidade de vida para todos
(GROSTEIN, 2001; IPTD, 2016).
Diante deste desafio, a população tem intensificado, nos últimos anos, os debates sobre a
mobilidade urbana no Brasil. Na maior parte das grandes cidades do país, ainda encontram-se
muitas dificuldades envolvendo o sistema de transporte público. Má qualidade, falta de
conectividade entre os modais, altos tempos de deslocamento, tarifas elevadas, dentre outros
fatores compõem o portfólio de problemas existentes no sistema nacional de transporte
coletivo (SILVEIRA; COCCO, 2013).
Esses problemas aliados ao aumento da renda média do brasileiro nos últimos anos e aos
incentivos fiscais aprovados pelo governo com o objetivo de baratear o preço de automóveis,
como a redução do IPI (Imposto Sobre Produto Industrializado), contribuíram para uma das
principais causas dos problemas de mobilidade urbana no Brasil: O aumento do uso de
transportes individuais, em especial os automóveis, em detrimento da utilização de
transportes coletivos. Esse cenário desfavorável tem contribuído para o agravamento das
condições de congestionamentos nas metrópoles que afetam não só a população mas também
o meio ambiente (CARVALHO; PEREIRA, 2012).
Outro fator que fez com que fosse desenvolvida essa situação é o investimento acumulado
durante décadas em políticas rodoviaristas. A partir da década de 1950, com a iniciativa do
presidente Juscelino Kubitschek, maciços investimentos com o intuito de expandir a malha
rodoviária no Brasil foram realizados (FERREIRA; MALLIAGROS, 1999). A ideia era criar
um ambiente que incentivasse as grandes montadoras automobilísticas a se estabelecerem no
país. Essa estratégia perpetuou-se tempo suficiente para que hoje a herança estrutural do setor
16
de transportes no Brasil seja desproporcionalmente favorável ao segmento rodoviário.
Essa questão se agrava quando considerado o fato de que, de modo geral, os modais
compreendidos nessa categoria dependem da energia proveniente dos combustíveis fósseis
para alimentar seus sistemas propulsores. Dessa forma, ao considerar um crescimento do
setor de transportes do país, entende-se que necessariamente um aumento no consumo de
derivados do petróleo estará associado e, portanto, um aumento no volume de emissões de
poluentes.
De acordo com o Balanço Energético Nacional de 2015 (EPE, 2015), o segmento de
transporte, em valores absolutos, liderou o crescimento do consumo de energia final no ano
de 2014, com uma taxa de crescimento anual de 3,8% e sendo responsável por consumir
32,5% de toda a energia final no país. A matriz energética do setor é composta por
aproximadamente 81% de combustíveis fósseis.
Analisando-se especificamente agora o âmbito dos transportes coletivos, tem-se que, no
Brasil, o transporte público ainda se baseia principalmente no transporte por ônibus
municipais; aproximadamente 69% das viagens são feitas por ônibus municipais, de acordo
com dados de 2014 da Associação Nacional de Transporte Público.
Na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, por exemplo, apesar da variedade de
modais que compõem o sistema de transporte público, dados de 2013 do relatório de
atividades da FETRANSPOR, apresentados no Gráfico 2, mostram que os ônibus ainda são o
principal meio de transporte público utilizado pela população.
17
Gráfico 2: Evolução dos principais modais no transporte coletivo do Rio de Janeiro em
2013. Fonte: Fetranspor (2013).
Diante dessas estatísticas, compreende-se que o aumento na demanda por transporte público
reflete-se essencialmente em um crescimento no número de viagens realizadas por ônibus
urbanos. Tendo em vista que a frota nacional de ônibus depende basicamente do óleo diesel
como fonte de combustível, esse crescimento tem alavancado as vendas desse combustível no
país, o que é comprovado pelos dados da ANP, apresentados no Gráfico 3.
18
Gráfico 3: Evolução das vendas nacionais, pelas distribuidoras, dos principais derivados de
petróleo – 2005-2014. Fonte: ANP (2015).
Surgem daí algumas questões importantes a serem levantadas acerca do uso do óleo diesel
como o principal combustível alimentando as frotas de ônibus do país, que serão destacadas
nas próximas seções.
1.1 O Problema
1.1.1 Insuficiência na produção de óleo diesel
Apesar de ser um dos grandes produtores de petróleo no mundo, a atual produção de óleo
diesel do Brasil é insuficiente para atender a demanda doméstica total. Entre os produtos
importados, o óleo diesel é um dos que mais tem contribuído para o déficit na balança
comercial externa do setor energético brasileiro (CAETANO, 2013; RODRIGUES;
LOSEKANN, 2015). A evolução na dependência das importações dos últimos anos tem
gerado efeitos negativos sobre a balança comercial do país.
Apesar dos grandes investimentos na construção de novas refinarias e no aumento da
19
capacidade de produção dos parque de refino atuais, como a implementação do Promega
(programa iniciado em 2013 cujo objetivo era o de aumentar a produção de QAV, óleo diesel
e gasolina nas refinarias já existentes), a expansão da oferta não foi suficiente para suprir a
demanda por óleo diesel (RODRIGUES; LOSEKANN, 2015).
Em 2014, segundo levantamento do Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis, a produção de óleo diesel foi de aproximadamente 49,6 milhões de metros
cúbicos, enquanto que sua venda totalizou 60,0 milhões. Além disso, consta também no
anuário que, dentre os derivados energéticos do petróleo, o importado em maior volume foi o
óleo diesel, cerca de 11 milhões de metros cúbicos, 9,05% a mais que em 2013, o que
representou um déficit de 8,725 milhões de dólares FOB2 na balança comercial do país (ANP,
2015).
Os números acima foram apresentados apenas para reiterar a ideia de que o aumento do
consumo de óleo diesel no país pode representar um problema relevante para a sua economia.
Outra questão a ser levantada, também referente ao uso óleo diesel como combustível, é a da
poluição atmosférica decorrente da emissão de gases poluentes e/ou do efeito estufa gerados
a partir da sua combustão nos motores.
1.1.2 Poluição atmosférica
Com o aumento da poluição atmosférica nas últimas décadas, tornam-se mais explícitos os
consequentes impactos sofridos pelo meio ambiente e a sociedade. Nos grandes centros
urbanos, esses impactos são ainda mais pronunciados, resultado de concentrações elevadas da
poluição atmosférica. Isso explica a ocorrência de fenômenos como a inversão térmica3 e o
smog4 acontecerem com mais frequência e maior intensidade.
2 Free On Board – Quando a responsabilidade do exportador termina após a mercadoria estar dentro do navio
para o despacho, no porto indicado pelo comprador.
3 Condição meteorológica que ocorre quando uma camada de ar quente se sobrepõe a uma camada de ar frio,
impedindo o movimento ascendente do ar, uma vez que, o ar abaixo dessa camada fica mais frio, portanto, mais
pesado, fazendo com que os poluentes se mantenham próximos da superfície (GALVANI; LIMA; FALCÃO,
2010).
4 O efeito smog é formado quando há condensação de vapor d’água, porém, em associação
com a poeira, fumaça e outros poluentes, o que dá um aspecto acinzentado ao ar (DRUMM et al., 2014).
20
Um dos principais responsáveis por isso são os veículos automotores. A queima de
combustíveis fósseis, usados na sua propulsão, lança na atmosfera diversas substâncias
nocivas ao meio ambiente e ao ser humano. Teixeira et al. (2008) cita que dentre as questões
nas metrópoles responsáveis por agravar esse cenário estão os congestionamentos de grandes
extensões em horários de pico, a redução da velocidade média do trânsito nos corredores de
tráfego e o maior gasto de combustível. Esses fatores têm contribuído para a degradação da
qualidade do ar nas cidades, o que atinge de forma negativa sua população como um todo.
Segundo dados do Balanço Energético Nacional de 2015 (BEN, 2015), em 2014 o setor de
transportes foi o responsável pelo maior volume de emissões, contabilizando 221,9 milhões
de toneladas de dióxido de carbono equivalente, o que representa 45,7% do total de emissões
nesse ano.
Os poluentes oriundos dessas emissões podem ser classificados de acordo com a sua
abrangência e com os impactos causados por eles. Os gases de efeito local (GELs)
compreende o grupo de poluentes que causam impactos nas áreas próximas da atuação dos
serviços de transporte ou em regiões mais afastadas, deslocados pela ação de ventos e
correntes de ar. Os gases de efeito estufa (GEEs) são poluentes que, lançados na atmosfera,
acabam impactando todo o planeta pelo aquecimento global.
1.1.2.1 Gases de efeito local (GELs)
Os gases de efeito local são aqueles que afetam especificamente as regiões onde há grande
ocorrência das operações de transporte, degradando a qualidade do ar (CARVALHO, 2011a).
Analisando os impactos relacionados à exposição intensa e à longo prazo da população a
esses gases, constata-se que eles representam um sério risco à saúde pública.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que a poluição atmosférica reflete
uma grande ameaça à saúde humana, causando, por ano, mais de 7 milhões de mortes em
todo o mundo. Além disso, esses mesmos dados comprovam que a exposição a um ar de
baixa qualidade aumenta significativamente o risco de acidentes vasculares cerebrais,
doenças cardíacas, câncer de pulmão e doenças respiratórias crônicas e agudas (OMS, 2015).
Diversos estudos recentes comprovam a influência negativa dessa poluição na saúde pública.
21
Nardocci et al. (2013) avaliam os impactos da poluição do ar nas internações por doenças
respiratórias e cardiovasculares. Pereira e Limongi (2015) fazem uma revisão de diversos
artigos sobre os efeitos da poluição atmosférica na saúde humana. Miraglia e Gouveia (2014)
mensuram os custos sobre a saúde pública decorrentes de casos relacionados à poluição do ar.
Cesar et al. (2013) estudam a associação entre internação de crianças por doenças
respiratórias e as emissões veículares.
Os principais poluentes responsáveis por essas enfermidades são o monóxido de carbono
(CO), os hidrocarbonetos (HC), os materiais particulados (MP), os óxidos de nitrogênio
(NOx) e os óxidos de enxofre (SOx). Cada um deles atuando de forma particular na
fragilização da saúde humana.
O monóxido de carbono é um gás venenoso e incolor produzido principalmente por veículos
automotores. Ele apresenta uma afinidade pela hemoglobina 240 vezes maior que o oxigênio.
Dessa forma, uma pequena quantidade de CO pode saturar uma grande quantidade de
moléculas de hemoglobina, diminuindo a quantidade de oxigênio nos órgãos e tecidos, o que
pode gerar diversas sequelas (PEREIRA et al., 2001). Vale lembrar que a longa exposição a
esse composto pode levar à morte.
Os hidrocarbonetos são gerados a partir da combustão incompleta de combustíveis fósseis.
Eles são precursores da formação do gás ozônio (O3) que é um potente gás oxidante para as
células. Além disso, são responsáveis pela formação do smog e também são compostos
cancerígenos (CARVALHO, 2011a; DRUMM et al., 2014; PEREIRA et al., 2001;
QUINTANILHA, 2009; TEIXEIRA; FELTES; DE SANTANA, 2008).
Os materiais particulados são uma mistura de pequenas partículas em suspensão no ar. Por
conta do seu tamanho minúsculo, podem passar imperceptíveis pelos principais mecanismos
de defesa do organismo e penetrar o trato respiratório podendo causar irritações, asma,
bronquite e câncer de pulmão (CARVALHO, 2011a; DRUMM et al., 2014; PEREIRA et al.,
2001; QUINTANILHA, 2009).
As principais fontes emissoras de óxidos de nitrogênio são os motores de veículos
(QUINTANILHA, 2009). Durante a combustão, o oxigênio reage com o nitrogênio formando
principalmente óxido nítrico (NO) e dióxido de nitrogênio (NO2). Esses compostos são
22
extremamente reativos e, na presença do oxigênio atmosférico e da luz solar, podem gerar o
gás ozônio (O3). São responsáveis pela formação do smog e da chuva ácida. Quando inalados,
por conta da sua reatividade, atuam como agentes oxidantes dentro do organismo
(CARVALHO, 2011a; DRUMM et al., 2014; PEREIRA et al., 2001; QUINTANILHA,
2009).
Por fim, completam essa categoria os óxidos de enxofre que, ao serem lançados na atmosfera,
reagem com as partículas de água formando ácidos, substâncias que por conta da alta acidez,
quando inaladas, causam irritações no trato respiratório. Outro fator a ser considerado é que
essas substâncias também são responsáveis pela formação de chuvas ácidas (CARVALHO,
2011a; DRUMM et al., 2014; PEREIRA et al., 2001; QUINTANILHA, 2009).
1.1.2.2 Gases de efeito estufa (GEEs)
Os últimos anos marcaram a intensificação das discussões em todo o mundo sobre os gases
do efeito estufa e sua relação com o aquecimento global. A partir da era industrial,
incentivada pelos crescimentos demográfico e econômico, as emissões antropogênicas desses
gases atingiram níveis nunca antes vistos e seu acúmulo na atmosfera têm aumentando a
captação da energia solar, na forma de calor, resultando nesse aumentando generalizado da
temperatura da atmosfera do planeta (IPCC, 2014)
O aquecimento aumenta a probabilidade de mudanças climáticas que resultariam em
impactos graves e irreversíveis para os ecossistemas. A continuidade de elevados níveis de
emissões desses gases implica em consequências negativas para os cenários futuros como, a
degradação da biodiversidade dos ecossistemas, recessões econômicas e a amplificação dos
riscos de surtos globais de fome e sede (IPCC, 2014).
Diante do alcance global dos efeitos do aquecimento do planeta, países têm se reunido em
busca de soluções e metas a fim de reduzir a emissão dos gases responsáveis por esse
fenômeno. Um dos exemplos mais expressivos dessas iniciativas foi a assinatura do
Protocolo de Quioto por 39 países, em 1997. Por meio dele, estabeleceram-se metas sobre a
redução das emissões dos GEEs com o intuito de alcançar níveis seguros, do ponto de vista
ambiental, das concentrações desses gases na atmosfera.
23
Os gases que compõem essa categoria são representados basicamente pelo metano (CH4),
pelo óxido nitroso (N2O) e pelo dióxido de carbono (CO2), sendo esse último o mais
importante dentre eles e cuja principal causa de emissões antrópicas recai sobre a queima de
combustíveis fósseis no mundo. Nas grandes cidades, entre todos os setores que consomem
combustíveis fósseis, o setor de transportes, principalmente o rodoviário, é o mais relevante
ao se considerar a produção desses gases (MOTTA et al., 2011).
O setor de transporte responde por cerca de 20% das emissões globais de CO2 e por 9% das
emissões nacionais, a segunda maior fonte emissora depois das queimadas (CARVALHO,
2011a). Além disso, entre as fontes de emissão de gases de efeito estufa, esse setor é o que
cresce mais rapidamente, muitas vezes em uma taxa superior que a do produto interno bruto
de países em desenvolvimento (MOTTA et al., 2011).
1.1.3 Poluição sonora
Com relação ao tipo do motor usado nas frotas de ônibus do país, o motor Diesel, existe um
outro problema: a poluição sonora. Apesar de muitas vezes não ser encarada com a devida
importância, trata-se de um grave problema para a população urbana.
A exposição contínua a níveis sonoros elevados pode causar desde pequenos incômodos até a
perda auditiva induzida por ruído (PAIR), que é irreversível. Esse risco é proporcional tanto à
intensidade do nível sonoro quanto ao tempo de exposição a ele (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2006).
Berglund et al. (2000) apontam que o nível confortável de pressão sonora, sem induzir
nenhum efeito negativo no corpo humano, é de até 50 dB e de acordo com a norma ABNT
NBR 10151, os níveis aceitáveis de poluição sonora estão compreendidos até 60 dB nos
centros comerciais para o período diurno e 55 dB para o período noturno.
Porém, frequentemente nas grandes cidades, a população é exposta a níveis de ruídos mais
elevados do que esses, principalmente em regiões com vias que apresentam grandes
concentrações de veículos automotores. Isso acontece porque a principal causa da poluição
sonora urbana contemporânea recai sobre o trânsito de veículos motorizados (CARVALHO,
2011a; NUNES, 2013; SMT; SVMA, 2011), sendo que dentre esses veículos, os ônibus são
24
os que mais contribuem para a poluição sonora nas cidades (CALIXTO, 2002; NUNES,
2013).
O ruído total emitido por um veículo pode ser divido em três categorias: ruído oriundo do
sistema de propulsão, da interação entre o pneu e o solo, e o ruído aerodinâmico. Para baixas
velocidades, o ruído do sistema de propulsão é o predominante. Por isso, na análise de ruídos
emitidos por ônibus urbanos, essa categoria é a mais relevante (MELOROSE; PERROY;
CAREAS, 2015a).
Diante dessa circunstância, é importante ressaltar que o ruído emitido pelos motores,
principal componente do sistema de propulsão, é, usualmente, mais grave para motores do
ciclo Diesel. Devido à quantidade de gases emitidos, à sua maior taxa de compressão e ao
aumento de pressão mais abrupto, os motores do ciclo Diesel são responsáveis por uma maior
poluição sonora em comparação a outros motores. disso, especialmente no caso de veículos
pesados, os motores são ainda mais ruidosos, o que agrava a questão da poluição sonora
emitida pelos ônibus urbanos (MELOROSE; PERROY; CAREAS, 2015a).
1.2 O Objetivo
Diante dos problemas sociais, econômicos e ambientais apresentados no capítulo anterior que
caracterizam o cenário atual do setor de transportes coletivos nas grandes metrópoles, urge a
necessidade de mudanças com a finalidade de atenuar, ou até mesmo extinguir, as questões
mencionadas acima.
Nesse contexto, esse trabalho tem como o objetivo propor alternativas tecnicamente viáveis
de modo a atender a reivindicação da comunidade de forma eficiente. A ideia é atuar no
modal dos ônibus urbanos, o mais relevante na área dos transportes públicos nacional,
sugerindo a mudança do combustível usado como base nas frotas nacionais.
A alternativa então proposta refere-se à adoção do etanol como tal substituto ao óleo diesel.
Essa escolha foi tomada com base primeiramente no potencial de redução das emissões que
representaria o uso do etanol, intervindo positivamente na restauração da qualidade do ar nas
cidades e na diminuição de emissões relativas dos gases do efeito estufa. Além disso, frente
ao domínio da tecnologia de produção do etanol e à elevada produtividade da cana de açúcar ,
25
esse combustível detém de uma grande importância estratégica para o país (CGEE; BNDES,
2008).
Essa mudança implica, contudo, em adaptações, seja no blend do combustível, seja no motor
Diesel, para viabilizar sua compatibilidade técnica. Por isso, também será contemplada nesse
trabalho a análise de diferentes tecnologias de arquiteturas veiculares e composições de
combustíveis, tendo o etanol como base, com o fim de definir soluções tecnicamente viáveis.
Por fim, busca-se mensurar as tecnologias propostas quanto à eficiência energética,
comparando-as com os resultados dos mesmos parâmetros avaliados para a tecnologia atual
adotada nos ônibus. A partir dessas comparações, será determinado se opção do etanol ao
óleo diesel é realmente viável para aplicações operacionais.
1.3 A Estrutura do Projeto Final
Esse projeto final foi organizado em 5 capítulos. Esse capítulo, o capítulo 1, tem o objetivo
de introduzir o leitor aos principais desafios a serem superados no cenário atual que
motivaram o presente trabalho, assim como aos objetivos do mesmo e à sua disposição de
capítulos.
No capítulo 2, busca-se expor de forma mais detalhada os conceitos técnicos relacionados aos
principais protagonistas desse trabalho, os combustíveis e as arquiteturas veiculares. Será
apresentado a evolução tecnológica do diesel até os tempos atuais, bem como sua
comparação ao etanol nos aspectos técnicos. Também serão introduzidos a tecnologia e o
funcionamento das arquiteturas veiculares que fazem parte desse estudo, assim como outros
trabalhos relacionados a elas.
No capítulo 3, inicia-se a apresentação da metodologia na qual foram baseadas as simulações
referentes a esse trabalho. Importantes conceitos relacionados às simulações são introduzidos,
bem como a plataforma usada para realizar tais simulações e a descrição dos parâmetros
necessários para a realização das análises.
O capítulo 4 é o responsável por exibir os dados de entrada considerados e os resultados das
simulações para cada uma das configurações ensaiadas. Os resultados serão baseados na
26
avaliação de parâmetros relacionados ao rendimento energético para cada uma das
arquiteturas veiculares que compõem o trabalho.
Finalmente, no capítulo 5, serão apontadas as conclusões referente aos resultados do capítulo
anterior, ao mesmo tempo que são comparados esses resultados com o intuito de responder a
questão principal desse projeto final quanto a viabilidade da adoção do etanol como
combustível base nas frotas nacional de ônibus. Nesse capítulo também são propostas
recomendações para trabalhos futuros.
27
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Combustíveis
2.1.1 Óleo Diesel
O óleo diesel é um combustível derivado do refino do petróleo bruto na faixa de temperaturas
entre 200 e 360°C (BRUNETTI, 2012). Sua composição é uma mistura, predominantemente,
de hidrocarbonetos5 e de outras substâncias em menores quantidades. Dessas substâncias,
duas são particularmente importantes: a água, seu principal contaminante, cuja presença pode
danificar componentes dos motores, e o enxofre que, por um lado, melhora a lubricidade do
combustível, mas, por outro, é precursor de poluentes nocivos ao meio ambiente
(BRUNETTI, 2012).
A utilização do óleo diesel é limitada basicamente aos motores de combustão interna de
ignição por compressão (ciclo Diesel). Entretanto, essa limitação não significa que o óleo
diesel seja pouco consumido, pelo contrário, ele é o combustível mais consumido no país.
Isso porque os motores do ciclo Diesel possuem uma diversificada gama de aplicações nos
veículos de transporte terrestre, como ônibus e caminhões, nos veículos marítimos, como
navios e submarinos, ou em geradores de eletricidade.
A consolidação dos motores do ciclo Diesel nessa variedade de aplicações deve-se em grande
parte à popularidade do combustível que ele utiliza. A maior eficiência e densidade
energética e o menor preço do óleo diesel comparado aos outros combustíveis do mercado,
justificaram a difusão do par combustível-motor nesses diferentes setores. Entretanto, apesar
de suas qualidades, ainda existem muitos problemas relativos às emissões produzidas pela
queima desse combustível (BRAUN; APPEL; SCHMAL, 2004; LASCALA, 2011).
2.1.1.1 O Proconve
Mediante ao crescimento da frota de veículos automotores no país, e o consequentemente
aumento no nível de emissões de poluentes, tornava-se necessária a adoção de medidas do
5 Compostos orgânicos formados por átomos de carbono e de hidrogênio.
28
governo que estabelecessem especificações para os combustíveis a fim de controlar a questão
da degradação da qualidade do ar.
Nesse contexto, em 1986, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) criou o
Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), responsável
por estabelecer prazos e limites máximos de emissões com o objetivo de reduzir e controlar a
poluição atmosférica, respeitando os padrões de qualidade do ar; promovendo o
desenvolvimento de tecnologias capazes de reduzir o nível de poluentes; aprimorando a
qualidade técnicas dos combustíveis existentes; criando programas de fiscalização para
veículos automotores em uso; e conscientizando a população acerca dos perigos da poluição
do ar (MME, 2011).
A legislação brasileira usou como base para definir os padrões de emissão de veículos
pesados, ou seja, com massa total máxima maior que 3.856 kg, as normas da Europa
(EURO). Porém, por conta de sua implantação mais tardia, a regulamentação definida no
Brasil encontra-se defasada em relação à europeia (FETRANSPOR, 2010).
Para os veículos pesados, o principal desafio está associado à redução de três tipos de
poluentes: materiais particulados, óxidos de nitrogênio e óxidos de enxofre. Os dois primeiros
estão relacionados ao processo de combustão no motor e o último à concentração de enxofre
no óleo diesel. Por isso, a grande dificuldade quanto à redução dos níveis de emissão de gases
poluentes reside tanto na qualidade do combustível quanto na tecnologia do motor, sendo
necessário, além de avanços nas tecnologias envolvidas na combustão e no pós-tratamento de
gases nos motores, o desenvolvimento de combustíveis mais limpos (FETRANSPOR, 2010).
2.1.1.2 A evolução do óleo diesel
Após a implantação do Proconve, definindo padrões mais rígidos para as emissões veiculares,
foi preciso que as refinarias brasileiras se adequassem para produzir os combustíveis com
características de melhor qualidade. Antes, só existia um tipo de óleo diesel, o 13.000 ppm
(partes por milhão) de enxofre, comercializado no Brasil inteiro, mas a partir de 1994,
passaram a existir dois tipos: o óleo diesel metropolitano e o óleo diesel de interior
(FETRANSPOR, 2010).
29
O óleo diesel metropolitano passou a abastecer os grandes centros urbanos e possuía um
menor teor de enxofre (5.000 ppm) em relação ao óleo diesel de interior (10.000 ppm),
comercializado no resto do país. Essa medida visava reduzir a poluição do já degradado ar
das regiões metropolitanas, em decorrência da grande concentração de veículos (LASCALA,
2011).
Para tal, o óleo diesel metropolitano precisa passar por um processo especial de
dessulfurização nas refinarias. A dessulfurização consiste em promover uma reação entre o
óleo e o hidrogênio, com auxílio de catalisadores, onde o hidrogênio reage com os átomos de
enxofre presentes no óleo formando sulfeto de hidrogênio (H2S), que posteriormente é
removido da mistura. Esse processo torna, naturalmente, o óleo diesel metropolitano mais
caro (OLIVEIRA, 2015).
Em janeiro de 2009, estava prevista a implantação da fase P6 do Proconve estabelecendo o
limite máximo de até 50 ppm de enxofre para o óleo diesel metropolitano e de até 1800 ppm
para o de interior. Porém, um atraso na especificação do S50 (denominação do óleo diesel 50
ppm), impossibilitou as metas definidas na fase P6 de serem atingidas dentro do prazo.
Diante disso, um termo de ajustamento de conduta entre as partes envolvidas estabeleceu uma
implantação gradual da fase P6 e, em consequência disso, o adiantamento da fase P7, em
vigor desde 1º de janeiro de 2012 (FETRANSPOR, 2010; IBAMA, 1998).
2.1.1.3 Tecnologia atual
O Proconve teve um papel essencial na diminuição dos níveis de teor de enxofre do óleo
diesel nos últimos anos, contribuindo significativamente para uma melhoria na qualidade do
ar das metrópoles brasileiras. A alta concentração óxidos de enxofre na atmosfera traz
prejuízos para o meio ambiente, por meio da acidificação de lagos e do solo, devido as
chuvas ácidas, e para as pessoas, em consequência do acúmulo de ácidos no corpo humano
(OLIVEIRA, 2015).
Por efeito dessa tendência de redução da concentração do enxofre no óleo diesel, a resolução
ANP nº31, publicada em 15/10/2009, regulamentou a especificação do óleo diesel com 10
ppm de enxofre, cuja comercialização passou a ser obrigatória a partir de 1º de janeiro de
2013, em substituição ao diesel metropolitano S50 (ANP, 2013).
30
Essa medida, que já era prevista para a atual fase do Provonve (P7), foi um marco nacional
importante na trajetória das reduções de emissões veículares, colocando a qualidade dos
combustíveis brasileiros no mesmo patamar tecnológico que a de países desenvolvidos6. Com
a produção do óleo diesel S10, o Brasil conclui o ciclo de aperfeiçoamento do óleo diesel em
relação à concentração de enxofre, alcançando os níveis mínimos especificado em qualquer
outra parte do mundo.
Diante da introdução do diesel S10 no mercado, além dos impactos positivos na questão das
emissões de poluentes por veículos automotores, outras consequências são esperadas na
capacidade brasileira de refino. Frente a restrição de parâmetros na especificação do óleo
diesel, a indústria do refino passa a consumir mais energia na sua produção, aumentando,
assim, a queima de combustível em suas instalações e, consequentemente, a emissão de
gases do efeito estufa (MELOROSE; PERROY; CAREAS, 2015; SZKLO; SCHAEFFER,
2007).
Além disso, outro impacto a ser destacado sobre à produção do óleo diesel S10 seria o
aumento dos custos de refino, resultando em aumento do preço de venda do combustível.
Para o óleo diesel S10 apresentar tais proporções de enxofre, ele precisa passar por processos
de hidrotratamento severo ou de hidrocraqueamento (BONFÁ, 2011). Esses processos
englobam diversos custos relacionados à modernização da tecnologia, à adaptação de
infraestrutura e a um maior consumo de energia. Consequentemente, a produção desse óleo
diesel torna-se mais cara, pressionando as distribuídoras à aumentarem o preço final de
revenda ao consumidor.
Por fim, outra questão a ser avaliada é a perda de rendimento associada à produção do óleo
diesel S10 nas refinarias. A imposição de especificações mais rígidas para o óleo diesel,
influencia diretamente o volume final produzido. A limitação de parâmetros em termos de
teor de enxofre, cortes de destilação, densidade e número de cetano, inviabiliza várias frações
6 Os padrões de qualidade do ar especificados pela atual fase do Proconve (P7) são similares à lesgislação em
vigor na Europa (Euro 5) (ROBERTO et al., 2014).
31
da destilação do petróleo de incorporarem o pool do diesel7, diminuindo o volume efetivo
desse combustível produzido nas refinarias (BONFÁ, 2011).
Em um mercado nacional já deficitário em óleo diesel, essa perda de rendimento na produção
das refinarias representa um impasse delicado para o país. Mesmo com a expansão da
infraestrutura do processamento de petróleo no Brasil, com o ajuste da faixa de destilação e o
consequente desvio de frações do refino, antes destinadas ao óleo diesel, para produtos menos
nobres, o país pode presenciar uma situação de oferta interna limitada de óleo diesel S10
(BONFÁ, 2011).
Vale ressaltar que mesmo recorrendo ao mercado internacional, esse déficit na produção de
óleo diesel S10 não seria simples de suprir, tendo em vista que a tendência mundial do
consumo desse combustível é aumentar, porém poucos países teriam capacidade de produzir
grandes quantidades em excedente para destinar ao mercado externo (BONFÁ, 2011).
2.1.2 Etanol
O etanol, ou álcool etílico, cuja fórmula molecular é C2H6O, é uma substância produzida a
partir da aplicação de uma cadeia de processos químicos sobre qualquer biomassa que
contenha quantidades significativas de açúcares, como a cana-de-açúcar, o milho, a beterraba,
a mandioca, dentre outras, sendo que, no Brasil, destaca-se como sua fonte de matéria-prima
a cana-de-açúcar (ANP, 2016).
O etanol é produzido com a finalidade de ser usado como combustível para motores de
combustão interna. Comparado aos tradicionais combustíveis de origem fósseis, destaca-se
por ser considerado renovável (sua matéria-prima é naturalmente reabastecida) e limpo (suas
emissões de CO2 são consideradas neutras, uma vez que já foram ou serão absorvidas no
plantio de sua matéria-prima).
Enquanto combustível, o etanol pode ser usado de duas maneiras: diretamente como
combustível na sua forma pura (etanol hidratado), disponível logo após ser destilado nas
usinas, com um teor mássico máximo de água de 4%, ou como aditivo (etanol anidro), em
7 Pool do diesel é composto pelas correntes intermediárias de uma refinaria que são misturadas em determinadas
proporções para compor o diesel entregue às distribuidoras de combustíveis.
32
mistura com outros combustíveis derivados do petróleo, após passar por um processo de
desidratação para eliminar o excesso de água, resultando em um concentração mássica
máxima de água de 0,7%, de acordo com a resolução ANP Nº 19, de 15 de abril de 2015.
Para a utilização do etanol hidratado é necessário o uso de tecnologias de motores dedicados
ou adaptados especificamente para esse fim. Diante das suas diferentes propriedades, são
inevitáveis alterações nos sistemas de alimentação de combustível e de ignição. Além disso,
devido ao alto teor de água misturado ao etanol, é fundamental que componentes do motor
em contato direto com o combustível recebam um revestimento anticorrosivo em suas
superfícies metálicas (CGEE; BNDES, 2008).
Com o avanço da tecnologia de motores dedicados ao etanol, esses impasses foram
superados e, portanto, o uso desses motores é uma realidade viável do ponto de vista técnico.
Contudo, o uso do etanol anidro ainda continua a ser a forma mais simples da utilização do
etanol como combustível no país, eliminando a necessidade de modificação dos motores
(CGEE; BNDES, 2008).
2.1.2.1 A produção de etanol
Em virtude da variedade de cultivos disponíveis como fonte de matéria-prima, foram
desenvolvidas diferentes rotas tecnológicas para a fabricação do bioetanol. Existem três rotas
principais cuja base da cadeia produtiva é fundamentada nos grupos de biomassa usados para
alimentá-las:
Produção à base de biomassa rica em amido; representada essencialmente pelos
Estados Unidos com culturas à base de milho;
Produção à base de biomassa rica em açúcar; cujo destaque é o Brasil, com base na
cultura da cana-de-açúcar;
Produção à base de biomassa rica em celulose, ainda não tão expressiva frente às
outras duas rotas (CGEE; BNDES, 2008; LARSEN; JOHANSEN; SCHRAMM,
2009).
Um resumo da cadeia produtiva dessas diferentes rotas é apresentado na Figura 1.
33
Figura 1: Rotas tecnológicas para a produção do etanol. Fonte: Horta (2008).
Ao se selecionar uma cultura como fonte de matéria-prima para a produção do etanol, é
importante levar alguns fatores em consideração. Primeiramente, mesmo se a produção for
tecnicamente viável para um cultivo, ela não será posta em prática, caso não haja viabilidade
econômica. A matéria-prima representa entre 60% e 70% do custo final do bioetanol (CGEE;
BNDES, 2008). Tal fato justifica a busca por culturas que minimizem esse custo.
Além disso, é pertinente fazer uma análise de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) das cadeias
produtivas relacionadas a cada biomassa usada na produção do bioetanol para contabilizar
seus diferentes impactos na sociedade e no meio ambiente. O ciclo de vida pode ser
entendido como o conjunto de processos envolvidos na fabricação de um produto. Logo, a
avaliação de um ciclo de vida busca quantificar tudo o que foi consumido e o que foi
produzido ao longo do processo em questão. Os resultados dessa análise fornecem
importantes indicativos de eficiência para a otimização do consumo de insumos, como
energia final, terra e água, e para a definição das cadeias que menos prejudicam o ambiente
no qual estão inseridas (GRISOLI, 2011; LASCALA, 2011).
Outro fator a se destacar é a possibilidade da existência de coprodutos e subprodutos com
34
valor agregado no mercado. Tal fato pode conferir à produção uma certa flexibilidade,
associando a disponibilidade de biocombustíveis a outras fontes de valor econômico e
protegendo os produtores de possíveis crises no setor (CGEE; BNDES, 2008).
Por fim, num cenário onde o etanol aparece como alternativa “limpa” para combustíveis
fósseis quanto às emissões de gases poluentes, é fundamental avaliar o potencial de redução
de emissões associado a cada rota de produção, isto é, o saldo líquido entre as emissões
realizadas e as evitadas durante as etapas de produção e uso do etanol (LARSEN;
JOHANSEN; SCHRAMM, 2009; SOARES et al., 2009).
Com base nos fatores citados acima, duas culturas se destacaram na produção do bioetanol: o
milho e a cana-de-açúcar. Dos 25,68 bilhões de galões produzidos no mundo em 2015, a
produção norte-americana, que usa principalmente o milho como matéria-prima, e a
brasileira, essencialmente a base de cana, representaram uma fração de 85% (RFA, 2016).
Por conta de sua enorme importância no contexto da produção do bioetanol, serão
comparados, a seguir, aspectos das tecnologias de produção envolvendo a cana-de-açúcar e o
milho.
Apesar das tecnologias de produção de etanol pela cana e pelo milho já estarem bem
desenvolvidas, atualmente, a rota via cana-de-açúcar é a forma mais eficiente de se produzir
etanol em termos econômicos e energéticos (LARSEN; JOHANSEN; SCHRAMM, 2009). A
explicação dessa condição se baseia em aspectos tais como o longo amadurecimento da
indústria canavieira propiciando uma maior eficiênica em seus métodos de produção, a alta
produtividade da cana e o relativamente menor consumo de energia para conversão da cana
em etanol (DA SILVA, 2011).
A Tabela 1 sintetiza alguns dados comparativos da produção de etanol pelas duas matérias-
primas.
35
Tabela 1: Comparação entre o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar e do milho.
Elaboração própria com base em Manochio (2014).
Parâmetro Cana-de Açúcar Milho
Produtividade média (t/ha) 60 - 120 7,5 - 10,0
Rendimento (l/ha) 5400 - 10800 3450 - 4600
Consumo total de energia (MJ/l) 2,57 21,20
Balanço energético
Gasta-se 1,0 unidade de energia fóssil
para a produção de 8,3 unidades de
energia de etanol
Gasta-se 1,0 unidade de energia fóssil
para a produção de 1,0 unidades de
energia de etanol
Emissão total da produção do
etanol (kg CO2 eq./l) 0,248 1,696
Emissões evitadas 89% -30% até 38%
O cultivo de cana, comparado ao de milho, também demanda uma menor aplicação de
fertilizantes no solo. Isso acontece devido ao uso da técnica de fertirrigação8 que reaproveita
alguns dos coprodutos gerados na produção do etanol como adubo natural para o solo,
diminuindo a necessidade do uso de nitrogênio e potássio sintéticos, como mostra a Tabela 2
(CGEE; BNDES, 2008; LASCALA, 2011).
Tabela 2: Demanda de fertilizantes. Fonte: Lascala (2011).
Fertilizante Unidade Milho Trigo Cana-de-açúcar
Potássio kg/t 7,85 0,95 0,29
Nitrogênio kg/t 12,21 19,31 0,87
Fósforo kg/t 5,91 11,89 0,31
Tendo em vista as vantagens da cana-de-açúcar como matéria-prima para a produção de
etanol e da enorme importância estratégica que ela representa para o Brasil, será discutida a
seguir, com mais detalhes, a rota de fabricação de etanol via cana como um todo, incluindo
desde seu plantio até seu processamento industrial.
No Brasil, o ciclo da cana dura em média 6 anos. Nos primeiros 12 ou 18 meses, dependendo
8 Aplicação da vinhaça e da torta do filtro, co-produtos da produção de etanol, no cultivo da cana de açúcar
(CGEE; BNDES, 2008; LASCALA, 2011).
36
do tipo de cana, seu cultivo passa por duas etapas: a primeira compreende a germinação e o
desenvolvimento da planta e ocorre na presença de clima quente e úmido. A segunda, que
ocorre em clima frio e seco, compreende o amadurecimento da planta e a concentração da
sacarose em seus colmos. Após esse período inicial, a cana-de-açúcar está preparada para seu
primeiro corte (CGEE; BNDES, 2008; SOARES et al., 2009).
Ao longo do seu ciclo, a cana-de-açúcar sofre outros cortes, sendo que após o primeiro, os
demais são feitos sobre a rebrota da cana, uma vez ao ano, com eventual perda de
produtividade. Por isso, em geral, após cinco cortes, a produtividade média anual é reduzida a
tal ponto que a continuidade dos cortes fica inviabilizada economicamente frente a uma
renovação da plantação, configurando-se, então, o início de um novo ciclo (CGEE; BNDES,
2008).
O sistema de colheita da cana utilizado na maioria do território nacional baseia-se na colheita
mecanizada. A previsão era que, em 2015, 97% dos canaviais do Centro-Sul do Brasil,
principal região produtora de cana-de-açúcar do país, utilizassem a colheita mecanizada
(UNICA, 2015). Esse sistema surge como alternativa à tradicional colheita manual que
incluia a prévia queima do canavial para facilitar o processo, mas que no entanto, era
responsável por quantidades expressivas de emissões de gases poluente e do efeito estufa
(ARAUJO; SEO, 2014; PALUDO, 2013).
A logística do transporte da cana até as usinas para a produção de etanol deve ser bem
planejada. Quanto mais demorado for esse trajeto, maior a porcentagem de perda de sacarose
devido ao maior tempo de exposição da cana à ação de enzimas nela presente. No Brasil, esse
transporte é realizado em geral por caminhões (GALDIANO, 2008; GRISOLI, 2011).
Ao chegar na usina, a cana passa por diversas etapas. Primeiramente, ela é lavada para
eliminar as impurezas e depois é encaminhada para o sistema de preparo e esmagamento,
onde o caldo rico em açúcares é extraído sob pressão em um sistema de rolos (moendas) ou
através de difusores. O caldo segue então para as próximas etapas, onde será processado para
a fabricação de açúcar ou etanol, enquanto o bagaço é estocado e posteriormente queimado
como combustível para produzir vapor que aciona turbinas gerando energia elétrica, em
unidades de cogeração, suficiente para alimentar a usina (DA SILVA, 2011; SOARES et al.,
2009).
37
O caldo destinado à produção de etanol é previamente tratado gerando a torta de filtro9, que
após recuperada será utilizada como adubo orgânico. O caldo tratado converte-se no mosto10,
que segue para as dornas de fermentação, onde é misturado às leveduras e fermentado dando
origem ao vinho. Esse vinho é encaminhado às colunas de destilação e retificação, onde o
álcool em sua composição é, então, recuperado na forma hidratada com aproximadamente
96% de pureza. No final dessa etapa, obtém-se a vinhaça, resíduo da extração do álcool do
vinho, que é utilizado como fertilizante orgânico. Por fim, o etanol hidratado produzido pode
ser estocado ou ainda passar por um processo de desidratação, originando o etanol anidro
com aproximadamente 99,7% de pureza (ARAUJO; SEO, 2014; CGEE; BNDES, 2008).
A Figura 2 apresenta de forma resumida o caminho pelo qual a cana-de-açúcar passa nas
usinas até sua transformação em açúcar ou etanol.
9 Um subproduto do processamento industrial da cana proveniente da filtração do caldo extraído das moendas.
10 Mistura líquida rica em açúcares reservada para o processo de fermentação.
38
Figura 2: Fluxograma da produção de açúcar e etanol de cana. Fonte: Seabra (2008).
2.1.2.2 A evolução do etanol no Brasil
Apesar de a década de 1920 marcar o início das atividades de produção de etanol no Brasil11,
foi durante a década de 1970 que importantes investimento no setor foram realizados. Até
então, diante do preço competitivo e da elevada oferta no mercado internacional, os
combustíveis fósseis estavam no centro dos interesses da política energética brasileira
(TONIN; TONIN, 2014).
Porém, em 1973, em protesto ao apoio dos Estados Unidos a Israel durante a Guerra do Yom
Kippur, os países árabes membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP), detentores da maior parcela da produção mundial de petróleo, aumentaram
11 Em 1925 foi desenvolvido o primeiro carro a álcool no Brasil e em 1927 começou a produção de etanol
combustível no país (PALUDO, 2013).
39
consideravelmente o preço do barril no mercado internacional. Essa mudança no panorama
internacional do petróleo, atingiu diretamente o Brasil, importador de petróleo na época (DA
SILVA, 2011; PALUDO, 2013).
Aliado a isso, a forte queda do preço do açúcar no mercado internacional a partir de 1974
culminou na criação do Programa Nacional do Álcool (Pro-Álcool) pelo Decreto-Lei
nº76.593 de 14 de novembro de 1975. O Programa tinha o objetivo de estimular a produção e
o consumo interno de álcool etílico no Brasil a fim de diminuir a dependência externa de
combustíveis fósseis, sem comprometer o abastecimento energético, e apoiar o
desenvolvimento tecnológico da indústria sucroalcooleira (OLIVEIRA; ZANIN, 2015).
A princípio, o programa dava ênfase à produção de etanol anidro, que deveria ser misturado à
gasolina para reduzir a importação desse combustível. Contudo em 1979, ocorre a segunda
crise do petróleo, decorrente da revolução islâmica no Irã, que desorganizou todo o setor
produtivo do país, resultando em uma nova explosão dos preços do petróleo. A partir daí,
inicia-se a segunda fase do Programa Pro-Álcool, com o objetivo agora de substituição por
completo do uso da gasolina pelo do etanol (DA SILVA, 2011; OLIVEIRA; ZANIN, 2015;
PALUDO, 2013).
Durante esse período o Brasil foi o maior produtor e consumidor de etanol no mundo
(GRISOLI, 2011). “A produção de etanol no período de 1975-76 foi de 600 milhões de litros;
no período de 1979-80 foi de 3,4 bilhões e de 1986-87 chegou a 12,3 bilhões de litros. Além
disso, no período entre 1983 e 1989, os carros movidos a etanol representavam mais de 95%
das vendas de veículos de passeio no Brasil” (DA SILVA, 2011).
Em contraste com esses anos de euforia, a partir de 1986, com a queda gradativa do preço
internacional do petróleo, começou a se instaurar uma crise no setor sucroalcooleiro. Com a
estabilização do mercado internacional e o aumento da produção interna de petróleo, reduziu-
se o interesse do governo em investir na produção de etanol. Além disso, o preço do açúcar
começava a se recuperar no mercado internacional, o que motivou cada vez mais os usineiros
a darem prefêrencia à produção de açúcar, desestabilizando ainda mais o mercado de etanol
(IPEA, 2010).
Porém, nos anos 2000, perante o aumento das preocupações de cunho ambiental e a uma
40
nova alta dos preços da gasolina, a produção nacional de etanol volta a ter um crescimento
expressivo. O auge da retomada desse crescimento ocorre em 2003, quando começam a ser
vendidos os primeiros veículos flex (capazes de funcionar com gasolina, etanol ou uma
mistura dos dois combustíveis em qualquer proporção) no Brasil, impulsionando novamente
o desenvolvimento do setor (DA SILVA, 2011; IPEA, 2010; PALUDO, 2013).
2.1.2.3 O mercado atual
Atualmente, o Brasil, com uma parcela de 28% da produção mundial, ocupa o posto de
segundo maior produtor de etanol no mundo, atrás somente dos Estados Unidos, que contam
com 57% da produção mundial (RFA, 2016b). É esperado para as próximas décadas um
ritmo de crescimento mais lento do uso do etanol, dependente, sobretudo, de incentivos
governamentais e de variações nos preços dos combustíveis fósseis. Projeções prevêem um
aumento de 3,71% da produção e 3,13% do consumo brasileiro até o ano de 2024
(OECD/FAO, 2015).
Com o objetivo de aumentar ainda mais a competitividade do etanol brasileiro, a indústria
sucroalcooleira tem tomado diversas medidas para aumentar a eficiência da produção e
reduzir os custos envolvidos. Mediante investimento em novas tecnologias, realização de
fusões e aquisições em busca de economias de escala e a verticalização de suas atividades, as
empresas têm realizados investimentos expressivos no setor, com o intuito de conter os gastos
e aumentar a produtividade (GORDINHO, 2010).
Esse panorama tem impuslionado o desenvolvimento de inovações tecnológicas no setor.
Dentre elas, uma especificamente tem se destacado: o etanol de segunda geração. Ele é
produzido a partir de qualquer biomassa celulósica, por meio de enzimas que transformam a
celulose em açúcar, que depois é fermentado para a geração de etanol. Na cana-de-açúcar, a
ideia é aproveitar os resíduos de bagaço e de palha, onde está concentrada a celulose da cana,
para produzir ainda mais etanol. Estima-se que o etanol 2G permitirá dobrar a quantidade de
etanol produzido, sem a necessidade de aumentar a área cultivada (CTC, 2016; ÚNICA,
2010).
Além dos fatores de cunho econômico, questões ambientais também têm motivado o aumento
dos investimentos na produção de etanol. Com a crescente preocupação mundial em relação à
41
poluição gerada pela queima de combustíveis fósseis, a utilização do etanol ganha cada vez
mais relevância, uma vez que ele pode ser considerado um combustível menos poluente.
Nesse contexo, surgem alguns importantes projetos que visam difundir a utilização do etanol
como combustível na sociedade, ampliando sua participação na matriz energética nacional.
Um projeto bem sucedido nesse propósito foi o projeto BEST (Bioethanol for Sustainable
Transport), cujo objetivo é promover a substituição do óleo diesel pelo etanol no transporte
por ônibus urbanos ao redor do mundo.
2.1.2.4 O etanol como alternativa ao óleo diesel
O projeto BEST (BioEthanol for Sustainable Transport) é a iniciativa de maior relevância no
mundo, tratando-se da substiuição do uso de óleo diesel pelo uso de etanol hidratado.
Coordenado pela prefeitura de Stockholm, na Suécia, e presente em nove cidades12 ao redor
do mundo, dentre elas, São Paulo, representando o Brasil, o projeto visa avaliar o
desempenho operacional e quantificar o nível de emissões de uma frota experimental de
ônibus movidos a etanol, em comparação com ônibus movidos a óleo diesel (DE OLIVEIRA;
AJEJE; MEDEIROS, 2012).
A frota experimental movida à etanol foi instrumentada e monitorada, para que, no final do
projeto, fosse avaliada a viabilidade do etanol, englobando aspectos técnicos, legais, socio-
econômicos e político-ambientais. As conclusões obtidas através do experimento podem
servir de base para o incentivo a políticas públicas que facilitem a difusão do etanol como
combustível nos transportes públicos urbanos (LASCALA, 2011).
Os resultados do projeto BEST apontam diversas vantagens para o uso do etanol em
substituição ao óleo diesel. A principal delas, que inclusive representa toda a motivação por
trás do projeto, é a redução das emissões de gases de efeito estufa e de efeito local,
contribuindo na melhoria da saúde da população em geral e no combate ao aquecimento
global.
Além desssa contribuição no âmbito ambiental, outros benefícios dessa substituição ainda
12 Estocolmo (Suécia), Madri e País Basco (Espanha), São Paulo (Brasil), La Spezia (Itália), Rotterdam
(Holanda), Somerset (Inglaterra), Dublin (Irlanda) e Nanyang (China) (LASCALA, 2011; SANTOS, 2012).
42
podem ser identificados. Um deles é que a expansão do setor sucroalcooleiro geraria
empregos diretos e indiretos no Brasil. Outro é que o uso do etanol não encontra barreiras
logísticas pois seu sistema de distribuição é compatível com o existentes para outros
combustíveis. Também é preciso mencionar que o etanol tem grande importância econômica
e estratégica para o Brasil, líder na sua produção via cana-de-açúcar no mercado externo.
Outro ponto a se considerar é que a difusão do uso do etanol diversfica a matriz de energia do
país contribuindo para a segurança energética nacional, particularmente ao reduzir as
importações de diesel S10 (LASCALA, 2011).
Entretanto, apesar das diversas vantagens relacionadas à substituição do uso do óleo diesel
pelo etanol, existem importantes barreiras tecnoeconômicas que dificultam a expansão da
utilização do etanol. Em primeiro lugar, como o poder calorífico inferior (PCI) do etanol
hidratado equivale a 6.300 kcal/kg, e sua densidade a 0,809 t/m3, e o PCI do óleo diesel é de
10.100 kcal/kg, e sua densidade de 0,840 t/m3 (ANP, 2015), tem-se que 1 m3 de óleo diesel
possui aproximadamente 66% a mais de energia que 1 m3 de etanol hidratado, implicando
comparativamente em um maior consumo de combustível por parte dos veículos movidos a
etanol (SANTOS, 2012).
Outro argumento relevante é a incompatibilidade tecnológica do etanol com os motores de
combustão interna por compressão originais, usados por grande parte da frota de ônibus do
país. A composição química do etanol, juntamente com suas características como
combustível são incompatíveis com os materiais de alguns componentes do motor e também
com seu funcionamento, o que pode acabar gerando falhas durante sua operação (SANTOS,
2012). Em consequência disso, para viabilizar a aplicação do etanol como um potencial
substituto do óleo diesel é necessário realizar adaptações seja no combustível ou nos motores
convencionais.
Em relação às questões econômicas, vale ressaltar que a utilização do etanol acarreta em um
maior dispêndio com o investimento inicial e em um aumento dos custos operacionais e de
manutenção, necessitando, pois, de incentivos fiscais para tornar seu uso viável e competitivo
(LASCALA, 2011; SANTOS, 2012). Entretanto, esse tema não será aprofundado nesse
trabalho.
43
2.2 Motores de Combustão Interna
Foi durante o século XIX que surgiram os primeiros motores à combustão interna. Em 1860,
o belga Lenoir registra a primeira patente desse tipo de motor. Era um motor de dupla ação,
ou seja, a combustão acontecia dos dois lados do pistão por meio de uma faísca. O controle
do fluxo de gases acontecia por meio de válvulas. A máxima potência e eficiência registradas
foram de 6 HP e 5%, respectivamente (HEYWOOD, 1988; TILLMANN, 2013)
Dois anos depois, em 1862, o francês Beau de Rochas idealiza o ciclo de operação de um
motor a quatro tempos, baseado no conceito da compressão do combustível dentro do cilindro
de combustão. Também publicou estudos apontando as condições sobre as quais seu motor
atingiria a máxima eficiência. Contudo, Beau de Rochas nunca conseguiu aplicar com
sucesso suas teorias, tal que não conseguiu desenvolver um motor real (GAY, 2011;
VARELLA, [s.d.]).
Esse motor só seria efetivamente fabricado em 1876 quando o engenherio alemão Nicolaus
Otto, baseado nos princípios previamente estabelecidos por Beau de Rochas, cria o motor que
herdaria seu nome. Seu motor contava com quatro cilindros e fazia uso de ignição por
centelha elétrica. Dentre os aproximadamente 5000 modelos produzidos, foi registrada uma
eficiência térmica máxima de 11% (HEYWOOD, 1988; RIBEIRO; GOMES, 2016).
Posteriormente, em 1892, outro engenheiro alemão, Rudolf Diesel, registra a patente do
conceito de um motor cuja ignição ocorre por meio da compressão e que apresentava diversas
vantagens teóricas. Porém, é apenas em 1897 que Diesel consegue desenvolver um motor
operacional, cuja eficiência o tornava viável para comercialização (RIBEIRO; GOMES,
2016; VARELLA, [s.d.]).
Os motores de combustão interna são máquinas cujo objetivo é a produção de potência
mecânica a partir da energia química contida nos combustíves. A liberação dessa energia
ocorre pela queima ou oxidação dos combustíveis no interior dos cilindros do motor. O
funcionamento dos motores de combustão é fundamentado em ciclos termodinâmicos, onde
se distinguem quatro fases: admissão, compressão, expansão e escape. Existem duas
principais classificações de motores quanto ao ciclo termodinâmico segundo o qual operam:
44
Motores do ciclo Otto e motores do ciclo Diesel (HEYWOOD, 1988; TILLMANN, 2013).
2.2.1 Motores do ciclo Otto
Nessa seção, será brevemente descrito o processo de funcionamento de um motor do ciclo
Otto segundo as quatros fases de seu ciclo termodinâmico.
Admissão: A admissão ocorre com o pistão inicialmente localizado no Ponto Morto
Superior (PMS), posição onde o volume do cilindro é mínimo, e a válvula de
admissão aberta. O pistão então se move em direção ao Ponto Morto Inferior (PMI),
posição onde o volume do cilindro é máximo, gerando uma baixa pressão no interior
do cilindro, responsável por aspirar a mistura de ar e combustível (ALVES, 2013;
RIBEIRO; GOMES, 2016; TILLMANN, 2013).
Compressão: Em seguida, com o cilindro já preenchido, a válvula de admissão se
fecha e o pistão começa a se mover do PMI em direção ao PMS, comprimindo a
mistura e elevando sua temperatura. Pouco antes do pistão completar o curso, um
dispositivo chamado vela gera uma centelha elétrica que dá início ao processo de
combustão da mistura (ALVES, 2013; RIBEIRO; GOMES, 2016; TILLMANN,
2013).
Expansão: Ao longo do processo de combustão da mistura, os gases produzidos pela
reação aumentam a pressão na câmara que empurra o pistão em direção ao PMI. Essa
fase também é conhecida como tempo motor, pois é a única fase do ciclo em que é
gerado trabalho pela ação das forças que a expansão dos gases exercem sobre o pistão
(ALVES, 2013; RIBEIRO; GOMES, 2016; TILLMANN, 2013).
Escape: Com o pistão no PMI e o cilindro preenchido com os gases da combustão,
abre-se a válvula de escape e o pistão move-se em direção ao PMS empurrando os
gases da combustão para fora do cilindro. Ao atingir o PMS, abre-se a válvula de
admissão e o ciclo recomeça (ALVES, 2013; RIBEIRO; GOMES, 2016;
TILLMANN, 2013).
O ciclo Otto descrito a cima é ilustado na Figura 3.
45
Figura 3: Fases do funcionamento de um motor do ciclo Otto. Fonte: Milhor (2002).
2.2.2 Motores do ciclo Diesel
Analogamente à seção anterior, será descrito na presente seção o processo de funcionamento
de um motor do ciclo Diesel conforme as quatros fases de seu ciclo termodinâmico.
Admissão: Esta fase é iniciada com o pistão no PMS e a válvula de admissão aberta.
Diferentemente dos motores de ciclo Otto, nos motores de ciclo Diesel, enquanto o
pistão desloca-se até o PMI gerando uma baixa pressão no cilindro, ao invés da
mistura ar/combustível, somente ar é aspirido para dentro do cilindro (GONÇALVES,
2016; LASCALA, 2011; RIBEIRO; GOMES, 2016; TILLMANN, 2013).
Compressão: A fase da compressão se incia quando o pistão atinge o PMI e a válvula
de admissão se fecha. A partir daí, o pistão começa a se mover em direção ao PMS
comprimindo o ar em seu interior. Essa taxa de compressão, ou seja, razão entre os
volume máximos e mínimos da câmara de combustão, em motores do ciclo Diesel
pode ser muito maior do que em motores do ciclo Otto. Por conta disso, a temperatura
do ar dentro da câmara pode chegar a 600ºC (GONÇALVES, 2016).
Expansão: Antes da chegada do pistão ao PMS, o combustível é injetado ou
pulverizado na câmara de combustão, por meio de um bico injetor, e ao entrar em
contato com o ar aquecido, inflama-se espontaneamente, dispensando o uso da faísca
elétrica. A expansão dos gases gerados na combustão empurra o pistão para baixo até
o PMI, gerando trabalho (GONÇALVES, 2016; LASCALA, 2011; RIBEIRO;
GOMES, 2016; TILLMANN, 2013).
46
Escape: Quando o pistão atinge o PMI, a válvula de escape se abre e o pistão volta a
subir em direção ao PMS empurrando os gases da combustão para fora do cilindro.
Ao atingir o PMS, a válvula de escape se fecha e abre-se a válvula de admissão,
recomeçando o processo (GONÇALVES, 2016; LASCALA, 2011; RIBEIRO;
GOMES, 2016; TILLMANN, 2013).
O ciclo Diesel descrito a cima é ilustado na Figura 4.
Figura 4: Fases do funcionamento de um motor do ciclo Diesel. Fonte: Gonçalves (2016).
2.3 Adaptações Tecnológicas Necessárias para a Utilisação do
Etanol como Combustível
Como dito anteriormente, para que seja possível a utilização eficiente do etanol como
combustível, sem que haja uma degradação precoce dos motores, são necessárias algumas
adaptações técnicas seja no etanol seja nos motores. Sem essas adaptações, nos motores do
ciclo Diesel, em especial, certas características do etanol inviabilizariam sua aplicação como
combustível.
Diferente dos motores do ciclo Otto, nos motores do ciclo Diesel a ignição se dá por meio da
auto-ignição do combustível. Isso só ocorre porque após ser comprimido, o ar atinge
47
temperaturas na câmara de combustão acima do ponto de fulgor 13 do combustível, que ao ser
injetado na câmara entra em ignição.
É importante ressaltar que a auto-ignição do combustível não é instantânea. Existe um certo
intervalo de tempo entre a injeção do combustível e o início da sua combustão, definido como
atraso de ignição. “Este atraso é conseqüência do tempo requerido para que ocorra:
pulverização; aquecimento e evaporação do combustível; sua mistura com o ar e finalmente
sua auto-ignição” (BR DISTRIBUIDORA, 2016).
Esse atraso na ignição é responsável pela determinação do número de cetano (NC), um fator
destinado à mensurar a qualidade da ignição de um combustível. Valores elevados de atraso
da ignição estão relacionados a baixos números de cetano, e consequentemente, a uma pior
qualidade de ignição do combustível, podendo ocasionar em um acúmulo de combustível não
queimado na câmara, que ao entrar em auto-ignição, fora do tempo ideal, provoca trepidação,
ruído excessivo e falhas no motor (MARTINS, 2011).
Por outro lado, se o atraso da ignição for muito baixo, caracterizando um alto número de
cetano, a combustão pode ocorrer antes que ocorra a mistura adequada entre o ar e o
combustível, resultando na ocorrência de combustão incompleta e, portanto, na emissão de
fumaça (MARTINS, 2011). Por isso, existe um valor ideal para o número de cetano, que
caracteriza o bom funcionamento de combustíveis em motores do ciclo Diesel.
De acordo com Pauferro (2012), para o óleo diesel, combustível usual dos motores do ciclo
Diesel, o número de cetano deve situar-se entre 40 e 55. O etanol, entretanto, possui número
de cetano entre 5 e 15, o que não é compatível com o ideal previsto para os motores do ciclo
Diesel. Sua utilização nessas condições implicaria em atrasos significativos na ignição
acarretando nas consequências já citadas anteriormente relativas a essa condição.
Diante dessa questão, serão apresentadas nos próximos tópicos possíveis soluções técnicas
para esse problema, visando a viabilização do etanol como um possível substituto do óleo
diesel em motores do ciclo Diesel.
13 Temperatura mais baixa na qual o combustível se vaporiza em quantidade suficiente para formar uma mistura
inflamável com ar (MARTINS, 2011).
48
2.3.1 Motor Otto com alta razão de compressão
Como uma primeira opção, será abordada a substituição do motor ciclo Diesel por um motor
ciclo Otto modificado.
Uma das principais diferenças entre os motores do ciclo Diesel e os do ciclo Otto é o
mecanismo pelo qual ocorre a ignição do combustível. Nos motores Diesel, a ignição ocorre
devido à auto-ignição do combustível, o que requer desses combustíveis características
específicas, como um alto número de cetano. Já nos motores Otto, a ignição é iniciada por
meio de uma centelha elétrica, decorrente de uma fonte externa, o que elimina a necessidade
de o combustível possuir propriedades de auto-ignição. Dessa forma, o baixo número de
cetano do etanol deixa de ser um empecilho para sua utilização como combustível.
Além disso, a utilização do etanol permite a realização de modificações nos motores do ciclo
Otto, visando o aumento de sua eficiência térmica, que não seriam possíveis com a gasolina,
combustível usualmente utilizado nesse tipo de motores. A superior octangem14 do etanol em
relação a gasolina, permite que em motores com tecnologia dedicada ao uso do etanol sejam
utilizadas maiores taxas de compressão (CARVALHO, 2011; HIGA, 2011; JEULAND;
MONTAGNE; GAUTROT, 2004).
De acordo com Tillmann (2013) “do ponto de vista termodinâmico, a taxa de compressão é
diretamente responsável pelo rendimento térmico do motor. Assim, quanto maior a taxa de
compressão, melhor será o aproveitamento energético que o motor estará fazendo do
combustível consumido”.
Por isso, além de resolver a questão concernente à baixa capacidade de auto-ignição do
etanol, a maior eficiência térmica relacionada ao uso de um motor do ciclo Otto com taxa de
compressão aumentada torna essa alternativa uma interessante opção nas possíveis rotas
tecnológicas da adaptação de motores para a utilização do etanol. Bakenhus e Brusstar
(2013), por exemplo, conseguiram, usando etanol em um motor com razão de compressão
14 É a propriedade que indica a compressão máxima que a mistura gasosa ar-combustível pode sofrer, sem que
ocorra sua auto-ignição espontânea. A octanagem mede, portanto, a resistência de um combustível a inflamar-se
espontaneamente (SZKLO, 2005).
49
19,5:1, alcançar eficiências térmicas acima de 42%.
Outra importante característica dos motores Otto com esse tipo de adaptação é sua maior
produção de potência em baixas velocidades quando se é usado etanol como seu combustível.
Esse aumento de potência se reflete em uma maior transmissão de torque, permitindo, dessa
forma, que esses motores possam substituir motores Diesel tradicionais em veículos pesados
de menor porte (KOZAK, 2012).
2.3.2 Motor Diesel bicombustível
Uma outra alternativa tecnológica é a utilização de motores Diesel bicombustível. Nesses
motores são usados como combustíveis tanto o óleo diesel quanto o etanol em diferentes
formas. O objetivo desses motores é a redução do consumo de óleo diesel através da sua
substituição parcial pelo etanol. Algumas das principais técnicas do uso do etanol em motores
Diesel bicombustível, disponíves na literatura, serão descritas nos itens abaixo.
2.3.2.1 Injeção de mistura etanol/óleo diesel
Essa técnica consiste na substituição da injeção de óleo diesel puro por uma mistura de óleo
diesel com etanol na câmara de combustão. Contudo, ela só é aplicável às misturas com
baixas concentrações de etanol, tipicamente a 20% v/v ou uma quantidade inferior
(EGÚSQUIZA, 2011). Isso ocorre, porque a mistura entre etanol e óleo diesel possui baixa
miscibilidade (PAUFERRO, 2012).
A baixa solubilidade dessas misturas afeta negativamente características essenciais dos
combustíveis, como lubricidade e viscosidade, podendo causar danos significativos nos
componentes dos motores, principalmente naqueles que compõem o sistema de injeção
(PAUFERRO, 2012). Além disso, com a diminuição da temperatura e o aumento do conteúdo
de água, essas misturas tendem à separação de fase. Nesses casos, pode-se recorrer ao uso de
emulsificantes, substâncias que promovem a estabilização e homogeinização de misturas
imiscíveis (EGÚSQUIZA, 2011).
50
2.3.2.2 Fumigação de etanol no coletor de admissão
Na técnica de fumigação ocorre a aspiração no coletor de admissão de uma pré-mistura de
etanol e ar, como ocorre em motores do ciclo Otto. Essa mistura é então comprimida e sua
queima ocorre com a injeção de uma quantidade de óleo diesel inferior ao que seria
necessário em um motor do ciclo Diesel tradicional, já que parte da energia requerida no
processo é fornecida pelo etanol (EGÚSQUIZA, 2011).
Algumas das principais vantagens associadas à essa técnica são: A redução de até 50% do
conteúdo energético do óleo diesel, a flexibilidade operacional, tendo em vista que o sistema
de injeção de etanol e óleo diesel são independentes e a simplicidade relativa à implantação
dessa técnica, que requer modificações mínimas no motor (EGÚSQUIZA, 2011).
2.3.2.3 Dupla injeção
A técnica da dupla injeção se baseia na utilização de dois sistemas independentes de injeção
(um de etanol e outro de óleo diesel), que injetam os dois combustíveis diretamente na
câmara de combustão, ao contrário da fumigação, onde o etanol é injetado no coletor de
admissão (EGÚSQUIZA, 2011).
A injeção do óleo diesel atua como ignição piloto e serve para iniciar o processo de ignição, o
que facilita a queima do etanol injetado posteriormente, gerando uma combustão mais
eficiente. Com essa técnica, é possível reduzir quantidades significativas do consumo do óleo
diesel nos motores (EGÚSQUIZA, 2011).
Os problemas associados a essa técnica resultam da complicada implantação de um segundo
sistema de injeção, que demanda um maior espaço físico para a instalação de seus
componentes, e da necessidade de proteger as peças do novo sistema de injeção contra o
potencial corrosivo do etanol (PAUFERRO, 2012).
2.3.2.4 Injeção de etanol no cilindro do motor no início do tempo de
compressão
Essa técnica é uma variação da técnica de dupla injeção, onde a injeção de etanol ocorre no
início da fase de compressão do cilindro. Forma-se, então, uma mistura de ar e etanol no
51
interior da câmara que, analogamente à técnica de fumigação, é comprimida e depois tem sua
combustão iniciada pela prévia auto-ignição de uma pequena quantidade de óleo diesel
injetado diretamente na câmara. A vantagem dessa técnica, que mescla características tanto
da fumigação, quanto da injeção dupla, está associada a possibilidade de injetar o etanol à
baixas pressões (PAUFERRO, 2012).
2.3.3 Motor Diesel com etanol aditivado
Direcionando o foco agora, não mais aos motores, mas sim ao etanol, uma outra alternativa é
a utilização de aditivos no etanol para conferir a esse combustível as características
necessárias para sua aplicação em motores do ciclo Diesel.
Como mencionado anteriormente, o baixo número de cetano do etanol representa um
empecilho para seu uso em motores de ignição por compressão. Logo, para que seja possível
o emprego do etanol nessa classe de motores, torna-se inevitável o uso de aditivos ignitores,
com o intuito de aumentar o número de cetano da mistura resultante, conferindo-lhe uma
melhor capacidade de auto-ignição (LASCALA, 2011; MOREIRA et al., 2008).
Além do uso de aditivos ignitores, o etanol utilizado em motores do ciclo Diesel dedicados ao
seu uso também deve conter em sua composição recuperadores de lubricidade e inibidores de
corrosão para preservar a vida útil dos componentes do motor (PAUFERRO, 2012).
A alternativa do etanol aditivado tem sido largamente utilizada ao redor do mundo. A Suécia
foi a pioneira na adoção dessa tecnologia, lançando em 1985 o projeto BEST, já citado
anteriormente. O projeto prevê a utilização de um motor diesel desenvolvido pela companhia
sueca Scania, com pequenas adaptações destinadas ao uso do etanol misturado ao
aditivo fabricado pela empresa sueca SEKAB e que compõe 5% do total de massa do
combustível (LASCALA, 2011; MOREIRA et al., 2008).
3 METODOLOGIA
Nesse trabalho serão avaliadas as performances das adaptações tecnológicas descritas acima
quanto a suas eficiências energéticas. Esses parâmetros serão quantificados pelas
metodologias apresentadas nesse capítulo e seus resultados irão compor os meios necessários
52
para definir quais das adaptações propostas seriam tecnicamente viáveis para implantação.
3.1 A Ferramenta PAMVEC
Os simuladores dinâmicos de veículos são ferramentas de modelagem que apresentam
resultados precisos e acurados, o que os torna ideais para simulações aprofundadas. Porém, a
necessidade de dados de entrada detalhados, a complexidade da ferramenta e o elevado custo
computacional associados a essas simulações produzem análises caras e longas (SIMPSON,
2005).
Como alternativa a essas ferramentas mais rebuscadas, Andrew Simpson (2005) desenvolveu
o PAMVEC (Parametric Analytical Model of Vehicle Energy Consumption), uma ferramenta
para a avaliação do desempenho energético de veículos. Os resultados de fácil interpretação e
os cálculos realizados de forma mais rápida conferiram a essa ferramenta uma execução mais
simplificada (SIMPSON, 2005).
Essas vantagens do PAMVEC só foram possíveis por conta da hipótese simplificadora de que
o fluxo de potência trativa reversível (relativo à inércia do veículo) pode ser modelado
separadamente do fluxo irreversível de potência (relativo ao arrasto do veículo). Porém essa
hipótese também é a principal responável pelo erro de predição dos resultados, que podem
chegar à ordem de até 20%, valor alto comparado ao máximo erro de 5% encontrado em
resultados fornecidos pelos simuladores dinâmicos. Apesar disso, os resultados de economia
relativa de combustível são bem acuradados, apresentando erros tipicamente menores que 5%
(SIMPSON, 2005).
Por esses motivos, foi escolhido para esse trabalho o PAMVEC como ferramenta básica de
análise de desempenho energético para avaliar as adaptações propostas na seção 2.3.
De forma resumida, as simulações ocorrem pela alimentação da ferramenta com dados de
entradas, detalhados na seção 4, usados para calcular, de forma analítica, a potência
necessária para o acionamento do veículo, o consumo de combustível e a eficiência do
sistema de propulsão. Um modelo ilustrativo do funcionamento dessa ferramenta é
apresentado pela Figura 5.
53
Figura 5: Modelo ilustrativo do funcionamento do PAMVEC. Fonte: Castro (2013).
3.2 Cálculos e Modelagens
3.2.1 Potência de tração
A modelagem paramétrica do consumo de energia do veículo se baseia na equação (3.1):
𝑃𝑡 = 𝑃𝑎𝑒𝑟𝑜 + 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 + 𝑃𝑐𝑖𝑛 + 𝑃𝑝𝑜𝑡 (3.1)
Onde:
Pt é a potência de tração (W);
Paero é a potência consumida devido à força de arrasto aerodinâmico (W);
Patrito é a potência dissipada através do atrito dinâmico do pneu com o solo (W);
Pcin é a potência devido à variação de energia cinética do veículo (W);
Ppot é a potência devido à variação de energia potencial (W).
Considerando que, durante as simulações, as variações líquidas de velocidade e de elevação
54
do veículo são nulas, pode-se desconsiderar os termos relativos às energias cinéticas e
potenciais. Já os termos relativos às potências consumidas pela forças de arrasto e de atrito
são definidos, respectivamente, pelas equações (3.2) e (3.3):
𝑃𝑎𝑒𝑟𝑜 =1
2𝐶𝐷𝜌𝑉3𝐴 (3.2)
Onde:
Paero é a potência consumida devido à força de arrasto aerodinâmico (W);
CD é o coeficiente de arrasto aerodinâmico;
ρ é a massa específica do ar (~1.2 kg/m3);
V é a velocidade instantânea do veículo (m/s);
A é a área frontal do veícula (m2).
𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 = 𝐶𝑟𝑟𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙𝑔𝑉 (3.3)
Onde:
Patrito é a potência dissipada através do atrito dinâmico do pneu com o solo (W);
Crr é o coeficiente de resistência ao rolamento;
mtotal é a massa total do veículo (kg);
g é a aceleração da gravidade (~9.81 m/s2);
V é a velocidade instantânea do veículo (m/s).
De forma a obter a potência média de tração, a velocidade instantânea e o cubo da velocidade
instantânea do veículo serão substituídos respectivamente pela velocidade média e o cubo da
velocidade cúbica média do veículo.
𝑉𝑚𝑒𝑑 = 1
𝑡𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜∫ 𝑉𝑑𝑡
𝑡𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜
0 (3.4)
𝑉𝑐𝑢𝑏 𝑚𝑒𝑑 = √1
𝑡𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜∫ 𝑉3𝑑𝑡
𝑡𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜
0
3 (3.5)
Onde:
Vmed é a velocidade média do veículo (m/s);
Vcub med é a velocidade cúbica média do veículo (m/s);
tciclo é o tempo total do ciclo (s);
V é a velocidade instantânea do veículo (m/s).
55
Aplicando as equações (3.2), (3.3), (3.4) e (3.5) em (3.1), obtém-se a equação da potência de
tração média do veículo:
𝑃�� = 1
2𝐶𝐷𝜌𝑉𝑐𝑢𝑏 𝑚𝑒𝑑
3 𝐴 + 𝐶𝑟𝑟𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙𝑔𝑉𝑚𝑒𝑑 (3.6)
3.2.2 Potência dissipada nos freios
A parametrização da potência dissipada pelos freios em arquiteturas veículares que contam
com motores de combustão interna é descrita de acordo com a equação (3.7):
𝑃𝑑𝑖𝑠𝑠 = 𝑘𝑚𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙𝑎𝑉 + 𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙𝑔𝑍𝑉 (3.7)
Onde:
Pdiss é a potência dissipada pelos freios (W);
km é o fator de momento de inércia do veículo, onde km =1,2, de acordo com Simpson (2005);
mtotal é a massa total do veículo (kg);
a é a aceleração instantânea do veículo (m/s2);
V é a velocidade instantânea do veículo (m/s);
g é a aceleração da gravidade (~9,81 m/s2);
Z é a elevação do veículo em relação ao referencial inicial (m).
Novamente, considerando a variação líquida de elevação nula, pode-se desconsiderar a
segunda parcela da lado direito da equação (3.7).
Agora, para obter potência dissipada em termos médios, a velocidade e a aceleração
instantâneas serão substituídos respectivamente pelas velocidade média e a aceleração
característica do veículo.
𝑎𝑐 =1
2∙
|𝑉𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙2 −𝑉𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙
2 |
𝑉𝑚𝑒𝑑𝑇 (3.8)
Aplicando-se as hipóteses consideradas e a equação (3.8) à equação (3.7), obtém-se a
equação da potência dissipada média do veículo:
𝑃𝑑𝑖𝑠𝑠 = 𝑘𝑚𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙𝑎𝑐𝑉𝑚𝑒𝑑 (3.9)
56
3.2.3 Potência dissipada pelo sistema de transmissão
A potência média dissipada pelo sistema de transmissão do veículo é expressa por:
𝑃𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠 =
1−𝜂𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠
𝜂𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠∙ (𝑃�� + 𝑃𝑑𝑖𝑠𝑠
) (3.10)
Onde:
ηtrans é a eficiência do sistema de transmissão.
3.2.4 Potência requerida pelo motor de combustão
A potência média requerida pelo motor de combustão interna é definida como o somatório
das potência apresentados nos itens 3.2.1, 3.2.2 e 3.2.3, além das potências dissipadas por
acessórios presentes no veículo, tais como, no caso de ônibus, o ar condicionado e outros
acessórios presentes no sistema elétrico e no sistema de acionamento das portas. Assim, a
equação geral para a potência requerida pelo motor de combustão é expressa por:
𝑃𝑚𝑐𝑖 = 𝑃�� + 𝑃𝑑𝑖𝑠𝑠
+ 𝑃𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠 + 𝑃𝑎𝑐𝑒𝑠𝑠
(3.11)
Onde:
𝑃𝑎𝑐𝑒𝑠𝑠 é a potência média consumida pelos acessórios (W).
3.2.5 Massa total do veículo
A massa total do veículo pode ser expressa por:
𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑚𝑐𝑎𝑟𝑟𝑜𝑐𝑒𝑟𝑖𝑎 + 𝑚𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 + 𝑘𝑒𝑠𝑡𝑚𝑝𝑟𝑜𝑝𝑢𝑙𝑠ã𝑜 (3.12)
Onde:
mcarroceria é a massa da carroceriado veículo (kg);
mcarga é a massa total da carga transportada pelo veículo (kg);
kest é o fator de massa adicional para suportar a carga adicional da estrutura do sistema de
propulsão, onde kest =1,1, de acordo com Simpson (2005);
mpropulsão é a massa do sistema de propulsão do veículo (kg).
A massa do sistema de propulsão pode ainda ser modelada a partir dos elementos que o
compõem:
57
𝑚𝑝𝑟𝑜𝑝𝑢𝑙𝑠ã𝑜 = 𝑚𝑐𝑜𝑚𝑏 + 𝑚𝑚𝑐𝑖 + 𝑚𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠 = 𝐸𝑐𝑜𝑚𝑏
𝐸𝐸𝑐𝑜𝑚𝑏+
𝑃𝑚𝑐𝑖
𝑃𝐸𝑚𝑐𝑖+
𝑃𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠
𝑃𝐸𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠 (3.13)
Onde:
mcomb é a massa de combustível (kg);
mmci é a massa do motor de combustão interna (kg);
mtrans é a massa do sistema de transmissão (kg);
Ecomb é a energia armazenada no combustível (Wh);
EEcomb é a energia escpecífica do combustível (Wh/kg);
Pmci é a potência do motor de combustão interna (W);
PEmci é a potência específica do motor de combustão interna (W/kg);
Ptrans é a potência do sistema de transmissão (W);
PEtrans é a potência específica do sistema de transmissão (W/kg).
3.2.6 Consumo de energia
O consumo de energia é um importante parâmetros na análise de eficiência energética do
veículo. Seu cálculo é definido pela expressão:
𝐸 = 𝑃𝑚𝑐𝑖
𝑉𝑚𝑒𝑑∙𝜂𝑚𝑐𝑖 (3.14)
Onde:
E é o consumo de energia (Wh/km);
𝑃𝑚𝑐𝑖 é a potência média requerida pelo motor de combustão interna (W);
Vmed é a velocidade média (km/h);
ηmci é o rendimento térmico do motor.
3.2.7 Rendimento veicular
O rendimento veicular é definido como a razão entre a potência média de tração e a potência
média requerida pelo motor de combustão:
𝜂𝑣𝑒í𝑐𝑢𝑙𝑜 = 𝑃𝑡
𝑃𝑚𝑐𝑖 (3.15)
Onde:
ηveículo é o rendimento veicular;
𝑃�� é a potência média de tração (W);
58
𝑃𝑚𝑐𝑖 é a potência média requerida pelo motor de combustão interna (W).
3.2.8 Consumo de combustível
No PAMVEC o cálculo do consumo de combustível é com referência à densidade energética
da gasolina, o que não é apropriado para esse trabalho. Por isso, ao invés da rotina do
PAMVEC, será implementada a equação 3.16 para o cálculo do consumo de combustível:
𝐶 = 𝐸
𝜌𝑒(3.16)
Onde:
C é o consumo de combustível (l/km);
E é o consumo de energia (Wh/km);
ρe é a densidade energética do combustível (Wh/l).
59
4 SIMULAÇÕES
Com o objetivo de comparar a performance energética das adaptações, propostas na seção
2.3, para o uso de etanol como combustível em ônibus urbanos, com a performance de um
ônibus convencional, foram realizadas quatro análises no PAMVEC: O caso base,
representado pela simulação de um motor Diesel utilizando 100% de óleo diesel como
combustível, e outras três análises representando as adaptações apresentadas: Motor Otto com
alta razão de compressão, motor Diesel bicombustível e o etanol aditivado. Essas análises
foram nomeadas em Caso 1, Caso 2, Caso 3 e Caso 4, respectivamente, e um resumo das suas
particularidades é apresentado na Tabela 3.
Tabela 3: Descrição resumida das análises realizadas no PAMVEC
ANÁLISE MOTOR COMBUSTÍVEL
Caso 1 Diesel Óleo Diesel
Caso 2 Otto Modificado15 Etanol Hidratado
Caso 3 Diesel Bicombustível Óleo Diesel e Etanol Hidratado
Caso 4 Diesel Etanol Hidratado Aditivado
Os dados de entrada necessários para a simulação das análises no PAMVEC serão
apresentados em dois grupos: Os dados de entrada gerais e específicos. Os dados de entrada
gerais, apresentados na seção 4.1, são relativos ao ônibus e ao ciclo de condução usados
como base das simulações e comum a todas as análises. Os dados de entrada específicos são
relativos aos motores e aos combustíveis, por isso são particulares para cada análise e serão
apresentados em suas respectivas seções.
Por fim, serão avaliados, para cada simulação, a potência requerida pelo motor de combustão,
o consumo de energia, o rendimento veícular e o consumo de combustível, parâmetros cuja
definição já foi apresentada na seção 3.2. Os resultados de cada análise serão apresentados
em suas respectivas seções.
É importante ressaltar que foi adotada a mesma hipótese para todas as simulações de que os
motores operam nas suas condições de máxima potência.
15 Motor Otto com alta razão de compressão.
60
4.1 Dados de Entrada Gerais
Os dados de entrada gerais foram subdivididos em quatro grupos, plataforma veicular,
objetivos de performance, ciclo de condução e sistema de transmissão, cujos parâmetros estão
apresentados respectivamente na Tabela 4, Tabela 5, Tabela 6 e Tabela 7.
Tabela 4: Dados de entrada gerais – Plataforma veicular
PLATAFORMA VEICULAR
Parâmetro Símbolo Valor Unidade Referência Massa da carroceria16 mcarroceria 11200 kg -
Fator de momento de inercia km 1,2 - (SIMPSON, 2005)
Fator de massa adicional kest 1,1 - (SIMPSON, 2005)
Área frontal A 6,93 m2 (MUTHUVEL et al., 2013)
Coeficiente de arraste aerodinâmico CD 0,53 - (PATIL et al., 2012)
Coeficiente de resistência ao rolamento Crr 0,008 - (MUTHUVEL et al., 2013)
Massa da carga total transportada17 mcarga 2730 kg -
Potência média consumida pelos acessórios 𝑃𝑎𝑐𝑒𝑠𝑠 19300 W (CAMPBELL; KITTELSON, 2009)
Tabela 5: Dados de entrada gerais – Objetivos de performance
OBJETIVOS DE PERFORMANCE
Parâmetro Valor Unidade Referência
Aceleração 18s @ 96.6 km/h - (FLEISHMAN; LEONHARDT, 2010)
Gradabilidade 5% @ 64.4 km/h - (FLEISHMAN; LEONHARDT, 2010)
Velocidade máxima 113 km/h (FLEISHMAN; LEONHARDT, 2010)
Autonomia 400 km (SAMWAYS; SANTOS; GROSSA, 2014)
16 Calculado com auxílio do PAMVEC a partir do valor de 13800kg, referente ao peso descarregado do modelo
de ônibus Citaro L (MERCEDES-BENZ, 2016a).
17 Esse valor foi encontrado multiplicando-se o número de assentos do ônibus estudado por Campbell e
Kittelson (2009), no caso 39 (incluindo o assento do motorista), pelo peso médio de um adulto, estimado em
70kg.
61
Tabela 6: Dados de entrada gerais – Ciclo de condução
CICLO DE CONDUÇÃO18
Parâmetro Valor Unidade Referência
Velocidade média 10.93 km/h (BARLOW et al., 2009; SIMPSON, 2005)
Razão de velocidades 1.75 - (BARLOW et al., 2009; SIMPSON, 2005)
Velocidade cúbica média 19.13 km/h (BARLOW et al., 2009; SIMPSON, 2005)
Aceleração característica 0.269 m/s2 (BARLOW et al., 2009; SIMPSON, 2005)
Abaixo, na Figura 6, é apresentada a curva de velocidade pelo tempo, que caracteriza o ciclo
de condução definido na
Tabela 6, evidenciando bem sua baixa velocidade média e sua característica “stop-and-go”.
Figura 6: Representação gráfica do ciclo de condução Manhattan Bus Cycle. Fonte: Barlow
et al. (2009).
18 Valores relativos ao ciclo de condução de ônibus de Manhattan (Manhattan Bus Cycle), desenvolvido com
base em padrões de condução observados em ônibus reais de trânsito urbano no centro de Manhattan, na cidade
de Nova York. O ciclo é caracterizado por paradas freqüentes e baixas velocidades.
62
Tabela 7: Dados de entrada gerais – Sistema de transmissão
SISTEMA DE TRANSMISSÃO19
Parâmetro Valor Unidade Referência
Potência específica 1210 W/kg (MERCEDES-BENZ, 2016a)
Eficiência20 90 % -
Número de marchas 6 - (MERCEDES-BENZ, 2016a)
Máxima relação de
transmissão
6.7 - (MERCEDES-BENZ, 2016a)
4.2 Caso 1
O Caso 1 consitui a simulação no PAMVEC do ônibus cujas características gerais foram
definidas na seção 4.1 com um motor Diesel convencional movido a óleo diesel. Trata-se,
portanto, do caso base. As características do motor e do combustível estão apresentadas
respectivamente na Tabela 8 e Tabela 9.
Em seguida, na Tabela 10, são apresentados os resultados da simulação desse modelo para os
parâmetros determinados na seção 4. Esses resultados servirão de base de comparação para o
resultado das análises do Caso 2, Caso 3 e Caso 4.
4.2.1 Dados de entrada específicos
Tabela 8: Dados de entrada específicos – Motor – Caso 1
MOTOR
Parâmetro Valor Unidade Referência
Potência específica21 308,8 W/kg (MERCEDES-BENZ, 2016a)
Eficiência 44 % (NORDSTRÖM, 2007)
19 Valores relativos ao modelo G 90-6S do catálogo da Mercedes-Benz, considerando uma rotação do motor de
1600 rpm.
20 Valor assumido.
21 Valores relativos ao modelo OM 470 do catálogo da Mercedes-Benz, considerando uma rotação do motor de
1600 rpm.
63
Tabela 9: Dados de entrada específicos – Combustível – Caso 1
COMBUSTÍVEL
Parâmetro Valor Unidade Referência
Energia específica 42258 kJ/kg (ANP, 2015)
Massa específica 0,840 kg/l (ANP, 2015)
4.2.2 Resultados
Tabela 10: Resultados – Caso 1
Parâmetro Valor Unidade
Potência requerida pelo motor de combustão 526,0 kW
Consumo de energia 8,75 kWh/km
Eficiência veicular 4,5 %
Consumo de combustível 0,89 l/km
4.3 Caso 2
Na simulação do Caso 2, foi utilizado o mesmo ônibus do Caso 1, mas utilizando agora um
motor Otto com alta razão de compressão e como combustível etanol hidratado. As
características do motor e do combustível estão apresentadas respectivamente na Tabela 11 e
Tabela 12.
Por falta de dados disponíveis na literatura do valor de potência específica de motores Otto
modificados para obter uma alta razão de compressão, foi adotada a potência específica de
um modelo Flex22 original, com razão de compressão de 12.4:1. Dessa forma, os resultados
dessa análise, apresentados na Tabela 13, podem apresentar uma certa discrepância em
relação ao comportamento real desse tipo de motores.
22 Motor Otto movido à álcool ou à gasolina.
64
4.3.1 Dados de entrada específicos
Tabela 11: Dados de entrada específicos – Motor – Caso 2
MOTOR
Parâmetro Valor Unidade Referência
Potência específica 74,9 W/kg (CARVALHO, 2011b)
Eficiência 35 % (NORDSTRÖM, 2007)
Tabela 12: Dados de entrada específicos – Combustível – Caso 2
COMBUSTÍVEL
Parâmetro Valor Unidade Referência
Energia específica 23359 kJ/kg (ANP, 2015)
Massa específica 0,809 kg/l (ANP, 2015)
4.3.2 Resultados
Tabela 13: Resultados – Caso 2
Parâmetro Valor Unidade
Potência requerida pelo motor de combustão 875,6 kW
Consumo de energia 15,23 kWh/km
Eficiência veicular 4,3 %
Consumo de combustível 2,90 l/km
4.4 Caso 3
No Caso 3, a simulação foi realizada considerando um motor Diesel bicombustível movido a
óleo diesel e etanol hidratado. O motor estudado por Situ et al. (2013) utiliza a técnica da
fumigação no coletor de admissão para adicionar o etanol.
Nesse estudo de Situ et al. (2013) foram avaliadas diversas configurações de proporção de
etanol na mistura final de combustível. Dessas configurações foi adotada para essa simulação
a com maior proporção de etanol, no caso, 36,2% (em base energética) que, de acordo com os
resultados encontrados por Situ et al., permite o motor atingir uma eficiência térmica de
65
37,1%, supondo uma rotação de 1500 rpm (próximo dos 1600 rpm, considerados nas outras
análises). As características do motor estão apresentadas na Tabela 14.
O combustível considerado na simulação é uma mistura de 36,2% de etanol hidratado e
63,8% de óleo diesel em base energética. Como o autor não forneceu dados de energia e
massa específicas equivalentes, referente a essa mistura, as características do combustível
apresentadas na Tabela 15 foram calculadas de acordo com as equações 4.1, 4.2 e 4.3,
consequência da aplicação dos teoremas de conservação de massa, volume e energia.
𝜌𝑚𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 =
𝜌𝑚𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙∙𝜌𝑚
𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙
0.638∙𝜌𝑚𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙+0.362∙𝜌𝑚
𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 (4.1)
Onde:
𝜌𝑚𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 é a energia específica da mistura em base mássica (kJ/kg);
𝜌𝑚𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 é a energia específica do etanol hidratado em base mássica (kJ/kg);
𝜌𝑚𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 é a energia específica do óleo diesel em base mássica (kJ/kg).
𝜌𝑣𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 =
𝜌𝑣𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙∙𝜌𝑣
𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙
0.638∙𝜌𝑣𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙+0.362∙𝜌𝑣
𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 (4.2)
Onde:
𝜌𝑣𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 é a energia específica da mistura em base volumétrica (kJ/l);
𝜌𝑣𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 é a energia específica do etanol hidratado em base volumétrica (kJ/l);
𝜌𝑣𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 é a energia específica do óleo diesel em base volumétrica (kJ/l).
𝜌𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 = 𝜌𝑣
𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎
𝜌𝑚𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 (4.3)
Onde:
𝜌𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 é a massa específica da mistura (kg/l).
Os resultados da simulação do Caso 3 estão apresentados na Tabela 16.
66
4.4.1 Dados de entrada específicos
Tabela 14: Dados de entrada específicos – Motor – Caso 3
MOTOR
Parâmetro Valor Unidade Referência
Potência específica 126.8 W/kg (GHOMASHI, 2013)
Eficiência 37,1 % (SITU et al., 2013)
Tabela 15: Dados de entrada específicos – Combustível – Caso 3
COMBUSTÍVEL
Parâmetro Valor Unidade Referência
Energia específica 32685 kJ/kg -
Massa específica 0,824 kg/l -
4.4.2 Resultados
Tabela 16: Resultados – Caso 3
Parâmetro Valor Unidade
Potência requerida pelo motor de combustão 644.3 kW
Consumo de energia 11,73 kWh/km
Eficiência veicular 4,1 %
Consumo de combustível 1,57 l/km
4.5 Caso 4
Para a simulação do Caso 4, foi adotado o mesmo motor Diesel adotado no Caso 1, ou seja,
com a mesma potência específica, mas utilizando como combustível o etanol aditivado,
alterando, assim, a eficiência em relação ao Caso 1, como previsto por Nordström (2007). As
características do motor estão apresentadas na Tabela 17.
As características particulares do etanol aditivado, apresentadas na Tabela 18, e sua
composição podem ser encontradas no site da Advanced Motor Fuels (AMF), um programa
de colaboração de tecnologia com a Agência Internacional de Energia (IEA).
67
Os resultados da simulação do Caso 4 estão apresentados na Tabela 19.
4.5.1 Dados de entrada específicos
Tabela 17: Dados de entrada específicos – Motor – Caso 4
MOTOR
Parâmetro Valor Unidade Referência
Potência específica23 308,8 W/kg (MERCEDES-BENZ, 2016a)
Eficiência 43 % (NORDSTRÖM, 2007)
Tabela 18: Dados de entrada específicos – Combustível – Caso 4
COMBUSTÍVEL
Parâmetro Valor Unidade Referência
Energia específica 24700 kJ/kg (IEA-AMF, [s.d.])
Massa específica 0,820 kg/l (IEA-AMF, [s.d.])
4.5.2 Resultados
Tabela 19: Resultados – Caso 4
4.6 Comparação de Resultados
Nesta seção, os resultados obtidos nas simulações do Caso 1, Caso 2, Caso 3 e Caso 4,
apresentados respectivamente nas seções 4.2.2, 4.3.2, 4.4.2 e 4.5.2, foram agrupados por
parâmetro avaliado, com o intuito de favorecer a comparação da performance energética dos
pares motor/combustível alternativos com o caso base do ônibus com motor Diesel movido a
23 Valores relativos ao modelo OM 470 do catálogo da Mercedes-Benz e considerando uma rotação do motor de
1600 rpm.
Parâmetro Valor Unidade
Potência requerida pelo motor de combustão 534,4 kW
Consumo de energia 9,03 kWh/km
Eficiência veicular 4,4 %
Consumo de combustível 1,61 l/km
68
óleo diesel.
Além disso, na seção 4.6.5, é introduzida a comparação da economia de óleo diesel, em base
energética, dos casos alternativos em relação ao caso base, de forma a indicar o quanto de
óleo diesel deixa de ser consumido pela substituição pelo uso do etanol.
4.6.1 Potência requerida pelo motor
No Gráfico 4 são apresentados os resultados das simulações para a potência requerida pelo
motor. O Caso 1 foi tomado como base de comparação para os outros resultados e por isso
lhe foi atribuído o valor de 100%. O Caso 2 foi o que apresentou o maior valor de potência
requerida pelo motor em relação ao Caso 1, enquanto o Caso 4 foi o que apresentou o menor,
com uma ligeira variação de 1.6%.
Esses resultados são influencia principalmente da eficiência do motor de combustão, em uma
relação inversamente proporcional. Enquanto no Caso 4, a eficiência do motor é 2,3% menor
do que a eficiência do motor do Caso 1, no Caso 2, essa eficiência é 20.5% menor.
Gráfico 4: Comparação dos resultados de potência requerida pelo motor em relação ao caso
base (100%).
4.6.2 Consumo de energia
No Gráfico 5 são apresentados os resultados das simulações para o consumo de energia. O
Caso 1 foi tomado como base de comparação para os outros resultados e por isso lhe foi
100.0%
166.5%
122.5%
101.6%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
120.0%
140.0%
160.0%
180.0%
200.0%
Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4
Comparação dos resultados de potência requerida pelo motor em relação ao caso base
69
atribuído o valor de 100%. O resultado observado é similar ao obtido na seção 4.6.1 com a
potência requerida pelo motor: O Caso 2 apresentando o maior consumo de energia em
relação ao Caso 1 e o Caso 4 o menor. Isso ocorre porque o consumo de energia é
proporcional à potência requerida pelo motor. Logo, é esperado que o Gráfico 5 reproduza o
mesmo comportamento do Gráfico 4.
Gráfico 5: Comparação dos resultados de consumo de energia em relação ao caso base
(100%).
4.6.3 Eficiência veicular
Os resultados das simulações para a eficiência veicular são apresentados no Gráfico 6. O
parâmetro de eficiência veicular depende, em geral, das caraterísticas do veículo como um
todo, sobretudo dos dados de entrada gerais do ônibus. Por isso, como foram utilizados os
mesmos dados de entrada gerais para todas as simulações, não se observa variações
significativas entre os resultados desse parâmetro. A maior variação apresentada é de 8,9%,
referente ao Caso 3.
100.0%
174.1%
134.1%
103.2%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
120.0%
140.0%
160.0%
180.0%
200.0%
Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4
Comparação dos resultados de consumo de energia em relação ao caso base
70
Gráfico 6: Comparação dos resultados de eficiência do veículo em relação ao caso base
(100%).
4.6.4 Consumo de combustível
O Gráfico 7 apresentada os resultados de consumo de combustível. Mais uma vez, o Caso 1
foi tomado como base comparativa, atribuindo-lhe o valor de 100%. Percebe-se que o Caso 2
se destaca dentre os outros pelo consumo de combustível muito mais elevado, cerca de 3
vezes maior do que o caso base. Esse comportamento é consequência de dois fatores: O alto
consumo de energia requerido pelo veículo do Caso 2 e a baixa energia específica do
combustível utilizado, no caso, etanol hidratado.
Os resultados de consumo de combustível para o Caso 3 e o Caso 4 ficaram bem próximos,
com uma variação de 2,6% do Caso 4 para o Caso 3. Isso pode ser explicado porque o maior
consumo de energia do Caso 3 foi equilibrado com a utilização de um combustível (A
mistura de etanol hidratado e óleo diesel) com energia específica maior do que a do etanol
hidratado. De forma semelhante, apesar de o Caso 4 apresentar uma menor necessidade de
consumo de energia, a utilização do etanol hidratado como combustível, que possui menor
energia específica, provocou um aumento no consumo final de combustível, colocando os
resultados desse parâmetro para o Caso 3 e o Caso 4 em patamares similares.
100.0%95.6%
91.1%97.8%
0.0%
20.0%
40.0%
60.0%
80.0%
100.0%
120.0%
Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4
Comparação dos resultados de eficiência do veículo em relação ao caso base
71
Gráfico 7: Comparação dos resultados de consumo de combustível em relação ao caso base
(100%).
4.6.5 Economia de óleo diesel
Nesta seção, será introduzido um novo parâmetro para comparação: A economia de óleo
diesel, isto é, a redução na quantidade de óleo diesel consumida pelo veículo em base
energética. No Gráfico 8, onde são apresentados os resultados, a série em azul apresenta o
consumo de óleo diesel, enquanto a série em verde apresenta sua economia. Para o Caso 1,
por exemplo, onde a composição energética do combustível é de 100% de óleo diesel, atribui-
se uma economia de 0%. No Caso 2 e no Caso 4, como o óleo diesel não constitui nenhuma
porcentagem da composição do combustível, a economia de óleo diesel é de 100%.
100.0%
325.8%
176.4% 180.9%
0.0%
50.0%
100.0%
150.0%
200.0%
250.0%
300.0%
350.0%
Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4
Comparação dos resultados de consumo de combustível em relação ao caso base
72
Gráfico 8: Comparação dos resultados de consumo de óleo diesel e etanol em base
energética.
5 CONCLUSÕES
5.1 Considerações Finais
Os resultados exibidos na seção 4.6 demonstraram que os ônibus que dispunham de um
sistema motor/combustível alternativo apresentaram de forma integral uma deteriorização de
sua performance energética, quando comparados ao tradicional sistema de propulsão
constituído pelo motor Diesel utilizando óleo diesel como combustível. Esses resultados já
eram, contudo, esperados, tendo em vista que a substituição do óleo diesel por um
combustível com menor densidade energética culminaria, naturalmente, em uma queda de
performance.
Apesar de não desejada, essa queda de performance é uma consequência necessária em prol
da promoção do objetivo final desse trabalho, isto é, a redução do consumo de óleo diesel,
confirmado na seção 4.6.5. Todas as alternativas sugeridas obtiveram êxito na proposta de
reduzir o consumo de óleo diesel, sendo que em alguns casos, foi demonstrado que, com a
utilização do etanol, é possível atingir uma economia de até 100% no consumo de óleo diesel.
A importância desses resultados se ratifica quando considerados os diversos transtornos, já
discutidos na seção 1.1, relacionados ao consumo do óleo diesel. Primeiramente, é essencial
100.0%
63.8%
100.0%
36.2%
100.0%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4
Comparação dos resultados de consumo de óleo diesel e etanol em base energética
Óleo Diesel Etanol Hidratado
73
lembrar que o Brasil ainda não é autosuficiente na produção de óleo diesel e que essa
realidade pode torna-se ainda mais distante ao se considerar a ampliação da obrigatoriedade
do uso de óleo diesel S10 pelo país. Além disso, diante de um mundo cada vez mais
consciente e preocupado com as condições ambientais do planeta, devido ao agravamento do
fenômeno do aquecimento global nos últimos anos, existe uma pressão cada vez maior para o
a redução do uso de combustíveis fosséis. Fora isso, ainda há uma crescente mobilização por
parte da sociedade contra os poluentes emitidos pela queima de oléo diesel, responsáveis por
degradar a qualidade do ar nos grandes centros urbanos, prejudicando a saúde da população.
Os fatores descritos acima reiteram o porquê da redução do consumo de óleo diesel ser tão
importante, demonstrando a relevância desse estudo. A substituição do óleo diesel por etanol
nas frotas de ônibus é uma prática que já foi implementada em outros países, portanto, viável,
e que tem um potencial poder de redução do consumo de óleo diesel em larga escala.
Considerando os aproximadamente 20.000 veículos que compuseram a frota média municipal
e intermunicipal de ônibus da região metropolitana do Rio de Janeiro em 2015 percorrendo
no total uma média mensal de cerca de 151 milhões de quilômetros (FETRANSPOR, 2015),
seria possível obter uma redução de aproximadamente 20 mil m3 no consumo mensal de óleo
diesel, quando utilizado o sistema simulado no Caso 3, e de aproximadamente 135 mil m3 no
consumo mensal, quando utilizados os sistemas simulados no Caso 2 e no Caso 4, cuja
economia de óleo diesel era de 100%.
Os dados dados acima demosntram que, mesmo face a uma piora da performance energética
dos veículos, a substituição do óleo diesel pelo etanol, como combustível nas frotas de
ônibus, é uma iniciativa que deve ser considerada como uma solução viável para resolver o
problema do consumo elevado de óleo diesel no país.
5.2 Sugestão de Trabalhos Futuros
Esse projeto final teve como objetivo apresentar e simular possíveis alternativas tecnológicas,
baseadas na utilização do etanol como combustível em sistemas de propulsão de ônibus
urbanos, de forma a reduzir o consumo de óleo diesel. Os resultados obtidos comprovaram
que as tecnologias propostas são viáveis, tendo em vista, que foram eficientes no ponto de
vista da redução da utilização de óleo diesel.
74
O tema abordado abrange uma vasta gama de possibilidades para a expansão do presente
estudo, já que, ainda existem outras tecnologias a serem estudadas e oportunidade de
aprofundamento e diversificação das simulações. Por isso sugere-se como tema para a
continuação desse estudo as seguintes opções:
Abordagem e investigação dos resultados na redução do consumo de óleo diesel para
outras tecnologias não simuladas nesse projeto final, como por exemplo, outras
configurações de tecnologias de motor Diesel bicombusível;
Análise quantitativa das emissões de gases de efeito estufa e de efeito local para as
combinações de combustíveis e motores propostas nesse trabalho;
Avaliação das reduções para a aplicação de outros ciclos de condução, com
características de trânsito diferentes do apresentado, incluíndo ciclos de condução
reais de cidades brasileira, para encontrar resultados mais próximos com a realidade
do país;
Verificação dos resultados dos ônibus para a utilização, como seu combustível, de
misturas diesel-biodiesel-etanol em diferentes proporções;
Introdução de uma análise econômico-financeira da implantação das tecnologias
alternativas propostas, considerando o preço dos combustíveis e os diversos custos
envolvidos.
75
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