avaliação do convênio ates/incra na região de cornélio procópio · [2] manuel pessoa de lira...

60
[1] Curso de Especialização em Administração Pública para Gestores do Sistema Estadual de Agricultura Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio MANUEL PESSOA DE LIRA ORIENTADOR: PROF. DR. FÁBIO LANZA 2011

Upload: phungque

Post on 08-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[1]

Curso de Especialização em Administração Pública para Gestores do Sistema Estadual de Agricultura

Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio

MANUEL PESSOA DE LIRA

ORIENTADOR: PROF. DR. FÁBIO LANZA

2011

Page 2: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[2]

MANUEL PESSOA DE LIRA

AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Especialização em Administração Pública para Gestores do Sistema Estadual de Agricultura, do Departamento de Administração da UEL, como requisito final para obtenção do título de Especialista. Orientador: Prof. Dr. Fábio Lanza

LONDRINA

2011

Page 3: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[3]

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho à família e também a

todos aqueles que acreditam na ideologia dos movimentos

agrários e na divisão mais humanitária da terra.

Page 4: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[4]

AGRADECIMENTOS

Para a realização desse trabalho, agradeço primeiramente a Deus pela

força e perseverança a que Ele me destinou e por voltar ao meio acadêmico.

Agradeço também à minha família: minha esposa Neila e aos meus

filhos Marcos e Muriel pelo apoio dado e pela compreensão do tempo ausente

devido às aulas e outros compromissos acadêmicos e profissionais.

Faço questão de registrar também a todos os professores e amigos de

classe que me acompanharam durante esse curso pelo intercâmbio de

experiências e conhecimento. Em especial ao professor doutor Fábio Lanza

pelas orientações que foram muito enriquecedoras e pela compreensão e

acompanhamento desprendidos para a realização dessa pesquisa.

Também não poderia deixar de agradecer aos trabalhadores sem-terra

com os quais tive contato durante a realização dessa pesquisa. Essas pessoas

foram peças fundamentais para a execução da pesquisa.

Page 5: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[5]

“É a parte que te cabe deste latifúndio É a terra que querias ver dividida”

CHICO BUARQUE DE HOLANDA E JOÃO CABRAL DE MELLO NETO

Page 6: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[6]

LIRA; Manuel Pessoa de. Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Admisnistração Pública em Gestores dos Sistemas Estaduais da Agricultura. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.

RESUMO

Essa pesquisa tem como objetivo analisar e avaliar a satisfação, por parte das

famílias integrantes do Movimento dos Sem-terra (MST), do convênio do

Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental (ATES/Incra)

desenvolvido na região de Cornélio Procópio (PR), tendo como referência o

assentamento Carlos Lamarca, o maior da região, localizado na cidade de

Congonhinhas PR. Para isso, foram aplicados questionário para analisar o grau

de satisfação do programa desses trabalhadores, aliada com revisão

bibliográfica para verificar situações histórias, sociais e econômicas que

envolvem a extensão rural e os assentamentos vinculados ao MST.

Palavras-chaves: assentamento, MST, Congonhinhas, ATES/Incra

Page 7: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[7]

ABSTRACT

This research has like objective analyses and appraises the approval, by

families from Movimento dos Sem-terra (MST), the project Programa de

Assessoria Técnica, Social e Ambiental (ATES/Incra), developed in Cornélio

Procópio (PR) region, having like referencial Carlos Lamarca settlement, the

biggest of region, localizated in Congonhinhas. For this, questionnaire was

apllicated for analysing the workers‟ grade of satisfaction by the program, allied

a bibliography review to examine historic, socials and economic situations about

rural extension anda MST settlement.

Words-key: settlement, MST, ATES/Incra, Congonhinhas

Page 8: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[8]

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Condição de ocupação das terras (Brasil – 2006)............................44

Tabela 2. Descrição da Metodologia

Utilizada.............................................................................................................54

Tabela 3. Renda Familiar..................................................................................57

Tabela 4.Cultura cultivada.................................................................................58

Tabela 5. Escolaridade......................................................................................60

Page 9: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[9]

Lista de Abreviaturas e Siglas

ABCAR Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural

Acarpa Associação de Crédito e Assistência Técnica do Paraná

ATES Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental

Banestado Banco do Estado do Paraná

Conama Conselho Nacional do Meio Ambiente

CPT Comissão Pastoral da Terra

Emater Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural

Embrater Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural

ETA Escritório Técnico de Agricultura

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Incra Instituto de Colonização e Reforma Agrária

LIO Licença de Instalação e Operação

MST Movimento dos Sem-terra

PB Paraíba

PR Paraná

PRA Plano de Recuperação de Assentamento

Seab Secretaria do Estado da Agricultura e do Abastecimento

Supra Superintendência da Política Agrária

UBS Unidade Básica de Saúde

Page 10: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[10]

SUMÁRIO

1.Introdução.......................................................................................................21

2. Panorama Histórico.......................................................................................28

2.1 Movimentos Sociais e Luta de Classes.............................................31

2.2 Reforma Agrária................................................................................28

2.3Trabalhadores Sem-terra e Movimento dos Sem-terra

(MST).......................................................................................................................... 39

3. Extensão Rural no Brasil...............................................................................47

3.1 EMATER – Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do

Paraná...............................................................................................................49

3.1.1 Projeto de Prestação de Serviço de Assessoria Técnica Social e

Ambiental (ATES) pelo Programa Nacional de Reforma Agrária no Estado do

Paraná...............................................................................................................51

3.1.2Metodologia Aplicada ao Programa

ATES..................................................................................................................53

4. Reconhecendo o Assentamento Carlos Lamarca, Congonhinhas

(PR)....................................................................................................................55

4.1 O Perfil dos Sujeitos e as Condições Sócio-

econômicas.............................................................................................57

5. Satisfação dos Assentados............................................................................61

6. Considerações Finais....................................................................................63

7. Referências Bibliográficas.............................................................................66

8. Anexos...........................................................................................................68

Page 11: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[11]

1. INTRODUÇÃO

A distribuição de terras no Brasil, desde a época colonial era gratuita

feita pelo governo central, isto é a Coroa, como Dom João VI entre outros.

A principal delas foram as capitanias hereditárias, com grandes áreas

para serem colonizadas e exploradas, sendo que exigia mão de obra e

recursos financeiros para investimentos produtivos para que isso acontecesse,

portanto a mão de obra escrava africana foi a utilizada para cumprir a demanda

do projeto de colonização e exploração.

As atividades mercantis metropolitanas trouxeram do continente Africano

os escravizados em navios negreiros, lembrando que essas pessoas eram

compradas pelos coronéis e donos de engenhos, este processo também teve

problemas diversos. Os negros fugiam e montavam os quilombos, local onde

eles moravam e se defendiam dos seus proprietários.

Com o movimento da abolição da escravatura no século XIX, a

distribuição de terras que era gratuita passou para a obrigatoriedade de

aquisição das mesmas, sendo que os negros não possuíam recursos para

adquirir as terras, erram submetidos por muito tempo como empregados dos

fazendeiros ou excluídos do sistema produtivo que instalava no final do século

com as regiões cafeeiras.

No final do século XIX foram importados da Europa os trabalhadores

para substituir a mão de obra dos escravos, mas com uma condição melhor,

isto é ou eles eram assalariados ou meeiros.

A concentração fundiária continua sendo muito grande no Brasil,

então houve revoltas das pessoas que trabalhavam a terra, temos o exemplo

no século XX das ligas camponesas em Pernambuco que se espalhou por todo

o pais, o sucesso foi grande que seus lideres imaginaram como um grande

partido político. Entre outros movimentos sociais surgiu no Paraná em 1983 o

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), tendo sempre a visão que a

necessidade maior não é apenas ter a posse da terra mas dignidade e

participação nas decisões do Pais.

Page 12: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[12]

Com as famílias sendo assentadas a partir da conquista e

implantação da Reforma Agrária, foram necessários investimentos de recursos

financeiros em: moradia, acesso a energia elétrica, estradas e assistência

técnica para a agropecuária, entre outros. Então como parte dos investimentos

para assistência técnica os governos Federal, Estaduais e Municipais

contrataram empresas e Cooperativas para prestarem assistência técnica aos

assentados(as).

No ano de 2007, foi celebrado um convênio entre o INCRA, SEAB

(Paraná) e Fundação Terra, para prestar assistência técnica às 11.837 famílias

assentadas em 216 assentamentos em 93 municípios. Portanto, cinco anos

após a celebração desse convênio, tenho o objetivo de averiguar a satisfação

dos assentados(as) com a assistência prestada pelos profissionais contratados

(agrônomos, veterinários, técnicos agrícolas, sociólogo)pelo respectivo

convênio e verificar os benefícios que foram alcançados pelos sujeitos da

pesquisa.

Esse trabalho analisou a satisfação de trabalhadores ligados ao

Movimento dos Sem-terra (MST) em relação ao atendimento do Programa de

Assessoria Técnica, Social e Ambiental (ATES), desenvolvido entre os

assentamentos da região de Cornélio Procópio (PR), tendo como recorte o

assentamento Carlos Lamarca, localizado no município de Congonhinhas.

A satisfação dessas comunidades em relação ao atendimento do ATES

foi analisada a partir do questionário que foi respondido por 15 assentados(as),

com questões abertas e fechadas que proporcionaram conhecer melhor a

realidade vivida pelos sujeitos e a efetivação da assistência técnica

implementada.

A pesquisa de campo foi aplicada no Assentamento de Congonhinhas1

PR, a escolha desse universo de pesquisa foi devido ao grande número de

famílias assentadas, o segundo maior da região. Para pesquisar o grau de

satisfação dos sujeitos foi feita uma pesquisa de cunho qualitativo com uma

1De acordo com levantamento realizado pelo Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater),

através do programa Assistência Técnica Assessoria Técnica Social e Ambiental (ATES), o assentamento

Carlos Lamarca, de Congonhinhas (PR) apresenta maior índice de concentração de famílias assentadas

entre os assentamentos da região da cidade de Cornélio Procópio (PR), são 138 famílias com

aproximadamente 600 pessoas habitando esse assentamento. A escolha do assentamento Carlos Lamarca

se dá devido à proximidade com a sede regional da Emater, também localizada em Cornélio Procópio, por

ter a maior concentração de famílias assentadas e pela variedade de culturas agrícolas empreendidas no

local.

Page 13: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[13]

amostra da população pesquisada de 10,8% das famílias assentadas

(percentual que corresponde a 14,9 famílias, índice que foi aproximado para 15

famílias) que habitam o assentamento Carlos Lamarca. A organização da

amostragem estudada foi obtida de forma aleatória simples com técnica

probabilística. Além de reconhecer a realidade sócio-econômica da população,

foram obtidas informações como a eficiência dos resultados e metodologias

dos procedimentos aplicados referentes à extensão rural e assistência técnica

para o desenvolvimento desse assentamento.

Ao longo desse trabalho, antes de analisar o projeto desenvolvido pelo

Instituto Emater e os resultados obtidos pela pesquisa, foram apresentadas

definições que teorizam sobre reforma agrária e a importância dessa questão

para a promoção da cidadania dos trabalhadores rurais (MEDEIROS, 1989).

Há também uma abordagem das primeiras formas de uso e ocupação das

terras brasileiras que foram as capitanias hereditárias, que foram formadas

ainda no período colonial, bem como, as condições históricas para o

crescimento dos movimentos sociais no campo e os pontos de reivindicações

que essa categoria exigiu.

Além disso, foram apresentados também conceitos pertinentes para a

contextualização da pesquisa como a teorização de assentamentos. Para isso

recorreu-se ao pensamento desenvolvido por João Edmilson Fabrini (FABRINI,

2001) ao definir que assentamentos de sem-terras se diferem de quaisquer

outros agrupamentos rurais, pois, envolve, além da questão agrária, pontos

que tangem à ideologia2 de um movimento social que podem entrar em conflito

com o Estado ou também com os proprietários de terra. As análises sobre os

assentamentos serão complementadas com a visão apresentada por Sônia

Maria Pessoa Bergamasco e Luiz Antonio Cabello Norder (1996) sobre as

formas de estruturação, tendo como recorte a formação de um assentamento

de integrantes do MST.

A pesquisa segue com a apresentação da importância dos projetos e

atividades desenvolvidas de assistência técnica e extensão rural aos

2 Para essa pesquisa os conceitos de ideologia serão definidos segundo a teoria de Karl Marx como uma

concepção vinculada aos interesses de classes sociais e a concepção de Mannheim ao afirmar que

ideologia seria um conjunto de idéias e concepções que se propõe de tal forma para a manutenção e

reprodução de uma determinada ordem social (FABRINI, 2001, p.22)

Page 14: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[14]

assentamentos dos trabalhadores sem-terra apresentados por Maria Cecília

Masselli (1998) e as teorias apresentadas por João Edmilson Fabrini (2001).

Além dessa discussão teórica, o trabalho indicou o histórico da criação do

Instituto Emater, bem como as mudanças institucionais e burocráticas pelas

quais a empresa passou ao longo da existência.

Com as teorizações concluídas, foi apresentado o projeto ATES que foi

realizado nos assentamentos de sem-terras no estado do Paraná.

Acompanhando essa apresentação, a pesquisa segue com a amostragem das

entrevistas realizadas com os assentados no próprio assentamento. As

entrevistas foram dispostas em perguntas fechadas. Essa modalidade foi a

mais adequada para a coleta de informações devida (DUARTE, 2005) à

praticidade para obtenção de informações, delimitando o tema a ser

perguntado e delimitando as possibilidades de interpretação.

Para essa pesquisa foram analisadas as informações de trabalhadores

do assentamento Carlos Lamarca que contemplam a faixa etária de 19 a 74

anos de idade. As informações coletadas pela pesquisa deram o panorama da

realidade econômica e social desses assentados e será uma ferramenta

importante para o aprimoramento do ATES, bem como a implantação de outras

políticas públicas voltadas à assistência técnica e extensão rural.

Os assentamentos na região de Cornélio Procópio contemplam 15

unidades, sendo um em Bandeirantes, um em Ribeirão dos Pinhais, três em

Congonhinhas, nove em São Jerônimo da Serra e um em Sapopema. Ao todo,

são 603 famílias assentadas que recebem assistência técnica prestada pela

Emater da regional de Cornélio Procópio. Essa região foi escolhida para o

desenvolvimento da pesquisa devido à proximidade e conhecimentos prévios

adquiridos ao longo da minha trajetória profissional no campo da agronomia

como componente do corpo técnico da Emater dessa região.

O convênio celebrado foi especifico para assistência técnica, sendo que

o INCRA liberou os recursos financeiros para duas entidades sendo elas:

- A Fundação Terra recebeu recursos para contratação dos profissionais

(agrônomos, técnicos agropecuários, assistentes sociais e administrativos)

aquisição de combustível e conserto e manutenção de veículos.

- O Instituto Emater recebeu recursos para custear as despesas com as

metodologias aplicadas junto aos assentados (as), sendo elas visitas técnicas,

Page 15: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[15]

reuniões técnicas e práticas, dias de Campo, encontros, seminários e

unidades demonstrativas, não houve nenhum recurso aplicado diretamente

como investimento nos lotes dos assentados(as).

Os recursos para infraestrutura foi doado pelo INCRA e produção

agropecuária foi financiado pelo Banco do Brasil no ano de 2004,

contemplando, construção de residências, energia elétrica, plantio de café,

aquisição de animais bovinos.

2. PANORAMA HISTÓRICO

Não é de hoje que as questões que envolvem o uso e ocupação de terra

no Brasil se fazem presentes. Ainda no período imperial, com as capitanias

hereditárias, no século XVI que tiveram os primeiros registros de ocupação

de terras brasileiras. Mesmo não tendo o caráter ideológico de lutas de

classes e nem a previsão da realização da reforma agrária, as capitanias

hereditárias merecem ser pontuadas nesse contexto como o embrião da

ocupação de terras no Brasil.

Em 1534, a costa brasileira foi dividida em quinze faixas de terras, com largura entre 200 e 350 quilômetros, do litoral à linha do Tratado de Tordesilhas. Chamam-se capitanias hereditárias, pois passariam dos donatários a seus herdeiros. (ARRUDA; PILETTI,1997, p. 152).

Criadas com o objetivo de colonizar e povoar o território conquistado, os

donatários recebiam o direito de uso da terra diretamente das mãos do rei de

Portugal da época, Dom João III. Os donatários usufruíam de muitos poderes e

podiam dispor das terras e distribuí-las entre os colonos, além de nomear

autoridades judiciárias e administrativas, cobrar taxas e impostos, escravizar os

nativos entre outros poderes.

Aquela que seria a primeira tentativa de uso e ocupação da terra por

parcelamento não teve sucesso. A maior parte dos donatários não tinha

recursos suficientes para manter os custos do lote, sendo obrigado a

adquirirem empréstimos de negociantes holandeses e portugueses (ARRUDA.

Page 16: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[16]

PILETTI, 1997). Além disso, alguns dos donatários não chegaram a pisar no

solo Brasileiro para administrarem as terras ganhadas da coroa portuguesa,

permaneceram em Portugal. E, obviamente, o empreendimento não obteve

sucesso. As únicas capitanias que prosperam foram a de São Vicente,

comandada por Martim Afonso de Sousa, e a de Pernambuco, que ficou sob

responsabilidade de Duarte Coelho.

Além do desdém dos próprios donatários para a administração das

capitanias, outros fatores contribuíram para o fracasso da ocupação como “(...)

o isolamento, que dificultava a defesa contra os índios, em luta por suas terras

e contra a escravidão” (ARRUDA; PILETTI, 1997). Para isso, o João III nomeou

Tomé de Souza, em 1548, para ser o primeiro governador-geral do território

brasileiro. A função dele era de centralizar a defesa do território e

administração das colônias. Tomé de Sousa fundou a primeira cidade

brasileira, Salvador, um ano após a sua posse, com a ajuda dos jesuítas. E em

1572, por ordem da própria coroa portuguesa, no Brasil há dois centro de

governos, em Salvador e outro no Rio de Janeiro. Mas a tentativa de facilitar a

governância em dois pólos não obteve sucesso e após a morte do terceiro

governador-geral, Mem de Sá, a sede volta a ser em Salvador (ARRUDA;

PILETTI, 1997). Com a reformulação das estruturas econômica e social no

Brasil - colônia foram surgindo os primeiros indícios de povoados para

colonização do território com forte e marcante presença da Igreja Católica,

mais precisamente com a participação da companhia composta por padres

jesuítas. E paralelamente a esse fenômeno se desenvolveram na área rural os

grandes latifúndios, principalmente na região nordeste e sudeste. E por se

tratar de grandes propriedades agrícolas, houve a necessidade de recrutar

mão-de-obra para trabalhar nessas terras. Em um primeiro momento, houve a

tentativa de aculturar as entidades indígenas para a o trabalho braçal, o que

não obteve sucesso (FAUSTO, 2003), até mesmo pela quantidade de

indígenas e pela resistência desse grupo à forma de produção portuguesa.

Fausto afirma que houve a “catástrofe demográfica” (2003), um eufemismo que

ele usa ao lembrar que mais de 600 mil índios foram mortos por conta de

questões de saúde com epidemias de gripe, varíola e outras doenças.

A partir de 1570 já não havia mais o incentivo à escravização dos índios,

até ser proibida definitivamente, em 1758. Então, houve a necessidade de

Page 17: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[17]

recolocação de trabalhadores às atividades agrícolas e braçais. Nesse

processo a Coroa Portuguesa já tinha conhecimento das habilidades dos

africanos tendo em vista a exploração da cana-de-açúcar e da escravização

nas ilhas sob o seu domínio, por exemplo, Ilha da Madeira, e ainda mais,

porque o negro já era interpretado como moeda de valor no universo mercantil.

(FAUSTO, 2003).

A escravidão foi um processo muito longo no Brasil, se estendendo até

1889, com a assinatura da Lei Áurea, outorgada pela Princesa Isabel Orleans e

Bragança, em que decreta a abolição da escravatura. O país foi um dos últimos

países americanos a extinguir esse modo de trabalho de forma formal. Foi

nesse período em que acontecem os primórdios das lutas de classe no Brasil

(MEDEIROS, 1989), que foram estabelecidas pelo entre classe dominada e

dominante, que perpassam pelo viés do poder da escravização dos africanos e

o mando dos Senhores de Engenho.

Com o final do período escravagista, os imigrantes chegaram ao Brasil

para trabalhar nas lavouras, principalmente de café. Vindos da Europa e Ásia,

essas famílias eram absorvidas pelas propriedades agrícolas na condição de

trabalhadores rurais, com alguns direito trabalhistas, como salários.

Page 18: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[18]

2.1 MOVIMENTOS SOCIAIS E LUTAS DE CLASSE

O surgimento dos movimentos sociais foi fruto do desenvolvimento

organizado das lutas de classe. Na questão agrária, não foi diferente. [Desde

os tempos coloniais, a estrutura social do País é constituída pela presença

constante das lutas de classe.

Ao longo da Primeira República, a estrutura social de diversificou com o avanço da pequena propriedade produtiva no campo, a expansão da classe média urbana e a ampliação da base da sociedade. A grande novidade sob esse último aspecto foi o surgimento do “colonato” na área rural e sobretudo da classe operária no centro urbano. (FAUSTO, 2003, p. 295,)

Mesmo sendo árdua a tarefa de pontuar a primeira ocorrência desse

fato, pode-se ter como base histórica o conflito existente entre os trabalhadores

escravos no campo com os grandes latifundiários. Os negros escravizados nas

lavouras de café e cana-de-açúcar podem ser retratados como os primórdios

das lutas de classe no Brasil.

A própria trajetória desses trabalhadores – explorados, subordinados politicamente aos grandes proprietários, excluídos dos mais elementares direitos políticos e sociais – implica na dificuldade de preservação de sua memória social. (MEDEIROS,1989, p.11,).

Os escravos eram alvos de castigos e torturas de ordem dos senhores

de engenhos e fazendeiros. Além das condições insalubres de sobrevivência,

questões precárias de saúde e habitação, os escravos eram submetidos a

extensas horas de labor nas culturas agrícolas sem remuneração ou quaisquer

outros benefícios.

Essas condições se tornaram fatores primordiais para a manifestação de

revolta por conta dos escravos. De maneira organizada ou em bandos, os

escravos se planejavam as fugas das senzalas na busca de condições mais

humanizadas e favoráveis de vida. Uma das alternativas foi a formação dos

quilombos, que foram constituídos por escravos foragidos que ocuparam

“terras ainda virgens, onde criavam sua forma própria de organização

econômica, social e política” (MEDEIROS, 1989, p.11).

Page 19: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[19]

A formação dos quilombos não foram fenômenos isolados. Vários foram

constituídos ao longo do período colonial principalmente no Nordeste (Sergipe,

Alagoas, Bahia, Maranhão), e algumas ocorrências em São Paulo, Minas

Gerais, Amazônia e Paraná3. O uso de terras feitas pelos escravos foragidos

com o objetivo de formação dos quilombos foi uma das primeiras formas

registradas de ocupação da terra. O modo de produção dos quilombos

contemplava a subsistência, os próprios quilombolas (habitantes dos

quilombos) “produziam seus alimentos, desenvolviam pequenas oficinas para

fabricar roupas, móveis e instrumentos de trabalho” (ARRUDA; PILETTI, 1997,

p.161).

Entre os quilombos de mais destaque foi Palmares, situado onde

atualmente se encontra o estado das Alagoas. Sob o comando o Zumbi,

Palmares reunia uma confederação de uma dezena de quilombos, onde se

localizam milhares de quilombolas. A formação, bem como a existência dos

quilombos foram provas marcantes do movimento de resistência na história do

país. Mesmo lutando contra as tentativas de destruição por ordem da coroa

portuguesa e dos colonos brasileiros, Palmares resistiu por quase 20 anos. A

destruição de Palmares aconteceu em 1694, graças à colaboração do

bandeirante paulista Domingos Jorge Velho (FREITAS, 1978, p.12). Zumbi foi

capturado, decepado em 1695, um ano após a extinção do quilombo, a mando

do governador pernambucano Caetano de Melo Castro.

As ações de resistências por parte de trabalhadores rurais se

estenderam ao longo do período da história brasileira. Ainda no período

colonial.

A questão dos sem-terra é histórica. Desde as capitanias hereditárias, dos quilombos, da guerra de Canudos (década de 1890), da guerra do Contestado (década de 1910), da Ligas Camponesas (décadas de 1950-1960), os sem-terra estão lutando por um pedaço de terra. (FERNANDES, 2001, p. 237-238).

As revoltas por parte desses trabalhadores sem-terra também se

tornaram presentes ao longo da história dos movimentos sociais no campo. As

demandas por parte desses trabalhos saíram do campo da escravidão e

3 “No Paraná são 13 comunidades quilombolas reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares, e estima-

se que existam outras 40 comunidades que devam entrar em processo de reconhecimento”. Fonte

Eletrônica:<<http://www.fomezero.gov.br/noticias/regularizacao-de-comunidades-quilombolas-avanca-

no-parana,em16/fev/2011>>

Page 20: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[20]

integram as questões de ordem social e financeira. Originando greves e outros

movimentos de resistências no campo.

Estas greves ocorriam em protesto contra os baixos preços estipulados na época das colheitas, não pagamento de salários, punições com multas consideradas pesadas e arbitrárias, etc. e chegaram a levar a alterações nos termos dos contratos entre os colonos e fazendeiros. (STOCKLE apud MEDEIROS, 1989 p. 12).

Em meados da década de 1950 as Ligas Camponesas e outras

organizações dessa classe ganharam corpo e trouxeram à cena política a luta

dos trabalhadores rurais que impuseram seu conhecimento e suas

necessidades de terra, produção agrícola e renda à sociedade. No seio desse

enfrentamento ideológico entre trabalhadores e latifundiários surgiu, como

frutos inerentes ao processo, o conflito de classe.

Este surge a partir de contradições vividas no interior do processo de trabalho, do rompimento de determinadas normas costumeiras, de uma ameaça às condições de reprodução de um grupo (...). Tais situações de tensão, vivenciadas a partir de uma determinada experiência cultural e dentro de uma determinada conjuntura, desencadeiam reações que vão da migração à violência individual ou à organização de defesa do que se considera legítimo. (MEDEIROS, 1989, p.13).

As análises de Medeiros vão ao encontro com a idéia de formação dos

movimentos sociais.4 Dessa forma, pode-se considerar que a concepção da

autora será o embrião para teorizar as lutas de classe e os movimentos de

classe ocorridos no campo.

4 Movimentos sociais serão definidos como “um setor significativo da população que desenvolve e define

interesses incompatíveis com a ordem social e política existente e que os persegue por vias não

institucionalizadas” e também, de acordo com Thompson “trata-se de força social coletiva organizada.

(THOMPSON in SANTOS, 2008, p. 257).

Page 21: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[21]

2.2 - REFORMA AGRÁRIA

Além da reivindicação por melhorias nas condições de trabalho e

aumento de salários, os movimentos sociais no campo tiveram como bandeira

de atuação primordial a exigência da reforma agrária.

O conceito de reforma agrária é entendido, de forma sintética, como “a

modificação da estrutura agrária de um país, ou região, como vista a uma

distribuição mais equitativa da terra e da renda agrícola” (VEIGA, 1984 p. 7)

com a intervenção do Estado para deliberação das ações no setor agrícola.

De acordo com Veiga, a reforma agrária não pode ser confundida com

transformação agrária (VEIGA, 1984, p.8). Esse é um momento espontâneo de

uma determinada população fundiária frente às mudanças de cunho sócio-

econômicas que surgem. As transformações agrárias e mudanças no campo

produtivo agropecuário não demandam a resistência de classes sociais,

apenas a adaptação e realocação na nova realidade.

Conseguinte, pode se entender a reforma agrária como resultado da luta

de classes em decorrência da situação em que o país se encontra.

[...] não surge nunca de uma decisão repentina de um general, de um partido, de uma equipe governamental, ou mesmo, de uma classe social. Ela é sempre o resultado de pressões sociais contrárias e, ao mesmo tempo, é limitada por essas mesmas pressões. Suas conseqüências e seu alcance, tanto do ponto de vista social como econômico, dependem intrinsecamente da evolução das relações de força entre os camponeses, os assalariados agrícolas, os operários, as chamadas „camadas médias‟, a burguesia e os grandes proprietários fundiários. Em outras palavras, depende diretamente da evolução da conjuntura do país (VEIGA, 1984, p. 8)

Dessa forma, a reforma agrária se colocou como uma contingência de

exigência social em regiões e países em que existe uma grande massa de

lavradores que não tiveram acesso à propriedade de terra. Nessa situação, que

os movimentos sociais no campo ganharam força social e o pensamento de

que a terra pertence a quem trabalha nela.

Além de ser proposta de diretrizes de partidos políticos para realizações

e metas de governo. Como, por exemplo, foi o caso do Partido Comunista

Brasileiro (PCB), a partir de sua criação em 1922, a concepção do partido

sempre foi de abordar a questão das condições dos trabalhadores no país. Foi

Page 22: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[22]

a partir das concepções do partido que começou a circular no Brasil a idéia de

uma categoria específica denominada de “massa camponesa” (MEDEIROS,

1989), também considerada como “massa explorada do campo”.

Uma referência muito semelhante às reivindicações existentes também

no espaço urbano, quanto à exploração da mão-de-obra pela camada dos

industriais que, nesse período, também se encontrava em plena expansão.

De acordo com esse partido, o Brasil era fortemente marcado por sobrevivências feudais, cuja expressão mais evidente era o latifundiário. Esse era um arcaísmo, um entrave, impedindo que milhões de camponeses se constituíssem em mercado interno para a indústria que se implantava. Sob essa ótica, a extinção do latifúndio e dos latifundiários, enquanto classe, era uma necessidade do desenvolvimento do capitalismo e, portanto, contaria com o apoio de diversas classes sociais. (MEDEIROS, 1989 p.27,)

Por ser considerada uma exigência originada pelo conflito de classes, a

reforma agrária, Veiga (1984) pontua que o fator que impede que os lavradores

tenham acesso às terras seja a concentração da propriedade fundiária nas

mãos da chamada “oligarquias”, isto é, um pequeno número de famílias ricas,

influentes e poderosas nos campos político, econômico, social, militar, dentre

outros.

As oligarquias são grupos sociais que não utilizam a terra com fins

produtivos agropecuários, o principal objetivo é manter as terras como

propósitos especulativos, como um objeto de troca mercadológica visando por

negociações rentáveis para o acúmulo de capital.

Contentam-se em deixá-las com reduzida ou inexistente produtividade visando apenas valorização fundiária que decorre da abertura de estradas, criação de novos povoamentos, eletrificação, construção de açudes, barragens e obras públicas. (VEIGA, 1984, p. 11).

Fernandes (2001) considera que a formação das oligarquias é o que

impede a implantação da reforma agrária e divisão de terras.

[...] quando assistimos as diversas manifestações dos sem-terra, ficamos perplexos diante de um problema que parece não ter solução. Mas há. É preciso, no entanto, quebrar uma estrutura fundiária, logo, de poder, que persevera há 500 anos. E os sem-terra sozinhos não são capazes de mudar essa realidade. A instituição

Page 23: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[23]

competente para transformá-la é o Estado, por meio do governo federal. (FERNANDES, 2001, p.238).

A necessidade de reforma agrária foi fruto de movimentos sociais do

campo que vieram à tona na década de 1950 entre os latifundiários e

trabalhadores rurais. Essas lutas se constituíam pelo desejo dos proprietários

das terras de expulsar camponeses, posseiros e arrendatários das terras,

originando assim o movimento de resistência.

Inclusive parte da Igreja Católica participou desse momento,

contribuindo para a defesa de pequenas propriedades.

[...] a Igreja também tinha uma posição sobre as lutas desenvolvidas no campo e se caracterizava pela postura de defesa da pequena propriedade, pois, esta poderia ser base para a estabilidade da família. Assim, a Igreja passava a apoiar a luta pela terra e denunciar a difícil condição dos trabalhadores do campo, mas sempre considerando o princípio do direito da propriedade. (FABRINI, 2001, p. 62).

A participação dos grupos progressistas da Igreja Católica não era

apenas quanto à identificação com o processo ideológico da questão agrária,

mas também houve participação ativa para a organização e formação dos

movimentos de resistência no campo. Foi criada a Comissão Pastoral da Terra

(CPT), em 1975. Em plena ditadura militar a CPT foi fundada com o objetivo de

Ajudar à grave situação dos trabalhadores rurais, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia, a CPT teve um importante papel. Ajudou a defender as pessoas da crueldade deste sistema de governo, que só fazia o jogo dos interesses capitalistas nacionais e transnacionais, e abriu caminhos para que ele fosse superado. Ela nasceu ligada à Igreja Católica porque a repressão estava atingindo muitos agentes pastorais e lideranças populares, e também, porque a igreja possuía uma certa influência política e cultural. Na verdade, a instituição eclesiástica não havia sido molestada. (site da CPT).

5

Muito antes da participação católica nas questões do campo, essa

demanda e os assuntos pertinentes ao campo e à reforma agrária tomaram

corpo com a Constituição de 1946 com os seguintes textos:

5 (http://www.cptnacional.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2:o-nascimento-da-

cpt&catid=1:quem-somos&Itemid=4)

Page 24: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[24]

1-“É garantido o direito de propriedade, salvo caso de

desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou

por interesse social, mediante prévia e justa indenização

em dinheiro...”- Art. 141, § 16, 1ª parte.

2- O uso da propriedade será condicionado ao bem-estar

social. A lei poderá, com observância do disposto no art.

141, § 16, promover a justa distribuição da propriedade,

com igual oportunidade para todos.” – Art. 147.

(LARANJEIRA, 1983, p.84).

Em ambos os parágrafos consta a presença de cunho social, seja por

interesse social, como é o caso do primeiro parágrafo; ou como no segundo

parágrafo discorrendo sobre a viabilidade de distribuição da propriedade sem

privilégios. A questão de interesse social se tornou preponderante para se

juntar a outras duas fórmulas antigas de desapropriação (LARANJEIRA, 1983):

de desapropriação por utilidade pública e de desapropriação por necessidade

pública.

O que não trouxe muita mudança na estrutura agrária brasileira, Fausto

aponta que houve outras contingências mais fortes para que a reforma agrária

não fosse encarada com mais vigor. Segundo ele, houve a intenção de

fortalecer ainda mais a influência das oligarquias da época, estabelecendo uma

forma de clientelismo, pois “a intenção de maioria dos constituintes foi de dar

maior peso aos redutos eleitorais controlados pela oligarquia local, sobretudo

no Nordeste” (FAUSTO, 2001, p. 400). Ou seja, a constituição ainda

permanecia discriminatória e não contemplando dos todos os cidadãos de

forma plena, permanecendo a mesma forma de dominação e conflito de classe.

A mudança constitucional que houve foi em 1961, em 10 de setembro

desse ano é que entrou em vigor a lei nº 4.132, que estabeleceu os casos de

desapropriação por interesse social, não houve ações de políticas públicas que

concretizaram as funções de interesse social.

As alterações vieram após essa lei e

“[...] nessa alteração de legislação sobre agricultura e abastecimento foram decretadas 11 leis delegadas de grande importância para o setor agrícola. Delas despontaram a de nº 4, que autorizou a União a intervir no domínio econômico, para assegurar, inclusive, a

Page 25: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[25]

desapropriação de bens por interesse social e a de nº 11, que criou a SUPRA (Superintendência da Política Agrária), órgão de execução de programas de colonização e reforma agrária, no país. (LARANJEIRA, 1983, p. 85).

A década de 1960 foi marcada por algumas ações legais para

condicionar as diretrizes para a implantação da reforma agrária no Brasil. Até

mesmo no período em que o país passou pela tentativa frustrada do regime

parlamentar houve a iniciativa da reforma agrária com a criação da

Superintendência da Política Agrária (Supra), na gestão do primeiro-ministro B.

da Rocha (LARANJEIRA, 1982). O órgão teve como princípio a execução de

programas de colonização e reforma agrária no país.

Destarte, alguns autores refletiram sobre a intervenção do governo nas

questões agrárias com objetivo de abrir

o campo à exploração racional, de acordo com as diretrizes sociais, pela conversão das propriedades tradicionais em modernas fazendas capitalistas, em propriedades familiares médias, em fazendas cooperativas médias e em grandes fazendas estatais, em função das condições locais e dos requerimentos operacionais da natureza das culturas. (JAGUARIBE apud LARANJEIRAS, 1983, p.86).

Foi também nos anos de 1960, durante o regime militar, que entrou em

vigor o Estatuto da Terra (Lei Ordinária nº4. 504, de 30 de novembro de 1964)

que traçou a metodologia de reforma agrária para o Brasil. O Estatuto da Terra

foi desenvolvido para regular “os direitos e obrigações concernentes aos bens

imóveis rurais, para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da

Política Agrícola”6.

O artigo 17 desse estatuto também prevê o acesso à propriedade rural

promovido mediante a distribuição ou a redistribuição de terras, pela execução

de qualquer das medidas das propriedades rurais, seguindo ordens de

interesse social.

Com o Estatuto da Terra em vigor, duas condições foram

preponderantes para o processo da reforma agrária: o primeiro deles é que foi

verificado que a estrutura fundiária brasileira era viciosa e o reconhecimento de

que a distribuição da terra era a medida de correção desse vício

6 http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L4504.htm

Page 26: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[26]

(LARANJEIRA, 1983 p.88-89). Essa pesquisa não irá detalhar a influência

desses entraves, até por que não faz parte dos objetivos da pesquisa.

Entretanto, convém pontuar que esses vícios se referem principalmente à

dimensão das propriedades e quantidade referente para ocupação e uso para

as culturas agrícolas. Esses fatores, segundo Laranjeira, tornaram-se

fundamentais para a deficiência implantação desse estatuto. Essa legislação

previa a alteração do sistema agrário, oferecendo o redimensionamento das

propriedades rurais, visando à melhor distribuição de terra e a progressiva

extinção dos minifúndios e dos latifúndios.

Mesmo não sendo contemplada de forma eficaz na legislação brasileira,

isso não foi motivo para que a classe camponesa permanecesse latente. Entre

os anos de 1955 e 1964 foram criadas as Ligas Camponesas, primeiramente

no Pernambuco, mas se estendendo a outros estados brasileiros. Os setores

agrícolas ficaram esquecidos das políticas públicas desse período (FAUSTO,

2001), devido ao processo de urbanização pelo qual o Brasil estava passando,

o que fez alternar as formas de relação com o mercado frente aos produtos do

campo e formas de posse da terra e sua utilização.

A terra passou a ser mais rentável do que no passado, e os proprietários trataram de expulsar antigos posseiros ou agravar suas condições de trabalho, o que provocou forte descontentamento entre a população rural. (FAUSTO, 2001, p.444).

Por esse motivo que o advogado e político pernambucano Francisco

Julião promoveu a Liga Camponesa com arrebanhou alguns camponeses para

lutar contra a “expulsão da terra, a elevação do preço dos arrendamentos, a

prática do „cambão‟, pela qual o colono – chamado no Nordeste de morador –

deveria trabalhar um dia por semana de graça para o dono da terra” (FAUSTO,

2001, p.444).

A Liga Camponesa ganhou notoriedade após a posse da fazenda

Engenho Galiléia, em Vitória do Santo Antão (PE). Considerado como “fogo

morto”, pois não estava mais em atividade, tinha sido arrendada aos

camponeses, na forma de pequenos sítios (FAUSTO, 2001). Os donos da

propriedade queriam as terras de volta, mas houve o movimento de resistência

para permanecer no local, por meios legais por cinco anos, uma vez que a

Page 27: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[27]

propriedade foi desapropriada pelo governo federal. Na Paraíba, na cidade de

Sapé, a atuação da Liga Camponesa também foi forte, com a liderança de

João Pedro Teixeira. Ele teria sido expulso sem indenização e passou a

organizar arrendatários e pequenos proprietários ameaçados de despejos

pelos usineiros da época. Por isso, ele foi assassinado em abril de 19627.

O trabalho de resistência entre os trabalhadores que integravam a Liga

Camponesa rendeu bons frutos, além de repercussão nacional ao movimento

agrário. Foi a partir da Liga que foi realizado em Belo Horizonte (MG), a

primeira edição do Congresso Nacional dos Trabalhadores Agrícolas, em 1961.

Além de uma legislação própria para o trabalhador rural em 1963, durante o

governo de João Goulart, que foi o Estatuto do Trabalhador Rural, que garantia

direitos trabalhistas e profissionalizava a profissão no campo (FAUSTO, 2001).

Por esses fatos históricos e pela condição social e econômica que o

Brasil enfrenta é que a reforma agrária se faz necessária. Principalmente, pela

alta concentração de terras nas mãos de poucos. De acordo com dados

oferecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a

concentração de terras no Brasil “faz acreditar que a realidade não alterou

muito nos últimos 20 anos” (Secretaria Nacional do MST, 2010).

O índice de Gini (que mede o grau de concentração de terras) está em 0,854, quanto mais próximo do 1, maior é a concentração). Não houve alterações substantivas em relação ao resultado de 1985 (0,857) e 1995/1996 (0,856). Os estabelecimentos de mais de mil hectares, que correspondem a apenas 0,91% dos proprietários (menos de 50 mil), concentram mais de 43% da área agricultáveis. Os latifundiários acima de 2 mil hectares são apenas 15 mil fazendeiros, que detêm 98 milhões de hectares. (Secretaria Nacional do MST, 2010, p. 14)

Em países, como o Brasil, a reforma agrária não pode se basear

exclusivamente no redimensionamento das propriedades de terra, mas também

deverão ser contemplados os interesses sociais para a distribuição de terras.

Por isso há a necessidade de organização social das classes sociais para a

formação de estruturas fundiárias coletivas que objetivam maior participação no

espaço cotidiano ao que se refere às questões do campo para que assim

7 A vida de João Pedro Teixeira foi retrata no documentário “Cabra Marcado para Morrer” (Brasil, 1984),

com direção de Eduardo Coutinho.

Page 28: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[28]

sejam aplicados os conceitos de cidadania enquanto exercício que garanta sua

sobrevivência, educação, saúde, transporte, lazer, habitação entre outros.

A reforma agrária em municípios de pequeno porte tem forte

representatividade, como é o caso do município de Congonhinhas (PR), onde

foi realizada a pesquisa de campo desse trabalho. Nesse município, a

economia local gira em torno da agropecuária e outras ações desenvolvidas no

campo e também ao que se refere a pontos de ordem social e de

desenvolvimento geral do município.

Um processo de reforma agrária é uma estratégia de desenvolvimento para além do rural, nos municípios menores, onde a atividade agropecuária é preponderante, pode representar uma estratégia que interage as dimensões sociais, econômicas, políticas, superando a tradicional dicotomia rural-urbana mantida pelas políticas públicas, e, assim, contribuir para o desenvolvimento de municípios e regiões que se mantém em relativo atraso (PERONDI, RAMOS, SOARES, 2003, p. 35).

Assim, sendo a reforma agrária não contempla apenas às questões de

cunho agrário, mas também esferas mais abrangentes da estrutura social. Na

luta pela reforma agrária, surge em meados dos anos de 1980 no Paraná,

figuras importantes para participar desse processo de luta material e

ideológica, são os chamados sem-terra.

Page 29: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[29]

2.3 TRABALHADORES SEM-TERRA E MOVIMENTO DOS SEM-

TERRA (MST)

A contemporaneidade também foi marcada pela existência dos

movimentos sociais do campo que tiveram como objetivo a implantação da

reforma agrária, divisão de terras equitativamente e garantia de modo de

sobrevivência aos trabalhadores da terra. Vale lembrar que os trabalhadores

sem-terra não foi a primeira organização social a reivindicar pela reforma

agrária no país. Por meio de movimentos organizados pela categoria de

camponeses e trabalhadores rurais já se lutavam pelo direito da propriedade da

terra e extinção dos latifúndios, como descrito no desenvolver dessa pesquisa.

Chamados de sem-terra8, essa categoria de trabalhadores rurais foi

composta originalmente por profissionais que ficam desempregados devido à

modernização das atividades do campo, principalmente na região sul do País,

nos estados do Rio Grande do Sul (RS) e na região oeste do Paraná (PR),

mais precisamente na cidade de Cascavel, onde, “em janeiro de 1984 foi

fundado o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra” (FERNANDES,

2001, p.238).

Devido à abrangência territorial e a identificação e formação de

contingente, esses trabalhadores formam o Movimento dos Sem-terra (MST).

Com essa nova realizada enfrentada no campo pelos trabalhadores, “resultou

na impossibilidade de reprodução social de setores de pequenos agricultores

familiares” (MEDEIROS, 1989, p.174).

No início dos anos 80, surgiu um novo personagem nas lutas pela terra no país: os chamados Sem Terra. Os processos sociais e econômicos que deram origem e conformaram essas identidades e produziram um movimento específico têm suas raízes em experiências diversas, que em um dado momento, se entrecruzaram. (MEDEIROS, 1989, p. 147).

No Rio Grande do Sul, no ano de 1979, trabalhadores rurais que foram

expulsos das reservas indígenas de Nonoai, ocuparam as fazendas Macali e

Brilhante, na região da cidade de Sarandi. Essas famílias fizeram movimento

8 http://www.mst.org.br/node/7702.

Page 30: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[30]

de resistência frente ao poder público com a instalação de assentamentos

rurais. Um ano depois, essas famílias voltaram a formar acampamentos, mas

dessa vez em Ronda Alta, com o mesmo objetivo de pressionar o poder público

para a desapropriação de terras ociosas e reassentamento das famílias.

(BRENNEISEN, 2002, p 38).

Paralelamente aos episódios ocorridos em terras gaúchas, no Paraná,

na região oeste do estado, as famílias de agricultores formavam movimento de

resistência semelhante ao reivindicar por preços mais condizentes pela

indenização às terras que foram alagadas com a instalação da Hidrelétrica de

Itaipu. Esse foi o fator fundamental para o surgimento do movimento “Justiça e

Terra”. Com o desdobramento desse movimento, surge o Movimento dos

Agricultores Sem Terra no Oeste Paranaense (Mastro), que, em 1981, agrega

forças ao movimento de Ronda Alta para formar movimentos de resistência

pela reforma agrária e indenização de terras alagas. “Pouco tempo depois,

outros movimentos organizaram-se regionalmente, como é o caso do

Movimento do Agricultor Sem Terra do Sudoeste do Paraná” (BRENNEISEN,

2002, p 39).

Para contextualizar, os assentamentos de sem-terra não foram os únicos

que tiveram registros na história brasileira. Outras formas de assentamento

também foram realizadas, seja como modo de produção ou povoamento de

regiões pouco habitadas no território nacional. Um desses movimentos de

colonização foi fundamentado pela proposta de ocupação da região norte do

país. Estimulados pelas próprias propagandas difundidas pelo governo militar

de colonização de áreas até então desconhecidas como, por exemplo, a

Amazônia e outros estados da região norte, muitos dos camponeses se

deslocaram do sul e sudeste do país rumo à região norte com o objetivo de

ocuparem as terras aparentemente devolutas. Entretanto, as condições

inóspitas de habitação, saúde, falta de apoio à produção e até mesmo o

isolamento enfrentado se tornam primordiais para que esses trabalhadores

retornassem aos estado de origem. Com a volta desses trabalhadores

frustrados, muitos deles aderiram ao movimento da causa dos sem-terra,

munidos com o desejo de cidadania pela posse de terra, originando a pressão

frente ao Estado para a formulação da reforma agrária.

Page 31: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[31]

Assim, ao se reinserirem nos movimentos camponeses meridionais, os retornados passaram a agregar às reivindicações pelo produto e pela terra outro significado que passava as várias mobilizações: a negação das propostas oficiais de transferência para a Amazônia (TAVARES DOS SANTOS apud MEDEIROS, 1989, p. 148).

De acordo com Eliane Cardoso Brenneisen (2002), a organização da

luta pela terra ocorreu devido a três fatores:

foi o apoio dado à organização por setores progressistas das igrejas católica e luterana, que através da teologia da libertação, ofereceu apoio por meio da Comissão Pastoral da Terra (CPT). (...) a emergência do MST foi a própria política de modernização agrícola adotada pelos governos militares nas décadas de 1960/1970, que concentrou ainda mais a propriedade da terra, expropriando milhares de proprietários agrícolas, arrendatários e assalariados do campo. E por fim, um fator primordial foi a abertura política, que ofereceu as condições objetivas para a organização popular e a emergência de movimentos sociais urbanos e rurais (BRENNEISEN, 2002 p. 39)

Os assentamentos foram a alternativa escolhida pelos trabalhadores

sem-terra para formar um movimento de resistência no campo e produção,

buscando, assim, benefícios econômicos.

A discussão sobre a produção no assentamento foi inserida na seguinte palavra de ordem: Ocupar, resistir e produzir. A produção passou a ser entendida como uma forma de sustentação do projeto político dos sem-terra (FABRINI, 2001, p. 26).

Entretanto, mesmo havendo semelhanças quanto ao modo de produção

capitalismo, sistema condenado pela classe do movimento dos sem-terra, a

produção dentro de parte dos assentamentos se baseia no cooperativismo

existente dentro dos próprios lotes dos assentados. A produção capitalista

enfraquece a produção familiar e/ou de subsistência. O entendimento do MST

é de que não existem condições do assentado progredir econômica, social e

politicamente através do modo familiar de produção. Por isso a necessidade de

rever outras formas de atuação que viabilizasse a produção dentro do sistema

capitalista de produção.

O modelo de produção capitalista inviabiliza esse progresso, sem necessariamente inviabilizar a produção familiar, que se constitui num acúmulo para os capitalistas. Os assentados então devem reconhecer no trabalho cooperativo a possibilidade de seu

Page 32: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[32]

desenvolvimento (...) a conquista da terra e o assentamento não significam apenas a inclusão do trabalhador sem-terra à produção, mas também, a conquista de seus direitos, da consciência política e da cidadania. (FABRINI, 2001, p. 26).

A aplicação do conceito de assentamento começou por meio dos

manifestantes dos movimentos de sem-terra e que buscaram a reforma agrária

e outras reivindicações referentes às questões do campo.

O termo “assentamento” apareceu pela primeira vez no vocabulário jurídico e sociológico no contexto da reforma agrária venezuelana, em 1960, e se difundiu para inúmeros outros países. De uma forma genérica, os assentamentos rurais podem ser definidos como a criação de novas unidades de produção agrícola, por meio de políticas governamentais visando o reordenamento do uso da terra, em benefício de trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra (BERGAMASCO; NORDER,1996, p. 7).

Além desses pontos, os assentamentos também são estruturas que

“envolvem a disponibilidade de condições adequadas para o uso da terra e o

incentivo à organização social e à vida comunitária” (BERGAMASCO;

NORDER,1996, p. 7).

Alguns autores pontuam as manifestações dos integrantes do

movimento dos sem-terra além de ser um processo de cunho ideológico, que

estabelece luta de classe como

uma tática reformista que possui um caráter revolucionário e luta para permanecer na terra ocupada, onde se inclui a cooperação agrícola e busca de integração ao mercado para beneficiar-se deles, seria a evidência de uma proposta reformista burguesa (CARVALHO apud FABRINI, 2001, p. 32).

Como já citada nessa pesquisa outras formas de assentamentos fizeram

parte da história do país. Vale a pena pontuar a concepção dessas outras

manifestações do uso e ocupação da terra, como, por exemplo, os

assentamentos de colonização e povoamento financiados pelo governo,

durante a governo militar. Esses assentamentos tiveram como objetivo a

ocupação da região norte, mais precisamente da Amazônia, visando, além do

povoamento da área, a expansão das fronteiras agrícolas do país. Outras

modalidades de assentamentos surgiram (BERGAMASCO; NORDER, 1996)

como a criação das reservas extrativistas para seringueiros também na região

amazônica e outras atividades relacionadas à exploração dos recursos

Page 33: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[33]

renováveis, o reassentamento de populações atingidas por barragens de

usinas hidrelétricas e planos estaduais de valorização de terras públicas e de

regularização possessórias.

Também pontuando que o conceito de assentamento dessa pesquisa é

o mesmo situado como

programas de reforma agrária, via desapropriação por interesse social, com base no Estatuto da Terra (de 1964), parcialmente implantado a partir de 1986 sob a égide do Plano Nacional de Reforma Agrária, iniciado no governo Sarney (BERGAMASCO; NORDER, 1996, p. 9).

Os integrantes do MST, em meados da década de 1980, fizeram uso

dos assentamentos, ocupando propriedades privadas ou públicas, montando

acampamentos nas estradas próximas às áreas improdutivas. Com a bandeira9

vermelha do movimento tomando a frente do grupo, indicava a iminência

presença desses trabalhadores.

Seja se organizando em cooperativas ou associações coletivas ou sem-

coletivas, os trabalhadores do movimento MST retiram da exploração da terra o

modo de produção. De acordo com informações contidas no site do

movimento, nos 23 estados brasileiros e distrito federal há “1,5 milhões de

pessoas que vivem acampadas ou assentadas” (Secretaria Nacional do MST,

2010).

Abaixo se encontra a tabela de informações disponibilizada pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística, quanto ao Censo Agropecuário de 2006,

em que evidencia as condições em que se encontram as famílias de

assentados no território nacional. Os dados referentes à tabela abaixo foram

apresentados de acordo com pesquisa realizada pela instituição para formatar

condições de ocupação de terras no país para organizar o censo agrário.

9 A bandeira do movimento foi criada 1987, durante o 4º Encontro Nacional do MST e é peça

fundamental dentro das representações das ações do movimento. As figuras estampadas na bandeira

simbolizam a necessidade da reforma, a vitória de cada latifúndio conquistado, a paz no campo, a

presença de homens e mulheres nas ações do movimento, luto, abrangência nacional do movimento e a

força de luta e resistência <http://www.mst.org.br/bandeira-do-mst>

Page 34: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[34]

Condição de ocupação das terras (Brasil – 2006)10

Variáveis selecionadas

TOTAL DE

ESTABELECIMENTOS

Área total (ha)

CONDIÇÃO LEGAL DAS TERRAS

Próprias Não-Próprias

Estabelecimentos Área (ha)

Estabeleci

mentos

Área (ha)

Grupos de área total

(ha)

Maior de 0 a menos de 0,1

101 287

3 749

65 719

2 519

35 568

1 230

De 0,1 a menos de 0,2

50 194

7 037

34 006

4 692

16 188

2 346

De 0,2 a menos de 0,5

165 434

55 028

105 548

34 887

59 886

20 141

De 0,5 a menos de 1

289 893

199 005

162 262

108 550

127 631

90 455

De 1 a menos de 2

442 148

563 880

275 219

342 718

166 929

221 161

De 2 a menos de 3

319 656

711 113

228 740

498 033

90 916

213 079

De 3 a menos de 4

256 145

826 217

198 284

625 02

57 861

201 188

De 4 a menos de 5

215 977

947 732

175 892

757 110

40 085

190 621

De 5 a menos de 10

636 337

4 484 847

542 279

3 762 401

94 058

722 446

De 10 a menos de 20

736 792

10 289 684

637 422

8 711 922

99 370

1 577 762

De 20 a menos de 50

843 911

26 120 628

734 170

22 275 091

109 741

3 845 536

De 50 a menos de 100

390 874

26 482 780

352 423

23 375 537

38 451

3 107 242

De 100 a menos de 200

220 255

29 342 738

199 920

26 124 374

20 335

3 218 364

De 200 a menos de 500

150 859

46 395 555

139 001

41 729 140

11 858

4 666 415

De 500 a menos de 1 000

53 792

36 958 185

50 231

33 556 374

3 561

3 401 811

De 1 000 a menos de 2 500

31 899

48 072 546

30 685

45 048 640

1 214

3 023 906

De 2 500 e mais

15 012

98 480 672

14 475

91 721 664

537

6 759 008

Produtor sem área

255 024

- - - - -

Com a tabela oferecida pelo IBGE, é possível analisar a condição das

propriedades ocupadas no Brasil. Os números evidenciam que a maior

concentração das áreas ocupadas está em propriedades de menos de 5

hectares (ha) à faixa de menos de 50 hectares (ha), o que caracteriza

propriedades de menor extensão, diluindo a existência dos latifúndios e

10Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.

Page 35: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[35]

oferecendo condições mais equitativas para a distribuição de terras. Entretanto,

há outras concentrações de ocupações no país, maiores ou menores que as de

maior representatividade e, também, há um número considerável de produtores

sem área, o que equivale, de acordo com dados do IBGE (Secretaria Nacional

do MST, 2010) 255.024 deles.

Dessa contingência, 259 assentamentos pertencem ao movimento de

sem-terras e estão localizados no estado do Paraná. “Esses assentamentos

paranaenses fazem parte da conquista da terra um elemento de sustentação”

(FABRINI, 2001,p. 32). Por isso, a necessidade de acompanhamento técnico

nesses espaços, além de oferecer condições melhores de produtividade, os

trabalhadores dessa categoria serão contemplados com o conceito de

cidadania e participação mais efetiva do seio social.

De acordo com a pesquisa documental realizada para essa pesquisa, no

Paraná a Emater – Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do

Paraná – oferece gratuitamente esses serviços à comunidade em geral. No

caso dos assentamentos de sem-terras, a Emater oferece esses serviços

através de projetos sociais ou convênios, como é o caso do programa

Assessoria Técnica, Social e Ambiental (ATES), desenvolvido pela Emater e

Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado do Paraná (Seab) e tem

como objetivo a promoção de assentamentos e reforma agrária em terras do

estado do Paraná. Esse programa, que também faz parte dos pontos

apresentados dessa pesquisa, será explicado com mais detalhes no decorrer

da pesquisa. Para Fernandes (2001),

Cada assentamento conquistado é uma fração de território, onde os sem-terra vão construir uma nova comunidade. A luta pela terra leva à territoriazação, porque com a conquista de um assentamento abrem-se perspectivas para a conquista de um novo assentamento. Assim, a cada assentamento conquistado, o MST se terrritoriza. E é exatamente isso que diferencia o MST de outros movimentos sociais e o torna um movimento socioterritorial. (...). Assim, também dimensionam a luta pela terra em luta pela educação, saúde, moradia, crédito agrícola, cooperação agrícola, etc (FERNANDES, 2001, p.239).

Na análise desse autor, independente da área ocupada pelos produtores

sem-terra, a conquista deixa a entender que são exercidas os conceitos de

cidadania não considerando apenas as questões agrárias, mas também

Page 36: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[36]

referentes a outros aplicativos dos direitos de um cidadão para participação do

cotidiano da vida social. Ele considera que as conquistas do movimento MST

como movimento socioterritorial.

Page 37: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[37]

3. EXTENSÃO RURAL NO BRASIL

A necessidade do desenvolvimento de técnicas e procedimentos de

melhoria de produção no campo se deu pela demanda existente oferecida pelo

próprio momento que o País passava de modernidade e desenvolvimento

industrial.

Por paradoxal que pareça, a decisão de modernizar a agricultura brasileira se deu muito mais em função do desenvolvimento industrial que se processava no país do que, como se poderia a priori presumir, com vistas a desenvolver a agricultura de então. (MASSELLI, 1998, p.27).

Com o golpe de 1964, para não deixar de atender aos interesses das

oligarquias rurais, o governo financiou a modernidade parcial da agricultura,

sem deixar de apoiar a pujante classe industrial que estava em ascensão no

cenário urbano.

Em resumo, foi o próprio processo de industrialização que criou o mercado de que necessitava para a sua expansão. De um lado, pelo processo simultâneo de ampliação da fronteira agrícola e de urbanização crescente da população anteriormente dedicada às atividades agropecuárias. De outro lado, pelas transformações que provocou na própria agricultura ao transformá-la também numa „indústria‟ que compra certos insumos (máquinas, adubos, defensivos, etc.) para produzir outros insumos (matérias-primas para as indústrias de alimento, tecidos, etc.). (REYDON; GRAZIANO DA SILVA apud MASSELLI, 1998, p.28).

Os incentivos não objetivavam atender apenas à área de extensão rural,

mas também contemplavam pela modernização dos equipamentos utilizados

para a manipulação da terra, as formas de estabelecer as políticas de crédito e

a pesquisa agrícola.

As primeiras ações efetivas quanto à extensão rural foram executadas

dentro do modelo norte-americano, até a década 1940. Antes desse período, a

extensão rural no Brasil prestada pelo Estado tinha cunho fomentista,

destinada, especialmente às culturas de exportação, o que se restringia a um

pequeno número de produtores rurais.

O sistema americano de assistência técnica e extensão rural era

baseado na tentativa de mudança do comportamento do homem do campo

Page 38: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[38]

para a adaptação das novas tecnologias e/ou processos de cuidado com os

recursos agrícolas.

Tal modelo, em linhas gerais, propunha a intervenção de agentes no meio rural tradicional com o objetivo de modificar o comportamento de seus habitantes, no sentido de que esses adotassem práticas cientificamente válidas para a solução de seus problemas – que, via de regra, implicavam aquisição de produtos e/ou equipamentos industrializados – e, consequentemente, alcançassem o desenvolvimento econômico e social. (REYDON; GRAZIANO DA SILVA apud MASSELLI, 1998, p.28).

Essa pesquisa não tem como propósito apresentar questões sobre a

eficiência ou compatibilidade ideológica do sistema norte-americano de

extensão rural. Contudo, vale pontuar que tal método era baseado nas

concepções de oferecer melhores e maiores produtividades, cunhadas no

expansionismo do neo-liberalismo americano, que estabelece diretrizes

visando o lucro dos procedimentos realizados no campo, ou seja, a adoção de

procedimentos calcados pelos princípios do modo de produção capitalista.

Doravante, outras formas de extensão rural foram constituídas ao longo

da história e até mesmo sendo adotados pelos produtores rurais e

extensionistas. Como foi o caso das práticas extensionistas baseados nas

teorias de Paulo Freire11, que se baseia na transferência de informações sem a

necessidade de intervenção profunda na cultura do camponês ou a imposição

de valores alheios ao mesmo. Acreditando na transferência de informações e

comunicação de uma forma linear, um método que não hierarquiza as

condições de atuação no sistema de extensão rural.

11 FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação?. Paz e Terra. São Paulo: 1982.

Page 39: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[39]

3.1 EMATER – Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão

Rural

As informações para contidas nesse capítulo dizem respeito à origem e

formação da Emater, enquanto empresa pública que presta serviços de

extensão rural e assistência técnica, tendo como recorte a atuação da empresa

no estado do Paraná. Sendo isso, as informações contidas nessa parte foram

extraídas do site12 da empresa, por isso as informações têm acesso e

consultas livres e públicas.

O Emater (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão

Rural) é uma instituição vinculada à Secretaria Estadual de Agricultura,

Pecuária e Abastecimento. Até o começo da década de 1990, o Brasil contava

com os serviços da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão

Rural (Embrater), que a Emater era filiada. Entretanto, na gestão de Fernando

Collor de Melo, a Embrater foi extinta. E os serviços dessa área ficaram a cargo

de cada estado, sob a tutela das secretarias estaduais de agricultura, pecuária

e abastecimento. No Paraná, a trajetória da Emater é marcada por algumas

mudanças de ordem burocrática, o que ocasiona mudanças de nomes.

A história da Emater como uma instituição de oferece serviços de

extensão rural e assistência técnica remota ao ano de 1956, quando as

atividades eram oferecidas no Paraná, através de um acordo entre os Estados

Unidos e Brasil para formarem o Escritório Técnico de Agricultura – ETA

Projeto 15 12

Até chegar a formação de instituto de assistência e extensão rural, a

instituição passou por algumas denominações diferentes que ocasionaram

modificações na estrutura burocrática e também nas atividades

desempenhadas que eram ofertadas à comunidade. Após o final do Projeto 15,

houve a necessidade da criação de um órgão que oferecesse com mais

eficiência essas atividades. Sendo assim, foi criada a Acarpa – Associação de

Crédito e Assistência Rural do Paraná - para oferecer os serviços de extensão

rural e assistência técnica no estado.

12< www.emater.gov.pr.br>

Page 40: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[40]

Com a extinção do ETA Projeto15, diversas entidades paranaenses ligadas à agricultura, reconhecendo a importância das atividades desenvolvidas, assumiram a responsabilidade pelo Projeto, dando-lhe nova denominação. Assim, em 4 de dezembro de 1959, era criada a ACARPA - Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná, entidade civil, sem fins lucrativos, filiada à Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural - ABCAR e vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento - SEAB (Site Emater-PR)

13

Em 1977, entra em vigor a lei 6.969, que autoriza a criação da Emater –

Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural. Como o

próprio nome denomina, essa instituição irá oferecer serviços de assistência e

extensão rural, se apoderando as atividades da Acarpa e propondo a extinção

da mesma.

A Emater, com denominação de empresa paranaense, passa por mais

uma mudança do nome da razão social, deixando de ser empresa pública e se

tornando autarquia pública, em dezembro de 2005. Entretanto, a instituição

permanece com a mesma sigla de desinência, alterando o nome para Instituto

Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural e preservando as

mesmas funções de atendimento do campo.

Atualmente, a Emater no Paraná conta com 1.190 profissionais dos mais

variados ramos de atuação, incluindo das áreas agrárias (agrônomos,

veterinários, zootecnistas, etc.) e pessoas do setor administrativo para atender

as demandas dos municípios. O instituto tem a estrutura técnica

estrategicamente situada por todo estado composta por unidades de eferências

a seguinte forma: uma unidade estadual, 393 unidades municipais, 21 unidades

regionais e 14 unidades distritais14.

13 http://www.emater.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6 14 http://www.emater.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=4

Page 41: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[41]

3.1.1 PROJETO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE ASSESSORIA TÉCNICA SOCIAL E AMBIENTAL (ATES) PELO PROGRAMA NACIONAL DE REFORMA AGRÁRIA NO ESTADO DO PARANÁ

Para poder apresentar o programa de Prestação de Serviço de

Assessoria Técnica e Ambiental foi necessária a realização de pesquisa

documental, tendo como princípio consulta aos acordos e editais feitos entre as

entidades realizadoras do projeto.

Conforme o próprio nome se refere

[...] a análise documental compreende a identificação, a verificação e a apreciação de documentos para determinado fim. No caso da pesquisa científica, é, ao mesmo tempo método e técnica. Método porque pressupõe o ângulo escolhido como base de uma investigação. Técnica porque é um recurso que complementa outras formas de obtenção de dados, como a entrevista e o questionário. (MOREIRA in BARROS; DUARTE, 2005, p.272).

Sendo assim, o questionário aplicado para a coleta de informações, bem

como cópia original do programa que foi acordado entre as entidades

envolvidas para a realização do mesmo se encontra entre os anexos dessa

pesquisa.

Como o compromisso da Emater é de prestação de serviços às famílias

do campo que lidam com algum ramo da agropecuária, as famílias que se

encontram nas condições de integrantes do movimento de sem-terra não estão

de fora dessa assistência. Em parceria com a Secretaria de Agricultura e

Abastecimento do Estado do Paraná (Seab-PR), Instituto Nacional de Reforma

Agrária (Incra) e organização da sociedade civil de interesse público (oscip)

Fundação Terra deram corpo ao projeto de prestação de serviço e Assessoria

Técnica Social e Ambiental (Ates).

O programa tem como objetivo a prestação de serviços de assistência

técnica especialmente destinada às famílias de assentados, como prevê o

Programa Nacional de Reforma Agrária no Paraná e Programa de

Reassentamentos de Barragens, desenvolvidos e financiados pelo Incra. Esse

projeto entrou em vigor no dia 19 de maio de 2008 e será finalizado no dia 19

de dezembro de 2011. Para isso, do convênio conta com orçamento de R$

20.789.509,23.

Page 42: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[42]

O programa visa prestar serviços de assessoria técnica, social,

econômica e ambiental a um conjunto de 11.837 famílias, em 216

assentamentos criados pelos programas de assentamentos, em 93 municípios

do Estado, buscando a sua viabilidade econômica e social, através de

processos produtivos voltados ao mercado e integrados à dinâmica do

desenvolvimento territorial, gerando empregos, renda e melhorias das

condições de vida das famílias assentadas.

A intenção do programa é de envolver as famílias assentadas dentro de

um princípio de desenvolvimento rural com base no pensamento sustentável e

filosofia ambiental, ampliando a visão social e econômica desses trabalhadores

para fortalecer o desenvolvimento agrário e pensamento coletivo da

importância do aprimoramento das atividades de assistência técnica e

extensão rural, como confere a Política Nacional de Reforma Agrária.

Além disso, o convênio pretende elaborar 18 Planos de Recuperação de

Assentamento – PRA, com ênfase na adequação dos assentamentos á

legislação Ambiental (resolução CONAMA N 387/2006) visando a obtenção da

LIO – Licença de Operação e Instalação. E tornar público para as famílias

atendidas os demais programas do governo e políticas públicas ao que se

referem à assistência técnica e extensão rural.

O programa ainda viabiliza a transferência de conhecimento e

empreendimento da tecnologia de uma forma amparada nas questões de

desenvolvimento sustentável. Para isso, foi constituída uma equipe

multiprofissional composta por 37 extensionistas disponibilizados pelo Emater,

e 102 profissionais oriundos da Fundação Terra para darem assistência a todos

os municípios assistidos pelo programa. Esse projeto inclui as famílias

assentadas na região de Cornélio Procópio para os procedimentos de

assistência técnica e extensão rural, objeto de estudo dessa pesquisa.

Page 43: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[43]

3.1.2 METODOLOGIA APLICADA NO PROJETO ATES

A equipe composta pelos integrantes do programa ATES atende às

demandas necessárias para cumprir as atividades de assistência técnica e

extensão rural15, então, para que o projeto obtenha resultados satisfatórios, a

equipe organizou uma série de procedimentos para a realização da assistência

técnica e extensão rural. Os métodos foram realizados à medida que o

programa fosse desenvolvido e surgissem os resultados. Para isso, foi

estabelecida uma ordem para execução e realização das metodologias

gradativamente, evoluindo de acordo com a finalização das tarefas

apresentadas.

Essas ações abrangiam desde visitas técnicas para o reconhecimento

das famílias assentadas, realização de seminários, reuniões e até o

oferecimento de cursos para a qualificação e profissionalização desses

trabalhadores. Segue abaixo as metodologias aplicadas16.

Os métodos utilizados para a realização do acompanhamento técnico

foram realizados de acordo com a disponibilidade das visitas oferecidas pelos

extensionistas. Com a tabela apresentada, poder-se-á ter conhecimento das

atividades e procedimentos metodológicos que foram empenhados para a

aplicação da assistência técnica e extensão rural. Sendo assim, serão

apresentados os métodos aplicados, bem como a intenção deles e o número

de trabalhadores sem-terra atendidos.

A descrição da tabela fornece uma noção completa dos métodos

oferecidos pelos extensionistas aos produtores rurais sem-terra. Sendo uma

forma de conhecer e esclarecer as formas de atuação empreendidas pelos

técnicos aos sem-terra, além de ser um canal para se reconhecer as diretrizes

de atuação do ATES destinada a essa categoria de trabalhador rural.

15 Como já citada, a grupo é composto por 139 profissionais ligados diretamente ao programa. A equipe é

composta por 37 profissionais da Emater, sendo dois assistentes sociais, dois zootecnistas, 15 técnicos

agrícolas e16 engenheiros agrônomos. Já a equipe de profissionais da oscip Fundação Terra é composta

por um assistente social, três engenheiros florestais, quatro médicos veterinários, três zootecnistas, 25

engenheiros agrônomos, 13 assessores econômicos e 54 técnicos agrícolas. 16 A tabela foi desenvolvida pelos profissionais extensionistas do programa para o desenvolvimento do

programa.

Page 44: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[44]

DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA UTILIZADA

META

MÉTODO

SIGLA

DESCRIÇÃO DO MÉTODO

Nº MÁXIMO DE

PARTICIPANTES

1.1

Visitas Técnicas

VT

Método de atendimento individual e

planejado, em que o extensionista informa o agricultor sobre determinada técnica ou prática a ser realizada, preferentemente, no empreendimento do agricultor (lote).

1

1.2

Reuniões Diversas - para levantamentos e

reconhecimento da realidade

RE

Método planejado em que o extensionista

procura, através de entrevistas abertas, conhecer a realidade a as necessidades da

Comunidade ou presta informações de ordem geral às pessoas.

50

1.3

Reuniões Diversas -

para discussões técnicas e

transferência de conhecimentos

RT

Método planejado em que o extensionista presta informações técnicas ou práticas, às

pessoas com problemas e interesse comuns.

50

1.4

Cursos Básicos sobre tecnologia de

produção vegetal

CR-V

Método planejado em que se transmite um conjunto de técnicas e práticas, mediante programação específica, com instrutores

habilitados, objetivando capacitar pessoas com interesses comuns, em culturas anuais

e perenes em curto prazo.

40

por turno ou módulo

1.5

Cursos Básicos - sobre

tecnologia de produção animal

CR-A

Método planejado em que se transmite um conjunto de técnicas e práticas, mediante programação específica, com instrutores

habilitados, objetivando capacitar pessoas com interesses comuns, em criações

diversas, em curto prazo.

40

por turno ou módulo

1.6

Seminários

SE

Grupos de pessoas que debatem uma

determinada matéria exposta (assunto), apresentada por um ou mais participante.

100

1.7

Unidades

Demonstrativas de Produção de Vegetal

Diversos

UD

Método utilizado para comprovar a

conveniência de introduzir os resultados de prática ou técnicas efetuadas em condições diferentes na produção ou explorações de

vegetais diversos.

1 A unidade de observação poderá ser utilizada para realizar Dia de Campo e visitação de agricultores

Page 45: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[45]

4. RECONHECENDO O ASSENTAMENTO CARLOS LAMARCA,

CONGONHINHAS (PR)

Para avaliar o grau de satisfação das famílias assentadas foi necessária

a seleção de uma parcela do universo dessas famílias, ou seja, a constituição

de uma amostragem dessa população. A amostragem para essa pesquisa foi

feita dentro da concepção da amostragem aleatória simples, a técnica

probabilística. Essa modalidade proporcionou chances para que todas as

famílias assentadas possam ser escolhidas para a realização do processo de

investigação.

Com a criação da amostragem, deixa mais em evidência o

esclarecimento do universo pesquisado, pois é “um estudo das relações

existentes entre uma população e as amostras dela extraídas. É de grande

valor em muitas conjeturas” (ALBUQUERQUE, 2005). Sendo assim, foi

escolhido maior assentamento da região quanto ao número de pessoas

assentadas para ilustrar o resultado, o assentamento Carlos Lamarca, de

Congonhinhas, onde 138 famílias vivem, totalizando aproximadamente 550

pessoas. Desse universo de pessoas, foram escolhidas aleatoriamente 10,8%

do total de famílias para compor a amostragem da pesquisa, ou seja, 15 chefes

de família para serem entrevistados/as (contemplando tanto homens como

mulheres). De acordo com levantamento de dados em documentos oficiais

da Emater-PR, as terras desse assentamento foram ocupadas em abril de

2000 e tiveram a data de emissão de posse no mesmo mês do ano seguinte. A

divisão dos lotes foi realizada em novembro de 2003 e a prestação de serviços

de assistência técnica e extensão rural por engenheiro agronomo de São

Jerônimo da Serra começou a ser desenvolvida em outubro de 2004 através

contrato especifico com o mesmo..

O local em que hoje se encontra os lotes das famílias assentadas

antigamente pertencia a uma propriedade rural onde funcionava uma empresa

de produção e processamento da celulose.

A falência dessa indústria ocorreu devido as dívidas contraídas para

sanar a crise financeira pela qual passava. Os proprietários do

empreendimento tomaram empréstimos junto ao Banco do Estado do Paraná

(Banestado) e não conseguiu saldar a dívida, então a propriedade foi entregue

Page 46: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[46]

ao banco, que por sua vez repassou ao Incra para o processo de

assentamento.

A área foi ocupada inicialmente por 596 pessoas, sendo que todas essas

pessoas eram provenientes da região norte do Paraná com a predominância

dos municípios de São Jerônimo da Serra, Sapopema e Congonhinhas.

Atualmente, o assentamento Carlos Lamarca é composto por 138 famílias,

sendo que dessas famílias 124 são originárias, 07 são antigos moradores da

fazenda e 07 são Famílias substituídas( Isto é deixaram os lotes para outros

sem-terra). Foi interessante perceber que alguns dos entrevistados dessa

pesquisa (33%) entraram para o movimento dos sem-terra após o

conhecimento da criação do assentamento Carlos Lamarca, principalmente

entre os participantes mais jovens, os demais entrevistados já tiveram alguns

participaram e tiveram contato com a ideologia do movimento.

Com o objetivo de reconhecer detalhadamente o universo pesquisado,

foi investigada a situação sócio-econômica do universo em questão, além de

questões referentes às culturas empreendidas e, principalmente, quanto à

satisfação do agricultor quanto às medidas adotadas para a realização do

convênio de extensão e assistência técnica rural, que é o objetivo principal

desse trabalho. Respondendo questionário composto por 14 questões e

fechadas, os participantes do assentamento Carlos Lamarca puderam expor a

realidade enfrentada para o desenvolvimento das atividades agrícolas.

Page 47: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[47]

4.1 O PERFIL DOS SUJEITOS E AS CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS

Dentro a amostragem dos chefes de famílias do assentamento Carlos

Lamarca, a faixa etária deles varia entre os 31 a 74 anos de idade, com média

de idade de 52 anos, sendo que a maioria deles é homens.

A renda dessas famílias varia entre em R$ 1.500,00 a R$ 25.000,00

brutos/anuais, dependendo da cultura cultivada, sendo a maior concentração

em renda de aproximadamente R$ 6.000,00.

Em alguns casos há ainda os aposentados e idosos (maiores de 60 anos

de idade) que recebem aposentadorias de um salário mínimo (R$ 510,00). Veja

a tabela em que consta a renda familiar das famílias entrevistadas:

RENDA (em reais) QUANTIDADE PERCENTAGEM

1.500,00 02 13,3

3.500,00 03 20,0

6.000,00 05 33,3

7.000,00 01 6,7

8.000,00 02 13,3

13.000,00 01 6,7

25.000,00 01 6,7

Total 15 100

Fonte: o autor dos entrevistados

Dentro desse grupo de famílias assentadas, a cultura plantada atende

tanto a agricultura de subsistência como a comercialização do excedente. E

tendo como predominância do cultivo de arroz, milho e café. Esses cultivares

estão presentes em todos os lotes do assentamento, além de arroz, eucalipto,

vassoura, feijão e derivados da olericultura.

Page 48: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[48]

Há ainda, de uma forma ainda menos expressiva, a criação de gado de

leite e aves (galinha). Seguindo a linha de atuação dos trabalhadores do MST,

nenhum dos lotes do assentamento Carlos Lamarca promove a monocultura,

sempre há pelo menos duas culturas diferentes sendo exploradas.

Na contramão dos procedimentos adotados pela maioria dos

assentamentos de trabalhadores sem-terra quanto ao regime de

comercialização, os integrantes do assentamento Carlos Lamarca não optaram

pelo modo de produção em cooperativa ou associação.

Em 2004 houve um movimento para a organização de uma cooperativa

para comercializar os produtos desse assentamento e de outros da região do

norte do Paraná, entretanto o empreendimento não obteve muito sucesso.

Os agricultores desenvolveram outras alternativas para a

comercialização dos produtos cultivados como, por exemplo, a comercialização

direta ao consumidor e também aos fornecedores, redes de supermercados e

demais estabelecimentos. Veja a seguir uma tabela com as principais

atividades nos lotes dos assentados:

Fonte: o autor dos entrevistados

O diferencial de renda obtida assentados (as) foi muito grande, com

valores de percentual de 1.666%, em nossa percepção se deve principalmente

a cultura que esta sendo explorada no lote, neste caso o café que tem uma

concentração de renda maior que as lavouras anuais,e também a quantidade

CULTURA Nº DE LOTES PORCENTAGEM

Café 11 73,3

Milho 12 80,0

Feijão 11 73,3

Olericultura 03 20,0

Arroz 10 66,7

Vassoura 01 6,7

Eucalipto 07 46,7

Bovino de Leite 04 26,7

Page 49: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[49]

de pessoas que trabalham no lote , e recursos externos que são alocados na

exploração.

Outro ponto que chama atenção é a diversificação como o plantio e

confecção artesanal de vassoura, Olericultura, e também a venda direta ao

consumidor, os programas governamentais federais como PAA (programa de

aquisição de alimentos) e PNAE (programa nacional da alimentação escolar),

que adquiri 30% dos alimentos da merenda escolar da agricultura familiar.

Em parte significativa dos lotes há a presença da mulher nas atividades

do campo, para 50% dos lotes entrevistados há a participação feminina na

renda familiar, entretanto, para 90% deles entendem que a participação das

mulheres para incrementar a renda familiar é importante.

Todas as mulheres casadas que prestam serviços nas lavouras, ainda

enfrentam dupla jornada sendo responsáveis também os afazeres domésticos,

educação dos filhos e outras atividades relacionadas com a vida doméstica.

As famílias são compostas pelo casal e há uma média de três filhos,

porém existe casal com até cinco filhos, exceto em três lotes onde os

assentados moram sozinhos.

Os trabalhos no campo são executados tanto por homens e mulheres,

entretanto as mulheres têm jornada dupla, pois além desse trabalho também se

dividem nos afazeres domésticos, educação dos filhos e outras atividades

referentes ao cotidiano da casa. A renda de algumas famílias é complementada

por alguns dos filhos desses assentados que saem dos assentamentos para

trabalharem no espaço urbano ou até mesmo como trabalhador rural em outras

propriedades.

Ao que se refere à escolaridade desses trabalhadores, o grau de

escolaridade se encontra baixo. Essa situação é mais grave ainda entre

patriarcas e matriarcas das famílias, pois desde cedo essas pessoas tiveram

que abandonar os estudos para se dedicarem às atividades do campo, não

retornando para a conclusão dos estudos em nenhuma fase da vida.

Page 50: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[50]

Fonte: autor dos entrevistados

Esse índice não é tão baixo entre as gerações mais novas. A maioria

dos indivíduos dessa categoria etária ingressa ao ensino fundamental e muitos

deles chegam a concluí-lo, conciliando os estudos com o trabalho, seja na

lavoura ou em outro local de trabalho.

Quanto à ocorrência de trabalhadores que têm ensino médio é quase

que insignificante, apenas um dos entrevistados, e ainda incompleto. Por não

haver representatividade no número de pessoas com nível médio de

escolaridade, consequentemente, não há algum dos trabalhadores que tenham

ingressado ao nível superior.

ESCOLARIDADE PORCENTUAL DENTRE OS ENTREVISTADOS

Analfabetos 20%

Semi-analfabetos 32%

Fundamental incompleto 48%

Page 51: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[51]

5. SATISFAÇÃO DOS ASSENTADOS

Tendo como base as condições sócio-econômicas que se encontram as

famílias que integram o assentamento Carlos Lamarca, as metodologias

aplicadas para os procedimentos de extensão rural e assistência técnica e a

constância das visitas dos extensionistas para o acompanhamento dos lotes,

houve aprovação de todos os entrevistados quanto às atividades desenvolvidas

pelo convênio ATES. Ponderando que na totalidade dos entrevistados, além da

satisfação com os serviços prestados, há a troca de informações e a existência

de diálogo sobre os serviços oferecidos pelo convênio ATES entre os

proprietários dos lotes.

Essa situação é muito relevante ao se levar em conta que os

procedimentos técnicos de extensão rural e assistência técnica não são

meramente a transferência de conhecimento e a imposição outorgada de uma

nova forma de cultura e valor. A existência de comunicação e exposição de

experiências entre os trabalhadores dos lotes fortalece de forma mais

consistente os laços de informação entre eles, o desenvolvimento de um senso

crítico sobre as informações e conhecimentos repassados aos assentados.

Além de ser uma fonte a mais de coleta de informação para o extensionista que

desejar obter mais conhecimento sobre a área e a população público de sua

atividade profissional.

Mesmo com essa aprovação por conta dos assentados frente aos

trabalhos realizados pelos profissionais extensionistas, há pontos que devem

melhorar nessa relação. Como, por exemplo, maior frequência das visitas para

o acompanhamento do desenvolvimento das lavouras por parte dos

profissionais extensionistas em alguns dos lotes houve visitas quinzenais,

entretanto há registro de lotes que ficam com intervalo de um ano sem o

acompanhamento .

Um outro gargalo encontrado pelos trabalhadores assentados que diz

respeito às atividades do convênio é quanto os orçamentos e situação

econômica em que eles se encontram. Há um hiato entre a necessidade a

implantação de novas tecnologias para o desenvolvimento das lavouras e a

Page 52: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[52]

disponibilidade de recursos financeiros para haver maior utilização de

tecnologia de produção tanto na produção agrícola como na área de criações.

Todavia, esse empecilho foi contornado pela adaptação da realidade em

que os trabalhadores se encontram e as condições financeiras. Para agravar a

situação, em alguns casos, que não são raros, há um alto índice de

inadimplência por parte dos trabalhadores do assentamento Carlos Lamarca

junto às agências bancárias financiadoras, o que dificulta ainda mais a

obtenção de crédito rural para ser investido nas lavouras/criações para

oferecerem maior rentabilidade. A inadimplência inibe o desenvolvimento do

convênio, do técnico e da familia.

As condições de infraestrutura também fazem parte das melhorias do

desenvolvimento do assentamento. Mesmo sendo considerada uma instância

indireta quanto à assistência técnica e extensão rural, a intervenção na

infraestrutura afeta diretamente no modo de produção do campo. Como é o

caso das condições em que são encontradas as estradas rurais que dão

acesso ao assentamento Carlos Lamarca.

As estradas rurais que cortam o assentamento devem ser adequadas

como a colocação de cascalhos, para que o trafego de veículos aconteça com

maior fluidez durante todo o ano, além de ser um agente facilitador para o

escoamento da produção para ser comercializada bem como transporte escolar

e para o acesso aos serviços de saúde.

O saneamento básico também foi outra questão necessária entre as

demandas para melhorias do assentamento. Por não haver rede de distribuição

de água, os moradores do local acreditam que com a instalação do

saneamento básico há a possibilidade de reduzir a incidência de doenças

dentro do assentamento e o fluxo de pessoas às unidades básicas de saúde

(UBS), os chamados postos de saúde.

Devido ao baixo índice de escolaridade, os trabalhadores pesquisados

acreditam que deveria haver formas de políticas públicas voltadas para atender

a educação, principalmente visando os adultos já que esses constituem a maior

parcela de analfabetos dentro do assentamento.

Page 53: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[53]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com as pesquisa realizada se apoderando de métodos

científicos para a coleta de informação e análise da revisão bibliográfica sobre

o tema abordado, foi possível concluir que os procedimentos de extensão rural

e assistência técnica realizadas dentro do assentamento Carlos Lamarca, em

Congonhinhas (PR), sugeridos pelo convênio ATES, apresentam efeitos

positivos para o desenvolvimento do local.

Mesmo não havendo a plenitude da realização de todos os

procedimentos para a aplicação das técnicas e tecnologias repassadas às

famílias assentadas por uma questão de ordem financeira, há a aprovação

desses trabalhadores aos métodos apresentados pelos extensionistas. Ainda

há a comunicação para a análise e reflexão entre os próprios assentados sobre

esses métodos, o que estabelece uma visão crítica sobre o conhecimento

repassado.

As sugestões de melhoria para o assentamento Carlos Lamarca

apontada pelos próprios trabalhadores do local não se referem diretamente às

metodologias e técnicas que envolvem a assistência técnica e extensão rural,

mas as condições de ordem social e econômica como, por exemplo, a criação

de políticas públicas para a educação, principalmente visando a alfabetização

de adultos. Além dessas referências, poderia haver algum mecanismo para a

criação também para a manutenção das estradas de acesso aos

assentamentos e políticas públicas que envolvessem programas de saúde ao

saneamento básico, uma vez que essa condição é fundamental para o

exercício da cidadania, um direito e uma obrigação do Estado de prover essas

modalidades à sociedade.

Desde 2007 os técnicos do convênio Ates/Incra prestam assistência

técnica e extensão rural para que esses lotes tenham condições de se

manterem em boa produtividade e rentabilidade dos produtos cultivados e

comercializados. Mesmo enfrentando dificuldades com os empecilhos advindos

da falta de recursos financeiros e também os longos intervalos entre uma visita

técnica e outra. Entretanto, ainda com essas condições adversas e gargalos no

modo de operação, o programa consegue colher bons frutos e apresentar bons

resultados.

Page 54: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[54]

As melhorias para o programa tangeria a implementação de políticas

públicas para questões que envolvessem a saúde e bem-estar das famílias

assentadas, organização mais efetiva para visitas técnicas e viabilização, seja

de forma individual ou por método de cooperativa, para comercialização e

vazão dos produtos cultivados.

As instituições responsáveis pelas politicas publicas (saúde, educação,

infraestrutura e assistência técnica agropecuária) devem serem convidadas e

ou envolvidas para prestarem os seus serviços dentro dos assentamentos,

para solucionar problemas como analfabetismo, águas das minas

contaminadas, assentados(as) necessitando de assistência de saúde como por

exemplo um demanda por óculos, estradas em condições precárias

prejudicando o escoamento da produção, a falta de transporte escolar e de

doentes etc. pois as famílias devem residir no meio rural com dignidade.

As metodologias de extensão rural, que mais se adequam aos

assentamentos são as preconizadas como aprender fazer Fazendo, por

exemplo as Unidades Demonstrativas e Oficinas e com assistência técnica

desde o inicio dos investimentos de produção, bem como explorações que

necessitem o minimo de investimento em máquinas e equipamentos pois com

os lotes com aproximadamente 12,10 hectares não será possivel pagar todo o

investimento.

Este convênio que ficou na responsabilidade do Instituto Emater e

Fundação Terra possuiu alguns desgastes e problemas que necessitam

reformulação e alguns ajustes, para que novas propostas sejam

implementadas com maior sucesso, como por exemplo:

- Falta de infraestrutura, (veículos ,computadores, etc...) para os

profissionais pudessem desenvolver um trabalho adequado.

- Os profissionais não tiveram um local (escritório) para atendimento ao

publico.

- Não foi contratado o numero ideal de profissionais para prestar

assistência técnica.

No assentamento Carlos Lamarca observamos a dificuldade de muitos

assentados(as) não terem recursos para investimento na produção

Page 55: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[55]

agropecuária, pois estão inadimplentes junto ao Banco do Brasil, o que

ocasionou um limite para o desenvolvimento da assistência técnica.

Outro aspecto que deve ser considerado é o analfabetismo pois, os

assentados(as) não sabem ler e nem escrever dificultando a aplicação das

recomendações técnicas emanadas pelos profissionais de agronomia e

veterinária, e também assimilação dos conhecimentos técnicos e

recomendações.

Page 56: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[56]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, Valter. Amostra e Estimação. Aposta da Faculdade de Matemática (FAMAT) para o Departamento de Estatística e Estatística Aplicada à Administração I da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RG). Disponível em < www.pucrs.br/famat/... /3_AMOSTRAGEM_E_ESTIMACAO.doc> Acesso em 25 de fevereiro de 2011.

ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda História: história geral e história do Brasil. Rio de Janeiro: Editoria Ática, 1997. BERGAMASCO, Sonia Maria; NORDER, Luiz Antonio Cabello. O que são Assentamentos Rurais. São Paulo: Brasiliense, 1996.

BRENNEISEN, Eliane Cardoso. Relações de Poder, Dominação e Resistência: MST e assentamentos rurais. Cascavel: Edunioeste, 2002. DUARTE, Jorge. Entrevista em Profundidade. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (orgs.). Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São

Paulo: Editora Atlas S.A, 2005. FABRINI, João Edmilson. Assentamentos de Trabalhadores Sem-terra: experiências e lutas no Paraná. Cascavel: Edunioeste, 2001.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de

São Paulo, 2003. FERNANDES, Bernardo Mançano. O MST Mudando a Questão Agrária. In: D‟INCAO, Maria Angela (org.). O Brasil não é mais aquele... Mudanças sociais após a redemocratização. Cortez Editora: São Paulo, 2001. FREITAS, Décio. Palmares: a guerra dos escravos. Rio de Janeiro: Graal, 1978. LARANJEIRA, Raymundo. Colonização e Reforma Agrária no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. MASSELI, Maria Cecília. Extensão Rural entre os Sem-terra. Piracicaba:

Editora Unimep, 1998. MEDEIROS, Leonilde Sérvolo de. História dos Movimentos Sociais no Campo. Rio de Janeiro: Fase, 1989.

MOREIRA, Sonia Virgínia. Análise de Conteúdo. In: In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (orgs.). Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Editora Atlas S.A, 2005.

Page 57: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[57]

MÜLLER, Mary Stela; CORNELSEN, Julce Mary. Normas e Padrões para teses, dissertações e monografias- 6ª ed. rev. e atual. – Londrina: Eduel, 2007 PERONDI, Miguel Angelo; RAMOS, Marcio Roberto; SOARES, Claudiana Vieira. Principais Impactos Sociais e Econômicos Gerados no Processo de Reforma Agrária: o caso do município de Rio Bonito do Iguaçu (Paraná). In: I Curso de Especialização em Desenvolvimento Rural. Pato Branco: CEFET-PR/CEPAD/IMPREPEL, 2003. SANTOS, Regina Bega. Movimentos Sociais Urbanos. São Paulo: Editora

Unesp, 2008. Secretaria Nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra). MST: Lutas e Conquistas. São Paulo, 2010.

VEIGA, José Eli. O que é Reforma Agrária. São Paulo: Editora Brasiliense,

1981.

Page 58: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[58]

ANEXOS

1. Questionário Questionário de avaliação do convênio ATES/INCRA nos assentamentos do INCRA na região de Cornélio Procópio desenvolvido em 15 assentamentos abrangendo 600 familias. OBS: É importante destacar que a utilização das informações garantirá o anonimato e o sigilo das identidades dos sujeitos. 1-Nome: Assentamento : Municipio: Idade ____ Sexo ( ) M ( )F Estado civil Natural Filhos Mora com quantas pessoas na casa? E quem são essas pessoas

2-Grau de escolaridade/instrução ( ) Analfabeto ( ) Semi-analfabeto ( ) Fundamental incompleto ( ) Fundamental completo ( ) Ensino Médio incompleto ( ) Ensino Médio completo ( ) Ensino Superior incompleto ( ) Ensino Superior Completo 3- Há quanto tempo trabalha como um trabalhador do campo?

Voçê já participou do M.S.T? SIM ( ) NÃO ( ) 4- Há quanto tempo faz parte dos movimentos de assentamentos?

5- Há quanto tempo faz parte desse assentamento em que se encontra?

6- Quais são as quais as atividades econômicas exploradas em seu lote? 7- Você já recebeu visita ou assessoria técnica dos profissionais da Fundação Terra ? 7.1- Desde quando o (a) senhor (a) recebe a assistência da Fundação Terra , via o convênio ATES?

Page 59: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[59]

8- Como foram os contatos com os profissionais da Fundação Terra e os procedimentos de extensão

( ) Não gostei e não vou aplicar em meu lote ( ) Não gostei, mas mesmo assim eu aplico no meu lote ( ) Gostei, mas troco informações com os meus companheiros de lote sobre as informações repassadas ( ) Gostei, mas deveriam ter ensinamentos e procedimentos que fossem mais condizentes à nossa realidade ( )Gostei, mas poderia ser melhores e mais completos ( )Gostei e estou aplicando o que me foi passado ( ) Gostei e estou aplicando e estou repassando aos meus companheiros de assentamento e demais conhecidos ( ) A forma de transmitir os procedimentos não me agradou(linguagem, expressões verbais...) ( ) Informações sem muita relevância ( ) Não tinha recursos financeiros para fazer os procedimentos repassados pelos extensionistas ( ) Conflito entre a forma de plantio que uso e os métodos passados pelos extensionistas ( ) Não conseguia entender as informações que os extensionistas pretendiam transmitir ( ) Acredito que a forma como eu planto seja melhor que a forma como os técnicos pretendiam ( ) Outros 10- As informações prestadas pelos profissionais técnicos foram: ( ) As informações passadas com segurança pelos técnicos ( ) Os procedimentos foram de fácil entendimentos para que eu pudesse aplica-los no seu lote ( ) Os procedimentos lhe garantiram uma boa produção e alta produtividade ( ) Os técnicos lhe passaram procedimentos muito importantes para o seu lote ( ) Os técnicos foram muito prestativos seus acompanhamentos dirimiram as suas duvidas? ( ) Os procedimentos foram realizados dentro da sua realidade financeira, por isso voçê adotou? 11- Qualificando de um modo geral, como você pontuaria as atividades do projeto. E,por quê?

( ) Ótimas ( )Boas ( ) Regulares ( ) Ruins ( ) Insuficientes OUTROS 12- Qual a Participação do trabalho feminino na renda Familiar?

Page 60: Avaliação do Convênio ATES/Incra na região de Cornélio Procópio · [2] MANUEL PESSOA DE LIRA AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO ATES/INCRA NA REGIÃO DE CORNÉLIO PROCÓPIO Trabalho de

[60]

13- Qual o maior problema da família para que as atividades sejam desenvolvidas como um todo? 14- Qual a frequência de visita do técnico(a) no seu lote?