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    CURSOS ON-LINE DIREITO ADMINISTRATIVO EM EXERCCIOS ESAFPROFESSOR GUSTAVO BARCHET

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    AULA 0 : PRI NC PI OS

    Pessoal, antes de iniciarmos nossa aula, gostaria de tratar de trs assuntos queconsidero de central importncia na preparao com sucesso para qualquer concursopblico: resoluo de questes anteriores da entidade que vai organizar o certame;escolha do material terico e metodologia de estudo e reviso.

    Primeiramente, voc tem que se dar conta de que resolver questes de provasanteriores da entidade (ESAF, CESPE, FCC etc) que vai elaborar a prova do concursono apenas proveitoso, til, importante. No, no. muito mais que isso: IMPRESCINDVEL.

    Em se tratando de provas objetivas, todo concursando tem que ter em mente que seuobjetivo no aprender Direito Administrativo, Contabilidade, Matemtica Financeiraou qualquer outra disciplina exigida no certame, nem meramente resolver questesdesta disciplina, mas resolver questes DA FORMA COMO ELAS SO ELABORADASPELA ENTIDADE EM QUESTO. Vou relatar uma experincia pessoal para reforar essaassertiva.

    A situao em questo diz respeito ao concurso que prestei para Delegado da PF em2002. Na poca, estava em Braslia, fazendo o curso de formao para AFRF, e nodispunha, em funo disso, de muito tempo para estudar. Desse modo, quando saiu oedital (salvo engano, a prova era aproximadamente trs meses depois da publicao),eu tive que fazer um projeto de estudo o mais enxuto possvel. Apesar de formado emDireito, meu conhecimento, exceto em Administrativo, Tributrio e Constitucional, eraextremamente limitado, e o concurso, em vista da remunerao inicial do cargo, davatoda a pinta de que seria disputado por candidatos com elevado nvel de conhecimentojurdico, que j vinham se preparando para concursos como os da magistratura e doMinistrio Pblico. Das matrias exigidas, cerca de 60% eu desconhecia ou conheciamuito pouco.Pois bem, frente a essa situao e em face do tempo restrito at a prova, eu optei porescolher um material de estudo de boa qualidade, mas o mais sinttico possvel (e d-lhe Sinopse!!), e resolver um grande nmero de questes anteriores do CESPE.Aproveitando que estava em Braslia, pedi umas orientaes para o Vicente (foi assimque eu conheci a figura), e ele me ofereceu todo o material disponvel no Ponto. Pegueio material, cerca de 40 provas anteriores, e dividi meu tempo em 60% de estudoterico e 40 % de resoluo de questes (em informtica, matria em que eratotalmente ignorante, simplesmente paguei para um professor comentar as questes elimitei meus estudos a isso).

    Bom, o resultado dessa minha metodologia foi que, dentre os 50.000 candidatos s

    500 vagas, eu fiquei em 32% lugar. No quero aqui fazer auto-adulao, pelocontrrio, o que desejo salientar que, apesar de meu restrito, verdadeiramenterestrito conhecimento de boa parte das matrias da prova, eu pontuei o suficiente paraficar bem colocado. Por qu isso? No porque sou o gnio da lmpada, nada disso,mas porque eu, ao resolver 3 ou 4 vezes cada prova, anotando minhas dvidas econcluses, aprendi de cada matria os pontos cobrados pelo CESPE, E DA FORMACOMO PELA ENTIDADE COBRADOS.

    Basicamente, eu aprendi, naqueles trs meses, a pensar CESPE, e foi isso que mepermitiu ficar bem classificado. Sem qualquer exagero, quando fui fazer a prova fsica,no tempo em que a gente fica esperando ser chamado para o exerccio (oportunidadeem que descobri do jeito mais infeliz que fazer barra barra), ficamos num grupo de30 ou 40 pessoas comentando a prova, e eu vi o desnvel do meu conhecimento com

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    relao a pessoas que fizeram 10, 12, 14% menos pontos que eu na prova. Elastinham um conhecimento muito mais profundo (no estou exagerando, esta simplesmente a verdade) das matrias jurdicas como um todo (3 ou quatro livros de

    cada matria, estudo da jurisprudncia dos Tribunais Superiores e do STF ...), aopasso que meu estudo foi disparadamente mais superficial (1 livro de cada matria,nomximo 2, e nem cheguei perto dos sites dos Tribunais Superiores). No entanto, eutinha o que a maioria no tinha: um bom conhecimento dos posicionamentos doCESPE, da forma como ele elabora as questes, dos pontos que ele preferencialmenteenfoca. Isso me permitiu uma boa classificao com um conhecimento muito maislimitado do que o de milhares de candidatos que nem chegaram a fazer a segunda fasedo concurso.

    Em sntese, trouxe o exemplo para enfatizar: faa questes, no apenas comocomplemento de estudo, mas como parte do seu quotidiano de preparao. Selecioneas 30 ltimas provas, faa um ndice de disciplina por provas (questes 1 a 20 daprova de AFRF/2003: Portugus; questes 20 a 40 da Prova AFC/2002: Direito

    Constitucional etc) e resolva ao menos 3 vezes por semana uma prova (ou parte deuma prova) de cada disciplina do concurso, anotando todas as concluses queconseguir retirar da resoluo (tudo aquilo que voc no conseguiu aprender, ouaprendeu deficientemente, estudando a teoria), as questes que considerainteressante refazer num futuro prximo e as que errou e no conseguir descobrir omotivo. Experimente um ms esse mtodo, e voc perceber a evoluo de seuestudo, alm do fato, por si s, de que a resoluo de questes quebra a rotina maistediosa (para a maioria) do estudo da teoria pura.

    Como segundo ponto, quero salientar a importncia da escolha do material terico deestudo. Na minha opinio a questo se resolve com base em dois critrios:

    1) escolha um livro (no uma apostila, a no ser que exista livro tratando da matriaou que a apostila seja excelente) voltado para concursos. Esse livro no o livro mais

    completo sobre a matria, nem necessariamente o mais respeitado no mercado, mas olivro que melhor responde s suas necessidades (que resolver questes objetivas).Em Direito Administrativo, para cursos de rea no-jurdica, indico sem qualquer receioo livro do Vicente e do Marcelo;

    2) escolha apenas UM livro. No mximo, se der tempo, adote outro como leituracomplementar, lendo-o apenas uma vez e marcando apenas os pontos no abordadosou insuficientemente abordados no primeiro, o livro-base. Numa eventual releituraapenas os pontos marcados do material complementar devem ser revistos.

    Por terceiro, a questo que, juntamente com a resoluo rotineira de questes, emmeu entender constitui a chave para o sucesso na preparao: a medotodologia deestudo e reviso. No quero, e nem tenho conhecimento para isso, dar uma aula sobremetodologia de preparao para concursos, mas apenas dar minha receita pessoal de

    preparao, a qual consiste basicamente no seguinte:1) estudar o material terico uma ou duas vezes, conforme a necessidade, de modo aobter um razovel conhecimento, pelo menos, dos pontos bsicos da matria. Essematerial terico, em Direito, envolve tanto o livro escolhido (ou os 2 livros, se adotarum complementar) como as leis exigidas na prova (por mais chato que seja, indispensvel um razovel conhecimento da literalidade lei para a aprovao, pois talconhecimento pressuposto tanto para a compreenso adequada da matria como suficiente, por si s, para se resolver diversas questes da prova);

    2) IMEDIATAMENTE aps esse primeiro estudo da disciplina, comece a resolver, deforma sistemtica (ao menos trs vezes por semana, nem que seja 15 minutos a cadavez) as questes das provas anteriores. Tenha um caderno prprio para isso, e anote

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    nele, pelo menos, TUDO que concluir com a resoluo, bem como as questes queerrou e no conseguiu descobrir o motivo;

    3) leia novamente o material terico (lei, livro-base e apenas as anotaes do livro

    complementar, se voc optou por adot-lo). Esse segundo momento de estudo tericoem regra muito mais produtivo que o primeiro, pelo fato de voc j ter feito a bateriade questes. Nessa etapa voc tem que adquirir, se no o fez anteriormente, umconhecimento no s dos aspectos principais da disciplina, mas tambm dos detalhesespecficos de cada uma de suas unidades (pois este conhecimento que, alm daaprovao, possibilita a classificao dentro do nmero de vagas);

    4) se der tempo, tente solucionar novamente o material de provas anteriores, ou aomenos parte desse material, principalmente as questes anotadas. Nessa resoluovoc deve complementar suas anotaes;

    5) conforme sua disponibilidade de tempo, leia novamente o material terico (emminha experincia pessoal, nessa terceira leitura que atingimos um bom nvel deconhecimento) e, OBRIGATORIAMENTE, releia todas suas anotaes da resoluo dequestes.

    Evidentemente, o procedimento est descrito em termos superficiais, e voc deveadapt-lo s suas peculiaridades pessoais. Trs pontos, contudo, considero essenciais:

    (1) a resoluo de questes;

    (2) a imediata passagem de uma fase de preparao a outra, em cada matria. Estudea parte terica de Direito Administrativo e, na semana seguinte, j passe para aresoluo de questes; encerrando-a, j na prxima semana inicie a segunda leituraterica, e assim por diante. Do contrrio o estudo no tem continuidade, e quandovoc voltar a ver a matria j ter esquecido grande parte do que estudouanteriormente;

    (3) o estudo e/ou reviso concomitante de mais de uma matria, conforme suadisponibilidade de tempo. O crebro processa melhor, at onde vislumbro, 3 perodosde 2 horas de 3 matrias diferentes, por exemplo, do que o mesmo tempo estudandoapenas uma nica matria. Alm disso, a reviso necessariamente deve abranger,concomitantemente, todas as matrias que voc j estudou, por menor que seja otempo dirio ou a cada dois dias dedicado a cada uma delas, a ser definidoconforme seu peso na prova e suas dificuldades pessoais de aprendizado.

    Para encerrar essa introduo, s quero frisar que o segundo e terceiro assuntos queaqui abordei so opinies que podem ser contraditadas por outras pessoas que tiveramsucesso na rea de concursos. Mas no a primeira. Sendo chato, voc obrigado asentir a necessidade de solucionar provas anteriores, sob pena de, por mais apuradoque seja seu conhecimento terico na matria, voc jamais atingir seu objetivo deingressar na Administrao Pblica. Lograr aprovao num concurso pblico essencialmente, uma questo de saber resolver questes. Como disse o nobreShaiquispir, ser [a alternativa] ou no ser, eis a questo.

    Quanto ao Curso que estamos iniciando, em complemento ao que mencionei naprimeira pgina, vou adotar a sistemtica de fornecer de incio a resposta correta (oudizer se a alternativa est certa ou errada) e s depois iniciar o comentrio. Ao finalfao a sntese da explanao, destacando-a em negrito.

    Nas questes que tratem de pontos da matria j comentados na aula, me limitarei auma rpida reviso terica e ao comentrio da prpria questo. Nas que mesclaremtemas tratados e no tratados anteriormente, me limitarei, mais uma vez, a tratar dosassuntos ainda no trabalhados, passando da para a anlise da questo.

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    O material de questes composto das questes formuladas pela ESAF em 2003 e2004, e de questes mais antigas, de 2000 a 2002, principalmente da rea fiscal, quetratam dos pontos no cobrados nas primeiras. Desse modo, trabalho com as questes

    mais atuais da ESAF, cujo conhecimento imprescindvel, e ao mesmo tempo abordotodos os tpicos relevantes, para fins de concurso, da matria objeto da aula.

    A proposta dos Cursos On-Line do Ponto o trato da matria de modo similar ao quefazemos em sala de aula, com uma linguagem que prime pela informalidade, dentro doque o tema permite, fazendo uso com freqncia de exemplos elucidativos. Essa ser ametodologia que aqui adotarei, a qual tive oportunidade de desenvolver, aos trancos ebarrancos, durante minhas aulas no Espao Jurdico, em Recife. Desejo aqui expressarmeus agradecimentos a todo o pessoal do Espao, em especial aos alunos, cujo nvelde preparao e exigncia obrigam o professor a ralar muito em sala, semprebuscando uma exposio da matria que, sem abrir mo da profundidade de anlise,seja direcionada ao concurso em pauta. A eles, meu sincero muito obrigado.

    Passemos, ento, nossa aula demonstrativa, que traz questes relativas a uma

    matria central em Direito Administrativo: os princpios que regem a atuao daAdministrao Pblica.

    Mos obra.

    Questo 01

    (Auditor de Tributos Municipais Fortaleza/2003) - O princpio constitucional dalegalidade significa:

    a) que tudo que no estiver proibido por lei lcito ao administrador pblico fazer.

    b) que os atos praticados pelos servidores pblicos devem estar de acordo com o queestabelece a lei.c) que, se determinada tarefa operacional no estiver especificamente descrita em lei,o servidor no deve faz-la, ainda que se inclua no rol geral de suas atribuies.

    d) que todos os atos dos servidores pblicos devem ser pblicos.

    e) que o servidor pblico no deve agir de modo impessoal.

    Gabarito: B.

    Comentrios:

    Antes de analisarmos o princpio da legalidade, objeto da questo, vlido falarmosrapidamente sobre princpios jurdicos e, mais especificamente, sobre os princpiosjurdicos que regem a Administrao Pblica.

    Princpios jurdicos nada mais so que os valores, as diretrizes, as idias centraisque informam toda uma disciplina jurdica (Direito Administrativo, Direito Civil etc), umramo jurdico (o Direito Pblico ou o Direito Privado) ou mesmo o Direito como umtodo. Tais valores, idias ou diretrizes, em suma, princpios, encontram-se na base doordenamento jurdico, e norteiam sua interpretao e a aplicao.

    Existem inmeros princpios integrando o ordenamento, sendo equivocada qualquertentativa de escalon-los hierarquicamente (no h princpio inferior e princpio

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    superior). Isso significa que, em uma situao em concreto, na qual incidam dois oumais princpios (o que muito comum), errado se pensar que um deles possa anularo outro (ou os outros).

    O que poder ocorrer que um ou mais princpios incida(m) em grau maior do que osdemais, naquela situao especfica, mas todos devero ser observados. Enfim, aaplicao dos princpios jurdicos sempre se d de forma conjunta e harmnica, sendoincorreto se concluir que poder um princpio simplesmente impedir a aplicao deoutro.

    Apreendida essa viso inicial, fcil definirmos o que so princpios administrativosou princpios da Administrao Pblica: so as diretrizes, os valores, as idiasnucleares que regem a atuao da Administrao. Esta, ao agir, deve faz-lo a partirde tais princpios e para realiz-los. Todo ato praticado com violao a qualquer destesprincpios invlido.

    Existem os princpios administrativos implcitos, que so aqueles no expressamenteprevistos numa norma jurdica (cujo nome no consta de uma norma especfica).Alm deles, e em maior nmero, temos os princpios explcitos, ou seja, aquelesexpressamente previstos em uma norma jurdica. Alguns se encontram previstos noart. 37 da Constituio de 1988, que trata especificamente da Administrao Pblica, aexemplo dos princpios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, dapublicidade e da eficincia; outros se encontram esparsos ao longo do textoconstitucional, principalmente no art. 5, como os princpios do devido processo legal edo contraditrio e da ampla defesa. Outros, ainda, esto previstos na legislaoinfraconstitucional, como o princpio da isonomia, mencionado na Lei 8.666/93.

    Deve-se ressaltar que todos os princpios administrativos aplicam-se a todos osPoderes da Repblica (Legislativo, Executivo e Judicirio) e a todas as esferas deGoverno (Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios).

    Um razovel conhecimento dos princpios da Administrao Pblica facilita em muito oestudo de todos os demais captulos de Direito Administrativo. Em inmeras situaes,frente a uma questo sobre uma matria especfica (licitaes, contratos, serviospblicos etc) voc no se recordar exatamente do dispositivo legal que est sendoquestionado, mas se lembrar do princpio aplicvel ao caso, e a partir da poderchegar alternativa correta. Alm disso, muitas questes vo alm do texto legal,exigindo um conhecimento mais profundo da matria, e essas voc s acerta se tiverum bom conhecimento dos princpios administrativos.

    proveitoso ressaltar que o professor Celso Antnio Bandeira de Mello considerabasilares para a Administrao os princpios da supremacia do interesse pblico sobreo privado e da indisponibilidade do interesse pblico. A professora Maria Sylvia Zanelladi Pietro apresenta entendimento ligeiramente diverso, colocando no pice do nosso

    sistema administrativo os princpios da legalidade e da supremacia do interesse pblicosobre o privado. Dentre todos, o princpio bsico o da supremacia do interessepblico sobre privado. Eventualmente, tal conhecimento exigido para a resoluo dequestes.

    Apresentadas essas noes, passemos anlise da questo, que trata do princpio dalegalidade.

    a) que tudo que no estiver proibido por lei lcito ao administrador pblico fazer.(errada)

    b) que os atos praticados pelos servidores pblicos devem estar de acordo com o queestabelece a lei. (certa)

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    O princpio da legalidade o princpio central do chamado Estado de Direito, forma deorganizao poltica que tem na lei o seu ponto central. Desde seus primrdios aatuao do Estado fundamentou-se no denominado princpio da supremacia do

    interesse pblico sobre o privado (comentado numa prxima questo), o qualassegurava ao ente estatal, na condio de gestor dos interesses pblicos, umaposio de predominncia frente aos administrados.

    Tal superioridade, at o sc XIX, era praticamente ilimitada: o administrado nodispunha de qualquer segurana frente ao poderio do ente estatal, sendo por estecompletamente subjugado. Entra em cena, ento, o princpio da legalidade, construdocom o justo objetivo de limitar este poder at ento sem limites. A partir de suaconsagrao, o Estado permanece preponderando sobre o administrado quando atuaem prol do interesse pblico; contudo, agora sua atuao se faz a partir de lei, editadapelo prprio Estado, e tem nela o seu limite insupervel.

    Fique, ento, com essa idia essencial: o princpio da legalidade uma autolimitaodo Estado frente ao administrado. O Estado cria as leis, e ao faz-lo restringe seu

    poder.H uma primeira previso do princpio da legalidade no art. 5, II, da CF, o qual rezaque ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtudede lei. Esse dispositivo traz a forma como o princpio aplicado com relao aosparticulares: estes no esto impedidos de agir na falta de norma prevendo apossibilidade para tanto. No necessria tal norma. Basta que no exista uma normaque vede expressamente certa conduta, e da j podemos concluir que ela autorizadapara o particular.

    Por exemplo, posso celebrar um contrato pelo qual, em troca de um servio prestado,receberei determinado bem (e no dinheiro, como usual). Se formos estudar oCdigo Civil no encontraremos esta espcie de contrato prevista em qualquer artigo.Como afirmamos acima, isto no necessrio: posso firmar este contrato pelo merofato de que no existe nenhum artigo do Cdigo que o proba. Em funo disso, usual (e correta) a afirmao de que, para o particular, o princpio da legalidade deveser compreendido numa acepo negativa, no sentido de ele pode agir sempre queinexistir vedao expressa (no preciso que haja lei autorizando dadocomportamento, basta que no exista lei proibindo-o).

    Para a Administrao Pblica o princpio da legalidade previsto no caput do art. 37 daCF, e nesse mbito ele adquire uma conotao peculiar, diversa da anterior, qual seja:a Administrao s pode atuar, por meio de seus agentes, quando houver expressapreviso em lei conferindo-lhe competncia para tanto. Inexistindo tal previso, elasimplesmente est impedida de agir. O princpio da legalidade, quando aplicvel Administrao, tem uma conotao positiva: ela s atua se existir norma queexpressamente lhe outorgue competncia, e os termos em que a mesma ser

    exercida.Utilizando o mesmo exemplo anterior, ns podemos concluir que o contrato ali referido(servio por bens) no pode ser celebrado pela Administrao, a no ser que existe umdispositivo legal que lhe autorize a faz-lo.

    At aqui falamos em lei, genericamente. Contudo, h questes que cobram umadiferenciao entre lei em sentido formal e lei em sentido material, para fins deaplicao do princpio da legalidade (abaixo temos uma questo da ESAF que exigeeste conhecimento). A pergunta seria a seguinte: o princpio aplica-se apenas s leisem sentido formal e material, ou alcana tambm as leis em sentido meramentematerial?

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    Pois bem, nesse contexto, lei em sentido formal todo ato emanado do PoderLegislativo, independentemente de seu contedo. Assim, podemos ter uma lei emsentido formal com contedo concreto, quando o ato incide sobre uma situao

    especfica e sobre destinatrios determinados (por exemplo, uma lei que concedaanistia a determinados detentos); ou uma lei em sentido formal com contedonormativo, quando o ato tem carter geral (porque tm destinatrios indeterminados)e abstrato (porque ser aplicado inmeras vezes), como uma lei que estabelea osdireitos dos usurios de certo servio pblico.

    J a lei em sentido material todo ato de carter normativo, como acima explicado,independentemente de quem o tenha editado. Nessa concepo, tanto lei um atonormativo do Poder Legislativo pelo qual ele estabelea os direitos dos usurios decerto servio pblico, como o decreto do chefe do Poder Executivo que regulamentaesta lei. Aqui o que importa o contedo do ato. Se este tem contedo normativo, lei em sentido material, independentemente do Poder, rgo ou entidade que o tenhaelaborado.

    O princpio da legalidade aplica-se tanto num primeiro momento s leis em sentidoformal e material, ou seja, aos atos editados pelo Legislativo (podendo-se aquiconsiderar tambm as medidas provisrias elaboradas pelo Executivo) que tenhamcontedo normativo, pois so as leis nesse duplo sentido que podem criar direitos eobrigaes para os administrados. Ocorre que, a partir da, outros atos normativos soeditados pela Administrao, com o fito de conferir aplicabilidade s leis (em sentidoformal e material). Uma vez editados tais atos normativos, eles tambm so deobservncia obrigatria para a Administrao, sob pena de invalidade dos atospraticados de forma contrria.

    Esse uma concluso fcil de ser exemplificada. Imaginemos que uma lei (no duplosentido) crie a obrigao de entrega de uma declarao anual e uma multa para o casode descumprimento. Um decreto do Poder Executivo (lei em sentido material), a partir

    da previso, fixa o perodo de entrega da declarao entre 01 e 30 de junho de cadaano (o decreto vlido, pois ficou nos limites da lei declarao anual). Uma pessoase dirige ao rgo competente e entrega sua declarao em 15 de junho de certo ano.Apesar da entrega tempestiva, contra esta pessoa lanada a multa, como se elahouvesse descumprido a obrigao. evidente que tal multa invlida, e invlida pelofato da Administrao ter contrariado uma lei somente em sentido material.

    Conclumos, ento, que o princpio da legalidade aplica-se tambm s leis em sentidomaterial. essa a noo que temos que reter para concurso pblico.

    Encerrando esse comentrio, considero importante conhecermos uma forma bastantepeculiar dessa matria ser cobrada em concurso. Singelamente, seria por meio daseguinte afirmao: vedado Administrao e ao particular a atuao contra legem(contra a lei); pode o particular, porm, agir praeter legem (alm da lei), pois a ele

    permitido agir sempre que no existir norma expressa proibitiva; por fim, tanto aAdministrao quanto o particular podem conduzir-se secundum legem (segundo alei). Na verdade, a Administrao deve agir secundum legem, j que qualquer outromodo de conduta lhe proibido pelo princpio da legalidade.

    c) que, se determinada tarefa operacional no estiver especificamente descrita em lei,o servidor no deve faz-la, ainda que se inclua no rol geral de suas atribuies.(errada)

    Essa alternativa interessante. Perceba-se: a lei dever necessariamente estabelecera competncia para a atuao administrativa, mas no necessrio que ela desa aospormenores da mesma, os quais podero ser estabelecidos em normas editadas pela

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    prpria Administrao, nos limites da lei. Dito de outro modo, a lei estabelece, comodiz a alternativa diz, o rol geral de atribuies do agente, e a partir da, e nos termosda lei, a Administrao disciplina a matria.

    Por exemplo, a lei estatui, dentre as atribuies do AFRF, a de fiscalizarestabelecimentos comerciais, a fim de verificar o cumprimento da legislao tributriarelativa aos tributos administrados pela Unio. Pois bem, a partir desta previso emlei, o chefe do Poder Executivo, por decreto, bem como as demais autoridades compoder normativo do MF e da SRF, detalham essa competncia (sempre nos limites dalei), tratando das tarefas que ela envolve (a verificao da documentao contbil doestabelecimento, por exemplo) e os atos que podero ser nela praticados (umaintimao para que o contribuinte complemente a documentao). Evidentemente,poder a lei minudenciar at mesmo estes detalhes da atuao do AFRF, mas, quandoela no descer a tal detalhamento, dever a Administrao faz-lo (voltaremos a esseponto quando do estudo do poder regulamentar).

    Perceba-se mais uma coisa. Uma das caractersticas da competncia, analisada quando

    do estudo dos atos administrativos, justamente a irrenunciabilidade, aobrigatoriedade de o agente exercer suas competncias previstas em lei. Com issoqueremos dizer que, uma vez criada uma competncia por lei, dever do agenteexerc-la, constituindo ato ilcito sua omisso.

    A alternativa, ento, est errada por dois motivos: no necessrio que a lei desa atodos os pormenores das competncias administrativas; uma vez prevista em lei certacompetncia para um agente da Administrao, este obrigado a desempenh-la.

    d) que todos os atos dos servidores pblicos devem ser pblicos. (errada)

    A assertiva vincula-se ao princpio da publicidade, logo mais comentado, no aoprincpio da legalidade. Est incorreta.

    e) que o servidor pblico no deve agir de modo impessoal. (errada)

    A alternativa refere-se ao princpio da impessoalidade, a seguir analisado, que tambmno se confunde com o princpio da legalidade. Ademais, a alternativa contraria oprincpio da impessoalidade.

    Sntese do comentrio:

    Quanto aos princpios jurdicos e aos princpios da Administrao Pblica:

    1) princpios jurdicos so que as diretrizes, os valores, as idias centrais que informamuma certa disciplina jurdica, um ramo jurdico ou mesmo todo o Direito;

    2) existem inmeros princpios em nosso ordenamento jurdico, sendo incorretaqualquer tentativa de escalon-los hierarquicamente. Sua aplicao sempre deve sedar de forma conjunta e harmnica;

    3) os princpios da Administrao Pblica (ou administrativos) nada mais so que osprincpios que regem a atividade administrativa, de observncia obrigatria para aAdministrao, sob pena de nulidade do ato praticado com sua violao;

    4) existem princpios administrativos implcitos e expressos ou explcitos. Estes, porsua vez, podem estar previstos na prpria Constituio ou nas leis aplicveis Administrao;

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    5) todos os princpios da Administrao aplicam-se a todos os Poderes da Repblica ea todas as esferas de Governo;

    6) o Professor Celso Antnio Bandeira de Mello situa no pice de nosso sistema

    administrativo o princpio da supremacia do interesse pblico sobre o privado e o daindisponibilidade do interesse pblica. J a Professora Maria Sylvia Zanella di Pietroconsidera como tais os princpios da supremacia do interesse pblico sobre o privado eo da legalidade. O princpio central, para fins de concurso, o da supremacia dointeresse pblico sobre o privado.

    Com relao ao princpio da legalidade:

    1) , essencialmente, uma autolimitao do Estado perante os administrados;

    2) para os particulares o princpio deve ser interpretado numa acepo negativa, nosentido de que podem praticar quaisquer atos para os quais inexista expressa normaproibitiva; para a Administrao, numa acepo positiva, pois ela s praticar os atosque encontrem respaldo em expressa disposio legal;

    3) com base nesta diferena de aplicao do princpio, podemos dizer que o particularpode conduzir-se secundum legem (segundo a lei) e praeter legem (alm da lei), masa Administrao s pode faz-lo secundum legem. Comportamentos contra legem sovedados;

    4) o princpio da legalidade aplica-se no s s leis em sentido formal e material (atosnormativos editados pelo Poder Legislativo), alcanando tambm as leis somente emsentido material (atos normativos em geral, independentemente de quem os edite)

    5) indispensvel que a lei estabelea a competncia administrativa, as hipteses emque a Administrao pode atuar. Contudo, no necessrio que ela desa aospormenores da competncia, a qual pode ser disciplinada em atos normativos editadospela prpria Administrao, sempre respeitados os limites da lei.

    Questo 02

    (Fiscal de Tributos Estaduais - SEFA-PA 2002) - Assinale a situao que no serelaciona com o princpio da impessoalidade, em alguma das suas acepes.

    a) Vedao ao uso da imagem da autoridade para promoo pessoal.

    b) Provimento de cargo pblico efetivo mediante concurso pblico.

    c) Anulao de ato cometido com desvio de finalidade.

    d) Verificao da presena do interesse pblico em todo ato cometido pelaAdministrao Pblica.

    e) Obrigao da divulgao pblica dos atos oficiais.

    Gabarito: B.

    Comentrios:

    a) Vedao ao uso da imagem para promoo pessoal (certa).

    O princpio da impessoalidade, expresso no caput do art. 37 da Constituio,admite trs interpretaes, duas relacionadas com os administrados e uma terceira

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    pertinente prpria Administrao. Trataremos agora desta ltima aplicao, a qualvem prevista no art. 37, 1 da CF e bastante simples.

    O agente pblico, no desempenho de suas funes, age no em seu prprio nome,

    mas sim em nome do rgo ou entidade que integra. Desse modo, todos os atos porele praticados, na qualidade de agente, devem ser considerados como que realizadospela Administrao, em nome desta.

    Da se conclui que vedado ao agente promover-se s custas dos atos praticadosno exerccio de suas funes. A lio singela: todo ato de um agente pblico, nodesempenho de suas atribuies, tem sua autoria imputada Administrao, logo, no lcito que dele decorra qualquer vantagem individual para quem o produziu.

    isso que estatui o art. 37, 1, da Constituio:

    A publicidade dos atos, programas, servios e campanhas dos rgos pblicosdever ter carter educativo, informativo ou de orientao social, dela nopodendo constar nomes, smbolos ou imagens que caracterizem promoo

    pessoal de autoridades ou agentes pblicos. em funo desse dispositivo que nas propagandas de realizaes de uma dadaAdministrao, principalmente as que envolvem obras pblicas, nunca consta o nomeda autoridade responsvel (Prefeito, Secretrio, Governador Fulano de Tal), fazendo-semeno somente prpria Administrao (Governo do Estado, Secretaria de ObrasPblicas, Administrao Municipal).

    b) Provimento de cargo pblico efetivo mediante concurso pblico (certa).

    Analisamos no comentrio anterior o princpio da impessoalidade enquanto voltado Administrao. Restam a serem vistas duas aplicaes do referido princpio, ambastendo por destinatrios os administrados. A primeira ser tratada neste momento: a

    impessoalidade enquanto isonomia.Isonomia tratamento igualitrio. No contexto que nos importa, significa que aAdministrao deve conferir tratamento igualitrio aos administrados, semdiscriminaes, sejam elas benficas ou detrimentosas. As discriminaes, quandoexistentes, devem estar previstas em lei (pressupondo-se que tais discriminaes sorazoveis), sendo vedado Administrao distinguir onde a lei no o faz, ou fora dostermos por ela postos.

    Neste ponto indispensvel especial ateno do candidato. A isonomia, em DireitoConstitucional, princpio estudado parte, no contido em qualquer outro. EmDireito Administrativo e, portanto, nas provas de Direito Administrativo (tanto da ESAFcomo do CESPE), h uma diferena importante: pode a questo falar em tratamentoigualitrio, e ter como resposta tanto o princpio da isonomia como o princpio da

    impessoalidade (uma vez que, frisando novamente, em Direito Administrativo uma dasaplicaes do princpio da impessoalidade a necessidade de tratamento isonmicodos administrados por parte da Administrao).

    Portanto, quando a questo falar em tratamento isonmico, ou trazer um instituto aele diretamente relacionado (em regra, as questes referem-se ao concurso pblico ou licitao), voc pode considerar correta tanto uma alternativa que mencionar oprincpio da impessoalidade ou uma em que constar o princpio da isonomia.

    Esta alternativa, por exemplo, refere-se ao concurso pblico. Voc pode considerarcorreta tanto a resposta nela adotada (o concurso pblico uma situao que serelaciona com o princpio da impessoalidade, em alguma de suas acepes), quantouma resposta em que constasse o princpio da isonomia.

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    c) Anulao de ato cometido com desvio de finalidade (certa).

    d) Verificao da presena do interesse pblico em todo ato cometido pelaAdministrao Pblica (certa)

    As duas alternativas sero analisadas conjuntamente, uma vez que se referem outradas aplicaes do princpio da impessoalidade enquanto dirigido ao administrado. Aqui,o princpio vincula-se finalidade do ato administrativo.

    Todo ato administrativo num primeiro momento, deve almejar ao interesse pblico(mesmo que de forma indireta, como adiante explicaremos), num segundo, deve visar finalidade especfica para ele prevista, explcita ou implicitamente, na lei (asquestes eventualmente substituem o termo lei pela expresso norma decompetncia). Fala-se, pois, de uma finalidade em sentido amplo, idntica para todoato praticado pela Administrao (o interesse pblico) e uma finalidade em sentidoestrito, que aquela especificamente prevista para determinado ato (a remoo de

    ofcio, por exemplo, ter por fim especfico suprir a carncia de pessoal de rgo ouentidade administrativa em determinada localidade).

    A alternativa d refere-se finalidade em sentido amplo. de evidncia solar que todoato praticado pela Administrao deve visar ao interesse pblico (alternativa correta,portanto). Se desatend-lo, nulo por desvio de finalidade (ou desvio de poder), comomenciona corretamente a alternativa c. Alm disso, tambm estar maculado pordesvio de poder o ato que, apesar de destinar-se a um interesse pblico, no forpraticado em conformidade com seu fim especfico (finalidade em sentido estrito).

    O exemplo tradicional aqui utilizado a remoo de ofcio: ser o ato nulo tantoquando contrariar o interesse pblico, genericamente considerado (atos praticadoscom interesse exclusivamente privado, como uma autoridade que remove de ofcio umservidor s para afast-lo de um contato pessoal com sua filha); como quando, apesar

    de satisfazer a um interesse pblico, no for o mesmo aquele especificamente previstopara o ato (o uso da remoo como forma de punio de um servidor realmenteculpado, que atende a um fim de carter pblico a punio do servidor -, masdiverso do seu fim especfico suprir carncia de pessoal em dada localidade).

    Por fim, desejo ressaltar que um ato da Administrao pode voltar-se para a satisfaode um interesse pblico de forma direta ou indireta. Ser de forma direta quando oprprio ato visa a um interesse pblico (um decreto que tenha por fim declarar deutilidade pblica um imvel onde ser construda uma escola, uma punio imposta aum servidor faltoso etc); ser de forma indireta quando o ato, apesar de no destinar-se, ele prprio, a um interesse pblico, o atingir por via transversa. Por exemplo,quando a Administrao concede onerosamente uma autorizao de uso de um imvela particular, o interesse preponderante deste, que vai explorar economicamente o

    bem, mas o interesse pblico indiretamente beneficiado pela atividade que oparticular exercer, e, principalmente, pelo valor por ele pago pela autorizao, o qualacrescer aos cofres pblicos).

    importante percebermos que o interesse pblico pode ser apenas indireto, porque, apartir da, podemos considerar corretas afirmativas como: A Administrao podepraticar atos que beneficiem (ou prejudiquem) pessoas determinadas. Bastapensarmos no exemplo acima. Pessoas determinadas podero ser favorecidas por umato da Administrao, desde que haja interesse pblico, mesmo que indireto(finalidade em sentido amplo) e que o ato esteja em conformidade com seu fimespecfico, tal como previsto em lei (finalidade em sentido estrito)

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    e) Obrigao da divulgao pblica dos atos oficiais (errada).

    Efetivamente, a Administrao tem a obrigao de tornar pblicos os atos que pratica.Tal dever, entretanto, como veremos logo mais, relaciona-se a outro princpio

    constante do art. 37 da Carta: o princpio da publicidade.

    Sntese do comentrio:

    1) o princpio da impessoalidade pode ser entendido em trs acepes:

    (1) vedao promoo pessoal dos agentes pblicos s custas dos atos praticados noexerccio de suas funes;

    (2) vedao ao tratamento discriminatrio do administrado por parte da Administrao(isonomia), seja o mesmo benfico ou prejudicial, salvo quando a prpria lei,legitimamente, discriminar (na verdade, se a lei discriminar no estar aAdministrao o fazendo, mas somente aplicando a lei);

    (3) obrigatoriedade, sob pena de nulidade (por desvio de poder ou finalidade), de queos atos da Administrao sejam praticados em conformidade com a finalidade emsentido amplo (interesse pblico genericamente considerado, idntico para todo ato) eem sentido estrito (o fim especfico previsto em lei);

    2) um ato pode visar ao interesse pblico de forma direta ou indireta;

    3) um ato pode beneficiar pessoas determinadas, desde que tal finalidade para o atoesteja prevista em lei e que o interesse pblico reste resguardado, mesmo que demodo indireto.

    Questo 03(Analista MPU rea Administrativa -2004) - Um dos princpios informativos do DireitoAdministrativo, que o distingue dos demais ramos, no disciplinamento das relaesjurdicas, sob sua incidncia, o da

    a) comutatividade na soluo dos interesses em questo.

    b) subordinao do interesse pblico ao privado.

    c) supremacia do interesse pblico sobre o privado.

    d) predominncia da liberdade decisria.

    e) correlao absoluta entre direitos e obrigaes.

    Gabarito: C

    Analisemos a alternativa correta, c.

    Na prxima aula teremos oportunidade de analisar o tema, em nosso entender, maisimportante do Direito Administrativo: o regime jurdico-administrativo, o conjunto deregras e princpios que regem a atuao da Administrao na busca do interessepblico.

    Inicialmente, devemos reter em mente que o princpio da supremacia do interessepblico sobre o privado considerado o princpio basilar do regime jurdico-administrativo. Desse modo, quando formos questionados sobre qual o principal

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    princpio, dentre todos os que regem a atividade administrativa, poderemos respondersem receio que se trata do princpio da supremacia do interesse pblico sobre oprivado.

    Devemos atentar que supremo o interesse pblico sobre o particular, e no aAdministrao sobre o administrado. Entenda-se: como compete Administrao abusca do interesse pblico, ela gozar de preponderncia, de superioridade peranteo administrado quando estiver atuando tendo em vista tal objetivo. Por outro lado,quando ela estiver visando a um interesse no considerado como pblico, nos termosda Constituio e das leis em geral, no gozar desta superioridade.

    Por exemplo, quando a Administrao estiver exercendo uma atividade de interesse detoda a coletividade, como a fiscalizao de atividades potencialmente danosas aomeio-ambiente, predominar sobre o particular, subordinando os interesses deste aosinteresses maiores do corpo social, neste caso, a manuteno de um meio-ambienteecologicamente equilibrado (diz-se que a relao caracterizada pela verticalidadeda Administrao frente ao particular).

    De modo distinto, quando ela estiver, por exemplo, locando o imvel de um particular,a relao jurdica ser marcada pela isonomia, pela igualdade entre a Administrao,na condio de locatria, e o proprietrio do imvel. Neste caso, segundo nossosistema de leis, no h interesse coletivo a legitimar uma posio de supremacia daAdministrao na relao firmada (diz-se que aqui a relao caracterizada pelahorizontalidade).

    Pois bem, no que ora nos importa, sempre que o objetivo em vista for de interessepblico, a Administrao atuar sob a gide do princpio da supremacia do interessepblico sobre o privado, predominando sobre o particular. Tal predominncia efetivada por meio das denominadas prerrogativas administrativas: poderesconferidos exclusivamente Administrao quando esta se move visando satisfaodo interesse pblico.

    Entre tais prerrogativas podemos citar, exemplificativamente:

    1) os diversos atos praticados no mbito da interveno pblica na propriedadeprivada, tais como as servides administrativas e os tombamentos;

    2) os atributos dos atos administrativos, a exemplo da imperatividade, atributo peloqual os atos administrativos, de um modo geral, obrigam o particular independente desua concordncia;

    3) as clusulas exorbitantes dos contratos administrativos, dentre as quais podemoscitar a alterao e a resciso por ato unilateral da Administrao.

    Por fim, deve-se frisar que, apesar de termos ressaltado que o princpio da supremaciado interesse pblico sobre o privado tido como o princpio administrativo mais

    importante, a sua aplicao necessariamente deve-se dar de forma harmnica com osdemais princpios administrativos. Assim, questes que digam que, pela aplicao doprincpio, poder a Administrao agir com desrespeito a qualquer um dos demais(razoabilidade, moralidade, legalidade etc) so sempre incorretas. Voc deve trabalharcom dois raciocnios, ambos considerados corretos (embora possam parecercontraditrios): (1) o princpio basilar do regime jurdico-administrativo o dasupremacia do interesse pblico sobre o privado; (2) a aplicao deste princpio noautoriza Administrao desrespeitar qualquer dos demais princpios que regem suaconduta (aplicao harmnica dos princpios administrativos)

    Todas as demais alternativas no passam de viagens da ESAF, nenhuma contemplaum princpio administrativo.

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    Sntese do comentrio:

    1) o princpio da supremacia do interesse pblico sobre o privado deve serconsiderado, para fins de concursos, como o princpio nuclear dentre todos os demaisprincpios administrativos;

    2) tal princpio justifica a posio de superioridade da Administrao perante oparticular, quando aquela tem por intuito de ao a satisfao do interesse pblico;

    3) o princpio instrumentaliza-se por meio das inmeras prerrogativas administrativas,poderes conferidos por lei exclusivamente Administrao quando ela atua visandoalgum interesse pblico;

    4) apesar de sua posio central, o princpio em questo no justifica, em nenhumahiptese, a conduta administrativa com violao dos demais princpios. Enfim, se aAdministrao praticar um ato violando qualquer outro princpio administrativo, ealegar que o faz com base no princpio da supremacia do interesse pblico sobre oprivado, tal ato ser nulo.

    Questo 04

    (Procurador de Fortaleza/2002) O princpio constitucional da eficincia vincula-se noo da administrao:

    a) patrimonialista

    b) descentralizada

    c) gerencial

    d) burocrticae) informatizada

    Gabarito: C.

    Comentrios:

    O princpio da eficincia outro dos princpios da Administrao Pblica com previsono caput do art. 37 da Constituio. O que o separa dos outros quatro princpios alimencionados legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade que o mesmono constava na redao original do art. 37, quando da promulgao da Constituioem 1988, tendo sido acrescido ao dispositivo pela Emenda Constitucional 19/98. Duasou trs questes da ESAF limitaram-se a exigir esse conhecimento do candidato.

    Conceitualmente o princpio de faclimo entendimento. Ser eficiente nada mais doque agir, em certa situao, de forma clere e tecnicamente adequada. Visa oprincpio, essencialmente, a que a Administrao preste os seus servios a um mximode administrados, com qualidade e a um baixo custo. Ou, de forma mais, simples, aque a Administrao atenda da melhor forma possvel ao interesse pblico.

    usual a afirmao de que a eficincia implica, tambm um juzo de economicidade:obter-se uma mxima prestao de servios com um mnimo de dispndio. por esse

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    ngulo de anlise que se afirma estar o princpio vinculado administrao gerencial(correta, portanto, a alternativa c).

    O princpio da eficincia tratado com ligeiro desdm por alguns de nossos

    doutrinadores, que deixam de analis-lo em seus trabalhos, ou o fazemsuperficialmente, sob o entendimento de que o princpio no possui naturezaverdadeiramente jurdica, constituindo uma diretriz no-jurdica de atuao para aAdministrao, sem fora vinculante. Temos que afastar totalmente essasinterpretaes, e considerar o princpio da eficincia no mesmo tope dos demaisprincpios administrados, ou seja, um valor de observncia obrigatria para aAdministrao.

    Prova de que tal posicionamento correto so duas das aplicaes concretas doprincpio, tambm acrescidas ao texto constitucional pela EC 19/98: a avaliaoperidica de desempenho (CF, art. 41, 4), novo requisito para a aquisio daestabilidade; e a avaliao especial de desempenho, nova hiptese de perda do cargopelo servidor estvel (CF, art. 41, 1, III). Com tais medidas pretendeu o reformador

    constituinte assegurar que o servidor pblico esteja incessantemente a buscar umamelhor produtividade no desempenho de suas funes, tanto antes quanto apsadquirir a estabilidade. Tal idia nada mais do que uma aplicao do princpio daeficincia.

    H uma situao que tem sido constantemente cobrada nos ltimos concursos: pode aAdministrao, a pretexto de uma atuao mais eficiente, praticar atos sem que hajapreviso da competncia em lei? De outro modo, pode o princpio da eficinciaexcepcionar, em certas hipteses, o da legalidade? A resposta bem simples: no.Todos os princpios que regem a atividade administrativa devem ser aplicados deforma conjunta e harmnica. No presente caso, tal aplicao significa que aAdministrao dever sempre buscar a eficincia, mas nos termos postos na lei. Semlei, ela est impedir de agir, seja de que forma for.

    Sntese do Comentrio:

    1) o princpio da eficincia tem previso no caput do art. 37 da CF, tendo sidoacrescentado Constituio pela EC 19/98;

    2) o princpio impe Administrao que busque da melhor forma possvel a satisfaodo interesse pblico, e, entre outros efeitos, exige que a Administrao preste seusservios com uma adequada relao custo/benefcio (esta aplicao do princpio,includa no princpio da eficincia, tambm denominada princpio da economicidade);

    3) princpio estritamente relacionado chamada administrao gerencial;

    4) o princpio inegavelmente jurdico, tendo a mesma fora vinculante para a

    Administrao que os demais princpios administrativos);5) no pode a Administrao praticar ato sem base em lei (princpio da legalidade) soba alegao de maior eficincia. O princpio da eficincia jamais excepciona a aplicaodo princpio da legalidade. A Administrao deve ser eficiente, nos termos da lei.

    Questo 05

    (Agente Tributrio Estadual - ATE MS/2001) - A vedao utilizao de imagens esmbolos que possam significar promoo pessoal de autoridades e servidores pblicosjustifica-se, basicamente, pelo princpio da

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    a) legalidade

    b) publicidade

    c) eficinciad) moralidade

    e) razoabilidade

    Gabarito: B.

    Comentrios:

    Deixando de lado, por ora, o comentrio especfico do gabarito, vamos falar um poucosobre o princpio da publicidade.

    Outro dos princpios previstos no caput do art. 37 da CF, a publicidade princpio queadmite aplicao em com dois sentidos distintos.

    Pelo primeiro, o princpio cria a obrigao para a Administrao de divulgaroficialmente seus atos gerais e de efeitos externos. Tal divulgao, como regrageral, deve ser levada a cabo nos dirios oficiais de cada pessoa poltica. Assim, aUnio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios promovem a divulgao de seusatos em seus respectivos dirios oficiais.

    H, entretanto, diversos Municpios que no possuem dirio oficial. Nesse caso, a regraacima exposta sofre uma alterao, e a divulgao oficial considera-se realizada pelaafixao do ato na sede da Prefeitura ou da Cmara dos Vereadores.

    Antes afirmamos que a obrigatoriedade de divulgao alcana os atos gerais de efeitosexternos. Pois bem, o que se entende por isso? Simples: ato geral o que temdestinatrios indeterminados; ato de efeitos externos aquele que tem pordestinatrios os administrados. Unindo os dois conceitos, chegamos concluso deque a divulgao oficial s indispensvel para os atos que atingem administradosindeterminados.

    Por exemplo, se a Administrao resolve determinar o fechamento de uma rua numferiado, esse ato se enquadra no conceito: dirige-se aos administrados, sendo, pois, deefeitos externos; e no h definio possvel daqueles por ele atingidos, sendo, entogeral (no h como individualizar seus destinatrios, uma vez que todos os quepoderiam utilizar-se da via pblica no feriado so atingidos pelo ato).

    Voc pode estar questionando-se: ser que um ato no-geral (com destinatrios

    determinados) ou no-externo (interno, alcanando apenas os prprios agentes daAdministrao) pode tambm exigir divulgao oficial? Nesse caso, no h umaresposta genrica. Todos os atos gerais e de efeitos externos requerem publicao; jum ato no-geral ou no-externo poder ou no requer-la. Tudo vai depender dasituao em concreto.

    Por exemplo, se um contribuinte se dirige Secretaria da Receita Federal e solicitauma certido negativa de dbito, essa certido (ato no-geral de efeitos externos) norequer divulgao oficial. Por outro lado, a nomeao de 10 pessoas para o cargo deAFRF (outro ato no-geral ato de efeitos externos) exige tal divulgao. Comodissemos, no h uma resposta genrica se o ato no geral e de efeitos externos.

    Nesta primeira aplicao do princpio, resta analisarmos a que se vincula aobrigatoriedade de divulgao: validade ou a eficcia do ato? A resposta, aqui,

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    tambm simples: sempre, eficcia, produo de efeitos jurdicos do ato. Um atopraticado de forma vlida, em conformidade com a lei, permanece vlido mesmo quesua publicao no se tenha ainda realizado, apenas, seus efeitos jurdicos s podero

    ser iniciados aps essa publicao. Por outro lado, se o ato foi praticado de formainvlida, de forma contrria prevista em lei, tal vcio permanece mesmo queeventualmente o ato tenha sido oficialmente divulgado.

    As bancas de concurso, sem exceo, gostam de fazer pegadinha nessa matria.Para acertarmos as questes basta atentarmos para esses conceitos: publicao tem aver, sempre, com eficcia, com produo de efeitos jurdicos, nada importandoaspectos de validade do ato. J a validade diz respeito sempre, conformidade do atocom a lei, nada importando se houve ou no sua divulgao oficial (ou se esta ouno necessria).

    Num segundo sentido o princpio da publicidade significa dever de transparncia. Agesto da coisa pblica no atividade sigilosa, que deve ser feita s ocultas. Aocontrrio, atividade que a todos interessa. Logo, ao administrado deve ser propiciado

    o conhecimento dos atos produzidos pela Administrao, sendo de seu prpriointeresse, individual, sejam de interesse coletivo, geral. Nessa acepo, o princpio tempreviso no inc. XXXIII do art. 5 da CF, assim redigido:

    Todos tm direito a receber dos rgos pblicos informaes de seu interesselei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo sejaimprescindvel segurana da sociedade ou do Estado.

    Vale a pena ser transcrito, ainda, o art. 37, 3, II, da CF, segundo o qual:

    A lei disciplinar as formas de participao do usurio na administrao pblicadireta e indireta, regulando especialmente:

    (...)

    II o acesso dos usurios a registros administrativos e a informaes sobreatos de governo, observado o disposto no art. 5, X e XXXIII.

    Bem, compreendemos que o princpio da publicidade admite dois significados: deverde divulgao oficial e transparncia. Mas qual deles responde ao enunciado (vedao utilizao de imagens e smbolos que possam significar promoo pessoal deautoridades e servidores pblicos...)?

    Como voc j deve ter percebido, nenhum. E a? Como se explica a posio da ESAFnesta questo? Fcil: no se explica, se aceita e decora. A banca deve ter entendidoque, no colocando entre as alternativas princpio da impessoalidade, o princpio quemais se enquadraria no enunciado seria o da publicidade, j que a questo trata devedao promoo pessoal, o que pode ser entendido, maibe, como proibio publicidade pessoal.

    No importa. O fato que este entendimento no encontra guarida na doutrinabrasileira, sendo totalmente equivocado. Em outras questes a ESAF fez as pazes coma doutrina, colocando a vedao promoo pessoal como aplicao do princpio daimpessoalidade. Esse o posicionamento correto, a menos que a ESAF, como nestecaso, no coloque entre as alternativas o princpio da impessoalidade, s o dapublicidade (quando ento este deve ser tido como correto fazer o qu?).

    Os princpios mencionados nas alternativas a e c j foram analisados na aula. Os dasalternativas d e e sero comentados nas prximas questes.

    Sntese do Comentrio:

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    1) o princpio da publicidade admite duas leituras. Pela primeira, ele significa aobrigatoriedade de divulgao oficial dos atos gerais (destinatrios indeterminados) ede efeitos externos (dirigidos aos administrados);

    2) tal divulgao, via de regra, efetuada mediante a publicao do ato nos diriosoficiais do respectivo ente federado. Excepcionam-se da regra somente os Municpiosque no possuem dirio oficial, os quais divulgam oficialmente seus atos mediante asua afixao na sede da Prefeitura ou da Cmara Municipal;

    3) a necessidade (ou no) de publicao ato relaciona-se sempre produo deefeitos, jamais validade;

    4) numa segunda leitura o princpio da publicidade significa transparncia, dever daAdministrao de propiciar ao administrado informaes sobre a gesto administrativaque sejam de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral;

    5) nesta questo considerou a ESAF (no colocou o princpio da impessoalidade entreas alternativas) que a vedao promoo pessoal do agente em funo dos atos

    praticados no desempenho de suas atribuies relaciona-se ao princpio da publicidade.

    Questo 06

    (Auditor do Tesouro Municipal - Prefeitura do Recife 2003) - Com referncia aosprincpios constitucionais da Administrao Pblica, falso afirmar:

    a) a moralidade tem relao com a noo de costumes.

    b) a eficincia vincula-se ao tipo de administrao dito gerencial.

    c) a publicidade impe que todos os atos administrativos sejam publicados em diriooficial.

    d) a observncia da legalidade alcana os atos legislativos materiais, ainda que noformais.

    e) a impessoalidade pode significar finalidade ou isonomia.

    Gabari to: C.

    Comentrios:

    a) a moralidade tem relao com a noo de costumes (certa).

    A moralidade outro dos princpios da Administrao que tem previso no caput doart. 37 da Constituio, e admite aplicao em trs acepes: atuao tica dosagentes da Administrao; aplicao das leis pelos agentes de modo a seremalcanados os valores nelas inscritos; costumes administrativos (moral administrativa)como fonte de Direito.

    Num primeiro sentido, o princpio impe aos agentes da Administrao o dever detratar os particulares com lealdade e boa-f, sempre sob a perspectiva de que ele ,afinal, o destinatrio dos servios que presta. Logo, no pode o agente se valer dequaisquer artifcios ardilosos no trato com o particular, pois tal conduta implicariainevitavelmente prejuzos aos interesses que este busca defender na esferaadministrativa.

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    Grande parte das pessoas que procuram a Administrao, quando no so por elaconvocados, so pessoas simples, sem conhecimento mnimo da intimidade doaparelho administrativo e da sua dinmica. Eventual atitude de m-f do agente,

    fornecendo informaes incompletas sobre matria que lhe afete, por exemplo,certamente levaria o particular a compreender equivocadamente sua situao perantea Administrao em determinado caso, com evidente dano para seus interesses. Essa uma primeira aplicao do princpio da moralidade.

    No segundo sentido, o princpio cria para o agente a obrigao de no limitar suaatuao a uma mera aplicao formal, mecnica dos dispositivos de lei e demais atosnormativos que regulam certa matria. Toda lei busca consagrar certos valores: aefetivao de tais valores na aplicao de suas normas pelo agente da Administrao dever que decorre do princpio da moralidade.

    Por exemplo, a Lei Geral de Licitaes e Contratos da Administrao Pblica (Lei8.666/93) contempla, dentre outros valores (princpios), um que lhe essencial: aisonomia. Alm de diversos dispositivos da lei se referirem expressamente isonomia,

    todos os preceitos nela contidos devem ser aplicados luz deste valor. Assim, osagentes que organizam os procedimentos licitatrios no tm somente o dever depraticar seus atos sem ofensa direta aos dispositivos da lei. Deles se exige mais: aaplicao desses dispositivos de forma a fazer prevalecer o valor da isonomia (bemcomo os demais valores que a lei busca resguardar).

    Por fim, numa terceira acepo (a cobrada na alternativa), o princpio da moralidaderelaciona-se aos costumes administrativos (moral administrativa). Costumes, numconceito geral, so as regras que surgem de modo informal e so observadas de modouniforme e constante, pela conscincia de sua obrigatoriedade. Costumesadministrativos so regras que surgem informalmente das prticas reiteradamenteadotadas pela Administrao, e que uma vez consolidadas tambm constituemrequisito de validade dos atos praticados pelos seus agentes. Uma vez que dada

    prtica adquira fora de costume, ela pode ser invocada pelos administrados, e podedar margem declarao de nulidade do ato praticado sem sua observncia.

    Voc pode estar em dvidas quanto a esta terceira aplicao do princpio damoralidade (e eu tambm), em vista da sua aparente contradio com o princpio dalegalidade. Se o agente atua apenas a partir de previso em lei, como pode surgir umcostume no seio da Administrao? Evidentemente que h prticas reiteradas emmbito administrativo, mas o princpio da legalidade exige que tais prticas tenhamfundamento em lei: so obrigatrias em funo de sua previso legal, e no emvirtude de sua reiterao. E, ademais, uma ver revogada a lei que lhes serve de apoio,tais prticas, pelo princpio da legalidade, no tem mais espao para aplicao.

    Entendo que das duas, uma: ou se reconhece que a Administrao pode atuar, emcertas hipteses, sem base legal (e a possvel pensarmos em regras costumeiras),

    ou passa a negar-se este terceiro sentido com que o princpio da moralidade tradicionalmente apresentado. Em nosso entender, esta segunda seria a posio maisadequada. Para concursos com questes objetivas, contudo, temos que adotar comocorreta esses dois entendimentos (pois os dois so assim considerados pelas bancas):primeiro, que a Administrao s age mediante previso legal (princpio da legalidade);segundo, que as prticas reiteradamente observadas pela Administrao (moraladministrativa/costumes administrativos) so tambm fonte de Direito Administrativo,sendo sua inobservncia motivo para a anulao do ato do Administrao.

    b) a eficincia vincula-se ao tipo de administrao dito gerencial (certa).

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    Como j expusemos acima, a eficincia princpio que impe Administrao omelhor atendimento possvel ao interesse pblico, mediante a prestao dos serviospblicos de forma rpida, expedita, dentro de um padro de qualidade comparvel aos

    da iniciativa privada.Dentro desta idia encontra-se tambm a de economicidade (h questes que falamespecificamente em princpio da economicidade), segundo a qual deve aAdministrao, em todas suas atuaes, obter o melhor resultado possvel com omenor gasto possvel. Numa viso mais prxima, deve a Administrao buscar umaadequada satisfao das necessidades coletivas utilizando-se apenas dos recursosfinanceiros absolutamente indispensveis para tanto.

    Por tudo isso, usual a afirmao de que o princpio da eficincia relaciona-seintimamente com a administrao gerencial (um inteligente planejamento dasatividades administrativas), como consta, corretamente, na alternativa.

    c) a publicidade impe que todos os atos administrativos sejam publicados em diriooficial (errada).

    A alternativa exige conhecimento j explanado, no sentido de que, embora o princpioda publicidade efetivamente requeira a divulgao oficial dos atos administrativos, e taldivulgao em regra se d mediante a sua publicao na imprensa oficial, nem todosos atos esto abrangidos pela obrigatoriedade, mas somente os atos gerais de efeitosexternos (primeiro erro da alternativa) e, ademais, nem sempre a divulgao oficial,quando necessria, se d mediante a publicao do ato no dirio oficial, pois os atospraticados pelos Municpios que no dispem de dirio oficial so publicizadosmediante sua afixao na sede da Prefeitura ou da Cmara dos Vereadores (segundoerro da alternativa).

    d) a observncia da legalidade alcana os atos legislativos materiais, ainda que noformais (certa)

    Vamos revisar a diferena entre leis em sentido formal e leis em sentido material (ouatos legislativos materiais e atos legislativos formais, como consta na alternativa).

    Lei em sentido formal todo ato produzido pelo Legislativo, qualquer que seja seucontedo, concreto ou normativo.

    J lei em sentido material todo ato com natureza normativa, seja qual for o rgo,entidade ou Poder que o tenha produzido (o que importa aqui o contedo do ato, noquem o produziu). A partir disto, enquadra-se no conceito tanto uma ato normativo doPoder Legislativo (lei em sentido formal e material), quando um decreto do PoderExecutivo, ou qualquer ato normativo editado por uma das inmeras autoridades

    administrativas (leis em sentido material, mas no em sentido formal).Num primeiro plano, o princpio da legalidade reporta-se s leis no duplo sentido,formal e material, pois so os atos normativos editados pelo Legislativo osinstrumentos idneos para inovar na ordem jurdica, criando as obrigaes e osdireitos, os requisitos e condies para o seu nascimento. Ocorre que, uma vez editadaesta lei em ambos os sentidos, a Administrao detalha-a, pormenoriza-a, pois talmedida indispensvel para que ela possa ser aplicada. A partir da, tais atos (leis emsentido material) so tambm vinculantes para a Administrao, a qual deve respeita-los ao produzir os atos concretos que tem neles sua base normativa (bem como, eprincipalmente, as leis em sentido material e formal).

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    Levando-se em conta tais consideraes, podemos concluir sem receio que o principioda legalidade alcana os atos legislativos materiais, ainda que no formais, como diza alternativa.

    e) a impessoalidade pode significar finalidade ou isonomia (certa).

    Ponto tambm j trabalhado. O princpio da impessoalidade tem triplo aspecto:significa finalidade, no sentido de que todo o ato administrativo deve ser produzido emobedincia finalidade para o mesmo prevista, mesmo que de forma implcita, na lei;significa isonomia, no sentido de que a Administrao no pode discriminar osadministrados, seja para benefici-los, seja para prejudic-los, ressalvadas asdiscriminaes estabelecidas em lei (e pressupondo-se que as mesmas sejamrazoveis); e significa vedao promoo pessoal dos agentes pblicos em funodos atos executados no desempenho de suas funes, visto que os mesmos devem tersua autoria atribuda ao rgo ou entidade, de forma impessoal.

    Sntese do Comentrio (apenas princpio da moralidade):

    1) o princpio da moralidade est previsto no caput do art. 37;

    2) o princpio admite trs interpretaes: pela primeira, est o agente pblico obrigadoa agir com lealdade e boa-f no trato com o administrado; pela segunda, est o agenteobrigado a aplicar as leis de modo a efetivar os valores nelas consagrados; pelaterceira, o conjunto de regras oriundas das prticas reiteradamente adotadas pelaAdministrao (costumes administrativos/moral administrativa) tambm fonte deDireito Administrativo, acarretando a declarao de nulidade dos atos praticados semsua observncia;

    3) embora seja difcil compatibilizar esta terceira interpretao com o princpio da

    legalidade, para fins de concurso devemos consider-la correta (como o demonstrou aESAF nesta questo)

    Questo 07

    (Oficial de Chancelaria MRE/2002) O sistema de Direito Administrativo tem comocontedo do seu regime jurdico a consagrao do princpio bsico da

    a) indisponibilidade dos bens e interesses pblicos.

    b) supremacia do interesse pblico sobre o privado.

    c) posio de isonomia dos rgos pblicos com os particulares.

    d) facultatividade pela Administrao do desempenho de atividade pblica.

    e) imunidade de controle jurisdicional dos seus atos.

    Gabarito: B.

    Comentrios:

    a) indisponibilidade dos bens e interesses pblicos.

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    A alternativa est errada porque se considera majoritariamente que o princpio bsicodo regime jurdico-administrativo o princpio da supremacia do interesse pblicosobre o privado.

    Contudo, unnime a insero do princpio da indisponibilidade dos bens e interessespblicos (ou princpio da indisponibilidade dos interesses pblicos) entre os princpiosadministrativos.

    Referido principio, para fins de anlise, pode ser desmembrado, falando-seprimeiramente em indisponibilidade dos interesses pblicos.

    Falaremos nas prximas aulas do poder regulamentar, de polcia, hierrquico, entreoutros, utilizando na explanao o termo poder, pois essa a forma usual com quetais matrias so exigidas em concurso.

    Todavia, a utilizao desta expresso pode dar uma idia absolutamente equivocadado regime jurdico que norteia a atividade administrativa. Apresentaremos um exemplopara explicar o ponto.

    O Cdigo Civil est recheado de atos que podem ser praticados pelos particulares, nassuas relaes com outros particulares, ou mesmo com a Administrao. Podemosconsiderar, ento, que o Cdigo confere aos particulares diversos poderes, como ode celebrar contratos, o de adotar, o de elaborar seu testamento. Pois bem, em linhasgerais, todos esses dispositivos do CC contemplam faculdades para os particulares:um particular no est jamais obrigado a celebrar um contrato, seja qual for, e,quando optar por celebr-lo, ter por objetivo a satisfao de seus prprios interesses.Se sou proprietrio de um imvel, vendo-o apenas se esta for minha vontade e, seassim decidir, vou tentar obter o melhor preo possvel na negociao. Enfim, osdispositivos do Cdigo outorgam faculdades aos particulares, poderesde que eles seutilizam apenas se assim desejarem e de modo a satisfazer seus prprios interesses.

    Para a Administrao a soluo exatamente a oposta. Quando a lei confere um poder

    Administrao (mais correto seria falarmos em competncia), tal previso no tem ocarter de faculdade, como ocorre com o particular, mas o de verdadeiro dever: odever de exercertal poder. Quando? Quando o requerer o interesse pblico, talcomo previsto na lei. Assim, sempre que a lei estatuir dado poder para aAdministrao, esta obrigada a exercitar esse poder, sempre que o requerer ointeresse previsto na lei que traz essa previso.

    Por exemplo, so inmeros os poderes que a lei confere Administrao no mbito dopoder de polcia, na atividade de condicionamento dos direitos e interesses individuaisem prol do interesse coletivo. Vamos pensar na competncia (poder) conferida aalguns agentes para a apreenso de produtos com prazo de validade expirado, com aevidente finalidade de evitar danos sade do consumidor. Imagine-se que eu, agentecom tal competncia, estou fiscalizando um supermercado, e durante essa atividade

    verifico que h diversas mercadorias que ultrapassaram seu prazo de validade. Frentea tal constatao, posso simplesmente cruzar os braos e deixar de exercer meu poderde apreender essas mercadorias, deixando assim que elas sejam comercializadas?Evidente que no. A lei outorgou tal competncia para dada finalidade proteo dasade do consumidor. Na presente situao, a sade do consumidor ser prejudicadase eu permanecer inativo. Logo, no posso faz-lo. Uma vez que a finalidade para aqual foi estabelecida minha competncia se faz presente, eu sou obrigado a utiliz-la.Neste caso especfico, sou obrigado a apreender todos os produtos cujo prazo devalidade expirou.

    Esse exemplo nos fornece o correto entendimento dos poderes conferidos Administrao: tais poderes so antes de tudo deveres. Sempre que a finalidade, ointeresse pblico previsto em lei o requerer, so eles de utilizao obrigatria para o

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    agente. Em vista disso, a doutrina costuma denomin-los poderes-deveres (poderesque consubstanciam sobretudo um dever, um dever de atuar quando indispensvelpara a satisfao do interesse pblico). H autores, como o Professor Bandeira de

    Mello, que vo alm, e invertem a ordem, nominando-os deveres-poderes, termo maisprximo da realidade. Nas questes em geral, todavia, prevalece a primeiradenominao.

    Essa , ento, a primeira e mais importante aplicao do princpio da indisponibilidadedo interesse pblico: sempre que a ordem jurdica confere ao agente publico umpoder, o faz tendo em vista dada finalidade; presente esta, tal poder de exerccioobrigatrio para o agente. As questes, alm do termo poder-dever, chamam a isso decarter instrumental dos poderes administrativos e aspecto dplice dos poderesadministrativos. Devemos considerar as trs expresses como sinnimas, para efeitode prova.

    Bem, a idia de indisponibilidade dos bens pblicos (na verdade, de uso dos benspblicos e de aplicao dos recursos pblicos) complementa o que at aqui

    explanamos. Os bens pblicos no de livre utilizao pela Administrao, mas apenasquando e na forma que o requerer o interesse pblico. Qualquer aplicao de recursosfinanceiros, qualquer utilizao dos bens pblicos, deve-se voltar para o interesseprevisto em lei. Destinao contrria lei, desvirtuada de qualquer interesse legtimo,caracteriza ato ilcito, sujeitando o infrator s penalidades cabveis ao caso.

    b) supremacia do interesse pblico sobre o privado.

    Este o gabarito da questo. Como j afirmamos, o princpio em questo , para finsde concurso, o mais importante dentre os princpios administrativos, constituindo ofundamento terico para todas as prerrogativas da Administrao, privilgios legaisexclusivos que lhe asseguram uma posio de supremacia (verticalidade da relao

    jurdica) perante o particular, quando seu intento de agir a consecuo do interessepblico.

    c) posio de isonomia dos rgos pblicos com os particulares.

    O princpio da isonomia, compreendido no princpio da impessoalidade, realmente umdos princpios regentes da Administrao (mas no o bsico, o que tornaria, por si s,a alternativa incorreta). Ele, porm, no se aplica no sentido do enunciado, pois nosignifica posio de isonomia dos rgos pblicos com os particulares, como ali consta(longe disso, o princpio bsico ressalta justamente a superioridade dos rgospblicos frente aos administrados), mas tratamento isonmico dos particulares pelosrgos (e entidades) pblicos, os quais no podem conferir-lhes tratamentodiferenciado, salvo quando h base legal para tanto.

    A Administrao, em regra, situa-se em posio superior s dos particulares, nasrelaes com eles travadas. Tal superioridade deve-se se dar de forma igual, semtratamento diferenciado. esse o contedo do princpio da isonomia.

    Alternativa errada.

    d) facultatividade pela Administrao do desempenho de atividade pblica.

    Alternativa absolutamente incorreta, por tudo de comentamos na primeira alternativa.

    e) imunidade de controle jurisdicional dos seus atos.

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    Alternativa errada.

    Estudaremos em outra oportunidade os sistemas administrativos existentes, nada maisque os sistemas de controle dos atos praticados pela Administrao.

    Basta neste ponto frisarmos que no Brasil vige o sistema de jurisdio nica,tambm denominado sistema ingls ou do controle jurisdicional, segundo o qual oJudicirio competente para apreciar todos os atos praticados pela Administrao.

    No Brasil este sistema tambm chamado de princpio da inafastabilidade dajurisdio, previsto no art. 5, XXXV, da Constituio, nos seguintes termos:

    A lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito.

    O controle judicial sobre os atos da Administrao pleno, em certo sentido: todos osatos produzidos pela Administrao so suscetveis de impugnao na via judicial(nesses atos no incluem os atos puramente polticos, vistos quando do estudo dasfunes do Estado); porm, limitado em outro: o Judicirio s tem competncia paraapreciar os atos da Administrao quanto aos seus aspectos de legalidade elegitimidade (conformidade com a Constituio, as leis e os princpiosadministrativos), no podendo julgar o mrito do ato (a margem de liberdade que a leiconfere ao administrador para decidir acerca da convenincia e oportunidade do ato,bem como seu contedo). Por esse motivo, no exerccio dessa competncia o Judiciriopoder anular um ato da Administrao, jamais revog-lo.

    Entenda-se: o Judicirio pode apreciar todos os atos administrativos, e todos os seuselementos (competncia, finalidade, forma, motivo e objeto), mesmo aqueles ondereside, se previsto em lei, espao para juzo de mrito (motivo e objeto). Tal anlise,todavia, limita-se aos aspectos de legalidade e legitimidade do ato, como j afirmado,no alcanando o prprio mrito. Dito de outro modo, se o ato est em consonnciacom a Constituio, as leis e os princpios da Administrao, no pode ser alteradopelo Judicirio.

    Sntese do Comentrio (quanto ao princpio da indisponibilidade e aintroduo ao controle dos atos jurisdicionais pela Administrao):

    1) quanto ao princpio da indisponibilidade dos interesses pblicos: num primeirosentido, e principalmente, significa que, sempre que a lei confere ao agente daAdministrao um poder, o faz relacionando-o com certa finalidade. Desse modo,sempre que para satisfazer essa finalidade (interesse) for necessrio que o agenteexera sua competncia, ele obrigatoriamente a exercer (chama-se a isso de poder-dever do agente pblico, carter instrumental dos poderes pblicos ou carter dplicedos poderes pblicos);

    2) num segundo sentido, o princpio da indisponibilidade impe ao agente pblico que

    s utilize os bens e recursos pblicos para atingir as finalidades previstas em lei, deinteresse pblico, e apenas no que for necessrio para tanto. Se a utilizao contrariara lei ou for alm do necessrio para o atingimento do interesse pblico, deve ser tidapor ilcita, e o agente culpado dever responder por seus atos.

    3) quanto ao controle jurisdicional dos atos da Administrao, ele baseia-se noprincpio da inafastabilidade da jurisdio (CF, art. 5, XXXV), e incide sobre todos osatos pela Administrao praticados, analisando-os quanto sua legalidade elegitimidade (compatibilidade com a Constituio, as leis e os princpiosadministrativos), mas no alcanando o seu mrito (a margem de liberdade que a leioutorgou Administrao para decidir sobre a convenincia e a oportunidade do ato,ou mesmo seu contedo). Nesse controle poder o Judicirio somente anular o ato

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    (inclusive por vcio de legalidade e legitimidade nos elementos motivo e objeto),jamais revog-lo.

    Questo 08

    (Auditor do Tesouro Municipal Natal) - No mbito do processo administrativo, oprincpio que autoriza a instituio do processo por iniciativa da Administrao, semnecessidade de provocao, denomina-se princpio

    a) Da gratuidade

    b) Do contraditrio

    c) Da oficialidade

    d) Da legalidade

    e) Da observncia forma

    Gabari to: C.

    Comentrios:

    Antes de mais nada, o que processoadministrativo?

    simples: o ato administrativo no nasce de um passe de mgica, como diz Bandeirade Mello, sendo o resultado de uma srie de atos anteriores que possibilitam aproduo de um ato final. Quando a Administrao concede frias a um servidor, pune

    um empregado pblico, impe uma punio no exerccio do poder de polcia, decreta otombamento de um bem etc, tais atos so precedidos de vrios outros. Por exemplo,para punir um servidor na esfera federal necessrio, como pressuposto do ato depunio, que seja observada uma srie de atos descritos com detalhamento na Lei8.112/90, os quais tm por intuito, sinteticamente, possibilitar a colheita de provaspela Administrao e a defesa do servidor acusado do ato ilcito. Todos esses atos queantecedem a punio do servidor (quando comprovada sua culpa) nada mais so que oprocesso descrito em lei para a imposio de penalidades aos servidores pblicosfederais.

    Com base nessas noes, podemos definir o processo administrativo como umaseqncia encadeada de atos praticados com o objetivo de ser produzido um ato final(a imposio da penalidade, a decretao do tombamento, a concesso de frias). O

    que veremos nesse comentrio, portanto, sero alguns dos princpios que regem essasrie de atos que compem, no seu conjunto, o processo administrativo (ou melhordizendo, os inmeros processos administrativos.

    Iniciamos pelo princpio da oficialidade, que corresponde ao princpio conceituadono enunciado da questo.

    Como de conhecimento comum, a Administrao pode atuar a pedido ou de ofcio, ouseja, mediante requerimento (ou ato similar) do administrado ou independente dequalquer manifestao desta natureza. Essa prerrogativa que tem a Administrao dedar incio aos processos administrativos sem provocao do particular justamente ocontedo do princpio da oficialidade.

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    Realmente, tal contedo indispensvel atividade administrativa, sob pena de suaineficcia. Basta-se pensar na hiptese em que se faz necessrio a imposio de umapenalidade no mbito do poder de polcia, por descumprimento de qualquer das leis

    que protegem os diversos interesses pblicos. Se a Administrao s pudesse darincio ao procedimento de fiscalizao por provocao do particular faltoso, evidenteque ningum seria punido no mbito do poder de polcia

    Alm disso, o princpio da oficialidade no se limita instaurao do processo,instrumentalizando a Administrao durante todo o seu transcorrer. Uma vez iniciadode ofcio o processo, a Administrao deve continuar atuando de ofcio, tomando todasas providncias necessrias at o seu encerramento regular.

    Mais uma vez tal concluso lgica. De que adiantaria instaurar um processo defiscalizao no mbito do poder de policia se sua continuidade dependessenecessariamente da manifestao do administrado investigado?

    Enfim, o princpio da oficialidade o fundamento terico da prerrogativa daAdministrao de instaurar e dar prosseguimento aos processos administrativosindependentemente de manifestao do particular.

    Vamos comentar os demais princpio listados na questo, agora seguindo a ordem nelaadotada.

    O princpio da gratuidade , majoritariamente, considerado tambm como umprincpio do processo administrativo. Na esfera federal a Lei 9.784/99 contempla deforma no-absoluta esse princpio (critrio, nos seus termos), ao asseverar, no art. 2,pargrafo nico, inc. XI: proibio de despesas processuais, ressalvadas as previstasem lei.

    Entende-se a gratuidade como princpio pelo fato ser a Administrao sempre uma daspartes do processo administrativo. H autores, todavia, que ressalvam da aplicao doprincpio os processos em que o interesse preponderante o do administrado, ou seja,

    aqueles cuja finalidade propiciar-lhe uma vantagem. Neste caso, seria vlida acobrana pela Administrao, exigindo-se apenas que os valores fossem mdicos, deforma a no impedir o acesso do administrado.

    O princpio do contraditrio tem previso constitucional, a saber, no art. 5, LV, juntamente com o princpio da ampla defesa, sendo tradicional sua anlise emconjunto, prtica que adotaremos aqui, uma vez que o entendimento de ambos osprincpios no oferece maiores dificuldades.

    Uma vez instaurado um processo administrativo que de qualquer modo possa atingirdeterminado administrado, a Administrao deve, obrigatoriamente, abrir espao parasua manifestao. Para tanto, indispensvel que ele tenha cincia dos elementos queintegram o processo (depoimentos, percias etc) e que lhe seja dada oportunidade dese contrapor aos dados e alegaes neles constantes. Isso , em breve sntese, ocontraditrio. No exerccio do contraditrio, poder o administrado se valer de todos osmeios probatrios no expressamente vedados em Direito. Isso , sumariamente, aampla defesa.

    No conjunto, podemos definir tais princpios como o direito que tem o administrado, nobojo de um processo que afete ou possa afetar seus interesses, de ter conhecimentode todos os elementos integrantes do processo e de a eles se contrapor, utilizando-separa tanto de todos os meios de prova no proibidos pelo ordenamento jurdico.

    Temos que ressaltar a possibilidade de, em situaes de urgncia, a Administraoadotar medidas constritivas contra o administrado sem previamente lhe oportunizarsua manifestao. Em tais situaes haver um diferimento do contraditrio (ou seja,a medida ser adotada antes de qualquer manifestao do administrado). Seria o caso,

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    por exemplo, de um imvel que esteja prestes a desabar, com srios danos para osimveis e pessoas ao redor, caso em que a Administrao poderia adotar asprovidncias necessrias independentemente de anterior manifestao do proprietrio.

    Este seria ouvido aps a efetivao das medidas e, em caso de ilegalidade ou deexcesso por parte da Administrao, teria direito indenizao.

    O outro princpio mencionado na questo o da legalidade, que nada tem de peculiarnos processos administrativos. A Administrao atua apenas mediante previso em lei,e neste agir deve observar os procedimentos em lei estabelecidos.

    A observncia forma, expresso constante da ltima alternativa, no sentido de queo processo administrativo obedece a formas rgidas, no considerada, atualmente,princpio do processo administrativo. Ao contrrio podemos dizer que na atualidadepredomina o princpio do informalismo, previsto a nvel legislativo, na esfera federal,no art. 22 da Lei 9.784/99, dispositivo que estatui: os atos do processo administrativono dependem de forma determinada seno quando a lei expressamente o exigir.

    Em termos de formalidade, o que se exige, regra geral, que os atos do processosejam praticados na forma escrita, como medida indispensvel para o controle daAdministrao. Em algumas situaes a forma do ato instituda em benefcio doparticular, para evitar que seus interesses sejam lesionados, como ocorre nosprocessos de licitao, em que se adotam formas rgidas. Nestas poucas situaes adesobedincia forma acarreta a nulidade do ato, nas demais, que constituem a regrageral, a desobedincia forma s traz consigo a nulidade se ficar comprovado que oato no atingiu sua finalidade ou que houve dano ao interesse pblico ou mesmo doadministrado. Caso contrrio, o ato vlido.

    Sntese do Comentrio (princpios do processo administrativo):

    1) conceito preliminar de processo: seqncia encadeada de atos praticados com o

    objetivo de ser produzido um ato final;2) princpio da oficialidade: a Administrao no depende de manifestao doadministrado para agir, podendo instaurar de ofcio os processos administrativos. Apsseu incio, a Administrao tambm independe da participao do administrado paradar prosseguimento ao processo.

    3) princpio da gratuidade: a Administrao sempre parte nos processosadministrativos. Em funo disso, eles em regra so gratuitos para o administrado. Naesfera federal a Lei 9.784/99 estatuiu como regra geral a gratuidade, ressalvando quelei pode dispor diferentemente. Advogam alguns autores que a gratuidade no seestende aos processos cujo objetivo conferir algum benefcio ao administrado,admitindo-se em tais casos a cobrana, desde que os valores sejam mdicos;

    4) princpio do contraditrio e da ampla defesa: sempre que a Administrao der incioa um processo relativo a interesses do administrado, deve conferir a ele oportunidadede conhecer todos os elementos que integram o processo e de a eles se contrapor(contraditrio), podendo para esse fim fazer uso de todos os meios probatrios novedados pelo ordenamento