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A Terceira Geração Escola dos Annales Teoria da História - Hélio Moreira da Costa Júnior 1

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Teoria da História - Hélio Moreira da Costa Júnior

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A Terceira Geração

Escola dos Annales

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Teoria da História - Hélio Moreira da Costa Júnior

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A Antropologia Histórica• A moda estruturalista, apesar da ofensiva

braudeliana, beneficia-se de um contexto favorável; a descolonização.

• A consciência etnológica descobre o interesse que outras civilizações apresentam. Cada um se interessa, então, por aquilo que faz a força de resistência dessas sociedades. Pela permanência de suas estruturas e seus valores, que parecem irredutíveis ao modelo ocidental.

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Teoria da História - Hélio Moreira da Costa Júnior

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A Antropologia Histórica• Trata-se da descoberta do outro, no espaço,

transformado em exemplo de uma verdade humana que relativiza o eurocentrismo.

• O ocidente fica com a impressão que não faz mais a história humana, mas a história de uma humanidade.

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A Antropologia Histórica• No Terceiro mundo,* que recusa essa história em

um combate muitas vezes radical, os intelectuais ocidentais ficaram também tentados a jogar para o alto o passado impecável de sua sociedade e lançar o olhar sobre o mundo mais espacial do que temporal.

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A Antropologia Histórica• O Ocidente descobre os charmes discretos do

tempo antigo, da idade do ouro perdida, da belle époque, que é preciso reencontrar.

• É esse tempo reencontrado que os historiadores se encarregam de reproduzir ao tomarem emprestado os instrumentos de análise e os códigos dos etnólogos. (...)

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A Antropologia Histórica• Tudo se torna objeto de curiosidade para o

historiador, que desloca seu olhar para as margens, para o avesso dos valores estabelecidos, para os loucos, para as feiticeiras, para os transgressores...

• O horizonte do historiador fechar-se sobre um presente imóvel, não há mais futuro: “Há um sinal que eu acho encorajador (...) é o fim do progressismo” (Philippe Ariès)

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A Antropologia Histórica• A crise da ideia de progresso acentuo o

renascimento das culturas anteriores à industrialização.

• A Nova História se esconde então na busca das tradições, ao valorizar o tempo que se repete, as voltas e reviravoltas dos indivíduos.

• O surgimento de um neo-romantismo (referência a idade média)

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A Antropologia Histórica• Nova estética se instala, segundo a qual se fala

de uma aldeia, das mulheres, dos imigrados e dos marginais.

• A Terceira Geração dos Annales, sensível como as outras às interrogações do presente, muda o rumo de seu discurso ao desenvolver a antropologia histórica.

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A Antropologia Histórica• Ao responder ao desfio da antropologia estrutural,

os historiadores dos Annales retomam mais uma vez a roupagem dos rivais mais sérios e confirmam suas posições hegemônicas.

• O preço a ser pago: o abandono dos grandes espaços econômicos braudelianos, o refluxo do social para o simbólico e para o cultural.

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A Antropologia Histórica• Nasce uma Nova História que Daniel Roche chama

“ a história sociocultural”

• Mudança na direção da Revista dos Annales: de uma tradição uma para uma direção colegiada: André Burguière, Marc erro, Jacques Le Goff, Emmanuel Le Roy Ladurie e Jacques Ravel

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Maio de 1968• "O que queremos, de fato, é que as ideias voltem a ser

perigosas" (Guy Debord)

• "Sejam realistas, exijam o impossível!"

• "A imaginação ao poder"

• "É proibido proibir"

• "As paredes têm ouvidos, seus ouvidos têm paredes"

• "Se queres ser feliz, prende o teu proprietário"

• "O patrão precisa de ti, tu não precisas dele“

• Fonte: Folha de São Paulo (30.04.2008)

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Maio de 1968• "A revolução deve ser feitas nos homens,

antes de ser feita nas coisas"

• "Um só fim de semana não-revolucionário é infinitamente mais sangrento que um mês de revolução permanente"

• "Quanto mais amor faço, mais vontade tenho de fazer a revolução. Quanto mais revolução faço, maior vontade tenho de fazer amor"

• Fonte: Folha de São Paulo (30.04.2008)

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Maio de 1968• A França dos anos de 1960, sob o comando do

general Charles De Gaulle, era uma sociedade culturalmente conservadora e fechada, vivendo ainda o reflexo das perdas sofridas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

• Nas escolas francesas, as crianças eram disciplinadas com rigidez. As mulheres francesas tinham o costume de pedir autorização aos maridos para expressarem uma opinião, e a homossexualidade era diagnosticada pelos médicos como uma doença.

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Maio de 1968• O Maio de 68 mudou profundamente as relações entre

raças, sexos e gerações na França, e, em seguida, no restante da Europa. No decorrer das décadas, as manifestações ajudaram o Ocidente a fundar ideias como as das liberdades civis democráticas, dos direitos das minorias, e da igualdade entre homens e mulheres, brancos e negros e heterossexuais e homossexuais.

• O Maio francês rapidamente repercutiu em vários países da Europa e do mundo, de uma forma direta e imediata. As ocupações de universidades se multiplicaram a partir da França, e ocorreu a expansão das mobilizações entre os trabalhadores europeus e latino-americanos, em muitos casos em aliança com os estudantes.

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Maio de 1968• O movimento francês teve início na Universidade de

Nanterre, nos arredores de Paris, que foi cercada no final de abril por estudantes liderados por Daniel Cohn-Bendit. O protesto dos estudantes logo se dirigiu à capital.

• Em 5 de maio, cerca de 10 mil estudantes entraram em choque com policiais no bairro latino Quartier Latin, em Paris, em um protesto contra o fechamento de outra universidade francesa, a Sorbonne, em Paris.

• Em seguida, em 10 de maio, ocorre a Noite das Barricadas, quando 20 mil estudantes enfrentaram a polícia nas universidades e ruas de Paris.

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Maio de 1968• No dia 13, estudantes e trabalhadores franceses unificam seus

movimentos e decretam uma greve geral de 24 horas em Paris, em protesto contra as políticas trabalhista e educacional do governo do general De Gaule.

• No dia 20, a mobilização atinge seu auge: Paris amanhece sem metrô, ônibus, telefones e outros serviços. Cerca de 6 milhões de grevistas ocupam as 300 fábricas da França.

• A Universidade de Sorbonne, ocupada pelos estudantes, começa uma outra batalha, em que as maiores "armas" foram as palavras. Surgiram frases que expressavam a política "libertária" desejada pelos jovens universitários: "A imaginação ao poder", "É proibido proibir", "Abaixo a universidade" e "Abaixo a sociedade espetacular mercantil".

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Surgimento da terceira geração• Após 1968 as condições estavam prontas para

uma nova mudança na historiografia francesa. • A partir de 1969, André Burguière e Jacques Revel

envolveram-se na administração dos Annales, e com a aposentadoria em 1972 de Braudel da Presidência da VI Seção, que iria ser ocupada em seguida, por Jacques Le Goff; e em 1975, quando a velha VI Seção desapareceu e Le Goff tornou-se o Presidente da reorganizada École des Hautes Études en Sciences Sociales, sendo substituído, em 1977, por François Furet.

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O perfil• é mais difícil traçar o perfil da terceira geração do

que das duas anteriores. Ninguém neste período dominou o grupo como o fizeram Febvre e Braudel.

• François Dosse chega mesmo a falar numa fragmentação da Clio.

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As novas fronteiras• o policentrismo prevaleceu. • Vários membros do grupo levaram mais adiante o

projeto de Febvre, estendendo as fronteiras da história de forma a permitir a incorporação da infância, do sonho, do corpo e, mesmo, do odor.

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Recuo?• Outros solaparam o projeto pelo retorno à história

política e à dos eventos.

• Alguns continuaram a praticar a história quantitativa, outros reagiram contra ela.

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As mulheres

• A terceira geração é a primeira a incluir mulheres, especialmente Christiane Klapisch, que trabalhou sobre a história da família na Toscana durante a Idade Média e o Renascimento;

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As mulheres

• Arlette Farge, que estudou o mundo social das ruas de Paris no século XVIII; Mona Ozouf, autora de um estudo muito conhecido sobre os festivais durante a Revolução Francesa.

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As mulheres

• Michèle Perrot, que escreveu sobre a história do trabalho e a história da mulher.

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Resposta à critica feminista• A critica feita á ausência das mulheres na

historiografia parece ter sido superada a a partir das publicações de Georges Duby e Michèle Perrot, por exemplo, que estarão empenhados em organizar uma história da mulher em vários volumes.

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Multiculturalismo• Esta geração, por outro lado, é mais aberta a

idéias vindas do exterior. • Muitos dos seus membros viveram um ano ou

mais nos Estados Unidos, em Princeton, Ithaca, Madison ou San Diego. Diferentemente de Braudel, falam e escrevem em inglês.

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Síntese ou ecletismo?• Por diferentes caminhos, tentaram fazer uma

síntese entre a tradição dos Annales e as tendências intelectuais americanas-como a psico-história, a nova história econômica, a história da cultura popular, antropologia simbólica, etc.

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Terceira GeraçãoDO PORÃO AO SÓTÃO

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Contra os “determinismos”• Na geração de Braudel, a história das

mentalidades e outras formas de história cultural não foram inteiramente negligenciadas, contudo, situavam-se marginalmente ao projeto dos Annales.

• No correr dos anos 60 e 70, porém, uma importante mudança de interesse ocorreu.

• O itinerário intelectual de alguns historiadores dos Annales transferiu-se da base econômica para a “superestrutura” cultural, “do porão ao sótão”

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Mentalidades

• Foi realmente um historiador da geração de Braudel que despertou a atenção pública para a história das mentalidades, através de um livro notável, quase sensacional, publicado em 1960. Philippe Ariès era um historiador diletante, “um historiador domingueiro”. (...)Demógrafo histórico por formação, Ariès veio a rejeitar a perspectiva quantitativa (da mesma maneira que rejeitou outros aspectos do mundo burocrático-industrial moderno).

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Mentalidades

• Seus interesses direcionaram-se para a relação entre natureza e cultura, para as formas pelas quais uma cultura vê e classifica fenômenos naturais tais como a infância e a morte.

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Mentalidades• Em seu estudo sobre as famílias e as escolas durante o antigo

regime, Ariès defende que a idéia de infância, ou, mais exatamente, que o sentimento da infância, não existia na Idade Média. O grupo etário que chamamos de “crianças” era visto, mais ou menos, como animais até a idade de sete anos e quase que como uma miniatura dos adultos daí em diante. A infância, de acordo com Ariès, foi descoberta na França, na altura do século XVII. Foi por esse tempo que, por exemplo, roupas especiais eram destinadas às crianças, como a “robe” para meninos. Cartas e diários do período documentam o interesse crescente dos adultos no comportamento das crianças, que tentavam, algumas vezes, reproduzir a fala infantil. Baseou-se também em registros iconográficos, como o crescente número de quadros de crianças, para ilustrar a hipótese de que a consciência da infância como uma fase do desenvolvimento humano retroage ao limiar dos tempos modernos-não vai além (Ariès, 1960).

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Longa duração• Seus últimos anos foram dedicados a estudos

sobre as atitudes perante a morte, focalizando de novo um fenômeno da natureza refratado pela cultura, a cultura ocidental, e atendendo a um famoso reclamo de Lucien Febvre, em 1941, “Nós não possuímos uma história da morte” (Febvre, 1973, p. 24).

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Inovação ou herança?• Robert Mandrou: a figura principal na psicologia

histórica à la Febvre foi publicou Introduction à la France Moderne, com o subtítulo “Um ensaio em psicologia histórica – 1500-1640”, em que incluía capítulos sobre saúde, emoções e mentalidades (Mandrou, 1961).

• Ruptura entre Braudel e Mandrou, no decorrer de um debate sobre o futuro do movimento dos Annales.

• Nessa discussão, Braudel defendeu a inovação, enquanto Mandrou preferia a herança de Febvre, o que ele chamava “o estilo original” ( Annales première manière), em que a psicologia histórica ou a história das mentalidades desempenhavam um papel importante.

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Psico-História• Delumeau utilizou, ocasionalmente, as idéias de psicanalistas

como Wilhelm Reich e Erich Fromm. Havia sido precedido nesse sentido por Le Roy Ladurie, cujo Les paysans de Languedoc (1966), analisado no capítulo anterior, incluía livros de Freud na bibliografia, (...).

• Le Roy descreveu o carnaval de Romans como um psicodrama, “que dava acesso imediato a criações do inconsciente”, tais como fantasias de canibalismo, e interpretou as convulsões proféticas dos camisards em termos de histeria.

• Alain Besançon, um especialista na Rússia do século XIX, que escreveu um longo ensaio na revista sobre as possibilidades do que ele denominava “história psicanalítica”. Tentou pôr em prática essas possibilidades num estudo sobre pais e filhos. O estudo focalizava dois tzares, Ivã, o Terrível, e Pedro, o Grande, o primeiro matou seu filho, e o segundo condenou o seu à morte (Besançon, 1968, 1971).

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Psico-história• Besançon, Le Roy Ladurie e Delumeau tomaram

as idéias principalmente de Freud, dos freudianos ou neofreudianos.

• O estilo americano de psico-história, orientado no sentido do estudo de indivíduos, finalmente encontrou a psicologia histórica francesa, dirigida no sentido do estudo de grupos, embora as duas correntes não se tenham fundido numa síntese.

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Ideologias e Imaginário Social• Contudo, a tendência principal la numa direção

diferente. Dois dos mais destacados historiadores recrutados para a história das mentalidades, no início dos anos 60, foram os medievalistas: • Jacques Le Goff (“O tempo dos mercadores e o tempo

da Igreja na Idade Média”) e • Georges Duby (La naissance du Purgatoire O

nascimento do purgatório).

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Terceira GeraçãoO “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL

• A história das mentalidades não foi marginalizada nos Annales, em sua segunda geração, apenas porque Braudel não tinha interesse nela. Existiram pelo menos, duas outras razões mais importantes para essa marginalização.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL

• Em primeiro lugar, um bom número de historiadores franceses acreditava, ou pelo menos pressupunha, que a história social e econômica era mais importante, ou mais fundamental, do que outros aspectos do passado.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL

• Em segundo lugar, a nova abordagem quantitativa, analisada no capítulo anterior, não encontrava no estudo das mentalidades o mesmo tipo de sustentação oferecido pela estrutura socioeconômica.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL

• A abordagem estatística foi desenvolvida para estudar a história da prática religiosa, a história do livro e a história da alfabetização. Espraiou-se, algum tempo depois, para outros domínios históricos.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• A ideia de uma história da prática religiosa

francesa , ou de uma sociologia retrospectiva do catolicismo francês, baseada em estatísticas da frequência à comunhão, das vocações religiosas etc., remonta a Gabriel Le Bras, que publicou um artigo sobre o tema, em 1931 (Le Bras, 1931).

• Criou uma escola de historiadores da Igreja e sociólogos da religião, que estavam particularmente preocupados com o que chamavam de “descristianização” da França do final do século XVIII em diante, investigando a questão através de métodos quantitativos.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• a obra do círculo de Le Bras (como o de Ariès)

inspirou alguns historiadores dos Annales quando se elevaram do porão ao sótão.

• Estudos regionais mais recentes sobre Anjou, Provença, Avignon e Bretanha dedicaram-se mais fortemente à cultura do que seus predecessores, e, em particular, às atitudes diante da morte.

• Como escreveu Le Goff no prefácio de um desses estudos, “a morte está na moda”.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• O mais original desses trabalhos é o de Vovelle.

Um historiador marxista da Revolução Francesa, “formado na escola de Ernest Labrousse”, como ele próprio diz, Vovelle interessou-se pelo problema da “descristianização”.

• Sua ideia foi a de tentar mensurar esse processo pelo estudo das atitudes diante da morte e o além tal como são reveladas nos testamentos.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• O resultado, consubstanciado em sua tese

doutoral, foi um estudo da Provença fundamentado na análise sistemática de cerca de 30.000 testamentos.

• Onde historiadores anteriores haviam justaposto evidências quantitativas sobre mortalidade com evidências mais literárias sobre as atitudes frente a morte, Vovelle quis mensurar mudanças no pensamento e no sentimento.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• Deu atenção, por exemplo, às referências feitas à

proteção dos santos padroeiros; ao número de missas que o testador encomenda para a salvação de sua alma; aos arranjos feitos para os funerais e mesmo ao peso das velas acendidas durante a cerimônia.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• Vovelle identificou uma mudança bastante

significativa no que denominou de “pompa barroca” dos funerais do século XVII para a singeleza dos funerais do século XVIII.

• Sua principal pressuposição era a de que a linguagem dos testamentos refletia “o sistema de representações coletivas; sua conclusão mais importante foi a identificação de tendências à secularização, sugerindo que a “descristianização” nos anos da Revolução Francesa foi espontânea e não imposta de cima, por fazer parte de uma tendência mais ampla.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• Digna de nota é a maneira pela qual Vovelle

mapeia a expansão das novas atitudes da nobreza para com os artesãos e camponeses, das grandes cidades, como Aix, Marselha e Toulon, através de pequenas cidades, Barcelonette, por exemplo, para as pequenas vilas.

• Sua argumentação era ilustrada com uma grande quantidade de mapas, gráficos e tabelas.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• Piété baroque et Dechristianisation, título do

estudo de Vovelle, produziu uma certa sensação intelectual, graças particularmente ao uso virtuoso das estatísticas, acompanhado de um agudo senso das dificuldades em interpreta-las.

• (...) O que Ariès vinha realizando sozinho no campo da história da morte, em seu estilo deliberadamente impressionista, foi assim completado por pesquisas coletivas e quantitativas de profissionais”.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• Essa apropriação da vida depois da morte por

historiadores laicos, armados de computadores, é ainda o mais notável exemplo da história serial de terceiro nível.

• Outros historiadores da cultura, porém, utilizaram de maneira eficiente os métodos quantitativos, especialmente na história da alfabetização e na história do livro.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• O estudo da alfabetização é um outro campo da

história cultural que conduz à pesquisa coletiva e à análise estatística.

• O projeto mais importante nesse campo, iniciado na década de [19]70, foi levado a efeito na École des Hautes Études, dirigido por François Furet – um discípulo de Ernest Labrousse (...).

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• O tema do projeto era a mudança dos níveis de

alfabetização, na França do século XVI ao XIX (Furet e Ozouf, 1977).

• Os pesquisadores utilizaram fontes mais variadas, do recenseamento às estatísticas do exército sobre os conscritos, o que os habilitava antes a afirmar do que a presumir a correlação entre a habilidade de assinar o próprio nome à capacidade de ler e escrever.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• Confirmaram a tradicional divisão entre duas

Franças, mas sofisticaram a análise estabelecendo distinções dentro das regiões. Entre outras conclusões interessantes, notaram que, no século XVIII, a alfabetização cresceu mais rapidamente entre as mulheres do que entre os homens.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• As pesquisas sobre a alfabetização foram

acompanhadas de pesquisas sobre o que os franceses chamam de “a história do livro”.

• Pesquisas que não se preocupavam com os grandes livros, mas com as tendências da sua produção e com os hábitos de leitura dos diferentes grupos sociais (Roche/Chartier, 1974).

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• O estudo de cultura popular de Robert Mandrou,

(...), por exemplo, lidava com literatura de Cordel, a chamada “Biblioteca Azul” (Mandrou, 1964).

• Tais livros, que custavam um ou dois sous, eram distribuídos por mascates e produzidos em grande parte por famílias de impressores em Troyes, localizada na região Nordeste da França, onde a taxa de alfabetização era elevada.

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O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL• Mandrou examinou cerca de 450 títulos, assinalando

a importância da leitura religiosa (120 títulos), almanaques e mesmo romances de cavalaria.

• Concluiu que essa literatura era essencialmente uma “literatura de evasão”, lida especialmente pelos camponeses e que revelava uma mentalidade “conformista”.

• Obs: La Bibliothèque Bleue tinha esse nome porque suas capas eram feitas de papel azul, utilizado para empacotar açúcar.