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Repensando o Projeto de Monografia - Anhembi Morumbi 1 Repensando o Projeto de Monografia e as Fontes de Pesquisa Valéria Brandini “Fazer uma tese significa divertir-se e tese é como porco: nada se desperdiça” (HUMBERTO ECO: Como se faz uma tese 1977: 169) Sim, fazer uma tese é uma experiência singular. O processo nos toma por completo e invade todos os setores das nossas vidas, pois pensamos a tese vinte e quatro horas por dia - mesmo quando nossa mente está em abstração, o pensar a tese nos acompanha, não porque temos um problema a resolver, mas porque pensar também pode ser divertido. Pensar rompendo fronteiras então, é um verdadeiro prazer! Conforme Humberto ECO (1977), realmente, na feitura de uma tese, nada se desperdiça, pois o tempo todo pensamentos, experiências do cotidiano e todas as formas do sentir e do conhecer acabam agregando algo ao desenvolvimento da pesquisa e elaboração da tese - dos cartoons da TV às notícias do jornal, da literatura de ficção às revistas de fofocas, tudo parece “conspirar” para trazer sentido e informações ao processo de pesquisa. Por quê? Porque tudo passa a ser observado de forma diferente quando estamos em processo de pesquisa e até mesmo a banalidade, quando colocada em perspectiva, exercita nossa visão crítica sobre a realidade que nos cerca. A realidade muda? Não! Mas a visão do que pode ser concebido como realidade e até o questionamento de se o conceito de realidade é correto, sim. Relatos de Experiências de Pesquisa Durante a redação de minha tese de doutorado, uma matéria apresentada em um programa de TV, que nada tinha a ver com moda, contribuiu sobremaneira para o desencadeamento de minha pesquisa. Uma matéria, exibida pelo programa Fantástico da Rede Globo, fazia referência à descoberta de uma tribo de índios no interior da Floresta Amazônica que nunca tivera contato pessoal com ‘o homem branco’, embora a tribo ainda semi nômade, vivesse, geograficamente, próxima aos acampamentos de seringueiros e pescadores. Esses indígenas, da tribo Canoé mantinham suas práticas, rituais e crenças tal qual lhes foram transmitidas por seus ancestrais, dado que a tribo não passou pelo processo de aculturação a que muitas tribos são submetidas. Embora não tivessem contato pessoal com o homem branco, o nomadismo permitia que eles tivessem contato com objetos outrora usados por ele, por vezes sucata, lixo da sociedade ocidental.

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Repensando o Projeto de Monografiae as Fontes de Pesquisa

Valéria Brandini

“Fazer uma tese significa divertir-se e tese é como porco: nada se desperdiça”(HUMBERTO ECO: Como se faz uma tese 1977: 169)

Sim, fazer uma tese é uma experiência singular. O processo nos toma por completoe invade todos os setores das nossas vidas, pois pensamos a tese vinte e quatro horas pordia - mesmo quando nossa mente está em abstração, o pensar a tese nos acompanha,não porque temos um problema a resolver, mas porque pensar também pode ser divertido.Pensar rompendo fronteiras então, é um verdadeiro prazer!

Conforme Humberto ECO (1977), realmente, na feitura de uma tese, nada sedesperdiça, pois o tempo todo pensamentos, experiências do cotidiano e todas as formasdo sentir e do conhecer acabam agregando algo ao desenvolvimento da pesquisa eelaboração da tese - dos cartoons da TV às notícias do jornal, da literatura de ficção àsrevistas de fofocas, tudo parece “conspirar” para trazer sentido e informações ao processode pesquisa. Por quê? Porque tudo passa a ser observado de forma diferente quandoestamos em processo de pesquisa e até mesmo a banalidade, quando colocada emperspectiva, exercita nossa visão crítica sobre a realidade que nos cerca. A realidade muda?Não! Mas a visão do que pode ser concebido como realidade e até o questionamento de seo conceito de realidade é correto, sim.

Relatos de Experiências de Pesquisa

Durante a redação de minha tese de doutorado, uma matéria apresentada em umprograma de TV, que nada tinha a ver com moda, contribuiu sobremaneira para odesencadeamento de minha pesquisa.

Uma matéria, exibida pelo programa Fantástico da Rede Globo, fazia referência àdescoberta de uma tribo de índios no interior da Floresta Amazônica que nunca tiveracontato pessoal com ‘o homem branco’, embora a tribo ainda semi nômade, vivesse,geograficamente, próxima aos acampamentos de seringueiros e pescadores. Essesindígenas, da tribo Canoé mantinham suas práticas, rituais e crenças tal qual lhes foramtransmitidas por seus ancestrais, dado que a tribo não passou pelo processo de aculturaçãoa que muitas tribos são submetidas.

Embora não tivessem contato pessoal com o homem branco, o nomadismo permitiaque eles tivessem contato com objetos outrora usados por ele, por vezes sucata, lixo dasociedade ocidental.

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A história dessa tribo talvez não fossetão sui generis se ao aparecer no vídeo, suaimagem fosse tão surpreendente: eles seornamentavam com exatamente osmesmos signos e composiçãoindumentária, totens e enfeites que seusancestrais, a diferença é que essesancestrais confeccionavam seusornamentos com a matéria prima que tinhamà disposição: plantas, pedras, ossos deanimais entre outros elementos produzidospela natureza, enquanto que os índios datribo descoberta confeccionavam seusornamentos, por sua vez, também com amatéria prima que encontravam no meioambiente: pedaços de lata, de plástico,papel, embalagens de alumínio, entre todaa sorte de ‘sucata e lixo’ deixado pelo homembranco pela Amazônia.

Eram colares coloridos de plásticoamarrados com cadarços de tênis, pedaçosde borracha, cintos confeccionados compedaços de metal, papel, materiais sintéticosde todo o tipo, que eram encontrados etrabalhados segundo a estética dosornamentos da cultura da tribo.

A imagem vista pela TV naqueledomingo era incrível, pois se aproximava dabricolagem de algumas das criaçõesextremas, cibernéticas, pós-modernas dosdesigners mais radicais da moda atual.

Na perspectiva crítica de observaçãodesse evento, em uma analogia utilizadacomo análise para minha tese, a lógica daaproximação entre essas criações ¾ daprodução dos índios amazonenses e dapeças de alguns designers extremos(categoria que desenvolvi para tratar otrabalho dos designers abordados em meutrabalho), remeteu à lógica investigada, a dacultura vestida sobre o corpo.

Os índios da tribo Canoé mantinhama representação de suas tradições culturais,confeccionando ornamentos queconjugavam o universo simbólico de suaspráticas e valores à realidade vivida no tempo/espaço presente, na realidade de umacultura antiga, não-civilizada, tradicional queconvive, mesmo que indiretamente, mesmoque em uma relação desenvolvida atravésdos objetos partilhados com uma outracultura, que vive em uma diferente dimensãode tempo/espaço psicológicos.

Os designers da moda extremarealizam esse mesmo trabalho, criam peçasque representam a cultura híbrida, pós-moderna, mutante, associada àrepresentação do presente imediato, líquido,heterogêneo, cultura essa poliidentitária queconvive consigo mesma em movimentoscontínuos de aproximação e estranhamento,na dimensão e velocidade da metrópole.

Assim, a conclusão de meu trabalhode pesquisa poderia ser “vista” através daimagem desses índios, vestindo a culturaque estrutura sua sociedade confeccionadacom os signos materiais produzidos pelomeio, pela vivência humana e pelaconstrução da história. Vista pelaassociação, incorporação, aproximaçãoentre a imagem de uma sociedade, aspessoas, os indivíduos, os grupos sociaiscom as suas vivências materiais,psicológicas e funcionais em seu tempo eespaço próprios.

Isso pode ser observado através daornamentação de corpo produzida pelosíndios e isso é, também, o resultado dascriações conceituais dos designers de modaextrema.

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Certamente, foi o pensamento antropológico que deu vazão à formulação de nossashipóteses, certamente também porque encontramos na moda atual em sua diferença coma de décadas passadas, os significados da cultura em nosso tempo presente.

Tais significados e suas construções estéticas através da roupa com expressão demoda são, por sinal, a moda extrema. Para além de roupa e para além de objeto signo,dado que essa moda é por vezes ‘esculpida’, marcada, gravada sobre o corpo como umamoda/totem, ela incorpora a cultura e nos veste dela.

Contudo, pensemos que ela não é apenas significado, arte e idéia, ela é objeto,produto, comércio, indústria e enquanto moda é um bem simbólico que serve à categorizaçãode seu possuidor, isso, ao que a roupa com expressão de moda serviu desde as suasorigens. Todavia, o sentido político dessa categorização do possuidor, na moda extrema éoutro.

Contextualizando o tema moda, no universo de bens simbólicos de consumoestratificado, dado que no decurso de minha pesquisa de doutorado tratei o tema em suadimensão cultural, concordo, portanto com Baudrillard quando o autor declara que a relaçãoentre os objetos reflete não o sistema das necessidades, mas as relações entre indivíduosatravés do jogo de significados operado pelo sistema dos objetos.

Exemplo de Resulta de uma Pesquisa de Moda:

Através da pesquisa desenvolvida na tese Vestindo a Rua: Moda. Cultura & Metrópole,as investigações realizadas e análise dos dados resultaram no conceito:

Moda Extrema:

A forma moda em sua dimensão cultural que data das últimas duas décadas doséculo XX. Conceito gerado a partir da idéia de juventude e sociedade extremas de MassimoCanevacci: conceito disjuntivo, descentralizado, destinado à “não-síntese”. Ele é,definitivamente, um fenômeno social na pós-modernidade, que se desloca acompanhandoprogressivamente a evolução da sociedade contemporânea, por essa razão é fluido emodifica-se constantemente ao incorporar valores, significados, atribuições que oreformulam de forma que as associações ao termo moda, dentro da literatura especializadasobre o assunto, são diversas e nem sempre aprofundadas.

- Acreditamos que o termo moda, amplamente estudado nesse trabalho evisivelmente pouco explorado como conceito, abstração, idéia é, como parte dos fenômenosculturais da pós-modernidade, um conceito líquido, mutante, mutóide, híbrido, indefinido,desterritorializado, in between. Ele pode ser associado à democracia e à modernidade,como em Lipovetsky, ao mercado como em Corrêa, ao simulacro ¾ relações entre objetos,representando relações entre pessoas de Baudrillard, ou à cultura sterminada, como emCanevacci.

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- Percebemos que a moda, a partir das últimas duas décadas, tem adquirido novosestatutos, dimensões outras que a constituem como uma vitrine da sociedade urbanacontemporânea. Não porque a moda mostra o que as pessoas vestem nas ruas dascidades, ou porque ela ‘copia’ os movimentos juvenis, mas porque ela tornou-se umaforma de discurso que se aproxima da arte e da filosofia.

- Geramos essa forma de definição de moda, após os três anos de pesquisa nodoutorado, dado que nenhuma das definições de moda, encontradas em investigaçõesteóricas, pareceu-nos convincente. Certamente, foi uma escolha arriscada, pois seria maisfácil tomarmos as definições já desenvolvidas por Lipovetsky ou Baudrillard, mas foi nabusca de realização de um trabalho de reflexão, do questionamento dos paradigmas, jádesenvolvidos sobre moda, que desenvolvemos as definições e conceitos aqui expostos.

- “Vestir a rua”: o título desse trabalho é a representação simbólica da relação entrea forma moda de vanguarda atual e a sociedade urbana contemporânea, heterogênea,pós-moderna. O jogo das palavras sugere:

• Que a moda enquanto produção que se aproxima da arte e da filosofia,‘se veste’, incorpora os valores, os significados, os eventos e os fatos maisimportantes que ocorrem na moderna sociedade ocidental, tal qual uma ‘entidade’a incorporar, aleatoriamente, elementos determinantes da cultura contemporânea.Essa moda, produzida pelos novos fashion designers, ao incorporar, ‘vestir-se’desses significados, apresenta em sua composição estética discursos sobre arealidade vivida na desordenada e inconstante urbe ocidental.

• Que a moda extrema em seu capital cultural ‘veste’-nos, (nós, os indivíduoshabitantes da urbe pós-moderna) nos traz o universo simbólico da cultura de rua,da metrópole, da cultura urbana fluída, desse mosaico de valores que sãotraduzidos em estética na roupa como forma de comunicação de discursosideológicos, filosóficos, próximos da arte que são produzidos pelos fashiondesigners da atual moda extrema.

- Dado a construção conceitual do objeto da tese: a moda extrema em sua confluênciacom a cultura urbana contemporânea, a vitrine dos significados dessa cultura (tal qual afoto que serve como capa do trabalho), após a exposição das relações entre moda ecultura, nos séculos anteriores, abordamos o trabalho dos novos couturiers, as contestaçõespresentes no discurso estético destas criações e as razões da mudança do estatuto docouturier, mestre da elegância, em um artista moderno contestador do próprio sistema damoda.

Nessa parte do trabalho, realizaremos a exposição das pesquisas junto à SaintMartin’s School of Fashion and Design e da decupagem do material fotográfico obtido empesquisa.

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Resumo da Ópera

A exposição das idéias desenvolvidas em minha tese, assim como os conceitosformulados servem aqui como exemplos empíricos de resultado de uma pesquisa e de“para que serve uma tese?” . Para criar conhecimento, conceitos que sirvam para se pensara realidade observada, informações que sirvam ao mercado e à indústria, cases que ilustrema estrutura de funcionamento de um sistema, que contribuam para o resgate histórico deum processo.

Como Repensar o Objeto Moda?

O que concebemos moda como cultura pode ser associado ao conceito de culturade Clifford Geertz, que a concebe como uma teia de significados que o Homem mesmoteceu, sendo o Homem um animal social amarrado a elas. O autor busca, segundo essaconcepção de cultura, desenvolver um método científico na busca de significados e a relaçãoentre tais significados e os padrões sociais que derivam deles.

A moda é constituída em torno de universos simbólicos que surgem comoramificações dessas teias de significados.

Como se entender uma dada complexidade fenomenológica que agregamanifestações comportamentais sociais urbanas, representações artísticas, novos padrõesestéticos e uma dinâmica de mercado extremamente representativa?

Nessa síntese de múltiplas determinações oriundas de campos e instânciasdistintas, que a forma moda como expressão de estilos que transcende a suas origens,significados e objetivos, necessita ser abordada de forma transdisciplinar.

As abordagens sociológicas das ciências da comunicação, do mercado (oueconomia) ou mesmo semiológicas são fundamentais para a contextualização do objetoàs conjunturas sócio-econômicas e políticas que interagem em seu desenvolvimento, dadoque o fenômeno moda, como observamos na contemporaneidade, é um fenômenocaracterístico das sociedades capitalistas de consumo, movimentadas pela aceleraçãodos processos de comunicação e relações comerciais entre povos, nações e países, umfenômeno internacional, cuja dimensão espacial abrange o sistema global de produção econsumo de bens simbólicos.

A observação da transdisciplinarida; ou seja, da articulação e da utilização dediferentes áreas do conhecimento aplicadas ao objeto de estudo é fundamental seobservarmos que as relações de distanciamento e proximidade complementam-se nadinâmica sociedade globalizada.

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Cada manifestação cultural, política ou mercadológica é fruto de uma articulação demúltiplos interesses e determinações e engendra processos que promovem novosinteresses e determinações, o que reflete exatamente o funcionamento do sistema damoda.

A forma moda constitui uma bricolagem estético/temática, em que signos,significados e ícones compõem uma ação comunicativa e um novo corpus artístico; elapossui um conjunto de múltiplas determinações que a constituem como um fenômenosócio-cultural urbano; nele, observamos referenciais estéticos que mesclando “tudo aomesmo tempo”, tornam a forma moda um dos mais representativos sinais do deslocamentodos referenciais, hierarquias e valores sociais que promovem a ambivalência e ambigüidadeque prosperam na pós-modernidade.

Simulacros, desarticulações e rearticulações de significados, inversão de valores,desestruturação de ideologias e a desterritorialização de elementos simbólicos compõema complexidade da sociedade pós-moderna, que pode ser lida na linguagem estética edinâmica de produção/reprodução do universo simbólico urbano, traduzida na expressãode moda tal qual esta se apresenta. Segundo Humberto ECO:

“As poéticas contemporâneas, ao propor estruturas artísticas que exigem do fruidorum empenho autônomo especial, freqüentemente uma reconstrução, sempre variável, domaterial proposto, refletem uma tendência geral de nossa cultura em direção àquelesprocessos em que, ao invés de uma seqüência unívoca e necessária de eventos, seestabelece como que um campo de possibilidades, uma “ambigüidade” de situação, capazde estimular escolhas operativas ou interpretativas sempre diferentes. (ECO, 1970 :93)”

Repensando o Projeto de Monografia

Como o processo de pesquisa é uma atividade “não linear”, o projeto é repensadoa cada movimento, como em um jogo de xadrez, mas sem perder o foco de onde se querchegar.

Muda-se, conforme se caminha com as investigações, as formas utilizadas para sechegar às respostas e estas, sim, devem estar sempre bem definidas. Conforme MariaImaccolata Vassalo de Lopes, titular da cadeira de metodologia de pesquisa da ECA – USP:

“Seguindo uma visão não tecnicista de método, este aparece como uma série deopções, seleções e eliminações que incidem sobre todas as operações metodológicas nointerior da investigação: na definição do problema de pesquisa, na formulação de hipóteses,na teorização de conceitos e, o que é menos óbvio, na construção dos dados.” (LOPES,2003:101)

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Essas opções são os ditos “movimentos de xadrez” que reorientam os caminhosseguidos rumo ao objetivo de pesquisa. Muitas vezes, querer utilizar muitos autores quefalam sobre moda, toda a literatura possível sobre o assunto não é uma opção tão boaquanto escolher o conceito de um só autor como idéia chave e desenvolvê-la nacontextualização de seu objeto de estudo de forma mais efetiva.

Em pesquisa, podemos adotar uma idéia muito recorrente em moda: menos émais. Abraçar o mundo com as pernas, na formulação ou desenvolvimento de um projeto,pode levar à confusão e perda da objetividade.

Tendo-se sempre em mente o objetivo de pesquisa bem definido, as opções depesquisa podem e devem ser mudadas caso apresentem-se inadequadas à investigaçãodo problema de pesquisa. Mudar não significa que você não tem domínio sobre o processo,mas que está buscando a coerência interna para alcançar o objetivo pretendido.

Contudo, a instabilidade constante na condução do processo, nas escolhas dasoperações metodológicas, como quando num dia você decide por uma forma de investigaçãoe logo no outro, escolhe outra, como se não se sentisse seguro com as decisões depesquisa tomadas, pode significar que alguma coisa está errada, geralmente, quandoisso acontece, é porque a construção do objeto de pesquisa apresenta falhas graves.

A prática metodológica deve sempre ter uma caráter reflexivo, uma “crítica ao realtransparente”; assim, a conclusão de uma monografia não consiste apenas no término deum trabalho, que nos tornamos especialistas, mestres ou doutores, significa que produzimosconhecimento e que esse conhecimento nos “re-produziu”, nos produziu de forma renovadainternamente e, no fim desse caminho de pesquisa, somos sempre mais do que éramosquando começamos.

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BRANDINI, Valéria. Vestindo a Rua: Moda, Cultura & Metrópole. Tese dedoutorado defendida na ECA – USP. Mimeo. São Paulo, 2003.

ECO, Humberto. Como se faz uma tese. São Paulo. Perspectiva. 1977

_____________ Obra Aberta. Forma e indeterminação nas poéticascontemporâneas. São Paulo, Perspectiva. 1997.

GEERTZ, Clifford A interpretação das culturas, Rio de Janeiro, Zahar, 1978.

LOPES, Maria Immacolata V. de. Pesquisa em Comunicação - Formulaçãode um modelo metodológico. São Paulo, Edições Loyola, 1990.

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