aula 7 estética transcedental

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AULA TRANSCRITA – PROF. FRANKLIN – 25/10/2007 PRIMEIRA PARTE Hoje, o nosso tema é a Estética Transcendental. Nós já falamos bastante desta parte da Crítica da Razão pura, então, será relativamente fácil passar por ela. A Estética Transcendental representa a primeira parte (ou a primeira síntese a priori) dentro daquelas que, em Kant, vão organizar o conhecimento. Nós já falamos bastante aqui da síntese a priori, que organiza o conhecimento e define a objetividade e já falamos que, também, para Kant, há duas etapas desta síntese. A primeira etapa é uma síntese que é designada como sendo a intuição sensível, que é a apreensão do dado na sensibilidade (pela percepção) e, depois, a síntese de caráter intelectual, que é realizada pelo entendimento, que será o objeto de uma análise, propriamente lógica, na analítica transcendental. Então, neste caso aqui que nós vamos abordar hoje é a primeira etapa desta síntese, quer dizer, a primeira etapa de constituição da objetividade, que é, portanto, no nível da sensibilidade. A diferença entre as duas etapas, que é importante para Kant para mostrar a maneira pela qual ele vai repor esta questão muito antiga, que acompanha toda história da filosofia, que é a relação entre o conhecimento sensível e o conhecimento intelectual.

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AULA TRANSCRITA – PROF.

FRANKLIN – 25/10/2007

PRIMEIRA PARTE

Hoje, o nosso tema é a Estética Transcendental.

Nós já falamos bastante desta parte da Crítica da Razão pura, então, será relativamente fácil passar por ela.

A Estética Transcendental representa a primeira parte (ou a primeira síntese a priori) dentro daquelas que, em Kant, vão organizar o conhecimento.

Nós já falamos bastante aqui da síntese a priori, que organiza o conhecimento e define a objetividade e já falamos que, também, para Kant, há duas etapas desta síntese.

A primeira etapa é uma síntese que é designada como sendo a intuição sensível, que é a apreensão do dado na sensibilidade (pela percepção) e, depois, a síntese de caráter intelectual, que é realizada pelo entendimento, que será o objeto de uma análise, propriamente lógica, na analítica transcendental.

Então, neste caso aqui que nós vamos abordar hoje é a primeira etapa desta síntese, quer dizer, a primeira etapa de constituição da objetividade, que é, portanto, no nível da sensibilidade.

A diferença entre as duas etapas, que é importante para Kant para mostrar a maneira pela qual ele vai repor esta questão muito antiga, que acompanha toda história da filosofia, que é a relação entre o conhecimento sensível e o conhecimento intelectual.

O esquema, que Kant aplica neste caso, é o seguinte: pela sensibilidade (que, no caso, sempre quer dizer em termos de conhecimento), diz Kant: os objetos nos são dados; portanto, aqui, estaria a origem do conhecimento e na (como nós já vimos na aula passada) cronologia de Kant (na seqüência lógica) significa, então, a apreensão sensível, aqui em termos da sensibilidade.

E a próxima etapa, que nós vamos ver posteriormente, é a síntese realizada pelo entendimento; que é, justamente, na crítica que estamos examinando, está sendo visto como conhecimento de razão pura; neste caso, então, os objetos são pensados.

Esta diferença é importante, porque, já com ela Kant pretende resolver ou, talvez, mais do que isso, eliminar o problema tradicional da relação entre conhecimento sensível e conhecimento intelectual.

Veja que há a necessidade que os objetos sejam dados para que eles sejam pensados.

Então, com isso, Kant pretende superar aquela tendência, que se manifesta na história da filosofia, a escolher entre o conhecimento na ordem da sensibilidade e o conhecimento na ordem intelectual como sendo duas vertentes que o conhecimento deveria tomar no seu todo, caracterizando-se, ou pelo seu teor sensível (empírico, como se diz na filosofia moderna) ou pelo seu caráter intelectual, que seria, então, o caso do entendimento.

A questão que se põe para Kant, do ponto de vista histórico, é exatamente esta; nós temos aí uma espécie de alternativa: ou bem o conhecimento deve ser definido como conhecimento empírico, para que ele seja válido, então, a sensibilidade tem este caráter primordial e, talvez até, exclusivo, porque todo o processamento intelectual quando dependente da sensibilidade e se dá apenas nos limites em que a sensibilidade oferece o dado e, portanto, tudo a posteriori (nós já vimos o alcance e o significado deste tipo de conhecimento, a posteriori) ou, então, de um ponto de vista idealista, representativo, conhecimento se dá no âmbito do pensamento, no âmbito das idéias, no âmbito da representação intelectual e aí ele, por assim dizer, começa e termina; porque ainda que nós possamos vir a alcançar algo posto na exterioridade, através da representação das idéias, isto será feito através de uma completa dependência do dado sensível a ser encontrado por último em relação a análise das idéias.

Vocês devem se lembrar que no caso de Descartes assim procede: o método é de análise da representação; por exemplo, quando eu quero provar o mundo exterior, eu o faço através de uma análise da representação (não começo pelo mundo exterior, começo da representação que tenho dele, eu analiso tento chegar, através desta análise, a necessidade de pôr no objeto de percepção para que ele possa se apresentar como a realidade formal da realidade objetiva que está na representação, que foi por onde eu sempre comecei).

Na verdade, eu esgoto o conhecimento na representação, porque, se a análise mostrar que é necessário que aquele objeto que está ali representado exista, de fato, na exterioridade, então, a prova de sua existência já foi dada; quer dizer, eu não comecei pela percepção, mas pela análise intelectual da representação.

É por aí que eu consigo provar que é necessário que a realidade formal, daquela representação, exista.

É como se o objeto externo corroborasse, apenas, na análise da representação.

Algo simétrico ao que acontece no caso do conhecimento empírico, na sensibilidade: nunca vai aparecer na minha mente, em termos de idéia, algum que não corresponda aquilo que aparece, primeiramente, como intuição sensível.

Então, significa que eu tenho que escolher entre os dois fundamentos do conhecimento.

Eu fico na condição de ter que escolher entre um único fundamento do conhecimento e este fundamento será o sensível ou o intelectual.

Kant quer superar esta dicotomia, quer superar esta oposição.

Nós já vimos como ele faz: através de um retorno aquilo que na história da filosofia já apareceu, em outros termos (já apareceu com Aristóteles, com o tomismo, etc.

), com o duplo fundamento do conhecimento, conhecimento como fundamento sensível e tem, também, o fundamento intelectual.

Este é o sentido da relação que Kant faz entre cronologia e lógica, que nós já vimos.

Do ponto de vista cronológico tudo começa pela sensibilidade, porque é, justamente, quando algo é dado, o processo de conhecimento se inicia (cronologicamente).

Mas, do ponto de vista lógico, quando alguma coisa me é dada, eu tenho que supor um certo conhecimento de razão pura, que são as condições de possibilidade do conhecimento.

Neste sentido, então, do ponto de vista lógico, há uma anterioridade da razão, do conhecimento da razão pura em relação aquilo que é dado, e há que se combinar, então, estas duas origens: um origem cronológica e uma origem lógica.

A combinação se faz maneira, mostrando que há a necessidade de um dado, este dado aparece antes de ser pensado; eu não posso pensá-lo, nem devo pensá-lo, porque isto faria com que o conhecimento não começasse, propriamente, com a sensibilidade ou com o dado sensível, mas com a idéia, então, o dado é, realmente, algo que aparece quer da sensação e da percepção, é necessário que ele apareça aí para que o conhecimento possa se desenvolver.

No entanto, se este dado, depois que processado pela sensibilidade não for devidamente sintetizado pelo entendimento, então, o conhecimento, também, não se realiza.

E para que este dado, apreendido na sensibilidade, possa ser sintetizado pelo entendimento é preciso que as condições de síntese do entendimento pré-existam ao aparecimento do dado.

É uma combinatória um tanto quanto difícil, mas o problema que Kant tem que superar também é um problema difícil: ele quer superar, justamente, a questão de ter que escolher entre estas duas origens.

De maneira que uma combinatória correta entre a sensibilidade e o entendimento, entre o dado de percepção e a lógica do conhecimento, é que será a chave da solução do problema.

No entanto, há alguma coisa que complica um tanto este esquema.

Porque quando digo que a sensibilidade é externa enquanto os objetos são dados, evidentemente que Kant quer dizer que esta aqui é uma origem do conhecimento.

O que haveria antes do dado? Antes que algo apareça minha percepção ou a minha sensação.

Se há algo antes disso, isto eu não posso saber, mas do ponto de vista do processo de conhecimento, o que tenho ali é o dado primeiro, é a origem mesma do conhecimento: é a partir da presença do dado que o processo começa a se desenvolver.

No entanto, essa presença absolutamente primária do dado na sensibilidade, ela não se faz sem alguma coisa que, aparentemente, a contrarie, e que é a pré-existência de condições na própria sensibilidade para que este dado apareça na forma da síntese.

Porque (o que Kant está dizendo) é que nós temos duas sínteses: esta é uma síntese da sensibilidade e outra é uma síntese do entendimento.

Portanto, quando digo que o dado é aquilo que, primeiramente, aparece na sensibilidade, o que eu estou querendo, na verdade, dizer é que o dado é aquilo que é primeiramente sintetizado, ou seja, quando o dado aparece ele já vem em forma de síntese; isto é que complica um pouco, a consideração, como disse, de que há algo de absolutamente primeiro, de absolutamente primitivo, pelo qual o conhecimento tem o seu início.

Não podemos dizer que isso, esse dado que aparece na esfera da sensação e da percepção, seja absolutamente primeiro, realmente primário, por quê? Porque ele só aparece graças a condições que o antecedem na própria sensibilidade e que produzem esta síntese que nós de dominamos que intuição sensível, ou seja, talvez pudéssemos dizer que este dado seria absolutamente primário se a sensibilidade fosse inteiramente passiva e apenas recebesse os dados que se apresentam do exterior, através da percepção e da sensação.

Neste caso, então, não havendo o qualquer tipo de trabalho realizado pelo sujeito, no nível da sensibilidade, ele seria, pura e simplesmente, receptor do dado e aí não haveria nenhuma dúvida quanto ao caráter primário, primitivo, deste dado.

Não podemos, no entanto, considerar assim porque a sensibilidade detém a suas próprias condições de possibilidade; então, o sujeito na esfera do sensível desempenha uma função: há uma atividade, esta atividade é o trabalho de síntese, que será resultado, no caso da intuição sensível.

A intuição sensível não é, portanto, a pura e simples a recepção do dado, porque ela já é uma síntese.

E o dado, a que vai reaparecer desta forma é, cronologicamente, a primeira coisa que me aparece, uma vez que ele já é produto de uma síntese, produto de uma atividade da sensibilidade; assim como, depois, nós teremos o conhecimento como o produto da síntese do entendimento.

No caso do entendimento no nível intelectual, é fácil compreender que ele,

realmente, só pode ser produto de síntese, porque nós temos todo um aparato lógico a qual este dado vai ser submetido depois de a aprendido na percepção.

O problema é que já na percepção, havendo síntese, eu tenho esta atividade, esta mediação; então, não seria correto dizer que eu tenho uma relação imediata com o dado sensível, mesmo que neste caso, apesar de ser a primeira coisa que parece, no processo de conhecimento, há aí uma mediação, uma vez que este dado aparece graças a uma certa a atividade do conhecimento que produz a síntese sensível ou a intuição sensível.

Isto acontece devido a dois pontos, que nós já vimos, mas que eu vou reafirmar agora para que vocês possam relacionar com a operação da sensibilidade na Estética Transcendental.

Em primeiro lugar, isto que é uma constante na teoria do conhecimento de Kant: o sujeito é ativo, porque o sujeito é produtor de síntese.

E o sujeito, como nós já vimos, não é apenas ativo no plano da lógica ou no plano do conhecimento intelectual, ele é ativo também no plano da sensibilidade.

Então, aqui neste caso, quais são as condições de possibilidade de que haja síntese sensível? Nós já vimos: de fato, significa que, quando o dado aparece, e mesmo, no próprio momento em que ele aparece (quer dizer, no seu aparecimento; isto é importante, nós vamos frisar, depois, nós vamos ver por quê) certas condições que são próprias do sujeito na esfera da sua sensibilidade e que são o espaço e o tempo, operam uma síntese que faz com que se dê isto que nós chamamos o "aparecimento" do dado ao sujeito.

Este aparecimento, portanto, é sempre síntese.

Não existe nenhum tipo de representação para Kant que não seja uma representação sintética.

Isto é um primeiro motivo; atividade do sujeito presente dentro da esfera da sensibilidade como produção de síntese.

Em segundo lugar, o fato mesmo de que a percepção, em termos de intuição sensível, deste dado que aparece ao sujeito se faz por meio do espaço e do tempo (por meio, por via, dessas condições a priori da intuição sensível é que faz com que nós temos aqui um fenômeno: ou seja, o aparecimento propriamente dito da representação, que nós entendemos como sendo o dado).

O dado é aquilo que antes de mais nada se oferece ao sujeito .

A noção de fenômeno, nós já vimos; como o aparecimento do dado e a representação em qualquer nível depende de condições de possibilidade que são dadas a priori e são do sujeito, e esse dado, isso que vai aparecer ao sujeito, é sempre relativa ao sujeito e, portanto, neste caso, o dado é, em termos de síntese e espacial e temporal é relativo a este sujeito sensível que traz em si essas condições a priori de apreensão sensível (espaço e tempo).

Nós já vimos que esta relatividade, esta condição peculiar de aparecimento do dado é o que Kant chama de fenômeno.

O fenômeno é o oposto da coisa em-si, um termo que designa negativamente aquilo que nós não podemos apreender.

O que seria a coisa em-si? Não é sensato defini-la, em termos de Kant, que trata, justamente, daquilo que não podemos alcançar; mas o que Kant quer designar como coisa em-si é aquilo que o conhecimento tradicional, principalmente do ponto de vista do idealismo, procura apreender como sendo uma correspondência direta, imediata e total, entre o sujeito e o objeto.

Ora, nós já vimos que Kant considera o grande passo dado pela filosofia moderna, e que nós entendemos como sendo a representação, é exatamente o fato de que o sujeito, ou a razão, encontra no objeto aquilo que ela lá já teria colocado (o objeto, portanto, é constituído formalmente pela a atividade subjetiva, entendida em sua modalidade transcendental, que nós já vimos também - não é atividade subjetiva psicológica, nem metafísica: a atividade "transcendental").

O sujeito dá forma para conteúdos que lhe aparecem, neste caso aqui, da sensibilidade.

Este trabalho do sujeito, esta interferência, sem a qual nada apareceria que e não haveria qualquer tipo de objeto é que faz com que o conhecimento seja um conhecimento fenomênico; quer dizer, o conhecimento da realidade tal qual ela aparece ao sujeito.

O que Kant quer mostrar é que seria contraditório entender que o sujeito detém em-si as condições subjetivas de conhecimento e, ao mesmo tempo, conhece o objeto de forma completamente independente dessas condições.

Então, na verdade, o que ele quer dizer é o seguinte: se há sujeito e objeto, e o conhecimento se constitui a partir desta relação, eu não posso entender que o objeto seja algo completamente independente do sujeito, porque a relação de conhecimento já tem que ser aí levada em conta.

Como é que ela é levada em conta? A partir deste "trabalho" da subjetividade transcendental que dá forma ao conhecimento, que faz com que o

conhecimento, por exemplo, na esfera da sensibilidade, já chegue sintetizado em termos de espaciais e em termos temporais ao sujeito; o sujeito já o percebe desta maneira.

Então, a gente pode perguntar: isto é uma perspectiva redutora do conhecimento? Talvez, se nós imaginávamos que, do ponto de vista tradicional e metafísico; é claro que o conhecimento da coisa em-si, tal como ela é, sem qualquer trabalho do sujeito, sem qualquer interferência do sujeito, na formação desta representação (quer dizer, o conhecimento da realidade em-si mesma, completamente independente do sujeito) seria, talvez, um conhecimento de nível superior (que é aquele que, justamente, o metafísico aspira).

Por outro lado, Kant observa também que este tipo de hierarquia não faz sentido, porque se o conhecimento é definido como relação entre o sujeito e o objeto, esta relação já está como que formalmente pré-estabelecida em todo e qualquer conhecimento, na medida em que o conhecimento envolva, e envolve sempre, o sujeito e o objeto.

E, portanto, ele tem que ser resolvido na "relação" entre os dois e não de um lado e de outro como se fossem independentes.

Então, o tipo de solução que Kant percebe prefere muito simples, mas, na verdade, ela significa a superação dessa dicotomia entre sensibilidade e entendimento.

Como se constitui o objeto? O objeto deve ser completamente considerado independente do sujeito, numa perspectiva empírica e realista; e neste caso, então, seria apenas e tão-somente um receptor, ele apenas "refletiria" esse objeto completamente independente? Ou então, ao contrário, o sujeito é completamente constituinte do objeto que aparece em primeiro na sua representação e depois será corroborado,eventualmente, quando isto for possível, pela exterioridade do dado de percepção.

Ora, enquanto nós permanecermos neste debate, nós teremos sempre, como nós já vimos, uma visão unilateral do conhecimento.

Então, parece simples, mas na verdade, a chave do problema está em considerar a relação (não considero nem o sujeito em-si mesmo, nem o objeto em-si mesmo, considero a relação entre os dois).

É nesta relação se constitui o espaço, por assim dizer, em que vai aparecer

fenômeno; porque, justamente o fenômeno é aquilo que só faz sentido nesta relação; por exemplo: se não houvesse um sujeito a quem as coisas aparecessem, não haveria sentido falar-se em aparecimento, portanto, não haveria sentido falar-se em fenômeno.

Por outro lado, se houvesse um sujeito que constituísse o mundo a partir de si mesmo inteiramente também não haveria sentido falar-se em fenômeno, porque também, desta maneira, nada lhe apareceria, tudo sairia dele, tudo emanaria dele.

Então, no limite, o fenômeno aparece para solucionar este problema e para constituir o objeto na relação.

Este objeto, portanto, detém este caráter de "relativo" ao sujeito transcendental.

Este caráter relativo que nós chamamos de fenômeno.

Então, as duas coisas estão ligadas por quê? O fenômeno ou ao aparecimento do objeto relativo só acontece quando existe uma a atividade do sujeito; porque esta atividade do sujeito, que dá forma ao conhecimento, é que o faz com que o objeto seja relativo a ele (relativo ao sujeito).

Por isto que as duas coisas aqui se combinam: a atividade transcendental (atividade que se manifesta no trabalho das condições a priori de possibilidade) e o resultado disso, ou o primeiro resultado, no caso aqui (nós estamos na primeira fase do conhecimento, que é a fase sensível) o resultado disso que é o fenômeno.

Isto é importante, que tem que ser entendido preliminarmente, porque, no caso da sensibilidade, já tenho uma relação, já tenho uma atividade e já tenho um fenômeno.

A gente é sempre levado a dar preferência às prerrogativas do entendimento como organizador do conhecimento; mas no caso de Kant esta organização já começa desde a sensibilidade e, portanto, não é uma apreensão imediata e absolutamente direta, mas é uma apreensão por via da atividade do sujeito sensível e da aplicação dessas condições a priori de possibilidade; portanto, existe a priori na sensibilidade: o conhecimento se define pela presença do a priori em todas as suas etapas.

Então, aqui no caso da sensibilidade, apesar de termos que usar estas palavras: "é a primeira coisa", "é o dado", "é aquilo que aprendemos a antes de mais nada", ainda assim, nós já temos as condições de possibilidade, o trabalho do a priori, configurando objeto da percepção ou o objeto dado na intuição sensível.

Tudo isso Kant pretende resumir nesta palavra: "dados", mas é preciso esta explicação para mostrar que não é simples; ele está falando de "dados" no sentido que o empiristas falaria, ele está falando de "dados" que já tem esta significação: de passividade, do trabalho e desta presença do a priori.

Portanto, o que vai se fazer na Estética Transcendental é, de maneira geral, resolver a questão do que se chama de representação sensível, ou a representação do objeto no nível da sensibilidade.

A representação é sempre constituída de matéria e forma e, para Kant, a própria noção de representação já inclui a aí esta atividade do sujeito ontem, ou seja, quando eu falo em representação, de alguma maneira, eu já estou falando de relação, porque a representação, que significa a re-apresentação do mundo ao sujeito já

estabelece aí um certo tipo de relação na qual eu tenho que redefinir o que seja conhecimento.

(inaudível).

.

.

ele não tem mais aquela hegemonia do objeto, nem a hegemonia completa do sujeito.

Quando eu falo de representação neste sentido de re-apresentação, para Kant é importante, porque a atividade do sujeito significa, justamente, a reconfigurar esta realidade que, em princípio, seria a coisa em-si em termos representativos, quer dizer, para ele, justamente, no âmbito da relação.

Só que, esta coisa em-si, nós estamos aqui o usando o termo reconfigurar por hipótese, por maneira de dizer, porque nunca temos acesso a ela.

Mas é importante que saibamos que nunca temos acesso a ela; quer dizer, esse conhecimento, digamos assim, negativo da coisa em-si, da maneira de falar da coisa em-si, necessariamente de forma indireta ou, se vocês quiserem, alusiva, porque estamos falando daquilo que nunca se apresentará, já que se apresenta como representação, quer dizer, como reapresentação, como fenômeno constituído, na relação sujeito-objeto: é importante que nós não tenhamos isso no Horizonte para que não caiamos na contradição de (a filosofia tradicional por vezes incorre, como entende Kant) achar que a representação pode me fornecer algo da realidade em-si mesma, o que é contraditório: se é uma representação, não pode ser a realidade em-si mesma, tal e qual; não seria uma representação, seria uma apresentação, pura e simples.

Se eu falo que o conhecimento é representativo, e isto significa que houve ali algum trabalho de reconfiguração daquilo que seria realmente o dado imediato da coisa em-si, a qual nós não temos acesso de forma alguma, mas temos que manter esta noção no horizonte do conhecimento para que a própria noção de fenômeno faça sentido e que nós não possamos incorrer aí numa perspectiva idealista de achar que tudo está na representação; a representação contém tudo que absorve e o real nela mesma: o que é idealismo.

Então, aqui também, a questão de Kant e é muito simples; só que quando nós nos reportamos a tradição, nós percebemos que como a tradição vinham lutando com esta questão.

.

.

uma maneira assim muito do senso-comum.

Na verdade, o que está em causa aqui é o seguinte: se algo parece, ao aparece; o que quer dizer isso? Se alguma coisa aparece para o sujeito, aparece "a partir" de alguma coisa, o aparecimento se dá "a partir" de alguma coisa; é por isso que a filosofia tradicional sempre considerou que eu tenho que ir sempre além do que aparece e chegar ao em-si; porque se algo parece é porque atrás dele tem aquilo que situa antes do "aparecer".

A filosofia tradicional estava correto em supor isto, só não estava correta em achar que eu posso ter as duas coisas: que eu posso ter a representação, quer dizer, aquilo que aparece e, depois, com um pouco mais de esforço, chegar a fonte desta carência que seria a coisa em-si mesma.

Então, a solução de Kant consiste no seguinte: "vamos continuar considerando que aquilo que nos aparece, aparece "a partir de" alguma coisa designada, de modo geral, como "coisa em si".

Só que não adianta qualquer esforço, não adianta aumentar o grau de conhecimento, não adianta passar da física à metafísica, para que eu vá então do "aparecimento" à "coisa em si"; o único conhecimento possível é o conhecimento disto que "aparece" que eu mantenho, no entanto, a noção de "coisa em si" para que a própria noção de "aparecimento" e, portanto, de fenômeno faça sentido.

Senão, eu teria que falar de um fenômeno sem poder falar, de forma alguma, daquilo de que este fenômeno é, ou seja, ele faz um "aparecimento" que não implicaria em nada que aparecesse.

O que Kant quer dizer é que a realidade aparece, e deste "aparecimento" constitui a nossa experiência, experiência humana, do conhecimento; e, portanto, ir além deste "aparecimento" já significa extrapolar os limites desta experiência possível.

Isto é tão forte que já acontece até naquele conhecimento que, para nós, é o primeiro, que é a intuição sensível; quando eu já tenho, então, o fenômeno, quer dizer, o trabalho de síntese pelo qual a realidade aparece na esfera do sensível.

Então, mantendo esta relação entre forma e conteúdo, o que vai acontecer na representação sensível é a síntese entre as condições a priori de possibilidade, que são o espaço e tempo, e um certo conteúdo, que aparece ao sujeito já configurado desta maneira (sempre desta maneira).

Não há, portanto, nenhuma etapa em termos de apreensão do dado (por isso Kant fala em "dado") que possa ser deslocada para momento anterior a este aparecimento.

Por quê? Porque tudo que eu possa perceber será minimamente no tempo.

Kant admite que certas coisas não é preciso ser percebidas no espaço, o

sujeito pode ter certas afecções que ele não localiza especialmente mas minimamente isto acontecerá no momento do tempo: isto é condição; se não houver aparecimento

num momento determinado no tempo, significa que não há nenhum tipo de relação com qualquer dado.

É por isto que tem esta condição para este aparecimento.

A questão, portanto, é entender a necessidade de que estas condições sejam anteriores e que elas pertençam ao sujeito.

O que não é fácil, para Kant.

Porque ele está diante de uma tradição em que o espaço e o tempo sempre foram considerados de forma objetiva; e até de forma mais objetiva do que as próprias coisas, que estão no espaço no tempo, na medida em que o senso comum operada desta forma no que faz uma hierarquia de continente e de conteúdo, ou seja, dizer que o espaço precede as coisas significa dizer que tudo está no tempo e tudo está no espaço.

Quando nós dizemos isso, habitualmente, nós queremos dizer que esta anterioridade é uma anterioridade adjetiva; ou seja, é como se o tempo, no qual estão as coisas temporais, fosse mais real do que as coisas temporais.

Isto nos parece óbvio por que? Porque o temporal depende do tempo (porque questões históricas, temporais, etc.

no espaço e no tempo, depende do tempo, se dá no tempo).

Então,.

.

.

realidade anterior objetivamente.

Mesma coisa, o espaço.

Se tudo que nós percebemos são coisas espaciais, seus objetos têm sempre espacialidade, então, é porque o espaço os precedem e, neste sentido, então, seria mais real, mais objetivo, do que as próprias coisas espaciais.

Kant vai inverter com muita habilidade esta relação, colocando, então, o seguinte: de fato, se não houvesse esta anterioridade no espaço e no tempo, não poderíamos perceber as coisas como sendo espaciais e temporais, porque, realmente, é verdade que tudo que nós percebemos nós percebemos no espaço e no tempo.

A questão é que precisaríamos deixar de entender esta anterioridade do espaço do tempo como sendo objetiva, análoga as coisas, aos objetos, e tendo, até, mais realidade do que eles mesmos; e entender, tão-somente, como condições, ou seja, como formas.

Então, o que Kant está propondo não é pouca coisa.

Está diante de uma tradição que, de certa maneira, considera tempo e o espaço como realidade primeira na qual, e a partir da qual, eu vou falar de "coisas espaciais", "coisas temporais".

O que ele está dizendo é o seguinte: este caráter primeiro, esta anterioridade, é formal, ou seja, o espaço e o tempo são, sim, anteriores, mas não como coisas, são anteriores como formas.

E eles são anteriores a todas as coisas porque eles são as formas da percepção das coisas.

Esta inversão não é fácil de estabelecer, os argumentos de Kant, inclusive na Estética Transcendental, que é uma parte bastante curta da Crítica, nunca foram considerados suficientes para, realmente, efetuar esta demonstração.

Mas o núcleo da questão é exatamente este.

Alguém, pergunta Kant, percebe o espaço e o tempo em-si mesmos ou você percebe sempre algo que é espacial, sempre algo que é temporal.

E, claro, que esta segunda hipótese: sempre percebo algo que temporal e algo que é espacial.

Então, a partir desta percepção, não vale colocar no espaço e o tempo em segundo plano, como eles fossem apenas uma qualificação das coisas: "coisa espaciais", "coisa temporal".

.

.

as coisas em primeiro lugar, espaço e tempo vêm depois como qualificando essas coisas ou .

.

.

cada uma delas.

Não.

A anterioridade do espaço e do tempo é reconhecida, e sempre foi reconhecida, que eles são tidos como receptáculos.

E até Newton, a teoria, vai nesta direção: o espaço e o tempo seriam receptáculos, por isso eu posso dizer "tudo está no espaço", "tudo está no tempo".

Kant propõe , então, inverter esta relação ao dizer que quando eu afirmo que tudo está no espaço, que tudo está no tempo, o significado deste enunciado não é o do receptáculo (uma coisa dentro de outra coisa), mas é uma forma que condiciona o aparecimento das coisas.

Então, ao invés de receptáculo, eu tenho aí a forma condicionante; então, quando digo que tudo aparece no espaço e no tempo, o que eu quero dizer, na verdade, é que tudo aparece "sob forma espacial", "sob a forma temporal".

Com isso, então, eu passo a considerar o espaço e o tempo como forma, ao considerá-los como forma que não como realidade que eu posso, então, considerá-los como condições transcendentais do aparecimento do fenômeno, ou seja, como condições, a partir das quais, o sujeito perceberá todos fenômenos , dentro destas categorias espaço do tempo.

E, justamente por isto, então, Kant chama de "formas transcendentais".

A bem da verdade, o antecessor de Kant, Leibniz, que ainda se move na ambiência cartesiana, ele manteve uma polêmica com os newtonianos que acerca do estatuto do espaço do tempo, no seguinte sentido: os newtonianos afirmavam este estatuto de "receptáculo", do ponto de vista de uma certa ligação (como vocês sabem: existe em Newton, entre as últimas noções, então, ele vai derivar a metafísica e a teologia, porque Newton também era teólogo), eles chegaram a chamar o espaço e o tempo como "atributo de Deus"; Deus seria uma substância, seus atributos seriam o espaço e o tempo, e aí então as coisas criadas, foram criadas no espaço no tempo, porque o espaço e o tempo são, imediatamente, atributos de Deus; portanto, têm realidade -- realidade superior, até, das coisas que estão no espaço e no tempo.

Leibniz mantinha, contra esta idéia, que o espaço e o tempo são relações, ou seja, eu tenho coisas e estas coisas, dentre estas coisas, eu estabeleço relações espaciais e relações temporais e, portanto, o estatuto do espaço e do tempo seria um estatuto relacional, a ponto de nós podermos pretender, por exemplo, que se o universo fosse completamente esvaziado de coisas ou de objetos, o espaço e o tempo não fariam sentido, exatamente, porque não haveriam coisas para serem relacionadas em termos de espaço e tempo.

Vejam que esta concepção de Leibniz antecede a de Kant no sentido de negar a realidade objetiva, quer dizer, aquela analogia que o tempo e espaço têm como coisa e que vem de uma pressuposição metafísica.

Aquilo que é condição da existência das coisas têm que ser mais real do que as coisas, porque, justamente, tem esta função de sustentáculo, de condição.

Leibniz, então, procurava dizer que, raciocinando do ponto de vista lógico, esta necessidade não existe; porque eu não preciso transformar a relação (e nem posso transformar a relação) em coisas, justamente separando coisas de "relação entre coisas"

é que eu vou compreender o gênero de cada um, o estatuto de cada um: “coisas”, mantém a sua realidade e as "relações entre as coisas" se dão de forma completamente distintas da realidade das coisas; as relações não precisam ser reais com as coisas, elas têm o seu estatuto importante, relevante, necessário, mas elas não precisam ser dotadas da mesma realidade que as coisas são.

Estas relações, no entanto, para Leibniz, elas eram objetivas, não dependiam do sujeito.

A diferença é que, no caso de Kant, essas relações, que também existem

entre coisas, espaciais e temporais, são todas vinculadas a duas condições de possibilidade, que estão inscritas na subjetividade transcendental de que são essas de espaço e tempo.

Com isso, então, ele continua no caminho de Leibniz, achando que, realmente, uma relação não é uma realidade, mas ele não segue Leibniz na concepção de que a relação é objetiva; Leibniz dizia: "não é real, mas é tão objetiva como as coisas reais"; kant diz: "não, não é objetiva nem é real".

Por quê? Porque é subjetiva; quando a gente fala que subjetivo em Kant: sempre entendendo na acepção transcendental -- isto é importante.

Kant mesmo sempre usa a palavra subjetivo, em seus textos, nem sempre ele qualifica de transcendental.

Mas é sempre transcendental, quer dizer, nunca é psicológico, nem metafísico; é transcendental no sentido de condição de possibilidade imanente de haver objetos situados na relação de conhecimento.

Então, é isto que se passa com o espaço-tempo: relações subjetivas, o seja, que só existem no sujeito, no sujeito transcendental, e a partir das quais ele percebe, então, os objetos ou ele é afetado por estes dados que já estão sintetizados na forma de espaço e de tempo.

Kant usa esta palavra "afetado" ("afecção"), que é uma palavra que já fez correr toneladas de tinta; o número de teses que existe sobre esta palavra "afecção" é incalculável (se vocês pegarem em catálogos e vocês vão ver que uma coisa.

.

.

).

Uma única palavrinha, "afecção", causou tudo isso, por quê? Porque o sentido habitual de afecção, quer dizer, aquilo que afeta o sujeito, geralmente supõe a facilidade do sujeito.

Kant usa a palavra afecção porque ela é a tradicional, é um termo tradicional, mas quando ele fala que o sujeito está sendo afetado, evidentemente ele quer dizer que o sujeito está produzindo uma síntese que o afeta; quer dizer, o dado que chega até ele já é uma síntese produzida pelo trabalho das condições da representação.

Então, nunca o espaço e o tempo estarão na sensação e na percepção, nunca

o espaço e o tempo virão juntos com a sensação e com a percepção, seja de forma explícita, seja de forma explícita.

Kant, então, deixa de lado aquela questão: de que "eu nunca, realmente, percebo o espaço e o tempo em-si mesmo"; eu posso pensá-lo sempre imanentes à percepção das coisas tais como elas aparecem na intuição sensível.

Isto não é, na verdade, um problema, porque o espaço e tempo nunca estão na sensação (qualquer maneira que eu possa imaginar que eles lá, eventualmente, pudessem estar, porque eles estão sempre no sujeito, o lugar deles é o sujeito, e, estando no sujeito,é que eles podem desenvolver este trabalho de sintetizar representações e de produzir esta atividade é a atividade relativa constituição do objeto.

E por isto, eles são formas transcendentais ou condições transcendentais).

Portanto, quando eu digo que há intuição sensível, esta intuição (que também

é uma palavra complicada, porque sempre vincula um conhecimento imediato, o mais imediato dos conhecimentos, o mais direto dos conhecimentos, sempre é aquele que nós chamamos de intuição) no caso de Kant esta significação é precária, de algum modo.

O que está aqui, este dado, intuído sensivelmente é, para nós, o mais imediato dos conhecimentos, mas, como eu disse, nunca podemos esquecer, ele já implica atividade subjetiva, quer dizer, ele já implica mediação.

Então, nós podemos dizer que o que nós chamamos aqui de "dado", no sentido mais imediato, o possível para nosso conhecimento, é, na verdade, aquilo que é menos mediado.

Menos mediado significa que tem pelo menos duas mediações.

Ou pelo menos, uma; se adotarmos a concepção de Kant que há percepções que não são espaciais, mas todas são temporais; então, pelo menos uma mediação há de haver, portanto, menos mediado de todos os conhecimentos, que chamo de dado -- mas é mediado, não é absolutamente imediato, por quê? Porque a intuição sensível se dá a partir de condições, ela não é absolutamente direta, ela ocorre a partir de condições.

O que é que fazem estas condições? Estas condições ordenam o aparecimento do dado e a ordem aqui espacial e temporal, depois, na outra síntese, teremos outros aspectos desse ordenamento; mas aqui o ordenamento em termos espaciais e temporais, com características do ordenamento sensível.

E por isto é que a Estética Transcendental é o estudo destas condições transcendentais de representação sensível que atuam como princípios da sensibilidade, princípios entendidos, também, nesta acepção de condição de possibilidade, quer dizer, nesta acepção transcendental.

E é por isto que a estética será o estudo do espaço do tempo e a função que eles desempenham na concepção da representação.

Estética, quer dizer, a sensibilidade (o termo estética é o usado por Kant, ainda, no sentido grego: sensibilidade).

Qual é o tema da estética? As condições sensíveis da representação, que são o espaço e o tempo; portanto, o que se vai ver na estética é o que é o espaço e o que é que o tempo; está dividida, exatamente, nestas partes: o item para o espaço, um ítem para o tempo, em que Kant vai desenvolver essa teoria de que tanto tempo como espaço são condições de possibilidade, não têm existência objetiva, não têm realidade, mas pertencem ao aparato transcendental.

Portanto, condições formais no aparecimento do objeto ou condições formais

do fenômeno.

O fenômeno tem conteúdo e forma, no caso da estética são formas sensíveis são o espaço tempo que tem que ser estudadas enquanto condicionantes do aparecimento do dado e, depois então, submetido a outras etapas de conhecimento a partir das quais, então, eu vou produzir os juízos, que é a finalidade de tudo isso: aquele juízo sintético a priori é lá que nós vimos na introdução da Crítica.

Então, vejo que para chegar a este resultado Kant é obrigado a mudar a natureza da questão e construí-la de outra maneira, a questão do conhecimento sensível.

Ele tem que reconstruir a questão do conhecimento sensível e alterar as perguntas tradicionais sobre a condição de espaço e a condição de tempo.

Alterar no seguinte sentido: na tradição, quando se pergunta: “O que é o tempo? O que é o espaço?”, estas perguntas são feitas no âmbito da ontologia, o seja, no âmbito da ciência da realidade ou da ciência das coisas.

E, como nós já vimos, a carga ontológica do espaço do tempo, supomos que ela seja maior do que das próprias coisas, porque ela tem esta anterioridade e este tipo de vínculo que garante a existência das coisas enquanto espaciais e temporais.

Então, quando Platão, Aristóteles, Descartes, se perguntam: “O que é o tempo?” O registro desta questão é sempre o registro ontológico e esta ontologia, então, naturalmente, se duplica numa questão metafísica quando nós tentamos respondê-la.

A célebre resposta de Platão: "o tempo é a imagem da eternidade" significa, exatamente, que o estatuto ontológico do tempo remete a esta teoria metafísica de que as idéias eternas precedem e condicionam aquilo que aparece como transitório no

tempo; daí a necessidade de se passar do tempo e a eternidade, porque o tempo é a aparência da eternidade: o tempo é como a eternidade como aparece para nós, o eterno aparece para nós na forma do transitório, mas temos que recuperar esta distância entre o transitório e a eternidade; por isso,.

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"a imagem", a imagem que nós temos do "eterno"; se ficarmos na imagem, não conhecemos nada, temos que passar da imagem para a própria coisa que, então, é a eternidade.

Vocês, quando estudaram Descartes, viram também como ele vincula a questão do tempo diretamente a Deus: a descontinuidade do tempo, descontinuidade dos instantes é garantida por Deus, através daquela teoria complicada da recriação, como se Deus criasse o mundo a cada instante, uma vez que eu não tenho uma continuidade natural.

Então, esta questão da ontologia e da metafísica, sempre vinculada ao tempo,

ela faz parte da tradição e a grande modificação que acontece em Kant é que estas perguntas: “O que o tempo?” e também “O que é o espaço?”, elas deixam de ser perguntas feitas no âmbito da ontologia e passam a ser perguntas feitas no âmbito do transcendental; quer dizer, da subjetividade, ou das condições subjetivas do conhecimento.

Então, não interessa a Kant, e não é porque não faz parte do seu ponto de partida, saber o que é o tempo no sentido ontológico; e, a partir daí, formular uma teoria sobre a realidade do tempo, porque, justamente, a colocação do tempo na instância transcendental já tirou dele a realidade (realidade ontológica que a tradição acreditava que ele possuísse).

O mesmo aconteceu também com o espaço.

E é por isto que é mais importante estudar o tempo e o espaço no âmbito das

funções que eles desempenham do que, propriamente, perguntar o que é que eles são.

O que é que são? Eles não são nada mais que esta condição que garante a nossa representação e Kant vai chamar a no ocaso da lógica, que nós vamos ver depois, de funções.

Quando eu tenho, por exemplo, uma categoria, quando tenho um princípio que atua como possibilidade do conhecimento, diz Kant: eu tenho uma função cognitiva; não tenho uma realidade, nem uma coisa.

Esta função é, então, a condição de possibilidade; portanto, a pergunta a respeito do espaço e do tempo é feita neste registro, que é o registro, propriamente, do transcendental.

Que função do desempenho tempo e espaço constituição da representação? Isto tem que ser respondido porque a pergunta ontológica supõe que a realidade do objeto para sendo questionada.

Como já deixei de supor que esta realidade, não faço mais a pergunta desta forma, pergunto apenas pela função; qual o papel que o espaço e o tempo desempenha no contexto representação? Que no caso aí é o da intuição em sensível.

E, por isto, por não serem realidades, aquilo que eu posso dizer acerca do espaço e do tempo, refere-se ao conhecimento puro; não é o conhecimento puro de razão, porque o espaço-tempo não são categorias do entendimento, são formas da sensibilidade, mas são conhecimentos puros no sentido de que a ação formais.

Então, falar a cerca deles não é a falar a cerca de realidades ou de coisas é, simplesmente, conhecer estas condições de conhecimento e, portanto, conhecer função que eles desempenho no estabelecimento da representação.

Fora de qualquer contexto ontológica e fora de qualquer contexto metafísico, quer dizer: inteiramente a priori.

O conhecimento puro é sempre um conhecimento a priori.

O espaço e o tempo embora não façam do entendimento, mas da sensibilidade, eles participam, no entanto, dessa condição a priori: ele só podem ser definidos a partir deste estatuto que eles possuem, inteiramente a priori, não dependem em nada da sensação e da percepção.

Pelo contrário, a sensação e da percepção que dependem dele para que nós possamos, então, ter este contato sensível com o objeto neste nível de representação.

É neste sentido que Kant vai produzir todos esses esclarecimentos, aquelas

observações que ele faz no âmbito da Estética Transcendental; uma série de observações que vão todas nesta direção.

Se nós quisermos resumi-las todas, um resumo razoável seria exatamente este: trata-se de passar da pergunta ontológica (o que é?) para esta pergunta transcendental (qual é a função do que isto desempenha na constituição da representação?).

E portanto todas as observações dos desenvolvimentos que Kant vai fazer na parte da estética é de se notar vai sempre no sentido de diferenciar a realidade, quer dizer, a ontologia, do plano transcendental.

Diferenciar as coisas ou os objetos, no caso, a representação sensível, das suas condições de possibilidade.

Todos os esclarecimentos podem ser entendidos nesta direção.

AULA TRANSCRITA – PROF.

FRANKLIN – 25/10/2007

SEGUNDA PARTE

Nós vamos tematizar agora as observações que Kant faz da Estética Transcendental e que resumem os principais resultados que ele pretende ter obtido aqui.

E também reforçam esta espécie de dedução que ele faz e que o leva a esta tese do caráter a priori e da condição transcendental do espaço e no tempo.

A primeira observação é que quando você tem relações empíricas elas pressupõem condições de efetuação da relação.

Esta observação, então, exprime o resultado do trabalho de .

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de Kant que mostra que a concepção empírica do espaço do tempo é contraditória, ou seja, você não pode abstrair das relações particulares e concretas, que são de caráter espacial e temporal: o tempo e o espaço como o resultado e intuitivo dessas relações.

Que é uma maneira de pensar como se chega as relações gerais dessas.

Você começa a observar relações particulares entre dados particulares e a partir de um certo momento você tem condições de abstrair em generalidade.

Neste caso, diz Kant, não teríamos atingido a condição, pelo simples fato de que a condição é aquilo que está antes.

Então, quando eu começo a observar as relações espaço-temporais falta uma pergunta que é, para Kant, a pergunta transcendental; um único tipo de pergunta.

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conhecimento: qual é a condição, a partir da qual, essa relação está sendo estabelecida? À primeira relação que vejo, eu tenho que perguntar: qual é a condição, a partir da qual, esta relação está sendo estabelecida? Se eu não faço esta pergunta e procuro através da observação de relações particulares generalizar, eu estou invertendo o processo.

Nunca eu vou explicar o conhecimento, porque eu nunca vou chegar aquilo que eu condiciono e explicar o conhecimento é sempre chegar a sua condição de possibilidade.

Portanto, o empirista que proceda desta maneira, ele falha, do ponto de vista metódico, no esclarecimento do processo de conhecimento; uma vez que, à primeira pergunta é sempre.

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(Kant chama de pergunta transcendental: "como é possível?", "o que torna possível?".

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que determinada relação possa parecer para o sujeito).

A partir disso, então, eu tenho que afirmar o caráter a priori das condições, quer dizer, o espaço e o tempo.

O espaço-tempo são representações a priori que (a expressão que Kant usa é que são naturalmente subjacentes a toda a intuição sensível, ou seja, elas fazem parte daquilo que nós chamamos, de maneira geral, determinante).

O que faz com que o empirista, quando procede indutivamente (generalizar a partir das relações particulares o que seria o espaço e o tempo), ele está (o máximo que ele vai encontrar é o determinado, nunca ele vai encontrar o determinante).

O determinante é aquilo que responde pelo conhecimento, a chave do conhecimento é sempre o determinante, porque é ele que dá a condição de possibilidade de que algo seja conhecido.

Se pudermos ter o conhecido é sempre o determinado de alguma maneira.

O determinante, portanto, ali, referindo-se ao espaço-tempo, com aquelas representações priori, não a representação resultante (é uma representação determinante).

E nesta condição determinante tem que ser a priori; ou seja, determinam todos os fenômenos (estas condições que determinam todos os fenômenos).

A outra observação resumem a diferença entre a ontologia e o transcendental.

Que é, então, a seguinte: espaço-tempo não fazem parte da estrutura do mundo.

Ou seja, Kant está contrariando, recusando, a tese ontológica que o espaço-tempo, embora fossem de estruturas gerais seriam estruturas objetivas, quer dizer, fariam parte da realidade uma embora de uma maneira muito geral.

Ele está dizendo que não fazem parte de forma alguma a realidade do mundo, justamente porque o mundo, em termos de conhecimento, quer dizer, em termos de representação, ele é determinado.

E, para o .

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este resultado, há de haver o elemento determinante, quer dizer, aquilo que vem antes.

Isto é a representação a priori.

Tudo que faz parte da estrutura do mundo , se eu considerar apenas neste nível, será sempre a posteriori.

Com é que posso falar da estrutura do mundo de maneira geral, ou seja, com enunciados e dotados de generalidade e universalidade lógicas? Apenas daquela maneira que nós vimos antes, através do juízo sintético a priori.

Então, o juízo sintético a priori me permite fazer esta leitura do mundo, por quê? Porque eu formo o juízo sintético a priori a partir de condições determinantes.

Então, a estrutura do mundo adquire, mundo de caráter geral e necessário, em termos de conhecimento, devido aos elementos determinantes que são as representações a priori que condicionam este conhecimento da estrutura do mundo.

E é por esta razão que nenhum determinante, evidentemente, fará parte da estrutura do mundo.

Neste caso, então, espaço-tempo também não fazem parte da estrutura do mundo.

E esta estrutura se apresenta sensivelmente para mim "a partir" do espaço e do tempo.

E eu não vou encontrar, então, nesta em estrutura, o espaço e o tempo.

Já tenho que tê-los antes (o sujeito transcendental já conta com eles "antes" de se lançar no conhecimento da estrutura do mundo).

Este é o próprio sentido do a priori.

A estrutura do mundo é conhecida por meio de representações a priori.

Em quarto lugar, como é concebido, o ponto de vista uma geral, tanto o espaço como o tempo seguindo esta concepção kantiana? Então, o espaço é a forma da simultaneidade o tempo é a forma da sucessão.

Por simultaneidade nós devemos entender aí justaposição.

O termo mais correto, talvez, seria justaposição: o espaço, então, me dá a condição da justaposição.

Quando eu falo da organização do espaço, eu falo em justaposição (Kant chama de simultaneidade).

Quando eu falo de tempo, eu falo de "sucessão" (freqüência).

Por exemplo, o que vai estar presente na apreensão dos dados sensíveis que depois poderão vir a ser sintetizados, por exemplo, relação de causa e efeito, que é uma relação "seqüencial".

Primeiro vem a causa e, depois, o efeito.

Neste caso, é preciso que tempo se apresente como "a condição determinante de toda a sucessão".

Assim como o espaço se apresenta como a condição determinante de toda justaposição.

Isto deixa claro, então, caráter formal e a necessidade de representar a priori: toda e qualquer sucessão só poderá ser representada a partir da representação a priori do tempo, quer dizer, da forma temporal.

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(inaudível) da temporalidade ou da forma temporal que os fenômenos.

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o resultado da justaposição do espaço.

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Fenômeno justapostos, objetos justapostos, etc.

, a partir da forma geral transcendental e da justaposição.

A mesma coisa que se diz do a priori de maneira geral vale aqui também, que é a diferença do, que nós já vimos, que é a diferença entre regra geral e a priori; Kant deixou bem claro que não se deve confundir regra geral com a priori.

Na regra geral eu e extraio do contato empírico a partir de um número muito grande de casos, já no a priori, não; ou a priori não precisa de nenhum caso para que eu o represente e, justamente, é uma representação independente de qualquer caso.

E, por isso, ele tem esse poder, e se alcance indefinido.

Então, Kant diz: quando alguém fala que o tempo é infinito ou que o espaço é infinito, do ponto de vista metafísico teria que provar; porque, seria um enunciado objetivo.

Mas o ponto de vista que ele, Kant, fala este "infinito" atribuído ao espaço e ao tempo não é.

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, é apenas a impossibilidade indefinida de se estabelecer qualquer relação temporal; o espaço é a possibilidade, também, indefinida de se estabelecer qualquer relação espacial.

Quer dizer, o alcance dessas condições de possibilidade não é possível demarcá-los objetivamente, justamente porque eles são formas, são condições de possibilidade .

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Tem que tomar cuidado quando eu for usar relações espaciais e de relações temporais devo tomar cuidado para me manter dentro da experiência, dentro do que o dado permite afirmar.

Agora, em princípio, essas formas, por serem formas, são indefinidas; o que elas não seriam se elas fossem retiradas de relações particulares, porque aí elas estariam comprometidas com caráter particular dessas relações de onde elas teriam se abstraído; mas não é o que acontece.

Este caráter absolutamente a priori as tornam e indefinidas que é o que defini a priori.

E se alcance indefinido do a priori ele vai ser demarcado quando eu o aplicar a experiência concreta, mas, em princípio, seu âmbito é indefinido.

Mais uma observação.

Que diz respeito ao fato que a intuição sensível se dá como percepção.

A intuição sensível se dá como percepção quer dizer: o sujeito está aí diretamente envolvido nesta constatação da espacialidade e da temporalidade dos fenômenos.

E como Kant entende isso? Dizer-lhe que quando nós apreendemos coisas pelos sentidos, nós temos que entender que esta apreensão empírica, pelo sentidos, ela se faz, também, por vias de condições transcendentais, ou seja, é claro que eu só vou perceber uma coisa que ocorre no mundo, do ponto de vista concreto, pelos meus sentidos; só que estes sentidos ao se exercerem sobre os dados (que já estão submetidos a esta síntese que caracteriza o seu aparecimento), este sentido se exerce por meio de condições transcendentais.

Transcendental é o conjunto de condições de possibilidade da experiência, cujo uso não se faz de forma imanente à experiência; ou seja, transcendental é um

sistema formal de conhecimento é o utilizado em relação aos conteúdos que aparece na intuição sensível.

No caso nosso aqui, por exemplo, o espaço-tempo são condições transcendentais que fazem parte do sistema transcendental que eu chamo de "sensibilidade".

Como é que são usados? Na síntese do dado sensível que está onde ocorre o aparecimento que constitui o objeto.

Estas condições transcendentais de possibilidade, elas representam aquela atividade que nós atribuímos aos sentidos, quando eu digo: compete ao sentidos perceber a realidade.

Esta percepção, se nós a entendermos como a intuição sensível, de que fala Kant, então já é a apreensão a partir de condições de possibilidade.

E é por isto, então, neste caso, que todos os sentidos que dizem respeito a percepções espaciais, Kant chama de: "sentido externo".

Ele usa no singular porque está se referindo ao espaço embora possa.

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mais no sentido na.

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do nosso aparato sensorial, mais um sentido.

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que percebemos que espacialmente; aqui, então, é o "sentido externo".

Tem, também, o "sentido interno".

Por que esta diferença? Kant quer dar conta aí, também, de uma outra concepção tradicional que o atribui a exterioridade (o caráter exterior da percepção) a esta relação que nós estabelecemos entre os nossos sentidos (visão, tato, etc) com as coisas exteriores; quer dizer, há sentidos que atuam na forma da exterioridade.

E a exterioridade é, para Kant, a exterioridade, a espacialidade.

Neste caso, então, ele está chamando a capacidade de perceber espacialmente de "sentido externo".

Porque o conjunto de percepções externas, para ele, configura o que nós chamamos de espaço ou de percepção no espaço; da mesma forma que o tempo (ou a percepção do transcorrer dos momento do tempo) não se dá em termos de exterioridade, mas se dá internamente.

Então, Kant acha que é apropriado chamar o tempo, de maneira geral, de um sentido interno, o seja, o transcurso do tempo é sentido internamente (Kant, então, da esta denominação de "sentido interno") enquanto que a espacialidade é aquilo tem que ser constatada numa relação do sujeito sensível com a exterioridade.

O sentido interno e o sentido externo estão aqui no singular porque Kant está se referindo, justamente, à forma, não às percepções singulares mas à forma.

Então, aqui, o espaço: qual é o espaço? Possibilidade "formal" de percepções ligadas à exterioridade: Que é o tempo? Possibilidades formais de percepções ligadas à interioridade (a "interioridade" não sentido espiritual: é aquilo e que, simplesmente, não é e espacial).

Kant tem que colocar desta forma pela mesma razão que nós já vimos: na hierarquia destas duas condições de possibilidade, o tempo leva vantagem, porque o tempo é mais geral a certas afecções do sujeito que somente são percebidas no tempo.

E tudo aquilo que é percebido no espaço é, obrigatoriamente, percebido no tempo.

Mas, nem tudo aquilo que é percebido no tempo é, necessariamente, percebido no espaço.

A dor, por exemplo, a dor não é imediatamente percebida no espaço; agora, quando percebo uma cadeira (ou alguma coisa do mundo exterior) então isto se dá no espaço e, obrigatoriamente, no tempo.

Então, o tempo leva vantagem, porque está presente em todas as afecções do sujeito, está presente em todas as intuições sensíveis, o que não acontece com o espaço, o espaço pode estar ausente de algumas percepções, de algumas impressões sensíveis.

Destas denominações: forma do sentido externo e forma do sentido interno também tem a ver com isto que foi visto como justaposição ou simultaneidade e sucessão.

Depois, nós temos que passar por um outro tipo de problema que é uma relação mais íntima que.

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seria essas duas condições de possibilidade.

Uma dificuldade que já está insinuada aqui a superioridade que Kant dá ao sentido interno, ao tempo.

A percepção temporal ela é, para Kant, mais geral, mas ela é mais difícil de ser explicada exatamente porque se trata de intuição sensível: é muito mais fácil explicar a intuição sensível, em termos de percepção de "uma coisa", bem configurada e espacialmente, do que explicar a intuição sensível em relação algo que não aparece configurado espacialmente do que explicar a intuição sensível em relação algo que não parece configurado espacialmente.

Então, Kant tem alguma dificuldade em explicar que, por exemplo, percepções temporais que são internas ao sujeito como elas acontecem em termos de intuição sensível, uma vez que Kant tem esta concepção de intuição sensível muito ligada a "presença" de alguma coisa efetivamente na percepção.

E quando eu não tenho esta presença espacial de alguma coisa na percepção torna-se mais difícil explicar a intuição sensível - uma percepção sem exterioridade que, no entanto, não só existe como também é mais importante do que a percepção espacial, dotada de maior generalidade.

Por isto que Kant diz: quando nós falamos no tempo, nós sempre falamos da linha do tempo.

Não é absolutamente correta falar da linha do tempo, Kant reconhece isso, mas é uma analogia necessária, porque como o tempo não aparece configurado, em termos de uma percepção externa justamente porque ele é tempo e não é espaço, como nós falamos dele? Nós falamos dele, valendo-nos de uma analogia com espaço; então, por isto é muito comum as pessoas falarem do tempo imaginar que é uma linha contínua, o representando a passagem do tempo e tal.

Esta linha contínua, evidentemente, é espacial, mas eu faço esta analogia porque seria muito difícil conceber uma seqüência de tempo sem apelo a qualquer analogia espacial.

Então, é como se eu pudesse desempenhar na minha imaginação tempo transcorrendo (e aí é inevitável a analogia como espaço).

Kant admite que a isto é assim devido à dificuldade peculiar a estas percepções do sentido interno, especificamente temporais.

E, finalmente, algo que nós já falamos, que é a hierarquia entre o espaço e o tempo (o tempo é a condição geral, dentre estas condições de possibilidade a mais geral

é o tempo - e é por esse motivo que nós vemos agora, está presente em todas representações).

Kant diz: o tempo é a condição de todos os fenômenos em geral, porque não pode haver qualquer representação (as espaciais, inclusive) que não sejam também representações temporais, ao passo que pode haver aquelas representações internas que não sejam "figurada" externamente no espaço.

Estas observações, que resumem o desenvolvimento da Estética Transcendental, elas levam a uma conseqüência: uma em especial que, digamos assim, resume um pouco aquilo que nós já falamos acerca da diferença entre o ontológico e o transcendental; e Kant diz: como nós devemos definir o espaço e o tempo a partir destas observações? Ele usa uma palavra complicada, em certo sentido, perigosa, que é a palavra "idealidade".

Por que esta palavra complicada e um tanto quanto perigosa? Primeiro lugar, porque ela lembra muito "idéia", "ideal", "idealismo", e pode, então, provocar uma interpretação de que o espaço e o tempo seria ideais.

Não sendo reais, seriam ideais.

Porque, em geral, ao posição que nós fazemos esta: o que não é real é ideal.

Evidentemente, não pode ser assim.

No caso de Kant, o ideal, no sentido metafísico, está dotada deu uma realidade específica, por exemplo: quando nós estudamos as idéias de Platão, que não são reais no sentido sensível, nós somos obrigados a admitir que elas são reais no sentido ideal.

Então, as idéias são realidade.

, no caso Platão (realidade metafísica, obviamente).

No caso do espaço do tempo, eles não são reais no sentido empírico, mas eles também não são ideais no sentido de possuir estatuto metafísico ou realidade metafísica.

Kant pretende, então, que esta palavra "idealidade" (a qual ele acrescenta: transcendental - realidade transcendental), ela pode fornecer uma certa definição do espaço do tempo na medida em que, justamente, nos afasta da tentação de concebê-los como coisas ou realidades, como sendo a natureza de coisas.

Então, este é o sentido em que "idealidade" opõe-se ao real (idealidade se opõe à realidade).

Mas se permanecermos neste sentido caímos naquela armadilha metafísica de opor, simplesmente, o real ao ideal.

Então, num primeiro sentido, o espaço-tempo como "idealidade", realmente, não são reais (não são dotados de realidade) - mas isto é apenas um primeiro sentido.

E aí vem então a necessidade de acrescentar à palavra "idealidade" o adjetivo transcendental.

Por quê? Porque tanto espaço quanto o tempo são condições determinantes da representação de qualquer realidade empírica.

E por isso podemos dizer que quando temos a experiência da percepção das coisas em particular, e esta experiência é uma experiência real, nós temos também a experiência real do espaço e do tempo.

Por quê? Porque a experiência que nós temos das coisas particulares sempre espaciais temporais reais, porque dadas na experiência mesma, supõe o espaço e o tempo (que, então, estão como condição incorporadas a esta realidade empírica).

Isto é uma característica do transcendental: idealidade transcendental.

Qual é a característica do transcendental? Ele só faz sentido se for usado em relação a alguma realidade empírica, a algum dado presente na intuição sensível.

(já vimos isso: o transcendental por si mesmo não constitui conhecimento - ele é "condição" de conhecimento, mas ele constitui conhecimento quando a esta condição eu agregam o dado empírico).

Então, quando ao espaço e ao tempo, que são.

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, pela agrego o conteúdo de coisas percebidas, espacial e temporalmente, acontece esta relação imanente que é própria do transcendental: o espaço e o tempo, condições transcendentais que atuam sempre em relação a realidade empírica ao dado presente na intuição sensível.

Então, eles são idealidades, porém idealidades transcendentais, na medida em que desempenham esta função; isto é uma condição de possibilidade e enquanto condição de possibilidade tem que haver a realidade que os torna possíveis.

O que é uma condição de possibilidade? É aquilo que torna possível uma realidade : a condição de possibilidade do conhecimento é aquilo que torna possível o conhecimento real ou conhecimento da realidade das coisas.

Quando isso acontece? Quando existe uma síntese entre o espaço e o tempo como condição e algum tipo de conteúdo empírico, que afeta o sujeito, e que é sintetizada em termos dessas condições do espaço e do tempo.

Ou seja, justamente por não serem realidades, nós não perceberia mas nada se tivéssemos apenas porque espaço e o tempo como condições.

(Enquanto sou uma "condição", não tenho conhecimento nenhum; ao mesmo tempo, se tivesse apenas um conteúdo sem essas condições, eu teria um conteúdo sem formas e, portanto, não teria o conhecimento).

É sempre necessário a presença das duas coisas: a condição transcendental, que é condição de possibilidade e o conteúdo, que é condição de realidade.

E é o que acontece no caso da representação, que Kant está explicando, na Estética Transcendental.

Esta palavra "idealidade", portanto, ela tem esses dois sentidos: algo que é o oposto ao real, algo que não é real, mas, ao mesmo tempo, como condição de possibilidade realidade, só atua de forma imanente, só atua ao desempenhar esta função de ser a condição de possibilidade de alguma realidade.

O que Kant quer dizer, portanto, os dois sentidos estão presentes nesta palavra "idealidade": o sentido que seria mais ligado ao ideal (aquilo que não é real), mas também o sentido de realidade que aquilo que a condição de possibilidade torna possível; justamente, sua função esta: de constituir a realidade enquanto condição formal desta realidade.

É isso que quer dizer a palavra "idealidade" transcendental; devemos entendê-la, portanto, como sinônimo de condição de possibilidade, mas estritamente no sentido de transcendental.

E o que caracteriza o sentido transcendental? Esta imanente se na relação entre a forma e o conteúdo: a forma é transcendental, mas só atua em relação ao um conteúdo.

Se nós observamos esta relação e a constância em que ela se apresenta no conhecimento, então nós entendemos por que o espaço e o tempo são idealidades transcendentais.

É porque eles são condições de possibilidade sempre atuantes em relação conteúdos a intuição sensível.

E fazem que estes conteúdos se apresentem sempre na forma do espaço e na forma do tempo, segundo esta e hierarquia que Kant estabeleceu.

Na verdade, o que Kant quer dizer é que tanto o idealismo como o realismo falharam ao conceber o caráter do ideal do conhecimento, como sendo o único é ser considerado ou concebendo a realidade do conhecimento, como sendo o único que deveria, também, ser considerado.

Então, neste caso, para mostrar que um conhecimento racional, puro, ele é uma idealidade, quer dizer, ele não é real, mas ele se destina ao conhecimento da realidade, ele compôs esta palavra "idealidade" e, portanto, deve ser vista como uma espécie de.

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entre as condições de possibilidade que não são reais (e, portanto, seriam ideais) e a realidade que essas condições de possibilidade permitem asserir na relação de conhecimento.

Isto reforça o sentido que o espaço e o tempo têm: não são realidade, mas são condições de percepção de toda e qualquer realidade.

Então, eu não posso dizer que eles são ideais o que eles são completamente opostos ao real.

A cada percepção real que eu tenho, o espaço e o tempo, que não são reais, estão ali, atuando, fazendo com que aquela percepção se torne possível.

A dificuldade que nós temos aqui, para explicar isto, que nós não podemos ver essa palavra em lógica (se a relação fosse lógica, seria fácil explicar: eu tenho uma categoria lógica e tenho um conteúdo que preenche a esta categoria lógica, categoria lógica na sua sintaxe enunciado e a realidade empírica dá o conteúdo do enunciado, os elementos do enunciado).

Nós não podemos falar aqui em termos de lógica, propriamente dito, estamos, ainda, aqui, no nível do sensível.

Mas o sensível, tal como o entendimento, também atua em termos de condições de possibilidade; então, não é uma relação lógica, é uma relação sensível, mas atuando de uma outra maneira: condições de possibilidade de um lado, quer dizer, a forma; e o conteúdo de outro e a síntese dos dois produzindo o objeto nessa esfera do sensível.

Portanto, o espaço e o tempo não são dotados de objetividade no sentido empírico como achava, como, ainda, os contemporâneos de Kant (newtonianos, o exemplo) pensam; mas nem por isto eles são ideais no sentido metafísico do termo.

Há um certo momento em que Kant diz: aquilo que não é nada, em um certo sentido é tudo; quer dizer, o espaço e no tempo (isto se aplica a todas condições transcendentais) em termos reais não é nada.

Uma condição transcendental em termos reais não é nada.

Eu não posso nem perguntar o que ela é, ela não tem densidade ontológica nenhuma, é uma pura forma: não é nada em termos de realidade.

Por outro lado, ela é tudo porque qualquer percepção de realidade lula qualquer percepção de existência, depende desta condição.

Por isto que Kant diz: aquilo que não é nada em um outro sentido é tudo! Não é nada em si mesmo, mas é tudo, porque sem ela, sem essa condição, eu não poderia perceber nada, não poderia conhecer coisa alguma.

Ela é a condição de tudo que eu possa vir a conhecer, embora ela em si mesma não tenha a realidade alguma.

Este, então, é o sentido que se deve dar a expressão que Kant usa estético transcendental que é a "forma subjetiva da representação".

A forma subjetiva da representação entendida aqui no seu significado transcendental não é percepção relativo, aquela percepção de que falava Descartes: percepção relativa ao sujeito é uma portanto, sem valor nenhum.

É uma percepção.

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a forma subjetiva de representação não é relativa no sentido cartesiano, quer dizer, como as condições psicológicas, as condições do aparato perceptivo do sujeito, atuam de forma decisiva, é como se fosse "cada cabeça, cada sentença" ou, melhor dizendo, "cada sujeito cometendo o seu erro de percepção", que assim como Descartes.

A maneira pela qual nós percebemos irmão na maioria das condições.

O que Kant está dizendo é que, neste caso, a forma subjetiva, entendida como transcendental justamente ela é o contrário disso: é ela que confere validade à representação.

Sem a forma subjetiva no sentido transcendental, que são o espaço e o tempo, a percepção não teria validade; e, portanto, as condições de validação do conhecimento começam aqui com interferência do espaço e do tempo, desempenhando este papel que está, por assim dizer, resumido neste termo "idealidade", que Kant usa.

E é por isto que é bom insistir que se trata, justamente, de superar aquilo que Kant considera os equívocos, tanto do empirismo quanto do idealismo que.

Sempre frutos de concepções unilaterais da representação, no limite, se nós fôssemos considerar o duplo fundamento da representação, no limite há que se considerar o que é "nada", em termos de realidade, é condição de possibilidade de "tudo", quer dizer, de toda realidade.

É isso que o empirista não consegue perceber, nem o idealista consegue perceber; porque, para o empirista, uma idéia desprovida da impressão sensível que a comprovaria não vale nada.

E para o idealista, uma percepção, com toda aquela confusão que ela traz consigo (que é tão bem denunciada por Descartes) também não vale nada, em termos de conhecimento.

O que Kant quer dizer é que há, justamente aí, uma confusão entre a forma de percepção da realidade e a própria realidade.

O empirista tem razão, porque aquilo que não é percebidos sensivelmente não existe: ele tem razão neste sentido.

Mas o idealista também têm razão no sentido de que, se não há condições subjetivas de representação, não há percepção correta do existente.

Portanto, é preciso que haja uma simultaneidade das duas coisas para que o conhecimento possa acontecer.

Em neste sentido, o equívoco do empirista e do idealista é muito nítido na concepção do espaço de do tempo: quando o empirista acha que espaço-tempo são realidades empíricas e quando idealista acha que o espaço-tempo são idéias (como Descartes achava, por exemplo, que o espaço-tempo eram idéias inatas).

Nenhuma das duas concepções dá conta de responder a definição do espaço-tempo exatamente porque a pergunta não é feita na forma transcendental

[forma transcendental, definição de Kant: "chamo transcendental todo conhecimento que se ocupa não tanto com os objetos mas com nossa maneira de conhecer os objetos, enquanto um tal conhecimento tenha de ser possível a priori"]

A pergunta não é feita em relação à função que o espaço-tempo desempenham na constituição da representação.

Entre o empirista e o idealista o erro, digamos assim, mais grave, talvez mais radical, ainda estaria do lado do idealista, porque o idealista tem uma tendência não só a negar as realidades temporais e espaciais (até que ele consiga provar pelo intermédio da análise da representação), como ele também tem, do ponto de vista metafísico, tem uma tendência negar o próprio espaço e o próprio tempo, que é a idéia platônica do conhecimento.

Qual é o ideal do conhecimento? O ideal do conhecimento é que eu me livre deste condicionamento temporal e espacial, que normalmente envolvem as aparências e que eu me eleve à eternidade e ao caráter espiritual da realidade eterna; e portanto, eu tenho que me livrar do tempo e tenho que me livrar do espaço, se eu quero atingir o ideal do conhecimento.

E, portanto, neste sentido, e o idealista tende não só a negar a realidade espacial, no sentido empírico, e a realidade temporal no sentido empírico, ele tende a

negar o próprio espaço e o próprio tempo, como sendo aquilo que mais prejudica o conhecimento que o favorece.

O empirista, pelo menos, já que ele é atento à percepção, ele não pode negar, pelo menos do ponto de vista particular, que existem relações temporais, relações espaciais; pelo menos aquelas particulares que ele percebe.

O idealista nega tudo isto.

Então, o erro do idealista vai mais longe, e num certo sentido, é mais grave.

E Kant da especial atenção a isso porque, na análise dos argumentos metafísicos, este desprezo pelo espaço e pelo tempo vai aparecer como característica de muitas teorias metafísicas.

Pelo menos a necessidade de superar a espacialidade e a temporalidade vai aparecer nas teorias metafísicas; por isto que o erro do idealista merece especial atenção.

(pergunta).

Resposta: tanto é assim, como nós vimos, que a matemática está toda dentro da Estética Transcendental (a geometria tem como condições de possibilidade o espaço e a aritmética tem como condições de possibilidade o tempo).

Quer dizer, você faz derivar estas formas ciências exatas, justamente porque são formas.

Kant acha que o empirista tem dificuldade em deduzir (em, por exemplo, relações mecânicas particulares, uma geometria, ou deduzir de relações e seqüências entre fenômenos uma aritmética).

Por quê? Porque por mais que ele possa generalizar as relações empíricas, e ele não consegue chegar àquele grau de exatidão formal e de evidência que a matemática possui; e ela possui justamente porque ela trabalha com fórmulas e não com conteúdos sensíveis.

Então, neste caso, a proposta de Kant, esta ausência de realidade e esta insistência na característica formal do espaço e do tempo são favoráveis ao que ele quer demonstrar, inclusive a demonstração de que a matemática é alguma coisa que diz respeito ao sensível quanto à sua forma.

Veja bem, uma coisa dizer que a matemática deriva de relações particulares do sensível, outra coisa é dizer que a matemática está no âmbito do sensível quanto à "forma do sensível".

Isso quer dizer, a geometria opera com a forma do espaço, a aritmética opera com a forma do tempo e as operações são feitas a partir dessas formas.

Portanto, não se trata aqui do tempo empírico e nem do espaço empírico: é a forma espacial e temporal; se não fosse assim, a matemática não seria uma ciência exata.

Justamente a presença da forma temporal e da forma espacial no juízo sintético a priori é o que vai fazer que ela ganhe o estatuto de cientificidade.

Não ganharia cientificidade, como no já vimos, sem o conhecimento fosse todo estabelecido a posteriori.

Relações particulares.

Ora, relações particulares vão ser sempre espaciais e temporais, mas não adianta: relações particulares a posteriori, com elas eu não vou chegar há nenhum tipo de enunciados científicos, como este "sintético a priori", como é característico da física.

Talvez a dificuldade seja: como alguma coisa, tão desprovida de realidade possa ter a condição de realidade? Exatamente, porque a forma é a condição de possibilidade de conteúdo.

A gente acha estranho, como ele pode fazer esta ligação? Insistir que nada tem a ver com a realidade, não é a realidade que, no entanto, tem tudo a ver com a realidade ídolo porque é condição de possibilidade de perceber e conhecer a realidade.

Isto é um tanto estranho para nós.

Mas a maneira pela qual Kant procede é assim, por quê? Porque ele faz distinções nítidas, tudo para ele é bem nítido: então, ou é forma ou é conteúdo - não tem maneira das coisas se misturar.

Por isto que ele é tão rígido na determinação do que "formal" e na determinação do que é "conteúdo".

E o espaço e tempo entram na categoria das formas (agora, "forma" sempre no sentido transcendental, quer dizer, "formas destinadas a conteúdos, formas destinadas a dar forma ao conteúdo").

A atividade do sujeito é de formar a representação.

Como é que eu formo a representação? Porque eu dou forma a um certo conteúdo; que forma que eu dou? Em espacial e temporal, o sujeito transcendental.

A distinção tem de ser muito nítida para que as coisas possam ser compatibilizadas; Kant quer evitar a confusão.

Ora vem do empírico, ora não vem.

Não, não vem de jeito nenhum, as formas, as condições de possibilidade não vêm do empírico: o empírico é "outro" terreno e completamente distinto do formal, do transcendental.

Mas nós temos que prestar atenção na definição de realidade.

O transcendental é aquilo que é "absolutamente" distinto, independente, do empírico, mas que, por outro lado, só faz sentido ser usado em relação ao empírico.

Por isto que Kant diz, quando critica filosofia tradicional, os aristotélicos, por exemplo: a lógica é imanente, a lógica não existe para ser usada independentemente como se ela fosse uma finalidade em-si.

A lógica existe para ser aplicada; agora, nem por isto, eu vou deixá-la de considerar como algo autônomo e independente do empírico.

É óbvio a lógica não é empírico, mas o sentido deste "lógico" é a sua aplicação, por isso ela é a condição de percepção e conhecimento empírico.

Eu concordo com vocês que a dificuldade que nós hoje temos dificuldade em estabelecer uma distinção tão rígido é tão nítida que Kant estabeleceu entre forma e conteúdo.

Isto foi criticado pelos sucessores de Kant.

A primeira coisa que eles que ficaram foi o caráter artificial desta divisão do rígida entre forma e conteúdo.

Mas é assim que ele trabalha e esta distinção rígida sempre tem que ser acompanhada neste sentido transcendental, quer dizer, independente, mas imanente: uma coisa difícil de considerar a partir de categorias tradicionais - é assim que ele trabalha.

A lógica é completamente independente do empírico, no entanto, é imanente ao empírico.

Se você não compartilhar estas duas coisas, aparentemente, até, contrários, você não entende o que Kant quer dizer.

Porque ele, justamente, censura o fato de que você pode fazer do conhecimento é uma pura lógica (como ele acha que o idealismo faz), sem se preocupar com a realidade ou você pode fazer do conhecimento um inventário de cada.

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, que também não leva muito longe.

Então, para ele escapar destas duas coisas, para manter o caráter lógico é o caráter empírico, você tem que considerar a diferença e ao mesmo tempo a imanência; a relação que um sempre tem com o outro.

(pergunta).

Resposta: o conteúdo é o dado presente na intuição sensível, o dado de realidade presente na intuição sensível.

É a concepção mesma de conteúdo: aquilo que se opõe à forma e que está presente na intuição sensível em que se submete à síntese do espaço e do tempo.

(pergunta).

Resposta: Kant acha que esta medida faz sentido se você adicionar a estas condições gerais, do espaço do tempo, certos princípios, também de caráter transcendental e metodológico, que propiciam deformam mais concreta esta medida, por exemplo: quando nós avançarmos para a analítica transcendental, nós vamos ver que tem um princípio que se chama "axioma da percepção".

É um princípio, vai ser ligado ao espaço.

Toda a percepção espacial possui uma grandeza extensiva: isto, para Kant, a não é um enunciado científico, é um enunciado transcendental, ou seja, nós partimos disto para medir - se a grandeza não fosse já uma categoria transcendental (quer dizer, prévia a qualquer medida) não faria sentido "medir".

Então, o que que faz sentido medir e por que nossas percepções pode ter, por exemplo, uma medida espacial? Porque existe um axioma, quer dizer, alguma coisa que não vem do empírico, porque já está na estrutura do transcendental, que é enunciado desta forma.

Toda a percepção possui uma grandeza e extensiva; Kant até em outros enunciados ele pôs uma vírgula depois de "extensivo" e diz "mensurável": "toda a percepção possui uma grandeza e extensiva, mensurável"- para deixar bem claro que a questão da medida, no sentido operatório, ela é correta, não é apenas e tão-somente um procedimento simbólico, Kant acha que tem uma correspondência com a realidade, por que? Porque já nas condições transcendentais da percepção detém este axioma, porque as condições transcendentais não são só o espaço e o templo, são muitas outras.

E dentre estas, muitas outras, há várias que são mais complicadas que o espaço e o tempo, que, por exemplo, poderiam ser enunciadas na forma de um princípio, de um enunciado mesmo.

Uma delas esta: "toda a percepção possui grandeza, quer dizer, é mensurável".

Então, a possibilidade de medir vem daí.

Um outro princípio que diz respeito, também, a Estética Transcendental, que vai renunciar depois como sendo alguma coisa do entendimento é que: "em toda percepção o sensação você tem uma grandeza e intensiva".

Você tem grandeza extensiva e tem grandeza intensiva; quer dizer, você pode medir espacialmente (quer dizer, a extensão), você pode medir, também, a intensidade de uma sensação, de uma percepção, por exemplo, os psicólogos, no final do século XIX, quando faziam psíquico-física, mediam.

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, eles utilizavam estes princípios, autorizados pelo Kant.

Toda a sensação tem a sua grandeza intensiva, é uma questão de grau (ao invés de ser medido no espaço.

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em graus), mas é grandeza; de qualquer maneira, é mensurável.

Então, há uma série de princípios que vão se ajustar às necessidades da percepção e, sobretudo, uso científico que se faz disso.

No tempo de Kant, não havia psicologia científica, mas quando esta aparece vai se valer esta possibilidade.

Sensação: é algo mensurável, Kant já colocou isto como princípio, então, vamos medir! É legítimo medir! Porque já está dado como condição que ela é mensurável.

E isto, claro, aí há toda uma discussão acerca do que estes princípios de realidade já antecipam .

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delas.

Porque, Kant diz que é tudo transcendental, não é real.

Mas quando você diz que uma sensação é tanto intensiva como extensiva, você está antecipando alguma coisa acerca do que ela é, ontologicamente falando (da sua realidade).

Essas possibilidades antecipam alguma coisa, mas isto é um outro problema que está escrito na concepção de Kant, mas não interfere nesta separação.

Só queria dizer para vocês estas.

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têm a ver com estas possibilidades transcendentais que têm que ser enunciadas para além do espaço e do tempo, como se fossem quase que explicitações de como eu aplico isto: como se dá uma sensação, como se dá uma percepção, como se dá em termos de grandeza extensiva e intensiva.

Tudo o que eu percebo está no espaço, tudo o que eu percebo está no tempo: isto já está dito aqui, mas este princípio da mensuração da grandeza vai reforçar isto, vai fazer com que eu possa trabalhar com sensação e percepção em termos de medida.

Como é um caso de uma ciência, que só vai aparecer bem mais tarde que é a psicologia científica.

Então, em resumo é isso: tudo que é dado como o que é mais imediato que podemos perceber (que é a realidade temporal e realidade espacial) dependem justamente daquilo que não é dado, que é o próprio espaço, que é o próprio tempo.

Nós já vimos como isto se relaciona com a resposta à pergunta acerca da matemática: como a matemática possível? Não vou repetir, então, aquilo pelo qual nós já passamos aqui, que o fato de que o objeto da matemática, embora não apareça na intuição sensível, ele é construído na intuição sensível.

Então a forma do espaço e a forma do tempo atuam na matemática da mesma maneira; a única diferença é que no caso da física o dado aparece e, portanto, o objeto depende do aparecimento do dado.

No caso da matemática o objeto construído porque a matemática só trabalha com conceitos (não têm objetos empíricos), então, ela trabalha com construções.

Com isso, então, Kant assinala para esta etapa do conhecimento a síntese que corresponde a ela: cada instância de síntese as suas condições transcendentais de possibilidade.

Então, estas são as condições transcendentais de possibilidade da síntese no plano do sensível, uma etapa inicial do conhecimento que, então, depois vai progredir para a síntese intelectual.

Na síntese intelectual, nós vamos, então, tomar conhecimento das outras condições de possibilidade de efetuação da síntese, propriamente, intelectual.

Mas, a intuição sensível é a primeira condição de todo o conhecimento.

Portanto, ou espaço e o tempo são as primeiras condições de todo o conhecimento.

Nós vamos ver que, do ponto de vista lógico, a síntese é muito mais complexa, a síntese é muito mais abrangente, muito mais diversificada, tudo isso.

Mas, é uma etapa que se segue e que depende, portanto, do cumprimento desta primeira etapa mais simples (.

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) que é a apreensão sensível a partir das condições de possibilidade específicas esta apreensão sensível.

Kant vai manter, portanto, a hierarquia entre o sensível e o intelectual mando ele confere maior complexidade à síntese intelectual e vai mostrar que o resultado do conhecimento que está mesmo na síntese intelectual .

Mantém esta hierarquia tradicional, mas com a diferença de que o conhecimento sensível é absolutamente necessário, não pode ser dispensado (a percepção não pode ser dispensada).

Não há substituto para percepção, embora ela não seja todo o conhecimento, nada a substitui a porque aquilo que virá depois, como síntese intelectual, virá a partir da intuição sensível, a partir desta percepção sintetizada em espaço e tempo.

Então, a nossa próxima etapa será a compreensão da síntese intelectual, que é, propriamente, a analítica transcendental em termos lógicos que se segue à parte da Estética Transcendental.