aula 3 - direito econômico. (1)

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Direito economico

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Aula 3 Direito Econmico.

Evoluo histrica

O surgimento do direito econmico como ramo do direito relativamente recente. Isto porque, durante muito tempo, aps a consolidao do modelo de Estado democrtico de direito, o iderio do liberalismo econmico prevalecia, fato que mitigava e, no raro, anulava a legitimao do Poder Pblico para interferir no processo de gerao de riquezas da nao.

Os primeiros atos normativos que versavam sobre matria econmica tratavam basicamente de coibio prtica de truste (merece destaque o Decreto de Allarde, na Frana, em (1791). Todavia, a legislao antitruste de combate concentrao de empresas, imposio arbitrria de preos, dentre outras infraes ordem econmica, somente foi sistematizada na Amrica do Norte, por meio da edio do Competition Act, em 1889 no Canad, e do Sherman Act, no ano de 1890 nos Estados Unidos.

Nos primrdios, o direito econmico era sinnimo de direito antitruste. Todavia, em virtude do acirramento das disputas comerciais e das desigualdades sociais, oriundos dos efeitos excludentes do capitalismo liberal, restou patente a necessidade de interveno do Estado na rea econmica, para garantir a salutar manuteno de seus mercados internos e da pacificao externa, e no campo social, a fim de se estabelecer polticas pblicas de redistribuio de rendas e de incluso social. Isto porque a experincia liberal conduziu a ordem econmica e social: concentrao monopolstica de poderio econmico nas mos dos grandes conglomerados empresariais, por meio da excluso de mercado dos mdios e pequenos competidores, resultando na quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929; s disputas blicas externas que culminaram em dois grandes conflitos mundiais; e marginalizao e excluso social de todos os menos abastados, que, por qualquer razo, encontravam-se excludos do processo de labor dirio de gerao de renda. Assim, no campo do direito constitucional comparado,podemos destacar que a primeira constituio legada ao mundo que tratava de matria econmica foi a Carta Poltica do Mxico de 05.2.1917. Esta Constituio foi a primeira a dispor sobre propriedade privada, tratando das formas originrias e derivadas de aquisio da propriedade, abolindo, ainda, seu carter absoluto para submeter seu uso, incondicionalmente, ao interesse pblico, originando o princpio da funo social da propriedade, fato que serviu de sustentculo jurdico para a transformao sociopoltica oriunda da reforma agrria ocorrida naquele pas e a primeira a se realizar no continente latinoamericano. Nitidamente influenciada pela legislao antitruste norte-americana, combatia o monoplio, a elevao vertical de preos e qualquer prtica tendente a eliminar a concorrncia. Todavia, a ordem econmica e social somente ganhou status de norma materialmente constitucional com a Constituio alem de 11 .8.1919 (Weimar), que foi a primeira a abandonar a concepo formalista e individualista oriunda do liberalismo do sculo XIX para se ocupar da justia e do social, estabelecendo que a ordem econmica deve corresponder aos princpios da justia, tendo por objetivo garantir a todos uma existncia conforme a dignidade humana. S nestes limites fica assegurada a liberdade econmica do indivduo (art. 151). Outrossim, deu maior relevncia funo social da propriedade, ao declarar que ela cria obrigaes ao seu titular e que seu uso deve ser condicionado ao interesse geral (art. 153). Rompendo os cnones do direito individualista, a Constituio conferiu ao Estado competncia para legislar sobre socializao das riquezas naturais e as empresas econmicas (art. 7, 13). Assim, depreende-se que o nascimento do direito econmico deu-se diante da necessidade de se normatizar um conjunto de princpios e regras que disciplinassem o processo de interveno do Estado na ordem econmica e social.

Conceito de Direito Econmico

Aps a anlise de sua evoluo histrica, podemos conceituar o direito econmico como o ramo de direito pblico que disciplina as formas de interferncia do Estado no processo de gerao de rendas e riquezas da nao, com o fim de direcionar e conduzir a economia realizao e ao atingimento de objetivos e metas socialmente desejveis. J nos manifestamos assim em obras anteriores: Para Fbio Konder Comparato, o direito econmico o conjunto das tcnicas jurdicas que lana mo o Estado contemporneo na realizao de sua poltica econmica.

Na lio de Washigton Peluso, trata-se do (...) ramo do Direito, composto por um conjunto de normas de contedo econmico e que tem por objetivo regular medidas de poltica econmica.

Objetivos do Direito Econmico

Partindo da conceituao do Direito Econmico acima delineado, podemos identificar que o mesmo o sistema de normas ou a disciplina jurdica que objetiva. a) A organizao da economia, definindo juridicamente o sistema e o regime econmicos a serem adotados pelo Estado.b) A conduo , ou controle superior, da economia pela Estado, uma vez que estabelece o regime das relaes ou equilbrio de poderes entre o Estado e os detentores dos fatores de produo.c) O disciplinamento dos centros de deciso econmica no estatais, enquadrando macroeconomicamente a atividade e as relaes inerentes a vida econmica.

A interveno do Estado na ordem econmica somente se legitima na realizao do interesse pblico. Em outras palavras, somente h que se falar em interferncia do Poder Pblico no processo de gerao de riquezas da nao quando esta se der nos interesses do povo, a fim de garantir a persecuo do bem estar social.

No que tange nossa atual Constituio, perfazendo-se uma exegese sistemtica dos dispositivos que disciplinam a Constituio Econmica, seja em sentido material ou em sentido formal , depreende-se que a interferncia do Poder Pblico na vida econmica da nao somente se justifica quando visa colimar fins maiores de interesse coletivo, mormente o atendimento das necessidades da populao. Nessa linha, vale transcrever, por ilustrativo, os seguintes artigos da Carta Poltica de outubro de 1988:

Art. 170. A ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da justia social, observados os seguintes princpios: [...]

Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do Pas e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compem, abrangendo as cooperativas de crdito, ser regulado por leis complementares que disporo, inclusive, sobre a participao do capital estrangeiro nas instituies que o integram.

Art. 21 9. O mercado interno integra o patrimnio nacional e ser incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e scio-econmico, o bem-estar da populao e a autonomia tecnolgica do Pas, nos termos de lei federal.

Por bvio, uma vez que a Repblica do Brasil adota a livre-iniciativa como princpio fundamental e valor da ordem econmica, a interferncia do Poder Pblico na economia da Nao somente se justifica quando objetivar a persecuo de interesses sociais maiores, tais como os objetivos fundamentais, positivados nos incisos do art. 3 da CF. Assim, o direito econmico tem por fim a realizao das metas de transformao social e maximizao do desenvolvimento da Nao brasileira.