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Aula de Direito Previdenciário Professor Fábio Zambitte 1 MATERIAL DE ESTUDO – PROIBIDA A VENDA Aula 13 – Data: 23.05.2012 :: BENEFÍCIOS EM ESPÉCIE :: (continuação) Bom dia a todos! Bem, começamos a nossa aula hoje falando de pensão por morte. Pensão por morte: A pensão por morte é tratada a partir do art. 74 da Lei nº 8.213/91 e a partir do art. 105 do Regulamento: Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data: I - do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste; II - do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior; III - da decisão judicial, no caso de morte presumida. Art. 75. O valor mensal da pensão por morte será de cem por cento do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento, observado o disposto no art. 33 desta lei. Art. 76. A concessão da pensão por morte Curso Fórum – 2012 Turma Regular

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MATERIAL DE ESTUDO – PROIBIDA A VENDA

Aula 13 – Data: 23.05.2012

:: BENEFÍCIOS EM ESPÉCIE ::

(continuação)

Bom dia a todos! Bem, começamos a nossa aula hoje falando de pensão por morte.

Pensão por morte:

A pensão por morte é tratada a partir do art. 74 da Lei nº 8.213/91 e a partir do art. 105 do Regulamento:

Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data:

I - do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste;

II - do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior;

III - da decisão judicial, no caso de morte presumida.

Art. 75. O valor mensal da pensão por morte será de cem por cento do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento, observado o disposto no art. 33 desta lei.

Art. 76. A concessão da pensão por morte não será protelada pela falta de habilitação de outro possível dependente, e qualquer inscrição ou habilitação posterior que importe em exclusão ou inclusão de dependente só produzirá efeito a contar da data da inscrição ou habilitação.

§ 1º O cônjuge ausente não exclui do direito à pensão por morte o companheiro ou a companheira, que somente fará jus ao benefício a partir da data de sua habilitação e mediante prova de dependência econômica.

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§ 2º O cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou de fato que recebia pensão de alimentos concorrerá em igualdade de condições com os dependentes referidos no inciso I do art. 16 desta Lei.

Art. 77. A pensão por morte, havendo mais de um pensionista, será rateada entre todos em parte iguais.

§ 1º Reverterá em favor dos demais a parte daquele cujo direito à pensão cessar.

§ 2º A parte individual da pensão extingue-se:

I - pela morte do pensionista;

II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, de ambos os sexos, pela emancipação ou ao completar 21 (vinte e um) anos de idade, salvo se for inválido ou com deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente;

III - para o pensionista inválido pela cessação da invalidez e para o pensionista com deficiência intelectual ou mental, pelo levantamento da interdição.

§ 3º Com a extinção da parte do último pensionista a pensão extinguir-se-á.

§ 4º A parte individual da pensão do dependente com deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente, que exerça atividade remunerada, será reduzida em 30% (trinta por cento), devendo ser integralmente restabelecida em face da extinção da relação de trabalho ou da atividade empreendedora.

Art. 78. Por morte presumida do segurado, declarada pela autoridade judicial competente, depois de 6 (seis) meses de ausência, será concedida pensão provisória, na forma desta Subseção.

§ 1º Mediante prova do desaparecimento do segurado em consequência de acidente, desastre ou catástrofe, seus dependentes farão jus à pensão provisória independentemente

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da declaração e do prazo deste artigo.

§ 2º Verificado o reaparecimento do segurado, o pagamento da pensão cessará imediatamente, desobrigados os dependentes da reposição dos valores recebidos, salvo má-fé.

Art. 79. Não se aplica o disposto no art. 103 desta Lei ao pensionista menor, incapaz ou ausente, na forma da lei.

Art. 105. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data:

I - do óbito, quando requerido até trinta dias depois deste;

II - do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso I; ou

III - da decisão judicial, no caso de morte presumida.

§ 1o No caso do disposto no inciso II, a data de início do benefício será a data do óbito, aplicados os devidos reajustamentos até a data de início do pagamento, não sendo devida qualquer importância relativa ao período anterior à data de entrada do requerimento.

Art. 106. A pensão por morte consiste numa renda mensal calculada na forma do § 3º do art. 39.

Parágrafo único. O valor da pensão por morte devida aos dependentes do segurado recluso que, nessa condição, exercia atividade remunerada será obtido mediante a realização de cálculo com base no novo tempo de contribuição e salários-de-contribuição correspondentes, neles incluídas as contribuições recolhidas enquanto recluso, facultada a opção pela pensão com valor correspondente ao do auxílio-reclusão, na forma do disposto no § 3º do art. 39.

Art. 107. A concessão da pensão por morte não será protelada pela falta de habilitação de outro possível dependente, e qualquer habilitação posterior que importe em exclusão ou inclusão de dependente somente produzirá efeito a contar da data da habilitação.

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Art. 108. A pensão por morte somente será devida ao filho e ao irmão cuja invalidez tenha ocorrido antes da emancipação ou de completar a idade de vinte e um anos, desde que reconhecida ou comprovada, pela perícia médica do INSS, a continuidade da invalidez até a data do óbito do segurado.

Art. 109. O pensionista inválido está obrigado, independentemente de sua idade e sob pena de suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da previdência social, processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado e tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos.

Art. 110. O cônjuge ausente somente fará jus ao benefício a partir da data de sua habilitação e mediante prova de dependência econômica, não excluindo do direito a companheira ou o companheiro.

Art. 111. O cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou de fato, que recebia pensão de alimentos, receberá a pensão em igualdade de condições com os demais dependentes referidos no inciso I do art. 16.

Art. 112. A pensão poderá ser concedida, em caráter provisório, por morte presumida:

I - mediante sentença declaratória de ausência, expedida por autoridade judiciária, a contar da data de sua emissão; ou

II - em caso de desaparecimento do segurado por motivo de catástrofe, acidente ou desastre, a contar da data da ocorrência, mediante prova hábil.

Parágrafo único. Verificado o reaparecimento do segurado, o pagamento da pensão cessa imediatamente, ficando os dependentes desobrigados da reposição dos valores recebidos, salvo má-fé.

Art. 113. A pensão por morte, havendo mais de um pensionista, será rateada entre todos, em partes iguais.

Parágrafo único. Reverterá em favor dos demais dependentes a parte daquele cujo direito à pensão cessar.

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Art. 114. O pagamento da cota individual da pensão por morte cessa:

I - pela morte do pensionista;

II - para o pensionista menor de idade, ao completar vinte e um anos, salvo se for inválido, ou pela emancipação, ainda que inválido, exceto, neste caso, se a emancipação for decorrente de colação de grau científico em curso de ensino superior; ou

III - para o pensionista inválido, pela cessação da invalidez, verificada em exame médico-pericial a cargo da previdência social.

IV - pela adoção, para o filho adotado que receba pensão por morte dos pais biológicos.

§ 1o Com a extinção da cota do último pensionista, a pensão por morte será encerrada.

§ 2o Não se aplica o disposto no inciso IV do caput quando o cônjuge ou companheiro adota o filho do outro.

Art. 115. O dependente menor de idade que se invalidar antes de completar vinte e um anos deverá ser submetido a exame médico-pericial, não se extinguindo a respectiva cota se confirmada a invalidez.

Evento determinante: A pensão por morte é um benefício cujo evento determinante não requer grandes reflexões. O evento determinante será a morte. Agora, morte de quem?! Do segurado. Ou seja, no momento do óbito, o indivíduo deve ainda ostentar a qualidade de segurado.

Esse é o aspecto mais importante do evento determinante. Imagine, por exemplo, um segurado que está desempregado há 4 anos. O indivíduo contribuiu à previdência por 20 anos ininterruptos e foi pelo teto ainda por cima. Aí, foi demitido e está há 4 anos sem atividade, sem recolhimento e ao final desses 4 anos ele vem a óbito. A viúva ou viúvo terão direito a pensão por morte neste exemplo?! Não. Ele não tem direito porque morreu após a perda da qualidade de segurado.

O período de graça, na melhor das hipóteses, é de 36 meses. E o indivíduo está aí há 4 anos sem trabalho, sem recolhimento, enfim, perdeu a qualidade. “Ah, mas ele contribuiu 20 anos”. Sim, e nesses 20 anos ele tinha cobertura, porém não aconteceu nada. É aquela lógica do seguro que já conversamos nas aulas iniciais.

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Então, o indivíduo, na data do óbito, tem que ter a qualidade de segurado.

Tem uma exceção para isso. É o seguinte: O indivíduo morreu, por exemplo, depois de 4 ou 5 anos sem trabalho, sem recolhimento, mas já com direito adquirido à aposentadoria. Por exemplo, nessa mesma hipótese que narramos agora pouco, tudo igual, só que quando ele morreu no dia seguinte após completar 65 anos. Aí, nessa hipótese, ele deixa pensão?! Sim, porque quando ele morreu, ele já tinha direito adquirido à aposentadoria por idade, visto que ele tinha idade e tinha carência. E já vimos que para aposentadoria por idade, não há perda da qualidade de segurado.

Veja que o evento determinante abarca também hipótese de morte presumida. A morte presumida também justifica a concessão do benefício. Havendo a declaração de ausência, isso já é suficiente para dar início ao benefício.

Agora, veja, mesmo sem decisão judicial, mesmo sem declaração de ausência, é possível conseguir esse benefício por morte presumida quando se trata de um evento notório. Por exemplo, você prova que o segurado embarcou naquele cruzeiro que após sair do Rio de Janeiro veio a naufragar em alto mar, não sobrando qualquer sobrevivente. Você tem lá o bilhete de ingresso do camarada, tem a foto dele se despedindo do convés etc. Então, dentro daquele fato notório, você comprova que o indivíduo estava lá e não houve sobreviventes.

Mediante essa comprovação administrativa, já cabe a concessão da pensão por morte, independente de ação judicial. “Ah, mas olha só, 6 meses depois aparece o camarada lá na Praia de Copacabana”. E aí?! O que acontece com o benefício?! Cessa, pois o evento determinante não mais existe. “Ah, tem que devolver o que recebeu?!”. Claro que não.

Beneficiários: Quem tem direito à pensão por morte? Certamente não é o segurado. Quem tem direito, então, são os dependentes conforme preceitua o art. 16 da Lei nº 8.213/91.

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado:

I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente;

II - os pais;

III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de

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21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente;

§ 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do direito às prestações os das classes seguintes.

§ 2º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada a dependência econômica na forma estabelecida no Regulamento.

§ 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do art. 226 da Constituição Federal.

§ 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada.

Vimos esse tópico a algumas aulas atrás e falamos sobre aquelas três classes, onde estava o cônjuge, companheiro, filho, equiparado, pais, irmãos. Então, são os dependentes que têm direito.

E quem faz a inscrição do dependente?! É o próprio dependente, não é o segurado não. É o próprio dependente quando do requerimento do benefício. É assim que funciona. Não é o segurado. Já foi assim, mas isso acabou já faz algum tempo.

Cuidado também com o seguinte: Existe uma discussão muito interessante em matéria de pensão por morte que é quando um dependente provoca a morte do segurado. Em Direito Civil, quando se fala em patrimônio, herança, a coisa é mais amarrada sobre essas questões. No Direito Previdenciário não. Já houve casos de a mulher matar o marido e pedir pensão.

E aí, será que essa figura mesmo assim vai constar do rol de beneficiários?! Embora isso seja complicado, há quem entenda que sim, visto que a lei não veda expressamente. E estamos falando de um benefício que tem como finalidade a preservação do mínimo existencial da pessoa e qualquer um tem direito a isso na previdência.

Agora, há quem entenda até com base na CF que haveria uma restrição implícita a essas hipóteses porque não poderia o sistema, em alguma medida, premiar a pessoa que comete um ilícito ainda mais dessa gravidade. Existe parecer do Ministério da Previdência dizendo que o benefício não deve ser concedido nessas

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circunstâncias.

Porém, a posição administrativa, hoje, é essa: que o benefício, então, deve ser concedido e o fundamento acaba sendo a dignidade da pessoa humana, pois seria uma conduta indigna do sistema não conceder benefício nessa hipótese.

Eu, pessoalmente, acho que depende do caso. Por exemplo, aquela mulher que sofria violência doméstica e aí, num determinado dia, perde a paciência e mata o marido numa situação que nem configura legítima defesa (porque aí não seria crime). O marido começou a beber, ela já sabe que após a terceira dose vai começar a apanhar e aí, então, para evitar isso, ela desfere três facadas no indivíduo. Talvez, seja essa uma hipótese em que o indivíduo seja razoável.

Eu acho que a lei nesse ponto foi até sábia em não tentar amarrar esse negócio, pois cabe análise caso a caso. Essa é a minha opinião.

Carência: Pelo menos na legislação vigente, esse benefício não possui carência. Já teve no passado, mas hoje não.

Então, se o segurado morre no primeiro dia de trabalho, ele deixa pensão. Isso acaba também gerando algum tipo de polêmica porque uma situação que você vê hoje na prática é a seguinte: Você tem uma pessoa que nunca contribuiu para a previdência social. Aí, essa pessoa tem uma doença terminal e o médico diz a ela que ela não passa desse mês. O que ele faz?! Inscreve-se na previdência como facultativo, paga uma contribuição, morre e deixa pensão.

Isso acontece e não tem impedimento legal algum a essa hipótese. Por exemplo, o indivíduo vai suicidar-se. Daí, você fica sabendo disso. Primeiro você tenta demovê-lo da ideia, mas ele está resoluto em tirar a sua própria vida. Daí, você fala o seguinte: “Então, pelo menos você vá à previdência, inscreve-se como facultativa, paga uma contribuição e pula da ponte”. Daí, então, ele deixa pensão. “Ah, mas ele se matou”. Não tem problema, não tem nenhum impedimento legal nesse sentido. Cabe a concessão do benefício.

É um tanto quanto estranho, mas é como a coisa funciona. Até porque ter carência nesse benefício é um tanto quanto delicado porque ninguém sabe quando vai morrer. Vai que o indivíduo não tem nenhum intuito de fraudar o sistema, está lá trabalhando, contribuindo, mas sofre um acidente e morre 3 meses depois.

Então, a opção legislativa acabou sendo não ter carência. Há quem defenda na doutrina uma posição intermediária como é no auxílio-doença, por exemplo. Tem carência, mas a carência é dispensada em várias hipóteses de acidentes etc. Talvez isso possa ser uma saída adequada, mas, hoje, pela regra vigente, não há carência nesse

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benefício, ou seja, basta a qualidade de segurado no momento do óbito.

Renda mensal: Qual é o valor da renda mensal? Bem, aqui a legislação prevê duas regras dependo do status do segurado que faleceu. Já vimos que o óbito tem que ser do segurado.

Agora, esse segurado pode ser já aposentado ou não aposentado quando do óbito. Inexoravelmente, ou ele está numa hipótese ou noutra. O segurado que faleceu ou já era aposentado ou não era aposentado.

Pois bem, se ele já era aposentado quando do falecimento a pensão por morte terá valor igual à aposentadoria. É o valor rigorosamente igual. Se era um aposentado que recebia R$1.000,00 da previdência, ao morrer vai deixar uma pensão de R$1.000,00.

De vez em quando você vê gente falando por aí que a aposentadoria é convertida em pensão por morte. Isso não é reconhecido como uma dicção correta porque não é uma conversão. Na verdade, é um novo benefício que é concedido, com um novo titular, visto que não é mais o segurado e sim o dependente, com uma nova relação jurídica que se estabelece, cujo valor é igual ao da aposentadoria que foi extinta com o óbito do segurado. Essa é a ideia.

E se ele morre não aposentado?! Morreu na ativa ainda. Nessa hipótese, diz a lei que a pensão por morte será igual à aposentadoria por invalidez a que esse segurado teria direito se estivesse, naturalmente, inválido ao invés de morto.

E quanto é uma aposentadoria por invalidez?! 100% do salário-de-benefício. Aqui também houve uma discussão judicial muito interessante. Essa regra não é originária de 1991. A regra originária foi alterada nos anos seguintes à promulgação da lei. E antes de 1991 também houve regras diferenciadas. Ou seja, o valor da pensão por morte já foi 60, 70, 80%, variava de acordo com o número de dependentes, enfim, já houve as mais diversas regras a respeito desse tema.

E aí, pelo menos de 1995 para cá, você tem esse percentual de 100% como regra geral. Mas aí, o que acontece?! Imagine a viúva que vinha recebendo 70% do salário-de-benefício de pensão por morte. Daí tem uma nova lei dizendo que agora é 100%. Essa viúva, então, foi a juízo pedindo a equiparação ao novo percentual mais benéfico com fundamento na isonomia e aplicabilidade imediata da nova lei.

Vimos uma discussão rigorosamente igual a essa no auxílio-doença e aqui segue o mesmo trajeto. No início, os tribunais davam provimento, o STJ era bem tranquilo sobre o tema, só que quando essa matéria chegou ao STF, ele adotou outro caminho e entendeu que em matéria previdenciária deve preponderar o tempus regit

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actum. Ou seja, tem que aplicar a lei vigente à época do óbito. E, portanto, as viúvas dançaram não conseguindo esse upgrade percentual.

O próprio STJ voltou atrás e editou a Súmula nº 340.

Súmula nº 340: A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é aquela vigente na data do óbito do segurado. 

Então, tem que se ver qual é a lei vigente na data do óbito. Não é a lei do requerimento, mas sim a lei da data do óbito. Às vezes o segurado morreu sob a égide da lei passada e está requerendo somente hoje. Ainda sim você aplica a lei da data do óbito.

Outro ponto interessante sobre pensão por morte é que o STJ, além da Súmula nº 340, tem também outra (Súmula nº 336) que fala que a dependência econômica pode ser superveniente. Nós vimos em aulas passadas que o cônjuge ou companheiro, havendo separação, perde a condição de dependente.

Súmula nº 336: A mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão previdenciária por morte do ex-marido, comprovada a necessidade econômica superveniente.

Agora, se houver dependência econômica, aí é mantida essa caracterização, esse enquadramento como dependente do segurado. Agora, essa dependência econômica pode tomar lugar após a separação. Não tem problema algum e por isso não é preciso ter pensão alimentícia, pois, como vimos, isso pode ser comprovado por outros meios.

E é muito comum que o casal se separe naquele momento. Num primeiro instante não existe nenhum tipo de auxílio, mas nos anos subsequentes, por exemplo, o indivíduo que progride mais na vida começa a ajudar o outro. E aí, você configura uma dependência econômica que é superveniente. Nesse caso é perfeitamente possível a concessão da pensão por morte.

Agora, veja, é interessante que o STJ fala isso, ou seja, que a dependência econômica pode ser superveniente, mas você tem que interpretar isso de que maneira?! Pode ser superveniente, mas tem que ser anterior ao óbito. Não pode ser uma dependência superveniente que ocorra 10 anos depois do óbito do segurado. Por motivos óbvios, isso não pode.

Por exemplo, o segurado morreu há 10 anos e hoje a ex-companheira passa por uma situação de dificuldade. Daí, então, ela resolve que quer receber

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benefício. Aí, não dá. Pode ser superveniente à separação, mas tem que ser anterior ao óbito, naturalmente.

Data de início: A regra hoje vigente é que a contar do óbito, você tem um prazo de 30 dias. Pra quê?! Para entrar com o requerimento. Se a data de entrada do requerimento do dependente estiver dentro do prazo de 30 dias, isso retroage até o óbito e a pessoa recebe desde então.

Se o requerimento é feito fora dos 30 dias, o benefício, é claro, ainda existe, mas será pago a partir do requerimento em diante.

Isso já foi diferente. No passado, havia a retroação sempre ao óbito, independente do prazo. Mas isso, hoje, já mudou. Então, cuidado que se o requerimento foi feito fora dos 30 dias, o benefício não tem pagamento retroativo.

Isso acaba implicando, hoje, em alguns problemas. Uma coisa que ocorre muito na prática hoje é o seguinte: Imagine um casal de idosos e ambos são aposentados pelo INSS. Chega no dia de pagamento do benefício, como é que faz?! É o casal que vai até ao banco sacar o dinheiro?! Não. Normalmente, devido ao fato de os homens não serem muito dados a serviços bancários, ao fato de que os homens acabam ficando senis mais cedo do que as mulheres, são elas que, geralmente, administram a vida financeira do casal.

Então, quando você observar uma fila de banco no dia de pagamento dos benefícios, você vai notar a proporção de nove velhinhas para um velhinho “emburrado”. É a mulher que acaba fazendo tudo: leva as senhas dos dois, os cartões dos dois e saca o dinheiro dos dois. Essa é a praxe.

Desgraçadamente, como sabemos, em geral o homem morre antes. A mulher vive em média 8 anos a mais do que o homem. Pois bem, o velhinho, então, morre. O que a viúva, não raramente, continua fazendo?! Sacando o benefício dos dois. E fica assim por um ano, por exemplo.

E aí, depois de um ano ocorre um recadastramento. Ela, então, vai ao INSS para regularizar a situação. Chega lá e diz o seguinte: “Olha só, eu tenho a minha aposentadoria aqui e a do meu ‘falecido’ marido”. Aí, o servidor do INSS vai dizer: “Com relação ao seu falecido marido, a senhora tem que pedir pensão”. E pode ela conjugar o recebimento de aposentadoria (dela mesma) com a pensão do marido falecido?! Pode.

Não há problema algum, inclusive, a pensão, nesse caso, vai ser rigorosamente igual à aposentadoria do falecido. Só que em vez de ficar sacando a aposentadoria do falecido, ela vai receber pensão. Aí, tem um pequeno detalhe. O

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INSS irá dizer: “Olha só, como a senhora está entrando com o requerimento agora, ou seja, um ano depois do óbito, o benefício é devido daqui para frente”.

E esse um ano que a D. Maria sacou a aposentadoria do falecido?! O que o INSS dirá?! Vai ter que devolver tudo. É assim que funciona. A minha conclusão é que a intenção disso é matar a velhinha de susto porque aí você economia dos benefícios de uma vez só. Mas, é como funciona.

Tem um parecer da AGU, inclusive, falando sobre esse caso e dizendo que tem que ser assim mesmo. E fala também que haveria, em tese, um estelionato por parte da velhinha. E eles entram com ação penal. Tem um monte de velhinhas respondendo por estelionato previdenciário em razão disso.

Bom, o que eu pessoalmente defendo e o que a doutrina em geral defende é que poderia existir uma conversão automática nessas hipóteses. Porque o sistema não tem nenhum prejuízo, já que o valor do benefício é rigorosamente igual. Aliás, eu não sei onde que a AGU vê estelionato aí, porque o estelionato pede o recebimento de uma vantagem ‘indevida’. Que vantagem indevida há aqui?! O valor da pensão é igual. Só porque não cumpriu essa formalidade?! Fala sério! Faz uma conversão automática e pronto.

E se o cônjuge viúvo se casar de novo?! Perde a pensão por morte?! Não. Agora, e se o novo marido morre também?! Ela vai receber duas pensões por morte?! Não, não é possível acumular mais de uma pensão por morte deixada por cônjuge ou companheiro. No caso, ela poderá optar pela mais vantajosa.

O que essa viúva poderia fazer se ela fosse esperta seria arrumar um marido de outro regime previdenciário. Aí, é possível acumular porque ele é de outro regime. Por exemplo, ela se casa com um novo marido que é magistrado. Aí, é possível.

Agora, veja, a lei veda a acumulação de pensão deixada por cônjuge e companheiro somente. Nas demais hipóteses, é possível. Dá para acumular pensão deixada por cônjuge e outra por filho, por exemplo?! Como assim?! Você tem lá o casal com um filho. Esse filho já tem 30 anos, trabalha, é segurado obrigatório e por aí vai. Daí, o marido morre. Era segurado também. Ele vai deixar pensão somente para a viúva, pois o filho já é maior. E depois, o filho também morre solteiro e sem filhos. Daí vem a mãe: Poderia ela também receber pensão deixada por filho?! Pode. Aí, é possível.

Só que tem um pequeno detalhe: Para receber pensão de filho, os pais têm que provar dependência econômica. Não pode ter ninguém na frente e tem que provar dependência econômica. E ela, mãe, já recebendo uma pensão por morte fica

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um pouco mais difícil provar a dependência econômica, mas é possível. É, portanto, uma cumulação perfeitamente lícita. O que não pode é cumular pensão deixada por cônjuge/companheiro.

E o motivo é muito simples: Por que essa preocupação em vedar essa hipótese?! Porque a dependência econômica de cônjuge/companheiro é presumida. E aí, se fosse possível acumular, você ia ter aí velhinhas recebendo vinte pensões fácil, fácil. Então, por isso que cônjuge/companheiro tem essa restrição, mas, via de regra, isso é possível.

Auxílio-reclusão:

O auxílio-reclusão é tratado a partir do art. 80 da Lei nº 8.213/91 e a partir do art. 116 do Regulamento. Lembrando que ele tem previsão também lá na Lei nº 10.666/03 em seu art. 2º:

Art. 80. O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão, que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço.

Parágrafo único. O requerimento do auxílio-reclusão deverá ser instruído com certidão do efetivo recolhimento à prisão, sendo obrigatória, para a manutenção do benefício, a apresentação de declaração de permanência na condição de presidiário.

Art. 116. O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, aposentadoria ou abono de permanência em serviço, desde que o seu último salário-de-contribuição seja inferior ou igual a R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais).

§ 1º É devido auxílio-reclusão aos dependentes do segurado quando não houver salário-de-contribuição na data do seu efetivo recolhimento à prisão, desde que mantida a qualidade de segurado.

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§ 2º O pedido de auxílio-reclusão deve ser instruído com certidão do efetivo recolhimento do segurado à prisão, firmada pela autoridade competente.

§ 3º Aplicam-se ao auxílio-reclusão as normas referentes à pensão por morte, sendo necessária, no caso de qualificação de dependentes após a reclusão ou detenção do segurado, a preexistência da dependência econômica.

§ 4º A data de início do benefício será fixada na data do efetivo recolhimento do segurado à prisão, se requerido até trinta dias depois desta, ou na data do requerimento, se posterior, observado, no que couber, o disposto no inciso I do art. 105.

§ 5º O auxílio-reclusão é devido, apenas, durante o período em que o segurado estiver recolhido à prisão sob regime fechado ou semiaberto.

§ 6º O exercício de atividade remunerada pelo segurado recluso em cumprimento de pena em regime fechado ou semiaberto que contribuir na condição de segurado de que trata a alínea "o" do inciso V do art. 9º ou do inciso IX do § 1º do art. 11 não acarreta perda do direito ao recebimento do auxílio-reclusão pelos seus dependentes.

Art. 117. O auxílio-reclusão será mantido enquanto o segurado permanecer detento ou recluso.

§ 1º O beneficiário deverá apresentar trimestralmente atestado de que o segurado continua detido ou recluso, firmado pela autoridade competente.

§ 2º No caso de fuga, o benefício será suspenso e, se houver recaptura do segurado, será restabelecido a contar da data em que esta ocorrer, desde que esteja ainda mantida a qualidade de segurado.

§ 3º Se houver exercício de atividade dentro do período de fuga, o mesmo será considerado para a verificação da perda ou não da qualidade de segurado.

Art. 118. Falecendo o segurado detido ou recluso, o auxílio-reclusão que estiver sendo pago será automaticamente convertido em pensão por morte.

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Parágrafo único. Não havendo concessão de auxílio-reclusão, em razão de salário-de-contribuição superior a R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais), será devida pensão por morte aos dependentes se o óbito do segurado tiver ocorrido dentro do prazo previsto no inciso IV do art. 13.

Art. 119. É vedada a concessão do auxílio-reclusão após a soltura do segurado.

Art. 2o O exercício de atividade remunerada do segurado recluso em cumprimento de pena em regime fechado ou semiaberto que contribuir na condição de contribuinte individual ou facultativo não acarreta a perda do direito ao recebimento do auxílio-reclusão para seus dependentes.

§ 1o O segurado recluso não terá direito aos benefícios de auxílio-doença e de aposentadoria durante a percepção, pelos dependentes, do auxílio-reclusão, ainda que, nessa condição, contribua como contribuinte individual ou facultativo, permitida a opção, desde que manifestada, também, pelos dependentes, ao benefício mais vantajoso.

§ 2o Em caso de morte do segurado recluso que contribuir na forma do § 1o, o valor da pensão por morte devida a seus dependentes será obtido mediante a realização de cálculo, com base nos novos tempo de contribuição e salários-de-contribuição correspondentes, neles incluídas as contribuições recolhidas enquanto recluso, facultada a opção pelo valor do auxílio-reclusão.

Evento determinante: O evento determinante do auxílio-reclusão é meio longo, mas vamos por partes. O aspecto central dele é o seguinte: é o efetivo recolhimento à prisão do segurado.

A lógica desse benefício é: O segurado está preso. E por estar preso, ele não teria a priori condições de sustentar a família e, por isso, a previdência paga aos dependentes o benefício. Essa é a lógica do auxílio-reclusão, por isso o evento determinante é esse.

Agora, veja, no momento da prisão, o indivíduo deve ostentar a qualidade de segurado. Então, não vão achar que qualquer um que seja preso dará direito ao

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auxílio-reclusão para os dependentes. Não, tem que ser segurado.

E que tipo de prisão é essa?! Tem que ser uma prisão decorrente de sentença condenatória transitada em julgado?! Não, porque se tiver que esperar essa sentença, todos os dependentes já morreram de fome. Então, qualquer tipo de prisão serve para se ter direito a esse benefício.

Só não vale aquela prisão por inadimplemento de pensão alimentícia. Porque, na verdade, essa prisão só existe como forma de coação para o ‘infeliz’ pagar. Então, não faria sentido o pagamento de benefício para essa hipótese. Mas, prisão penal propriamente dita, qualquer uma vale.

Agora, veja, esse é o aspecto nuclear do auxílio-reclusão. Mas, tem mais alguns detalhes. Um detalhe importante adicional é o seguinte: Não é qualquer segurado que dá direito a esse benefício. Quando o indivíduo é preso, ele tem que ser segurado, mas tem de ser um segurado de baixa-renda.

Aquela ideia de baixa-renda do salário-família se aplica aqui também, ou seja, no momento da prisão o indivíduo tem que ter aquele rendimento máximo que o qualifica com baixa-renda, que hoje está em R$915,00.

Então, se, por exemplo, quando o indivíduo foi preso, ele recebia R$1.500,00, haverá auxílio-reclusão para os seus dependentes?! Não, visto que no momento da prisão ele não era de baixa-renda.

Eu, pessoalmente, acho um tanto quanto discutível essa restrição para esse benefício. Lá no salário-família até vá lá porque é um benefício de valor pequeno, então, acaba fazendo diferença para quem é de baixa-renda. Agora, no auxílio-reclusão, eu acho que essa restrição que foi criada pela EC nº 20/98 é um tanto quanto questionável porque o indivíduo pode ganhar muito bem, mas uma vez preso, a família fica a “Deus dará”.

E para piorar, como até hoje não temos um critério definitivo do que é baixa-renda para esse fim, visto que continua vigorando esse critério provisório de rendimento mensal, você acaba tendo situações um tanto quanto bizarras em que o indivíduo, por exemplo, no mês da prisão fez muitas horas-extras e, naquele mês, ele veio a receber R$1.000,00. Ele ganhava sempre R$800,00, mas naquele mês ganhou R$1.000,00. Por azar, naquele mês foi preso e não haverá auxílio-reclusão porque ele não será enquadrado como de baixa-renda. É assim que funciona.

Então, já uma restrição que acho questionável e que fica pior ainda por ainda seguirmos um critério provisório que é o de baixa-renda. O TRF/4ª Reg. criou uma tese até muito interessante. Eles diziam que essa aferição de renda seria obtida

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frente ao dependente e não ao segurado. A renda que deveria ser mensurada seria a do dependente e não do segurado.

Ou seja, o segurado quando foi preso ganhava R$5.000,00, mas a família não tinha rendimento algum, ou seja, é baixa-renda. Então, o critério de renda deveria ser aferido perante o dependente e não perante o segurado. Eu achava até interessante porque, em certa medida, amenizava esse rigor do dispositivo.

Só que essa matéria chegou ao STF e ele não encampou essa tese. O STF seguiu a literalidade do que fala a CF dizendo que a renda dever ser aferida frente ao segurado.

Tem mais alguns detalhes. Não cabe auxílio-reclusão para o segurado que é preso em gozo de auxílio-doença. Como assim?! Veja: Se o indivíduo está recebendo auxílio-doença é porque ele está incapacitado temporariamente para o trabalho, mas não para o crime. Concorda?!

Por exemplo, o indivíduo está lá com a perna engessada, de muletas e mata o vizinho na reunião de condomínio a “muletadas”. Ele, então, vai preso. O que acontece com o auxílio-doença dele?! É cessado?! Não, pois ele continua incapacitado temporariamente para o trabalho. Só que enquanto ele estiver em gozo de auxílio-doença, não há que se falar em auxílio-reclusão. Quando acabar o auxílio-doença, se for o caso, aí sim ele fará jus ao auxílio-reclusão.

Isso vale também para o aposentado. Por exemplo, o indivíduo é aposentado do RGPS e resolve abrir uma “boca de fumo” na rua. Daí ele é preso por tráfico. O que acontece com a aposentadoria dele?! Vai ser caçada?! Isso não existe. Ele não pagou para ter direito à aposentadoria?! Sim, então, ele pode matar a bairro inteiro que ninguém poderá cancelar a sua aposentadoria.

Lógico que por estar preso, quem vai receber o benefício não vai ser ele. Os dependentes é que recebem na qualidade de procuradores. Então, quando o preso é aposentado, não há também que se falar em auxílio-reclusão.

A lei até fala de uma terceira hipótese que é um pouco mais incomum hoje, que é o segurado preso em gozo do abono de permanência em serviço. É um benefício já extinto dentro do plano de benefícios do RGPS, mas é um benefício que ainda é pago para aqueles que têm direito adquirido.

“Ah, o que era esse abono de permanência em serviço?”. Era um benefício pago ao segurado que tinha tempo para se aposentar, já preenchia os requisitos da aposentadoria, mas não se aposentava e continuava em atividade. Daí o nome de abono de permanência em serviço. Era um estímulo para o indivíduo continuar em

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atividade e não se aposentar. Ele recebia mais ou menos ¼ da aposentadoria, mas era bom para ele que continuava trabalhando e ganhando uma grana a mais, e era bom para a previdência porque adiava a aposentadoria desse indivíduo.

Mal comparando é o que o servidor público tem hoje. O servidor público tem um negócio parecido com isso também em regime próprio de previdência que veremos lá no final do curso. No RGPS havia isso, mas já acabou. Esse benefício era carinhosamente chamado de “pé-na-cova”. Tinha esse nome simpático porque o camarada que recebia esse benefício era o cara que já tinha tempo para se aposentar, ou seja, já era meio coroa.

E aí, então, o que acontece?! Se o indivíduo hoje que recebe “pé-na-cova” é preso, por que não haverá o auxílio-reclusão?! Porque esse cara já pode se aposentar, é claro. Então, não há que se falar em auxílio-reclusão nessa hipótese.

Ainda tem mais uma hipótese: não há auxílio-reclusão também para o segurado que é preso e continua recebendo salário da empresa. Como assim?! No Brasil é muito comum que empresas no acordo ou convenção coletiva fixem esse encargo para o empregador de continuar pagando o salário do indivíduo se ele for preso por um determinado tempo até ser condenado ou alguma coisa assim. Isso é muito comum.

Não tem obrigação legal nesse sentido, mas é muito comum você encontrar isso em acordos ou convenções coletivas. O sindicato costuma brigar muito por isso. E com razão porque no Brasil ninguém está livre de não ser preso. Ainda mais o trabalhador mais humilde que estiver no lugar errado e na hora errada.

E aí, então, se o indivíduo está preso e o empregador continua pagando o salário dele, é claro que não há que se falar em auxílio-reclusão também.

Bem, resumindo o pacote, qual é o evento determinante?! É efetivo recolhimento à prisão do segurado de baixa-renda que não esteja recebendo nem remuneração da empresa, nem auxílio-doença, nem aposentadoria e nem abono de permanência em serviço. E, cuidado: quem recebe são os dependentes e não o indivíduo preso.

Pergunta do aluno: O segurado é preso em gozo de auxílio-doença. Ele fica preso, recebendo o auxílio-doença, não cabe auxílio-reclusão, mas os dependentes têm que ter procuração para receber o benefício. Isso fica a critério do segurado, ou seja, é ele quem decide se dá procuração ou não?!

Resposta do professor: Não há instrução a respeito disso. O que normalmente a regulamentação diz é que tem que ter algum tipo de opção conjunta,

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algum documento que delegue o recebimento aos dependentes. Então, não tem uma solução normativa para esse tipo de hipótese.

Carência: O auxílio-reclusão não tem carência. Então, se o segurado é preso no primeiro dia de trabalho, por exemplo, não tem problema, pois já é cabível o auxílio-reclusão.

Renda mensal: A lei é bem lacônica nesse ponto. A lei diz que a renda mensal do auxílio-reclusão é igual à pensão por morte.

Aí, você é obrigado a pensar um pouco. A pensão por morte tem quantas regras?! Duas: a regra para o camarada que morre aposentado e a regra para o camarada que morre não aposentado.

Agora, olha só, o indivíduo aposentado tem auxílio-reclusão?! Não. Então, só sobra a outra regra que é a do indivíduo que morre não aposentado. Ou seja, é a pensão que é igual à aposentadoria por invalidez a que teria direito, se estivesse inválido ao invés de morto, que, por conseguinte, é igual a 100% do salário-de-benefício.

Então, após essa volta toda, você conclui que o auxílio-reclusão é igual a quê?! 100% do salário-de-benefício.

Agora, uma pergunta interessante é a seguinte: O valor do auxílio-reclusão pode ser superior a R$915,00?! Pode ter um auxílio-reclusão de R$2.000,00?! Olha só, como é que se calcula o auxílio-reclusão? 100% do salário-de-benefício. Certo. E como é que eu calculo o salário-de-benefício? Pela média aritmética dos 80% maiores salários-de-contribuição, correto?! Imagine o camarada que vinha ganhando R$4.000,00. E aí, nos últimos 6 meses foi demitido e arrumou um emprego ganhando R$800,00. Nesse novo emprego, ele mata o chefe, vindo a ser preso. Quando ele foi preso, ele era baixa-renda? Sim. Na hora de calcular o salário-de-benefício, você vai calcular aquela média dos 80%?! Sim. Essa média vai ser superior a R$915,00?! Com toda certeza. Então, o auxílio-reclusão pode bater até o teto?! Pode sem problema algum. É assim que funciona.

Tem alguns autores (posição minoritária) dizendo que haveria uma restrição implícita no auxílio-reclusão e que o valor do benefício não poderia ser maior do que R$915,00 em razão de ser um benefício voltado a pessoas de baixa-renda. Mas, é uma restrição que não tem previsão expressa em lei e o INSS não faz isso. O INSS joga na regra, calcula e se der o teto, vai o teto mesmo.

Data de início: Também é muito similar à pensão por morte. Aliás, a própria lei diz que na hipótese de lacuna no auxílio-reclusão, você aplica por analogia

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as regras da pensão por morte.

São benefícios, realmente, muito parecidos. A diferença é que em vez de o cara estar morto, ele está preso. Então, aqui, a data de início é a mesma coisa. O marco inicial, ao invés do óbito, é a prisão. A partir do momento em que está preso começa a correr o prazo de 30 dias. O requerimento tem que ser feito dentro desse prazo.

Se o requerimento é feito dentro de 30 dias, ou seja, no prazo, tem efeito retroativo e recebe desde a prisão. Requereu após 30 dias, aí recebe do requerimento em diante. Lembrando que tanto nesse benefício quanto na pensão por morte, se o indivíduo for menor de 16 anos, aí não há esse prazo de 30 dias. Ainda que esse menor de 16 anos peça 7 anos depois da prisão ou do óbito, ele vai receber retroativamente. Mas, não sendo menor de 16 anos, aplica-se a regra geral de 30 dias.

Aí, o que eu vejo acontecer muito também na previdência nesse benefício é o seguinte: O segurado é preso. Aí, a esposa ou a mãe não sabe que esse benefício existe. Daí ouve falar dele quatro anos depois e resolve entrar com o requerimento, ou seja, é um benefício que seria pago só do requerimento em diante. Só que quando a esposa ou a mãe ingressa com o requerimento, o segurado já saiu da prisão.

Aí, o que acontece?! Como é devido do requerimento em diante e na data do requerimento o segurado não está mais preso, o benefício não é concedido. Então, tem que tomar esse cuidado, ou seja, tem que requerer no prazo também.

Outra questão interessante é a seguinte: Como é que se faz a aferição da renda de um indivíduo que estava desempregado no momento da prisão? Tem uma polêmica grande aqui. Qual é a minha opinião e também a geral da doutrina?! Quando o indivíduo foi preso, ele estava desempregado. Qual era o salário-de-contribuição dele, então, nesse momento? Zero. Zero é menor que R$915,00?! Então, cabe auxílio-reclusão? Claro.

Mas, há um entendimento dentro do INSS sobre essa hipótese que diz que você teria que verificar o último salário dele antes de ser demitido. Por exemplo, ele recebia R$1.000,00 até final do ano passado quando foi demitido. Ele, então, foi preso hoje. Logo, não haveria direito ao benefício porque o último salário dele foi de R$1.000,00. É uma interpretação muito tacanha essa e não faz o menor sentido. Mas, é como o INSS atua. Então, acaba-se adotando o último salário dele antes de ser demitido.

No caso de um menor de 16 anos, segurado do RGPS, a medida sócio-educativa vale como se fosse uma prisão?! Imagine, ainda, que ele já tem esposa e uma filhinha. Cabe auxílio-reclusão nesse caso? Sim, perfeitamente.

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E se o indivíduo foge da prisão? O que acontece com o auxílio-reclusão? Cessa, visto que o evento determinante não mais existe. O que você pode estar se perguntando é: Como é que o INSS vai saber que o indivíduo fugiu? O que acontece?! Como a burocracia estatal também nesse caso não deixa a coisa funcionar e os órgãos não se comunicam, então, transfere-se o encargo para o dependente. Como assim?! Quando o dependente vai requerer o auxílio-reclusão, nesse momento inicial do requerimento, o dependente já tem que levar uma certidão expedida por autoridade competente dizendo que Fulano de Tal está preso. E essa certidão deve ser reapresentada trimestralmente. É assim que funciona.

E aí, então, se a certidão não é renovada, o benefício cessa. Acaba sendo assim, portanto, que o INSS “pega o fujão”. Em tese, se o camarada fugiu, essa certidão não será emitida e o benefício não será renovado.

Aí, a pergunta seguinte é: E se ele for recapturado? Volta a pagar o auxílio-reclusão? Depende. Vai que ele foi recapturado 2 anos depois. O que pode ter acontecido nesse período?! Perda da qualidade de segurado. Já vimos aqui na nossa aula específica sobre o assunto que quando o segurado preso foge, ele tem um período de graça de 12 meses. E aí, então, se ele foi recapturado 2 anos depois, pode ter ocorrido a perda da qualidade de segurado.

“Ah, mas mesmo tendo sido recapturado 2 anos depois, pode o auxílio-reclusão voltar a ser pago?”. Pode. Vai que no período de fuga ele tenha conseguido uma atividade remunerada lícita. E aí, ele não mantém a qualidade de segurado?! Sim. E aí, então, volta a pagar?! Depende. Você tem que ver ainda se ele permanece como sendo de baixa-renda. Vai que no período de fuga ele tenha virado diretor de multinacional.

Percebeu?! O que eu estou tentando enfiar na sua cabeça?! Sempre que se apresenta algum questionamento sobre benefício, em vez de ficar na “achologia”, você tem que olhar para o evento determinante. “Qual é o evento determinante do benefício?”. É o efetivo recolhimento à prisão do segurado de baixa-renda. É isso que se tem que avaliar. A situação fática se adéqua a essa previsão abstrata?! O indivíduo é segurado?! Ele é de baixa-renda?! Então, tem que pagar. É a esse questionamento que você tem que se habituar. Esse é o raciocínio que você tem que se desencadear para resolver esse tipo de problema seja em concurso ou na sua vida como advogado.

Outra questão interessante que a Lei nº 10.666/03 fala é a seguinte: Se o indivíduo está no regime semiaberto, progride o regime, o benefício se mantém?! Sim. E se o segurado exerce atividade remunerada mesmo no regime semiaberto, o benefício se mantém?! Também. Isso tem previsão na Lei nº 10.666/03.

Por quê?! Havia essa dúvida se o benefício se mantinha ou não, e não tinha

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uma resolução legal expressa sobre isso. E aí, a Lei nº 10.666/03 veio a suprir essa lacuna porque a ideia é não gerar um desestímulo à ressocialização do preso. Porque se você fala para o camarada “Fulano, se você começar a trabalhar, a sua mulher perde o auxílio-reclusão”, ele acaba desistindo.

Então, não tem problema: Pode exercer atividade remunerada em regime semiaberto que o auxílio-reclusão permanece.

Outra questão interessante: O indivíduo preso pode recolher, pode pagar contribuição?! Pode. O Regulamento, inclusive, diz que ele hoje só pode pagar como facultativo. É uma situação até meio delicada porque anteriormente a legislação falava que se o preso não exercesse atividade remunerada – situação mais corriqueira – ele pagaria a previdência se quiser como facultativo. Agora, se mesmo preso, ele exercesse atividade remunerada, ele seria segurado obrigatório na condição de contribuinte individual. Esse sempre foi o enquadramento tradicional.

Só que há uns 2 anos teve um lobby do setor prisional dizendo que esse enquadramento como segurado obrigatório era um fator que dificultava encontrar atividade remunerada para o presidiário. Isso acaba atrapalhando em razão dos encargos tributários que isso gerava etc. Aí, a Presidência da República pediu a opinião do Ministério da Previdência e o Ministério falou que só lamentava, pois a aplicação legal era essa.

Só que a Casa Civil atropelou a opinião do Ministério e fez um decreto dizendo que não existe mais enquadramento como segurado obrigatório. Foi totalmente ilegal isso. Mas, é como o Regulamento disciplina a questão hoje. Então, o presidiário, trabalhando ou não, ele paga, se quiser, como facultativo. A coisa, hoje, é assim disciplinada administrativamente. Volto a dizer: É totalmente ilegal, mas é como funciona.

Pois bem, independente dessa discussão, vamos dizer, então, o seguinte: O indivíduo trabalhou 5 anos como empregado e ao final desse período ele foi preso. Nessa data da prisão, houve a concessão de um auxílio-reclusão. Esse auxílio-reclusão foi calculado com base na média dos 80% salários maiores desses 5 anos. Aí, ele fica 10 anos preso sem qualquer recolhimento e ao final desse período ele morre. O que acontece?! Esse auxílio-reclusão é automaticamente convertido em pensão por morte e com o mesmo valor.

Agora, vamos imaginar que durante o período de prisão ele pagou como facultativo que é a opção hoje existente. Ele pagou e morreu. Aí, mudou de figura porque durante o período de prisão houve recolhimento. O que fala a legislação? Aí, você faz uma nova média englobando, agora, esse período e essa nova média pode ser melhor ou pior que a antiga. Vai depender dos valores que foram recolhidos.

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Se a nova média for melhor, você a usa para pensão por morte. Se a nova média for pior, você mantém o valor do auxílio-reclusão. Então, esse recolhimento durante o período de prisão para fins de pensão por morte vai ser utilizado se for para melhorar. Se for para piorar, esquece, ou seja, fica como está. Isso tem disciplina específica hoje na Lei nº 10.666/03.

Outra questão interessante é: Nessa hipótese o indivíduo está preso e está recolhendo contribuição. Porém, ele sofre um acidente que gera incapacidade temporária por mais de 15 dias. Estamos falando do auxílio-doença. Cabe auxílio-doença para esse segurado, cujos dependentes estão em gozo de auxílio-reclusão? Já vimos que não, pois o auxílio-doença não é cumulável com o auxílio-reclusão.

O que pode acontecer nesse caso é o segurado preso em conjunto com os dependentes optar pelo auxílio-doença em detrimento do auxílio-reclusão. Esse segurado que vinha contribuindo enquanto preso teve incapacidade. Ele, então, em conjunto com os dependentes, tem como optar por receber o auxílio-doença enquanto durar a incapacidade e quando terminada a incapacidade voltar ao auxílio-reclusão.

Idem para aposentadoria. Se ele estando preso preenche os requisitos para aposentadoria, ele e seus dependentes podem optar pela aposentadoria em detrimento do auxílio-reclusão.

Abono anual:

O abono anual é tratado no art. 40 da Lei nº 8.213/91 e no art. 120 do Regulamento:

Art. 40. É devido abono anual ao segurado e ao dependente da Previdência Social que, durante o ano, recebeu auxílio-doença, auxílio-acidente ou aposentadoria, pensão por morte ou auxílio-reclusão.

Parágrafo único. O abono anual será calculado, no que couber, da mesma forma que a Gratificação de Natal dos trabalhadores, tendo por base o valor da renda mensal do benefício do mês de dezembro de cada ano.

Art. 120. Será devido abono anual ao segurado e ao dependente que, durante o ano, recebeu auxílio-doença,

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auxílio-acidente, aposentadoria, salário-maternidade, pensão por morte ou auxílio-reclusão.

§ 1º O abono anual será calculado, no que couber, da mesma forma que a gratificação natalina dos trabalhadores, tendo por base o valor da renda mensal do benefício do mês de dezembro de cada ano.

§ 2º O valor do abono anual correspondente ao período de duração do salário-maternidade será pago, em cada exercício, juntamente com a última parcela do benefício nele devida.

O abono anual é o último benefício do RGPS e ele é a gratificação natalina paga pela previdência social. Cuidado com esse nome porque abono anual é uma denominação que gera uma confusão terrível, pois tem um monte de coisa por aí que se chama abono anual.

O abono anual no RGPS quer dizer gratificação natalina. É muito similar ao décimo-terceiro salário. Por exemplo, o indivíduo que vinha recebendo aposentadoria ao chegar ao mês de dezembro, vai ter lá aposentadoria referente ao mês e mais o seu abono anual.

O abono anual é calculado com base nos proventos de dezembro. Isso cai muito em concursos e todo mundo erra. Cai aquela afirmativa dizendo que “o abono anual tem proventos iguais ao valor da remuneração de dezembro”. Não, está errado, pois o certo seria dizer “com base”. Por exemplo, a criatura se aposentou no meio do ano. Ao chegar a dezembro, vai receber a aposentadoria de dezembro mais 6/12, ou seja, é proporcional, é com base. Pode até ser igual, mas é com base.

Outro aspecto interessante é que todos os benefícios do RGPS dão direito ao abono anual. Todos, menos um: salário-família. Agora, todos os outros dão direito, inclusive, o auxílio-acidente e o salário-maternidade. A gestante, junto com a última parcela, recebe 4/12 de abono anual.

Cuidado que isso não vale para aquele benefício assistencial do LOAS, o BPC (Benefício de Prestação Continuada). Para esse benefício não há abono anual, não há gratificação natalina. A ideia é que por ser um benefício de subsistência, você só paga de janeiro a dezembro sem gratificação natalina.

Bem, encerramos, portanto, os benefícios do RGPS, e vamos passar, agora, a falar sobre os serviços do RGPS.

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:: SERVIÇOS DO RGPS ::

Agora, veja, o RGPS tem somente benefícios?! Não, além de benefícios, ele tem também serviços. As prestações previdenciárias podem ser benefícios ou serviços. As principais prestações são os benefícios, mas você tem também os serviços. Eles, na verdade, são dois: serviço social e a habilitação/reabilitação profissional.

O serviço social está previsto no art. 88 e a habilitação a partir do art. 89 da Lei nº 8.213/91 e no art. 120 do Regulamento:

Art. 88. Compete ao Serviço Social esclarecer junto aos beneficiários seus direitos sociais e os meios de exercê-los e estabelecer conjuntamente com eles o processo de solução dos problemas que emergirem da sua relação com a Previdência Social, tanto no âmbito interno da instituição como na dinâmica da sociedade.

§ 1º Será dada prioridade aos segurados em benefício por incapacidade temporária e atenção especial aos aposentados e pensionistas.

§ 2º Para assegurar o efetivo atendimento dos usuários serão utilizadas intervenção técnica, assistência de natureza jurídica, ajuda material, recursos sociais, intercâmbio com empresas e pesquisa social, inclusive mediante celebração de convênios, acordos ou contratos.

§ 3º O Serviço Social terá como diretriz a participação do beneficiário na implementação e no fortalecimento da política previdenciária, em articulação com as associações e entidades de classe.

§ 4º O Serviço Social, considerando a universalização da Previdência Social, prestará assessoramento técnico aos Estados e Municípios na elaboração e implantação de suas propostas de trabalho.

Art. 89. A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas portadoras de

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deficiência, os meios para a (re)educação e de (re)adaptação profissional e social indicados para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive.

Parágrafo único. A reabilitação profissional compreende:

a) o fornecimento de aparelho de prótese, órtese e instrumentos de auxílio para locomoção quando a perda ou redução da capacidade funcional puder ser atenuada por seu uso e dos equipamentos necessários à habilitação e reabilitação social e profissional;

b) a reparação ou a substituição dos aparelhos mencionados no inciso anterior, desgastados pelo uso normal ou por ocorrência estranha à vontade do beneficiário;

c) o transporte do acidentado do trabalho, quando necessário.

Art. 90. A prestação de que trata o artigo anterior é devida em caráter obrigatório aos segurados, inclusive aposentados e, na medida das possibilidades do órgão da Previdência Social, aos seus dependentes.

Art. 91. Será concedido, no caso de habilitação e reabilitação profissional, auxílio para tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário, conforme dispuser o Regulamento.

Art. 92. Concluído o processo de habilitação ou reabilitação social e profissional, a Previdência Social emitirá certificado individual, indicando as atividades que poderão ser exercidas pelo beneficiário, nada impedindo que este exerça outra atividade para a qual se capacitar.

Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:

I - até 200 empregados...........................................................2%;

II - de 201 a 500.......................................................................3%;

III - de 501 a 1.000...................................................................4%;

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IV - de 1.001 em diante. .........................................................5%.

§ 1º A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante.

§ 2º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social deverá gerar estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por reabilitados e deficientes habilitados, fornecendo-as, quando solicitadas, aos sindicatos ou entidades representativas dos empregados.

Ambos são serviços, ou seja, são obrigações de fazer do sistema e não obrigações de dar. Não têm um conteúdo pecuniário direto.

O serviço social teria como finalidade orientar o segurado quanto aos seus direitos previdenciários, auxiliar no planejamento de vida do segurado. Se o segurado está na dúvida, ele vai ver junto ao INSS qual seria a melhor hora de se aposentar, como é que se procede, enfim, esse seria o papel do serviço social. O serviço social teria como função também auxiliar o segurado na resolução de conflitos familiares e por aí vai. Bem, é desnecessário dizer que isso não existe, embora a previdência social tenha tentado melhorar nesse quesito nos últimos anos. Já melhorou substancialmente, mas está longe de ser o ideal.

Eu, pessoalmente, até acho que a linha de frente do INSS, a parte de atendimento, deveria ser feita preponderantemente por profissionais dessa área, com formação em assistência social, que muitas vezes é uma pessoa mai talhada para atender ao público.

Esse é um grande problema do INSS. Tem um grande investimento em retaguarda e estrutura, mas a linha de frente ainda é um ponto frágil até porque muitas vezes o servidor que atua na linha de frente não tem o perfil de atendimento ao público. Então, é uma área que merecia um maior investimento.

Bem, na próxima aula nós retomamos o assunto. Até semana que vem. Um abraço!

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