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0 ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA FEDERAL DO PARANÁ - ESMAFE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PREVIDENCIÁRIO E DIREITO PROCESSUAL PREVIDENCIÁRIO DIREITO PREVIDENCIÁRIO ACIDENTÁRIO – REVISÃO CONCEITUAL E ESTUDO DE CASOS PRÁTICOS CURITIBA 2011

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ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA FEDERAL DO PARANÁ - ESMAFE

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PREVIDENCIÁRIO E DIREITO

PROCESSUAL PREVIDENCIÁRIO

DIREITO PREVIDENCIÁRIO ACIDENTÁRIO – REVISÃO CONCEITUAL E

ESTUDO DE CASOS PRÁTICOS

CURITIBA 2011

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ALUNA: LUCIANE E.C.MELLUSO TEIXEIRA DE FREITAS

ORIENTADOR: DOUTOR JOSÉ ANTONIO SAVARIS

DIREITO PREVIDENCIÁRIO ACIDENTÁRIO - REVISÃO CONCEITUAL E

ESTUDO DE CASOS PRÁTICOS

Trabalho apresentado na Esmafe-PR como

requisito parcial para obtenção do título de

Especialista em Direito Previdenciário e Direito

Processual Previdenciário. sob orientação do

Prof.Doutor José Antonio Savaris.

CURITIBA 2011

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SÚMARIO

1 princípios constitucionais, fonte de custeio e cobertura .......................................................... 4

1.1 Introdução.................................................................................................................................................. 4

1.2 Conceito de Acidente do Trabalho............................................................................................................... 4 1.2.1 Acidente Típico ....................................................................................................................................... 5 1.2.2 Doenças Profissionais .............................................................................................................................. 6 1.2.3 Doenças do Trabalho ou Moléstias Profissionais Atípicas ......................................................................... 7 1.2.4 Moléstia Concausal ou Doença do Trabalho por Equiparação ................................................................... 7

1.3 Princípios Constitucionais: Proteção Social do Trabalhador e Dignidade da Pessoa Humana..................... 9 1.3.1 Solidariedade Social................................................................................................................................11 1.3.2 Universalidade de Cobertura e Atendimento ............................................................................................12 1.3.3 Seletividade e Distributividade das Prestações .........................................................................................14 1.3.4 Uniformidade e equivalência de benefícios às populações urbana e rural..................................................14 1.3.5 Irredutibilidade do valor dos benefícios ...................................................................................................16

1.4 Fonte de Custeio e Estabelecimento de Reserva Previdenciária, art. 167, XI da CF/88 ...............................17 1.4.1 Cobertura: Destinatários da Prestação Infortunística ................................................................................19 1.4.2 Os excluídos da Prestação Acidentária.....................................................................................................19

2 Estudo de Casos Práticos ........................................................................................................20

2.1 Questões Processuais no Direito Previdenciário Acidentário .....................................................................20

2.2 Questões Processuais envolvendo a intervenção do Ministério Público ......................................................21

2.3 Revisão de Benefícios Acidentários ............................................................................................................27 2.3.1 Revisão de benefícios de aposentadoria por invalidez acidentária precedida de auxílio-doença acidentário

.......................................................................................................................................................................29 2.3.2 Revisão de valor de salário-de-benefício de benefícios acidentários considerando-se 80% de todo o período

contributivo.....................................................................................................................................................34 2.3.3 Revisão de renda mensal de benefício auxílio-acidente à luz do art. 33 da Lei 8.213/91 e art. 201 § 3º da CF

.......................................................................................................................................................................36 2.3.4 Revisão de benefícios face advento da Lei 9.032/95.................................................................................39

2.4 Prescrição e Decadência nas Ações Previdenciárias Acidentárias..............................................................46 2.5.PERÍCIAS JUDICIAIS..............................................................................................................................50 2.6. Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT, Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário - NTEP,

Vínculo Empregatício e Cadastro Nacional de Informações Sociais – CNIS .....................................................53

3 Jurisprudência na Vara Acidentária de Curitiba ..................................................................62

3.1 Teoria da concausa....................................................................................................................................62

3.2 . Concessão de Benefício em Perspectiva ...................................................................................................66

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3.3 Cumulação de Benefícios...........................................................................................................................67

3.4 Ônus Processuais em Face do Trabalhador................................................................................................70

3.5 Compensação de Valores Pagos a Título de Benefício................................................................................71

3.6 Circunstâncias Sócio-Econômicas..............................................................................................................73

3.7 Revisão de Benefícios ................................................................................................................................74

3.8 Condição de Segurado...............................................................................................................................75

3.9 Competência da Justiça Estadual...............................................................................................................76

3.10 Acidente de Trabalho ...............................................................................................................................77

3.11 Atualização Monetária.............................................................................................................................79

4 Considerações Finais ..............................................................................................................82

5 Referência das Fontes Citadas................................................................................................83

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1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS, FONTE DE CUSTEIO E COBERTURA

1.1 INTRODUÇÃO

O acidente do trabalho gera redução ou perda da capacidade laboral do obreiro,

trazendo para toda a sociedade resultados negativos, pois o trabalho no contexto social possui

valor ético e moral, de modo que o infortúnio laboral nos conduz a conseqüências políticas e

sociais desastrosas, havendo evidente interesse público na sua prevenção e ressarcimento

justo. O interesse social do benefício previdenciário acidentário é motivo para a intervenção

do Ministério Público nas ações previdenciárias.

No dizer de Hertz Jacinto Costa1, considerando-se o homem como organismo vivo

com aptidões de natureza física,

tais características pessoais se refletem, inexoravelmente, no trabalho entregue a cada indivíduo, tendo-se, como resultado, melhor ou menor produtividade e tendências maiores ou menores aos riscos resultantes do trabalho. (...) Os países cuja legislação está avançada no campo infortunístico têm maior e melhor capacidade de produzir riquezas, com nível de qualidade superior. Aos revés, os Estados em que tal proteção é desconsiderada, colocada em plano inferior ou negligenciada, têm economia precária, com sérias dificuldades de integração no mercado internacional, que é hoje intensamente globalizado.

1.2 CONCEITO DE ACIDENTE DO TRABALHO

A Lei 8.213/91 prevê em seu artigo 19 caput descrição difusa do acidente de trabalho:

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

O acidente trata-se de acontecimento externo, decorrente do exercício laboral, violento

e súbito, porquanto gera dano à integridade física ou mental do indivíduo abruptamente. Dizer

que o evento é decorrente do exercício laboral, nos conduz à idéia de que o acidente do

trabalho é conseqüência de condições ambientais da empresa, e também do próprio labor.

1COSTA, Hertz Jacinto. Manual de Acidente do Trabalho, 4ª Edição, Editora Juruá, Curitiba, 2009,

p.24/25.

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Enfatizam os eminentes autores Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista

Lazzari que o infortúnio decorrente do ambiente de trabalho, entendendo-se como tais os

acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais, tem como características “a exterioridade da

causa do acidente, a violência, a subtaneidade e a relação com a atividade laboral”2.

Como linhas gerais do conceito de acidente do trabalho, destacamos que o evento

vitima o empregado, temporário, avulso, segurado especial, servidor em regime próprio

(anteriormente, o médico-residente era considerado filiado ao regime previdenciário, como

autônomo, pela Lei n. 8.138/90, contudo esta foi revogada pela Lei 10.405 de 09 de janeiro de

2002).

Evidentemente, o trabalhador deve estar a serviço da empresa, isto significa dizer que

deve estar em horário de serviço, nas dependências daquela, ou ainda, fora do ambiente de

trabalho, contudo, no exercício de suas funções, em proveito da empresa.

1.2.1 Acidente Típico

Considera-se típico o acidente cuja causa externa é direta, instantânea e, na maioria

das vezes, violenta, produzindo lesão corporal ou perturbação funcional que torna o indivíduo

incapaz, provisória ou definitivamente, ou ainda, lhe cause a morte.

Assim, o fato gerador do evento tem ligação direta com o resultado e o trabalho do

obreiro. Como exemplos de acidente típico, podemos citar: o trabalhador que tem sua mão

decepada na máquina de serrar madeira, no local e horário de trabalho; o pedreiro que sofre

queda do andaime na construção, produzindo-lhe fraturas; e por fim, motorista do ônibus

coletivo que sofre acidente automobilístico, em seu horário de serviço, causando-lhe traumas

e contusões.

Antônio Lopes Monteiro e Roberto Fleury de Souza Bertagni ensinam que o acidente-

tipo

trata-se de um evento único, subitâneo, imprevisto, bem configurado no espaço e no tempo e de conseqüências geralmente imediatas. Não é da sua essência a violência. Infortúnios laborais há que, sem provocarem alarde ou impacto, redundam em danos

2CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; e LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário.

Florianópolis. Conceito Editorial. 12ª Edição, 2010, p.576/579.

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graves e até fatais meses ou anos depois de sua ocorrência. O que se exige é o nexo de causalidade e a lesividade.3

1.2.2 Doenças Profissionais

Encontraremos a noção de doenças ocupacionais e de acidente do trabalho por

equiparação, nos artigos 20 e 21 da Lei 8.213/91, considerando sua causa imediata ou em

virtude de repetições do exercício laboral, peculiar a determinada atividade, ao longo do

tempo e, ainda, em função de condições especiais em que o trabalho é realizado. A lei

subdivide as doenças ocupacionais em doenças profissionais e doenças do trabalho.

No primeiro caso, artigo 20, inciso I da Lei n. 8.213/91, temos a doença profissional “a

decorrente do trabalho, da profissão, da função, acompanhando o obreiro em outra empresa,

durante sua vida profissional”4.

Decorrentes de situações comuns àqueles que integram determinada classe de

trabalhadores, conforme relação apontada no Anexo II do Decreto n. 3.048/99, ou ainda,

categoria profissional não relacionada nesta norma administrativa, mas reconhecida pela

Previdência Social, as doenças profissionais são também denominadas de idiopatias ou

ergopatias.

Enfim, as doenças profissionais são comuns aos trabalhadores de determinada

atividade, como por exemplo, a pneumoconiose entre os mineiros. Possuem tais tecnopatias

“nexo causal presumido, razão pela qual o infortunado fica dispensado de comprovar o nexo

causal”, consoante ensinamentos de Hertz Jacinto Costa5 e ainda, sob a ótica dos Promotores

de Justiça Antônio Lopes Monteiro e Roberto Fleury de Souza Bertagni,

Dada a sua tipicidade, prescindem de comprovação do nexo de causalidade com o trabalho. Há uma presunção legal nesse sentido. Decorrem de microtraumas que cotidianamente agridem e vulneram as defesas orgânicas, e que, por efeito cumulativo, terminam por vencê-las, deflagrando o processo mórbido.6

3MONTEIRO, Antonio Lopes / BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. Acidentes do Trabalho e

Doenças Ocupacionais. 3ª edição, Editora Saraiva. São Paulo, 2005. 4MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à lei Básica da Previdência Social, tomo II. Editora LTr,

8ª Edição, 2009, p.172. 5Obra já citada. 6MONTEIRO, Antonio Lopes / BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. Acidentes do Trabalho e

Doenças Ocupacionais. 3ª edição, Editora Saraiva. São Paulo, 2005

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1.2.3 Doenças do Trabalho ou Moléstias Profissionais Atípicas

Subdivisão da doença ocupacional, reza o art. 20 inciso II da Lei n. 8.213/91 que a

doença do trabalho “é a resultante das condições do exercício, do ambiente e dos instrumentos

laborais, sendo própria, sobretudo, daquela empresa e não necessariamente acompanhando o

trabalhador”7.

E ainda,

Denomina-se doença do trabalho aquela adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, estando elencada no referido Anexo II do Decreto n. 3.048/99, ou reconhecida pela Previdência.8

Surgem daí os “Distúrbios do Sistema Osteomuscular Relacionados ao Trabalho” –

DORT e doenças ou perturbações funcionais auditivas – PAIR.

Novamente, citando os sublimes autores Antônio Lopes Monteiro e Roberto Fleury de

Souza Bertagni, afirmam que as doenças do trabalho são também denominadas de

“mesopatias” ou “moléstias profissionais atípicas”, que decorrem de microtraumatismos

acumulados, pois “desencadeadas em função de condições especiais em que o trabalho é

realizado e com ele se relacionem diretamente”.9

Hertz Jacinto Costa nos traduz ainda

As mesopatias, ou doenças do trabalho, também denominadas ‘moléstias profissionais atípicas’, normalmente decorrentes das condições de agressividade existentes no local de trabalho, que agiram, decididamente, seja para acelerar, eclodir ou agravar a saúde do trabalhador10.

1.2.4 Moléstia Concausal ou Doença do Trabalho por Equiparação

7Idem. 8CASTRO, Carlos Alberto Pereira de/ LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário.

Florianópolis. Conceito Editorial. 12ª Edição, 2010, p.576/579. 9Obra citada. 10COSTA, Hertz Jacinto. Obra já citada.

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Para ser considerado acidente de trabalho, sua causa deve se dar pelo exercício da

atividade laborativa ou em decorrência desta. Neste último caso, enquadram-se os acidentes

de trajeto e sofridos em trabalhos externos, consoante artigo 21, inciso IV letra “d” e letras

“a”, “b” e “c” da Lei de Benefícios da Previdência Social.

Há diversas situações que são consideradas lesões adquiridas no exercício do trabalho,

embora não especificamente trabalhando que o empregado se machuca. Como exemplo destas

ocorrências, podemos citar agressão de terceiro em face do obreiro (inciso II do citado artigo

legal, alínea “a”), no local e horário do trabalho, ou ainda, a doença proveniente de

contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade (inciso III do dispositivo

em comento).

São excluídas do rol de doenças do trabalho a doença degenerativa, ou seja, perda

gradativa da integridade física, ou mental, face agente endógeno; doença inerente a grupo

etário, relacionada à velhice; a que não chegou a produzir incapacidade para o labor; doença

endêmica peculiar ao lugar como malária, febre amarela, salvo exposição em função da

atividade laboral.

Destacamos, contudo, que a doença degenerativa, quando agravada em função do

trabalho, é considerada como doença ocupacional, aplicando-se a teoria da concausa,

estampada no artigo 21 inciso I da Lei 8.213/91.

Neste sentido, Hertz Jacinto Costa:

As enfermidades de que o trabalhador padecia antes de seu ingresso na atividade para o empregador, que se vejam agravadas, mesmo por enfermidades intercorrentes, constituindo complicações derivadas do processo patológico, tendo no ambiente laborativo as explicações de tais agravos, devem ser consideradas como acidente do trabalho. É o conhecido nexo de agravamento.11

Deste modo, equipara-se ao acidente de trabalho o evento que indiretamente se

relaciona com a atividade através da chamada teoria da concausa.

O Princípio da equivalência das condições, ou ainda da equivalência dos antecedentes,

segundo ensinamentos de Antônio Lopes Monteiro e Roberto Fleury de Souza Bertagni12,

11Idem. 12Obra citada.

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considera a causa concorrente para o resultado, ou ainda, causa que embora não tenha sido a

única, contribuiu diretamente para o sinistro, liame do evento danoso à atividade laboral do

empregado machucado.

Exemplo disso é o caso do empregado que sofre de hemofilia, causa anterior ao

acidente, recebe ferimento, que não traria o resultado aqui para outro indivíduo de saúde

perfeita, e morre esvaído em sangue.

As concausas se dividem em anteriores, simultâneas ou posteriores ao acidente. O

exemplo acima traz concausa preexistente. O empregado que sofre infarto durante assalto à

loja onde trabalha, traduz exemplo de concausa simultânea; a concausa é superveniente

quando, por exemplo, o empregado machucado é hospitalizado, porém no hospital contrai

infecção e por tal razão vem a óbito.

1.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS: PROTEÇÃO SOCIAL DO TRABALHADOR E

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Ensina o eminente jurista José Antonio Savaris13 que

A Seguridade Social, concebida como um sistema de prevenção e de reparação das conseqüências de diversos acontecimentos qualificados como riscos sociais, surge ao termo de uma longa evolução de esforços políticos e de diversas técnicas de que se valeram os trabalhadores e o Estado para garantirem meios de subsistência na ocorrência de determinadas contingências, propiciando rendimentos de substituição das rendas que normalmente decorreriam do exercício da atividade profissional, ou serviços e valores de complementação, para tratamento de saúde e cobertura por encargos familiares

.

Com efeito, da leitura do artigo 1º, incisos III e IV da Constituição Federal de 1988,

extrai-se que a dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho são considerados

fundamentos de nosso Estado Democrático de Direito, sendo a Seguridade Social instrumento

de concretização de tais valores e método de proteção social.

Dentro do contexto no qual o trabalho é a pedra angular da ordem social, Seguridade

social se apresenta COMO ELEMENTO DE RELEVÂNCIA NUCLEAR PARA O DESENVOLVIMENTO

E MANUTENÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, sendo-lhe atribuída a tarefa de garantir

13SAVARIS, José Antonio. Curso de Especialização em Direito Previdenciário, Volume 1, Direito

Previdenciário Constitucional.Traços Elementares do Sistema Constitucional de Seguridade Social. Editora Juruá, Curitiba, 2008. p.98.

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a todos um mínimo de bem estar nas situações geradoras de necessidade. A Seguridade Social

é concebida como gênero de técnicas de proteção social, do qual são espécies a assistência

social, saúde e a previdência social.

A efetivação deste Estado Democrático de Direito depende da manutenção dos direitos

sociais, segundo bem observou Érica Paula Barcha Correia, ao citar Canotilho, “no tocante

aos direitos sociais garantidos constitucionalmente, assevera que todo Estado deve observar o

princípio da proibição de retrocesso social”.14

Enfatiza Hertz Jacinto Costa

“Entre os direitos e garantias fundamentais (Título II, da Constituição Federal), o art. 7º, XXVIII, destina ao trabalhador acidentado o seguro contra acidentes do trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa”.15

O Seguro de Acidentes do Trabalho faz parte da Seguridade Social, que por sua vez,

abrange Previdência Social, Saúde e Assistência Social. O artigo 1º da Lei n.8.212/91

reproduz os princípios constitucionais da Seguridade Social.

Deste modo, a legislação previdenciária deve ser interpretada levando-se em conta,

primordialmente, a Constituição Federal e os princípios constitucionais que norteiam a

Seguridade Social, art. 194 da Constituição Federal de 1988, conforme preconiza José

Antonio Savaris “Ainda, por força da supremacia das normas constitucionais, as demais

espécies normativas devem ser compreendidas de forma a verem-se compatíveis com a

Constituição”.16

No art. 194 da Constituição Federal de 1988, estão elencados os princípios da

Seguridade Social: Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

14CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de Especialização em Direito Previdenciário, Volume 1,

Direito Previdenciário Constitucional. A Reforma Previdenciária e os Direitos Sociais Adquiridos. Editora Juruá, Curitiba, 2008, p.231.

15COSTA, Hertz Jacindo, obra citada. 16Obra citada.

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III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - eqüidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

A Lei 8.213/91, em seu artigo 2º reproduziu a norma constitucional em estudo,

acrescentando ainda que os salários-de-contribuição serão corrigidos monetariamente e o

valor da renda mensal inicial de benefício substituto do salário-de-contribuição ou do

rendimento do trabalho, não poderá ser inferior ao do salário mínimo, em atenção ao princípio

da irredutibilidade do valor dos benefícios.

A proteção à dignidade da pessoa humana é a principal finalidade da Previdência

Social, na medida em que este direito social fundamental somente será atingido se o indivíduo

contar com o mínimo de condições existenciais.

Assim muito bem coloca Marcelo Leonardo Tavares, ao analisar o princípio da

dignidade humana: ”A dignidade pressupõe consideração pela vida e pela integridade do ser

humano, garantias de presença de condições básicas para uma existência na qual se possa

exercer a liberdade e receber respeito como pessoa dotada de razão”.17

Estreitando um pouco mais o presente estudo, podemos dizer que é objetivo do Estado

e da sociedade assegurar ao cidadão que exerce atividade laborativa, e que por fato imprevisto

perde sua capacidade de trabalho, condições mínimas na relação de trabalho, ou garantir seu

sustento e de sua família, temporária ou permanentemente.

1.3.1 Solidariedade Social

Enunciado fundamental da Previdência Social, a solidariedade entre os integrantes da

sociedade impõe a repartição dos frutos do trabalho entre todos os membros, permitindo a

manutenção de sistema de bem-estar coletivo que visa a proteção de todos.

17TAVARES, Marcelo Leonardo. Princípios Constitucionais dos Direitos Fundamentais e o Limite à

Reforma da Previdência Social. Curso de Especialização em direito previdenciário/ Vol. 1/ Daniel machado da Rocha e José Antonio Savaris (coordenadores) Direito Previdenciário Constitucional. Curitiba, Juruá Editora, 2008. P. 207/227.

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Segundo ensinamentos de Daniel Machado da Rocha “a solidariedade previdenciária

legitima-se na idéia de que, além de direitos e liberdades, os indivíduos também têm deveres

para com a comunidade na qual estão inseridos”.18

Desta forma, esclarecem os autores Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista

Lazzari que “a sociedade, como um todo, presta solidariedade a cada um dos indivíduos que

dela necessitem, por meio do sistema de repartição, ou fundo único”.19

Ressalta o autor José Antonio Savaris que o Supremo Tribunal Federal, ao decidir pela

constitucionalidade da instituição de contribuição dos servidores públicos inativos e

pensionistas, nos moldes da Emenda Constitucional 41/03, fundamentou seu entendimento no

princípio da solidariedade social, porquanto reclamaria suas participações no custeio da

Seguridade Social ainda que ausente qualquer contrapartida em termos de benefício.20

1.3.2 Universalidade de Cobertura e Atendimento

Ensinam os autores Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari

Por universalidade da cobertura entende-se que a proteção social deve alcançar todos os eventos cuja reparação seja premente, a fim de manter a subsistência de quem dela necessite. A universalidade de atendimento significa, por seu turno, a entrega das ações, prestações e serviços da seguridade social a todos os que dela necessitem21

Logo, vislumbrada sob o aspecto subjetivo, quer significar este princípio

constitucional que a Previdência Social é acessível a todas as pessoas que trabalham no País.

Esforços são integrados no sentido de inclusão de todos os trabalhadores no sistema de

proteção previdenciária, com mínima contrapartida do indivíduo de baixa renda, mantendo-se

18ROCHA, Daniel Machado da. O Direito Fundamental à Previdência Social na perspectiva dos

Princípios Constitucionais Diretivos do sistema Previdenciário Brasileiro. Porto Alegre. Livraria do Advogado, 2004, p.135

19Obra citada. 20SAVARIS, José Antonio. Uma Teoria da Decisão Judicial da Previdência Social: Contributo para

superação da prática utilitarista. Florianópolis, Conceito Editorial, 2011. p. 183, ao comentar julgamento feito na ADI 3105/DF, j.18.08.2004

21Obra citada,p. 114

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o sistema contributivo, semelhante com o que já ocorre em relação aos segurados especiais,

que não tem salário-de-contribuição e fazem jus a benefícios de valor mínimo.

A EC 47/05 acresceu o § 12º ao artigo 201 da Constituição Federal, nos seguintes

termos:

§ 12. Lei disporá sobre sistema especial de inclusão previdenciária para atender a trabalhadores de baixa renda e àqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda, garantindo-lhes acesso a benefícios de valor igual a um salário-mínimo.

Em análise objetiva, a universalidade tem por desiderato atender a todos os riscos

sociais previstos no Plano de Benefícios mediante uma contribuição única dos trabalhadores.

Para os autores Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Júnior, estamos frente

a uma universalidade mitigada, considerando a previdência social espécie notoriamente

contributiva do gênero seguridade social, sendo necessária a participação econômica do

segurado.22

O trabalhador estrangeiro, que reside em situação regular e exerce atividade

profissional no Brasil, através do princípio em exame pode valer-se do Regime Geral de

Previdência Social para obter prestação previdenciária garantida ao brasileiro, inclusive

prestações por acidentes de trabalho e doenças profissionais, conforme nos ensina Thais

Helena Della Giustina Kliemann,

Têm-se ciência de que o Brasil já realizou convênios com dez países (...)tais convênios possibilitam que um trabalhador migrante de outro país faça uso das contribuições recolhidas no seu país de origem para a obtenção de benefícios oferecidos pelo regime Geral de previdência Social vigente no Brasil, da mesma forma que um trabalhador brasileiro que está no exterior poderá somar ao seu tempo de contribuição as contribuições vertidas perante a previdência brasileira.23

22ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Comentários à lei de benefícios da

previdência social. 9ª edição. Porto Alegre, Livraria do Advogado Editora, Esmafe, 2009, p.35. 23KLIEMANN, Thaís Helena Della Giustina. Breve panorama sobre o regime de previdência social

conferido ao trabalhador estrangeiro Curso Modular de Direito Previdenciário, Volume 02/ Organizadores: Paulo Afonso Brum Vaz; José Antonio Savaris – Florianópolis: Conceito Editorial, 2010, p. 223/251.

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1.3.3 Seletividade e Distributividade das Prestações

A seletividade pressupõe a concessão de benefícios a quem deles necessite, ou ainda,

sob a ótica de José Antonio Savaris “Por força deste princípio, o Estado providenciará a

cobertura dos riscos e o atendimento dos indivíduos na medida especificada pelo legislador.

Pretende este princípio dar um norte à Seguridade Social, identificando as

contingências no campo de aplicação da proteção social, e qual a forma e a intensidade desta

proteção no caso concreto, visando o alcance efetivo da justiça social.

Assim, a Seguridade Social deve apontar os requisitos para a concessão de benefícios

e serviços, conforme a necessidade do beneficiário. A distributividade diz respeito à escolha,

pelo legislador, de prestações e serviços, melhor alcançando os destinatários mais carentes

daquela proteção.

Enfim, José Antonio Savaris abrilhanta este tema ao afirmar que

O princípio da seletividade e distributividade significa mais do que a tarefa parlamentar de identificação das contingências e das hipóteses de vulnerabilidade social que devem ser compreendidas no campo da aplicação da seguridade Social. Ele ‘consagra um critério distintivo para a escolha das prestações previdenciárias disponibilizadas’, qual seja ‘o atendimento distinto e prioritário dos mais carentes’ para ‘distribuição de renda em busca da efetiva justiça social’.24

Como exemplos de proteção seletiva na Seguridade Social, José Antonio Savaris nos

traz benefício assistencial ao carente, art. 203 inciso V da Contituição Federal de 1988,

salário-família ao trabalhador de baixa renda e do auxílio-reclusão a dependente de baixa

renda, art. 201, inciso IV da Constituição Federal de 1988. “Esta proteção é restrita ao grupo

de pessoas insuficientemente protegidas pela atuação geral da Seguridade Social. Isso implica

não apenas segurança social para dignidade, mas segurança social como sistema de

transferências de renda”.25

1.3.4 Uniformidade e equivalência de benefícios às populações urbana e rural

24SAVARIS, Jose Antonio. . Uma Teoria da Decisão Judicial da Previdência Social: Contributo para

superação da prática utilitarista. Florianópolis, Conceito Editorial, 2011. p. 326. 25Idem, p. 239

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A uniformidade inspira a igualdade de acesso às prestações da Seguridade Social, de

modo a garantir benefícios e serviços de forma uniforme e equivalentes às populações urbana

e rural. Há então, tratamento legal diferenciado entre os trabalhadores e aqueles que não

exercem atividade remunerada.

O artigo 143 da Lei 8.213/91 deixa expressa a concessão de aposentadoria por idade,

no valor de um salário mínimo, a todos os trabalhadores rurais, independentemente de

contribuição, até o ano de 2006.

Segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, a comunicação dos períodos de

trabalho urbano e rural “revela-se claramente vinculada aos princípios da uniformidade e da

equivalência entre os benefícios às populações urbanas e rurais resultantes do mandamento

constante do parágrafo único do art. 194 da Constituição” não devendo ser condicionada ao

recolhimento de contribuições previdenciárias.26

Assim, a proteção social deve ser aplicada de modo igual, levando-se em conta as

particularidades de grau de inserção social dos indivíduos e proteção social que herdaram.

Enfim, podemos dizer que existe identidade de benefícios e serviços (uniformidade),

para os mesmos eventos cobertos pelo sistema (equivalência), podendo haver diferenciação de

valores de benefícios, conforme reclama a condição do beneficiário.

Cumpre anotar ainda, como exemplos, certas distinções realizadas pelo legislador, em

favor aos trabalhadores rurais, levando em consideração as peculiaridades do campo e justiça

social: a) os trabalhadores rurais desfrutam de uma redução de cinco anos para o deferimento

da aposentadoria por idade (§ 1º do art. 48 da Lei 8.213/91) e b) o aproveitamento do tempo

rural laborado até o advento dos Planos de Benefício e de Custeio, sem o recolhimento de

contribuições, para todos os efeitos, exceto para carência (§ 2º do art. 55 da Lei 8.213/91).

Eqüidade na forma de participação no custeio e Diversidade da base de Financiamento

da Seguridade Social, art. 195 da CF/88.

A responsabilidade pela manutenção financeira da Seguridade Social é compartilhada

entre Estado e toda a sociedade, constituindo caixa único, de modo que é possível

individualizar o contribuinte, mas não há como vincular cada contribuição a cada beneficiário.

Paulo Márcio Cruz, ao citar Marcelo Leonardo Tavares, sobre o tema eqüidade na

forma de participação no custeio, nos ensina que 26Jurisprudência extraída da obra: SAVARIS, José Antonio. Curso de Especialização em Direito

Previdenciário, Volume 1, Direito Previdenciário Constitucional.Traços Elementares do Sistema Constitucional de Seguridade Social. Editora Juruá, Curitiba, 2008. p.145, nota de rodapé.

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A eqüidade na forma de participação no custeio é decorrência do princípio geral da isonomia. Não significa que todos os contribuintes do sistema de seguridade pagarão tributo da mesma forma, mas sim, que deve haver igualdade de cobrança quando os financiadores não têm a mesma capacidade de pagamento que as empresas, estas últimas devem ser oneradas de forma mais grave. E, mesmo dentro de cada um dos subsistemas de contribuintes, poderá haver reconhecimento jurídico de diversidade fática, com a estipulação de carga tributária variada27

José Antonio Savaris traduz que este princípio

Constitui expressão da igualdade na concorrência com os gastos públicos” na medida em que “leva em consideração a capacidade de prestar solidariedade (superioridade ou inferioridade econômica) e, também a probabilidade de a atividade produzida gerar riscos de subsistência”. E ainda, ressalta o autor “A lógica da contribuição acentuada pelos setores cujos trabalhadores são mais expostos aos riscos sociais e, em conseqüência, à dependência das prestações da Seguridade Social é refletida já nas previsões constitucionais de contribuição adicional no caso de geração destacada de desemprego (CF/88, art. 239, § 4º) e de possibilidade de imposição de alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva da mão-de-obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho (art. 201, §9º, na redação emprestada pela EC 47/05).28

No campo acidentário, este princípio de eqüidade na forma de participação e custeio é

aplicado na quantificação da Contribuição Social ao Seguro Acidentes do Trabalho – SAT,

fixada de acordo com o grau do risco de acidente de trabalho da atividade preponderante (Lei 8.212/91, art. 22, II), e também no acréscimo percentual desta contribuição quando a atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa permita a concessão da aposentadoria especial (Lei 8.213/91, art. 57, § 6º).29

1.3.5 Irredutibilidade do valor dos benefícios

27CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos Históricos, Políticos e Jurídicos da Seguridade Social, p.84.

Curso de Especialização em Direito Previdenciário, Volume 1, Direito Previdenciário Constitucional..Coordenadores Daniel Machado da Rocha e José Antonio Savaris. Editora Juruá, Curitiba, 2008

28SAVARIS, José Antonio. Curso de Especialização em Direito Previdenciário, Volume 1, Direito Previdenciário Constitucional.Traços Elementares do Sistema Constitucional de Seguridade Social. Editora Juruá, Curitiba, 2008. p.146/147.

29Idem , obra citada acima.

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A integridade dos benefícios que substituem os rendimentos do indivíduo se presta à

defesa do direito adquirido, ou seja, de um lado “traduz a impossibilidade de redução da

expressão nominal do valor dos benefícios. De outro, por obséquio ao sistema, reconduz-se à

garantia de preservação do valor real das prestações da Seguridade Social”.30

Enfim, a irredutibilidade é a garantia da existência do benefício, de modo que a

Constituição Federal previu a preservação do real valor dos benefícios, art. 201, § 4º CF/88 e

o legislador ordinário estabeleceu o reajustamento anual dos benefícios de acordo com

percentuais fixados pelo Poder Executivo.

1.4 FONTE DE CUSTEIO E ESTABELECIMENTO DE RESERVA PREVIDENCIÁRIA,

ART. 167, XI DA CF/88

O orçamento da Seguridade Social tem receita própria e não se confunde com a receita

tributária federal, e segundo ensinamentos dos autores Carlos Alberto Pereira e João Batista

Lazzari,

O financiamento da Seguridade Social é previsto no art. 195 da Constituição Federal como um dever imposto a toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de contribuições sociais.31.

Ainda, ao falar sobre orçamento diferenciado previsto nos artigos 165, §5º, inciso III e

art. 195, §§ 1º e 2º da Constituição Federal, os mesmos autores afirmam “O legislador

constituinte originário pretendeu, com tal medida, evitar que houvesse sangria de recursos da

Seguridade para despesas públicas que não as pertencentes às suas áreas de atuação.”32

Portanto, consoante previsão da legislação ordinária, a Seguridade Social é alimentada

através de diversas fontes de custeio nos moldes do art. 10 da Lei 8.212/91, que não só a folha

de pagamento dos trabalhadores, mas todo o conjunto de contribuições sociais, na forma do

art. 195 incisos I, II, III e IV da Constituição Federal de 1988:

30Idem, p. 155. 31Obra citada, p. 251. 32Obra citada, p.116

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Art. 10. A Seguridade Social será financiada por toda sociedade, de forma direta e indireta, nos termos do art. 195 da Constituição Federal e desta Lei, mediante recursos provenientes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de contribuições sociais.

Enfatizam os autores Carlos Alberto Pereira e João Batista Lazzari, ao discorrer sobre

o sistema contributivo, no qual se baseia o modelo de financiamento da Seguridade Social:

“Na relação de custeio da Seguridade Social, aplica-se o princípio de que todos que compõem

a sociedade devem colaborar para a cobertura dos riscos provenientes da perda ou redução da

capacidade de trabalho ou dos meios de subsistência.”33

Marina Vasques Duarte esclarece que

pelo sistema da repartição, o volume das quantias arrecadadas em cada período servirá para o custeio das prestações que devidas forem no mesmo período (...)No sistema atual brasileiro prevalece o da repartição e não o da capitalização, decorrência da adoção do princípio da solidariedade (...)Portanto, o trabalhador financia não a sua Previdência, mas a Seguridade Social como um todo, que compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à Saúde, à Assistência Social e à Previdência.34

Acrescenta, ainda Marina Vasques Duarte, que em relação ao destino dos recursos da

Seguridade Social,

a Constituição estabelece que a receita da Seguridade Social constará de orçamento próprio, distinto daquele previsto para a União Federal (art. 165, § 5º, III; art. 195, §§ 1º e 2º), sendo vedada a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I “a” (folha de salários), e II (dos trabalhadores e demais segurados da previdência social), para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do RGPS (art. 167, XI, da CF acrescentado pela EC 20/98).35

Trata-se do princípio da afetação aquele previsto no artigo 167, inciso XI da

Constituição Federal, pois veda a utilização dos recursos provenientes das contribuições

33Obra citada, p. 254 34DUARTE, Marina Vasques. Direito Previdenciário. Porto Alegre. Editora Verbo Jurídico, 6ª edição,

2008, p.35/36. 35DUARTE, Marina Vasques. Direito Previdenciário. Porto Alegre. Editora Verbo Jurídico, 6ª edição,

2008, p.29

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sociais previstas no art. 195 inciso I “a”, e inciso II da CF para a realização de despesas

distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social. Vale dizer que as

contribuições sociais aludidas se referem, respectivamente, a contribuição do empregador

sobre a folha de salários, bem como, a do trabalhador e dos demais segurados da previdência

social.

Repisamos que não existe orçamento da Previdência Social, mas sim da Seguridade

Social, de modo que, nada impede que este concorra com recursos para aquele. Por outro giro,

para a Previdência Social não são vertidas apenas as contribuições sociais referidas no art.

195, I ”a” e II da Constituição.

1.4.1 Cobertura: Destinatários da Prestação Infortunística

No artigo 19 da Lei n. 8.213/91 retiramos quem são os segurados que têm direito à

proteção acidentária, ou seja, somente os empregados (inclusive temporários), trabalhadores

avulsos e os segurados especiais.

Insta lembrar que mesmo aqueles trabalhadores sem vínculo empregatício formal, mas

que estavam a serviço de uma empresa, que restaram machucados durante o período em que

estavam trabalhando e em razão destas atividades, podem pleitear benefício acidentário. O

fato gerador, ou seja, o evento causador da moléstia deve necessariamente originar-se no

trabalho e em razão deste.

1.4.2 Os excluídos da Prestação Acidentária

Em sendo assim, excluídos da proteção infortunística são os empregados domésticos,

lembrando que para estes não há fonte de custeio nem por parte do empregador doméstico,

quanto do empregado. São segurados obrigatórios da Previdência Social, mas não têm direito

ao Seguro Acidentes do Trabalho.

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De igual modo, os autônomos, ou seja, os trabalhadores que prestam serviços de

natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação

empregatícia, ficam sem a cobertura de acidentes do trabalho.

Também não gozam dos benefícios acidentários os empresários e os facultativos, além

dos dependentes destes segurados.

Enfim, não são contemplados pelo seguro da infortunística os funcionários públicos,

eis que possuem regime previdenciário próprio.

2 ESTUDO DE CASOS PRÁTICOS

2.1 QUESTÕES PROCESSUAIS NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO ACIDENTÁRIO

Estado Social, Estado de Bem-Estar Social ou Estado Contemporâneo Democrático,

“entendido como aquele que intervém na sociedade para garantir oportunidades iguais a seus

cidadãos nos âmbitos econômico, social e cultural”36, com a promoção de valores coletivos,

foi informado pelas idéias e ações do Socialismo, admitindo como sua principal função a

social. Como também é Estado Democrático de Direito, “intervém nos domínios econômico,

social e cultural, obedecidos os parâmetros mínimos de cidadania política, justiça,

representatividade, legalidade e legitimidade”37.

O Estado Contemporâneo nasceu das diversas mudanças sociais, ligadas aos direitos

do proletariado, ou seja, forças sindicais, miséria e crise do princípio da responsabilidade

compartilhada entre o trabalhador e a empresa, nas questões de acidentes do trabalho, tendo

seu aspecto democrático informado pela Constituição alemã de Weimar.

O Estado de Bem-Estar proporcionou nova dimensão à Democracia, a partir do

reconhecimento de um conjunto de direitos sociais. Passou, então o Estado, através dos

poderes públicos, a prestar serviços diretamente à população, nas áreas da educação,

habitação e seguridade social, abrangendo a saúde, a assistência social e a previdência social.

36CRUZ, Paulo Márcio, artigo científico “Fundamentos Históricos, Políticos e Jurídicos da Seguridade

Social”, na obra “CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PREVIDENCIÁRIO”, Volume I- Direito Previdenciário Constitucional, Editora Juruá, 1. Ed., 4ª tiragem, 2008.

37Idem ibidem.

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Bobbio aponta como característica comum a todos os países que adotam o Estado de

Bem-Estar, ”o aumento progressivo e acumulativo de cota do Produto Interno Bruto destinado

à despesa pública; as estruturas administrativas voltadas para os serviços sociais tornaram-se

mais vastas e complexas”38. Em contrapartida, ocorreu aumento da carga tributária,

permanecendo tolerável pelas elites até o final da década de 1980, quando se extinguiu a

União Soviética, e de conseqüência, a ameaça do comunismo. Surge, então movimento

Neoliberalismo.

Todo o histórico acima serve de pano de fundo para esclarecer comportamento do

Estado Democrático Contemporâneo, frente às políticas sociais, ou seja, a inclusão na

Constituição de previsões de regulação estatal das relações contratuais e de comandos aos

poderes públicos para que passem a prover ou financiar uma série de prestações de serviços,

em geral, públicos e gratuitos aos cidadãos.

Reflexo deste quadro são as alterações substanciais do direito material previdenciário,

diante das modificações introduzidas na Constituição Federal de 1988, principalmente pelas

Emendas Constitucionais 20/98 e 41/03. A transformação constitucional no sistema de

seguridade social vigente no país demanda ao operador do direito previdenciário

conhecimento destas modificações para melhor técnica.

2.2 QUESTÕES PROCESSUAIS ENVOLVENDO A INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO

PÚBLICO

Segundo ensinamentos de Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari39

A ação estatal se justifica a partir da constatação de que as relações de trabalho estabelecem, em regra, cláusulas para vigorarem enquanto o trabalhador as pode executar. A ausência de previsão para a hipótese de impossibilidade de execução dos serviços pelo obreiro, em face de sua incapacidade laborativa – temporária ou permanente -, acarreta a este a possibilidade, sempre presente, de vir a ser colocado à margem da sociedade, como um ser não-útil e, por esta razão, ignorado pelos detentores dos meios de produção, sem direito a qualquer restituição por parte daquele que empregava a sua mão-de-obra.

38BOBBIO, Norberto et allii. Dicionário de política, 6ªed., trad.Carmen C.Varrialle, Gaetano Lo

Mônaco, João Ferreira e Luiz Guerreiro Pinto Cascais, p.417. Brasília: UnB, 1994. 39CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário,

Conceito Editorial, 13. Ed., 2011, p.49.

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Surge então imperativo de preservar a dignidade da pessoa humana aliada a um regime

previdenciário isonômico para todos os trabalhadores. Os Direitos Sociais são inclusos nos

Direitos Fundamentais, de tal forma que vigora atualmente a teoria do risco social, ou seja, é

da sociedade a responsabilidade objetiva pelo sustento do trabalhador vitimado por

incapacidade laborativa, porquanto toda a coletividade deve prestar solidariedade aos

desafortunados.

A Previdência Social, como uma das atuações da Seguridade Social, está sujeita, na

visão de Marina Vasques Duarte40, aos seguintes princípios:

a:) filiação obrigatória; b) caráter contributivo;c) equilíbrio financeiro e atuarial;d) garantia do benefício mínimo;e) correção monetária dos salários-de-contribuição; f) preservação do valor real dos benefícios; g) princípio da comutividade; h) previdência complementar facultativa; i) indisponibilidade dos direitos dos beneficiários.

Vislumbra-se neste último princípio assinalado, que os benefícios previdenciários têm

caráter alimentar, e como tal são inalienáveis, impenhoráveis e imprescritíveis.Destacamos

que o bem jurídico previdenciário é relativamente indisponível, na visão do professor Doutor

José Antonio Savaris41:

Se o bem jurídico previdenciário é inalienável, imprescritível e irrenunciável (o caráter irrenunciável não se confundindo com a dispensabilidade temporária pelo indivíduo de entrar em gozo do benefício), afigura-se o caráter relativamente indisponível de uma prestação previdenciária. O espaço de disponibilidade tem como referência a esfera de conveniência do beneficiário (se e quando requerer o benefício, por exemplo) ou a melhor defesa possível do próprio direito (quando se compõe a lide amigavelmente no objetivo de mensurá-lo economicamente ou, para alguns, quando se busca seu desfazimento com o objetivo de receber um grau maior de proteção previdenciária). O indivíduo pode abdicar do gozo de uma prestação previdenciária, mas não do direito, o qual se incorpora definitivamente ao seu patrimônio jurídico

A Constituição Federal de 1988 prevê a saúde como um direito fundamental em seus

artigos 6º e 196 a 200, buscando disciplinar de maneira mais progressiva a saúde do

40DUARTE, Marina Vasques, Direito Previdenciário, Editora Verbo Jurídico, 6. Ed., 2008, p.30/31. 41SAVARIS, José Antonio. Direito Processual Previdenciário, 2. Ed., Editora Juruá, 2009, p. 93, nota de

rodapé.

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trabalhador. O art. 7º, inc, XXVIII garante ao trabalhador seguro contra acidentes do trabalho,

a cargo do empregador, não excluindo a indenização a que este se obriga, com caso de dolo

ou culpa. Neste sentido:

Assim, o Estado tem o dever de editar normas de saúde, higiene e segurança a fim de reduzir os riscos inerentes ao trabalho, e os empregadores, a obrigação de cumprir estas normas, além, é claro, de contratar seguro contra acidentes do trabalho em favor de seus empregados. Tem ainda, o Estado a obrigação de proteger o meio ambiente geral e o empregador a obrigação de proteção ao meio ambiente do trabalho (CF, art. 200, inc.VIII, c.c. art. 225), buscando sempre uma boa qualidade de vida para o trabalhador.42

Então, sob o espeque de direito fundamental, a saúde do trabalhador não deve ficar

alheia ao Ministério Público, que possui função institucional de zelar pelo respeito aos

direitos fundamentais garantidos constitucionalmente, principalmente porque a dignidade da

pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil e do Estado

Democrático de Direito. Assim define nossa Constituição Federal:

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Ainda, no artigo 129 da Carta Magna, encontramos

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...) II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros ''interesses difusos e coletivos;

Nesse passo, a intervenção ministerial é importante na medida em que o Promotor de

Justiça funciona no processo previdenciário, na qualidade de custos legis a fim de resguardar

42RIBEIRO, Juliana de Oliveira Xavier. Auxílio-Doença Acidentário, Editora Juruá, 1. Ed., 2008, p. 23.

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efetividade aos serviços de relevância pública, por outras palavras, a seguridade social, em

sua modalidade previdência social. Além disso, na esfera da Justiça Trabalhista, fiscaliza e

age para resguardar o meio ambiente do trabalho nos contornos constitucionais.

Nos dizeres do eminente Doutor José Antônio Savaris43:

O conteúdo de um processo judicial previdenciário se refere a um bem da vida presumivelmente indispensável para a subsistência digna do indivíduo, o que carrega uma nota de urgência e eleva a importância de uma solução justa ao processo. Além disso, a pessoa que busca judicialmente um benefício previdenciário, está supostamente destituída de valores necessários à sua manutenção, presumindo-se a sua hipossuficiência, o que implica dificuldades para a efetiva participação processual e também acrescenta uma nota de urgência ao processo.

A relevância social e natureza alimentar, inerentes ao direito previdenciário, são os

pilares indiscutíveis que reclamam a participação efetiva do Ministério Público no processo

previdenciário acidentário.

Sem olvidar da hipossuficiência dos trabalhadores, cumpre ao Promotor de Justiça

zelar pela rápida e efetiva observância do devido processo legal, a caminho da solução justa,

com ênfase no princípio in dubio pro misero. O rito sumário implica em maior celeridade ao

feito, cabendo ao Perito Judicial importante papel para o deslinde da questão. O órgão do

Ministério Público pode e deve produzir provas em busca da verdade real.

Ao ensinar acerca dos contornos do processo previdenciário, com brilhantismo, o

professor Doutor José Antonio Savaris44 enfatiza que

o autor da demanda presume-se hipossuficiente e destituído, total ou parcialmente, de meios necessários à sua subsistência. Esses recursos de natureza alimentar são pressupostos para o exercício da liberdade real do indivíduo e indispensáveis á afirmação de dignidade humana. Temos, portanto, alguém presumivelmente hipossuficiente na busca de um bem da vida de superior dignidade e com potencialidade para colocar um fim no seu estado de privação de bem-estar e destituição. No pólo passivo da demanda, tem-se a entidade administradora do Regime Geral da Previdência Social, com os privilégios processuais da Fazenda Pública – exceção feita aos processos que tramitam perante os juizados especiais federais (Lei 10.259/01, art. 9º) – e com as dificuldades já notórias no que diz respeito ao atendimento de seus beneficiários na esfera administrativa e cumprimento das determinações judiciais.

43SAVARIS, José Antônio (Coord.). Curso de Perícia Judicial Previdenciária; artigo “Noções Jurídicas

Fundamentais sobre os Benefícios Previdenciários por Incapacidade”. Conceito Editorial, 2011, p.24 44SAVARIS, José Antonio. Direito Processual Previdenciário, 2. Ed., Editora Juruá, 2009, p. 65.

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25

Conclui-se então, pelo seu caráter diferenciado e sujeitos que participam da lide

previdenciária, há efetiva necessidade da intervenção ministerial, eis que “todo o interesse

social que fundamenta a organização de um sistema solidário de proteção social desdobra-se

na exigência de que, administrativamente ou em juízo, se realize a mais adequada cobertura

previdenciária”45.

A participação do Ministério Público no processo previdenciário contribui para a

busca da verdade real, na medida em que pode requerer e produzir provas, salientando que

Melhor é que se busque a verdade real do que tenha de se valer da coisa julgada previdenciária (com a não-preclusão do direito previdenciário). Também é melhor o processo conduzido com segurança – manifestando cognição digna de ser chamada plena e exauriente – e célere quanto possível, do que o processo que celeramente chega ao final para não julgar o mérito por falta de prova material46.

Deste modo, o Promotor de Justiça deve, ente outras medidas dentro do processo,

requerer a expedição de ofício ao empregador último, para que esclareça sobre o acidente de

trabalho noticiado, bem como quanto ao contrato de trabalho havido entre a empresa e o autor

da ação; deve ainda pugnar pela intimação da Autarquia Federal, para que junte aos autos

cópia do procedimento administrativo de concessão de benefício, em sendo o caso.

Tais providências podem trazer aos autos tanto informações importantes por parte do

empregador, como por exemplo, gesto profissional, horário de trabalho, carga biomecânica

suportada pelo trabalhador, quanto matérias não controvertidas junto à Administração Pública

representada pelo órgão previdenciário, como por exemplo, em caso de pedido de

restabelecimento de benefício, se o fato gerador de benefício cessado foi considerado de

origem ocupacional pelo INSS no processo administrativo, têm-se que o nexo causal não mais

se discute, e somente cabe ao perito judicial avaliar incapacidade do autor.

Relevante é, também, a formulação de quesitos pelo Promotor de Justiça destinado ao

Perito Judicial nomeado, além de pedidos de esclarecimentos ao laudo, na forma de

complementação da perícia, visando extrair a realidade fática, pois

45Idem, ibidem, p.85. 46Idem, ibidem, p. 94

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Nos processos judiciais de benefícios por incapacidade, o juiz apóia as suas decisões, via de regra, em um laudo médico. É verdade que o magistrado não está vinculado à prova pericial, mesmo porque continua sendo ele, o juiz, o agente responsável pela avaliação de todas as provas judiciais, interpretação das questões de direito e entrega da decisão final. Mas é inegável que a prova pericial, nos processos relacionados a benefícios por incapacidade, pode ser considerada ‘uma prova decisiva’47.

Enfim, o órgão do Ministério Público atua nas ações previdenciárias acidentárias, na

condição de fiscal da lei, nos moldes do artigo 82, inc.III do Código de Processo Civil, no

interesse público, de que são manifestações o interesse social e o individual indisponíveis.

Assim já se decidiu:

Em se tratando de ação versando sobre acidente de trabalho, o Ministério Público tem legitimidade para atuar no processo como fiscal da lei, de vez que se trata de procedimento onde há o interesse social a ser observado” (Agravo de Instrumento nº 2002.000163-6, 2ª Câm.Cív, Manaus-AM, Rel.Des.Manoel Glacimar Mello Damasceno, pub. 06/11/2002).

A Súmula 226 do STJ dispõe que “O Ministério Público tem legitimidade para

recorrer na ação de acidente de trabalho ainda que o segurado esteja assistido por advogado”,

evidente é o interesse social, incidente sobre a infortunística, que dá legitimidade para

integração do Ministério Público.

A não intimação do Ministério Público é causa de nulidade absoluta em processos de

natureza previdenciária acidentária, porque afronta a determinação dada à Instituição de

defesa do interesse social, nos termos do art. 127 caput e art. 129, II da Constituição Federal.

Neste sentido Apelação Cível nº 0000007-83.1985.8.19.0043, oriunda da Vara Única

da comarca de Piraí-RJ, 7ª Câm.Cív.Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Rel.Des.Ricardo

Couto de Castro, pub. 16/03/2010; também Apelação Cível nº 442567-8, da vara única da

Comarca de Clevelândia-PR, 6ª Câm.Cív.do TJPR, Rel.Des.Renato Braga Bettega, sessão

realizada em 18/3/2008.

47SAVARIS, José Antonio (Coord). Curso de Perícia Judicial Previdenciária. Artigo: Noções Jurídicas

fundamentais sobre os benefícios previdenciários por incapacidade, José Antonio Savaris; Conceito Editorial, 2011,p.08/09.

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27

2.3 REVISÃO DE BENEFÍCIOS ACIDENTÁRIOS

Consolidado posicionamento no Superior Tribunal de Justiça prevê que as alterações

na Lei Previdenciária não podem retroagir para alcançar fatos anteriores a ela, em face do

princípio “tempus regit actum” (STJ – AGRG REsp. 419601/SC; REsp. 512151/SP; REsp.

2003/14843-3). Com efeito, a doutrina sempre albergou a tese de que o ato é regido pela lei

do tempo.

A presente questão envolve reflexões quanto ao ato jurídico perfeito e direito

adquirido. O direito adquirido é um direito individual e fundamental alcançado

constitucionalmente. É encontrado no art. 5º, XXXVI da Constituição Federal48, bem como na

Lei de Introdução ao Código Civil, em seu art. 6º, § 2º49.

A tutela estabelecida pelo artigo 5º, XXXVI, da Constituição do Brasil, segundo

brilhante exposição apresentada pelo Ministro Eros Grau,50

colhe situações que se manifestam em três planos: o da existência, o da validade e o da eficácia. Ao cuidar do ato jurídico perfeito, o preceito constitucional está a referir situações existentes e válidas (mesmo que ainda não eficazes) - exemplificando: o testamento formalizado no regime da lei anterior, enquanto vivo o testador, e, de forma geral, os negócios jurídicos sujeitos a condição suspensiva. Nesses casos, verificados os pressupostos da existência e os elementos da validade, as situações mantêm-se íntegras, a salvo de eventuais modificações, no direito positivo, que incidam sobre tais pressupostos e elementos. Não se trata então de direito adquirido, mas de ato jurídico perfeito - os contemplados pelo testamento feito no regime da lei anterior (enquanto vivo o testador), ou os contratantes que se vincularam sob condição suspensiva (enquanto esta não se verifica), não são titulares de “direito adquirido”. Resulta nítida, destarte, a distinção entre ‘direito adquirido’ e ‘ato jurídico perfeito’, o que evita a confusão entre ambos, quando o primeiro é submetido ao segundo e vice-versa. Pois é certo existir ‘direito adquirido’ que não se funda em ato jurídico perfeito (os direitos do nascituro, v.g.) e ‘ato jurídico perfeito’ que não implica em ‘direito adquirido’ (justamente os negócios sujeitos a condição suspensiva e o testamento, em ambos os casos, enquanto, respectivamente, não verificada a condição, ou vivo o testador).

Visto sob esta luz, é necessário diferenciar o momento da aquisição do direito e o

momento da fruição do benefício que o direito reconhecido lhe concedeu. Os efeitos 48“A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. 49“ Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém que por ele possa exercer,

como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem”.

50em voto proferido na ADI 3.105 e reiterado no REsp 415.454-4/SC, diferenciando ato jurídico perfeito e direito adquirido

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decorrentes do direito é que se impõe preservar, de modo que, ”dependem da lei que vige no

momento em que o direito ingressa no plano da existência ou que se verifica determinada

condição ou termo”51.

Vale reproduzir aqui conclusão da Advogada e Especialista em Direito Previdenciário

Geni Koskur, ao discorrer sobre esta matéria, como colaboradora, no artigo “Fundamentos do

Direito Adquirido e sua Aplicabilidade no Direito Previdenciário”:

Para Ferrara, a teoria aceitável é ‘a do respeito dos fatos realizados (Del rispetto dei

fatti compiuti), mas rigorosamente formulada, sem restrições nem adições ou

aperfeiçoamentos. Trata-se de uma regra única e precisa, que pode formular-se assim: temus

regit factum’. Sustenta que todo fato jurídico, seja acontecimento casual ou ato jurídico, é

regulado, tanto nas suas condições de forma e substância, quanto nos seus efeitos – passados,

presentes e futuros – pela lei do tempo em que foi juridicamente realizado, salvo se a lei nova

quis, em medida mais ou menos larga, excluir a eficácia do antigo ordenamento jurídico. (...)

Diante dos questionamentos acerca do conflito das leis no tempo, da irretroatividade

das leis surge a necessidade de refletir sobre o direito adquirido quanto a sua norma

reguladora.

Tem-se que a lei geradora do direito adquirido é a lei vigente ao tempo em que ocorreu

o fato: ‘tempus regit factum’, quanto aos seus efeitos – passados, presentes e futuros; pela lei

do tempo em que foi juridicamente realizado52.

No que tange à aplicação das normas de Direito Previdenciário, ensinam os autores

Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari53

Na aplicação das normas que envolvem a relação de seguro social – que tratam tanto da filiação ao sistema, como de concessão, manutenção e irredutibilidade de benefícios, deve-se recordar, sempre, que se trata de direito fundamental, logo, de largo espectro, interpretando-se na busca dos fins sociais da norma (art. 6º da Lei de Introdução ao Código Civil), ante sua indelével característica protecionista do indivíduo, com vistas à efetividade de seus Direitos Sociais.

51Voto do Ministro Eros Grau no REsp 415.454/4/SC 52DARTORA, Cleci Maria; FOLMANN, Mellissa (Coord.). Direito Previdenciário – Temas Atuais.

Editora Juruá, 2006.”, p.203/229. 53CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário,

Conceito Editorial, 2011, 13. Ed., p.99/101

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Ao tecer comentários acerca da antinomia entre normas, a começar pela comparação

entre normas de espécies distintas, lembram os renomados autores que “a norma

constitucional se sobrepõe à norma legal, ou ato administrativo (...)as regras

infraconstitucionais que se caracterizem como normas ‘mais favoráveis’ para o indivíduo

integrante do regime devem ser consideradas válidas”54.

Porém, quando divergentes as normas da mesma espécie, postadas no ordenamento

jurídico em tempo distinto, esclarecem que prevalece a norma posterior. Contudo, quando se

confrontam tais regras, soluciona-se pelo princípio da especialidade.

Enfim, quando há confronto entre normas principiológicas ou constitucionais,

entende-se que há colisão e a solução que deve ser dada, segundo os doutos ensinamentos

colhidos, é a ponderação entre os princípios em cada caso concreto.

Traçados estes pontos, passamos a discorrer acerca de revisões de benefícios mais

comuns no judiciário.

2.3.1 Revisão de benefícios de aposentadoria por invalidez acidentária precedida de auxílio-doença acidentário

No cálculo da renda mensal inicial de benefício por incapacidade, o artigo 29, § 5º da

Lei 8.213/91 prevê que se o trabalhador, no período básico de cálculo, percebeu benefício por

incapacidade, a duração deste será contada, ou seja, o valor do salário-de-benefício deste

servirá de salário-de-contribuição para o cálculo do salário-de-beneficio daquele.

Contudo, atualmente nossos tribunais têm interpretado que a norma acima somente

será aplicada quando houver períodos intercalados de percebimento de benefício e efetivo

trabalho do obreiro.

Com efeito, o Supremo Tribunal Federal em 12/06/2008, decidiu pela existência de

Repercussão Geral na matéria em comento. No Recurso Extraordinário nº 583.834-0 de Santa

Catarina assim restou decidido:

CONSTITUCIONAL. PREVIDENCIÁRIO. FIXAÇÃO DA RENDA MENSAL INICIAL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PRECEDIDA DE AUXÍLIO-DOENÇA. APURAÇÃO DO SALÁRIO-DE-BENEFÍCIO. ART. 29 DA LEI Nº

54Idem, ibidem

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8.213/91, COM A REDAÇÃO CONFERIDA PELA LEI Nº 9.876/99. APLICAÇÃO A BENEFÍCIOS CONCEDIDOS ANTES DA RESPECTIVA VIGÊNCIA (29.11.1999). PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL. Tem repercussão geral a questão constitucional atinente à aplicação da nova redação do art. 29 da Lei nº 8.213/91, conferida pela Lei nº 9.876/99, a benefícios concedidos antes da respectiva vigência (29.11.1999).

Deste modo, houve determinação de sobrestamento de todos os processos nos quais o

recurso foi interposto antes da regulamentação da repercussão e determinação de baixa à

origem dos demais. Ainda não há decisão vinculante sobre o tema debatido, de modo que em

primeira instância é possível o julgamento do caso.

Entende-se que o artigo em estudo é de ser aplicado, bastando singela leitura do texto

de lei para verificar que não há restrições à sua aplicabilidade como, por exemplo, ter que

haver período intercalado de trabalho entre dois benefícios, ressaltando ainda, não há na Lei

nº 8.213/91 benefício com o nome “conversão de benefício”. Os benefícios previstos na

legislação especial no tocante aos acidentários são: auxílio-doença, auxílio-acidente,

aposentadoria por invalidez e pensão por morte. Cada benefício deve ter o seu cálculo nos

moldes do artigo 29 da Lei de Benefícios.

Momento algum a Lei nº 8.213/91 prevê ser uma “espécie” diferente de benefício

aquele que tenha sido precedido de outro benefício.

Mas ao contrário, a letra da lei é clara o suficiente para determinar que se no período

básico de cálculo (todo o período contributivo, termo inicial desde julho de 1994 se filiado ao

sistema antes de 28/11/1999, quando em vigor Lei 9.876/99, observando-se data de

afastamento da atividade) o segurado tiver recebido benefício por incapacidade, sua duração

será contada, considerando-se como salário-de-contribuição (aqui leia-se: valor que é

recolhido ao INSS pelo empregador a título de contribuição do empregado), no período, o

salário-de-benefício (aqui leia-se: média aritmética simples de 80% dos maiores salários-de-

contribuição de todo o período contributivo) que serviu de base para o cálculo da renda

mensal, reajustado nas mesmas épocas e bases que os benefícios em geral, não podendo ser

inferior a um salário mínimo.

Cita-se um exemplo: o trabalhador que se machucou no exercício laboral, e ficou

afastado recebendo benefício acidentário não pode ser prejudicado pelo percebimento deste

benefício, ou seja, se ele recebeu auxílio-doença acidentário, houve cálculo da renda mensal

inicial correspondente a 91% do salário-de-benefício.

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O INSS entende que se este trabalhador tiver em seu favor concedido benefício

posterior, de aposentadoria por invalidez acidentária, pelo mesmo fato gerador, aplicará o

percentual de 100% sobre aquele valor acima de salário-de-benefício (80% de todo o período

contributivo até o afastamento da atividade por auxílio-doença), ou seja, mesmo período

básico de cálculo utilizado para chegar à renda mensal inicial do benefício de auxílio-doença

acidentário (que restou em 91% do salário-de-benefício) para chegar ao valor da renda mensal

inicial do novo benefício. Desconsidera o administrador o período quando afastado o obreiro,

percebendo auxílio-doença, como período contributivo.

Porém se o trabalhador tivesse se machucado mais seriamente, e desde o início do seu

afastamento recebesse o benefício aposentadoria por invalidez acidentária, teria em seu favor,

calculado 100% sobre o salário-de-benefício atual (80% de todo o período contributivo até o

afastamento da atividade) e portanto esta renda mensal inicial original seria maior, se

comparada com a renda mensal inicial calculada nos casos em que o trabalhador tenha

recebido benefício anterior.

É um contrassenso tal medida (não contar o salário-de-benefício do benefício anterior

como salário-de-contribuição, no cálculo do novo benefício), pois a intenção do legislador era

exatamente contornar este problema inserindo o § 5º do art. 29 da Lei nº 8.213/91 com

redação dada pela Lei 9.876/99. Não se trata de letra morta. Está vigente e é aplicável sem

restrições ao trabalhador acidentado.

A Autarquia Federal, em suas defesas nos processos em se discute tal matéria, afirma

que no período em que o trabalhador está afastado do serviço laboral, recebendo benefício por

incapacidade, não há contribuição recolhida em favor do Sistema de Previdência Social.

Este argumento deve ser rechaçado, porque a providência por nós defendida não

implica em quebra do equilíbrio atuarial do sistema previdenciário, eis que a Seguridade

Social (que por sua vez abrange Previdência Social, Saúde e Assistência Social) é alimentada

através de diversos financiamentos, que não só a folha de pagamento dos trabalhadores, mas

todo o conjunto de contribuições sociais, na forma do art. 195 incisos I, II, III e IV da

Constituição Federal de 1988.

Salientamos que na forma do art. 195 § 5º CF, com tal medida não se está criando

novo benefício, tampouco majorando benefício sem a correspondente fonte de custeio total,

uma vez que há efetiva fonte de custeio consoante artigo 195 incisos I, II, III, e IV da

Constituição Federal de 1988.

Outra tese de defesa apresentada pela Autarquia Federal, diz respeito à aplicação do

artigo 55 inciso II da Lei 8.213/91. Contudo, tal dispositivo de lei não encontra espaço em

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casos de benefícios acidentários, posto que vinculado à aposentadoria por tempo de serviço,

consoante art. 53 da mesma Lei.

Neste sentido, vale transcrever os ensinamentos de Daniel Machado da Rocha e José

Paulo Baltazar Junior55 ao comentarem sobre o artigo 55 da Lei 8.213/91:

A Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, com o fito de propiciar o equilíbrio entre a arrecadação e o pagamento dos benefícios, substituiu o regime de aposentadoria por tempo de serviço pelo tempo de contribuição (a idéia inicial era a de um sistema de aposentadoria por idade qualificado pelo tempo de contribuição). No entanto, por força do disposto no art. 4º da multicitada Emenda, o tempo de serviço será valorado, salvo se fictício, como tempo de contribuição até a edição de lei que defina os critérios do tempo de contribuição. Sendo assim, continuam a nos interessar as disposições normativas que tratam do tempo de serviço. Computa-se como tempo de contribuição todo o período de exercício de atividade arrolada no art. 11, ainda que anterior à eventual perda da qualidade de segurado, desde que atendida a carência. O art. 55 da Lei de Benefícios elenca, de forma não-taxativa, os períodos contados como tempo de serviço.

Deste modo, consideramos em total descompasso a tese esposada pela Autarquia

Federal, no sentido de que não se podem contar como salários-de-contribuição os valores dos

salários-de-benefício de benefícios anteriormente recebidos, face interpretação do artigo 55

inciso II e 63 da Lei 8.213/91, além do art. 476 da Consolidação das Leis do Trabalho.

Os artigos 19 a 21 da Lei 8.213/91 nos trazem quais são os fatos considerados

acidentários, bastando tratar-se de trabalhador a serviço da empresa ou pessoas elencadas no

inciso VII art. 11 da mesma lei (parceiro, meeiro, produtor e arrendatários rurais). Em relação

ao Decreto nº 3.048/99, prelecionam os autores ANTONIO LOPES MONTEIRO e

ROBERTO FLEURY DE SOUZA BERTAGNI56:

Inicialmente o INSS, independentemente de qualquer cálculo, pagava o salário mínimo como valor do benefício acidentário, ou o tinha como base de cálculo (caso do auxílio-acidente). Posteriormente, dando-se conta do grave erro em que incorreu, através da Circular n. 19/95, e até porque os benefícios acidentários prescindem de carência, foi dada a instrução de que, para os benefícios decorrentes de acidentes do trabalho, o salário-de-benefício seria a média dos salários-de-contribuição sobre os quais o segurado havia recolhido (ou a recolher) até o mês anterior ao do acidente, não importando a quantidade de contribuições recolhidas. (...)Não entendemos correta essa disposição quando se trata de benefícios de natureza acidentária. Em

55ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Comentários à Lei de Benefícios da

Previdência Social, 3. Ed., Editora Livraria do Advogado, 2003 56MONTEIRO, Antonio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. ACIDENTES DO

TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS. 6.ed, Editora Saraiva, 2010, p. 64/65

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primeiro lugar porque a Lei 8.213/91 não dispôs expressamente sobre essa questão.(...)Por outro lado, como a concessão dos benefícios acidentários independe de carência, e portanto, de quaisquer contribuições efetivamente recolhidas, nessa hipótese a base de cálculo deve ser o salário-de-contribuição do segurado no mês do acidente (hipótese em que não houve nenhum recolhimento de salário-de-contribuição, em que o Decreto prefalado dispõe que o valor do benefício é igual ao valor do salário mínimo) Essa fórmula de cálculo fica ainda mais clara se tivermos em conta que o empregador irá recolher, em relação ao mês do acidente, sobre o salário real do acidentado (art. 22, II, da Lei 8.212/91). A fórmula preconizada no Regulamento será válida para os benefícios de natureza comum, que exigem carência, não para os de natureza acidentária.

Enfim, arrematando o tema, os autores sublimados afirmam que outra interpretação

para os cálculos de benefícios acidentários representa injustiça, porque o valor a ser recolhido

pelo empregador poderá ser muito maior que o valor do salário mínimo.

Os feitos que versam sobre benefícios acidentários independem de comprovação da

qualidade de segurado, carência, tempo de serviço. O SAT (seguro de acidentes do trabalho)

possui fonte de custeio diversa.

Da obra de Antonio Lopes Monteiro e Roberto Fleury de Souza Bertagni,

extraímos57:

Para os benefícios de natureza acidentária é diferente. É que, como se sabe, o custeio do SAT, por força do mandamento constitucional previsto no art. 7º, XXVIII, é de ônus exclusivo das empresas, que contribuem para o financiamento dos benefícios previstos nos arts. 57 e 58 da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, e são concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho em percentuais de 1% a 3%, conforme o art. 22, II, da Lei n. 8.212/91, mas sem qualquer teto. O dispositivo citado fala em “total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados e trabalhadores avulsos.

Resta, portanto, evidente que a fonte de custeio para benefícios concedidos por

acidentes do trabalho, “é formada com a arrecadação dessa contribuição das empresas,

incidente sobre o total da folha de pagamento, justamente para assegurar ao trabalhador

acidentado a percepção de valores mais próximos possíveis do salário recebido por ocasião do

acidente”58

Importante destacar ainda que no Decreto 3048/99, regulamentador da Lei de

Benefícios, em seu art. 60 inciso IX, prevê que o período em que o segurado esteve recebendo

benefício por incapacidade decorrente de acidente de trabalho é considerado tempo de

57MONTEIRO, Antonio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. ACIDENTES DO

TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS, Editora Saraiva, 6. ed. 2010, p.64/65 58Idem, ibidem. p.231/232

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contribuição e deve integrar o cálculo da renda mensal inicial de qualquer benefício, nos

moldes do parágrafo 3º deste mesmo dispositivo:

Art. 60. Até que lei específica discipline a matéria, são contados como tempo de contribuição, entre outros: (...) IX - o período em que o segurado esteve recebendo benefício por incapacidade por acidente do trabalho, intercalado ou não; (...) § 3º O tempo de contribuição de que trata este artigo será considerado para cálculo do valor da renda mensal de qualquer benefício.

Compreende-se que o instituto de benefício previdenciário comum é diverso do

instituto de benefício previdenciário acidentário. Nos moldes deste último, o trabalhador que

esteve afastado de suas atividades por acidente de trabalho, e após a perícia médica concluir

incapacitado totalmente para qualquer atividade, não pode ser penalizado no cálculo de sua

aposentadoria posterior, decorrente de acidente do trabalho, deixando-se de contar o benefício

anterior como salário-de-contribuição, pois tal seria negar-se vigência ao § 5º do art. 29 da Lei

Federal 8.213/91, com nova redação dada pela Lei nº 9.876 de 26 de novembro de 1999.

Veja-se que o próprio Decreto 3048/99 prevê que nesta hipótese, ou seja, quanto o

segurado esteve em gozo benefício anterior, decorrente de acidente de trabalho, não precisa

tal benefício ser intercalado com atividade para ser considerado como tempo de contribuição,

para o cálculo de novo benefício acidentário.

2.3.2 Revisão de valor de salário-de-benefício de benefícios acidentários considerando-se 80% de todo o período contributivo

Comum em nossos tribunais pedidos de revisão do cálculo da renda mensal inicial do

salário-de-benefício, sob a alegação de que o INSS não desconsiderou os 20% menores

salários-de-contribuição, em desacordo com art. 29 inciso II da Lei 8.213/91, com redação

dada pela Lei 9.876/99, ou seja, “média aritmética simples dos maiores salários-de-

contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo do segurado.”

A Autarquia Federal tem firmado entendimento de que tal artigo de lei não é aplicado

para segurado com menos de 144 contribuições, diante do art. 32 § 2º (depois §20º) do

Decreto 3.048/99. Contudo, ressaltamos que o tema aqui tratado, desde 18 de agosto de 2009,

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restou pacificado ante a revogação do mencionado § 20º do Decreto 3048/99 pelo Decreto nº

6.939.

A exceção legal aduzida pela Autarquia Federal, faz menção ao artigo 3º da Lei

9.876/99, que prevê:

Para o segurado filiado à previdência Social até o dia anterior à data da publicação desta Lei, que vier a cumprir as condições exigidas para concessão dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no cálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei 8.213/91, com redação dada por esta Lei.

Anteriormente à Lei 9.876/99 de 26 de novembro de 1999, a redação da Lei 8.213/91,

art. 29 assim previa:

Art. 29. O salário-de-benefício consiste na média aritmética simples de todos os últimos salários-de-contribuição dos meses anteriores ao do afastamento da atividade ou da data da entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em período não superior a 48 (quarenta e oito) meses.

Logo, mister se faz distinguir o momento da concessão do benefício acidentário, se

antes ou depois da lei 9.876/99. A redação antiga do artigo 29 da Lei de Benefícios informará

o cálculo do salário-de-benefício do benefício concedido antes da vigência da lei citada,

ocasião em que não cabe a revisão para cômputo de 80% dos maiores salários-de-

contribuição.

Mas, se o benefício acidentário é pleiteado e concedido após 28/11/99, data em que

publicada a Lei 9.876/99, temos que é inaplicável ao caso de benefício acidentário o artigo 3º

da Lei 9.876/99, eis que o trabalhador vítima de infortúnio laboral, filiado antes desta data,

não precisa cumprir nenhuma das condições exigidas. Resta apenas considerar o termo inicial

do período básico de cálculo a competência julho de 1994.

Nessa marcha, não haveria razão para que o legislador remetesse o administrador ao

cálculo da soma dos maiores salários-de-contribuição e aplicação de percentual de 80% sobre

todo o período contributivo, para resultar no salário-de-benefício, sendo o conceito de salário-

de-contribuição: toda a remuneração efetivamente percebida a qualquer título pelo segurado;

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se todo este raciocínio matemático não fosse para aplicar ao trabalhador acidentado o artigo

29 inciso II da Lei 8.213/91 com a nova redação dada pela Lei nº 9.876 de 26 de novembro de

1999 ou seja, “média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes

a oitenta por cento de todo o período contributivo”.

2.3.3 Revisão de renda mensal de benefício auxílio-acidente à luz do art. 33 da Lei 8.213/91 e art. 201 § 3º da CF

Vem crescendo o número de ações de revisões judiciais de benefícios de auxílio-

acidente, nas quais se busca a aplicação do texto constitucional que assim prevê:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (...) § 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

A Lei 8.213/91, prevê em seu artigo 33:

Art. 33. A renda mensal do benefício de prestação continuada que substituir o salário-de-contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado não terá valor inferior ao do salário-mínimo, nem superior ao do limite máximo do salário-de-contribuição, ressalvado o disposto no art. 45 desta Lei.

O entendimento que vigora entre os defensores desta tese é de que o auxílio-acidente é

benefício previdenciário nos moldes do art. 18, inciso I, letra “h” da Lei 8.213/91, e como tal

não pode ser inferior a um salário mínimo conforme constitucionalmente previsto. Há quem

afirme ainda que, em sendo o valor deste benefício previsto no percentual de 50% do salário-

de-benefício, deve ser calculado então em 50% do salário mínimo, quando o cálculo sobre o

salário-de-benefício resultar em valor menor.

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Recentemente houve julgado do Supremo Tribunal Federal dando provimento ao RE

597022, em 25/02/2009, no qual a Relatora Ministra Carmem Lúcia entendeu pela aplicação

da regra do art. 5º, § 1º da Constituição Federal, porque a norma do art. 201, § 2º é de

aplicação imediata, sem restrição a qualquer benefício. Deste modo, tal julgado vem

reforçando o posicionamento acima adotado.

Contudo, observa-se que o auxílio-acidente é um benefício previdenciário com caráter

indenizatório, por estar o trabalhador-segurado com a sua capacidade reduzida

definitivamente para o trabalho que antes do infortúnio exercia, podendo, entretanto, exercer

outra atividade profissional para a sua subsistência, estando expresso no caput do art. 86 da

Lei 8.213/91:

Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.

Quanto ao salário-de-benefício está previsto no art. 39, inciso VI do Decreto 3.048/99

que o auxílio-acidente corresponderá ao o valor de cinquenta por cento do salário de

benefício:

Art. 39. A renda mensal do benefício de prestação continuada será calculada aplicando-se sobre o salário-de-benefício os seguintes percentuais (...) VI - auxílio-acidente - cinqüenta por cento do salário-de-benefício.

Discordamos, com todo o respeito aos que se filiam à corrente antes citada, da

pretensão de revisão da renda mensal do benefício auxílio-acidente sob o argumento de que

nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou rendimento poderá ser inferior ao

salário mínimo vigente no país, pois não encontra amparo legal. Efetivamente, o auxílio-

acidente não é substitutivo dos rendimentos do segurado.

Isto porque, consoante entendimento majoritário, o disposto no art. 33 da Lei 8.213/91

e referido dispositivo constitucional não se aplicam ao benefício auxílio-acidente, que na

verdade se trata de indenização destinada a compensar a perda funcional sofrida, e não a

prover o sustento do trabalhador.

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Com efeito, o benefício auxílio-acidente será concedido ao segurado como uma forma

de indenização, sendo devido ao trabalhador que, em decorrência de suas atividades

profissionais, teve a sua capacidade laborativa reduzida, estando as lesões consolidadas, de

forma que não mais pode exercer as atividades que exercia à época do acidente.

Tanto possui caráter indenizatório que assim prevê o artigo 31 da Lei de Benefícios:

Art. 31. O valor mensal do auxílio-acidente integra o salário-de-contribuição, para fins de cálculo do salário-de-benefício de qualquer aposentadoria, observado, no que couber, o disposto no art. 29 e no art. 86, § 5º. (Restabelecido com nova redação pela Lei nº 9.528, de 1997)

Deste modo, o auxílio-acidente não tem o cunho de substituir os rendimentos do

trabalhador e sim ajudar no sustento da família ante a incapacidade laborativa parcial e

definitiva.

Consoante o parágrafo 2º do artigo 201 da Constituição Federal de 1988, todo

benefício que seja criado para substituir a remuneração do trabalhador não pode ser inferior

ao salário mínimo vigente; contudo, não são todos os benefícios que tem esta finalidade,

como por exemplo, o auxílio-acidente e o salário-família.

Dos ensinamentos de Fábio Zambitte Ibrahim, retiramos:

O auxílio-acidente é o único benefício com natureza exclusivamente indenizatória. Visa ressarcir o segurado, em virtude de acidente que lhe provoque a redução da capacidade laborativa.Este benefício poderá ser inferior ao salário mínimo, já que não visa a substituir a remuneração do trabalhador. Em verdade, o segurado recebe o benefício mesmo trabalhando, até a sua aposentadoria.59

Assim já se posicionou o Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REVISÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DECADÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. BENEFÍCIO CONCEDIDO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 9.528/97. PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. OCORRÊNCIA. ABRANGÊNCIA DAS PRESTAÇÕES VENCIDAS NOS 05 (CINCO) ANOS ANTERIORES AO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. SALÁRIO MÍNIMO. INEXISTÊNCIA DE VINCULAÇÃO. NÃO

59IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário, Editora Impetus: Rio de Janeiro, 2003,

p. 509 e 516

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APLICAÇÃO DO ARTIGO 201, §2º DA CF. NATUREZA SUPLEMENTAR DO BENEFÍCIO. RECURSO NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. "(...) O direito ao benefício previdenciário e sua revisão são imprescritíveis, ou seja, a ação não é atingida pela prescrição, mas tão-somente as parcelas anteriores ao qüinqüênio legal que antecede o seu ajuizamento." (Ap. Cív. 407.419-5/Belo Horizonte, 6ª CCível/TAMG, Rel. Juiz Dárcio Lopardi Mendes, d.j. 11/03/2004) 2. "(...) O benefício previdenciário de auxílio-acidente não tem índole substitutiva salarial, sendo passível de aplicação em valor inferior ao mínimo, inexistindo, contudo, ofensa ao preceito Constitucional." (AC 475.567-9/Belo Horizonte, 9ª CCível/TJMG, Rel. Des. Fernando Caldeira Brant, d.j. 31/03/2005). (TJPR - 15ª C.Cível - AC 0295163-3 - Londrina - Rel.: Des. Paulo Habith - Unanime - J. 04.07.2007) grifamos.

Deste modo, o auxílio-acidente corresponde a benefício previdenciário com caráter

indenizatório, face redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia o

segurado. Em outras palavras, consoante ensinamentos de José Antonio Savaris, acerca deste

benefício:

como o segurado em gozo de auxílio-acidente pode receber este benefíciomesmo exercendo atividade remunerada (LB, art. 86, §3º), a renda mensal corresponde à metade da aposentadoria por invalidez, isto é, 50% sobre o salário-de-benefício, e pode ser pago em valor inferior ao salário mínimo60.

2.3.4 Revisão de benefícios face advento da Lei 9.032/95

No tocante à retroação da lei mais benéfica, o entendimento jurisprudencial dominante

é no sentido da impossibilidade nos casos de benefício de aposentadoria por invalidez e

pensão por morte, sob o argumento de que a aplicação feita pela Lei 9032/95 só pode ser

aplicada para benefícios sob sua vigência. Nesse sentido decidiu o Supremo Tribunal Federal,

reconhecendo ainda repercussão geral no caso (RE/SP 597.398 – DJ 6.5.09).

O Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária de 08/02/2007, julgou os Recursos

Extraordinários (REs 416827 e 415454-SC), dando-lhes provimento, por entender que o

pagamento integral das pensões por morte concedidas anteriormente à vigência da Lei

9.032/95, ofende o art. 195, § 5º da Constituição Federal (majoração de benefício sem a

correspondente fonte de custeio total), e o art. 201 caput da Constituição Federal (princípio da

preservação do equilíbrio financeiro e atuarial).

60SAVARIS, José Antonio. Direito Processual Previdenciário. Editora Juruá, 2. Ed., 2009.

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Nesta sessão ainda, foi adotado o mesmo entendimento a 4.909 (quatro mil,

novecentos e nove) processos idênticos de beneficiários que pleiteavam o direito à pensão

integral.

A Lei 9.032 de 28 de abril de 1995 que dispõe sobre o valor do salário mínimo, altera

dispositivos das Leis nº 8.212 e nº 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e dá outras

providências, em seu art. 3º inseriu as seguintes modificações em relação aos benefícios

acidentários:

Art. 3º A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, passa a vigorar com as seguintes alterações: Art. 28. O valor do benefício de prestação continuada, inclusive o regido por norma especial e o decorrente de acidente do trabalho, exceto o salário-família e o salário-maternidade, será calculado com base no salário-de-benefício. Art. 44. A aposentadoria por invalidez, inclusive a decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta lei. Art. 61. O auxílio-doença, inclusive o decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 91% (noventa e um por cento) do salário-de-benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta lei. Art. 75. O valor mensal da pensão por morte, inclusive a decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta lei. Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza que impliquem em redução da capacidade funcional. § 1º O auxílio-acidente mensal e vitalício corresponderá a 50% (cinqüenta por cento) do salário-de-benefício do segurado.

Contrário à concessão do benefício integral às pensões deferidas anteriormente à

edição da Lei 9.032/95, o INSS – Instituto Nacional do Seguro Social sustenta violação do

princípio constitucional do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI CF e art. 195, § 5º da

Constituição Federal). Alega, também, que a lei não pode retroagir, pois essa hipótese não

está prevista em lei, e muito menos, na Constituição Federal. Que esta tese dissocia-se do

princípio constitucional previdenciário que não admite “majoração de benefício sem a

correspondente fonte de custeio total” (art. 195, parágrafo 5º da Constituição Federal).

O Ministro-Relator Gilmar Mendes deu provimento ao pedido do INSS, entendendo

que as pensões concedidas anteriormente à edição da Lei 9.032/95 não deveriam ser integrais

(100% do valor do benefício do segurado falecido), e que não caberia revisão do benefício.

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Estudando a evolução do tratamento legislativo da pensão por morte, destacou o

douto Ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que não há qualquer previsão

legal específica quanto à extensão temporal dos efeitos decorrentes das modificações

legislativas.

Outrossim, lembrou que domina na nossa tradição a teoria subjetiva do direito

adquirido. No caso em apreciação, não se constata qualquer alteração global do regime

previdenciário das pensões, com dano direto para os eventuais beneficiários. Assim, não há

direito adquirido no caso em exame, visto que a situação previdenciária é estatutária e não

contratual, inexistindo direito adquirido a regime jurídico.

Com relação à matéria de aplicação da lei previdenciária no tempo, consagrou a

aplicação do princípio tempus regit actum nas relações previdenciárias.

Enfim, enfatizou o Ministro Gilmar Mendes que nosso ordenamento constitucional

impõe não ser possível invocar mera transposição das regras atuais de elevação do coeficiente

de cálculo do benefício para 100% (cem por cento) para favorecer beneficiário ou pensionista

sem a devida correlação com as bases de custeio previstas para sustentar estes pagamentos.

Frisou obediência à regra do art. 195, §5o, da CF, o qual preconiza que “nenhum

benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a

correspondente fonte de custeio total.” Aduziu inexistência de violação ao princípio da

isonomia, eis que atendidos os requisitos para a preservação do valor real do benefício

concedido.

É sabido que com o advento da Lei 9.032/95 os coeficientes de cálculo dos benefícios

acidentários previstos na Lei 8.213/91 (auxílio-doença, auxílio-acidente, aposentadoria por

invalidez e pensão por morte decorrente de acidente de trabalho) foram unificados, igualando-

se aos coeficientes dos benefícios de natureza comum, tratando-se, no entanto, do mesmo

benefício, apenas a legislação posterior alterou seu percentual. Deste modo, o auxílio-

acidente, por exemplo, previsto no art. 86 da Lei nº 8.213/91 substituiu o auxílio-acidente e o

auxílio suplementar da Lei nº 6367/76. Houve ainda, posterior modificação, trazida pela Lei

9.528 de 11.12.1997, com a redação atual.

O ilustre Ministro Eros Grau manifestou voto contrário, entendendo que a Lei

9.032/95, ao dar nova redação ao art. 75 da Lei 8.213/91, não afetou os pressupostos

constitutivos da pensão, inexistindo violação ao ato jurídico perfeito. Enfatizou o douto

Ministro que a lei em estudo se aplica imediatamente, atingindo os efeitos que se verifiquem

de forma sucessiva, sem alterar as conseqüências de um direito já realizado.

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No entender do douto Ministro, “é certo que a situação previdenciária dos pensionistas

é estatutária. Eles são titulares de direito adquirido a perceber pensões, mas não ao regime

jurídico que a elas corresponde”. Deste modo, as alterações neste regime produzem efeitos

imediatos sobre os pensionistas de qualquer modo, seja onerando, seja beneficiando. Assim,

entende inconstitucional o argumento de que a lei que majora a pensão por morte deve indicar

fonte de custeio.

Verifica-se que a pretensão contida nas ações de revisão de benefícios acidentários não

é rever o ato de concessão do benefício, protegido pelo ato jurídico perfeito. Na verdade, visa-

se adequar o recebimento do benefício à legislação atual aperfeiçoada pelo sistema de

proteção social.

O benefício quando concedido na vigência da lei 6367/76, por exemplo, ou sob o

espeque da redação original da Lei 8.213/91, continua produzindo efeitos atualmente, posto

que de prestação continuada. Não se trata de permitir a retroatividade da nova lei, mas sim da

sua aplicação imediata aos efeitos de uma situação jurídica que se perpetua.

A aplicação da lei superveniente, majorando o anterior coeficiente de cálculo atende

aos princípios da isonomia, universalidade da cobertura e do atendimento e da irredutibilidade

do valor dos benefícios.

O princípio da isonomia exige igual proteção social a todos os titulares dos mesmos

direitos de seguridade, nos termos do artigo 5o da Constituição Federal.

Por conseguinte, ao aceitar a não aplicação da lei nova, estaria o tempo operando

como fator discriminatório ao direito do segurado.

Conforme dispõe o art. 194, parágrafo único, IV da Constituição, nenhum benefício

pode ter o seu valor real reduzido e todos os benefícios devem traduzir igual poder de compra

para os seus legítimos beneficiários.

O sistema não pode admitir categorias diversas de segurados. Segurados da Lei

6.367/76 e segurados do Plano de Benefícios, a partir da Lei 8.213/91, em confronto com a

noção de solidariedade que norteia o Direito Previdenciário (art. 3º, inciso I da Constituição

Federal).

Não merece prosperar a tese abraçada pela Administração, de que a procedência do

pedido de revisão para a aplicação da novel lei importaria em desequilíbrio atuarial do

sistema, porquanto o benefício acidentário não tem carência e possui diversa fonte de custeio,

como já nos referimos no capítulo anterior 2.2.1.

Em tema de acidente do trabalho, o princípio tempus regit actum, assevera que em se

tratando de doença profissional de caráter progressivo, a data do início da incapacidade

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laborativa deve ser fixada a partir do afastamento do segurado do ambiente de trabalho,

aplicando-se a lei vigente naquele momento.

Deste modo, já se posicionou o r.Juízo Acidentário de Curitiba, Foro Central no

sentido de que não há como se negar a revisão da base de cálculo do benefício, a partir do

advento da Lei nº 9.032/95, 28 de abril de 1995, nos seguintes termos:

Não se trata aqui de fazer retroagir a lei posterior para atingir o ato pretérito de concessão, perfeito, mas de fazê-la viver em concreto, em benefício do Segurado e em observância à paridade, a partir do momento em que passou a viger no ordenamento pátrio.”.61

Nesse contexto, havia maioria no entendimento de que as leis de ordem pública são de

efeito imediato, frente às ações pendentes, mas não são retroativas, sendo regidas pelo

princípio do "tempus regit actum".

Contudo, o STF ao julgar os Recursos Extraordinários REs 416827 e 415454-SC,

consoante acima assinalamos, fez prevalecer desde então o entendimento da não retroação da

lei mais benéfica, tampouco sua aplicação após a vigência desta, aos benefícios anteriormente

concedidos.

Este entendimento, da não retroação da lei mais benéfica, não se aplicaria ao

benefício de auxílio-acidente.

A este respeito prelecionam os autores Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista

Lazzari62:

Em relação ao auxílio acidente, que substitui o auxílio suplementar ao acidentado, o STJ tem entendido que permanece o direito à revisão, mesmo após os precedentes do STF que afastaram a revisão da pensão por morte. Neste sentido: PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. AUXÍLIO SUPLEMENTAR. SUBSTITUIÇÃO PELO AUXÍLIO ACIDENTE INSTITUÍDO PELA LEI 9.032/95. MAJORAÇÃO DO PERCENTUAL. INCIDÊNCIA IMEDIATA. PRECENTES. ENTENDIMENTO DO STF QUANTO À PENSÃO POR MORTE. INAPLICABILIDADE. BENEFÍCIOS DE NATUREZA DIVERSAS. RECURSO PROVIDO. 1. A Terceira Seção desta Corte de Justiça consolidou seu entendimento no sentido de que o art. 86, § 1º, da Lei 8.213/91, alterado pela Lei 9.032/95, que majorou o

61 Extraído do processo nº 0001018-57.2008.8.16.0001 (244/2008), de Ação Previdenciária Acidentária

– Revisão de Benefício, que tramita perante a Vara de Registros Públicos, Acidentes do Trabalho e Cartas Precatórias Cíveis de Curitiba, Foro Central, atualmente em segunda instância.

62CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. MANUAL DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO, Editora Conceito Editorial, 13. ed. 2011, p. 687

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percentual do auxílio acidente, deve ser aplicado a todos os benefícios previdenciários, independentemente da legislação em vigor a época de sua concessão. Isso não implica a retroatividade da lei, mas tão somente sua aplicação imediata, em respeito à manutenção da isonomia entre os benefícios. 2. O benefício acidentário e a pensão por morte têm naturezas diversas, requerendo, portanto, tratamento diferenciado. 3. A pensão por morte é uma prestação remuneratória, concedida ao dependente do segurado, quando de seu falecimento, aposentado ou não. 4. A indenização acidentária, diversamente, é uma pretensão indenizatória. Não se trata de retribuição ao trabalho prestado pelo segurado, mas, em razão do sistema securitário da previdência, de uma compensação econômica pela redução de sua capacidade de trabalho em decorrência de infortúnio trabalhista. 5. Ressalta-se que o número de segurados beneficiados com a indenização acidentária é bem inferior ao número de beneficiários que percebem a pensão por morte, razão pela qual é menor o impacto orçamentário causado pela majoração de percentual. 6. Recurso especial provido. (Resp 932597/SP. Quinta Turma. Relator Min. Arnaldo Esteves Lima DJ 10.3.2008)

Neste sentido, também se verificava o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AUXÍLIO-ACIDENTE. MAJORAÇÃO. LEI 9.032/95. ALTERAÇÃO DO §1o. DO ART. 86 DA LEI 8.213/91. APLICAÇÃO IMEDIATA. MANUTENÇÃO DO ENTENDIMENTO PACIFICADO PELA 3a. SEÇÃO/STJ. NÃO INCIDÊNCIA DA ORIENTAÇÃO FIRMADA NO JULGAMENTO DO RE 597.389/SP, RELATIVO À MAJORAÇÃO DO COEFICIENTE DE PENSÃO POR MORTE. AGRAVO REGIMENTAL DOINSS DESPROVIDO. 1.A Terceira Seção desta Corte, no julgamento do Resp. 1.096.244/SC, representativo de controvérsia, realizado em 22.4.2009 e de relatoria da ilustre Ministra Maria Thereza de Assis Moura, pacificou o entendimento de que o aumento do percentual do auxílio-acidente, estabelecido pela Lei 9.032/95, que alterou o §1o., do art. 86 da Lei 8.213/91, por ser norma de ordem pública, tem aplicação imediata indistintamente a todos os beneficiários que estiverem na mesma situação, incidindo, inclusive, sobre os benefícios em manutenção, bem como sobre os casos pendentes de concessão. 2. Na data do julgamento desse Recurso Especial representativo de controvérsia, foi apreciado pelo egrégio Supremo Tribunal Federal o RE 597.389/SP, com repercussão geral e de relatoria do douto Ministro GILMAR MENDES, tendo sido firmado o entendimento de que a revisão de pensão por morte e demais benefícios, constituídos antes da entrada em vigor da Lei 9.032/95, não pode ser realizada com base em novo coeficiente de cálculo estabelecido no referido diploma legal. 3.Em razão desse julgado da Suprema Corte, o RESp. 1.096.244/SC foi novamente submetido à análise pela Terceira Seção/STJ, em questão de ordem, julgada em 10 de fevereiro de 2010, tendo sido mantido o entendimento anteriormente manifestado. 4. Agravo Regimental do INSS desprovido.” (REsp 1078469/SP. Quinta Turma. Relator Min. Napoleão Nunes Maia Filho DJe 17.05.2010). AÇÃO RESCISÓRIA. PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-ACIDENTE. RELAÇÃO JURÍDICA CONTÍNUA. REVISÃO. POSSIBILIDADE. MAJORAÇÃO PARA

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50%. APLICAÇÃO IMEDIATA DAS LEIS 8.213/91 E 9.032/95. PRECEDENTES. AÇÃO RESCISÓRIA IMPROCEDENTE. I - A decisão rescindenda entendeu que é possível a majoração do benefício do auxílio-acidente do segurado face à superveniência de lei nova mais benéfica - Lei n. 9.032/95, explicando que essa tem incidência imediata, alcançando todos os casos idênticos, indistintamente, incluindo os benefícios em manutenção e aqueles pendentes de concessão. II - No julgamento de recurso especial representativo de controvérsia este Superior Tribunal de Justiça pacificou seu entendimento sobre o tema, no sentido de que o art. 86, § 1º, da Lei n. 8.213/91, com redação dada pela Lei n. 9.032/95, tem aplicação imediata, alcançando todos os segurados que se encontrarem na mesma situação, ainda que já tenham sido beneficiados, uma vez que a questão está sujeita à revisão por se tratar de relação jurídica contínua, podendo, ainda, atingir efeitos futuros de atos constituídos no passado. III - O posicionamento não foi alterado com decisão proferida pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal em questão de ordem em que se entendeu que a revisão de pensão por morte e outros benefícios constituídos antes da entrada em vigor da Lei n. 9.032/95 não pode ser realizada com base em novo coeficiente de cálculo estabelecido na referida lei. IV - Ação rescisória improcedente. (AR 4204/SP. Terceira Seção. Relator Min. Gilson Dipp DJe 04.04.2011).

Contudo, submetida esta matéria em 14 de abril de 2011, no Supremo Tribunal

Federal, foi reconhecida existência de Repercussão Geral no recurso Extraordinário 613.033

de São Paulo, que assim decidiu:

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. AUXÍLIO-ACIDENTE. LEI Nº 9.032/95. BENEFÍCIOS CONCEDIDOS ANTES DE SUA VIGÊNCIA. INAPLICABILIDADE. JURISPRUDÊNCIA PACIFICADA NA CORTE. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Decisão: O Tribunal reconheceu a existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada e, no mérito, reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria, vencidos os Ministros Ayres Britto e Marco Aurélio. Não se manifestaram os Ministros Cezar Peluso e Carmen Lúcia. (RE 613033 RG, Relator Min.Dias Toffoli, julgado em 14/04/2011, Dje – 110 divulgado em 08/06/2011, pub. 09/06/2011).

Deste modo, tornou-se pacífico que a Lei 9.032/95 não pode retroagir para beneficiar

os segurados que tiveram seus benefícios concedidos antes de sua vigência, inclusive

benefício auxílio-acidente, pois, segundo conclusão do Relator Ministro Dias Toffoli,

nenhum benefício previdenciário poderá ser estendido (tanto quanto instituído ou majorado) sem a correspondente indicação, na legislação pertinente, da fonte de custeio total (CF, art. 195, § 5º), a significar, portanto, que a nova legislação previdenciária somente deverá ser aplicada aos benefícios cujos requisitos hajam sido preenchidos, pelo interessado, sob a égide de mencionado diploma legislativo. (...) não vislumbro no benefício ora examinado nenhuma particularidade suficiente para afastar a incidência da orientação já assentada nesta Corte. (...) não compartilho do entendimento adotado pelo Tribunal de origem de que o fato do trabalhador continuar contribuindo para a previdência social após o início do pagamento do benefício de auxílio-acidente seja suficiente para suprir a indicação de prévia fonte

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de custeio fixada no artigo 195, § 5º, da Constituição Federal. Conforme já assentado nos julgamentos desta Corte, a Lei 9.032/95 não trouxe qualquer previsão de fonte de custeio para atender, especificadamente, a aplicação da lei aos benefícios anteriormente concedidos. O fato do trabalhador continuar contribuindo para a previdência social não supre, em meu sentir, a ausência de indicação de fonte de custeio na norma examinada. Isso porque a continuidade da contribuição não implica aumento de receita, mas no máximo, na permanência do recolhimento dos valores anteriormente recolhidos. (...) Assim, como regra geral, haverá uma redução dos valores das contribuições recolhidas pelos trabalhadores que passam a perceber o benefício de auxílio-acidente. (...) Por fim, diante da reafirmação da exist~encia da repercussão geral e da orientação jurisprudencial consolidada nesta Corte sobre o tema, devem os Tribunais, Turmas Recursais e de Uniformização, à luz desse precedente específico acerca do benefício de auxílio-acidente, adotar os procedimentos previstos no artigo 543-B, § 3º, do Código de Processo Civil, com todas as vantagens daí decorrentes para os jurisdicionados e de todo o sistema judiciário brasileiro.”

O Tribunal de Justiça Paranaense vem adotando este critério, reformando as decisões

que antes haviam julgado procedentes pedidos de retroação da lei mais benéfica.

2.4 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NAS AÇÕES PREVIDENCIÁRIAS

ACIDENTÁRIAS

Tema ainda debatido no direito previdenciário em nossos tribunais, é certo que a

decadência extingue o direito, enquanto a prescrição tem por objeto a ação. Conforme

ensinamentos de Câmara Leal

O prazo de decadência inicia a fluir com o nascimento do direito. O de prescrição, no momento em que o direito é violado, ameaçado ou desrespeitado, porque então é que nasce a ação, contra a qual a prescrição se dirige. A decadência opera sobre o direito que, embora nascido, não se tornou efetivo pela falta de exercício. Já a prescrição supõe um direito nascido e efetivo, mas que pereceu por falta de proteção de ação contra a violação sofrida.63

Discute-se a decadência do direito do trabalhador acidentado de requerer a revisão de

benefício, nos termos do art. 103 da Lei nº 8.213, de 1991, que assim prevê:

63LEAL. Antônio Luís da Câmara. Da Prescrição e da Decadência, 2. ed., Rio, Forense, 1959, p.115-6

e 114i

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Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo (redação da Lei 10.839/04). Parágrafo único. Prescreve em 5 (cinco) anos, a contar da data em que deveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestações vencidas ou quaisquer restituições ou diferenças devidas pela Previdência Social, salvo o direito dos menores, incapazes e ausentes, na forma do Código Civil (parágrafo acrescentado pela Lei n. 9.528/97).

Ensinam os autores Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari:64

O Superior Tribunal de Justiça tem adotado em suas decisões a posição de que o art. 103 da Lei nº 8.213/91, na redação conferida pela Lei nº 9.528/97, não possui eficácia retroativa quando estabelece o prazo decadencial. Ou seja, a Lei nova não pode ser aplicada às relações jurídicas já constituídas, porque implicaria, em última análise, violar os direitos adquiridos dela resultantes.

Com efeito, a jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça segundo a

qual o prazo decadencial previsto no caput do art. 103 da Lei nº 8.213/1991, introduzido pela

Medida Provisória nº 1.523-9/1997 (posteriormente convertida na Lei nº 9.528/1997), surtiria

efeito apenas sobre os benefícios concedidos após a sua entrada em vigor. Nestes termos:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO. LEI Nº 9.528/1997. BENEFÍCIO ANTERIORMENTE CONCEDIDO. DECADÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. 1. Esta Corte já firmou o entendimento de que o prazo decadencial previsto no caput do artigo 103 da Lei de Benefícios, introduzido pela Medida Provisória nº 1.523-9, de 27.6.1997, convertida na Lei nº 9.528/1997, por se tratar de instituto de direito material, surte efeitos apenas sobre as relações jurídicas constituídas a partir de sua entrada em vigor. 2. Na hipótese dos autos, o benefício foi concedido antes da vigência da inovação mencionada e, portanto, não há falar em decadência do direito de revisão, mas, tão-somente, da prescrição das parcelas anteriores ao qüinqüênio antecedente à propositura da ação. 3. Agravo regimental improvido. (STJ, AGA 846.849, Relator Min. JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, DJ de 03/03/2008).

64CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. MANUAL DE DIREITO

PREVIDENCIÁRIO, Editora Conceito Editorial, 13. ed. 2011, p. 753

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Ainda, existe entendimento doutrinário que vai mais além, aquele que considera a

revisão do benefício que tenha caráter alimentar ser imprescritível. A ilustre autora Marina

Vasquez Duarte lembra:

Cumpre ressaltar que a introdução do prazo decadencial não se refere à perda do direito ao benefício em si. O prazo previsto no caput do art. 103 dirige-se apenas ao direito de revisar o ato de concessão do benefício. De qualquer forma, tais alterações afiguram-se inconstitucionais por afrontar o direito adquirido prescrito no artigo 5º, XXXVI, da CF. Afinal, o ato de concessão do benefício previdenciário é vinculado à lei vigente à época da constituição dos requisitos. Se o segurado ou o dependente não o requerer na época própria, poderá fazê-lo a qualquer tempo (art. 102, da Lei 8.213/91). Da mesma forma, se a administração procedeu de forma equivocada na aplicação da legislação, deve o segurado poder questioná-lo a qualquer tempo, ainda que para discutir valores calculados a menor em sua renda mensal inicial, com reflexos no benefício que recebe atualmente. Ademais, as prestações vincendas advindas da renda mensal inicial têm natureza alimentar, e como tal são irrenunciáveis (art. 114 da Lei 8.213/91). Diretamente vinculado ao princípio da dignidade da pessoa humana, fundamento da Carta Constitucional brasileira, essa garantia legal protege o benefício no seu valor integral e não apenas parcial. Por isso, se o segurado está percebendo quantia inferior à devida por lei, não se pode falar em decadência do direito de pleitear a revisão das parcelas que estão por vencer.65

Ao proferir decisão em PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO

DE LEI FEDERAL nº 2008.51.51.04.4513-2, Seção Judiciária do Rio de Janeiro, a Juíza

Federal JOANA CAROLINA LINS PEREIRA assim se manifestou quanto ao disposto no

artigo legal em comento:

Inova no Processo Previdenciário Acidentário (...) trata-se, indubitavelmente, de um direito (ao benefício previdenciário) que, nascido, foi exercido por seu titular em tempo próprio, tanto que obteve o benefício. Mas sua instituição, dependente de ato de terceiro (o instituto de previdência), pode ter se dado incorretamente; i. é, pode ter havido violação do direito do segurado ao benefício no momento em que ele lhe foi concedido pela Previdência Social. Disso ressai inequívoco que o que a alteração na lei previdenciária veio prever foi hipótese de prescrição de fundo de direito, e não de decadência. No regime previdenciário geral anterior ao da Lei nº 8.213/91, modificada pela Medida Provisória nº 1523-9/1997, não existia previsão de prescritibilidade ou caducidade do direito do segurado da Previdência Social de postular a revisão do ato de concessão e da fixação da R.M.I. de seu benefício previdenciário. Assim foi que, naquela lacuna, firmou-se sólido entendimento jurisprudencial “de que, cuidando-se de revisão de benefício, a prescrição não atinge o fundo de direito, mas apenas as prestações vencidas no qüinqüênio anterior à propositura da ação, nos termos do enunciado nº 85 da Súmula do STJ” (STJ – 6ª

65DUARTE, Marna Vasques. Direito Previdenciário, 6. Ed., Editora Verbo Jurídico, 2008, p. 179-180

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Turma - AGRESP n° 501503/PE – Rel. Min. PAULO GALLOTTI - DJ de 02/10/2006, p. 00318) (...) Dessarte, o contexto histórico resultante da sucessão legislativa é o seguinte: até 27.6.1997 – não havia previsão legal de prazo decadencial, ou de prescrição de fundo de direito, para a revisão dos atos de instituição dos benefícios previdenciários;. de 28.6.1997 a 20.11.1998 – tais revisões passam a estar sujeitas aprazo decadencial de 10 anos; . de 21.11.1998 a 19.11.2003 – as revisões sujeitam-se a prazo decadencial de 5 anos; . a partir de 20.11.2003 – tais revisões voltam a se submeter a prazo decadencial de 10 anos.

Quanto à impossibilidade de retroação da nova lei em prejuízo de situações jurídicas já

consolidadas, asseverou a douta Juíza Relatora:

a partir da inserção da decadência no art. 103 da Lei nº 8.213/91 pela Medida Provisória nº 1523-9/1997, houve quem pretendesse aplicá-la aos benefícios previdenciários concedidos anteriormente contando-se o prazo do passado para a frente, isto é, tomando a D.I.B. como termo a quo e somando-se-lhe mais 10 anos Paratal hipótese, afiguram-se perfeitas e adequadas as considerações do C. STJ e desta Eg. TNU.

Entretanto, posiciona-se favorável a digna Magistrada na hipótese em que se considera

termo a quo do prazo a época da inovação legal:

Ou seja, o decênio decadencial é contado do presente para o futuro, a partir das previsões da Medida Provisória nº 1523-9/1997 em diante. De tal forma que somente a partir de 2007 a decadência passa a afetar os direitos de revisar os benefícios previdenciários concedidos antes de 1997.

A Juíza Relatora citou, ainda neste mesmo julgado publicado no DJ em 11.06.2010,

Câmara Leal66 para fundamentar seu convencimento no seguinte sentido:

Deve-se reconhecer, com base no raciocínio acima esposado, que, em 01.08.2007, 10 anos contados do “dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação” recebida após o início da vigência da Medida Provisória nº 1.523-9/1997, operou-se a decadência das ações que visem à revisão de ato concessório de

66Estabelecendo a nova lei um prazo mais curto de prescrição, esse começará a correr da data da nova

lei, salvo se a prescrição iniciada na vigência da lei antiga viesse a se completar em menos tempo, segundo essa lei, que, nesse caso, continuaria a regê-la, relativamente ao prazo' (Da Prescrição e da Decadência, Forense, 1978, p.90).

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benefício previdenciário instituído anteriormente a 26.06.1997, data da entrada em vigor da referida MP.

Deste modo, restaram duas correntes de entendimento, ou seja, o Superior Tribunal de

Justiça, assim como o Tribunal Regional Federal da 4ª Região posicionam-se no sentido de

que o art. 103 caput da lei 8.213/91 não se aplica aos benefícios concedidos antes de 1997,

porque o direito de questionar o ato de concessão a qualquer tempo, já faria parte do

patrimônio jurídico do segurado.

A segunda corrente jurisprudencial firmou-se em análise mais restritiva aos direitos

dos segurados, aplicando-se o prazo decadencial a partir da data da publicação da lei nº

9.528/97, de 10.12.1997 (com retroação à data da entrada em vigor da Medida Provisória nº

1.523/1997 em 28/6/97) que instituiu a decadência no direito previdenciário, atingindo deste

modo todos os benefícios, mesmo aqueles anteriormente concedidos. Neste sentido em 2010 a

TNU - Turma Nacional de Uniformização alterou sua orientação, no PEDILEF nº

2006.70.50.007063-9/PR, Rel.Juiz Federal Otávio Henrique Martins Port, DJ 24.6.2010.

O Supremo Tribunal Federal reconheceu Repercussão Geral nesta matéria no RE nº

626489/SE, Plenário Virtual 17.09.201067, que ainda está pendente de julgamento.

2.5.PERÍCIAS JUDICIAIS

O direito previdenciário, em matéria probatória, deve ser analisado sob a luz dos

princípios do devido processo legal, verdade real e dignidade da pessoa humana, em virtude

da sua natureza alimentar.

Nesse passo, temos que o devido processo legal, nas palavras dos autores Cesar

Augusto Kato e Rose Kampa ao citar Dr.José Antonio Savaris, deve ser compreendido

como a garantia da mais ampla manifestação e produção de prova, de modo a permitir ao segurado o acesso a um processo justo, bem como a certeza de uma decisão justa, que avalie de modo fundamentado o conjunto probatório relativo ao

67“Direito Previdenciário. Revisão de Benefícios Previdenciários. Decadência. Benefícios concedidos

anteriormente à fixação do prazo decadencial. Abrangência. Direito Adquirido. Segurança Jurídica”.

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bem da vida posto em debate, como é o caso das prestações previdenciárias por incapacidade laborativa.68

Ao analisar um processo de concessão de benefício previdenciário acidentário, o

magistrado deve estar atento aos elementos de prova colacionados com a inicial, tais como

atestados e exames médicos, e promover efetiva comparação destes com a perícia judicial

elaborada pelo digno perito nomeado.

Com efeito, observamos que na lide diária, há várias interpretações para um mesmo

fato médico, considerando a corrente doutrinária seguida pelo profissional da saúde. Ademais,

“ainda que o juiz não esteja adstrito ao laudo pericial, na prática sucede o contrário, e as

autoridades julgam, em geral, de acordo com o parecer dos peritos nomeados”69.

Ao elaborar os quesitos, devemos ter o cuidado de abranger todas as possibilidades de

incapacidade, ou seja, total ou parcial, definitiva ou temporária, assim como atualidade desta

incapacidade, data de início e término, permanência da mesma. Também, não podemos deixar

de indagar ao médico perito acerca da doença ou lesão noticiada, qual sua etiologia e sua

relação com o gesto profissional desenvolvido pelo trabalhador, o nexo causal.

Tão importante é a comprovação do nexo causal, que por vezes o êxito de uma ação

previdenciária acidentária depende apenas de três letras: SIM ou NÃO. Porém o operador do

direito, atento aos princípios que norteiam o direito previdenciário, jamais pode deixar de

questionar o nexo concausal e agravamento de lesão preexistente ante o gesto profissional.

Ao pleitear benefício previdenciário, em geral, presume-se incompatibilidade com

atividade laboral, contudo é preciso ponderar as circunstâncias do caso concreto. Já se decidiu

que mesmo trabalhando, o obreiro tem direito ao benefício por incapacidade pois

o exercício de atividade laboral após cancelamento do benefício e/ou antes do restabelecimento ou nova concessão de auxílio-doença não pressupõe capacidade laborativa, ainda mais considerando a necessidade de manutenção do próprio sustento, pela parte autora, enquanto aguarda a definição acerca do benefício pleiteado. (...) apenas quando há dúvida a respeito da data de início da incapacidade, o trabalho pode ser considerado como indício de capacidade.70

68SAVARIS, José Antonio (Coord.). Curso de Perícia Judicial Previdenciária. Conceito Editorial, 2011,

p..74 69Idem, ibidem, p.88 70TNU, 17/03/2011, PEDILEF 2008.72.52.004136-1, Rel.Juiz Federal Antonio Fernando Schenkel do

Amaral e Silva

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Com efeito, muitos laudos periciais trazem observações no sentido de que há

calosidades nas mãos do trabalhador, de modo a supor estar em atividade laboral, ou ainda,

baseando-se em afirmações colhidas na entrevista havida, informam ao Juiz que o requerente

atualmente está trabalhando e por isso não há incapacidade atual.

Devemos nos concentrar no pedido inicial e indícios suficientes do mal que acomete o

autor da ação previdenciária acidentária, consubstanciados em achados médicos e cópias de

perícias administrativas, ou até mesmo judiciais, retiradas de outros processos movidos pelo

mesmo trabalhador, eis que “o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo firmar sua

convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos” (CPC, art. 436).

Ao discorrer sobre a comprovação da incapacidade para o trabalho, Dr.José Antonio

Savaris esclarece que

O laudo técnico pericial, reconhecidamente a mais relevante prova nas ações previdenciárias por incapacidade, deve conter, pelo menos: as queixas do periciando; a história ocupacional do trabalhador; a história clínica e exame clínico (registrando dados observados nos diversos aparelhos, órgãos e segmentos examinados, sinais, sintomas e resultados de testes realizados); os principais resultados e provas diagnósticas (registrar exames realizados com as respectivas datas e resultados); o provável diagnóstico (com referência à natureza e localização da lesão); o significado dos exames complementares em que apoiou suas convicções; as conseqüências do desempenho de atividade profissional à saúde do periciando.71

Enfim, o laudo pericial não deve ser interpretado distante da condição sócio-

econômica do obreiro, tais como nível de escolaridade, especialidade profissional e idade, sob

pena de se realizar injustiça, posto que todos os benefícios por incapacidade são temporários,

até mesmo o de aposentadoria por invalidez. Contudo, muitos entendem que o fator idade

interfere na concessão deste benefício, o que não é verdade. Neste sentido, dispõe art.71 da

Lei 8.212/91, in verbis:

Art. 71. O INSS deverá rever os benefícios, inclusive os concedidos por acidente de trabalho, ainda que concedidos judicialmente, para avaliar a persistência, atenuação ou agravamento da incapacidade para o trabalho alegada como causa para sua concessão. Parágrafo único. Será cabível a concessão liminar nas ações rescisórias e revisional, para suspender a execução do julgado rescindendo ou revisando, em caso de fraude ou erro material comprovado.

71SAVARIS, José Antonio. Direito Processual Previdenciário, editora Juruá, 2. Ed., 2009, p..231.

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Retira-se dos ensinamentos do Dr.José Antonio Savaris

Se o que se exige do perito é que diga a verdade, a primeira verdade que deve dar a conhecer ao juiz é se tem ou não reais condições técnicas de realizar a perícia judicial com destreza. (...)há casos nebulosos e que fazem brotar dúvidas que atormentam o especialista até dias depois do término da atividade pericial. Em caso tais, se a inspiração do perito for cartesiana, reputar-se-á próximo ao falso tudo quanto for apenas provável. O estar provavelmente incapaz não levará à conclusão pela incapacidade. (...) deve o perito deixar transparecer no laudo sua dificuldade, antes de revesti-lo com vestes de certeza que muito dificilmente poderão ser retiradas pelas demais provas existentes no processo. Nesses casos difíceis, é importante lembrar que o perito deve saber o que realmente pode saber72.

Isto nos leva a afirmar que o perito, como profissional técnico de confiança do

magistrado, e por esta razão escolhido, não precisa ser especialista na área médica em estudo

no processo, para realizar a perícia judicial, não sendo tal circunstância pressuposto para a

validade do laudo.

2.6. Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT, Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário - NTEP, Vínculo Empregatício e Cadastro Nacional de Informações Sociais – CNIS

O artigo 22 da Lei 8.213/91 assim prevê: Art. 22. A empresa deverá comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social até o 1º (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário-de-contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência Social §1º omissis §2º.Na falta de comunicação por parte da empresa, podem formalizá-la o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública, não prevalecendo nestes casos o prazo previsto neste artigo. §3º omissis §4º omissis §5º A multa de que trata o aritgo não se aplica na hipótese do art. 21-A. (acrescido pela Lei n.11.430/06).

72SAVARIS, José Antonio. Curso de Perícia Judicial Previdenciária/ Coordenação José Antonio

Savaris. Conceito Editorial, 2011, pg.14/18.

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A comunicação imediata do acidente do trabalho deve ser promovida pela empresa, e

em caso de omissão, tal providência caberá ao próprio empregado, sindicato ou médico que o

assistiu. Contudo, importante lembrar, nos termos da Súmula 89 do Superior Tribunal de

Justiça a “ação acidentária prescinde do exaurimento da via administrativa”, de modo que

deixou de ser exigência a exibição da CAT – Comunicação de Acidente do Trabalho

juntamente com a inicial, no momento do ajuizamento da ação previdenciária.

O último parágrafo deste dispositivo legal prevê a isenção da multa em face da

empresa, quando o caso se amolda ao artigo 21-A, acrescido pela lei 11.430/06. Trata-se de

casos em que há nexo técnico presumido. O Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário

(NTEP), nas palavras de Wladimir Novaes Martinez73

Basicamente, consiste em atribuir à perícia médica do INSS a prerrogativa, diante das alegações do segurado requerente de auxílio-doença (e de informações que dispuser), de estabelecer uma relação sinalagmática entre a incapacidade (designada como agravo) e o ambiente de trabalho da empresa. Ou seja, numa simplificação lata, a combinação do CID com o CNAE.

Com tal inovação legal, houve a mudança do ônus da prova quanto à existência da

doença ocupacional, conforme nos ensina novamente Wladimir Novaes Martinez74 “Até

31.3.03, o dever de comprovar a presença da doença ocupacional era do segurado. Com o

NTEP, alterou-se a situação: quem a demonstra ou não é o INSS, transferindo à empresa o

ônus da prova em contrário”.

Este artigo alterou substancialmente o quadro de feitos previdenciários acidentários

perante o Judiciário Estadual, pois empregadores passaram a ajuizar ações visando a

descaracterização do nexo técnico, figurando no pólo passivo a Autarquia Federal e, em certos

casos,também o trabalhador acidentado.

A competência para julgar tais feitos vem sendo discutida.É evidente o propósito da

empresa em ver descaracterizado o nexo técnico, estabelecido administrativamente pela

Autarquia, porquanto tal interfere no resultado da relação de risco que o ambiente de trabalho

da empresa oferece, acarretando assim, todas as conseqüências advindas desta circunstância.

73MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à Lei Básica da Previdência Social, Tomo II, 8. ed.,

LTr, 2009, pag.182 74Idem, pag.183

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Admitindo-se que a competência da Justiça Estadual se estabelece quando a ação é

proposta pelo empregado segurado, acidentado no trabalho, em face da Autarquia Federal, na

qual se busca a concessão de benefício previdenciário de natureza acidentária, insta anotar

que a competência para julgar ações de descaracterização de nexo técnico,

administrativamente aplicado pelo INSS- e portanto se trata de ato administrativo-, onerando

o empregador face disposto em lei75, cabe à Justiça Federal, nos termos do art. 109, I da

Constituição Federal, considerando que a ação nestes casos é proposta por empregador, que

não figura no rol de segurados elencado no art. 12 da Lei 8.212/91, eis que contribuinte da

Previdência Social para o Seguro Acidentes do Trabalho/Riscos Ambientais do Trabalho

(SAT/RAT). Colhe-se os seguintes julgados para ilustrar este posicionamento:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. DISCUSSÃO SOBRE RECOLHIMENTO DE PARCELA DEVIDA À PREVIDÊNCIA SOCIAL POR EMPRESA PRIVADA. DECISÃO PROFERIDA POR JUIZ ESTADUAL NÃO INVESTIDO DE JURISDIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ANULAÇÃO DA SENTENÇA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA.APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 55/STJ.1. Conflito de competência entre o Tribunal Regional Federal da 4ªRegião e o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina em açãoconsignatória em pagamento, contra o INSS, onde se requereuconsignar o pagamento de 8% ao invés de 20% sobre o salário decontribuição dos trabalhadores avulsos devidos à Previdência Social.2. O art. 109, § 3º, da Constituição Federal, preceitua que "serãoprocessadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dossegurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sedede vara de juízo federal, e, se verificada essa condição, a leipoderá permitir que outras causas sejam também processadas ejulgadas pela justiça estadual".3. In casu, são partes da ação uma instituição de previdência social (INSS) e uma pessoa jurídica de direito privado, não fazendo esta parte do rol enumerado no art. 12, da Lei nº 8.212/91, que define as pessoas abrangidas pela expressão "segurados", sendo, portanto, competente a Justiça Federal. 4. Aplicação da Súmula nº 55/STJ: "Tribunal Regional Federal não écompetente para julgar recurso de decisão proferida por juizestadual não investido de jurisdição federal".5. Conflito conhecido para se declarar competente o Tribunal deJustiça do Estado de Santa Catarina para anular, ou não, a decisãodo Juízo Estadual e, caso positivo, remeter os autos ao JuízoFederal.(CC 27977/SC, 1999/ 0105469-9, Rel.Min.José Delgado, S1- Primeira Seção de 24-8-2000, DJ 9-10-2000). TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO DESTINADA AO SAT/RAT. LEI Nº 10.666/2003. CONSTITUCIONALIDADE. DECRETO Nº 6.957/09 E RESOLUÇÕES NºS 1.308 E 1.309/09 DO CNPS. FAP. LEGALIDADE. O artigo 22, inciso II, da Lei n. 8.212/91 instituiu o tributo e fixou as alíquotas máxima e mínima, enquanto o art. 10 da Lei 10.666/03 estabeleceu a redução em 50% ou o aumento em 100%, na forma do que dispuser o regulamento. Reconhecida a constitucionalidade da delegação da tarefa de determinar o que seja atividade preponderante e risco leve, médio e grave, como já decidiu o Supremo Tribunal

75Lei 10.666, de 08.05.2003, art. 10; Lei 11.430 de 27.12.2006, que acrescentou o art. 21-A à lei

8.213/91; Decreto 6.042/07 pub. em 13.02.2007, retificado em 23.02.2007 que deu nova redação ao art. 202 e criou o art. 202-A do Decreto 3048/99 e Decreto 6.957/09 (DOU 10.09.2009), que deu nova redação ao art. 202 e seguintes do Decreto 3048/99.

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Federal, certamente o é a que delega a função de definir o que seja desempenho da empresa em relação à respectiva atividade econômica a partir dos índices de frequência, gravidade e custo. O art. 10 da Lei n.º 10.666/03 consagrou hipótese de delegação técnica, delineando os critérios a serem observados, remetendo ao regulamento - Decreto nº 3.048/99, com a redação dada pelo Decreto nº 6.957/09 - a aferição do desempenho da empresa em face da respectiva atividade econômica, levando em consideração os resultados obtidos a partir da valoração dos índices de frequência, gravidade e custo (FAP). (TRF4 5000405-72.2010.404.7203, D.E. 10/08/2011) PROCESSUAL CIVIL, CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. MOLÉSTIA DECORRENTE DE ACIDENTE DE TRABALHO. AÇÃO REGRESSIVA DO INSS CONTRA O EMPREGADOR. ART. 120 DA LEI Nº 8.213/91. DEVER DO EMPREGADOR DE RESSARCIR OS VALORES DESPENDIDOS PELO INSS EM VIRTUDE DA CONCESSÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. ALEGAÇÕES DE ILEGITIMIDADE ATIVA DO INSS E DE FALTA DE INTERESSE DE AGIR AFASTADAS. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. CULPA CONCORRENTE DO SEGURADO NÃO DEMONSTRADA. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA QUANTO À ADOÇÃO E OBSERVÂNCIA DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO À SEGURANÇA DO TRABALHADOR. PEDIDO DE ABATIMENTO DOS VALORES PAGOS A TÍTULO DE SEGURO - SAT. IMPROCEDÊNCIA. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL. DESCABIMENTO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. APELOS DESPROVIDOS. 1. Não há falar em imprescritibilidade da ação regressiva acidentária, sendo-lhe inaplicável o artigo 37, § 5º, da Constituição Federal, uma vez que "considerando que a pretensão do INSS é de regresso na condição de segurador, a lide é de natureza civil, pelo que seria inaplicável o art. 37, § 5º, da CF/88, já que a autarquia atua para se ressarcir de indenização/benefício que pagou" (AC nº 0004226-49.2008.404.7201/SC, Rel. Des. Federal Marga Barth Tessler, 4ª T., j. 09-02-2011, un., DJ 17-02-2011). 2. Não prospera a preliminar de falta de interesse de agir da autarquia aventada pela parte ré no caso. É inquestionável a existência de interesse processual do INSS na propositura da presente demanda, visando a ressarcir-se dos valores despendidos com o pagamento do benefício previdenciário (auxílio-doença por acidente de trabalho) no caso. 3. A preliminar de ilegitimidade ativa do INSS, aventada pelo réu, não merece guarida. A presente ação encontra previsão legal expressa nos arts. 120 e 121 da Lei nº 8.213/91, sendo o meio legal cabível para a autarquia reaver os valores despendidos com a concessão de benefício previdenciário a segurado vítima de acidente de trabalho, bastando, para tanto, a prova do pagamento do benefício e da culpa da ré pelo infortúnio que gerou a concessão do amparo. 4. Demonstrada a negligência do réu quanto à adoção e fiscalização das medidas de segurança do trabalhador, tem o INSS direito à ação regressiva prevista nos arts. 120, 121 e 19, caput e § 1º, da Lei nº 8.213/91. 5. Hipótese em que o laudo pericial elaborado no caso e a prova testemunhal produzida demonstraram o descumprimento, pelo demandado, de normas de segurança no trabalho, detectando o referido laudo os seguintes problemas na execução do labor pelos seus empregados: quadro de pessoal insuficiente; imobiliário inadequado (configuração ergonômica inadequada); condições ambientais inadequadas; falta de programa de ginástica compensatória e ausências de pausas para recuperação. 6. Afastada a alegação quanto à culpa concorrente da vítima para a eclosão da moléstia, restando demonstrado na espécie que, caso existisse um ambiente de trabalho mais adequado, o mal não teria ocorrido 7. Constatada a existência de algumas irregularidades relativas ao ambiente de trabalho do segurado, causadoras do pagamento do amparo em tela, resta inafastável o dever de indenização por parte do empregador ao INSS. 8. Improcede o pedido do apelante/réu de que as parcelas pagas a título de seguro de acidente do trabalho - SAT sejam abatidas do montante a que foi condenado, uma vez que é pacífico em nossos Tribunais o entendimento no sentido de que o fato das empresas contribuírem para o custeio da Previdência Social, mediante o recolhimento de tributos e contribuições sociais, dentre estas aquela destinada ao seguro de acidente do trabalho - SAT, não exclui sua responsabilidade nos casos de acidente de trabalho decorrentes de culpa sua, por inobservância das normas de segurança e higiene do trabalho. 9. Não se acolhe o

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pedido do INSS de constituição de capital para o pagamento das parcelas vincendas. Segundo o art. 475-Q do CPC, a constituição de capital somente ocorre quando a dívida for de natureza alimentar. A hipótese em tela trata de ressarcimento, isto é, restituição, afastando o caráter alimentar das parcelas. Além disso, o segurado não corre o risco de ficar sem a verba alimentar, cujo pagamento é de responsabilidade da autarquia. 10. Verba honorária mantida em 10% (dez por cento) do valor da condenação (parcelas vencidas até a prolação da sentença) - valor sedimentado por esta Turma para ações em que há condenação de cunho pecuniário. 11. Apelos desprovidos. (TRF4 5005583-26.2010.404.7001, D.E. 08/07/2011).

Com efeito, esta matéria, relativa à aplicação do art. 21-A da Lei 8.213/91, ainda é

nova no âmbito judicial. No r.Juízo Acidentário de Curitiba, por exemplo, consta em trâmite

ação Ordinária, proposta pela Localiza Rent a Car S/A em face do Instituto Nacional do

Seguro Social, autos nº 0007567-15.2010.8.16.0001. Inicialmente, a ação foi proposta

perante a Vara Federal Previdenciária, autuada em 1º de outubro de 2009, contudo a douta

Juíza Federal, entendendo que a competência cabia à Justiça Estadual, nos moldes do art. 109

inciso I da Constituição Federal, declinou da mesma. Remetidos os autos para a Vara

Acidentária de Curitiba, Foro Central, o autor Localiza Rent a Car S/A emendou o pedido

inicial para incluir no pólo passivo a trabalhadora Simone da Costa, que sequer foi analisado.

Após parecer do Ministério Público Estadual argüindo incompetência do foro, o digno Juiz

Estadual suscitou conflito de competência, posicionando-se no sentido de que há interesse da

autarquia federal no caso, sendo aplicável Súmula 150/STJ76. Observou ainda, o Juiz estadual

que a ação foi proposta por pessoa jurídica em face da Autarquia Federal, estando fora do rol

de segurados, sendo competente a Justiça Federal para o julgamento.

O processo seguiu para o Superior Tribunal de Justiça, na forma eletrônica, e recebeu

número de Conflito de Competência CC nº 115.352/PR (2010/0223974-8). Em seguida, o

Ministro Ari Pargendler designou o Juiz Federal Suscitado para decidir sobre as medidas de

urgência (pedido liminar na inicial), uma vez que a demanda se trava entre o empregador e o

INSS.

Deste modo, a douta Juíza Federal denegou a liminar e prestou informações ao STJ

para instruir julgamento do Conflito de Competência, ressaltando que não importa se em um

dos pólos consta a autarquia federal, porquanto a competência da Justiça Federal é excluída

pela matéria – acidente de trabalho – e não pelas partes envolvidas. Discorrendo acerca das

conseqüências que resultam quando da caracterização do benefício como acidentário, quais

sejam previdenciárias, trabalhistas ou tributárias, concluiu a Magistrada Federal que a relação

76Súmula 150/STJ – Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que

justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas.

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jurídica material é que determina a competência. Como se trata o caso de relação jurídica

previdenciária, e neste particular o art. 109 I da CF expressamente excluiu a competência da

Justiça Federal, aduziu que quando se trata de ação questionando classificação do benefício

como acidentário, cabe à Justiça Estadual decidir.

Atualmente, o feito foi redistribuído no STJ para a Primeira Seção, porque entendeu-se

que o caso se trata de retificação de ato administrativo. Aguardando julgamento do conflito de

competência, em primeira instância a parte autora desistiu do feito, pedido ainda não

analisado.

Semelhante ao processo acima relatado, colaciona-se recente julgado:

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇAS ESTADUAL E FEDERAL. MANDADO DE SEGURANÇA. AUTORIDADE IMPETRADA. CHEFE DA AGÊNCIA DO INSS EM SERRA/ES. RETIFICAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. CLASSIFICAÇÃO EQUIVOCADA. AUXÍLIO-DOENÇA CATALOGADO COMO ACIDENTE DE TRABALHO. COMPETÊNCIA FEDERAL. CRITÉRIO RATIONE AUCTORITATIS. PRECEDENTES. 1. Cuida-se de conflito negativo de competência instaurado entre o Juízo Federal da 2ª Vara Cível da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo, o suscitado, e o Juízo de Direito da Vara Especializada em Acidentes de Trabalho de Vitória, o suscitante, nos autos de mandado de segurança impetrado por MZ Informática Ltda contra ato supostamente abusivo e ilegal do Chefe da Agência da Previdência Social do INSS no Município de Serra/ES, por meio do qual pretende a impetrante a retificação de ato administrativo. 2. Noticiam os autos que a autoridade coatora, erroneamente, indicou no ato administrativo impugnado a ocorrência de acidente de trabalho (Código 91) como causa do afastamento do empregado Marcos Rodrigues Martins, embora a licença, na verdade, tenha se dado em razão de doença (Código 31), o que gerou consequências previdenciárias mais gravosas para o empregador. 3. Embora a discussão tangencie o tema afeto à concessão de benefício previdenciário, a competência interna, por força do que dispõe o art. 9º, § 1º, II, do Regimento do STJ, é da Primeira Seção, pois o que pretende a impetrante é a anulação de ato administrativo, com retificação do registro do benefício concedido a seu empregado de acidente de trabalho (Código 91) para auxílio doença (Código 31). 4. A competência para o julgamento de mandado de segurança é estabelecida em razão da função ou da categoria funcional da autoridade indicada como coatora (ratione auctoritatis), sendo irrelevante a matéria tratada na impetração, a natureza do ato impugnado ou a pessoa do impetrante. Precedentes. 5. No caso, a autoridade indigitada coatora é o Chefe da Agência da Previdência Social no Município de Serra/ES, autoridade púbica federal vinculada ao Instituto Nacional do Seguro Social-INSS. Tratando-se de autoridade federal, a competência para julgamento do feito é da Justiça Federal de Primeira Instância, ainda que a matéria possa, de algum modo, tangenciar o tema relativo à concessão do benefício de acidente de trabalho. 6. Ainda que assim não fora, não se trata, na espécie, de demanda acidentária, mas de mandado de segurança que visa a retificação de um ato administrativo. 7. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 2ª Vara Cível da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo, o suscitado. (STJ, CC 111123/ES, Conflito de Competência 2010/0050172-5, rel.Min.Castro Meira, Primeira Seção.j. 10.11.2010 e DJe 22.11.2010).

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Recentemente o r.Juízo Acidentário de Curitiba, Foro Central, retomou o

seguimento da Ação Previdenciária nº 0976-71.2009.8.16.0001, na qual figura como autor

HSBC Bank Brasil S/A – Banco Múltiplo e como requeridos o INSS e o trabalhador José

Carlos Hornung. Neste feito, cujo objeto é o tema aqui em estudo, ou seja, a descaracterização

do caráter acidentário do benefício previdenciário, houve decisão do Superior Tribunal de

Justiça no conflito de comptência suscitado pelo Juízo Estadual, estabelecendo a competência

deste para julgaar o processo. Remetemos o leitor para o ultimo capítulo, subtítulo 3.9 -

Competência da Justiça Estadual, onde colacionamos este julgado.

De outra banda, somente possuem direito aos benefícios previdenciários acidentários

os cidadãos que estiverem a serviço da empresa, como empregado – leia-se: pessoa física que

presta serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante

salário – além dos segurados especiais conforme art. 11 inciso VII da Lei 8.213/91, e

trabalhador avulso, que presta serviços a diversas empresas, de natureza urbana ou rural, sem

vínculo empregatício, com a intermediação obrigatória do sindicato da categoria, ou órgão

gestor da mão de obra.

O primeiro caso, empregado a serviço da empresa, remete a uma questão

controvertida, qual seja, o vínculo empregatício, exigência deste e sua prova quando não há

registro em carteira profissional.

A Autarquia Federal, em suas contestações nos feitos acidentários em que tal situação

se apresenta, suscita preliminar de carência da ação por falta de interesse de agir, pela falta da

qualidade de segurado. Contudo, “o registro em carteira de trabalho é uma das formas de

prova do vínculo empregatício”, consoante ensinam os autores Antonio Lopes Monteiro e

Roberto Fleury de Souza Bertagni77, “Este pode ser provado por outros meios: recibos de

pagamento, por exemplo, prova oral, etc. A autarquia não pode invocar, já em preliminar, a

carência da ação, pois trata-se de questão de mérito.”

Enfatizam, ainda, os renomados autores acima, que mesmo após o período de graça78 o

trabalhador não perde o direito ao benefício acidentário:

É que a análise que tem que ser feita é a do momento em que o segurado contraiu a doença ou se acidentou. Se nesse período mantinha a condição de segurado,

77MONTEIRO, Antonio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury. Acidentes do Trabalho e Doenças

Ocupacionais, 6.ed., 2010, Editora Saraiva, p.178/179 78Art. 15 da Lei 8.213/91

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trabalhando e a empresa recolhendo a contribuição para esta finalidade, tinha o obreiro o que podemos chamar de “direito adquirido”. É esse o momento para aferição do direito, ou seja, a qualidade de segurado e a ocorrência do evento danoso, pouco importando que depois, eventualmente, tenha perdido tal condição.79

É certo que as empresas contribuem para o SAT/RAT (Seguro Acidentes do

Trabalho/Riscos Ambientais do Trabalho) consoante dispõe art. 22, inciso II da Lei 8.212/91,

ou seja, para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de

incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das

remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e

trabalhadores avulsos, os percentuais 1%, 2% ou 3%, dependendo do grau de risco da

atividade preponderante da empresa, leia-se: aquela atividade que ocupa o maior número de

segurados empregados e trabalhadores avulsos. O art. 10 da Lei 10.666 de 8.5.2003 instituiu o

FAP –Fator Acidentário de Prevenção, possibilitando, nos dizeres de Carlos Alberto Pereira

de Castro e João Batista Lazzari80:

“a redução, em até cinqüenta por cento, ou aumento, em até cem por cento, das referidas alíquotas, em razão do desempenho da empresa em relação à respectiva atividade econômica, apurado em conformidade com os resultados obtidos a partir dos índices de freqüência, gravidade e custo, calculados segundo metodologia aprovadas pelo Conselho Nacional de Previdência Social”.

Por sua vez, o artigo 29-A da Lei 8.213/91 determinou à Autarquia Federal a

utilização do Cadastro Nacional de Informação Social – CNIS para a apuração de salário-de-

benefício. Wladimir Novaes Martinez81, ao tecer comentários acerca do novel artigo de lei,

ensina que

Quer o caput que a autarquia primacialmente se sirva desses dados como fonte de registro sobre os salários-de-contribuição dos segurados e de outros elementos da relação jurídica. Basicamente, a idéia é diminuir os encargos do segurado, uma vez que essas informações se sediam em arquivos internos das empresas.

79Idem, ibidem, p. 58 80CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário,

Conceito Editorial, 13.ed., 2011, p.272/273 81MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à Lei Básica da Previdência Social, Tomo II, Editora

LTr, 8.ed., 2009, p.232

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Destaca-se que este cadastro é importante na medida em que pode servir de prova de

relação de emprego e vínculo, demonstrar a remuneração do segurado, comprovar sua filiação

ao Regime Geral da Previdência Social e demonstrar tempo de contribuição, colocando-se,

sem dúvida, como uma das inovações legais aplaudidas na doutrina pátria.

Desta forma, caso uma empresa sonegue contribuições que deveriam ser vertidas à

Seguridade Social, restará acessível ao governo apurar tal infração, observando que o CNIS “é

alimentado por diversas fontes como Caixa Econômica Federal (PIS e FGTS), Banco do

Brasil (PASEP), MPS (base de recolhimento do contribuinte individual e da arrecadação

previdenciária (CEI, RAIS e GFIP), Receita Federal do Brasil e MTE (CAGED)”82.

82Idem, ibidem

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3 JURISPRUDÊNCIA NA VARA ACIDENTÁRIA DE CURITIBA

3.1 TEORIA DA CONCAUSA

Percebe-se que a teoria da concausa é de difícil comprovação na prática, não obstante

o artigo 21, inciso I da Lei 8.213/91 tenha incluído como acidente do trabalho aquele que,

embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a incapacidade do

obreiro. Com efeito, nosso posicionamento é forte no sentido de se pesquisar se o gesto

profissional do trabalhador, exercido durante sua atividade laboral, tenha ou não contribuído

para o quadro físico que apresenta no processo previdenciário acidentário. É muito importante

avaliar, juntamente com a perícia, abstraindo-se o gesto profissional desenvolvido do fato

noticiado, para em seguida, concluir se a doença ocupacional estaria ou não agravada. Em

caso afirmativo, a concausa deve ser considerada. Como exemplo, citamos os seguintes

julgados:

Ação Previdenciária Acidentária nº 836-42.2006.8.16.0001, sentença favorável pela

concausa e nexo presumido; acórdão reformou e julgou improcedente o feito, porque não

houve prova do nexo causal, desconsiderando-se totalmente nexo presumido e teoria

concausal.

Ação Previdenciária Acidentária nº 106/2002, autora Ediuza Rozwalka Paiva.

Ingressou em Juízo para concessão de benefício acidentário, ante o gesto profissional que lhe

desencadeou doença profissional. A sentença de 1º grau reconheceu nexo causal, e

incapacidade permanente para o trabalho habitual, razão porque condenou a Autarquia a pagar

benefício de auxílio-acidente deste o dia seguinte do término do benefício auxílio-doença

(20/8/98), bem como correção monetária a partir do vencimento de cada parcela e juros de

mora 0,5% ao mês a partir da citação. Sentença em 11/2/05. INSS apelou e seu recurso não

restou conhecido porque não houve preparo recursal por parte da Autarquia Federal. Na época

o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná adotava Súmula 178 do STJ (14/2/2006); INSS

apresentou Recurso Especial para que houvesse admissão de Reexame Necessário uma vez

que o valor da ação não pode ser considerado como o valor da causa; e também porque

entende que pode preparar custas após vencido; o RE foi julgado parcialmente procedente

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somente quanto ao conhecimento do apelo do INSS porque este goza de prerrogativa de

efetuar pagamento custas de recurso ao final da demanda, art. 27 CPC. O valor certo da lide é

aferido no momento da sentença, e em sendo esta ilíquida é o valor da causa atualizado. O

apelo do INSS foi conhecido pelo TJPR mas desprovido ante prova no processo.

Ação Previdenciária Acidentária nº 596/2006 – sentença favorável aposentadoria por

invalidez – cozinheira diversas patologias ao longo da vida profissional – exame médico

pericial realizado evidenciou a incapacidade definitiva e irreversível da autora, o que

demonstra a incapacidade de exercer atividade que lhe garanta o sustento. Concedida

antecipação da tutela em sentença de primeiro grau.

Ação Previdenciária Acidentária nº 309/2005 Roseli Camargo; sentença de 1º grau

parcial dando procedência para reconhecer nexo causal porque o trabalho agiu como concausa

do agravamento da sintomatologia dolorosa – determinou a concessão de benfício auxílio-

acidente desde dia seguinte da cessação do benfício de auxílio-doença. Não converteu auxílio-

doença anteriormente concedido, de natureza comum em acidentário; não reconheceu

depressão como doença ocupacional. Autora recorreu para que seja reconhecida depressão,

quer aposentadoria por invalidez acidentária; INSS recorreu depois de intimado pessoalmente

(voltou em diligência do 2º grau) e busca o não reconhecimento do nexo causal; aguardamos

acórdão do 2º grau.

Ação Previdenciária Acidentária nº 178/2005 Autora Isabel Cristina dos Santos –

concausa. Sentença de Primeiro Grau procedente; AC.591854-9 Rel.Des.Ivan Bortoleto,

pub.4.2.2010, 2º Grau manteve e relator negou seguimento ao apelo por estar em confronto

com a jurisprudência dominante do STJ, nos moldes do art. 557 caput do CPC.

Ação Previdenciária Acidentária nº 410/2009 – Menezildo Jose Fagundes Portela,

função de impressor off-set, destro com lesão no ombro esquerdo; auxílio-doença acidentário

anteriormente concedido pela Autarquia, mas indevidamente cessado. Perícia judicial afirma

que ele tem problema anatômico que acarreta a lesão no ombro esquerdo e nada tem a ver

com a execução do seu trabalho, não havendo nexo causal. No parecer ministerial,

posicionamo-nos no sentido de que antes a Autarquia Federal havia reconhecido que era

doença do trabalho e portanto deveria restabelecer como doença acidentária, ante a concausa.

Juiz julgou improcedente porque falta prova robusta de nexo da lesão com o trabalho.

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Ação Previdenciária Acidentária nº 307/2005, autora Aparecida Maciel de Liz,

auxiliar de cozinha da Risotolândia, tendinite dos tendões supra-espinhoso e infra-espinhoso-

LER; perícia judicial apontou vagamente concausa; a Procuradoria de Justiça em 2º grau

manifestou-se pela admissão da concausa; em primeiro grau manifestamo-nos pela concessão

de auxílio-acidente ante a concausa; Juiz 1º Grau julgou improcedente a ação; apelou a autora,

em 2º Grau decidiram os Desembargadores: Apelação cível – previdenciário – agravo retido

não conhecido – ausência de reiteração para análise – pretensão de benefício – laudo

pericial conclusivo – inexistência de comprovação de incapacidade – improcedência –

sentença corretamente lançada – apelo da autora conhecido e desprovido. Agravo retido não

conhecido.” Aduziram que “o nexo causal não restou demonstrado e afirmado na perícia

oficial, a qual é induvidosa e conclusiva, ante a ausência de outros elementos que a

desconstitua”. Entendeu-se que foi admitida, apenas por hipótese a concausa. Mas a razão

mesmo do improvimento é a não constatação da incapacidade para o trabalho. 13/7/2010.

Ap.Cív.nº 642907-6 6ª CâmCív. Pub 27.05.2010 – “Apelação Cível – Previdenciário –

Ação Acidentária – Pedido de Restabelecimento de Auxílio-Doença por Acidente do Trabalho

ou Aposentadoria por Invalidez – Julgado Improcedente – Incapacidade laborativa decorrente

do acidente não constatada – ausência de comprovação do nexo causal entre a moléstia

degenerativa e a atividade lavoral desenvolvida pela segurada – Requisitos para concessão do

benefício previdenciário não comprovados – decisão correta – recurso não provido. Para a

concessão do benefício pleiteado é exigido que o segurado, em razão de acidente de trabalho,

esteja incapacitado, total ou parcialmente, para o exercício das atividades em que

habitualmente trabalhava, o que não restou demonstrado através da prova pericial realizada.”

No corpo do acórdão há menção quanto à aplicação do § 2º art. 20 e I do art. 21 da LB:

“Assim, para que seja equiparada a acidente do trabalho, a lei exige a constatação de que a

doença resultou das condições especiais em que o trabalho foi executado e com ele se

relacione diretamente”.

Ação Previdenciária Acidentária nº 155/2005, 351-76.2005.8.16.0001; autora

Antonieta Docena Ogleari; Em 1º Grau houve sentença que restabeleceu auxílio-doença e

converteu para espécie acidentária; reconheceu-se a depressão – concausalidade. Na perícia

ficou expresso que o trabalho e o ambiente de trabalho foram desencadeantes ou agravantes

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da enfermidade da autora. Diagnóstico do Perito depressão, ansiedade e dores generalizadas –

incapacidade total temporária; o Juiz a quo admitiu a teoria da concausa – Em 2º Grau houve

a reforma da sentença e provimento ao apelo do INSS – “depressão, lombalgias e síndrome

do Burnout. Perícia que afastou a síndrome do Burnout e Reconheceu apenas a existência de

Depressão, sendo esta a causa das lombalgias. Ausência de nexo causal. Incapacidade

temporária e passível de tratamento. Sentença reformada, benefício cassado. Sucumbência

invertida. Apelo do INSS provido. Apelo da Autora prejudicado.”Relatora Des.Angela Khury

Munhoz da Rocha, pub.14.12.2010, 6ª Cam.Cível. No acórdão em momento algum se falou

em concausa, apenas afirmou-se não existir nexo causal.

Ação Previdenciária Acidentária nº 347/2006, autor Loami Alves Pereira. Ap.Cível

704520-7, 7ª Câmara Cível publicada em 10.1.11: “Apelação Cível – Ação de Revisão de

Benefício Previdenciário – Conversão de Aposentadoria por invalidez previdenciária para a

correspondente acidentária – laudo pericial – nulidade – inocorrência- incapacidade

laborativa decorrente do acidente não constatada – ausência de comprovação do nexo causal

entre a moléstia e a atividade laboral desenvolvida pelo segurado – decisão correta – recurso

não provido”. No corpo do acórdão: “as respostas dadas pelo Perito são enfáticas no sentido

de que a doença não foi causada por acidente de trabalho, nem serviu ele como concausa do

seu agravamento”. E ainda: “Assim, para que seja equiparada a acidente do trabalho, a lei

exige a constatação de que a doença resultou das condições especiais em que o trabalho foi

executado e com ele se relacione diretamente” e ainda: “Para que se cogite em acidente do

trabalho e, via de conseqüência, em estabilidade acidentária, faz-se imprescindível a

irrefutável constatação de que a doença ‘resultou das condições especiais em que o trabalho é

executado e com ele se relaciona diretamente” (art. 20, §2º, da Lei nº 8.213/91) o que não

ocorreu no caso, como exposto” Enfim, caso de trabalhador de montador da Volvo apresenta

DORT epicondilite e tendinite do supra-espinhoso; concluiu-se na Justiça Trabalhista artrose-

degenerativa – defendemos a concausa (o gesto profissional agravou a lesão) – afastou-a o 1º

e 2º Grau do Poder Judiciário. As doenças aludidas são notoriamente relacionadas a

movimentos repetitivos, tanto que há presunção de que se trata de doença ocupacional

conforme Decreto 3048/99 com alteração dada pelo Decreto 6042/07, ou seja, nexo técnico

epidemiológico. As fotos da perícia trabalhista demonstram atividades manuais, movimentos

com esforço estático e preensão prolongada; atividade de parafusamento. Negado benefício

acidentário.

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Ação Previdenciária Acidentária nº 84-17/1999 – Apelação Cível nº 599777-9 – 7ª

Câm.Cív. Relatora Juíza Substituta 2º Grau Elizabeth M.F.Rocha – publicado em 10.06.2010.

ementa: “Ação Previdenciária – Sentença que condena o INSS no pagamento de auxílio-

acidente ao autor, a partir da data da Juntada aos autos do laudo pericial – interposição de

recurso por ambas as partes – não conhecimento de agravo retido ante a ausência de

requerimento expresso para tanto no recurso do INSS – doença de trabalho equiparada a

acidente que resulta em incapacidade parcial e permanente – circunstâncias que autorizam a

concessão de auxílio-acidente – manutenção da vitaliciedade desse benefício estabelecida na

sentença, diante da previsão legal à época do sinistro – princípio tempus regit actum – parcial

provimento do recurso do autor para a alteração do termo inicial de concessão, adotando-se a

data do recebimento pelo INSS da comunicação de acidente de trabalho (CAT) – ausência de

precedente concessão de auxílio-doença – manutenção da verba honorária fixada na sentença

– desprovimento do recurso do INSS.”

3.2 . CONCESSÃO DE BENEFÍCIO EM PERSPECTIVA

Em determinadas perícias observa-se que o trabalhador acidentado não possui atual

capacidade laboral, e desde já afirma o Perito que mesmo após a cura, não poderá retornar ao

trabalho habitual, de modo que sua capacidade laboral, no futuro, será parcial definitivamente.

Nestes casos, houve entendimento da Vara Acidentária no sentido de ser concedido ao Autor

benefício de auxílio-doença, e condenação na mesma decisão, obrigando a Autarquia Federal

a conceder, após reabilitação profissional, o benfício de auxílio-acidente. Contudo, o Tribunal

de Justiça Paranaense reformou a maioria destas decisões, por entender que não se pode

conceder benfício em perspectiva. Neste sentido:

Ação Previdenciária Acidentária nº 02/2004, autora Ingrid Maria Deschamps Justem

Naumann, em grau recursal houve parcial procedência do recurso da Autarquia para, somente

após nova perícia, conceder auxílio-acidente, após reabilitação da autora. Houve conversão do

auxílio-doença para homônimo acidentário, e na sentença de primeiro grau houve desde já a

concessão de auxílio-acidente após reabilitação. Não houve provas de seqüelas definitivas ou

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lesões consolidadas a ensejar a concessão deste benefício. Por se tratar de evento futuro foi

reformada a sentença.

Ação Previdenciária Acidentária nº 000758-48.2006.8.16.0001, requerente Raimundo

da Rocha Baldaia; perícia afirmativa no sentido de seqüelas definitivas incapacitando para

trabalho habitual, bem como atual incapacidade para o trabalho; sentença determinou a

concessão de benefício auxílio-doença e após reabilitação, benefício auxílio-acidente;

Acórdão reformou sentença para excluir condenação a auxílio-acidente, ante a possibilidade

de reversão das lesões sofridas.

Ação Previdenciária Acidentária nº 409/2006, autor Lazara Danielle Guidio Biondo;

sentença de 1º grau determinando auxilio-doença acidentário e ao mesmo tempo reconheceu a

incapacidade parcial e definitiva para o trabalho habitual; determinou após reabilitação, a

concessão de auxílio-acidente; em 2º grau, houve parcial provimento ao apelo do INSS

porque impossível a concessão de benefício em perspectiva “a conversão do auxílio-doença

para o auxílio-acidente dependerá do resultado final do processo de reabilitação da autora, não

se apresentando juridicamente possível antecipar o deferimento desse benefício sem que se

constate a necessidade de tal providência no momento oportuno”. Idem: Ação Previdenciária

Acidentária nº 00589-61/2006 autora Rosicler Scheremetta Maia da Silva, AC. 6ª Câmara

Cível Rela.Des.Sérgio Arenhart, pub.17.03.2010.

Ação Previdenciária Acidentária nº 1227-60.2007.8.16.0001 – Ap.Cív. 621048-2 6ª

Câm.Cív. – Acódão nº 27323 – “é devido ao auxílio-doença ao segurado considerado

parcialmente incapaz para o trabalho, mas suscetível de reabilitação profissional para o

exercício de outras atividades laborais”.

3.3 CUMULAÇÃO DE BENEFÍCIOS

Ação Previdenciária Acidentária nº 0084-17.1999.8.16.0001 – recurso parcialmente

provido do autor para modificar termo inicial do benefício de auxílio-acidemte desde a CAT –

Comunicação de Acidente do Trabalho e manutenção do caráter vitalício deste, face lei

anterior. A sentença de 1º grau havia condenado a Autarquia Federal ao pagamento do

benfício a partir laudo pericial judicial. Ausência de precedente benefício de auxílio-doença.

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Ação Previdenciária Acidentária nº 0000621-03.2005.8.16.0001 – Autor: Volmir

Langue; apelação cível – apelos parcialmente providos; em 1º grau o juiz sentenciou

condenando a Autarquia Federal ao pagamento do benefício de auxílio-acidente desde a data

de juntada do laudo judicial no processo e até a concessão de aposentadoria por invalidez;

mas o direito do autor, conforme acórdão 488.370-1 7ª Câmara Cível pub 16.1.2009 e trânsito

em julgado em 2/09/2010, foi reconhecido desde 12.2.96 e a lei vigente à época foi aplicada

(9.035/95) reconhecendo caráter vitalício do benefício e termo inicial desde a cessação do

auxílio-doença 14.6.97.

Ação Previdenciária Acidentária nº 15/98, autor Antonio Alves da Maia, funcionário

da Telepar como auxiliar técnico de Infra Estrutura – doença disacusia neurossensorial

bilateral. Vedada a acumulação de auxílio acidente com aposentadoria de qualquer espécie –

Lei 9528/97 – termo inicial deve ser quando o INSS tomou ciência da moléstia, ou seja,

citação nos autos porque não houve pedido administrativo (16.4.98) e assim o Juiz de 1º Grau

entendeu juridicamente impossível o pedido, pois o autor requereu sua aposentadoria por

tempo de serviço em 21.3.97 – julgou extinto o processo. O autor recorreu e em Apelação

Cível nº 185937-8, 7ª Cam.Cív.pub em 15-3-2002: “Acidente do Trabalho – Auxílio-Acidente

– Exaurimento da via Administrativa – Desnecessidade – Não apresentação do CAT –

Irrelevância – Perda Auditiva – Moléstia de cunho progressivo – Termo inicial anterior à

modificação do art. 86 da Lei 8.213/91 –Cumulação do benefício postulado com

aposentadoria por tempo de serviço- possibilidade – impossibilidade jurídica do pedido

afastada – remessa dos autos à vara de origem para análise do mérito –determinação –

recusro 01 provido. Apelo do INSS. Preparo. Ausência. Deserção. Caracterização. Recurso

02 não conhecido”. Novamente em 1º Grau o Juiz sentenciou: afirmou que há prova do mau

que padecia o autor antes da edição da Lei 9528/97 cabendo ser aplicada a lei anterior porque

mais benéfica ao trabalhador. A cumulação dos benefícios em exame ainda é possível diante

de fatos geradores distintos, pois um é decorrente de incapacidade e outro de tempo de

serviço; o fato do autor ter se aposentado por tempo de serviço é irrelevante, pois não impede

que ele retorne às atividades laborais; havendo esta possibilidade a doença se agravará, pois

diminuída a capacidade laboral, cabendo o auxílio-acidente. Marco inicial juntada do laudo

pericial em Juízo 31.7.98, pois sem pedido administrativo a caracterizar a mora do INSS.

Juros 0,5% am a partir citação e correção monetária IGPD-I a partir da data do vencimento de

cada parcela, 20% h.advocatícios. Autarquia apelou, não conhecido porque deserto e mantida

a sentença Ap.Cível 244.092-0 7ª CC, p. em 12/3/2004 e Reexame Necessário modificou

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honorários advocatícios para 10% sobre o valor das prestações vencidas. Em fase executória,

o INSS ofertou Embargos à Execução, que foi julgado parcialmente procedente, houve

recurso do INSS, ao qual negou-se provimento. Antonio Alves da Maia faleceu em 14/3/99, a

viúva pleiteia habilitação nos autos; Juiz determinou juntada do óbito e citação dos filhos do

extinto para habilitação. A viúva acosta aos autos certidão de casamento com anotação de

óbito e extrato do INSS demonstrando que é beneficiária da pensão por morte. Pretende

receber os atrasados que montam hoje em quase R$ 100 mil reais. Ajuizamento da demanda:

31/3/98, ainda pendente de habilitação dos herdeiros.

Ação Previdenciária Acidentária nº 0755-93.2006.8.16.0001 – Cacilda Passos da Silva

pretendia fosse concedido auxílio-acidente nos moldes da Lei 9032/95, eis que se acidentou

em 20.10.97 antes da vigência da Lei 9.528/97; atualmente e desde 2002 percebe

aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de trabalho, precedida de auxílio-doença

acidentário. Perícia judicial no sentido de que a trabalhadora restou com seqüelas, incapaz

para exercer qualquer atividade para seu sustento, houve tentativa de reabilitação profissional.

A sentençpa foi improcedente porque não há como cumular dois benefícios pelo mesmo fato

gerador. A autora apelou e acórdão foi firmado no sentido de que “em que pese o acidente de

trabalho ter ocorrido em 1997, quando do preenchimento dos requisitos necessários à

concessão da aposentadoria por invalidez (2002) não era mais possível a pretendida

cumulação”. No corpo do acórdão retira-se que em 20/07/02, data considerada pelo perito

como sendo a data da incapacidade definitiva da autora, já vigia a redação da Lei 8.213/91

que vedava a cumulação de benefícios. Antes disso havia expectativa de reabilitação por parte

da autora e por isso mesmo não lhe fora concedido benefício de aposentadoria por invalidez

de plano. ApCí nº 725680-8 6ª CC pub em 18.02.11 Rel.Des.Prestes Mattar. No mesmo

sentido: ApCív. 448148-7 6ª CC pub 21.7.09. STJ: citou Fábio Zambite Ibrahim83: “o auxílio-

acidente depende da conjugação da tríade “acidente de qualquer natureza (inclusive do

trabalho), produção de seqüela definitiva e efetiva redução da capacidade laborativa em razão

da seqüela”. Assim, não basta ter o acidente ocorrido antes da vigência da lei 9.528/97, para a

acumulação de benefícios necessária a existência dos requisitos para a concessão de auxílio-

acidente, a se perfazerem até antes da referida medida provisória. ReEsp 1.111.828/SP.

83 IBRAHIM, Fábio Zambite. Curso de Direito Previdenciário 14ª Ed., Niterói, Ed.Impetus 2009, p.670

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Ação Previdenciária Acidentária nº 0001041-03.2008.8.16.0001 – Revisão de

Benefício Acidentário – parte autora Maria José Tanck Martins – pretende seja deferido

caráter vitalício do benefício auxílio-acidente concedido em outra ação previdenciária de nº

161/2003. Nesta ação a sentença concedeu Auxílio-Acidente desde a cessação do Auxílio-

Doença em março de 1998 e determinou que o Auxílio-Acidente seria pago até início de

aposentadoria ou morte segurado. O Juiz de 1º grau, nesta ação de revisão 1041/2008

extinguiu o feito sem julgamento do mérito por falta de interesse de agir e em face da

impossibilidade jurídica do pedido, porque se estaria reformando por forma obtusa sentença

de outro feito. A parte autora apelou e o Ministério Público se pautou pelo provimento em 1º

grau, porquanto a lei que vigia na época do fato gerador era 9032/95 que permitia a

cumulação dos benefícios Auxílio-Acidente e Aposentadoria por Invalidez Acidentária. O

Ministério Público de 2º grau pautou-se pelo improvimento do recurso e a 7ª Câmara Cível

deu improvimento porque a autora deveria ter proposto recurso competente na ação 161/2003

para alteração do período o benefício Auxílio-Acidente e não outra ação declaratória para

modificar a decisão a quo.

3.4 ÔNUS PROCESSUAIS EM FACE DO TRABALHADOR

Não concordamos com a condenação do trabalhador em custas processuais e

honorários de sucumbência, ante o teor do art. 129, parágrafo único da Lei 8.213/91. Com

efeito, já houve posicionamento da 7ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do

Paraná no seguinte sentido:

Ação Previdenciária Acidentária nº 264/2008 autor: Waldete Bento de Souza – Ap.

Cível 644.187-2 – Benefício que já vinha sendo pago pelo INSS – ausência de interesse

processual – matéria passível de ser conhecida de ofício – extinção do processo sem resolução

do mérito – inteligência do art. 267, inciso VI e § 3º do CPC – extinguiu-se o feito sem mérito

e condenou a trabalhadora às custas e despesas processuais e honorários advocatícios,

observando-se art. 12 da Lei 1060/50 (Justiça Gratuita), prejudicado o apelo. A autora havia

renunciado ao direito que funda a ação; o INSS restabeleceu o benefício com data retroativa

para data anterior à do ajuizamento da ação. Entendemos que o momento de ser verificada a

condição da ação é o do ajuizamento da ação. Neste caso, o restabelecimento do benefício

aconteceu depois da contestação, contudo administrativamente demonstrando data retroativa,

mas de fato no dia do ajuizamento da ação a autora nada recebia, e portanto, tinha interesse de

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agir. Como a autora desistiu e renunciou, o feito deveria ter sido extinto com resolução do

mérito para obstar novo ajuizamento de ação previdenciária, sob iguais fundamentos.

Ação Previdenciária Acidentária nº 403/2008 sentença julgando improcedente o feito

nos moldes do art. 269 inciso I do CPC porque a autora não compareceu à perícia e não mais

deu seguimento ao feito. Entendeu o Juiz que o ônus de prova cabia à autora art. 333 I CPC.

Ação Previdenciária Acidentária nº 000868-81/2005 – Laércio Scrok – Em 1º Grau

houve sentença procedente para converter auxílio-doença ao homônimo acidentário; autor

apelou porque queria aposentadoria por invalidez; INSS apelou adesivamente para declarar

ausência de nexo causal; Em 2º grau houve a reforma sentença, e julgado improcedente a

demanda com inversão do ônus da sucumbência a despeito do art. 129 da Lei de Benefícios.

Ação Previdenciária Acidentária nº 214/2005, autora Erica Depizol dos Santos

Roesner. Apelação Cível 609141-4 6ª Câmara Cível – provimento parcial ao apelo ministerial

reconhecendo isenção de custas ao trabalhador face o teor do art. 129 parágrafo único da Lei

8.213/91 “É que a posição de hipossuficiência do trabalhador conduziu o legislador a

decretar a gratuidade da distribuição da justiça no campo do Direito Acidentário. Esta

gratuidade estende-se até aos honorários de advogado, porquanto a lei estabelece isenção do

pagamento de quaisquer despesas processuais, inclusive aquela relativa à sucumbência.”

Ministério Público, quando do retorno dos autos à Vara, pediu a devolução das custas pagas

na inicial para a autora.

Ação Previdenciária Acidentária nº 44/2003. Autora Roseneide Feitosa de Oliveira.

STJ entendeu que o INSS pode pagar custas ao final, se vencido, a teor do art. 27 CPC.

19/6/2008. Relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura.

3.5 COMPENSAÇÃO DE VALORES PAGOS A TÍTULO DE BENEFÍCIO

Ação Previdenciária nº 000568-51.2007 – Sandra Mara Ribeiro – acidente do trabalho

consistente em LER – lesões decorrentes do esforço repetitivo – sentença determinando o

pagamento de aposentadoria por invalidez acidentária, desde a data da juntada do laudo

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pericial em Juízo; contudo, determinou a compensação dos valores recebidos a título de

auxílio-doença. Recorreu INSS; aguardamos acórdão.

Ação Previdenciária Acidentária nº 00224-75/2004, autora Tereza Alida Gossler –

julgada procedente para conceder auxílio-acidente desde a juntada da perícia judicial; INSS

recorreu buscando improcedência da ação; sustentou que a autora recebe auxílio-doença e

impossível cumular; autora pediu a conversão da espécie do benefício de auxílio-doença para

homônimo acidentário em Embargos de Declaração, que foi rejeitado pelo Juízo; Acórdão deu

improvimento ao apelo da Autarquia Federal: “Acórdão 12942 da 7ª

Câmara Cível – Apelação Cível- Pedido de concessão de auxílio acidente – redução da

capacidade laborativa – direito ao recebimento do auxílio-acidente – inteligência do art. 86, da

Lei 8.213/91. 1. Resultando seqüelas no segurado que impliquem em redução da capacidade

para o trabalho que habitualmente exercia, decorrentes de acidente do trabalho, devido é o

auxílio-acidente, nos termos do disposto no artigo 86, caput, da Lei 8.213/91. 2. Recurso

desprovido.” O INSS ofertou Embargos Declaratórios para que fosse avaliada a questão de

cumulação de benefícios – os embargos foram acolhidos em parte para sanar contradição com

modificação do julgado – os Desembargadores haviam consignado no acórdão que o auxílio-

doença havia sido concedido até a data de 9-5-04 e o auxílio-acidente foi deferido desde 4-7-

04 razão porque não há cumulação de benefícios – acrescentaram os d.julgadores “no entanto,

em caso de eventual cumlação, por óbvio, o valor recebido a título de auxílio-doença será

compensado com o valor a ser recebido a título de auxílio-acidente”. Foi dada parcial

procedência ao apelo porque corrigido o termo final do auxílio-acidente até início de qualquer

aposentadoria ou até a data do óbito do segurado, pois a sentença de 1º grau somente referiu

esta última hipótese. Em sede de execução da sentença, o INSS ofertou Embargos à Execução

alegando que a autora recebeu desde 16/5/05 auxílio-doença que cessou em 14/10/2007 e a

partir daí recebeu aposentadoria por invalidez; disse que a autora somente poderia executar

auxílio-acidente (50% salário-de-benefício) de 4/7/05 a 15/9/05, contudo compensando o que

recebeu de auxílio-doença (91% salário-de-benefício). A trabalhadora acabou ficando

devedora da Autarquia, em mais de R$ 18 mil reais. Julgado os embargos após comprovar o

INSS que o fato gerador dos benefícios auxílio-acidente e auxílio-doença era o mesmo; o Juiz

de primeiro grau entendeu que o período a executar era de 4-7-05 a 15-9-05, tendo em conta

que o auxílio-doença teve início em 16-9-05; em relação ao débito aventado pela autarquia,

disse o douto magistrado que “as prestações previdenciárias tem caráter alimentar e, como

tais, não acarretam o enriquecimento de quem recebeu, sendo assim impassíveis de

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restituição.” Julgou procedente a ação para declarar que não são devidas quaisquer

importâncias à autora. Condenou a embargada aos ônus de sucumbência com ressalva da

Justiça Gratuita.

3.6 CIRCUNSTÂNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS

Ação Previdenciária Acidentária nº 82/2006, autor Deocrides Teodoso Gonçalves –

Em 1º grau teve em seu favor sentença procedente determinando pagamento de aposentadoria

por invalidez acidentária com base em circunstâncias sócio-econômicas (idade, grau de

instrução, meio social, capacidade profissionalizante)84 – Em 2º grau houve reforma da

sentença para concessão do benefício de auxílio-acidente porque entenderam os julgadores

que 40 anos de idade não é idade avançada; não há prova da escolaridade do autor nos autos e

não se pode presumir sua instrução e incapacidade laboral, em contrário ao princípio in dubio

pro misero; atual fase execução.

Acidente de Trabalho nº 0000549-45.2007.8.16.0001, autor Osvaldo Bregenski – ação

de conhecimento, pedido de concessão de aposentadoria por invalidez, cumulado com o

benefício de auxílio-acidente que já percebe, pelo mesmo fato gerador. Perícia contrária,

afirmando capacidade laboral residual. Acidente ocorrido em 1987, com indícios de que ele

trabalhou até 1991. Fundamentação capacidade sócio-econômica do indivíduo com 57 anos

de idade e limitação braçal, somente até 4ª série, vive de bicos de pintura. Ação julgada

improcedente, apesar do parecer favorável do Ministério Público, observando as

circunstâncias sociais. Em grau de recurso, sentença mantida pela 6ª Câmara Cível porque

inexistente requisito do art. 42 da Lei 8.213/91. Apelação Cível 686.697-3 Curitiba-Pr:

“Apelação Cível. Previdenciário. Concessão de Aposentadoria por Invalidez. Impossibilidade.

Laudo pericial. Ausência de incapacidade laboral total e permanente. Requisito do art. 42 da

Lei 8.213/91. Apelante que já recebe auxílio-acidente. Sentença mantida. Recurso de

Apelação desprovido” citado no Acórdão o seguinte julgado: “A aposentadoria por invalidez

é medida que se aplica aos casos em que o segurado não possui condição alguma de exercer

qualquer tarefa que possa promover a sua subsistência, ausentes esta característica, é indevida

84 MONTEIRO, Antônio Lopes e BERTAGNI, Roberto Fleury. Acidentes do Trabalho e Doenças

Ocupacionais, Ed.Saraiva, 6ª Ed., p.77

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a concessão dos benefícios pleiteados” (TJPR – 6ªCC – AC. 066804-6 – Laranjeiras do Sul –

Rel. Juíza Ana Lúcia Lourenço – unânime – j. 27.7.2010).

3.7 REVISÃO DE BENEFÍCIOS

Ação Previdenciária Acidentária nº 00594-83/2006, Autora Ivonete Pereira de Melo –

6ª Câm.Cív. Rel.Des.Luiz Cezar Nicolau, Acórdão publicado em 22.04.2009; modifica

sentença de 1º grau no que se refere à revisão da renda mensal inicial. Auxílio-doença

precedido de aposentadoria por invalidez; artigo 29 § 5º Lei de Benefícios; na visão dos

senhores Julgadores, o benefício deve ser intercalado, porque não há contribuição ao sistema,

nos moldes do art. 55 II da mesma Lei; origem mesmo infortúnio, correto art. 36 § 7º Decreto

3048/99. Idem: 7ª Câm.Cível Rel.Des.Luiz Sérgio Neiva de Lima Vieira; “aquele que recebe

auxílio-doença não tem salário-de-contribuição no período imediatamente anterior”. Ação

Previdenciária Acidentária nº 118/2007 Autor: Audete Lucia Popilnick, pub em 10.12.2009.

Ação Previdenciária Acidentária nº 161/2004 – 366623-1 – autora Julieta Alves

Queiroz de Jesus – Apelação Cível 6ª Câmara Cível, reforma da sentença de 1º grau –

inaplicabilidade da Lei 9.032/95 para pensão por morte acidentária concedida antes da sua

vigência – 195 § 5º da CF. Em repercussão geral por questão de ordem do recurso

extraordinário decidiu o STF RE 597389 RG-QO/SP – Julgamento 22/04/2009. Ausência de

cláusula indicativa da fonte de custeio correspondente à majoração do benefício

previdenciário. Voto Vencido – em se tratando de benefício acidentário, a lei nova mais

benéfica tem aplicação imediata ainda que mais gravosa ao trabalhador, STF 1ª Turma – RE-

AgR 302582/SP – Rel Min.Carlos Britto – DJ 03.12.2004.

Ação Previdenciária Acidentária nº 308/2006 – revisão de auxílio-acidente –

Requerente: Anselmo Toaldo – sentença de 1º grau modificou o coeficiente de cálculo de

40% para 50% face aplicação imediata da Lei 9032/95 mais benéfica; 2º grau confirmou

decisão dizendo que não ocorre violação ao art. 195 § 5º da CF – Apelação Cível 463494-0 6ª

Câm.Cível acórdão nº 22460 pub.09.01.1009 – INSS apresentou recurso Extraordinário

argüindo preliminarmente repercussão geral nos moldes do art. 543-A § 3º do CPC, por haver

jurisprudência dominante do STF em contrário. Apresentou também Recurso Especial nos

moldes do art. 105, III letras “a” e “c” CF pois o acórdão divergiu do aresto proferido pela 5ª

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75

Turma do STJ no REsp 911.926/SP, REl.Min.Félix Fischer, DJU 4-6-07 – art. 255 do

Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça; O Vice-Presidente do TJPR analisando

ambos os recursos interpostos pelo INSS aplicou art. 543-B, § 3º CPC, pois STF reconheceu

repercussão geral da matéria no RE 597.389 (DJ 6.5.09) consignando a não aplicação

imediata da Lei 9032/95. O TJPR novamente apreciou a apelação cível na forma do art. 543-

B, § 3º CPC e 543-C § 7º II e o Acórdão 22460 foi retificado e se deu provimento ao recurso

de apelação cível interposto pelo INSS.

Idem ao caso acima Ação Previdenciária Acidentária nº 311/2004 – revisão de auxílio-

acidente.

3.8 CONDIÇÃO DE SEGURADO

Ação Previdenciária Acidentária nº 17860-44.2010.8.16.0001- determinada a remessa

à Justiça Federal porque contribuinte individual – pedreiro autônomo amputou dedos com

serra elétrica e não tinha vínculo empregatício. Acidente considerado doméstico. Auxílio-

acidente indevido.

Ação Previdenciária Acidentária nº 623/2008, requerentes Cássia Regina Stelzner da

Silva e Sara Vitória Stelzner – pensão por morte à companheira e filha do falecido e

companheira. 1º grau julgou procedente, INSS apelou. Fundamento falta de qualidade de

segurado – detalhe: o benefício é decorrente de acidente do trabalho, último emprego

10/03/1999 e óbito 12/05/2005; provas testemunhais e CAT dando conta de acidente de

trânsito quando se dirigia ao trabalho – independe de formalidade de comprovação de vínculo

empregatício. Houve comprovação e a sentença se fundamentou nesta prova de que o acidente

ocorreu dois dias após a contratação do trabalhador – anotação em CTPS.

Ação Previdenciária Acidentária nº 153/2006, autor Valdemar Alves da Cruz –

pedreiro autônomo – Ap.Cível nº 644074-0 7ª Câmara Cível TJPR: “Ação de concessão de

benefício previdenciário. Ofensa ao princípio da dialeticidade. Inocorrência. Não

comprovação da qualidade de segurado. Requisito indispensável para concessão do benefício.

Sentença mantida. Recurso desprovido”. – caso em que o trabalhador manteve vínculo

empregatício até 1994 – desempregado virou autônomo sem contribuir para o INSS – voltou a

contribuir dias após o acidente de trabalho, contudo na condição de pedreiro autônomo. Não

possui direito a benefício acidentário face art. 19 e 11, I c/c 15, II LB. Nove anos de decurso

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temporal entre a última contribuição e acidente (1994 e 4/4/2005). O apelante contribuiu no

mês de abril de 2005, porém tal depósito se deu em 13/5/2005, após o referido acidente. Não

houve comprovação de vínculo jurídico com a Previdência Social – condição de segurado.

3.9 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL

Ação Previdenciária Acidentária nº 0843-34.2006.8.16.0001 – sentença 1º grau

improcedência – sem nexo causal pela perícia judicial –Em 2º grau, a Procuiradoria de

Justiça opinou pela anulação da sentença para que se decline a competência para Justiça

Federal – acórdão confirmando sentença, porque a competência é fixada com base na causa de

pedir – nexo causal não demonstrado o caso é de improcedência.

Ação Previdenciária Acidentária nº 375/2006 – A demanda foi ajuizada perante a Vara

de Registros Públicos, Acidentes do Trabalho e Cartas Precatórias Cíveis desta Capital,

contudo após constatação de que a incapacidade não teria cunho acidentário, em perícia

judicial, o juiz declinou competência para a Justiça Federal. O Ministério Público interpôs

Agravo de Instrumento, obtendo êxito, retornando os autos à Vara de origem. Patologia

Psiquiátrica. Depressão e Transtorno Afetivo Bipolar. Autora Bancária, trabalhava no CAll

Centr e tinha pressão para cumprimento de metas. Em alegações finais pugnamos pela

procedência parcial para conceder auxílio-doença acidentário desde o requerimento até a

constatação da inexistência de incapacidade.

Ação Previdenciária Acidentária nº 0976-71.2009.8.16.0001, Autor HSBC Bank

Brasil S/A – Banco Múltiplo, ajuizada em 1º de julho de 2009. Busca o autor a

descaracterização do nexo Epidemiológico do Benefício Acidentário em face do Instituto

Nacional do Seguro Social e do trabalhador José Carlos Hornung. O Juízo da Vara

Acidentária de Curitiba declinou a competência para a Justiça Federal. O autor HSBC apelou,

cujo recurso não foi recebido porque a decisão é agravável. Na Justiça Federal, entendeu-se

que o pedido final envolve a manutenção do benefício acidentário, razão porque determinou-

se a devolução dos autos à Justiça Estadual. O Juízo da Vara de Registros Públicos, Cartas

Precatórias Cíveis e Acidentes do Trabalho de Curitiba, Foro Central suscitou Conflito

Negativo de Competência, por entender que há interesse de ente federal no feito. A

Procuradoria de Justiça opinou pela improcedência do conflito, declarando-se competente o

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Juízo Estadual. Subiram os autos ao Superior Tribunal de Justiça que julgou o Conflito de

Competência nº 112.310-PR (2010/0094032-8) cuja ementa é a seguinte: “Conflito negativo

de Competência. Justiça Federal e Justiça Estadual. Previdenciário. Pretensão que visa à

descaracterização do caráter acidentário de benfício previdenciário. Aplicação do art. 109, I,

da CF/88. Competência da Justiça Comum Estadual. 1. É competente a Justiça Estadual para

processar e julgar ação relativa a acidente de trabalho, estando abrangida neste contexto tanto

a lide que tem por objeto a concessão de benfício como também as relações daí decorrentes

(restabelecimento, reajuste, cumulação), uma vez que o art. 109, I, da CF/88 não faz qualquer

ressalva a esse respeito. 2. Conhece-se do conflito e declara-se a competência da Justiça

Estadual.” (Rel.Ministro Adilson Vieira Macabu, Desembargador convocado do TJ/RJ, DJe

03/03/2011). Remetido o processo à Vara de Registros Públicos, Cartas Precatórias Cíveis e

Acidentes do Trabalho desta Capital, retomou-se o seu curso, designando-se audiência

preliminar, que restou negativa quanto ao acordo entre as partes. O trabalhador José Carlos

Hornung, devidamente citado, compareceu ao ato e apresentou contestação. De igual modo, o

INSS compareceu à audiência e apresentou contestação. Em audiência foi deferido ao

requerido José Carlos Hornung a juntada de laudo médico, realizado em feito trabalhista, que

comprova nexo de causalidade. O INSS em contestação noticia que desde junho do corrente

ano o trabalhador está aposentado por tempo de contribuição e que o benefício acidentário em

exame nos autos cessou em 18 de abril de 2008. Atual fase processual: após impugnação do

autor às contestações, os autos foram remetidos ao Ministério Público para manifestação.

3.10 ACIDENTE DE TRABALHO

Ação Previdenciária Acidentária nº 0001084-03.2009.8.16.0001 acidente de

intoxicação. INSS propõe acordo no final do processo, caso de concessão de benefício

Auxílio-Acidente.

Ação Previdenciária Acidentária nº 0000842-49.2006.8.16.0001, autor Silas Bueno

Rodrigues. Teve o braço machucado em máquina. Entendemos que o trabalho habitual restou

prejudicado. Perícia contrária. Sentença improcedente e confirmada em 2º grau, afirmando-se

que a perícia foi conclusiva ao afirmar que o autor pode trabalhar em outras atividades e sem

lesões definitivas. Caso típico daquele indivíduo que ficou desempregado depois do acidente e

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não mais consegue trabalhar nas mesmas funções face dor que os Juízes e peritos descrevem

como subjetivas.

Ação Previdenciária Acidentária nº 334/2004 autora Eleuzina Pereira dos Santos –

bancária – depressão – sentença de 1º grau pela improcedência – Acórdão reformando e

dando aposentadoria por invalidez acidentária – síndrome de Burnout. – prova da etiologia

laboral da lesão.

Ação Previdenciária Acidentária nº 29/2003 autor Francisco de Assis Ferreira –

disacusia – termo inicial julgado em 1º grau desde citação INSS; Em 2º grau desde a citação

INSS – voto vencido – desde a perícia judicial porque sem pedido administrativo – foi a

Recurso Especial porque INSS pretende que o termo inicial seja a data da perícia – autor

então concordou termo a quo como sendo a data da perícia – INSS insistiu no Recurso

Especial – negado seguimento ao recurso especial porque não estava claro qual o tópico

resistido – atual fase: julgamento de Agravo de Instrumento ao Superior Tribunal de Justiça

pela Autarquia Federal.

Ação Previdenciária Acidentária nº 25/1999, autor Julio Cesar Duarte da Silva;

disacusia; julgado improcedente em primeira instância; em 2º grau reformado – basta a perda

auditiva, ainda que em grau reduzido, para a concessão de benefício auxílio-acidente, embora

em determinadas situações possa haver dúvida quanto ao nexo causal entre o acidente e o

agravamento da moléstia, gerador da incapacidade laborativa, ainda assim deve ser julgado

procedente o pedido pela aplicação do in dubio pro misero.

Ação Previdenciária Acidentária nº 140/2008 trabalhador Rube José Marsaro; acidente

de trabalho consistente em perda de visão olho esquerdo incapacidade permanente para

função mecânico; INSS aduziu que o benefício auxílio-acidente já é pago desde a cessão do

auxílio-doença acidentário, desde 1/2/2002, o autor quer aposentadoria por invalidez, ainda

em trâmite.

Ação Previdenciária Acidentária nº 0000854-97.2005.8.16.0001 – Autora Marinice

Domingues Lopes – função carteiro da empresa ECT: recebeu auxílio-doença desde 1/3/01 a

15/7/01; CAT em 20/2/02, auxílio-doença desde esta data até 16/5/02; reabilitada para outra

função pelo INSS; fez cirurgia e voltou ao auxílio-doença extinto em 6/8/03 – sentença de 1º

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grau determinou a concessão de Auxílio-Acidente porque não poderá mais exercer função

carteiro; data de início desde a data da juntada do laudo pericial em Juízo – Apelação do autor

e do INSS – provido parcialmente para termo inicial desde 17/5/2002, dia seguinte ao da

cessação do auxílio-doença. Acórdão nº 13978 – 7ª Câmara Cível – Ap.0527823-7, pub. Em

22.5.09. Des.Luiz Sérgio N.L.Vieira.

Ação Previdenciária Acidentária nº 0028969-55.2010.8.16.001 – Requerente Creuza

de Sousa Pereira – prescrição decretada sentença 1º grau– revisão benefício pensão por morte

acidentária – salário-de-benefício calculado erroneamente; aplicação 103 e parágrafo único

LB – concessão benefício em agosto de 1998 – ação ajuizada em 2010.

3.11 ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA

Ap 623.547-8 7ª CC, Rel.Des.Guilherme Luiz Gomes, pub 08.07.2010. Apelação

Cível– Ação de concessão de Benefício Previdenciário em fase de Execução – Expedição de

Precatório Complementar – juros de mora – Ausência de atraso no pagamento – período

anterior à expedição do precatório cuja fluência não pode ser atribuída ao ente devedor –

atualização monetária – incidência desde a data da homologação judicial do cálculo até o

efetivo paramento do precatório – precedentes do Egrégio Superior Tribunal de Justiça. 1.

Não podendo ser atribuído ao ente devedor o período de fluência entre a data da homologação

judicial do cálculo e a data da expedição do precatório, bem como tendo ocorrido o

pagamento deste no prazo legal, não há que se falar em mora, e por conseqüência, em

incidência de juros moratórios. 2. A atualização monetária, tratando-se de mera recomposição

do poder aquisitivo da moeda, incide desde a data do cálculo até a data do efetivo pagamento

do precatório, consoante precedentes do egrégio Superior Tribunal de Justiça. 3. Apelação

Cível parcialmente provida”

Ação Previdenciária Acidentária nº 297/2007, autor Jorge Antonio Rolim – sentença

de 1º grau julgou procedente a ação e condenou a Autarquia Federal a conceder aposentadoria

por invalidez acidentária, a partir da cessação do benefício de auxílio-doença, cujo término foi

determinado na sentença. INSS apelou para reforma total, e no que diz respeito ao índice de

correção aplicável ao benefício concedido, pois a partir de 30 de junho de 2009 entrou em

vigor art. 1º-F da Lei 9494/97, que impõe que nas condenações contra a Fazenda Pública, a

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correção monetária e juros de mora são utilizados os índices oficiais da remuneração básica e

juros aplicados à caderneta de poupança. Em segundo grau a sentença foi confirmada e no que

tange aos índices de correção, afirmou inaplicável o dispositivo referido pelo apelante porque

não se trata o caso de verbas remuneratórias devidas a servidores, mas de benefício

previdenciário a segurado, verbas de caráter eminentemente alimentar, razão porque os juros

devem ser fixados no percentual de 1% ao mês, a contar da citação. Neste sentido: RESP nº

215.674, RE.Min.Fernando Gonçalves, DJ 06.11.00; TJPR 6ª CC AC 335.759-3 – Acórdão nº

16.297, REl.Idevan Lopes – DJ de 21.07.2006). Esta decisão foi prolatada no Ap.Cível nº

699.100-0, 6ª CC pub. Em 29.10.10.

Apelação Cível nº 629.135-2 – 6ª Câmara Cível – Acórdão nº 26734 – julgada em 09

de fevereiro de 2010 – Ementa: “Apelações Cíveis. Previdenciário. Concessão de

aposentadoria por invalidez pelo Juízo “a quo”. Laudo pericial conclusivo quanto ao nexo de

causalidade. Incapacidade adquirida em virtude do quadro depressivo desenvolvido no

exercício das atividades laborativas habituais. Termo inicial da concessão do benefício que

deve ser o da apresentação do laudo pericial em Juízo. Objetivada redução do percentual dos

juros moratórios para 0,5% ao mês. Caso que não comporta aplicação do art. 1º-F da Lei

9494/97, com redação dada pela MP nº 2.180-35/2001. Honorários advocatícios. Fixação de

modo equitativo, nos termos do art. 20, § 4º do CPC. Manutenção. Recursos não providos.”

No corpo do Acórdão em exame retira-se: “Descabida, ainda, a pretendida redução dos juros

de mora para que incidam na base de 0,5% (meio por cento) ao mês nos termos do art. 1º-F

da Lei 9494/97, porquanto, tratando-se de ação previdenciária, são devidos na razão de 1%

(um por cento) ao mês, a partir da citação, ante o caráter alimentar”. Colacionou-se julgado

do STJ – 5ª Turma – Resp. nº 847.587/SP – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima – DJ de

01/12/2008.

Apelação Cível nº 587.426-6 (Decisão Monocrática) – 6ª Câmara Cível – Rel.Des.Ivan

Bortoleto – Curitiba, Foro Central-PR – DJ 26/11/2009: ”(...) com o advento da Lei

11.960/09, a partir de 29 de junho de 2009, os juros moratórios deverão corresponder aos

índices oficiais aplicados à caderneta de poupança (art. 5º)”.

Repercurssão Geral no Agravo de Instrumento 842.063 – Rio Grande do Sul- Plenário

do Supremo Tribunal Federal – Rel.Min.Cézar Peluso. Data: 16/06/2011. Ementa: “Recurso.

Agravo de Instrumento convertido em Extraordinário. Art. 1º-F da Lei 9.494/97. Aplicação.

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Ações Ajuizadas antes de sua vigência. Repercussão Geral reconhecida. Precedentes.

Reafirmação da jurisprudência. Recurso provido. É compatível com a Constituição a

aplicabilidade imediata do art. 1º=F da Lei 9.494/97, com alteração pela Medida Provisória nº

2.180-35/2001, ainda que em relação às ações ajuizadas antes de sua entrada em vigor.”

De igual modo: Ap. 70031569445, TJ/RS – 9ª CC, rel. Des. Léo Romi Pilau Júnior, j.

11.11.09, v.u. DJ 25.11.09: “Considerando que o pagamento do benefício acidentário decorre

de uma relação de trato sucessivo e, tendo em vista que antes do julgamento do aresto

embargado já estava em vigor a Lei nº 11.960/2009, impõe-se a complementação da decisão a

efeito de determinar que as parcelas vencidas após a vigência da lei superveninente sejam

atualizadas com a observância da alteração legislativa”.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, a Emenda Constitucional nº 20, de 15.12.98, exclui o acidente de trabalho

dos eventos protegidos exclusivamente pelo regime geral de previdência social, estando em

tramitação no Congresso Nacional projeto de lei que pretende excluir o acidente do trabalho

do campo da previdência social, adotando-se sistemas de seguro mediante contribuições

somente de empregados e empresas.

Apesar da exigência legal de adoção, pelo empregador, de normas de higiene e

segurança no trabalho, o número de acidentados no Brasil é muito alto, concluindo-se que o

aspecto da prevenção de acidentes pelas empresas é tratado secundariamente.

Decorre desta postura, porque não dizer, cultural do povo brasileiro, a modificação

inserida recentemente no cálculo do fator de risco acidentário, ou seja, a empresa terá que

recolher contribuições sociais, calculadas em 1%, 2% e 3% sobre o total da folha de

pagamento de todos os trabalhadores a cada mês, dependendo da quantidade de trabalhadores

acidentados naquele estabelecimento.

Diante do descumprimento sistemático da regra que determina a emissão da CAT –

Comunicação de Acidente do Trabalho pela empresa, os trabalhadores acabam prejudicados

nos seus direitos na oportunidade de caracterização de seu benefício: acidentário ou

previdenciário.

Assim, mais uma alteração sobreveio com a Lei 11.430 de 26.12.2006, presumindo-se

a incapacidade acidentária quando estabelecido o nexo técnico epidemiológico entre o

trabalho e o agravo (NTE), decorrente da relação entre a atividade da empresa e a entidade

mórbida motivadora da incapacidade (CID). Logo, pertencer a um determinado segmento

econômico constitui fator de risco para o trabalhador apresentar uma determinada patologia.

Desde abril de 2007 o INSS mudou seus procedimentos permitindo a caracterização,

pela Perícia Médica, de Nexo Técnico Previdenciário – NTP (Epidemiológivo, Profissional ou

do Trabalho e Individual) mesmo que não emitida a CAT (Comunicação de Acidente do

Trabalho), registrando-se como acidente ou doença do trabalho.

Observa-se sensível avanço em favor dos trabalhadores na legislação da infortunística,

de modo a espelhar anseio próprio de um povo que está em constante evolução, contudo há

muito espaço nesta matéria para ser discutido e avaliado.

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5 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

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DUARTE, Marina Vasques. Direito Previdenciário. Porto Alegre. Editora Verbo

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MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à lei Básica da Previdência Social, tomo

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SAVARIS, José Antonio; ROCHA, Daniel Machado da, (Coord.). Curso de

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SAVARIS, Jose Antonio. Uma Teoria da Decisão Judicial da Previdência Social:

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SAVARIS, José Antonio. Direito Processual Previdenciário, 2. Ed., Editora Juruá,

2009.

SAVARIS, José Antônio (Coord.). Curso de Perícia Judicial Previdenciária; Conceito

Editorial, 2011.

SAVARIS, José Antonio; VAZ, Paulo Afonso Brum (Organizadores). Curso Modular

de Direito Previdenciário, Volume 02 – Florianópolis: Conceito Editorial, 2010.