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2020 8ª edição revista atualizada ampliada Adriana Menezes PARA OS CONCURSOS de Técnico e Analista dos Tribunais, INSS, Defensorias, Procuradorias, Delegado Federal e outros DIREITO PREVIDENCIÁRIO COLEÇÃO TRIBUNAIS E MPU Coordenador HENRIQUE CORREIA

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Page 1: DIREITO PREVIDENCIÁRIO · Segundo Fábio Zambitte Imbrahim30 “pode-se afirmar que temos, como fonte de Direito e, por consequência, da legislação previdenciária, as leis e

2020

8ªedição

revista atualizadaampliada

Adriana Menezes

PARA OS CONCURSOS de Técnico e Analista dos Tribunais, INSS, Defensorias, Procuradorias, Delegado Federal e outros

DIREITO

PREVIDENCIÁRIO

COLEÇÃOTRIBUNAIS

E MPUCoordenador

HENRIQUE CORREIA

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Cap. 4 – A LEGISLAÇÃO REVIDENCIáRIA, SuA APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO

Capítulo 4

A Legislação revidenciária, sua Aplicação, Interpretação,

Integração1. CONCEITO

Entende-se como legislação previdenciária o conjunto de normas e atos adminis-trativos referentes ao funcionamento do sistema securitário. Nesse conjunto estão as leis, as medidas provisórias, os decretos, os tratados internacionais e as normas complementares.

Apesar da adjetivação previdenciária, esse complexo de normas jurídicas costuma tecer relações com toda a seguridade social, ou seja, previdência, assistência social e saúde.

A Constituição Federal, em seu art. 22, inciso XXIII, outorga competência privati-va à União para legislar sobre a Seguridade Social, elaborando as normas sobre o sistema securitário. Mas permite que lei complementar autorize os Estados e Distrito Federal a legislar sobre o tema.

No entanto, em relação à Previdência Social a competência legislativa é concor-rente, conforme preceitua o art. 24, XII, da Carta Magna.

Torna-se necessário, no momento, fazer alguns comentários acerca das normas para que o leitor tenha uma noção mais concisa sobre o assunto:

a) Lei: é a fonte primária de obrigações e direitos. Ao Poder Legislativo cabe criar e disciplinar o sistema de seguridade social trazido pela Constituição de 1988. Cabe à União, repita-se, elaborar as leis sobre a organização da seguridade social.

As leis, conforme dispõe o art. 59 da CF/88, podem ser ordinárias, complemen-tares ou delegadas.

Embora não seja objeto principal do nosso estudo, devemos destacar alguns aspectos dessas leis, a saber:

• Em relação ao seu aspecto formal, as leis ordinárias são aquelas que para serem aprovadas necessitam do quórum da maioria simples de votos dos membros presentes na casa legislativa no dia da votação. Já as leis complementares exi-gem um quórum privilegiado de aprovação pela maioria absoluta dos membros da casa legislativa, ou seja, a maioria do total dos membros integrantes da casa, sempre.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO – Adriana Menezes

• Em relação ao aspecto material, ensina Lenza28 que:

as hipóteses de regulamentação da Constituição por meio de lei comple-mentar estão taxativamente previstas no Texto Maior. Sempre que o cons-tituinte originário quiser que determinada matéria seja regulamentada por lei complementar, expressamente, assim o requererá.

Às leis ordinárias cabem as matérias que não forem regulamentadas por lei com-plementar, decreto legislativo (matéria de competência exclusiva do Congresso Na-cional) e resoluções (matéria de competência exclusiva do Senado e da Câmara dos Deputados). O campo material ocupado pelas leis ordinárias é residual, portanto.

• As leis delegadas são elaboradas pelo Presidente da República, com a autoriza-ção do Congresso Nacional. Haverá a solicitação ao Poder Legislativo, delimitando o assunto sobre o qual irá se legislar. O Congresso, então, aprova o pedido e especifica o conteúdo da delegação e os termos de seu exercício. É bom registrar que matérias que exigem a regulamentação por lei complementar não podem ser objeto de lei delegada.

As matérias relativas à seguridade social são tratadas, em regra, por lei ordiná-ria. Apenas nos casos expressamente dispostos na Constituição Federal exigiu-se o tratamento da matéria por lei complementar, conforme se verifica nos arts. 195, §§ 4º e 11; 198, § 3º; 201, § 1º e 202, §§ 1º, 4º, 5º e 6º.

b) Medida Provisória: ato editado pelo Poder Executivo – Presidente da República – com força de lei. Para sua edição torna-se necessário que haja situação de re-levância e urgência, conforme previsto nos artigos 59 e 62, ambos da CF/88.

Na área securitária é muito comum a utilização da medida provisória, no entanto, é bom frisar que matérias que exigem a regulamentação por lei complementar não poderão ser objeto de medida provisória, em face da vedação prevista no art. 62, § 1º, inciso III do Texto Maior.

c) Tratado internacional: acordo celebrado entre o Brasil e outro país, pelo Presi-dente da República, com a aprovação do Congresso Nacional por meio da expe-dição de um decreto legislativo.

É bom registrar que, conforme o art. 85-A da Lei nº 8.212/91, “os tratados, con-venções e outros acordos internacionais de que Estado estrangeiro ou organismo internacional e o Brasil sejam partes, e que versem sobre matéria previdenciária, serão interpretados como lei especial”. Vale dizer que eles deverão ser observados em relação à legislação previdenciária interna.

Não se pode deixar de registrar a importância da Convenção nº 102/1952, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), aprovada, no Brasil, pelo Decreto Legisla-tivo nº 269/2008 do Congresso Nacional e ratificada em 15/06/2009, incorporando-se ao ordenamento jurídico brasileiro como lei ordinária.

28. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 13ªed., São Paulo: Saraiva, 2009, p.417.

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Cap. 4 – A LEGISLAÇÃO REVIDENCIáRIA, SuA APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO

A Convenção nº 102 da OIT, que entrou em vigor no plano internacional em 27/04/1955, adotou proposições relativas às normas mínimas para a seguridade so-cial, sendo observada pelos países signatários.

A referida convenção internacional trouxe disposições sobre o tratamento míni-mo a ser dado no caso de doenças mórbidas de qualquer origem, de gravidez e de parto. Incluiu dispositivos sobre a concessão de benefícios como o auxílio-doença, o auxílio-maternidade, o benefício de velhice e o afastamento por acidente do tra-balho, o benefício por invalidez e o benefício de sobreviventes, em decorrência do falecimento do segurado.

d) Decreto: é ato normativo expedido pelo Poder Executivo para regulamentar, “ex-plicar” as leis, conforme previsão do art. 84, IV, da CF/88. O decreto, no entanto, não poderá ultrapassar o alcance da lei que estiver regulamentando a ponto de inovar ou alterar o texto legal. É fonte secundária do Direito Previdenciário, uma vez que não poderá inovar no mundo jurídico, criando direitos e obrigações.

Como exemplo de decreto relativo à matéria da seguridade social, temos o De-creto nº 3.048/99 que regulamenta as Leis nº 8.212/91 e nº 8.213/91 que tratam, respectivamente, do plano de custeio da Seguridade Social e do Plano de Benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

e) Normas complementares: são atos expedidos pelas autoridades administrativas, pressupondo sempre a existência da lei ou de outro ato legislativo a que estejam subordinados. Nesse grupo encontram-se as Portarias, as Instruções Normativas, as Circulares, etc. São, também, fontes secundárias do Direito Previdenciário.

Como exemplo em nosso estudo, pode ser citada a Instrução Normativa PRES/INSS nº 77/2015 que estabelece rotinas para agilizar e uniformizar o reconhecimento de direitos dos segurados e beneficiários da Previdência Social.29

2. AUTONOMIA DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Não obstante à denominação do ramo legal previdenciário, esse segmento trata não somente da previdência social, como também da saúde e da assistência social. Alguns autores preferem usar a terminologia de Direito da Seguridade Social ou Direi-to da Segurança Social.

A autonomia do Direito Previdenciário ainda não é pacífica entre os doutrinado-res.

Alguns entendem que o surgimento do Direito Previdenciário se deu a partir da segmentação do Direito Administrativo, devido à organização estatal da proteção social, enquanto outros o consideram como evolução do Direito do Trabalho.

29. A IN PRES/INSS nº 77/2015 revogou expressamente a IN nº 45/INSS/PRES e já sofreu alterações no seu texto.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO – Adriana Menezes

Há, ainda, aqueles que consideram o Direito Previdenciário autônomo, desde o seu surgimento, já que desde épocas remotas os conceitos e princípios previdenci-ários são conhecidos, sendo alguns até anteriores ao próprio Direito do Trabalho.

Fábio Zambitte Ibrahim defende a autonomia do Direito Previdenciário ao dizer que:

a autonomia do Direito Previdenciário é consequência do conjunto de prin-cípios jurídicos próprios deste ramo, além do complexo de normas aplicá-veis a este segmento. Pode-se, ainda, encontrar conceitos jurídicos exclusi-vos do Direito Previdenciário, como por exemplo, salário de contribuição e salário de benefício, estranhos a outros ramos do Direito.

Comungamos com a posição do autor referido, uma vez que entendemos que o Direito Previdenciário surgiu antes mesmo do Direito do Trabalho e tem conceitos próprios, específicos em relação à matéria de que trata.

3. FONTES DA LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA

Qualquer fonte de Direito, inclusive na área securitária, decorre de uma estrutura de poder, a qual traz a necessária garantia de cumprimento de determinada norma imposta à sociedade. Ainda que seja esperado o cumprimento espontâneo da lei por parcela da população, a certeza da sanção pelo descumprimento deve existir.

Segundo Fábio Zambitte Imbrahim30 “pode-se afirmar que temos, como fonte de Direito e, por consequência, da legislação previdenciária, as leis e a jurisprudência.”

O Direito Previdenciário tem sua base assentada na Constituição Federal.

São fontes do Direito Previdenciário: a Constituição Federal, a Emenda Constitu-cional, as Leis Complementares, Ordinárias e Delegadas, a Medida Provisória, o De-creto Legislativo, a Resolução do Senado Federal, os atos administrativos normativos e a jurisprudência dos Tribunais Superiores.

A palavra lei, em seu sentido mais amplo, contempla a Constituição Federal, as leis ordinárias, as leis complementares, as leis delegadas, as medidas provisórias e os atos administrativos em geral (como as portarias, as instruções, etc.).

Já em sentido estrito, o conceito de lei situa-se nos atos elaborados pelo Congres-so Nacional, com o poder de criar as leis ordinárias e complementares e as medidas provisórias e leis delegadas, elaboradas pelo Poder Executivo.

As leis ordinárias, complementares e delegadas e as medidas provisórias são consideradas fontes primárias do Direito Previdenciário. Elas poderão inovar no mundo jurídico, criando direitos e obrigações, desde que, é claro, respeitem a Cons-tituição Federal.

30. IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 14ed., Niterói: Impetus, 2009, p.150.

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Cap. 4 – A LEGISLAÇÃO REVIDENCIáRIA, SuA APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO

As fontes secundárias não poderão contemplar novos direitos e obrigações, mas apenas regulamentar as fontes primárias para o seu fiel cumprimento. Destacam-se, nesse caso, os decretos, as instruções normativas, as resoluções, as orientações in-ternas e outras.

Jurisprudência segundo o Professor Henrique Correia31 “é a decisão reiterada no mesmo sentido sobre a mesma matéria”. A jurisprudência, como geradora de norma jurídica individual em razão das decisões judiciais, é fonte de Direito, pois suas deci-sões são vinculantes para as partes.

As decisões reiteradas dos Tribunais pátrios formam a jurisprudência e são capa-zes, até mesmo, de modificar o conteúdo dos atos administrativos, adaptando-os às interpretações oriundas do Judiciário.

Têm-se como vinculantes, as decisões do STF proferidas em controle concentrado de constitucionalidade e, desde a reforma constitucional por meio da Emenda nº 45/2005, as súmulas vinculantes do Pretório Excelso obrigam o Poder Judiciário e a Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal a sua observância.

O Novo Código de Processo Civil inovou ao impor o sistema de precedentes obri-gatórios ao Poder Judiciário por meio do disposto no art. 927:

Os juízes e os tribunais observarão:

I – as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;

II – os enunciados de súmula vinculante;

III – os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;

IV – os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria cons-titucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;

V – a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.

Para Ivan Kertzman32

Fonte do Direito Previdenciário é todo fato social gerador de normas jurí-dicas previdenciárias. Dividem-se em materiais e formais. As primeiras são fontes potenciais do Direito, ou seja, fatores sociais, econômicos, políticos, etc. que influem no surgimento de normas jurídicas.

Já as fontes formais são manifestações do Direito formadoras do próprio Direito Previdenciário, podendo subdividir-se em estatais e não estatais.

(...)

31. CORREIA, Henrique. Direito do Trabalho. 5ª ed. Salvador: JusPodivm, 2013, 41.32. KERTZMAN, Ivan. Curso Prático de Direito Previdenciário. 14ed., Salvador: JusPodivm, 2016, p.94.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO – Adriana Menezes

As fontes formais estatais englobam a Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos, resoluções do Senado. Englobam, também, decretos regulamentares do poder executivo, instruções ministeriais, circulares, portarias, ordens de serviço e normas individuais.

Os demais ramos do Direito são fontes, também, para o Direito Previdenciário e para o Direito Securitário. Podem ser citados o Direito Constitucional, o Direito Administrativo, o Direito do Trabalho. Na verdade, o Direito é único, sendo dividido, apenas, por questões de didática.

4. APLICAÇÃO, VIGÊNCIA, INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO PREVIDEN-CIÁRIA

4.1. Aplicação da lei previdenciária no tempo e no espaçoAplicar a lei significa reconhecer a subsunção de determinado caso concreto à

situação genérica prevista em lei, ou seja, enquadrar determinado evento acontecido numa previsão legal que o preceda.

Como exemplo:

►Maria, casada com João há 2 anos e segurada da Previdência Social Brasi-leira, na qualidade de empregada, vem a falecer. Nesse caso, João terá di-reito à pensão por morte de Maria, conforme dispõem os arts. 16, I e 74 da Lei nº 8.213/91.Nesse contexto, houve um fato concreto (a morte de Maria) que ensejou a concessão do benefício da pensão por morte. Foi aplicada a lei previdenciária para esse caso em concreto, concedendo a pensão por morte ao seu marido.

Em matéria previdenciária, aplica-se o princípio segundo o qual tempus regit ac-tum: aplica-se a lei vigente na data da ocorrência do fato.

Esse princípio é aplicado no entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) pela Súmula nº 340: “a lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é aquela vigente na data do óbito do segurado”.

Assim, para os pensionistas que tiveram o óbito de seus segurados sob a égide de uma Lei X, deverão receber pensão nos termos dispostos pela Lei X. Caso venha, no futuro, uma Lei Y que traga melhores condições para a concessão da pensão por morte, essa nova Lei Y não poderá ser aplicada para casos cujos óbitos ocorreram antes dela.

As normas previdenciárias são aplicadas a todos que vivem no território nacio-nal, segundo o princípio da territorialidade.

Há situações, todavia, que a proteção previdenciária brasileira atinge pessoas que estão fora do território nacional e estrangeiros que prestam serviços no Brasil. O princípio da extraterritorialidade é aplicado como exceção.

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Cap. 4 – A LEGISLAÇÃO REVIDENCIáRIA, SuA APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO

É o caso, por exemplo, de brasileiros civis que trabalham para a União, no ex-terior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo se estiverem segurados na forma da legislação vigente do país do domicílio. E, também, de estrangeiros que prestam serviços, no Brasil, a missão diplomática ou repartição consular de carreira estrangeira, com residência permanente no país.

4.2. Vigência da lei previdenciáriaA vigência é a propriedade das regras jurídicas que estão prontas para propagar

efeitos tão logo aconteçam no mundo fático os eventos que elas descrevem. A vigên-cia é uma "característica da norma que indica o lapso de tempo no qual a conduta por esta prescrita é exigível. Em outras palavras, a vigência indica o período no qual as prescrições jurídicas têm efeito..."33

A lei passa a estar em vigor quando completa todos os trâmites para a sua forma-ção, estando, portanto, pronta e acabada, e, ainda, apta para irradiar seus efeitos. É a chamada aptidão da lei para surtir os efeitos que lhe são próprios.

Em geral, a vigência da lei previdenciária não difere das demais leis que, salvo disposição em contrário, começam a vigorar em todo o país 45 dias depois de ofi-cialmente publicadas, conforme dispõe o art. 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB).

No entanto, com o advento da Lei Complementar nº 95/98, nasceu a exigência para que a data da vigência da lei fosse indicada expressamente, contemplando prazo razoável para que dela se tivesse amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação” para as leis de pequena repercussão.

Em outras palavras, segundo o comando previsto no art. 8º da Lei Complementar nº 95/98, a lei tem que trazer em seu texto, de modo expresso, quando é que entrará em vigor, quando começará a produzir seus efeitos.

Exemplo:

►“Essa lei entrará em vigor 90 dias após a sua publicação”.

Em regra, sendo vigente a lei, ela está apta a produzir seus efeitos, dotada, por-tanto, de eficácia.

Quando nada disser a lei, entrará em vigor 45 dias após a sua publicação, salvo as exceções previstas.

Há que se atentar, contudo, em relação à eficácia da lei da seguridade social, a exceção prevista no § 6º do art. 195 da Constituição Federal, que introduz o princípio

33. DIMOULIS, Dimitri. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 4. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: RT, 2011, p. 192.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO – Adriana Menezes

da anterioridade mitigada ou do prazo nonagesimal ou da noventena, o qual retém a eficácia da nova lei que cria ou modifica a contribuição social.

Conforme o artigo mencionado, a cobrança da contribuição social da seguridade social, caso venha a ser instituída ou aumentada, somente terá eficácia após decor-ridos 90 dias da data da publicação da lei.

Assim, vale dizer que, muito embora a lei possa entrar em vigor na data por ela estipulada, a eficácia da cobrança da contribuição aumentada ou criada para o finan-ciamento da Seguridade Social somente poderá acontecer após 90 dias decorridos da publicação da lei que a instituiu ou aumentou.

Não se pode cobrar uma contribuição de financiamento do sistema de Segurida-de Social antes do prazo de 90 dias da publicação da lei que criou a contribuição ou causou-lhe um aumento. Exemplo:

►Uma lei publicada em 30/01/2018, trouxe um aumento na alíquota da CO-FINS (contribuição para o financiamento da seguridade social incidente sobre a receita). Esse aumento somente passa a vigorar após 90 dias decor-ridos do dia 30/01/2018.

Antes esse aumento não poderá ser cobrado dos contribuintes, por força do que dispõe o § 6º do artigo 195 da Constituição Federal.

4.3. Interpretação da norma previdenciáriaA interpretação da norma jurídica é a atividade mental desenvolvida pelo jurista,

objetivando traçar uma ligação entre o texto normativo abstrato e o fato que se apre-senta cru, à espera de uma roupagem produzida nos lindes da Ciência do Direito.

Ao interpretar um texto normativo, o intérprete deve buscar, dentro das opções existentes no mesmo, aquela que seja a mais compatível com o caso concreto, não se limitando às situações previstas pelo legislador quando da elaboração do texto.

De acordo com Hugo de Brito Machado34, “o intérprete não cria, não inova, limi-tando-se a considerar o mandamento legal em toda a sua plenitude, declarando-lhe o significado e o alcance”.

De fato, deve-se lembrar de que a lei, devido à sua natural abstração, acaba por atingir e regular casos que sequer foram pensados pelo legislador.

Os métodos de interpretação podem ser:

a) quanto à origem:

1) interpretação legislativa, legal ou autêntica: ocorre quando o próprio Poder Legislativo elabora uma nova lei que interpretará a lei anterior. A lei poste-rior vem para interpretar a anterior.

34. MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 29 ed., São Paulo: Malheiros, 2008.

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Cap. 4 – A LEGISLAÇÃO REVIDENCIáRIA, SuA APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO

2) interpretação jurisprudencial: é feita pelo Poder Judiciário no exercício da ju-risdição, com o objetivo de aplicar as normas aos casos concretos, na solução das lides.

3) interpretação administrativa: é realizada pela Administração Pública no exer-cício da função administrativa.

4) interpretação doutrinária: feita pelos estudiosos da Ciência Jurídica em seus trabalhos doutrinários.

b) quanto ao meio:

1) interpretação gramatical, literal ou filosófica: à luz do próprio texto da norma sob exame, busca-se o sentido da lei mediante a análise do significado das palavras utilizadas pelo legislador. Vai-se buscar o sentido da norma jurídica a partir do significado das palavras que estão no seu texto.

Em relação ao método literal, é importante registrar que o art. 111 do Códi-go Tributário Nacional (CTN) determina a interpretação literal nas seguintes situações:

• exclusão e suspensão do crédito tributário;

• outorga de isenção;

• dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

O leitor pode estar se perguntando por que estamos registrando a determi-nação do CTN, visto que o objetivo presente é o estudo do Direito Previden-ciário.

A resposta encontra respaldo na medida em que as contribuições sociais que financiam o sistema de seguridade social têm natureza tributária, devendo obedecer às regras desse código, também.

Assim, por exemplo, uma lei que venha conceder isenção do pagamento de uma determinada contribuição previdenciária, somente poderá ser interpre-tada literalmente.

2) interpretação histórica ou genética: o intérprete deve examinar os elemen-tos, as circunstâncias e as causas que implicaram na criação da lei. A análise que se faz é no sentido de saber o que levou aquela lei ser criada.

3) interpretação teleológica ou finalística: feita mediante a apuração da finali-dade objetivada pela norma. A interpretação teleológica da lei se faz pergun-tando o que o legislador quis buscar, atingir com a sua criação; qual seria o seu objetivo a alcançar com a nova lei.

4) interpretação sistemática: a interpretação se faz partindo do entendimento de que todas as regras jurídicas devem ter, entre si, um nexo, pois são parte de um só sistema jurídico. A norma deve ser interpretada, considerando a sua existência dentro do ordenamento jurídico como um todo.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO – Adriana Menezes

Ao se utilizar do método de interpretação sistemático, o intérprete busca compatibilizar o texto legal a ser interpretado com as demais normas que compõem o ordenamento jurídico, visualizando a lei objeto de interpretação como parte de um todo.

c) quanto à finalidade:

1) interpretação estrita: ocorre quando há a concordância entre o significado das palavras com o que pretende o legislador.

2) interpretação restritiva: ocorre quando o texto é mais amplo do que a inten-ção da lei, devendo o intérprete restringir o seu alcance.

3) interpretação extensiva: ocorre quando o texto é mais restrito do que a in-tenção do legislador, devendo o intérprete expandir o alcance da lei.

4.4. Integração da lei previdenciáriaA integração é o meio de que se vale o aplicador da lei para tornar o sistema

jurídico inteiro, sem lacunas.

É o que pode acontecer caso o intérprete verifique não existir uma regra jurídica que se amolde especificamente para o caso concreto. Há uma lacuna na norma que precisa ser preenchida.

A integração difere da interpretação na medida em que aquela não visa a mens legis, o significado de determinada norma, mas sim o preenchimento de lacunas do ordenamento jurídico, pois o juiz não pode deixar de resolver a lide proposta, ale-gando a inexistência de lei a respeito.

Cabe ao aplicador do Direito utilizar-se de recursos integrativos, buscando a so-lução adequada para a lide.

Como ferramentas de integração, temos a analogia, a equidade, os costumes e os princípios gerais do Direito.

A analogia consiste na aplicação a um determinado caso, para o qual inexiste preceito expresso, de norma legal prevista para uma situação semelhante. Funda-se em que as razões que ditaram o comando legal para a situação regulada devem levar à aplicação de idêntico preceito ao caso semelhante. Deve-se procurar relação jurídica similar, para a qual exista regramento jurídico.

A equidade atua como instrumento de realização concreta da justiça, em que a aplicação rígida e inflexível da regra legal escrita repugnaria ao sentimento de justiça da coletividade, que cabe ao aplicador da lei implementar. Esse deverá utilizar o senso de justiça para preencher a lacuna que se encontra na lei. Pela utilização da equidade corrige-se a insuficiência da norma decorrente da sua generalidade.

Nesse sentido, no âmbito da previdência privada e no dos planos previdenciários públicos, o Superior Tribunal de Justiça invocou a analogia e a equidade como formas

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Cap. 4 – A LEGISLAÇÃO REVIDENCIáRIA, SuA APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO

de integração de lacuna normativa, estendendo aos parceiros homoafetivos a condi-ção de dependentes previdenciários.

Os costumes são práticas reiteradas, de longa data, pela sociedade e aceitas como corretas. Têm força normativa, desde que não sejam contrários à lei.

Os princípios gerais de Direito são aqueles que fornecem as principais diretrizes do ordenamento jurídico, responsáveis pela fundação de toda a construção jurídica. São os princípios básicos que orientam todos os ramos do Direito.

Podem ser mencionados o princípio da igualdade perante a lei, o da ampla de-fesa, entre outros.

5. HIERARQUIA DAS NORMAS PREVIDENCIÁRIASA hierarquia das normas é a ordem de graduação entre elas, de forma que a

superior é fundamento de validade da inferior:

– normas constitucionais;

– leis complementares, ordinárias, delegadas, tratados internacionais, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções do Senado;

– decretos regulamentares;

– instruções normativas, portarias, ordens de serviços.

“É tecnicamente indevida a expressão hierarquia das leis, pois não existe hierar-quia entre atos legais, mas sim entre normas jurídicas.”35 No caso de confronto entre duas normas, aplica-se a de hierarquia superior.

Caso as normas estejam no mesmo patamar hierárquico, prevalecerá a norma especial em relação à norma geral. Os tratados, convenções e outros acordos interna-cionais de que Estado estrangeiro ou organismo internacional e o Brasil sejam partes e que versem sobre matéria previdenciária são interpretados como leis especiais.

Também, pode ser aplicado o princípio in dúbio pro misero. No caso de haver conflito entre duas normas de mesma hierarquia, na dúvida, utiliza-se a lei mais benéfica. Havendo duas normas equivalentes que tratem da questão previdenciária, aplica-se a mais favorável ao beneficiário.

35. IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 19ªed., Niterói: Impetus, 2014, p.153.