aula 03 - dadm_lucianooliveira

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ANALISTA LEGISLATIVO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS 2012 DIREITO ADMINISTRATIVO PROFESSOR LUCIANO OLIVEIRA – AULA 3 1 Olá, concurseiros! Vamos à nossa aula 3 para Analista Legislativo da Câmara dos Deputados. Hoje falaremos sobre poderes administrativos. Segundo o edital, só podem ser cobrados na prova os poderes vinculado, discricionário, hierárquico, disciplinar e regulamentar. Assim, cuidado para não estudarem coisa que não cai, hem? Vamos lá! Rumo à Câmara dos Deputados 1. Poderes Administrativos Muito bem: a primeira coisa aqui é não confundir poderes administrativos com Poderes do Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário). Tá bom, Luciano! Mas o que são, então, esses poderes administrativos? É o seguinte: para bem atender ao interesse público, a Administração é dotada de poderes administrativos (chamados também de competências administrativas), que são repartidos entre os cargos existentes na estrutura de seus órgãos, cabendo uma parcela desse poder a cada ocupante de cargo público. Tais poderes são verdadeiros instrumentos de trabalho, adequados à realização das tarefas administrativas.

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Aula de Direito Administrativo para Concurso

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  • ANALISTA LEGISLATIVO DA CMARA DOS DEPUTADOS 2012 DIREITO ADMINISTRATIVO

    PROFESSOR LUCIANO OLIVEIRA AULA 3

    1

    Ol, concurseiros! Vamos nossa aula 3 para Analista Legislativo

    da Cmara dos Deputados. Hoje falaremos sobre poderes

    administrativos. Segundo o edital, s podem ser cobrados na prova os

    poderes vinculado, discricionrio, hierrquico, disciplinar e

    regulamentar. Assim, cuidado para no estudarem coisa que no cai,

    hem? Vamos l!

    Rumo Cmara dos Deputados

    1. Poderes Administrativos

    Muito bem: a primeira coisa aqui no confundir poderes

    administrativos com Poderes do Estado (Legislativo, Executivo e

    Judicirio). T bom, Luciano! Mas o que so, ento, esses poderes

    administrativos?

    o seguinte: para bem atender ao interesse pblico, a

    Administrao dotada de poderes administrativos (chamados

    tambm de competncias administrativas), que so repartidos entre

    os cargos existentes na estrutura de seus rgos, cabendo uma parcela

    desse poder a cada ocupante de cargo pblico. Tais poderes so

    verdadeiros instrumentos de trabalho, adequados realizao das

    tarefas administrativas.

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    Os poderes administrativos nascem com a Administrao e se

    apresentam diversificados, segundo as exigncias do servio pblico.

    Representam verdadeiros poderes-deveres, pois no se autoriza ao

    agente pblico deixar de exerc-los (por isso que esses poderes so,

    tambm, deveres!). Estudaremos os seguintes: poder vinculado,

    poder discricionrio, poder hierrquico, poder disciplinar e poder

    regulamentar. H ainda o poder de polcia, mas ele no est

    previsto no edital. Vamos l!

    2. Poder Vinculado

    Poder vinculado ou regrado o que a lei confere ao

    administrador para a prtica de atos de sua competncia,

    determinando todos os requisitos necessrios sua

    formalizao. Neste caso, o administrador no possui margem

    decisria para a anlise da convenincia e oportunidade de praticar o

    ato, devendo se ater estritamente aos termos legais. Existente a

    hiptese legal, deve o agente praticar o ato. No estando ela presente,

    fica ele proibido de pratic-lo.

    Um exemplo a concesso de licena para dirigir. Se o particular

    atender a todos os requisitos necessrios para a obteno da licena,

    no poder o delegado de trnsito se negar a conced-la. Por outro

    lado, se o administrado no preencher tais requisitos, ser vedada a

    concesso da carteira.

    O poder administrativo do agente, nestes casos, restringe-se ao

    de praticar o ato com todas as mincias especificadas na lei, e somente

    nesta hiptese. Se o praticar de maneira diversa, o ato ser invlido,

    podendo ser anulado pela prpria Administrao ou pelo Judicirio.

    Nos atos vinculados, todos os seus elementos, quais sejam,

    competncia (sujeito competente), finalidade, forma, motivo e

    objeto (estudaremos esses elementos na aula de atos administrativos),

    so vinculados.

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    Os trs primeiros elementos so sempre vinculados, at

    mesmo nos atos discricionrios (aqueles em que o agente tem maior

    liberdade de decidir), pois a lei deve definir, em qualquer caso, o agente

    competente para a prtica do ato, a finalidade a que o ato se destina e

    a forma de que ele se reveste (em geral, forma escrita, podendo ser um

    decreto, uma portaria, uma resoluo etc.).

    J em relao ao motivo e ao objeto, apenas nos atos

    vinculados esses elementos sero totalmente regrados em lei. No

    exemplo da licena para dirigir, o motivo do ato o preenchimento dos

    requisitos para a obteno da licena pelo particular e o objeto, a

    prpria concesso da licena. Como se v, ambos os elementos so

    definidos em lei, sem margem para o administrador.

    3. Poder Discricionrio

    Aqui a coisa diferente: nem sempre a lei estabelece rigidamente

    todos os elementos do ato; algumas vezes, ela deixa uma margem de

    liberdade ao administrador. O poder discricionrio, portanto, o

    poder concedido Administrao para a prtica de atos com liberdade

    de escolha quanto convenincia e oportunidade de sua prtica,

    ou ao seu contedo.

    importante ressaltar que poder discricionrio no se

    confunde com poder arbitrrio. Discricionariedade liberdade de

    ao, nos limites definidos em lei. Arbitrariedade, ao contrrio,

    significa extrapolar a lei, gerando, portanto, ato ilegal.

    Conforme dito acima, em relao competncia, finalidade e

    forma, mesmo os atos discricionrios so vinculados. Apenas no que

    tange ao motivo e ao objeto do ato existe discricionariedade do

    gestor pblico. Vale lembrar que a finalidade de qualquer ato

    administrativo sempre o atendimento ao interesse pblico.

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    Convenincia significa escolher se o ato ser praticado ou no.

    Oportunidade, decidir sobre o melhor momento para a sua prtica. J

    o contedo expressa o prprio objeto do ato.

    Olhem s este exemplo: a lei pode conferir ao agente pblico

    poder para autorizar a utilizao de vias e praas pblicas para a

    instalao de pequenos negcios, como bancas de jornal ou barracas de

    lanche, deixando a seu cargo a deciso de efetivamente realizar ou no

    o ato (convenincia) e o melhor momento para sua prtica

    (oportunidade). Caber ao administrador, ainda, optar por conceder a

    autorizao a uma banca de jornal, a uma barraca de lanche ou a outro

    negcio semelhante (objeto).

    Neste caso, o administrador poder declarar como motivo para a

    prtica do ato, por exemplo, a convenincia de haver uma barraca de

    lanches em determinada praa pblica, pois se trata de lugar

    frequentado por vrias famlias nos finais de semana.

    A atividade discricionria concedida pela lei justifica-se pela

    impossibilidade de o legislador prever todas as situaes possveis de

    ocorrer na prtica, deixando ao administrador a necessria liberdade

    para a prtica do ato, de maneira a melhor atender a cada caso

    concreto. Afinal, apenas o administrador, por estar em contato com a

    realidade, possui condies de bem apreciar as circunstncias

    existentes para a prtica do ato, anlise impossvel ao legislador, que

    opera no mundo abstrato.

    Agora, embora possua liberdade para a valorao do motivo e a

    escolha do objeto, o administrador no se pode afastar dos princpios

    administrativos, no desempenho da atividade, sob pena de produzir

    ato invlido. Um ato produzido com ofensa moralidade administrativa

    ou proporcionalidade, por exemplo, poder ser considerado nulo.

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    PODER VINCULADO X PODER DISCRICIONRIO

    ELEMENTO ATOS

    VINCULADOS

    ATOS

    DISCRICIONRIOS

    Competncia Vinculada Vinculada

    Finalidade Vinculada Vinculada

    Forma Vinculada Vinculada

    Motivo Vinculado Discricionrio

    Objeto Vinculado Discricionrio

    Cabe agora uma observao: alguns autores no admitem a

    existncia dos poderes vinculado e discricionrio como poderes

    administrativos autnomos. Dizem, ao contrrio, que a vinculao e a

    discricionariedade so apenas caractersticas do exerccio dos demais

    poderes. Assim, um ato administrativo praticado no mbito do poder

    hierrquico ou do poder disciplinar pode ser vinculado ou discricionrio,

    conforme a lei atribua ou no ao agente pblico liberdade para decidir.

    Todavia, j consagrada a doutrina de Hely Lopes Meirelles, para quem

    so exemplos de poderes administrativos o poder vinculado e o poder

    discricionrio.

    4. Poder Hierrquico

    Hierarquia a relao de subordinao existente entre os

    vrios rgos e agentes da Administrao Pblica, com a distribuio

    vertical de funes e a gradao da autoridade de cada um. Poder

    hierrquico , assim, o poder de que dispe a Administrao para

    distribuir e escalonar as funes de seus rgos, estabelecendo os

    vnculos de subordinao entre os servidores de seus quadros.

    O poder hierrquico tem por fim ordenar, coordenar,

    supervisionar, controlar e corrigir as atividades administrativas, no

    mbito da Administrao Pblica. Uma decorrncia desse poder o

    dever de obedincia, imposto aos agentes administrativos em geral.

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    A hierarquia impe ao subalterno a estrita obedincia s ordens

    superiores, que devem ser cumpridas fielmente, a menos que sejam

    manifestamente ilegais. Neste caso, necessrio que a ordem seja

    evidentemente contrria s leis e aos regulamentos, no bastando a

    simples opinio ou suspeita do subalterno quanto ilegalidade da

    ordem.

    Alm disso, o poder hierrquico permite ainda o exerccio dos

    institutos da delegao e da avocao de competncia. Delegar

    conferir a outrem atribuies que inicialmente competiam ao delegante.

    J avocar significa chamar a si funes originariamente atribudas ao

    subordinado.

    A delegao decorrncia natural do poder hierrquico, e pode

    ser revogada a qualquer tempo pelo agente delegante. Ela ,

    entretanto, vedada nos casos de competncia para elaborao de atos

    normativos, de deciso de recursos administrativos e de

    competncia exclusiva do agente (artigo 13 da Lei 9.784/1999). Os

    atos oriundos de delegao so de responsabilidade do delegado, que

    quem efetivamente os executa.

    A avocao, por poder representar desprestgio para o

    subordinado, deve possuir carter temporrio e ocorrer apenas em

    casos excepcionais, devidamente motivados.

    Outra decorrncia do poder hierrquico a possibilidade de

    reviso dos atos praticados pelo subordinado. Rever atos significa

    reapreci-los em todos os seus aspectos, para mant-los, invalid-los

    ou reform-los (modific-los), de ofcio ou a requerimento do

    interessado. A reviso s possvel enquanto o ato no se tornou

    definitivo para a Administrao, nem criou direitos subjetivos para o

    particular.

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    5. Poder Disciplinar

    Poder disciplinar a faculdade de punir internamente as

    infraes funcionais praticadas pelos agentes que estejam sujeitos

    disciplina interna da Administrao (vnculo especial), como os

    servidores pblicos, os alunos de uma escola pblica ou os presos de

    um penitenciria.

    No caso dos servidores pblicos, o poder disciplinar decorre do

    poder hierrquico, embora com ele no se confunda. O poder

    hierrquico tem por fim ordenar e controlar as atividades

    administrativas. Somente quando surgem irregularidades passveis de

    punio que se caracteriza o campo de atuao do poder disciplinar.

    DELEGAO

    AVOCAO

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    No de deve confundir o poder disciplinar com o poder punitivo do

    Estado realizado por meio da Justia Penal (atividade jurisdicional),

    que alcana todo aquele que praticar crime ou contraveno

    criminal. O poder disciplinar atividade administrativa e abrange as

    faltas praticadas pelos agentes pblicos relacionadas com o servio,

    sendo exercido diretamente pela Administrao, sem necessidade de

    interferncia do Poder Judicirio.

    Agora, ateno: o poder disciplinar nem sempre decorre do

    poder hierrquico. A aplicao de uma multa de trnsito a um cidado,

    com base no poder de polcia, um exemplo, pois no h hierarquia

    entre o agente pblico e o cidado. No existe vnculo especial, neste

    caso, mas apenas o chamado vnculo geral entre a Administrao e o

    administrado, sendo esse vnculo geral tpico do poder de polcia.

    O poder disciplinar, nos casos citados, tem natureza unilateral,

    isto , exercido independentemente da concordncia do agente

    punido. Mas h tambm a possibilidade do poder disciplinar do Estado

    ser exercido com base em um vnculo contratual, isto , mediante a

    concordncia da outra parte (carter bilateral). Isso ocorre, por

    exemplo, com aqueles que contratam com a Administrao, ficando

    sujeitos s penalidades previstas no contrato.

    Poder Disciplinar

    Natureza Fundamento Decorrncia de

    Unilateral Vnculo geral Poder de polcia Unilateral Vnculo especial Poder hierrquico Bilateral Vnculo especial Ajuste contratual

    As punies disciplinares podem ser aplicadas cumulativamente

    com as penas criminais, pois as instncias administrativa e penal so

    independentes entre si. O mesmo vale para a esfera cvel. Um

    agente pode, por exemplo, ser condenado, na esfera civil, a ressarcir

    um dano patrimonial causado Administrao, cumulativamente com

    as sanes administrativa (ex.: demisso) e penal (ex.: recluso ou

    deteno), se for o caso.

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    O superior hierrquico, ao tomar conhecimento de uma falta

    funcional de um servidor pblico subordinado seu, tem o dever de

    apurar o fato e aplicar a pena respectiva ao agente faltoso, razo pela

    qual o poder disciplinar exemplo tpico do poder-dever de agir do

    administrador pblico. A condescendncia (tolerncia) na punio pode

    ser considerada crime contra a Administrao Pblica (artigo 320 do

    Cdigo Penal).

    Condescendncia criminosa

    Art. 320 Deixar o funcionrio, por indulgncia, de responsabilizar subordinado que cometeu infrao no exerccio do cargo ou, quando lhe falte competncia, no levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:

    Pena deteno, de quinze dias a um ms, ou multa.

    Todavia, ao aplicar a penalidade ao agente, muitas vezes, o

    superior tem discricionariedade para escolher uma das sanes

    definidas em lei, de acordo com a gravidade e a repercusso do ato,

    os antecedentes do faltoso e outros aspectos do caso concreto. O que

    no se admite a punio do agente com sano no prevista em lei,

    pois isso caracterizaria arbitrariedade, no discricionariedade. Na

    esfera federal, o art. 127 da Lei 8.112/1990 prev as sanes

    disciplinares que podem ser aplicadas ao servidor publico.

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    Art. 127. So penalidades disciplinares: I - advertncia; II - suspenso; III - demisso; IV - cassao de aposentadoria ou disponibilidade; V - destituio de cargo em comisso; VI - destituio de funo comissionada.

    importante ressaltar que, na escolha da penalidade, o superior

    deve ficar atento aos princpios da razoabilidade e da

    proporcionalidade, para no selecionar sano desnecessariamente

    pesada, desproporcional falta praticada pelo agente, sob o risco de

    produzir ato invlido.

    Alm disso, todos os atos que imponham sanes ao agente

    devem ser devidamente motivados pelo superior hierrquico, inclusive

    para possibilitar a interposio de recursos por parte do punido.

    6. Poder Regulamentar

    Vejamos agora o poder regulamentar! Conhece este? a

    faculdade de que dispem os chefes do Poder Executivo de explicar a

    lei para sua correta execuo. Para o exerccio deste poder, eles se

    utilizam dos regulamentos, que so expedidos sob a forma de

    decretos.

    Veja bem: as leis so normas abstratas, de carter geral, que

    apresentam, frequentemente, conceitos vagos, que necessitam de um

    maior detalhamento para seu completo entendimento. Os decretos

    cumprem esse papel, explicitando os conceitos legais at um nvel

    adequado sua correta aplicao pelo administrador.

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    Poder Normativo

    Poder Regulamentar

    O poder regulamentar um tipo de poder normativo da

    Administrao. Este tem sentido mais amplo, pois compreende toda

    competncia para edio de ato normativo (geral e abstrato) pelos

    rgos e entidades pblicas, como Resolues do Banco Central e das

    agncias reguladoras, Instrues Ministeriais, Portarias da Receita

    Federal etc. J o poder regulamentar refere-se apenas atividade

    normativa materializada pela expedio dos regulamentos (decretos).

    Doutrinariamente, os decretos podem ser classificados em

    decretos de execuo (ou regulamentares) e decretos

    autnomos (ou independentes). Os primeiros so os que cumprem a

    tarefa j citada: explicitar as leis para permitir a sua fiel execuo (art.

    84, IV, CF/88). Os segundos so os que suprem as lacunas das leis,

    regulando situaes ainda no disciplinadas em norma legal.

    Em funo do princpio da legalidade, segundo o qual ningum

    ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude

    de lei, no se admite, em regra, a figura do decreto autnomo em

    nosso pas, pois somente a lei pode limitar direitos e estabelecer

    obrigaes aos cidados. Existem apenas duas situaes em que a

    Constituio Federal autoriza o Presidente da Repblica a expedir

    decretos autnomos (art. 84, VI, CF/88):

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    1) para a organizao e o funcionamento da Administrao Federal,

    quando no implicar aumento de despesa nem criao ou

    extino de rgos pblicos;

    2) para a extino de funes ou cargos pblicos, quando vagos.

    Fora dessas hipteses, introduzidas pela Emenda Constitucional

    32/2001, s se admitem os decretos de execuo (ou

    regulamentares) em nosso ordenamento jurdico.

    Os decretos de execuo, como j dito, tm a funo de detalhar

    as normas legais para seu fiel cumprimento. Eles devem se limitar a

    explicar como se dar o cumprimento das regras legalmente previstas,

    no podendo disciplinar situaes no constantes das leis.

    Explicam-nas, mas no vo alm delas. Alm disso, so atos

    hierarquicamente inferiores s leis, no podendo contrari-las.

    Os decretos de execuo so classificados como atos

    normativos secundrios ou derivados, pois as normas que

    estabelecem derivam das que so previstas nas leis. Estas, por sua vez,

    so atos normativos primrios ou originrios, decorrentes

    diretamente da Constituio e com capacidade de inovar na ordem

    jurdica.

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    Muito bem! Vista a teoria, vamos agora aos nossos gloriosos

    exerccios comentados! Tentem resolver a lista seca, ao final, antes de

    lerem os comentrios!

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    7. Exerccios

    1) (Cespe/AL-CE/Analista Legislativo/2011) No mbito do direito privado, o poder de agir constitui mera faculdade; no do direito administrativo, uma imposio, um dever de agir para o agente pblico. Os poderes administrativos nascem com a Administrao e se apresentam diversificados, segundo as exigncias do servio pblico. Representam verdadeiros poderes-deveres (ou deveres-poderes), pois no se autoriza ao agente pblico deixar de exerc-los. J na esfera particular, os indivduos podem ou no exercer os poderes que a lei lhes d (ex.: poder de defender seu patrimnio contra terceiros), pois estaro gerindo seus prprios interesses, neste caso. Item correto. 2) (Cespe/Finep/Analista/2009) O poder vinculado aquele conferido administrao de forma expressa e explcita, com a norma legal j trazendo nela mesma a determinao dos elementos e requisitos para a prtica dos respectivos atos. Poder vinculado ou regrado o que a lei confere ao administrador para a prtica de atos de sua competncia, determinando todos os requisitos necessrios sua formalizao. Neste caso, o administrador no possui margem decisria para a anlise da convenincia e oportunidade de praticar o ato, devendo se ater estritamente aos termos legais. Existente a hiptese legal, deve o agente praticar o ato. No estando ela presente, fica ele proibido de pratic-lo. Questo verdadeira. 3) (Cespe/Natal/Assessor Jurdico/2008) O poder vinculado no existe como poder autnomo; em realidade, ele configura atributo de outros poderes ou competncias da administrao pblica. Fiquem atentos: alguns autores no admitem a existncia dos poderes vinculado e discricionrio como poderes administrativos autnomos. Dizem, ao contrrio, que a vinculao e a discricionariedade so apenas caractersticas do exerccio dos demais poderes. Assim, um ato administrativo praticado no mbito do poder hierrquico, do poder disciplinar ou do poder de polcia pode ser vinculado ou discricionrio,

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    conforme a lei atribua ou no ao agente pblico liberdade para decidir. Essa foi a posio cobrada pelo Cespe nesta questo, que est correta. Todavia, j consagrada a doutrina de Hely Lopes Meirelles, para quem so exemplos de poderes administrativos o poder vinculado e o poder discricionrio. Assim, a menos que o enunciado cobre expressamente o entendimento acima, considere que o poder vinculado e o poder discricionrio so tambm poderes administrativos. 4) (Cespe/TJRR/Administrador/2012) Define-se poder discricionrio como o poder que o direito concede administrao para a prtica de atos administrativos com liberdade na escolha de sua convenincia, oportunidade e contedo, estando a administrao, no exerccio desse poder, imune apreciao do Poder Judicirio. O erro da questo est em dizer que o exerccio do poder discricionrio no est sujeito apreciao do Poder Judicirio. Pois sabemos que toda atividade administrativa tem por caracterstica poder ser analisada pela Justia, para coibir eventuais ilegalidades do Estado-administrador. Assertiva falsa. 5) (Cespe/AL-CE/Analista Legislativo/2011) O poder discricionrio apenas poder ser aplicado quando a lei expressamente conceder administrao liberdade para atuar dentro de limites definidos. Questo perigosa! Tenham ateno! O poder discricionrio normalmente aplicado quando a lei expressamente concede administrao liberdade para atuar dentro de limites definidos. Todavia, ainda que no haja essa concesso expressa pela lei, o poder discricionrio pode estar presente, quando o administrador tenha que interpretar a lei, decidindo qual o sentido que o comando legal deve ter, em sua aplicao aos casos concretos. Assim, por exemplo, se a lei disser que a Administrao pode conceder determinado benefcio aos reconhecidamente pobres, sem definir o que ser pobre, essa definio ficar a cargo da discricionariedade administrativa, ainda que a lei no diga isso expressamente. Enunciado errado.

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    6) (Cespe/CD/Analista Legislativo/2012) Em decorrncia da aplicao do poder hierrquico, uma autoridade pblica pode delegar atribuies que no lhe sejam privativas a subordinado. O poder hierrquico permite o exerccio dos institutos da delegao e da avocao de competncia. Delegar conferir a outrem atribuies que inicialmente competiam ao delegante. J avocar significa chamar a si funes originariamente atribudas ao subordinado. A delegao decorrncia natural do poder hierrquico, e pode ser revogada a qualquer tempo pelo agente delegante. Ela , entretanto, vedada nos casos de competncia para elaborao de atos normativos, de deciso de recursos administrativos e de competncia exclusiva do agente (artigo 13 da Lei 9.784/1999). Os atos oriundos de delegao so de responsabilidade do delegado, que quem efetivamente os executa. Questo correta. 7) (Cespe/PC-ES/Delegado/2011) A atividade do Estado que condiciona a liberdade e a propriedade do indivduo aos interesses coletivos tem por fundamento o denominado poder hierrquico. A definio refere-se ao pode de polcia, no ao poder hierrquico, por isso, o item est errado. Embora no esteja previsto no edital da Cmara, vamos dar uma rpida palhinha sobre o poder de polcia. Poder de polcia administrativa a faculdade de que dispe a Administrao Pblica para condicionar e restringir o exerccio dos direitos individuais, em prol da harmonia social. Segundo Hely Lopes Meirelles, ele incide sobre bens, atividades e direitos individuais, em benefcio da coletividade ou do prprio Estado. Para Celso Antnio Bandeira de Mello, o poder de polcia a atividade estatal de condicionar a liberdade e a propriedade, ajustando-as aos interesses coletivos. A polcia administrativa no se confunde com a polcia judiciria, nem com a polcia de manuteno da ordem pblica. Estas incidem sobre pessoas, aquela, sobre bens, atividades ou direitos. A polcia judiciria (polcia federal e polcia civil) realiza aes de investigao para fins de

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    instruo processual penal. A polcia de manuteno da ordem pblica (polcia militar) realiza, entre outras atribuies, o policiamento ostensivo das vias pblicas. O poder de polcia pressupe a capacidade de ditar e executar medidas restritivas do direito individual, em benefcio do bem-estar da coletividade e da preservao do prprio Estado. inerente a toda a Administrao e se reparte entre todas as esferas administrativas da Unio, dos estados e dos municpios. O policiamento administrativo decorre de uma das funes primordiais do Estado, que a manuteno da harmonia da convivncia social, fazendo com que cada administrado exera seus direitos nos limites legais, sem afrontar os direitos dos demais indivduos, pois o regime em que vivemos assegura o exerccio normal dos direitos individuais, mas no autoriza o abuso, nem o exerccio antissocial desses direitos. So exemplos de atos de polcia administrativa as concesses de alvars de funcionamento, as inspees da vigilncia sanitria, as autorizaes para porte de arma, as limitaes ao direito de construir etc.

    O poder de polcia exteriorizado por meio das seguintes fases: ordem de polcia (leis e atos normativos); consentimento de polcia (licenas, autorizaes etc.), fiscalizao de polcia e sano de polcia (multas, apreenso de mercadorias, demolio de obra irregular etc.). Essas fases compem o chamado ciclo de polcia. As trs primeiras fases possuem carter preventivo, para evitar que ocorra o ilcito. A ltima, cunho repressivo, para reparar ou compensar a irregularidade gerada com o descumprimento da ordem de polcia.

    Desse modo, o poder de polcia abrange a edio de leis e atos normativos que estabelecem regras a serem observadas pelos administrados, no exerccio de seus direitos e na administrao de seus bens. Em alguns casos, ocorre a autorizao para o exerccio de atividades ou adequada utilizao de bens. Compreende ainda as vistorias e fiscalizaes empreendidas pelos agentes pblicos, a fim de se verificar o cumprimento dessas regras. Finalmente, em caso de

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    descumprimento, o poder de polcia atua repressivamente, multando, interditando estabelecimentos, aprendendo mercadorias ou efetivando outras medidas necessrias ao fiel cumprimento das normas estabelecidas. 8) (Cespe/MPOG/2009) Do poder disciplinar, decorre a ao de um diretor de escola pblica que determina a suspenso de um aluno em razo da prtica de ato considerado infrao. Por outro lado, decorre do poder hierrquico a aplicao de sano disciplinar ao servidor pblico pelo seu superior. Poder disciplinar a faculdade de punir internamente as infraes funcionais praticadas pelos agentes que estejam sujeitos disciplina da Administrao. Pode ser uma decorrncia do poder hierrquico, quando exercido pelo superior do agente a ser punido. Mas ateno: o poder disciplinar no se confunde com o poder hierrquico, pois este tem por fim ordenar e controlar as atividades administrativas. Somente quando surgem irregularidades passveis de punio, caracteriza-se o campo de atuao do poder disciplinar. Algumas vezes, por outro lado, o poder disciplinar se manifesta sem que esteja presente o poder hierrquico, como no caso de um diretor de escola pblica que tem o poder de aplicar penalidades administrativas aos alunos. Ele no o chefe dos estudantes, no uma relao de hierarquia, mas, ainda, assim, h um vnculo especial que autoriza ao diretor a aplicao das sanes, conforme previso em lei e no regimento ou estatuto da escola. Em razo do exposto, o item est correto. 9) (Cespe/MCT/Analista/2008) Poder disciplinar aquele exercido pelos rgos de fiscalizao da administrao pblica, especialmente no que diz respeito segurana, higiene, ordem, aos costumes, disciplina da produo e do mercado, ao exerccio de atividades econmicas dependentes de concesso ou autorizao do poder pblico. O item est errado, pois se refere definio de poder de polcia, conforme previsto no art. 77 do Cdigo Tributrio Nacional (CTN):

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    Art. 78. Considera-se poder de polcia atividade da administrao pblica que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prtica de ato ou absteno de fato, em razo de interesse pblico concernente segurana, higiene, ordem, aos costumes, disciplina da produo e do mercado, ao exerccio de atividades econmicas dependentes de concesso ou autorizao do Poder Pblico, tranquilidade pblica ou ao respeito propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

    O pargrafo nico desse artigo considera regular o exerccio do poder de polcia quando desempenhado pelo rgo competente nos limites da lei aplicvel, com observncia do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionria, sem abuso ou desvio de poder. 10) (Cespe/AGU/Procurador Federal/2007) O ato disciplinar vinculado, deixando a lei pequenas margens de discricionariedade administrao, que no pode demitir ou aplicar quaisquer penalidades contrrias lei, ou em desconformidade com suas disposies. Diante da ocorrncia de uma falta administrativa, dever do superior hierrquico promover a sua devida apurao e aplicar uma penalidade administrativa, para punir o infrator. Por isso, dizemos que o poder disciplinar assim como os demais poderes administrativos configura um poder-dever (ou dever-poder). Sob este aspecto, diz-se que o ato disciplinar vinculado, pois a Administrao tem o dever de pratic-lo, em face de uma infrao disciplinar, e s o pode fazer nos estritos termos da lei. Assim j decidiu o STJ (MS 11.955/07, RMS 16.713/04). A Corte Superior declarou que o ato disciplinar no discricionrio, mas vinculado, tendo a Administrao o dever de aplicar a lei de ofcio. Eventualmente, a lei deixa ao administrador alguma margem de discricionariedade, para apreciar a gravidade da infrao e ponderar a medida da pena aplicvel (dosimetria da pena). Contudo, em respeito ao Estado Democrtico de Direito, s garantias do cidado, aos princpios da legalidade, da segurana jurdica e da separao de

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    Poderes, as penas disciplinares somente podem ser aplicadas se previstas em lei, preenchidos todos os seus requisitos. Assim, o enunciado est correto. Vale lembrar ainda que a aplicao de sano no prevista em lei configura arbitrariedade (ilegalidade) da Administrao. Em resumo: o superior hierrquico tem o dever de praticar o ato disciplinar, diante de uma falta administrativa (ato vinculado). Possui, contudo, discricionariedade para valorar a falta praticada e selecionar, dentre as constantes no rol legal, a mais adequada ao fato concreto, estabelecendo, ainda, a sua dosimetria, isto , o quantum da sano (ex: suspenso de 5, 10 ou 20 dias). No pode, contudo, aplicar uma punio no prevista em lei, sob pena de praticar ato arbitrrio e, portanto, ilegal.

    11) (Cespe/OAB/2007.1) No exerccio do poder sancionador da administrao pblica, incide o mesmo princpio da tipicidade estrita aplicvel s sanes de natureza penal. O Direito Penal submete-se ao princpio da tipicidade estrita. Significa dizer que a conduta do indivduo deve amoldar-se perfeitamente ao tipo legal para configurar crime, no se admitindo a interpretao extensiva. Como exemplo, cite-se o artigo 151 do Cdigo Penal, que define o delito de violao de correspondncia: Devassar indevidamente o contedo de correspondncia fechada, dirigida a outrem. Se a pessoa devassa o contedo de correspondncia aberta, por exemplo, no comete o crime, j que o tipo penal fala em correspondncia fechada. O Direito Administrativo, por sua vez, no regido por tal princpio. As faltas administrativas, muitas vezes, no so previstas com detalhes na lei, isto , no h uma descrio minuciosa da conduta do agente. comum a utilizao de expresses genricas, como falta grave, falta de decoro e agir com desdia. O enquadramento de determinada atitude do servidor como falta funcional pode depender, assim, de um juzo de valor do superior hierrquico. No h necessidade de haver, portanto, um tipo administrativo da falta exaustivamente descrito na lei, nem a perfeita adequao da conduta do servidor descrio legal, como ocorre com as infraes penais. Desse modo, a afirmativa est errada.

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    12) (Cespe/OAB/2007.1) No exerccio do poder sancionador da administrao pblica, no se admite o exerccio da discricionariedade administrativa. No exerccio do poder sancionador, admite-se, sim, quando a lei permitir, o exerccio da discricionariedade administrativa, por isso, este item incorreto. Ressalte-se apenas que poder discricionrio no se confunde com poder arbitrrio. Discricionariedade liberdade de ao nos limites definidos em lei. Arbitrariedade, ao contrrio, significa extrapolar a lei, representando, portanto, ato ilegal. Assim, o superior dever selecionar a sano a ser aplicada ao agente faltoso dentre as previstas no rol legal, no podendo inovar quanto a isso, sob pena de cometer abuso de poder. 13) (Cespe/OAB/2007.1) No exerccio do poder sancionador da administrao pblica, devem ser observados os princpios da ampla defesa prvia e da proporcionalidade na dosimetria da sano. O princpio da ampla defesa possui sede constitucional e representa clusula ptrea. aplicvel a todo tipo de processo, judicial ou administrativo. A ampla defesa autoriza o litigante a utilizar-se de quaisquer meios permitidos pelo Direito para provar seus argumentos. A falta da ampla defesa torna nulo o processo administrativo no qual essa ausncia se afigura. Tratando-se de atos sancionadores, a exigncia da ampla defesa torna-se ainda mais evidente. No se admite punir um indivduo sem que ele possa exercer previamente seu direito de defesa. Assim, est correto o item. O princpio da proporcionalidade pode ser entendido como a proibio do excesso no desempenho da funo pblica. Objetiva aferir a adequao entre os meios e os fins da atividade administrativa, de modo a evitar restries desnecessrias ou abusivas aos direitos fundamentais. Se um servidor pblico comete uma falta, a punio formal desse servidor deve ser proporcional falta cometida. No se justifica, por exemplo, punir com pena de demisso, uma das mais graves do servio pblico, um servidor sem maus antecedentes

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    funcionais porque faltou um nico dia ao servio. Nisto consiste a dosimetria da sano: quantificar a intensidade da penalidade a ser aplicada, de acordo com o caso concreto. Vale lembrar que a dosimetria da pena harmoniza-se tambm com o princpio da individualizao da pena, previsto na Carta Magna (art. 5., XLVI). 14) (Cespe/Polcia Federal/Agente/2009) O poder de a administrao pblica impor sanes a particulares no sujeitos sua disciplina interna tem como fundamento o poder disciplinar. Poder disciplinar a faculdade de punir internamente as infraes funcionais praticadas pelos agentes que estejam sujeitos disciplina da Administrao. Decorre do poder hierrquico, mas com ele no se confunde, pois este tem por fim ordenar e controlar as atividades administrativas. Somente quando surgem irregularidades passveis de punio, caracteriza-se o campo de atuao do poder disciplinar. Os agentes sujeitos disciplina interna da Administrao possuem o chamado vnculo especial com o Poder Pblico. No se deve confundir o poder disciplinar com o poder punitivo do Estado, realizado por meio da Justia Penal (atividade jurisdicional), que alcana todo aquele que praticar crime ou contraveno criminal. O poder disciplinar abrange apenas as faltas praticadas pelos agentes administrativos relacionadas com o servio e exercido diretamente pela Administrao, sem necessidade de interferncia do Poder Judicirio. Alm disso, pode haver aplicao de penalidades fora do mbito do poder disciplinar. A aplicao de uma multa de trnsito a um cidado, por exemplo, fundamenta-se no poder de polcia, pois no existe vnculo hierrquico entre o cidado e o agente pblico, neste caso. Considera-se como fundamento do poder de polcia o chamado vnculo geral entre a Administrao e os administrados. Desse modo, a questo est errada, pois o poder de a administrao pblica impor sanes a particulares no sujeitos sua disciplina

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    interna tem como fundamento o poder de polcia, no o poder disciplinar. 15) (Cespe/MP-PI/Analista/2012) Como resulta do sistema hierrquico, o poder disciplinar existe no mbito do Poder Executivo, mas no no dos poderes Legislativo e Judicirio, nos quais no h relaes de hierarquia ou de subordinao. O poder disciplinar existe em todos os Poderes de Estado e no Ministrio Pblico. Em todos esses rgos, existem agentes e rgos administrativos, sujeitos ao poder disciplinar e ao poder hierrquico. Embora os membros de Poder (parlamentares e magistrados) e os membros do Ministrio Pblico (promotores e procuradores) atuem com independncia funcional, a hierarquia e a disciplina so elementos presentes na atuao de seus auxiliares, que so servidores pblicos, agentes administrativos estatutrios. Desse modo, est errada a questo. Alm disso, ainda que no haja hierarquia no exerccio das funes legislativa e jurisdicional, existe uma hierarquia para fins de aes administrativas, por exemplo, a aplicao de uma penalidade funcional por um Tribunal a um juiz de primeiro grau. Ressalte-se apenas que, nesse caso, teremos o exerccio de funo administrativa pelo Tribunal, no de funo jurisdicional. 16) (Cespe/CD/Analista Legislativo/2012) No exerccio do poder regulamentar, compete ao presidente da Repblica dispor, mediante decreto, sobre a criao e a extino de rgos, funes e cargos pblicos, quando tal ato no implicar aumento de despesa. Trata-se de hiptese de decreto autnomo, prevista no art. 84, VI, da CF/88. Neste caso, o chefe do Executivo pode dispor mediante decreto sobre organizao e funcionamento da administrao federal, mas desde que isso no implique aumento de despesa nem criao ou extino de rgos pblicos. A criao e extino de Ministrios e rgos da administrao pblica deve ocorrer por meio de lei, conforme prev o art. 48, XI, da Constituio. Assertiva falsa.

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    17) (Cespe/MCT/Analista/2008) O decreto regulamentar o instrumento utilizado pelos diversos agentes pblicos dos trs poderes com objetivo de explicitar a lei, visando sua correta execuo. O poder regulamentar a faculdade de que dispem os chefes do

    Poder Executivo de explicar a lei para sua correta execuo (art. 84,

    IV, 2. parte, CF/88). Para o exerccio desse poder, eles se utilizam dos

    regulamentos, que so expedidos por meio de decretos. O item est

    errado, porque afirma que o decreto regulamentar pode ser utilizado

    pelos diversos agentes pblicos dos trs Poderes. Nos demais Poderes,

    seus respectivos chefes regulamentam a aplicao das leis por atos

    prprios, que no tm, contudo, a forma de decreto, embora cumpram

    a mesma funo que os decretos regulamentares cumprem no mbito

    do Poder Executivo.

    18) (Cespe/MP-PI/Analista/2012) No exerccio do poder regulamentar, os chefes do Executivo no podem editar atos que contrariem a lei ou que criem direitos e obrigaes que nela no estejam previstos, sob pena de ofensa ao princpio da legalidade. O poder regulamentar a faculdade de que dispem os chefes do Poder Executivo de explicar a lei para sua correta execuo. Para o exerccio desse poder, eles se utilizam dos regulamentos, que so expedidos por meio de decretos. Os decretos podem ser classificados em decretos regulamentares ou de execuo e decretos autnomos. Os primeiros so os que cumprem a tarefa de explicitar as leis para permitir a sua fiel execuo (art. 84, IV, CF/88). Os segundos so os que suprem as lacunas das leis, regulando situaes ainda no disciplinadas em norma legal. No nosso ordenamento, s existem nas hipteses previstas no art. 84, VI, da CF/88: para organizao e funcionamento da administrao federal, quando no implicar aumento de despesa nem criao ou extino de rgos pblicos; ou para a extino de funes ou cargos pblicos, quando vagos.

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    Os decretos de execuo tm a funo de detalhar as normas legais para seu fiel cumprimento. Eles devem se limitar a explicar como se dar o cumprimento das regras legalmente previstas, no podendo disciplinar situaes no constantes das leis. Explicam-nas, mas no vo alm delas. Alm disso, so atos hierarquicamente inferiores s leis, no podendo contrari-las. So chamados tambm de atos normativos secundrios ou derivados, pois as normas que estabelecem derivam das que so previstas nas leis. Estas, por sua vez, so chamadas de atos normativos primrios ou originrios, decorrentes diretamente da Constituio e com capacidade de inovar na ordem jurdica. Desse modo, a assertiva est correta. 19) (Cespe/TRF-3/Juiz Federal/2011) No exerccio do poder regulamentar, o chefe do Poder Executivo pode dispor, mediante decreto, sobre a criao e extino de rgos pblicos, mas no de pessoas jurdicas. De novo! Trata-se de hiptese de decreto autnomo, prevista no art. 84, VI, da CF/88. Neste caso, o chefe do Executivo pode dispor mediante decreto sobre organizao e funcionamento da administrao federal, mas desde que isso no implique aumento de despesa nem criao ou extino de rgos pblicos. A criao e extino de Ministrios e rgos da administrao pblica deve ocorrer por meio de lei, conforme prev o art. 48, XI, da Constituio. A particularidade dessa questo, no entanto, foi indagar se o termo rgo, previsto no art. 84, VI, a, da CF/88, seria referente apenas a rgos em sentido estrito (unidades administrativas despersonalizadas) ou tambm a entidades pblicas (unidades com personalidade jurdica). A interpretao ao dispositivo deve ser ampla, abrangendo tanto rgos como entidades pblicas. Assertiva falsa. 20) (Cespe/TRF-3/Juiz Federal/2011) Alm do decreto regulamentar, de responsabilidade do chefe do Poder Executivo, o poder normativo da administrao tambm se expressa por meio de atos administrativos editados por outras autoridades, como, por exemplo, avisos ministeriais, resolues, portarias, instrues e ordens de servio.

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    Quanto aos atos de carter normativo da Administrao Pblica, vale destacar que so expresso do poder normativo, do qual o poder regulamentar do chefe do Poder Executivo uma subespcie. Desse modo, alm do regulamento, outros atos normativos podem ser editados pelos diversos rgos e entidades da Administrao que possuam competncia legal para tanto. So exemplos de atos normativos: resolues, portarias, deliberaes, instrues, ordens de servio e outras que possuam generalidade e abstrao em seu contedo. Questo verdadeira.

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    LISTA DE QUESTES DESTA AULA

    1) (Cespe/AL-CE/Analista Legislativo/2011) No mbito do direito privado, o poder de agir constitui mera faculdade; no do direito administrativo, uma imposio, um dever de agir para o agente pblico. 2) (Cespe/Finep/Analista/2009) O poder vinculado aquele conferido administrao de forma expressa e explcita, com a norma legal j trazendo nela mesma a determinao dos elementos e requisitos para a prtica dos respectivos atos. 3) (Cespe/Natal/Assessor Jurdico/2008) O poder vinculado no existe como poder autnomo; em realidade, ele configura atributo de outros poderes ou competncias da administrao pblica. 4) (Cespe/TJRR/Administrador/2012) Define-se poder discricionrio como o poder que o direito concede administrao para a prtica de atos administrativos com liberdade na escolha de sua convenincia, oportunidade e contedo, estando a administrao, no exerccio desse poder, imune apreciao do Poder Judicirio. 5) (Cespe/AL-CE/Analista Legislativo/2011) O poder discricionrio apenas poder ser aplicado quando a lei expressamente conceder administrao liberdade para atuar dentro de limites definidos. 6) (Cespe/CD/Analista Legislativo/2012) Em decorrncia da aplicao do poder hierrquico, uma autoridade pblica pode delegar atribuies que no lhe sejam privativas a subordinado. 7) (Cespe/PC-ES/Delegado/2011) A atividade do Estado que condiciona a liberdade e a propriedade do indivduo aos interesses coletivos tem por fundamento o denominado poder hierrquico. 8) (Cespe/MPOG/2009) Do poder disciplinar, decorre a ao de um diretor de escola pblica que determina a suspenso de um aluno em razo da prtica de ato considerado infrao. Por outro lado, decorre do poder hierrquico a aplicao de sano disciplinar ao servidor pblico pelo seu superior.

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    9) (Cespe/MCT/Analista/2008) Poder disciplinar aquele exercido pelos rgos de fiscalizao da administrao pblica, especialmente no que diz respeito segurana, higiene, ordem, aos costumes, disciplina da produo e do mercado, ao exerccio de atividades econmicas dependentes de concesso ou autorizao do poder pblico. 10) (Cespe/AGU/Procurador Federal/2007) O ato disciplinar vinculado, deixando a lei pequenas margens de discricionariedade administrao, que no pode demitir ou aplicar quaisquer penalidades contrrias lei, ou em desconformidade com suas disposies. 11) (Cespe/OAB/2007.1) No exerccio do poder sancionador da administrao pblica, incide o mesmo princpio da tipicidade estrita aplicvel s sanes de natureza penal. 12) (Cespe/OAB/2007.1) No exerccio do poder sancionador da administrao pblica, no se admite o exerccio da discricionariedade administrativa. 13) (Cespe/OAB/2007.1) No exerccio do poder sancionador da administrao pblica, devem ser observados os princpios da ampla defesa prvia e da proporcionalidade na dosimetria da sano. 14) (Cespe/Polcia Federal/Agente/2009) O poder de a administrao pblica impor sanes a particulares no sujeitos sua disciplina interna tem como fundamento o poder disciplinar. 15) (Cespe/MP-PI/Analista/2012) Como resulta do sistema hierrquico, o poder disciplinar existe no mbito do Poder Executivo, mas no no dos poderes Legislativo e Judicirio, nos quais no h relaes de hierarquia ou de subordinao. 16) (Cespe/CD/Analista Legislativo/2012) No exerccio do poder regulamentar, compete ao presidente da Repblica dispor, mediante decreto, sobre a criao e a extino de rgos, funes e cargos pblicos, quando tal ato no implicar aumento de despesa.

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    17) (Cespe/MCT/Analista/2008) O decreto regulamentar o instrumento utilizado pelos diversos agentes pblicos dos trs poderes com objetivo de explicitar a lei, visando sua correta execuo. 18) (Cespe/MP-PI/Analista/2012) No exerccio do poder regulamentar, os chefes do Executivo no podem editar atos que contrariem a lei ou que criem direitos e obrigaes que nela no estejam previstos, sob pena de ofensa ao princpio da legalidade. 19) (Cespe/TRF-3/Juiz Federal/2011) No exerccio do poder regulamentar, o chefe do Poder Executivo pode dispor, mediante decreto, sobre a criao e extino de rgos pblicos, mas no de pessoas jurdicas. 20) (Cespe/TRF-3/Juiz Federal/2011) Alm do decreto regulamentar, de responsabilidade do chefe do Poder Executivo, o poder normativo da administrao tambm se expressa por meio de atos administrativos editados por outras autoridades, como, por exemplo, avisos ministeriais, resolues, portarias, instrues e ordens de servio. Gabarito

    1C 2C 3C 4E 5E 6C 7E 8C 9E 10C 11E 12E

    13C 14E 15E 16E 17E 18C 19E 20C