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www.cers.co m.br TRIBUNAIS 2014 Direito Civil Luciano Figueiredo 1 Negócio Jurídico Tema IV Material para o Curso Módulo Básico dos Tribunais. Elaboração: Luciano L. Figueiredo 1 . 1. Conceito de Negócio Jurídico 2. Planos do Negócio Jurídico 2.1. Existência O plano de existência do negócio jurídico não foi incluso pelo legislador civil na Codificação, sendo, porém, diuturnamente tratado pela doutrina. É o plano do “ser” do negócio jurídico. a) Agente b) Objeto c) Forma d) Vontade Exteriorizada 2.2. Validade Validade é sinônimo de adequação ao sistema jurídico, verificando-se se o negócio existente pertence ao ordenamento jurídico. Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; 1 Advogado. Sócio do Figueiredo & Figueiredo Advocacia e Consultoria. Graduado em Direito pela Universidade Salvador (UNIFACS). Especialista (Pós-Graduado) em Direito do Estado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Direito Privado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professor de Direito Civil. Palestrante. Autor de Artigos Científicos e Li vros Jurídi cos. Fan Pa ge : Luciano Li ma Figuei re do. Twi tte r: @ci vilfi guei redo. Ins ta gram: @lucianolima figuei redo. III - forma prescrita ou não defesa em lei. I Capacidade do Agente: Já estudada na aula de Pessoa Física. II Objeto Lícito, Possível, Determinado ou Determinável III Forma Prescrita ou Não Defesa em Lei. Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. Hipótese em que a vontade é vinculada: Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. IV Consentimento Válido Pode ser pelo silêncio? Art. 111 do CC: Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. 2.2.1 Teoria das Invalidades Duas observações iniciais: I. As nulidades nunca são implícitas (exigem sempre texto de lei). Não há nulidade, seja absoluta ou anulabilidade (relativa), sem disposição legal. II. As nulidades admitem gradação. a) Nulidade Absoluta Hipóteses:

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TRIBUNAIS 2014

Direito Civil

Luciano Figueiredo

1

Negócio Jurídico Tema IV

Material para o Curso Módulo Básico dos

Tribunais. Elaboração: Luciano L. Figueiredo1.

1. Conceito de Negócio Jurídico 2. Planos do Negócio Jurídico 2.1. Existência

O plano de existência do negócio jurídico não foi incluso pelo legislador civil na Codificação, sendo, porém, diuturnamente tratado pela doutrina. É o plano do “ser” do negócio jurídico. a) Agente

b) Objeto

c) Forma

d) Vontade Exteriorizada 2.2. Validade Validade é sinônimo de adequação ao sistema jurídico, verificando-se se o negócio existente pertence ao ordenamento jurídico.

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

1 Advogado. Sócio do Figueiredo & Figueiredo Advocacia e

Consultoria . Graduado em Direi to pela Universidade Salvador

(UNIFACS). Especialista (Pós-Graduado) em Direi to do Estado

pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Direi to

Privado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professor

de Direi to Ci vil . Palestrante. Autor de Artigos Científicos e

Livros Jurídicos. Fan Page: Luciano Lima Figueiredo. Twitter:

@civilfigueiredo. Instagram: @lucianolimafigueiredo.

III - forma prescrita ou não defesa em lei.

I – Capacidade do Agente: Já estudada na aula de Pessoa Física. II – Objeto Lícito, Possível, Determinado ou Determinável III – Forma Prescrita ou Não Defesa em Lei.

Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.

Hipótese em que a vontade é vinculada:

Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

IV – Consentimento Válido

Pode ser pelo silêncio? Art. 111 do CC:

Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.

2.2.1 Teoria das Invalidades

Duas observações iniciais:

I. As nulidades nunca são implícitas (exigem sempre texto de lei). Não há nulidade, seja absoluta ou anulabilidade (relativa), sem disposição legal.

II. As nulidades admitem gradação.

a) Nulidade Absoluta

Hipóteses:

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Art.166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I – aparentar em conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III – os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. § 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado

Características:

1. O ato nulo atinge interesse público superior; 2. Opera-se de pleno Direito (ope legis); 3. Não admite confirmação (ratificação), mas pode ser convertido; 4. Pode ser arguida pelas partes, por terceiro interessado, pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir, ou, até mesmo, pronunciada de ofício pelo Juiz ex ofício; 5. A ação declaratória de nulidade é decidida por sentença de natureza declaratória de efeitos “extunc”;

6. A nulidade, segundo o novo Código Civil, pode ser reconhecida a qualquer tempo, não se sujeitando a prazo prescricional (imprescritível) ou decadencial. # Atenção: apesar de o juiz poder reconhecer ex ofício a nulidade, ele não tem permissão para supri-la, ainda que a requerimento da parte (art. 168 p.u, CC/02).

Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.

# Atenção: Entende o STJ que a arguição de nulidade absoluta nas instâncias extraordinárias demanda a observância do requisito do prequestionamento. Informativo 329, STJ:

ALIENAÇÃO. BEM IMÓVEL. CLÁUSULA. INALIENABILIDADE. NULIDADE ABSOLUTA. DECLARAÇÃO. OFÍCIO. PREQUESTIONAMENTO.

Destacaram as instâncias anteriores que os gravames em questão incidem, tão-somente, sobre os frutos, e não, propriamente, sobre o imóvel. O Tribunal estadual manteve-se nos exatos limites da questão da prescritibilidade, ou não, da pretensão de reconhecimento da nulidade do negócio jurídico entabulado, mantendo-se silente sobre qualquer outra matéria. Não obstante, ainda que se trate de questão chamada de "ordem pública", isto é, nulidade absoluta – passível, segundo respeitável doutrina, de conhecimento a qualquer tempo, em qualquer grau de jurisdição –, este Superior Tribunal já cristalizou seu entendimento pela impossibilidade de se conhecer da matéria de ofício, quando inexistente o necessário prequestionamento. Ocorrida essa

nulidade, a prescrição a ser aplicada é

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a vintenária. Com esse entendimento, a Turma não conheceu doREsp, anotando que a ação foi ajuizada trinta e oito anos após o registro da alienação. O Min. Antônio de Pádua Ribeiro acompanhou o Min. Relator apenas na conclusão, por entender incidente a Súm. n. 283-STF, pois defende a imprescritibilidade dos atos nulos. Precedentes citados: REsp 178.342-RS, DJ 3/11/1998; AgRg no REsp 478.379-RS, DJ 3/4/2006; Edcl no REsp 750.406-ES, DJ 21/11/2005; REsp 919.243-SP, DJ 7/5/2007, e REsp 591.401-SP, DJ 13/9/2004. REsp 297.117-RS, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, julgado em 28/8/2007.

b) Nulidade Relativa (Anulabilidade)

Hipóteses:

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

Características:

1. O ato anulável atinge interesses particulares, legalmente tutelados (por isso a gravidade não é tão relevante quanto na hipótese de nulidade); 2. Não se opera de pleno Direito (opeiudicis); 3. Admite confirmação expressa ou tácita (ratificação); 4. Somente pode ser arguida pelos legítimos interessados; 5. A anulabilidade somente pode ser arguida, pela via judicial, em prazos decadenciais de 4 (regra geral) ou 2 (regra supletiva) anos, salvo norma específica sem sentido contrário (art. 178 e 179).

Art. 178. É de quatro anos o prazo de

decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;

II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade. Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.

6. Quais os efeitos da decisão?

Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade. Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.

Fiquem atentos:

Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.

Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, nãopode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.

c) Princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos I) Conversão Substancial

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É uma medida sanatória por meio da qual aproveitam-se os elementos materiais de um negócio jurídico inválido, convertendo-o em negócio válido de fins lícitos. Está prevista no art. 170 e consiste na recategorização de determinado negócio para outro de diferente espécie, respeitadas determinadas circunstâncias.

Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.

# Exemplos:

Compra e venda por escritura particular de imóvel acima de 30 salários: juiz pode considerar convertendo em promessa de compra e venda, e depois possibilitando a adjudicação compulsória do bem II) Ratificação (Saneamento, Convalidação Ou Confirmação):

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo. Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.

III) Redução do Negócio Jurídico

Permite uma invalidada parcial.

Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal.

2.3. Eficácia

Tem como elementos acidentais ou acessórios, opostos pela vontade humana a negócios com fundo patrimonial: a) Condição

I) Suspensiva x Resolutiva II) Lícita x Ilícita III) Puramente Potestativa x Meramente ou Simplesmente Potestativa

Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; III - as condições incompreensíveis ou contraditórias. Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível. Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.

Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento. Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou

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resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo.

Na hora da prova? 01. (Analista Judiciário – Execução de Mandados TRF 4ª região/ 2010 – Direito Civil/ FCC) Considere as seguintes assertivas a respeito da Condição, do Termo e do Encargo:

I. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e certo. II. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido. III. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. IV. Em regra, o encargo suspende a aquisição e o exercício do direito. De acordo com o Código Civil, está correto o que consta APENAS em

a) I e III. b) I, II e III. c) II, III e IV. d) II e III. e) II e IV. b) Termo

I) Inicial (dies a quo) x Final (Dies ad quem)

Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.

II) Forma de Contagem:

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. § 1º Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.

§ 2º Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. § 3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. § 4º Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.

II) Regras Importantes:

Art. 133. Nos testamentos, presume-

se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes. Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.

c) Modo ou Encargo

Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.

3. Regras Interpretativas dos Negócios Jurídicos 3.1 Boa-Fé

Subjetiva – Bona Fides romana. Objetiva - treuundglauben- Germânica

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Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Funções da Boa-Fé Objetiva: a) Interpretativa

En. 27. Art. 422: na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos.

b) Integrativa

En. 24.: Art. 422.: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação aos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.

O descumprimento de tais deveres denomina-se de violação positiva do contrato ou adimplemento fraco, sendo reconhecido pelo STJ na hipótese de não observância do dever de informação:

Recurso especial. Civil. Indenização. Aplicação do princípio da boa-fé contratual. Deveres anexos ao contrato. - O princípio da boa-fé se aplica às relações contratuais regidas pelo CDC, impondo, por conseguinte, a obediência aos deveres anexos ao

contrato, que são decorrência lógica deste princípio. - O dever anexo de cooperação pressupõe ações recíprocas de lealdade dentro da relação contratual. - A violação a qualquer dos deveres anexos implica em inadimplemento

contratual de quem lhe tenha dado causa. - A alteração dos valores arbitrados a título de reparação de danos extrapatrimoniais somente é possível, em sede de Recurso Especial, nos casos em que o quantum determinado revela-se irrisório ou exagerado. Recursos não providos. (REsp 595631 / SC. Relatora Ministra Nancy Adrighi. 3 Turma. Julgado em:08.06.2004.)

O CJF reconhece como um dos deveres anexos o de mitigação por parte do credor - DutytoMigatetheLoss ou o dever do credor de mitigar as próprias perdas:

E. 169 – Art. 422: O princípio da boa-

fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo

c) Restritiva

En. 26 Art. 422.: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes.

Aplicação: Do pré-contrato ao pós-contrato?

E. 25 - Art. 422: o art. 422 do Código

Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós -contratual. En. 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva

deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.

3.2 Demais Regras

Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato.

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Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.

4. Defeitos do Negócio Jurídico 4.1. Vícios de Consentimento (de vontade)

a) Erro ou Ignorância

Erro principal ou essencial ou determinante:

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

O erro acidental ou acessório:

Art. 142. O erro de indicação da

pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.

Hipóteses de erro

a) Error in negotio(sobre o negócio) b) Error in corpore(sobre o objeto) c) Error in Persona (sobre a pessoa) d) Error in Iures (sobre o direito)

Art. 139. O erro é substancial quando:

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.

Falso motivo:

Art. 140. O falso motivo só vicia a

declaração de vontade quando expresso como razão determinante.

Erro de transmissão de vontade:

Art. 141. A transmissão errônea da

vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta.

Erro de cálculo:

Art. 143. O erro de cálculo apenas

autoriza a retificação da declaração de vontade.

Na hora da prova? 02. (FCC – TRT 11 - Analista Judiciário – Área Judiciária/2012) Em um negócio jurídico uma parte pensa que a outra parte está doando um bem quando na verdade o bem está sendo oferecido à venda. Neste caso, ocorreu

A) error in negotio tratando-se de erro substancial que poderá anular o negócio jurídico. B) error in corpore tratando-se de erro substancial que poderá anular o negócio jurídico. C) erro acidental que não anula o negócio jurídico, devendo as partes adequá-los à situação real. D) erro acidental que anula o negócio jurídico, não cabendo perdas e danos à parte prejudicada. E) error juris tratando de erro substancial que poderá anular o negócio jurídico. b) Dolo

Dolo principal:

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.

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Dolo acessório:

Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.

Dolo negativo:

Art. 147. Nos negócios jurídicos

bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.

Dolo de terceiro:

Art. 148. Pode também ser anulado o

negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.

Dolo de Representante:

Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.

a) Se representação legal – o representado apenas responde até a importância que tiver proveito

b) Se representação convencional – responsabilidade solidária

Dolo recíproco:

Art. 150. Se ambas as partes

procederem com dolo, nenhuma pode

alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.

c) Coação Moral:

Coação absoluta x relativa Requisitos para que a coação possa viciar o negócio:

I. A coação deve ser a causa do ato; II. Gravidade: A coação deve imputar ao coagido um verdadeiro temor de dano sério; III. Injusta (ilícita, contrária ao direito, abusiva); ameaça do exercício normal do direito não é coação, idem temor reverencial. IV. Iminência ou Atualidade: A coação deve ser atual ou iminente (é para afastar a coação impossível); V. A coação deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou bens da vítima, ou à pessoas da sua família.

Na análise dos requisitos acima se leva em consideração as circunstâncias subjetivas da vítima. Art. 152 do CC:

Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-

ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.

Se a coação for dirigida a pessoa que não é da família, caberá ao magistrado analisar. Art. 151 do CC:

Art. 151. A coação, para viciar a

declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.

Parágrafo único. Se disser respeito a

pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.

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Art. 153 do CC:

Art. 153. Não se considera coação a

ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial.

Coação exercida por terceiros:

Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos. Art. 155, CC – Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.

d) Lesão Especial

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.

§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.

A lesão tratada no CC é chamada de lesão especial, exigindo para sua configuração dois

requisitos: A) Objetivo: manifesta desproporção entre as prestações estabelecidas no negócio. Observa-se que o CC não quantificou o valor, falando em desproporcionalidade como conceito aberto, sem definir o padrão quantitativo.

B) Subjetivo:Inexperiência, a qual é percebida pelas condições pessoais do contratante, ou premente necessidade do lesado no momento da contratação, levando a outra parte a um lucro exagerado.

Enunciado 290, CJF: A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico quando verificada, na formação destes, a desproporção manifesta entre as prestações assumidas pelas partes, não se presumindo a premente necessidade ou a inexperiência do lesado.

Diga-se que vem entendendo-se ser dispensável o dolo de aproveitamento pela parte que objetiva beneficiar-se:

E. 150 – Art. 157: A lesão de que trata

o art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento.

E é em atenção ao princípio da conservação dos contratos: Enunciados 149 e 291, ambos do CJF:

E. 291 – Art. 157. Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à revisão judicial do negócio por meio da redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço. E. 149 – Art. 157: Em atenção ao

princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de 2002.

e) Estado de Perigo

Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano

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conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.

Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. E. 148, CJF – Art. 156: Ao “estado de

perigo” (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2º do art. 157.

4.2 Vícios Sociais a) Fraude Contra Credores:

O patrimônio do devedor é o domicílio da garantia do credor (Alexandre Câmara). Requisitos:

a) EventusDamni b) Consilium Fraudis Hipóteses nas quais o CC presume a má-fé:

Art. 158. Os negócios de transmissão

gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. § 1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. § 2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles. Art. 159. Serão igualmente anuláveis

os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.

Art. 162. O credor quirografário, que

receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha

de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.

Art. 163. Presumem-se fraudatórias

dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.

Presunção de boa-fé:

Art. 164. Presumem-se, porém, de

boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.

# Fraude Contra Credores x Fraude à Execução. b) Simulação

Classificação:

- Absoluta - Relativa (ou dissimulação)

Art. 167. É nulo o negócio jurídico

simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir

direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão,

condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem

antedatados, ou pós-datados. # Reserva Mental

Art. 110, CC – A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.

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Na hora da prova? 03. (FCC/ TRT/ 9 R/ 2013) Em relação à interpretação do negócio jurídico, é correto afirmar que

A) quaisquer negócios jurídicos onerosos interpretam- se estritamente. B) na vontade declarada atender-se-á mais à intenção das partes do que à literalidade da linguagem. C) a renúncia interpreta-se ampliativamente. D) o silêncio da parte importa sempre anuência ao que foi requerido pela outra parte. E) como regra geral, não subsiste a manifestação da vontade se o seu autor houver feito a reserva mental de não querer o que manifestou. 04. (TRT 12. FCC. 2013). Acerca dos negócios jurídicos:

A) nas declarações de vontade importa considerar e fazer prevalecer apenas o sentido literal da linguagem. B) os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se ampliativamente. C) a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. D) se forem eles celebrados com a cláusula de nãovalerseminstrumentopúblico, este passa a ser incidental e secundário ao ato E) o silêncio de uma parte importa sempre anuência à vontade declarada pela outra parte.

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GABARITO 01. D 02. A 03. B 04. C