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AUDIÇÕES DO GRUPO DE TRABALHO VOLUME II

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AUDIES DO GRUPO DE TRABALHO VOLUME II

FICHA TCNICA

TTULO | Anlise da problemtica dos incndios florestais Audies do Grupo de Trabalho Volume II

EDIO | Assembleia da Repblica | Diviso de Edies

RELATOR | Miguel Joo Pisoeiro de Freitas

APOIO TCNICO | Joaquim Ruas

COORDENAO EDITORIAL E REVISO | Nomia Bernardo

DESIGN | Filipa Pissarra

PAGINAO | UNDO

ISBN | 978-972-556-664-0

Lisboa, setembro de 2016

@ Assembleia da Repblica. Direitos reservados, nos termos do artigo 52. da lei n. 28/2008, de 30 de julho.

AUDIES VOLUME II | 3

NDICE

Audies do Grupo de Trabalho para a Anlise da Problemtica dos Incndios Florestais

Transcrio da reunio com o secretrio de Estado da Administrao Interna 5

Transcrio da reunio com o secretrio de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural 39

Transcrio da reunio com comandante Paulo Gil Martins 70

Transcrio da reunio com o comandante Vtor Vaz Pinto 92

Transcrio da reunio com o comandante Jos Manuel Moura 108

Transcrio da reunio com o Instituto da Conservao da Natureza e das Florestas 127

Transcrio da reunio com o general comandante geral da Guarda Nacional Republicana 152

Transcrio da reunio com o Prof. Francisco Rego, Prof. Jos Cardoso Pereira e Dr. Antnio Louro 178

Transcrio da reunio com o Prof. Joaquim Sande Silva, Eng. Domingos Patacho da Quercus e Eng. Joo Camargo dos Santos da LPN 205

Transcrio da reunio com a ZIF Caule, ZIF de Tavira e So Brs de Alportel e ZIF de Aldeia do Mato 226

Transcrio da reunio com o Baldio de Ansies Maro, Baldio de Merufe e Baldios de Carvalhal da Mulher 254

Transcrio da reunio com a Associao Portuguesa dos Bombeiros Voluntrios 274

Transcrio da reunio com a Associao Nacional de Bombeiros Profissionais 297

Transcrio da reunio com a Liga dos Bombeiros Portugueses 316

Transcrio da reunio com a ANMP Associao Nacional dos Municpios Portugueses e ANAFRE Associao Nacional de Freguesias 332

Transcrio da reunio com o Prof. doutor Domingos Xavier Viegas (Centro de Estudos sobre Incndios Florestais), Dr. Miguel Almeida e Eng. Lus Ribeiro (Centro de Estudos sobre Incndios Florestais) e Eng.os Orlando Ormazbal e Joo L (AFOCELCA Central de Incndios Florestais) 351

Transcrio da reunio com o comandante Joaquim Chambel (CADIS Centro Sul), comandante Carlos Rodrigues Alves (CODIS Porto) e comandante Armando Silva (CODIS Viana do castelo) 383

Transcrio da reunio com o ministro da Administrao Interna e secretrio de Estado da Administrao Interna 404

Transcrio da reunio com a ministra da Agricultura e Mar 450

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AUDIO

SECRETRIO DE ESTADO DAADMINISTRAOINTERNA(Filipe Lobo dvila)

18 DE DEZEMBRO DE 2013

O Sr. coordenador (Guilherme Silva): Srs. deputados, temos qurum, pelo que declaro aberta a reunio.

Eram 9 horas e 30 minutos.

Queria comear por agradecer a disponibilidade do Sr. secretrio de Estado. Tnhamos programado, tal como estava a dizer ao Sr. secretrio de Estado, comear com a

audio dos Srs. secretrios de Estado, mas, por razes de agenda, fizemos uma alterao, e foi, alis, muito til a deslocao que fizemos Autoridade de Proteo Civil.

Este grupo de trabalho, que foi constitudo com o empenho e sob a liderana da Sr. presidente da Assembleia, tem a incumbncia de, em 120 dias, elaborar um relatrio. Naturalmente que a Assembleia no podia ser indiferente a uma matria que tem a relevncia e a importncia que todos conhecemos e queramos, aqui, como rgo parlamentar, fazer uma reflexo que nos leve a identificar constrangimentos e situaes que devam ser supridas, quer no mbito legislativo, quer no mbito das aes concretas de preveno e combate aos fogos florestais. Alis, esse o sentido dos objetivos do grupo de trabalho, isto , recomendar eventuais alteraes legislativas, orientaes e diretivas administrao que possam ajudar a ultrapassarmos os problemas que se vm detetando neste setor, de forma preocupante.

Naturalmente que a experincia do Ministrio da Administrao Interna e dos Srs. secretrios de Estado, que tm os pelouros a seu cargo, importante para ns para identificarmos estas vertentes que referi.

Talvez comessemos por ouvir o Sr. secretrio de Estado fazer uma interveno, nos termos que melhor entender, e, depois, os Srs. deputados poro as questes que entenderem.

Tem a palavra o Sr. secretrio de Estado.

O Sr. secretrio de Estado da Administrao Interna (Filipe Lobo dvila): Muito obrigado, Sr. vice presidente.

6 | ANLISE DA PROBLEMTICA DOS INCNDIOS FLORESTAIS

Sr. vice presidente da Assembleia da Repblica, Srs. deputados, um gosto vir a este Parlamento, desta feita aqui, a este grupo de trabalho.

Queria comear por dizer que s no estive presente na visita que foi feita pelos Srs. deputados Autoridade Nacional de Proteo Civil, estando presente o Sr. secretrio de Estado Adjunto, porque, nesse mesmo dia, estavam j agendados, em Castelo Branco, dois momentos importantes na vida dos bombeiros: desde logo, um curso de conduo defensiva que h muito tempo estava programado pela Escola Nacional de Bombeiros com a minha presena, e, por outro lado, tambm a assinatura com a Universidade de Coimbra de um protocolo entre a Escola Nacional de Bombeiros e aquela universidade, no sentido de haver uma interligao e uma partilha de informao para envolver tambm a academia naquilo que o estudo destes fenmenos e deste fenmeno que, todos os anos, temos de enfrentar, independentemente dos governos que se encontram em funes em cada momento.

Por isso, queria dar apenas esta nota inicial, dizendo, Sr. vice presidente, que, como tambm do conhecimento pblico e do conhecimento dos Srs. deputados, o balano do dispositivo especial de combate a incndios florestais para 2013 foi j apresentado, com a interveno dos seus trs pilares e, portanto, de cada uma das entidades que, do ponto de vista operacional, tm responsabilidade, quer ao nvel da preveno estrutural, quer ao nvel da preveno operacional, quer tambm ao nvel do combate, isto , com interveno do Instituto de Conservao da Natureza e das Florestas, com a Guarda Nacional Republicana e com a Autoridade Nacional de Proteo Civil.

Do ponto de vista do dispositivo, a verdade que se trata de um dispositivo que foi aprovado em maro, dentro daqueles calendrios que so habituais, que previa, do ponto de vista dos meios terrestres, um aumento do nvel das equipas e do nmero de elementos desse mesmo dispositivo.

Relativamente ao dispositivo areo, havia uma permanncia do dispositivo que vinha do ano passado, embora, depois, do ponto de vista prtico, se tenha verificado que o nmero de aeronaves que estiveram ao servio do dispositivo tenha sido claramente superior, mais que no seja pela interveno dos diferentes meios areos pesados que, ao abrigo de diferentes acordos bilaterais e do mecanismo europeu de proteo civil, estiveram em Portugal a ajudar tambm no vero.

Esse dispositivo tinha associado a si prprio uma circular financeira e eu queria tambm comear por aqui a minha interveno onde, num quadro de dificuldades oramentais conhecidas, foi possvel introduzir um conjunto de melhorias, um conjunto de avanos que tambm so amplamente do conhecimento dos Srs. deputados, nomeadamente: a atualizao daquilo que a remunerao paga pelas Equipas de Combate de Incndios Florestais, as chamadas ECINES; o aumento da comparticipao ao nvel do combustvel, com um avano muito significativo nessa matria; mantendo alguns avanos, que j tinham sido feitos e produzidos em 2012, ao nvel da alimentao; e tambm com avanos naquilo que so as comparticipaes do Estado na reposio de reparao de viaturas.

Portanto, apesar do quadro oramental que temos e da realidade que enfrentamos todos os dias, foi possvel, apesar dessas circunstncias, introduzir aquilo que eu considero terem sido alguns avanos na circular financeira associada a este dispositivo. E assim, quando fala

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mos em dispositivo de combate aos incndios florestais, no podemos deixar de ter em linha de conta aquilo que consta na circular financeira, que, pelo segundo ano consecutivo, foi apresentada no mesmo momento que o respetivo dispositivo de combate a incndios florestais.

Dizendo isto a ttulo de nota introdutria, Sr. vice presidente, eu queria dizer tambm que o ano de 2013 fica ligado, e dramaticamente ligado, aos trgicos acidentes mortais que tivemos de oito bombeiros e um autarca, e que, como evidente, todos lamentmos.

O ano de 2013 tambm fica marcado por o dispositivo ter enfrentado condies climatricas particularmente exigentes, como tambm todos os deputados que aqui esto presentes bem tm conhecimento. O ano de 2013 foi o segundo mais severo dos ltimos 14 anos alis, levou a prpria Organizao Mundial de Meteorologia a dar conta de que o ano de 2013 poderia ser, do seu ponto de vista, um dos 10 anos mais quentes desde 1850 , sendo certo que, na anlise de todos os ndices, vrios distritos a norte registaram valores recorde na anlise da severidade meteorolgica, comparada no perodo dos ltimos 14 anos.

Como natural e como todos compreendero, a verdade que a severidade meteorolgica tem particulares repercusses no s na probabilidade da ocorrncia de incndios florestais, mas sobretudo naquilo que a chamada dificuldade de supresso desses mesmos incndios florestais, sabendo todos incluindo todos ns, que aqui estamos que a capacidade de resposta de todo o dispositivo no ilimitada; a capacidade de resposta conhecida e, quando andamos nas cerca de 300 ocorrncias dirias, a verdade que h uma grande dificuldade de resposta.

Eu queria tambm dizer, Sr. vice presidente, que, durante grande parte do ano, sensivelmente at ao ms de julho, ns tivemos uma mdia de 103 ignies por dia; depois do ms de julho e at ao incio do ms de setembro, essa mdia passou para as 221 ignies por dia; e a partir de meados de setembro at ao fim do ms de outubro, passmos a uma mdia de 165 ignies por dia.

Isto significa, por si s, que, como evidente, todo o dispositivo esteve sujeito a uma enorme presso, mas tambm significa que, apesar de todas as dificuldades, houve uma capacidade de resposta assinalvel e, sobretudo, que houve uma capacidade de mobilizao dos operacionais e tambm uma capacidade de balanceamento territorial dos meios num curto espao de tempo, sendo certo que, como poderei mais frente demonstrar, houve tambm uma grande concentrao territorial, que, alis, no nova, daquilo que o esforo a que todo o dispositivo est sujeito.

De facto, ns sabemos que h cerca de cinco, seis distritos que, em regra, representam a esmagadora maioria quer das ocorrncias quer da rea ardida embora nem sempre haja uma coincidncia total entre estes dois indicadores, a verdade que os distritos a norte demonstram isso mesmo.

Na prtica, e s para dar aqui alguns nmeros relativamente queles trs meses tradicionalmente mais difceis do ponto de vista do combate a incndios florestais naturalmente refirome aos meses da Fase Charlie (julho, agosto e setembro) , eu queria dizer que, entre o dia 15 de agosto e o dia 3 de setembro, se verificaram, em Portugal, 4657 ocorrncias e tivemos uma rea ardida de 63 373 hectares.

8 | ANLISE DA PROBLEMTICA DOS INCNDIOS FLORESTAIS

S em agosto, arderam 72 284 hectares, ou seja, trs vezes mais do que a rea ardida nos restantes meses do ano. Nas duas ltimas semanas de agosto, arderam cerca de 63 000 hectares e s neste ms arderam mais de trs quartos do total da rea ardida no resto do ano, ou seja, 77%, o que, como evidente, demonstra bem aquilo que foi no s a concentrao espacial mas tambm a concentrao territorial de que eu falava, sendo certo que sete distritos (Viana do Castelo, Vila Real, Viseu, Braga, Porto, Guarda e Bragana) concentram 90% do total da rea ardida, representam 93% da rea ardida de matos e 72% do total das ocorrncias.

Ainda a propsito da questo relativa aos dados de rea ardida em matos e tambm para reflexo dos Srs. deputados, mas sobretudo para reflexo daquilo que h a fazer e daquilo que tem sido feito na preveno estrutural da nossa floresta, eu queria dizer que 63% da rea ardida, em 2013, composta por matos. Este um dado que eu tambm queria deixar aqui aos Srs. deputados.

Estes dados demonstram que a meta que estava definida no Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incndios, portanto, os 100 000 hectares de rea ardida, no foi cumprida, ultrapassmos esta meta, apesar das condies de severidade meteorolgicas que referi e que andaram, em determinados distritos, bem acima daquilo que foram os dados verificados em anos como os de 2003 e 2005, em que, como sabemos, a rea ardida foi particularmente superior.

De resto, penso que uma das causas para que Portugal este ano, perante as condies que tinha, no tivesse tido uma rea ardida superior se deve quilo que a capacidade de resposta que ns fomos conseguindo construir (por diferentes anos e com interveno de diferentes Governos, mas diferentes responsveis), sobretudo na rea da proteo civil e graas a uma eficcia que assinalvel e que evitou, repito, que, neste ano, os valores da rea ardida fossem superiores queles que se verificaram.

Isto demonstra e eu tambm no queria deixar de o partilhar aqui com os Srs. deputados e trata se de uma reflexo sobretudo pessoal que uma das grandes dificuldades que existe e que continuar a existir, independentemente do Governo que esteja em funes, tem que ver com uma dificuldade de planeamento de todos os dispositivos para fazer face a todo um conjunto de alteraes climticas, que no controlamos.

Eu queria partilhar com os Srs. deputados aquilo que tambm a minha experincia pessoal no exerccio destas funes, porque, se verdade que a conjuntura do ms de agosto de 2013 foi aquela que eu acabei aqui de demonstrar, com uma grande concentrao temporal e espacial do ponto de vista das ignies e das ocorrncias e do esforo que foi exigido a todo o dispositivo, tambm verdade que assim no se verificou nos anos que eu prprio acompanhei: em 2011, o meu primeiro vero nestas funes, praticamente o ms de agosto no sei se os Srs. deputados se recordam iniciou se com chuva, para grande desespero da generalidade dos portugueses que estavam de frias e para grande felicidade do responsvel da proteo civil, mas a verdade que o ms de outubro, nos seus primeiros 15 dias, foi particularmente exigente, chegando a ter, em mdia, mais de 300 ocorrncias por dia.

E, portanto, exatamente no momento em que havia uma desmobilizao de parte do dispositivo que, como sabem, est organizado para ter os seus dispositivos mais fortes nesta Fase Charlie e, portanto, a terminar no ms de setembro e iniciando se a Fase Delta ,

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a verdade que coincidiu exatamente com o momento em que houve uma reduo dos dispositivos.

Depois, j em 2012, o ms de fevereiro foi o ms mais exigente do que muitos meses de vrios anos, o que no deixa de trazer alguma curiosidade, sobretudo quando ns falamos sobre incndios florestais e assumimos que h uma poca de guerra e uma poca de paz. No assim! E estes dados tambm o confirmam. Os meses de fevereiro, ao contrrio daquilo que, porventura, se possa ter presente, so meses pelo menos, daquilo que a minha experincia particularmente difceis, sendo certo que o pas, em 2012, tambm como os Srs. deputados bem sabem, esteve sujeito a um perodo de seca extrema, severa, que conhecida e que levou, inclusivamente, a que o Governo tivesse adotado um conjunto de medidas nessa matria.

Mas chegmos a 2012 com estes dados de grande concentrao no ms de agosto. Portanto, o que se pode dizer, segundo a experincia que tenho, que no tive veres iguais, no tive anos iguais deste ponto de vista, e na prtica isto significa, desde logo, aquilo que referia: uma dificuldade que eu acho que um dos grandes desafios para a rea da proteo civil para os prximos anos, com toda a franqueza que a de conseguir ter um planeamento para a rea da proteo civil, para o combate devidamente estruturado, que no s corresponda quilo que a capacidade e a disponibilidade que, como evidente, assenta muito nos bombeiros voluntrios e na grande fora que so os bombeiros voluntrios, e, portanto, limitada a essa disponibilidade, que uma disponibilidade muito boa, muito positiva, mas que, como evidente, no disponibilidade total, incondicional, independentemente da poca em que nos encontremos

Por outro lado, evidentemente tambm uma dificuldade de recursos e de gesto dos recursos, embora e preciso diz lo! a verdade seja a de que este dispositivo respondeu. E respondeu com uma mobilizao notvel preciso diz lo! , pois ns chegmos a ter dias, no ms de agosto, em que ultrapassmos os 10 000 operacionais no terreno!

Posso tambm dar esses dados de forma muito concreta: no dia 21 de agosto, tivemos 9811 operacionais; no dia 28 de agosto, tivemos 10 350 operacionais. Portanto, o dispositivo respondeu com uma capacidade de mobilizao notvel, o que, repito, tambm no podemos deixar de assinalar.

Relativamente resposta, queria dizer vos que, apesar de todos os constrangimentos, se mantm, do nosso ponto de vista e do meu ponto de vista, aquilo que a aposta que foi feita, j h vrios anos e que tem dado resultados ao longo dos diferentes anos, ao nvel do ataque inicial.

Ns, inclusivamente, em 2013, conseguimos subir a eficcia deste ataque inicial, que esteve acima dos 90%, com 90,03%, sendo que a eficcia do ataque ampliado passou de 10,3%, em 2012, para 9,97%, em 2013. Como evidente, so dados que podem ter vrias leituras Do meu ponto de vista, um dos grandes desafios que tambm existe o de se conseguir acrescentar novas ferramentas quilo que o combate em termos de ataque ampliado, mantendo aquela que foi a aposta ao nvel do ataque inicial e que to bons resultados tem mantido.

Apenas para dar alguns elementos aos Srs. deputados sobre o tempo de resposta, queria dizer que o tempo mdio de sada do primeiro meio ocorrncia aps despacho baixou, de 2012 para 2013, dos 2 minutos e 18 segundos para 2 minutos; que o tempo mdio de

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chegada do primeiro meio de ataque inicial tambm baixou de 13 minutos para 11 minutos e 43 segundos, em mdia; que o tempo mdio de descolagem dos helicpteros de ataque inicial, ao nvel dos ligeiros e dos mdios, se manteve nos mesmos valores do ano passado (nos ligeiros em 4 minutos e nos mdios em 7 minutos); no ataque ampliado, e conforme j tivemos oportunidade de o dizer, houve aqui uma derrapagem do ponto de vista do tempo mdio de descolagem que passou de 17 minutos, em 2012, para 23 minutos, em 2013; nos avies de ataque ampliado, os chamados avies anfbios, mantivemos tambm os mesmos nveis de tempo mdio de descolagem que tnhamos verificado no ano passado.

Alm disto, Sr. vice presidente, no querendo demorar muito mais, eu gostava ainda de dar aqui mais alguns dados que me parecem relevantes: foi feita uma articulao com o Ministrio da Defesa Nacional, atravs dos planos que existem, o Plano Vulcano e o Plano Lira, que tambm so do conhecimento dos Srs. deputados; e atravs dessa cooperao tivemos mobilizados 58 pelotes militares do Exrcito em operaes de rescaldo e apoio vigilncia aps incndio.

Essa , alis, uma das dificuldades que existem: quando temos muitas horas de combate feito pelos bombeiros, a verdade que, se nos descorarmos no rescaldo e na vigilncia, h lugar a reacendimentos e isso foi uma das causas que este ano tambm se verificou, semelhana de anos anteriores.

Tivemos um reforo de patrulhamento e vigilncia tambm muito relevante com recurso a pelotes militares, com a participao de 760 pelotes em diferentes momentos, ao longo de todo o dispositivo. Perante isto, foi contratualizada uma nova parelha de anfbios, em determinado momento.

Direi, tambm, que a uniformizao dos procedimentos quanto s mquinas de rasto foi uma das novidades que foi articulada e uma das medidas que resultou do grande incndio de Tavira do ano passado, e que foi, do nosso ponto de vista, uma medida com sucesso, pois houve 276 mobilizaes de mquinas de rasto, 15 delas militares, e esse foi um avano tambm muito relevante e positivo.

As equipas GAUF tiveram participao em 104 misses. evidente que, do nosso ponto de vista, era desejvel que pudesse haver um alargamento do seu envolvimento fora daquilo que a chamada a poca mais crtica dos incndios florestais. Estamos a trabalhar nisso e esperamos que isso possa ser possvel, embora, como todos tm conhecimento, no dependa do Ministrio da Administrao Interna.

Atravs dos acordos de cooperao, conseguimos ter oito Canadair a operar em Portugal.H ainda um dado que no deixa de ser relevante e que tambm j transmitimos aqui, na

Assembleia da Repblica, que o de que cerca de 39% das ocorrncias se verificaram entre a meia noite e as sete da manh, o que tambm deve ser objeto de anlise, e que houve um incremento na preveno operacional.

Eu queria ainda dizer aos Srs. deputados que, entre a Guarda Nacional Republicana e a Polcia Judiciria, foram detidas 102 pessoas, foram identificadas mais de 500 pessoas por fundada suspeita da autoria de crime de incndio ou por prticas pouco corretas na nossa floresta.

Eu gostaria de dizer tambm que, depois de acabar a Fase Charlie, os incndios saram um bocadinho da abertura dos telejornais e da primeira linha do debate, seja poltico ou da

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nossa presena. Por isso, eu queria registar com grande agrado a constituio deste grupo de trabalho e destes trabalhos de reflexo pela Assembleia da Repblica, mas a verdade que, neste ms de dezembro, tivemos 607 ocorrncias com uma rea ardida de 955 hectares!

Neste ms de dezembro, como os Srs. deputados bem tm conhecimento, temos tido temperaturas baixas, temos tido um inverno, diria eu, normal, e a verdade que, apesar disso, ns continuamos a verificar tambm a existncia de incndios florestais nesta altura, o que significa, uma vez mais, aquilo que eu aqui transmiti no incio: se verdade que h uma dificuldade de planeamento, cada vez mais verdade que h cada vez menos uma poca de guerra e uma poca de paz no combate a incndios florestais, o que significa que h, de facto, uma resposta que tem de ser dada, ao longo de todo o ano.

Eu queria terminar at porque j me alonguei muito, Sr. vice presidente dizendo que, do meu ponto de vista e apenas, uma vez mais, a sensibilidade pessoal de quem terminou o terceiro vero , aquilo que me parece que so alguns pontos absolutamente essenciais para o futuro, independentemente do Governo, independentemente de quem exerce essas responsabilidades, mas que me parece que so, de facto, pontos incontornveis, pontos que tm vindo a ser trabalhados pelas diferentes entidades, com quem, alis, os Srs. deputados tiveram a oportunidade de reunir, em sede de Autoridade Nacional de Proteo Civil, mas que nos devem a todos, enquanto pas, levar a procurar encontrar respostas permanentes.

Eu costumo tambm dizer que esta batalha da proteo civil e algo que tenho aprendido tambm de forma muito direta e pessoal uma batalha que se trava diariamente a cada minuto, e que tambm se vence ou se perde diariamente e, por vezes, quando h muito enfoque em determinadas pocas, alm de isso ser muito injusto para aqueles que so os operacionais que esto no terreno todos os dias, mesmo quando no esto debaixo das luzes da ribalta, seja por que razes for, a verdade que h essa necessidade de resposta, ao longo de todo o ano, sempre!

Eu no o disse quando h bocadinho falava da questo das alteraes climticas, mas ns chegmos a ter fins de semana, no ms de outubro de 2011, em que o mesmo dispositivo, os mesmos homens e mulheres que, num sbado, estavam a fazer frente a mais de 300 ocorrncias de incndios florestais no pas, exatamente no domingo seguinte, no dia seguinte estavam a fazer frente a um conjunto de inundaes que, por fora do excesso de chuva que tinha acontecido nessa noite, se verificou tambm um pouco por todo o pas Portanto, isto apenas para ilustrar bem aquilo que , por um lado, a necessidade de resposta diversificada que preciso dar e, por outro, o grande esforo a que estes homens esto sujeitos.

Diria, apenas, para terminar, Sr. vice presidente, se me permite, que, do meu ponto de vista, em primeiro lugar e cabea, est a dificuldade do planeamento que referi. A verdade que temos encontrado solues, que so de curto prazo, para responder a esses problemas atravs do balanceamento de meios, atravs do reforo da criao de novas equipas e da mobilizao E a verdade que isso tem sido possvel e temos conseguido responder no s a esses problemas, mas tambm a muitas carncias de resposta que existem em determinados pontos do pas e preciso diz lo! , porque h distritos que no tm uma capacidade prpria de resposta e que necessitam de respostas que venham de outros locais do pas, e isso tem

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acontecido. Portanto, esta necessidade de planeamento , cabea, do meu ponto de vista, um dos grandes desafios que existem.

O segundo grande desafio, que existe e que tem repercusses diretas ao nvel de combate, o de que o pas tem de saber, e tem de saber bem, para onde quer ir no que diz respeito preveno estrutural. E eu queria dizer isto, de forma completamente desempoeirada, sem com isto querer significar uma qualquer crtica ou uma qualquer observao a quem quer que seja, bem pelo contrrio. Ns, no Ministrio da Administrao Interna, estamos naquilo, que costumo tambm dizer, no fim da linha deste processo e sente se, naquilo que a resposta do combate, um conjunto de falhas que existem ao longo do sistema e que tm repercusses diretas naqueles que tm de fazer o combate.

Portanto, no se trata de uma matria que deva estar sujeita a grandes querelas partidrias ou intromisses partidrias; bem pelo contrrio, deve ser uma matria que deve obrigar nos a todos, enquanto pas, a procurar uma resposta que seja clara para no s incrementar novas aes na preveno estrutural, mas tambm para permitir que se consiga ter, pelo menos, uma manuteno das faixas de gesto de combustvel que, depois, nos permita ter uma boa resposta no combate.

Ns temos proposto vrias medidas e os Srs. deputados conhecem nas, sendo que cabea, deixem me que vos diga e ns prprios o j transmitimos Sr. ministra da Agricultura e ao Sr. secretrio de Estado das Florestas e j apresentmos tambm publicamente aos Srs. deputados, julgo eu , est a de um maior envolvimento daquilo que uma fora que existe e que est espalhada por todo o pas que so as corporaes de bombeiros, num conjunto de tarefas, que tradicionalmente no so tarefas relacionadas com a atividade dos bombeiros, mas que, alicerando se naquilo que a experincia que estes homens e mulheres tm do terreno, porque, seja em que poca for, esto a combater incndios florestais porta das suas casas, porta das casas dos seus vizinhos e conhecem melhor do que ningum os terrenos que pisam.

Portanto, reconhecendo todo um conjunto de carncias que existem na preveno estrutural e que no so de hoje, so de desde h muitos anos, provavelmente de h dcadas, a verdade que ns, enquanto pas, deveremos olhar para esta matria e, porventura, encontrar novas solues que tradicionalmente poderiam, partida, estar vedadas por nos centrarmos muito naquilo que so ideias como: esta a nossa capelinha, aquela a vossa capelinha e, portanto, no h aqui um cruzamento de competncias, quando sabemos que o mundo, cada vez mais, vive atravs desse cruzamento de competncias de todos.

Queria terminar, Sr. vice presidente, dizendo apenas que h um outro desafio muito importante, que tem de ser um desafio que todos ns tambm, enquanto pas, devemos superar e que tem que ver com a sensibilizao das nossas populaes, com as boas prticas que podem e devem ser adotadas, sobretudo em determinados perodos mais crticos. Julgo que, nesse campo, h muito tambm, ainda, por fazer e ns prprios temos de continuar o caminho que temos procurado fazer, em conjunto com o Ministrio da Agricultura, de aprofundar essa sensibilizao.

Poderemos falar, depois, numa segunda volta ou em resposta aos Srs. deputados, at porque j vou com muito tempo gasto, Sr. vice presidente, e apenas quero ainda dizer que h, de

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facto, muitas outras matrias tambm relevantes, tal como a formao dos bombeiros ou, por exemplo, a questo dos prprios equipamentos como fator absolutamente essencial para a segurana dos nossos bombeiros, mas depois, se necessrio for, numa segunda volta ou em resposta aos Srs. deputados, aprofundarei esses temas.

Dizia, uma vez mais, Sr. vice presidente, que, de facto, este grupo de trabalho, do meu ponto de vista, pode dar um grande contributo.

A minha postura, no Ministrio da Administrao Interna, no tem sido, nunca, a de procurar no conversar com todas as sensibilidades, sejam elas partidrias, operacionais ou at, inclusivamente, com o envolvimento da academia, das universidades.

De facto, o combate aos incndios florestais uma matria que nos preocupa a todos, evidentemente, e que ir continuar na ordem do dia, ao longo dos prximos anos, independentemente de quem c estiver. Portanto, ou olhamos todos para isto com capacidade de abertura e com capacidade para todos ns encontrarmos solues para responder a estas condies, que cada vez so mais problemticas e mais adversas, ou no estaremos a dar um contributo para aquilo que o futuro do pas.

Muito obrigado.

O Sr. coordenador: Muito obrigado, Sr. secretrio de Estado, pela sua exposio, que foi muito elucidativa e revela o conhecimento profundo que tem desta matria, fruto da sua reflexo e interveno nas funes que desempenha.

Vamos, agora, abrir um perodo de perguntas. Talvez agrupssemos os Srs. deputados em conjuntos de trs para fazermos uma gesto de tempo que no comprometa a audio seguinte, que s 11 horas e 30 minutos, com o Sr. secretrio de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural.

Ainda antes de dar a palavra ao Sr. deputado Maurcio Marques, informo que vamos fazer a gesto com os tempos do Plenrio, sensivelmente, mais coisa, menos coisa.

Faa favor, Sr. deputado Maurcio Marques.

O Sr. Maurcio Marques (PSD): Muito obrigado, Sr. vice presidente.Sr. secretrio de Estado, efetivamente aquilo que aqui nos traz e que nos move no propria

mente fazer um balano daquilo que ocorreu no passado ano; aquilo que nos move e que est na nossa mente , efetivamente, contribuirmos e s importante analisar o passado para termos esse entendimento com aquilo que pudermos para que aquilo que ocorreu no passado ano e nos anos anteriores no volte a ocorrer. Portanto, a nossa disposio e deste grupo de trabalho , efetivamente, contribuirmos para alterar estas situaes, que todos lamentamos, ano aps ano.

Verificamos aqui, pela exposio feita pelo Sr. secretrio de Estado que, efetivamente, ns temos, at do ponto de vista de combate, uma grande capacidade de meios, quer tcnicos quer humanos, para dar resposta s solicitaes que vo ocorrendo.

Temos, apenas, aqui uma questo, que gostaria que clarificasse melhor e que se prende com o facto de o Sr. secretrio de Estado reconhecer que h alguma dificuldade de planeamento de dispositivos. Gostaria que especificasse melhor de que forma que ns podemos alterar ou o

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que que temos de fazer para que haja, de facto, um planeamento adequado dos meios que temos nossa disposio.

Uma outra questo que aqui tambm se nos pe sobre o nmero de ignies. Efetivamente, verificamos que h aqui muitas ignies durante o perodo noturno e no normal haver este nmero de ignies to significativo neste perodo. Isto poder levar nos a dizer que, eventualmente, a vigilncia no est a ser adequada. Por isso, em concreto, eu gostaria tambm de saber at que ponto que ns poderemos aumentar a vigilncia.

Foi falado pelo Sr. secretrio de Estado o envolvimento do Exrcito, justamente, para fazer algum tipo de vigilncia, quer noturno, quer diurno, na fase de rescaldo. E uma das questes que eu gostaria de colocar esta: at que ponto que ns poderamos utilizar tambm essas foras militares de defesa na prpria vigilncia, nomeadamente, no perodo noturno, porque, efetivamente, no aceitvel que tenhamos um nmero de ignies desta envergadura.

Por outro lado, na exposio que nos foi feita na Autoridade Nacional de Proteo Civil, foinos dado conta do nmero pouco expressivo de processos de contraordenao que eram levantados relativamente aos que eram concludos. A alterao da legislao, em 2006 eu at era presidente de uma cmara municipal na altura, portanto

O Sr. coordenador: Sr. deputado, pedia, se pudesse, que apressasse um bocadinho.

O Sr. Maurcio Marques (PSD): Vou apressar e peo desculpa!O decreto lei n. 124/2006, de 28 de junho, estabeleceu, para os municpios, a concluso

dos processos de contraordenao e verificmos que, efetivamente, muito poucos apenas 5 a 10% foi aquilo que foi dito destes processos de contraordenao foram concludos. Ora bem, isto levanta nos aqui um problema: que, provavelmente, as pessoas sabem de alguma impunidade porquanto o auto de contraordenao levantado e depois no concludo.

Queria saber tambm at que ponto que ns podemos aqui intervir nisto. Havia muito mais questes, mas h outras que os meus colegas, com certeza, iro comple

mentar.Muito obrigado.

O Sr. coordenador: Tem a palavra a Sr. deputada Isabel Oneto.

A Sr. Isabel Oneto (PS): Desejo cumprimentar o Sr. secretrio de Estado e as Sr.as e os Srs. deputados.

Sr. secretrio de Estado, coloco lhe tambm algumas questes, procurando ser breve e focar me, precisamente, na questo do combate ao incndio florestal.

O Sr. secretrio de Estado fala aqui na dificuldade de planeamento e, pelo que entendi, planeamento de recursos humanos relativamente ao dispositivo de bombeiros. Assim sendo, a questo que eu coloco, Sr. secretrio de Estado, se no necessrio fazer uma reflexo relativamente prpria implementao da Lei de Bases da Proteo Civil. E pergunto: possvel que, no ano e estamos aqui a falar no no sentido de procurar responsveis, mas de procurar dar respostas e interrogarmo nos sobre as questes em que morrem oito bombeiros, no tenha

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sido acionado nenhum Plano Municipal de Emergncia nem nenhum Plano Distrital de Emergncia? O que que necessrio acontecer? Para que que so feitos os planos municipais? Para que que ns os queremos? Que avaliao de risco que est feita por forma a responder?

Quer dizer, se ns continuamos a funcionar no sentido de: Vai a primeira fora de interveno com uma equipa de cinco bombeiros para o terreno, faz a avaliao; o comandante, que o mais graduado, faz a evoluo da situao, vamos ver apenas como que as coisas correm no terreno. E aquilo que eu acho que temos de fazer e refletir sobre isto: no terreno, como que as coisas acontecem?

Vamos comear a pensar! H alerta de incndio, avana a corporao da rea de interveno; chega l, em regra so cinco mas, s vezes, so trs, porque no h dispositivo, dependendo do nmero de ignies e, portanto, ou trs ou cinco numa viatura. Chegam l e dizem que preciso reforo e vai mais x, depois vai mais x e as coisas vo sendo montadas e s quando est j com uma dimenso de ataque ampliado que o CDOS diz: Agora sobe, mas ningum aciona os planos, nem o Plano Municipal, nem o Plano Distrital! Noutra situao que foi, por exemplo, a do incndio de Tavira, onde isso foi visvel Sr. secretrio de Estado, ningum declarou a situao de alerta para medidas preventivas, a adoo de medidas preventivas imediatas, necessrias e adequadas para o combate ao incndio! Ou seja: em bom rigor, aplica se o CIOPS e no se aplica a Lei de Bases. E h aqui uma disfuncionalidade sobre a qual ns temos de refletir, isto na minha perspetiva, em termos de anlise dos incndios.

A outra questo tem que ver com os 63% da rea ardida. Sr. secretrio de Estado, eu no sei se j foram feitas as contas, mas quanto aos 63% de rea ardida de matos a minha perspetiva assim: os matos so para arder, Sr. secretrio de Estado, tm de arder! Cada vez que h um incndio e est um mato a arder, vai o helicptero, mais bombeiros, mais no sei qu, apaga se o fogo no mato, mas, no dia seguinte, est a arder, exatamente, no mesmo stio e, passados dois dias, est a arder exatamente no mesmo stio! Porqu? Porque o mato para arder!

Portanto, tem de haver uma lgica de dizer: Vamos l planear o combate de acordo com a necessidade daquilo que efetivamente est a arder, vamos proteger a floresta, vamos proteger as habitaes, porque s a questo do mato, a, obviamente, s se pe a necessidade bvia de o controlar, de saber se controlvel e se quem est no terreno tem capacidade para fazer essa avaliao. porque seno ns estamos a empenhar meios e a esgotar outros para defender mato que para queimar! E isto, depois, obviamente pe tambm a questo da preveno estrutural e de saber porque que os matos no so queimados no inverno! Essa outra questo tambm, mas a verdade que estamos a gastar mais de metade do nosso dispositivo e mais de metade das nossas foras a proteger mato.

Temos de resolver tambm isto, ou seja, temos de procurar refletir sobre estas matrias e dizer: necessrio o empenho de meios nestas circunstncias para este efeito? Eu sei que h o princpio do ataque musculado, mas temos de aprender com a experincia e saber quanto que nos custa levantar um helicptero e quanto que custa no sei quantos homens no terreno por dia!.. At para, quando for de facto necessrio salvar a floresta, aquilo que efetivamente produz bens, ns podermos e termos capacidade para salvaguardar.

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No vou, Sr. vice presidente, prolongar me muito mais, queria s deixar aqui uma reflexo que eu acho que a perspetiva relativamente qual ns temos de olhar a proteo civil. E ns estamos aqui focados apenas

O Sr. coordenador: favor terminar, Sr. deputada.

A Sr. Isabel Oneto (PS): Vou terminar, Sr. vice presidente!Repetindo, ns estamos aqui focados na proteo civil relativamente aos incndios florestais,

mas temos de ter a noo de que, hoje, a proteo civil um fator fundamental de desenvolvimento de qualquer regio ou pas e, no dia e que acontecer um acidente cuja resposta no adequada quilo que espectvel para a generalidade das pessoas, nomeadamente no turismo e, mesmo no investimento econmico, ns podemos matar algumas galinhas de ouro no nosso pas. E temos de ter a conscincia disso para podermos dar uma resposta adequada nesta matria.

Muito obrigada, Sr. vice presidente.

O Sr. coordenador: Tem a palavra a Sr. deputada Helena Pinto.

A Sr. Helena Pinto (BE): Sr. vice presidente, posso falar um bocadinho mais frente, at porque, e peo desculpa, cheguei atrasada

O Sr. coordenador: Sr. deputada, temos seguido a ordem de inscries, mas podemos adotar outro critrio

Ento, tem a palavra a Sr. deputada Helosa Apolnia.

A Sr. Helosa Apolnia (Os Verdes): Muito obrigada, Sr. vice presidente.Sr. secretrio de Estado, gostava de cumpriment lo, em nome do Grupo Parlamentar de

Os Verdes.Eu tambm cheguei atrasada, no ouvi grande parte da interveno do Sr. secretrio de

Estado e, por isso, talvez no consiga fazer perguntas que vo muito no sentido da interveno que fez, mas, ouvindo aqui os dois Srs. deputados que o questionaram, deu para ter a perceo de algumas preocupaes comuns que foram levantadas.

Mas eu gostava de fazer perguntas muito simples e, s vezes, as mais simples e mais genricas so as mais complicadas De qualquer maneira, eu gostava de dizer o seguinte: ns temos aqui duas reas que, partida, se distinguem completamente, que a preveno e o combate. Eu no sei se to certo estancar dessa forma estas duas reas. As experincias anuais so as experincias anuais e a deste ano foi dramtica, enfim, se recuarmos a outros anos, outras dramticas aconteceram, mas, chegando agora ao final do perodo, eu gostava de saber como que o combate se imiscui na preveno.

Para mim, tem mais sentido o combate imiscuir se na preveno do que a preveno imiscuir se no combate, ou seja, a aposta na preveno tem de ser de tal ordem que as presses tm de vir de todo o lado. E dizer apenas que estamos a trabalhar em coordenao com o

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Ministrio da Agricultura, para mim, uma coisa que no chega, quase dizer que estamos espera de que o Ministrio da Agricultura tambm faa ou que v fazendo

Que presso que o combate tem feito no sentido de que a preveno seja mais concretizada? porque, na verdade, as diversas declaraes que ns ouvimos, ao longo do perodo mais crtico, de bombeiros e outros, tudo se focava no problema de que a preveno no ajudou e, portanto, como a preveno no ajudou, criou se aquela dimenso de fogo Esta era a primeira noo que eu gostava de ter em termos de coordenao do prprio Governo.

Depois, eu gostava que o Sr. secretrio de Estado me dissesse quais so as percentagens, que ns conhecemos mais ou menos, mas que eu gostava de ouvir da sua boca. Qual o investimento que est a ser feito no combate e qual o investimento que est a ser feito na preveno?

Outra questo tem que ver com a matria da negligncia. Segundo j nos foi dado perceber, a negligncia o ponto mais forte da causa das ocorrncias. Ora, isso tambm tem de, de facto, nos fazer agir, no apenas a curto mas tambm a mdio e a longo prazos.

Eu concordo com o Sr. secretrio de Estado quando refere que a questo da sensibilizao uma questo fulcral e ns tambm levantmos essa questo, no outro dia, l, na Proteo Civil, porque, de facto, trabalhar na sensibilizao trabalhar no apenas para o momento mas trabalhar para um sucesso no futuro.

Foi levantada aqui tambm a questo da vigilncia e eu tinha curiosidade de perceber qual o sucesso ou onde que falha o nosso sistema de vigilncia.

Depois, uma ltima questo, muito breve, que a de saber em que medida que o Exrcito tem sido envolvido at agora em matria de preveno de incndios florestais. No saber como que o Sr. secretrio de Estado pensa que deve ser envolvido; saber como que foi envolvido at data.

Muito obrigada.

O Sr. coordenador: Temos j um conjunto de questes, colocadas por trs Srs. deputados.Para responder, dou a palavra ao Sr. secretrio de Estado.

O Sr. secretrio de Estado da Administrao Interna: Muito obrigado, Sr. vice presidente.Queria agradecer a todas as Sr.as e Srs. deputados as perguntas que fizeram e, antes de res

ponder a todas as perguntas que colocaram, queria s dar um ltimo elemento que no indiferente e que se verificou, pelo menos, do meu ponto de vista, pela primeira vez, em Portugal, no que diz respeito aos incndios florestais.

Pela primeira vez, ns tivemos, no acompanhamento no terreno s operaes, novos rgos de comunicao social que estiveram localmente no terreno a acompanhar diversas operaes, coisa que no acontecia com esta proximidade at aqui. Isso fez, inclusivamente, com que muitas imagens, que foram imagens chocantes e muito pesadas, tivessem tido uma grande visibilidade alis, conforme todos ns pudemos constatar , o que aqui tambm uma mudana que importa perceber, analisar e, sobretudo, para o futuro, pensar que consequncias que isso tem no comportamento das pessoas, em algumas prticas de muitas

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pessoas que, perante a imagem do fogo, tm propenso para adotar determinado tipo de comportamentos Mas isso daria para todo um outro debate.

De qualquer modo, eu no queria deixar de dar este elemento, porque parece me que um dado novo, de facto, pelo menos eu senti o como um dado novo, que no se tinha verificado com a mesma dimenso nos dois anos anteriores.

Respondendo diretamente ao Sr. deputado Maurcio Marques e tambm Sr. deputada Isabel Oneto, quanto questo da dificuldade de planeamento, eu gostaria de dizer o seguinte: aquilo que eu quis dizer foi que, do meu ponto de vista, no h uma dificuldade de planeamento; o que acontece que o planeamento que feito tradicionalmente em Portugal, h muitos anos, ainda que assente em procedimentos que vm ainda de tempos anteriores prpria constituio da Autoridade Nacional de Proteo Civil, um planeamento que no est, do meu ponto de vista, totalmente ajustado e adequado quilo que a realidade, que ns hoje enfrentamos.

No quero dizer que haja uma dificuldade de planeamento, no h dificuldade de planeamento; o planeamento feito, mas feito em funo das fases tradicionais, que sempre houve; o problema que essas fases tradicionais, em determinados anos, encontram correspondncia do ponto de vista das pocas mais crticas de combate a incndios florestais e noutros anos no assim!

Era apenas essa nota que eu queria dar e, portanto, respondendo diretamente a esta questo do planeamento dos dispositivos, que eu prprio quis aqui colocar.

O Sr. deputado Maurcio Marques fala, tambm, num aspeto muito importante, que a questo das ignies no perodo noturno. Sr. deputado, dizia lhe o seguinte: a partir de determinado momento, quando percebemos que isso estava a ocorrer, no s fizemos o reforo das equipas do Grupo de Interveno, Proteo e Socorro da Guarda Nacional Republicana como, inclusivamente, pedimos o envolvimento direto do Exrcito e aqui respondo tambm Sr. deputada Helosa Apolnia , ao abrigo dos programas que j existem e que como aqui referi, so o Plano Vulcano e o Plano Lira preveem a interveno do Exrcito e das Foras Armadas em determinado tipo de circunstncias.

A verdade que essa participao/colaborao/cooperao com o Ministrio da Defesa, no terreno, teve, de facto, impactos importantes com a participao de muito militares das Foras Armadas em misses, como aqui referi, de vigilncia e patrulhamento, mas tambm em misses de apoio em rescaldos e tambm em vigilncia ps rescaldo, exatamente para evitar que pudssemos ter muitos mais reacendimentos em determinados incndios, que tiveram condies climticas muito complexas basta dizer que no Caramulo, em determinado momento, tivemos uma progresso do incndio a uma velocidade superior a 50 km/hora e refiro isto para termos todos tambm noo daquilo que, em determinados momentos, foi necessrio enfrentar.

O Sr. deputado fala, tambm, na questo que, alis, o ministro da Administrao Interna tambm abordou dos processos de contraordenao.

De facto, se me pergunta a mim e eu respondo lhe, mais uma vez, pessoalmente, no querendo vincular com isto quem quer que seja , dir lhe ei que a lei que regulava esta matria no uma m lei; uma lei que procurava resolver um problema. S que esta lei no teve

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aplicabilidade prtica por parte daqueles que deveriam dar andamento a esses processos de contraordenao.

Isso tem que ver com diferentes razes que todos conhecemos. Desde logo, neste ano de eleies autrquicas, temos uma dificuldade acrescida pelas razes evidentes que todos compreendero Alis, uma das coisas que me disseram, em tempos, foi que pior do que acompanhar um vero normal acompanhar um vero em ano de eleies autrquicas, por diferentes razes Mas essa foi uma das primeiras coisas que me disseram logo e que tm que ver com diferentes fatores

Portanto, eu diria que essa matria sobre a qual o Sr. deputado me interpelou diretamente, a da questo dos processos de contraordenao, uma matria que est identificada. Ns no podemos ter to baixo nvel de execuo destes processos de contraordenao e, portanto, temos de seriamente ponderar rever essa legislao e eventualmente, conforme ns prprios j o dissemos, atribuindo algumas dessas competncias que hoje esto nas autarquias evidentemente que no se pode fazer isto sem ser em conversa e em dilogo profundo com a prpria Associao Nacional de Municpios Portugueses e que as autarquias tambm no pretendem, eventualmente, atribu las, dizia eu, a outro tipo de entidades.

Portanto, isso algo que tem de ser analisado, que deve ser muito ponderado e bem ponderado e julgo que este tambm um bom enquadramento para o podermos fazer.

Depois, quero dizer Sr. deputada Isabel Oneto que partilho das duas grandes reflexes que aqui nos deixou e ainda dizer lhe que assim , como a Sr. deputada disse e bem: no houve nenhum plano municipal que tenha sido acionado, algo que j tinha sucedido tambm no grande incndio do Algarve do ano passado, com uma grande discusso sobre o tema.

evidente que, da parte das autarquias, no h vontade, nem interesse, nem motivao prtica para procederem ao acionamento desses planos, por razes que esto ligadas a matrias de seguros Mas essa outra das matrias que, de facto, temos de ponderar seriamente.

porque, em determinadas circunstncias, a estrutura da proteo civil, em conversas informais, no terreno, com todos os presidentes de cmara e tambm preciso dizer que todos os presidentes de cmara das reas envolvidas estiveram presentes no terreno, dando a sua colaborao e a sua ajuda , a estrutura da proteo civil, dizia eu, em determinados momentos, sugeriu que pudessem ser acionados os planos municipais, mas, por questes de logstica, por questes de diferentes apoios ao prprio combate, a verdade que isso no sucedeu por razes diferentes, embora, regra geral, o apoio que as autarquias prestaram aos operacionais que estiveram no terreno, na maior parte dos casos, tenha sido sempre inexcedvel e muito bom e preciso diz lo tambm, de forma absolutamente clara, para no haver dvidas quanto a isso.

Quanto segunda reflexo, Sr. deputada, eu queria agradecer lhe os termos em que a colocou

(Aparte no audvel na gravao da deputada do PS Isabel Oneto.)

Sim, Sr. deputada, mas a questo dos distritais tambm se coloca exatamente nos mesmos termos.

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Ns, como sabe, tivemos uma alterao que foi necessrio introduzir por fora da extino dos governos civis. O acionamento dos planos distritais, salvo erro, est atribudo ao presidente da Autoridade Nacional de Proteo Civil e aquilo que se constatou foi que no fazia sentido acionar planos distritais quando determinados planos municipais no estavam sequer acionados. evidente que isto tem um encadeamento natural e, apesar de todos os esforos que foram desenvolvidos na altura, em determinadas zonas do territrio, isso no sucedeu e algo que deve ser objeto de reflexo por parte de todos.

Quanto questo dos matos que a Sr. deputada referiu, eu quis dar este nmero de forma absolutamente clara, porque, deixe me dizer lhe, a minha perspetiva do ponto de vista do combate e da proteo civil essa. Mas deixe me tambm dizer lhe que no possvel fazer esse caminho se no conseguirmos todos estar em sintonia com esse desgnio e com essa estratgia, do ponto de vista operacional.

Eu no quero aqui relatar conversas pessoais ou inconfidncias, mas posso dizer lhe que, sempre que h uma ocorrncia, seja ela qual for ou onde quer que seja, os contactos e as presses sobre a estrutura do combate e sobre os membros do Governo que acompanham a rea do combate, vm de todo o lado, como natural. Alis, eu se estivesse do lado contrrio tambm fazia exatamente o mesmo, mas ao nvel das freguesias, ao nvel das autarquias, ao nvel, inclusivamente, de outros membros do Governo ou Srs. deputados com ligao a determinadas zonas do territrio, que tm essas preocupaes e essa proximidade muito forte e que fazem esses contactos, no sentido de pedir mais meios, sejam meios terrestres, sejam meios areos

Isso algo que se verifica e ns devemos ponderar, certa e seguramente, esta questo dos 63% de matos de rea ardida, que so matos que, na maior parte dos casos, iro de facto arder sempre, como a Sr. deputada referiu.

H uma histria que me foi contada, no terreno, por um operacional, ali, na Zona Centro, em que, basicamente, foram chamados em trs dias diferentes ao mesmo local e em que, a certa altura, o comandante do corpo de bombeiros voluntrios local encontrou uma senhora que lhe disse Oia, escusam de vir, porque isto vai arder at ali, quele stio; at ali vai arder seguramente e, portanto, os senhores podem c vir todos os dias, apagam, mas s quando isto arder at quele ponto que se pretende que arda que o fogo vai parar.

Portanto, tem que ver tambm com outras realidades que so conhecidas em Portugal, tem que ver com a pastorcia, com diferentes razes que a Sr. deputada e os Srs. deputados conhecem bem tambm, portanto, assim em Portugal.

Concordo com aquilo que referiu de que a proteo civil tambm um fator de desenvolvimento do pas e, sobretudo, um fator de grande debilidade do pas, do ponto de vista externo, bastando lembrar o que aconteceu, no ano passado, no Algarve, com o incndio na poca de vero e que teve repercusses um pouco por toda a Europa Portanto, isso assim e um fator muito importante.

A Sr. deputada Helosa Apolnia faz uma pergunta que parece simples, mas que tudo menos simples: como que a interligao entre a preveno e o combate. Do ponto de vista da coordenao poltica, essa interligao tem sido fomentada atravs dos Srs. ministros e dos secretrios de Estado, por forma a haver uma interligao dos diferentes servios e isso um trabalho que se faz todos os dias e que ns temos procurado desenvolver.

AUDIES VOLUME II | 21

Do ponto de vista prtico, no terreno, esta articulao feita, no s a nvel das comisses de coordenao, quer nacional, quer distritais, que existem onde h oficiais de ligao dos diferentes agentes de proteo civil; no perodo de inverno, em que nos encontramos, esta articulao feita atravs de uma interveno pessoal muito forte dos comandantes distritais de operaes e socorro (CDOS), junto dos seus diferentes interlocutores locais, a comear, desde logo, pelas prprias autarquias, pelos presidentes de cmara, em que h uma presso quase diria com o levantamento daquilo que preciso fazer no terreno, em que h uma sinalizao das zonas mais complicadas no combate, daquilo que se prev ser o combate, e em que h uma sinalizao permanente e uma conversa permanente e uma presso permanente. Mas a verdade que, como evidente, a proteo civil e os Srs. comandantes distritais no tm competncias para se substituir a quem quer que seja.

Queria dizer lhe ainda que sobre esta questo da interligao na preveno e no combate, que referiu, do nosso ponto de vista assim que feita e, como evidente, ns teremos todos de continuar a procurar que esta interligao seja feita com os diferentes interlocutores, sejam do Ministrio da Agricultura, sejam das prprias autarquias, comeando localmente, como no pode deixar de ser.

No que diz respeito aos investimentos de preveno e combate, Sr. deputada, no sei quais so os investimentos na preveno estrutural, presumindo que foi isso que a Sr. deputada me perguntou. Eu no sei quais so os investimentos na preveno estrutural e digo o aqui, de forma absolutamente clara. Sei aqueles que so os investimentos nos dispositivos da Autoridade Nacional de Proteo Civil e no tenho problema nenhum em partilhar com a Sr. deputada e os Srs. deputados: o dispositivo especial de combate a incndios florestais tem um custo sensivelmente de 75 milhes de euros, o dispositivo, portanto, o DECIF. Simultaneamente, o Ministrio da Administrao Interna tem um custo superior a 22 milhes de euros com o Programa Permanente de Cooperao (PPC), que o programa atravs do qual o Ministrio da Administrao Interna comparticipa e subsidia a atividade das corporaes de bombeiros voluntrios do pas.

Alis, tambm queria dizer que este PPC, em 2013, teve um aumento de 11% relativamente a 2012. Sobre as despesas extraordinrias, que, no fundo, so as despesas no mbito de incndios florestais, eu diria que, este ano, o custo total destas despesas extraordinrias ser de 14 milhes de euros, sendo que destes 14 milhes de euros s cerca de 9 milhes de euros so em reparao de viaturas.

Depois, a Sr. deputada fala em vigilncia, que, salvo erro, foi a ltima pergunta que a Sr. deputada fez. A questo da vigilncia uma questo, do nosso ponto de vista, essencial que deve ser feita A Guarda Nacional Republicana tem um papel incontornvel nesta matria, seja atravs das equipas normais da Guarda Nacional Republicana, seja atravs da fora especializada que o Grupo de Interveno de Preveno e Socorro (GIPS) e assenta, tambm, nas torres de vigia, na rede nacional dos postos de vigia que existe em Portugal.

Se me pergunta quais so os grandes desafios que existem nessa matria, deixe me dizer lhe que um dos grandes desafios que existe, e que eu ainda no consegui transformar, tem que ver com a possibilidade de ns podermos recorrer a novas tecnologias em muitas destas vigilncias, que so feitas. Foi elaborado um projeto piloto no Parque Nacional da Peneda Gers, que

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tem alguns resultados, embora, como primeiro ano, entrou logo em funcionamento, quando j estvamos, praticamente, na Fase Charlie, e, portanto, os resultados so ainda incipientes, mas constituem tambm um projeto piloto para se aferir se esse era o caminho ou se o caminho seria outro. O objetivo fazer se uma avaliao desse projeto para se determinar se vamos nesse sentido ou no.

Em todo o caso, a eficcia da Rede Nacional de Postos de Vigia Tradicional, portanto, assente em torres fixas com pessoas que so contratadas temporariamente e, como se costuma dizer, poca para fazer este tipo de tarefa, tem demonstrado uma eficcia reduzida e quando digo reduzida estou a ser bastante otimista. E repito: a eficcia tem sido reduzida, o que demonstra, do nosso ponto de vista, a necessidade de procurar encontrar novas frmulas, atravs de novas tecnologias, tambm neste campo.

Portanto, um dos grandes desafios para o futuro tambm ser esse, embora deixe me dizer lhe , como conhecido, no incndio do Algarve do ano passado o primeiro foco de incndio surgiu exatamente no momento em que ocorria a mudana dos vigilantes que se encontravam na torre de vigia, ali bem perto, e que, quando se posicionaram na respetiva torre, o incndio j estava a progredir. Isto demonstra que tambm a ns devemos, de facto, dar passos importantes.

Diria que impossvel substituir uma rede, que existe, de repente por uma outra coisa qualquer que ainda no se sabe bem quais so os resultados que poder ter, mas a minha ideia foi a de lanar este projeto piloto no Parque Nacional da Peneda Gers, desejando ter uma cobertura total e foi aquilo que procuramos fazer. Por isso que este projeto tambm se atrasou, porque, como evidente, ter uma cobertura total de um terreno que seja um planalto ou de um terreno, como o Parque Nacional da Peneda Gers, no tem nada que ver e, portanto, aquilo que se procurou fazer foi ter essa cobertura total.

H uma eficcia, que uma eficcia interessante, embora tambm tenha registado um nmero de falsos alarmes muitos significativos. E, portanto, ns temos que ir afinando este projeto piloto, ver se faz sentido prosseguir e, eventualmente, at diversificar para outro tipo de tecnologias. A videovigilncia, enquanto instrumento de apoio deciso, utilizada pelos comandos distritais da proteo civil. Era um sistema que vinha do anterior Governo, mas que estava totalmente desmantelado por falta de manuteno, na maior parte dos comandos distritais, com exceo de dois ou trs.

Aquilo que se conseguiu fazer foi voltar a ligar estes sistemas, salvo erro, em todos os comandos distritais. dito e referido pelos operacionais que se trata de um decisivo instrumento de apoio deciso que no substitui a vigilncia tradicional e, portanto, evidente que todos estes sistemas de vigilncia so complementares, todos entre si, sendo certo que tambm a temos de fazer alguns avanos.

isso que estamos a procurar fazer, embora tenha a noo de que no possvel substituir aquele que o modelo tradicional de vigilncia e que sempre foi adotado, durante vrios anos, em Portugal, de repente, por novas tecnologias, que ns ainda no sabemos bem at qual o seu impacto e o seu resultado prtico. Portanto, tem de ser de forma gradual, com este projetopiloto ou com outro que, eventualmente, se possa desenvolver e, em funo dos resultados, ir decidindo se faz sentido ou no alargar essa experincia.

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O Sr. coordenador: Srs. deputados, vamos passar a um novo grupo de perguntas.Como s temos meia hora, pedia um certo esforo, at porque no queria interferirTem a palavra a Sr. deputada Helena Pinto.

A Sr. Helena Pinto (BE): Muito obrigada, Sr. vice presidente.Em primeiro lugar, desejo cumprimentar o Sr. secretrio de Estado e os Srs. e as Sr.as depu

tadas.Queria colocar, essencialmente, duas ordens de questes ao Sr. secretrio de Estado, talvez

para o Sr. secretrio de Estado ir um bocadinho mais longe, se for possvel, para depois debatermos porque, penso, o mbito deste nosso grupo de trabalho sobretudo tambm para isso, para levantarmos questes, levantarmos pistas e, depois, aprofundarmos no futuro.

Parece me que o Sr. secretrio de Estado colocou na sua primeira interveno, nem sequer foi agora na segunda, um aspeto que, acho, fundamental, que problema das faixas de gesto de combustvel. Disse que teria de ser estudado o maior envolvimento dos bombeiros nesta matria, porque conhecem o terreno como ningum.

Eu gostava que o Sr. secretrio de Estado, que, com certeza, j refletiu sobre esta matria, desse mais alguma pista nesta rea, porque, de facto, este um dos problemas e, alis, daqui a bocadinho, vamos ter o seu colega de Governo que tem que ver com as florestas!

Este um dos problemas estruturais, a tal preveno estrutural que tem, depois, que ver com as espcies que so plantadas, como est organizada a floresta, etc., etc De facto, este um problema central e acho que seria muito importante se este grupo de trabalho conseguisse chegar mais longe nesta matria.

Portanto, uma das minhas questes era a questo das faixas de gesto de combustvel. Como que ns vamos? Portanto, Sr. secretrio de Estado, gostava, se tiver mais alguma ideia, que aprofundssemos essa questo, porque acho que um problema fundamental.

Depois, temos o problema, que tambm tem que ver com a preveno, que se liga aqui s autarquias locais e na qual, de alguma maneira, o seu ministrio, nesta parte, tem responsabilidades.

Eu no faria assim uma ligao to direta estou a dizer com toda a sinceridade, posso estar enganada, estamos mesmo em debate livre entre todos estes problemas e as eleies autrquicas. Se, de alguma forma, percebo, tenho alguma dificuldade em assumir isso assim como um facto, porque, se assim for, tambm no deixa de ser preocupante.

Agora, quanto questo dos processos de contraordenao, o Sr. secretrio de Estado disse competncias das autarquias, mas que parece que as autarquias no querem e, na sequncia da interveno do Sr. deputado Maurcio Marques, falou de passar estas competncias (da fiscalizao das contraordenaes e tudo) a outro tipo de entidades. Eu pergunto: a que tipo de entidades? Estamos a falar de quem? Estamos a falar da GNR, por exemplo? Estamos a falar da PSP?

Ento, agora, tenho que lhe perguntar, Sr. secretrio de Estado: e a GNR vai garantir isso? A GNR j no consegue garantir a questo dos crimes ambientais, por exemplo, j no consegue dar conta desse recado! No est aqui subjacente nenhuma crtica.

Retirar as cmaras disto no significa tambm desresponsabiliz las? No ter esse efeito negativo?

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Neste aspeto, acho que deveramos aprofundar mais o debate, at porque o Sr. secretrio de Estado falou mesmo de rever a legislao

Peo desculpa por s estar a colocar questes e dvidas, mas acho que um pouco para isso esta audio.

Depois, tem que ver com os planos locais: os municipais e os distritais. Eu acho que aqui importante, de facto, fazermos um debate muito objetivo. Isto : os planos servem ou no servem? porque, se no servem e se no so acionados, para que que eles existem? Porque andamos de plano em plano, at desorganizao total, depois, no terreno e no pode ser!

Alis, eu perguntava lhe eventualmente o Sr. secretrio de Estado j no ter a a resposta o seguinte: a homologao dos planos da responsabilidade do Ministrio da Administrao Interna, certo?

Que noo que tem: os planos esto todos atualizados a nvel nacional ou no esto? Por acaso, recentemente, at fiz uma pergunta sobre um plano de um local aqui bem perto e que no est atualizado. Mas, Sr. secretrio de Estado, tem a noo como que esto os planos todos porque tm que ir ao Ministrio da Administrao Interna e portanto.

Ficava me por aqui com mais estas questes de fundos, que me parece importante debater.Obrigada, Sr. vice presidente

O Sr. coordenador: Sr. deputado Joo Ramos, tem a palavra.

O Sr. Joo Ramos (PCP): Muito obrigado, Sr. coordenador.Srs. deputados, queria comear por cumprimentar, em nome do Grupo Parlamentar do PCP,

o Sr. secretrio de Estado.Gostava de colocar lhe algumas questes muito objetivas, que se prendem com mat

rias, com queixas, com dvidas, com preocupaes que fomos ouvindo, quer ao longo do perodo de incndios quer agora, j no mbito da primeira audio que fizemos. E a primeira, o Sr. secretrio de Estado j a referiu, a questo da comunicao e das polticas de comunicao. O Sr. secretrio de Estado mostrou alguma preocupao em relao a isso, nomeadamente quanto interveno e ao papel dos media no combate a incndios, eventualmente atribuindo lhe algum efeito promotor de ignies.

Ns entendemos que, paralelamente a esta questo, algumas declaraes de alguns responsveis polticos tambm podero no ter ocorrido no momento certo Por isso, tendo em conta que o Sr. secretrio de Estado manifestou aqui alguma preocupao, o que eu pergunto se existe a ideia do Governo em rever algumas matrias relacionadas com a comunicao que se cruzam com as questes dos incndios florestais.

Em segundo lugar, quanto s questes da legislao, tem vindo a ser colocado alguma nfase nas questes do combate ao crime nestas matrias e ns entendemos que tudo o que so atos criminosos devem ser apurados e devem ter a atuao devida. O que aceitamos menos que se foque muito nisso, esquecendo, muitas vezes, outras matrias. Este ano, foi colocada alguma nfase nesta questo e na necessidade de alterar a legislao, mas se olharmos para o relatrio da comisso eventual, que foi aprovado em 2008, o que ele j referia, na altura, era que finalmente, esto criadas as condies legislativas e operacionais para podermos avanar

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nesta matria. Dizia se isso em 2008! Agora, este ano, voltamos a falar na necessidade de rever alguma legislao sobre esta matria, o que no compreensvel.

A minha terceira questo tem que ver com os meios areos e a preocupao com a inoperacionalidade de alguns meios, nomeadamente dos Kamov. Essa mesma preocupao nos foi manifestada pelo Sr. comandante nacional, o que ns tivemos oportunidade de abordar, quando estivemos na reunio que decorreu na Autoridade Nacional.

O que a nos foi referido foi que as incertezas sobre ao futuro da empresa de meios areos, no ajudaram na mobilizao de meios e at na mobilizao de recursos humanos para atuar nesta matria.

Mas devo lembrar que esta matria no inteiramente nova. No referido relatrio de 2008 da comisso eventual, a que eu j aludi, a declarao de voto do PCP referia isto, quanto aos meios areos: Apesar do facto positivo que constitui a aquisio pelo Estado de meios prprios, como o PCP h muitos anos defendia, a sua gesto e operacionalizao revelaram uma grande incompetncia e incapacidade do ministrio que as tutela e da insuficiente atribuio de meios e recursos humanos. Por isso, j em 2008, eram apontadas aqui algumas dificuldades, que no so inteiramente novas. Este ano houve aqui alguma agudizao. O Sr. comandante nacional tomou posio sobre esta matria, que no nova, mas, acima de tudo, era importante saber como que

O Sr. coordenador: Tem de terminar, Sr. deputado.

O Sr. Joo Ramos (PCP): Vou me encaminhando para o fim, Sr. vice presidente.Outros problemas existiram, e observmos no territrio, com as condies de combate a

incndio. Descreveram me, pessoalmente, problemas como, por exemplo, no Caramulo, relativamente ao acesso aos pontos de gua; s linhas da EDP (que passam por cima dos stios onde os helicpteros deviam abastecer e, depois, andaram os autotanques serra abaixo e serra acima para tentar abastecer os pontos de gua); ao corte das nascentes por causa da srie de empresas privadas que esto a fornecer gua e que, hoje em dia, foram limitando aquilo que eram nascentes que existiam na serra para promover o autoabastecimento Isto tudo so questes que tm vindo a acontecer e que tm implicaes no combate a incndios.

Mesmo para terminar, Sr. coordenador, coloco a questo da importncia do combate e da valorizao das equipas que o fazem. Em primeiro lugar, a questo da formao e da instruo dos bombeiros. Foi nos referido que Portugal tem timas condies de formao para os bombeiros, mas tem uma falha em termos de instruo. H dificuldade na instruo, desde logo, porque, por exemplo, no h apoios para a manuteno e para os combustveis fora do combate a incndios, quando essa instruo podia ser feita, nomeadamente na preveno estrutural.

Em segundo lugar, relativamente matria de seguros, os bombeiros voluntrios tm seguros de acidentes pessoais e os bombeiros profissionais tm seguros de acidentes de trabalho, e aquilo que nos foi referido foi que, no tratamento de um grande queimado esgotam se os valores dos seguros nos primeiros 15 dias de tratamento. Sendo os bombeiros voluntrios a grande massa de interveno, eu pergunto se h inteno do Governo de intervir, ou no,

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nesta matria isto alm de j no falar nas questes, por exemplo, da reforma e nas recentes alteraes legislativas em que os bombeiros s podem estar na atividade at aos 60 anos, mas s se reformam aos 66! Como que isto se compatibiliza? H, de facto, uma palavra de grande valorizao do seu papel, mas depois h determinadas aes que no permitem demonstr la.

Como no tenho mais tempo, e tinha ainda muitas questes para colocar, como a questo dos equipamentos, dos denominados factos nomex, a que os bombeiros fazem candidaturas, mas, depois, no h resposta dos fundos comunitrios, e at a dos veculos de bombeiros, os VFCI (veculos florestais de combate a incndios), uma vez que vi alguns parados nas corporaes, porque precisavam da vistoria do POVT (Programa Operacional Temtico Valorizao do Territrio), que os financiou, e, enquanto essa vistoria no fosse feita, eles no podiam sair para a rua. Alis, o ministrio, depois, deu autorizao para eles sarem, mesmo sem a referida vistoria O que que tem de ser feito, ou o que que est a ser feito para alterar estas dificuldades?

Obrigado pela tolerncia, Sr. coordenador.

O Sr. coordenador: Sr. deputado Abel Baptista, tem a palavra.

O Sr. Abel Baptista (CDS PP): Sr. vice presidente e Sr. secretrio de Estado, muito rapidamente, peo imensa desculpa por me ter ausentado, mas tive de ir

O Sr. coordenador: Foi apagar outro fogo!

Risos.

O Sr. Abel Baptista (CDS PP): presidir Comisso de Educao, que tambm est com a Sr. secretria de Estado da Cincia, numa audio, ali, na prpria comisso.

Sr. secretrio de Estado, eu colocava lhe duas ou trs notas, muito rapidamente, que tm que ver no s com a exposio inicial que nos apresentou, mas tambm com algumas questes que, outro dia, no mbito da reunio que tivemos na ANPC, foram colocadas.

Primeiro, acho que h aqui um conjunto de questes que nos obrigam a que sejam colocadas, porque o nosso trabalho no propriamente fazermos uma comisso de inqurito questo dos incndios, mas , sobretudo, produzir algo para a frente e verificamos, enfim, se encontramos pontos fracos e pontos que, eventualmente, no sendo fracos no esto suficientemente explorados Portanto, a questo que, h bocadinho, a Sr. deputada Helena Pinto lhe colocava, relativamente possibilidade de a aplicao das coimas poder ser feita pela GNR, parece que essa alterao legislativa far algum sentido, dado que, das informaes que nos deram h dias, s apenas 5% dos autos levantados que so finalizados, isto , no aplicada pena, so finalizados, ou seja, independentemente da pena, s 5% que so finalizados!

Ora isto, evidentemente, causa, como nos dizia o oficial da GNR, frustrao na prpria corporao, que anda a fazer o seu trabalho que, depois, no tem consequncia e, portanto, no tem efeito dissuasor perante os agentes.

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Essa uma questo sobre que, acho, valeria a pena o Sr. secretrio de Estado dizer nos alguma coisa.

Depois, h uma questo que tambm nos foi l levantada, que tem que ver com a alterao ao estatuto do bombeiro, que necessrio ter em ateno e que o facto de nos ter sido referido que, na alterao ao estatuto do bombeiro, parece haver ali uma questo com a alterao tambm na legislao no que diz respeito a aposentaes, de no estar a ser tida em conta a majorao, em termos de servio, daquilo que a atividade do bombeiro e que, depois, colide com uma situao muito concreta: o bombeiro tem de deixar de ser bombeiro aos 65 anos, mas s se pode reformar aos 67

Est a Sr. deputada Helena Pinto aqui a corrigir me e com razo: aos 60 anos e s se pode reformar depois aos 62 e, no caso do comandante, tem que deixar aos 65 e s se pode reformar ao 67. Obrigado pela correo, Sr. deputada Helena Pinto.

Portanto, h aqui uma questo muito prtica e que tem que ver com a legislao. No tem diretamente que ver com fogos florestais, mas tem que ver com aquilo que a motivao tambm para se ser bombeiro.

A outra questo tem tambm que ver com aspetos de seguro e com algumas dificuldades que parecem estar a existir acho que valeria a pena tambm estarmos atentos a isto , que o facto de, no caso dos bombeiros, por exemplo, quando vo pedir um crdito para aquisio de habitao prpria permanente, lhes ser dado um parecer negativo nesse emprstimo pelo facto de serem bombeiros. Portanto, se isto corresponde verdade, convinha termos aqui em ateno.

Em termos legislativos, eu gostaria de saber se naquilo que est a ser feito no dispositivo e na cooperao entre as diferentes entidades deveria ou no haver aqui uma maior interveno por parte dos bombeiros e, quando digo dos bombeiros, digo o em sentido lato , nomeadamente na aprovao dos Planos de Ordenamento Territorial?

Ficava me por aqui, Sr. coordenador.

O Sr. coordenador: Sr. deputado Miguel Freitas, tem a palavra.

O Sr. Miguel Freitas (PS): Muito obrigado, Sr. vice presidente.No vou colocar questes porque, naturalmente, as questes foram colocadas pelos grupos

parlamentares, mas vou usar a minha prerrogativa de relator apenas para, muito rapidamente, dizer ao Sr. secretrio de Estado que ns no estamos a fazer uma avaliao dos fogos florestais de 2013; estamos a tentar olhar para aquilo que foram os ltimos oito anos desde que temos dispositivo e, naturalmente, o sentido que temos a necessidade que existe de fazer melhorias nos sistemas, que temos no terreno, e no criar novos sistemas.

Portanto, no est aqui em causa qualquer sentido de instabilidade nos prprios dispositivos que existem, quer nos dispositivos legislativos, quer nos dispositivos operacionais.

De qualquer maneira, como disse, aproveitando as suas palavras e devo dizer que a forma como se apresentou a esta audio pareceu me a forma correta, que dizer quais so as dificuldades que sente no seu trabalho, acho que isso fundamental para ns para podermos dar um contributo no sentido de melhorar o nosso trabalho coletivo , aqui a grande questo,

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que julgo que ficou levantada, a necessidade ou no de termos um novo olhar para estas questes.

O Sr. secretrio de Estado levantou as questes relacionadas com a gesto de matos ou no, mas eu diria mesmo se ns no temos de olhar para as prioridades. Ns temos como prioridades muito claras a proteo de pessoas, bens e floresta, e a minha questo e era isso que eu queria dizer se isso sempre assim, isto , se estamos sempre nas condies de ter isso como, digamos, o sentido geral da nossa interveno.

Muitas vezes, a poltica tem um problema que o de que a comunicao complicada, e, portanto, h muitas coisas que se forem consensualizadas no mbito de um grupo de trabalho so fceis de passar, mas, se so ditas em momentos quentes por membros de Governo, so difceis de passar porque, naturalmente, parece que esto a tentar desvalorizar as questes

Portanto, creio que o grupo de trabalho pode dar o contributo no sentido de poder encontrar a mensagem certa para ultrapassarmos alguns problemas de paradigma que temos. E esta questo, em que insistimos, dos matos e das prioridades, pode ser uma forma de encontrarmos aqui um consenso entre todos os partidos para termos uma nova viso para a questo do combate e da preveno aos fogos florestais.

O Sr. coordenador: Muito obrigado.Antes de dar a palavra ao Sr. secretrio de Estado e porque fui aqui tambm tomando umas

notas, j agora, pedia lhe que aprofundasse um ponto ou outro, que resultou, alis, de intervenes suas.

O Sr. secretrio de Estado falou na necessidade de novas ferramentas no combate ampliado. Eu gostaria de saber a que que se referia concretamente.

Falou tambm e um tema que tem sido aqui suscitado do problema do no acionamento dos planos municipais e distritais. Falou, a dada altura, num problema de seguros Ora, eu gostaria de ter, digamos, uma indicao mais concreta do que que leva, efetivamente, a esse no acionamento para vermos, designadamente em sede de eventuais alteraes legislativas, se encontramos alguma resposta para isso e conseguirmos ultrapassar esses inconvenientes com as vantagens que o seu acionamento traria.

Dado que falou nuns planos e isto ignorncia minha que no conheo esses programas de articulao com as Foras Armadas , eu gostaria, tambm, que nos esclarecesse um pouco melhor, me desse uma indicao mais concreta sobre como que isso se articula, se processa. Deve estar associado, naturalmente, s zonas florestais, s instalaes militares existentes associadamente a essas zonas, etc.

Eram, fundamentalmente, estas as questes com que eu complementava as intervenes dos Srs. deputados.

Tem a palavra para responder, Sr. secretrio de Estado.

O Sr. secretrio de Estado da Administrao Interna: Muito obrigado, Sr. vice presidente e muito obrigado a todos os Srs. deputados e s Sr.as deputadas pelas perguntas que me fizeram.

Muito diretamente, queria dizer ao Sr. deputado Miguel Freitas que agradeo esta sua observao, mas, de facto, eu no vim aqui com o objetivo de apresentar um balano do dispositivo

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nem da poca de incndios, porque esse balano foi j conforme tive oportunidade de dizer no incio da minha interveno apresentado pelos diferentes patamares, pelos diferentes pilares do dispositivo, pelos seus principais responsveis do ponto de vista operacional quer pelo ICNF, quer pela Guarda Nacional Republicana, quer pela Autoridade Nacional de Proteo Civil.

Mas no tenho a mnima dvida de que os balanos so essenciais para percebermos aquilo que preciso fazer de maneira diferente e melhor, e acho que nesta rea as melhorias que foram introduzidas resultaram sempre dessa avaliao permanente e desses balanos e no de hoje, mas foi ao longo dos ltimos anos.

Queria tambm dizer lhe que julgo que, de facto, como o Sr. deputado tambm bem sabe, no haver rea mais sujeita a esses balanos e a essas avaliaes permanentes de todos os seus dispositivos e das suas respostas do que a da proteo civil e bom que assim seja, com a mxima transparncia possvel, para que todos tambm possamos fazer esse exerccio, que o Sr. deputado muito bem resumiu e que esse novo olhar sobre as prioridades que assumimos, no s naquilo que diz respeito ao combate, naquilo que a nossa resposta no combate perante a circunstncia de termos 63% da rea ardida que so matos e, portanto, saber como dizia a Sr. deputada Isabel Oneto bom, para arder, ou em que modos e de que forma que encara esse para arder, por um lado, mas, por outro, para tambm nos obrigar a uma reflexo profunda sobre aquilo que o outro pilar ao nvel da preveno estrutural para percebermos como estamos com este equilbrio que temos.

Portanto, eu dizia lhe que no tenho a mnima dvida de que este frum o frum ideal, perfeito, para isto e, mais, que no tenho a mnima dvida de que estamos todos, independentemente das nossas diferentes ideias, das nossas diferentes perspetivas, dos nossos diferentes conhecimentos especficos sobre a matria, que uma matria muito complicada e muito complexa, no tenho a mnima dvida, dizia eu, de que todos partilhamos este objetivo de introduzir melhorias.

Alis, tem sido esse o objetivo da nossa parte, no mbito do Ministrio da Administrao Interna mesmo quando solicitamos determinados relatrios independentes, o objetivo, como j foi referido, no o de assacar responsabilidades a quem quer que seja, mas o de procurar perceber o que se passou para introduzir melhorias e evitar que, por exemplo, tragdias como tivemos este ano no se voltem a repetir.

Portanto, queria apenas dizia lhe isto, agradecendo as suas palavras. Relativamente Sr. deputada Helena Pinto, que abordou vrios temas, de facto, eu falei nas

faixas de gesto de combustvel, alis, utilizei a expresso incrementar aes de preveno florestal como, por exemplo, na manuteno das faixas de gesto de combustvel. Basta dar s um exemplo: o incndio do Algarve no ano passado Como sabem, h uma rede primria de faixas de gesto de combustvel e h uma rede secundria; estava previsto, na zona do permetro do incndio de Tavira, no Algarve, no ano passado, que haveria faixas de gesto de combustvel de cerca de 250 km2 (era mais ou menos este o nmero). A verdade que se constatou que, desses 250 km2, estavam apenas feitos 54 km2, salvo erro, e que, dentro desses 54 km2, havia problemas ao nvel da manuteno dessas faixas de gesto de combustvel, pela largura, enfim, por diferentes problemas que estavam identificados. Isso verifica se um

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pouco por todo o pas. algo que nos deve preocupar, algo que a ns, no combate, nos preocupa e sei que algo que tambm traz preocupaes ao Ministrio da Agricultura.

Como sabe, a rede primria uma responsabilidade do ICNF e aquilo que temos proposto em concreto j no me lembro quem me perguntou isso, acho at que foi a Sr. deputada, que, a certa altura, me perguntou o que que sugeramos para fazer face a isso , quando eu falo num maior envolvimento dos bombeiros, nomeadamente em determinados setores (no tal cruzamento de que a Sr. deputada Helosa Apolnia falava), entre as diferentes reas, estou a referir me, nomeadamente, questo das redes secundrias, onde, por exemplo no excluindo apenas as redes secundrias, mas dando um exemplo , os bombeiros poderiam ter a um papel e uma interveno interessante, desse ponto de vista

evidente que temos perfeita conscincia de que os bombeiros no conseguiriam resolver o problema que outras foras no resolvem, mas no temos a mnima dvida de que, conhecendo o terreno do ponto de vista do combate, essa interveno seria importante e poderia, eventualmente No posso deixar de o dizer desta forma que vou usar, pois tenho procurado, ao longo destes dois anos e meio, encontrar novas formas de responder a muitos dos problemas, inclusivamente financeiros, que muitas corporaes de bombeiros tm, e ainda hoje tm Portanto, no tenho a mnima dvida de que essa interveno poderia ser uma diversificao da atividade de muitos destes corpos de bombeiros, com um resultado muito til do ponto de vista do terreno e, eventualmente, at um resultado financeiro que significasse que essa atividade por parte das corporaes de bombeiros teria um retorno diferente daquilo que so os caminhos tradicionais dos bombeiros, hoje em dia, em Portugal, e que, como sabemos, assentam muito na rea da Administrao Interna ou na rea da Sade.

Portanto, essa seria uma forma de responder a muitos problemas que no terreno existem nos servios prestados ao nvel da preveno estrutural, ou seja, envolvendo os bombeiros como uma fora que existe, que est disponvel e que, na maior parte dos casos, eu at diria que est disponvel para isso, desde que seja possvel reunir condies para essas atividades.

Portanto, o desafio e aquilo que temos procurado fazer, uma vez que temos a noo de que da parte do Ministrio da Agricultura h sensibilidade para isso, tentar encontrar esses novos caminhos que possam responder a estas dificuldades.

No quis fazer qualquer ligao direta entre o perodo eleitoral das autrquicas com os resultados do ponto de vista da proteo civil, em termos de ocorrncias. Aquilo que eu disse foi que, enquanto responsvel pela proteo civil, uma das coisas que me tinham dito foi que, se difcil, em anos normais, a resposta operacional por parte dos bombeiros, mais difcil em anos em que h eleies autrquicas. Alis, eu disse que por aquilo que me era referido isso deve se a diferentes fatores.

Portanto, eu no quis fazer qualquer ligao direta; quis apenas deixar tambm esse tema para reflexo. E at lhe posso dizer que isso me foi transmitido expressamente por anteriores responsveis da rea da proteo civil de outros Governos que no do Governo atual, composto pelos partidos da atual coligao. Portanto, algo que j era particularmente sentido.

Relativamente questo das contraordenaes, que vai um bocadinho na linha daquilo que o Sr. deputado Abel Baptista disse, eu queria dizer vos que a prpria Guarda Nacional Republicana, no momento em que foi feita a apresentao do balano, disse expressamente que,

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se assim fosse determinado, se houvesse essa alterao, teria condies para responder a essa alterao, sendo certo, como evidente, que o Governo no ir propor qualquer iniciativa legislativa, estando a decorrer os trabalhos deste grupo de trabalho aqui, na Assembleia da Repblica.

Portanto, eu queria responder isto, sendo certo que tambm no houve nenhuma ideia e deixe me dizer lhe tambm isso, Sr. deputada Helena Pinto de qualquer desresponsabilizao das cmaras municipais.

Tenho a perfeita noo, e hoje mais do que nunca, que as cmaras municipais tm um papel absolutamente decisivo nesta rea. Alis, isso confirmado Como calcular, no mbito destas funes, tenho andado um pouco por todo o pas, sobretudo aos fins de semana, junto das corporaes de bombeiros um pouco por todo o territrio nacional e onde se constata um maior envolvimento e uma maior proximidade por parte dos autarcas, dos presidentes de cmara junto das suas corporaes de bombeiros precisamente onde se sente que h menos dificuldades no estou a dizer que no haja dificuldades! sentidas por essas mesmas corporaes de bombeiros.

Portanto, eu diria que no, que o objetivo no desresponsabilizar as autarquias! O objetivo envolver as autarquias, fazer com que as autarquias sejam, como so, um elemento absolutamente essencial e um agente de proteo civil como, alis, so os presidentes das cmaras municipais, que so um agente incontornvel, so responsveis!

Portanto, no h aqui nenhuma tentativa de desresponsabilizao, h uma tentativa de os envolver, mas temos de olhar para o problema e perceber se queremos manter as coisas como esto ou no queremos. E, se mantivermos como esto, o que que podermos fazer para alterar este grau de eficcia que se traduz no facto de, chegados ao fim do processo e tambm como dizia o Sr. deputado Abel Baptista , a percentagem de contraordenaes ser apenas de cerca de 5% do total de casos, conforme nos foi transmitido na Autoridade Nacional de Proteo Civil? porque, de facto, esses no so indicadores que satisfaam nenhum de ns e, portanto, temos de rever.

Comecei por dizer, Sr. deputada, que esta legislao, do ponto de vista tcnico, do ponto de vista jurdico, do meu ponto de vista, no coloca dificuldades. uma legislao que eu at deixem me que vos diga acho que est bem feita: colocou o problema na ordem do dia e procurou resolv lo, mas a verdade que a soluo que adotou, por diversas vicissitudes que no tm que ver com o papel legislativo ou at jurdico das solues que apresentava, no teve os resultados que se pretendia que tivesse e, portanto, isso tem de ser revisto e repensado e esse tambm o trabalho que todos faremos, seguramente, em conjunto.

O Sr. deputado Joo Ramos falou em estratgia poltica de comunicao. Sr. deputado, eu no tenho qualquer estratgia poltica de comunicao ou de alterao

de qualquer estratgia de comunicao quanto aos incndios florestais. Deixe me dizer lhe que a rea da proteo civil, nesse aspeto, das reas mais transparentes que temos em toda a Administrao Pblica, com uma identificao diria do nmero de ocorrncias, dos problemas, de total abertura e transparncia, que vinha de trs e que ns mantivemos e que no h razes para alterar. Portanto, deixe me dizer lhe que no tenho qualquer iniciativa pensada para rever a legislao quanto a isso.

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A nica coisa que me limitei tambm a dizer, e que julgo que um dad