atuação da fisioterapia na sindrome da fragilidade

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    REVISOSISTEMTICAISSN 1413-3555

    Rev Bras Fisioter, So Carlos, v. 13, n. 5, p. 365-75, set./out. 2009

    Revista Brasileira de Fisioterapia

    Atuao da fisioterapia na sndrome de

    fragilidade: reviso sistemticaPhysical therapy treatment on frailty syndrome: systematic review

    Paula M. M. Arantes1, Mariana A. Alencar1, Rosngela C. Dias2, Joo Marcos D. Dias2, Leani S. M. Pereira2

    Resumo

    Objetivo:Revisar sistematicamente a literatura sobre intervenes fisioteraputicas e seus efeitos em idosos frgeis da comunidade.

    Mtodos:Reviso sistemtica de estudos publicados at junho de 2008 nas bases de dados Medline, Embase, PEDro, SciELO,

    LILACS e Biblioteca Cochrane. Foram excludos os artigos cuja amostra era constituda de idosos no frgeis, institucionalizados e

    hospitalizados; aqueles cujas intervenes propostas no foram a fragilidade e no eram especficos de fisioterapia. Resultados:De

    acordo com os critrios de excluso,dos 152 artigos encontrados no Medline, apenas 15 foram includos para anlise; dos 71 artigos

    encontrados na base de dados PEDro, apenas um, uma vez que os outros 10 artigos encontrados j haviam sido selecionados pelo

    MEDLINE, e dos 461 artigos encontrados na base de dados Embase, apenas dois que no haviam sido selecionados nas outras bases

    de dados foram includos neste estudo. Foi verificado um total de sete diferentes tipos de intervenes: 1) fortalecimento muscular;

    2) exerccios de fortalecimento muscular, equilbrio, coordenao, flexibilidade, tempo de reao e treinamento aerbico; 3) treino

    funcional; 4) fisioterapia; 5) fisioterapia realizada no domiclio; 6) adaptao ambiental e prescrio de dispositivo e 7) exerccio na

    gua. Os resultados de alguns estudos foram contraditrios mesmo com intervenes semelhantes. Os estudos analisados utilizaram

    formas distintas para definir fragilidade, o que dificultou as comparaes dos resultados.Concluso: Existem poucas evidncias dos

    efeitos da interveno fisioteraputica em idosos frgeis comunitrios, dificultando estabelecer consenso ou concluses sobre a

    eficcia das propostas teraputicas nessa complexa sndrome.

    Palavras-chave: idoso; fragilidade; fisioterapia; reabilitao.

    Abstract

    Objective:To carry out a systematic review of the literature on physical therapy interventions and their effect on frail community-dwelling

    elders. Methods:Systematic review of studies published until June 2008 in the databases Medline, Embase, PEDro, SciELO, LILACS

    and Cochrane Library. We excluded studies with samples composed of institutionalized, hospitalized and non-frail participants, studies

    not aimed at treating frailty, and studies that were not specifically related to physical therapy. Results:In accordance with the exclusion

    criteria, out of the 152 Medline articles, only 15 were considered for analysis, out of the 71 PEDro articles only one was considered

    as the other ten had already been selected in Medline, and out of the 461 Embase articles only two that had not been selected in

    others databases were included in this study. A total of seven different types of interventions were verified: 1) muscle strengthening;

    2) exercises for muscle strengthening, balance, coordination, flexibility, reaction time and aerobic training; 3) functional training; 4)

    physical therapy; 5) at-home physical therapy; 6) environment adaptation and prescription of assistive device; 7) water exercise. The

    results of some studies were contradictory even with similar interventions. The analyzed studies had different definitions for fragility,

    which made it difficult to compare the results. Conclusion:There is little evidence of the effect of physical therapy intervention on frail

    community-dwelling elders; thus, it is not possible to reach a consensus or conclusion on the effectiveness of the therapeutic regimens

    proposed for this complex syndrome.

    Key words: elderly; frail; physical therapy; rehabilitation.

    Recebido:17/11/2008 Revisado:30/04/2009 Aceito:06/08/2009

    1 Programa de Ps-graduao em Cincias da Reabilitao, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil

    2

    Departamento de Fisioterapia, UFMG, Belo Horizonte (MG), BrasilCorrespondncia para:Paula Maria Machado Arantes, Rua Muzambinho, 159 - apto 401, Anchieta, CEP 30310-280, Belo Horizonte (MG), Brasil, e-mail: [email protected]

    Rev Bras Fisioter. 2009;13(5):365-75.

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    Introduo

    Estudos com a populao considerada frgil ainda so es-

    cassos no mundo e no Brasil. Entretanto, o aumento de idosos

    considerados frgeis, associado ao impacto social e econmico

    gerado por essa populao, fez com que crescesse o interesse pelo

    tema e a necessidade de se estudar melhor essa populao1

    .Uma das principais dificuldades ao estudar essa populao

    est relacionada definio de fragilidade. Apesar de ainda no

    haver um consenso sobre a definio de fragilidade, tem sido

    amplamente aceito que ela uma sndrome clnica, de natureza

    multifatorial, caracterizada por um estado de vulnerabilidade

    fisiolgica resultante da diminuio das reservas de energia e

    da habilidade de manter ou recuperar a homeostase aps um

    evento desestabilizante2,3. A sndrome de fragilidade complexa

    e envolve declnios em mltiplos domnios fisiolgicos, incluindo

    fora e massa muscular, flexibilidade, equilbrio, coordenao e

    funo cardiovascular4,5, que geram risco elevado para quedas,declnio funcional, hospitalizao e morte6. A fragilidade leva

    deteriorao da qualidade de vida, aumento da sobrecarga dos

    cuidadores e altos custos com cuidados sade7. Assim, inter-

    venes no farmacolgicas que possam prevenir, retardar ou

    impedir a progresso da fragilidade so necessrias3,8,9.

    Dentre essas, programas de exerccios so apontados como

    o tipo de interveno com maior potencial para melhora da

    funo fsica3. Entretanto, apesar de haver evidncias compro-

    vando os efeitos benficos dos exerccios em idosos, estudos

    que avaliam os efeitos de programas de exerccios na fragilidadeainda so limitados.O objetivo deste estudo foi realizar uma

    reviso sistematizada da literatura sobre os efeitos de inter-

    venes fisioteraputicas em idosos frgeis da comunidade.

    Materiais e mtodos

    Utilizando-se os descritores frail ou frailty, older adults ou

    elderly e rehabilitation ou intervention ou physical therapy ou

    exercise therapy e seus equivalentes em portugus e espanhol,

    foram rastreados artigos que tivessem as palavras-chave pes-quisadas no ttulo ou resumo publicados at junho de 2008 nas

    bases de dados eletrnicas MEDLINE, Embase, PEDro, ScieLo,

    LILACS e Biblioteca Cochrane, nos idiomas ingls, portugus e

    espanhol. Tambm foi realizada uma busca manual de estudos

    nos bancos de dissertaes e teses da Universidade Federal de

    Minas Gerais, Universidade de So Paulo, Universidade Federal

    do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,

    Universidade de Campinas e Universidade Federal de So Carlos

    que so os principais centros que pesquisam nesta rea e per-

    mitem essa busca. Adicionalmente, foi realizada uma consulta

    aos especialistas na rea para averiguar a possibilidade de haver

    outras referncias que no faziam parte das bases de dados

    consultadas.

    Adotou-se, como critrio de incluso, o tipo de estudo

    ser ensaio clnico, ensaio clnico controlado ou aleatorizado.

    Os critrios para excluso dos artigos foram: a amostra no

    ser exclusivamente de idosos frgeis; o objetivo da interven-

    o no ser a fragilidade; a interveno no ser especfica defisioterapia; haver mltiplas intervenes; apresentar apenas

    dados preliminares e o estudo ser conduzido com idosos insti-

    tucionalizados ou hospitalizados.

    A escolha dos artigos foi realizada por dois revisores inde-

    pendentes, obedecendo aos critrios de incluso, pelo ttulo

    e resumo dos artigos. Caso tivessem alguma discordncia, os

    revisores liam o artigo na ntegra, discutiam e, ainda, passavam

    para um terceiro revisor.

    A metodologia dos estudos selecionados foi avaliada pela

    escala PEDro10,11, que muito utilizada na rea de reabilitao.

    A escala tem uma pontuao total de 10 pontos10,11 que avaliama qualidade metodolgica de estudos experimentais, sendo

    que escores 5 so considerados de alta qualidade12.

    Os estudos foram qualificados por dois revisores de forma

    independente. O ndice de Kappa foi utilizado para avaliar o

    nvel de concordncia entre os revisores em relao pontua-

    o dos artigos pela escala PEDro. Para a classificao final da

    qualidade dos artigos, os itens discrepantes foram revistos e

    discutidos at a obteno de consenso sobre a pontuao11.

    Resultados

    Na busca realizada em junho de 2008, foram encontrados

    152 estudos na base de dados MEDLINE, desses, apenas 15 al-

    canaram todos os critrios de incluso e excluso; na base de

    dados PEDro, foram encontrados um total de 71 artigos, sendo

    que apenas 11 foram selecionados. Desses 11 artigos selecio-

    nados, 10 j haviam sido selecionados pela MEDLINE. Na base

    de dados Embase, foram encontrados 461 artigos. Em relao a

    esses, apenas dois artigos dos que no haviam sido seleciona-

    dos nas buscas realizadas nas outras bases de dados atendiamaos critrios de incluso e excluso e, assim, foram includos

    neste estudo. No foi encontrado nenhum artigo nas demais

    bases de dados pesquisadas. As caractersticas dos artigos se-

    lecionados quanto interveno e aos desfechos e resultados

    so apresentados na Tabela 1. Houve uma grande variabilidade

    em relao ao tipo de interveno utilizada e aos desfechos

    analisados, sendo verificado um total de sete diferentes tipos

    de intervenes. Alm disso, os critrios utilizados para definir

    idoso frgil variaram muito entre os estudos (Tabela 2).

    A maioria dos artigos, 56%, apresentaram os escores 5

    na escala PEDro (EP), sendo considerados, portanto, de alta

    Paula M. M. Arantes, Mariana A. Alencar, Rosngela C. Dias, Joo Marcos D. Dias, Leani S. M. Pereira

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    qualidade12 (Tabela 2). Em relao a essa classificao, os avalia-

    dores apresentaram boa concordncia (Kappa=0,829, p

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    no grupo que recebeu a interveno. No foram encontradas

    diferenas significativas para as variveis tempo de reao, sen-

    sibilidade e variveis da marcha. O grupo controle, que realizou

    os exerccios para ganho de amplitude de movimento em casa,

    apresentou melhora significativa apenas para a flexibilidade.

    Fisioterapia realizada em domiclio (adaptaoambiental + prescrio de dispositivo de auxlio +exerccios)

    Dois estudos avaliaram o impacto de um programa de

    fisioterapia individualizado e elaborado a partir da avaliao

    do idoso e do ambiente de sua casa, realizado no domiclio do

    idoso e supervisionado por um fisioterapeuta7,24. Os desfechos

    variam entre os dois estudos.

    Em um dos estudos24, observou-se que a maioria dos idosos

    no avanou alm do nvel inicial de resistncia nos exercciosde fortalecimento. No foi realizada anlise estatstica dos da-

    dos, o que compromete a generalizao dos dados. Os autores

    tambm relataram que o programa foi seguro, pois os eventos

    adversos no foram mais comuns no grupo experimental.

    No outro estudo7, foi demonstrado que o grupo que recebeu

    interveno apresentou reduo significativa na incapacidade

    comparado ao grupo que recebeu palestras educacionais. Os

    benefcios foram maiores no grupo de fragilidade moderada

    que no grupo grave.

    Adaptao ambiental + prescrio de dispositivode auxlio

    Um estudo avaliou se interveno ambiental associada

    prescrio de dispositivo de auxlio, quando necessrio, era

    eficaz na funo, dor e custo do cuidado sade de idosos fr-

    geis25. Aps um perodo de 18 meses de interveno, ambos os

    grupos apresentaram declnio da funo avaliada pelo questio-

    nrio Medida de Independncia Funcional (MIF), entretanto

    esse declnio foi maior no grupo controle. Assim, a interven-

    o no foi capaz de impedir o declnio funcional, mas simdesaceler-lo. Apenas o grupo controle apresentou aumento

    na dor. Na comparao dos custos de cuidado sade, no foi

    encontrada diferena no gasto total, entretanto o grupo con-

    trole apresentou maior gasto com institucionalizao.

    Exerccios na gua

    Apenas um estudo avaliou o efeito do exerccio realizado

    na gua em idosos frgeis26. O estudo investigou o efeito da

    interveno uma vez por semana e duas vezes por semana

    em um perodo de seis meses. No desfecho qualidade de vida,

    verificou-se aumento significativo para os componentes f-

    sico e mental do questionrio SF-36 em trs e seis meses de

    exerccio, comparando com a avaliao pr-interveno. No

    foram verificadas diferenas no grupo controle. Tambm foi

    constatada diferena significativa no escore do questionrio

    MIF entre a avaliao pr e seis meses para os dois grupos de

    interveno e pr e trs meses apenas para o grupo de duas ve-zes por semana e, mais uma vez, no encontraram diferenas

    no grupo controle26.

    Discusso

    Esta reviso sistemtica mostra uma escassez de estudos

    de interveno em idosos considerados frgeis vivendo na co-

    munidade, apesar da grande importncia do tema. Essa escas-

    sez pode estar relacionada aos grandes desafios de se trabalhar

    com essa populao, como ausncia decritrios padronizadospara definio de fragilidade,questes ticas e altas frequn-

    cias de mortalidade e desistncia, dificultando a realizao

    desses estudos8.

    Um problema que dificulta a avaliao das intervenes

    sobre o idoso frgil o fato de os estudos analisados utiliza-

    rem conceitos distintos para definir idoso frgil. As definies

    estavam relacionadas desde as alteraes funcionais, neces-

    sidade de auxlio de terceiros at a associao de mltiplas

    caractersticas (Tabela 2). Essas limitaes impossibilitaram a

    generalizao dos resultados e a comparao desses estudoscom outros.

    Ferrucci et al.8, na tentativa de solucionar esse problema,

    propem a utilizao de um consenso para o estudo de inter-

    venes em fragilidade. Esses autores recomendam que, para a

    sua operacionalizao, os domnios de mobilidade, nutrio e

    composio corporal devem ser avaliados. Essa recomendao

    fundamentada no fato de que a sndrome de fragilidade

    de carter multissistmico e multifatorial3,6. Apesar de serem

    considerados sinnimos por muitos autores e profissionais da

    sade, incapacidade e fragilidade so entidades distintas e po-

    dem ocorrer isoladamente em idosos. Essa distino est bemdemonstrada no estudo de Fried et al.2, no qual 72,8% dos ido-

    sos frgeis no apresentavam incapacidade e 72% dos idosos

    com incapacidade no eram frgeis.

    Esse carter multissistmico da fragilidade e as suas dife-

    rentes definies tambm podem ter influenciado o fato de ter

    sido encontrada grande variedade de desfechos nos estudos.

    Tal heterogeneidade de desfechos dificulta ainda mais a veri-

    ficao de evidncias na reabilitao de idosos frgeis. Entre-

    tanto, alguns estudos compartilham desfechos semelhantes.

    Dentre esses, o desfecho mais frequentemente encontrado nos

    estudos foi capacidade funcional, seja avaliada por autorrelato

    Paula M. M. Arantes, Mariana A. Alencar, Rosngela C. Dias, Joo Marcos D. Dias, Leani S. M. Pereira

    Rev Bras Fisioter. 2009;13(5):365-75.

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    seja por medidas de desempenho fsico1,4,5,7,13-15,17-20,22-26. Prova-

    velmente, esse fato est relacionado ao maior risco de declnio

    funcional apresentado por essa populao e s graves reper-

    cusses promovidas pela incapacidade6,8,9.

    As formas de interveno diferiram muito entre os estudos,

    mesmo quando o desfecho era igual. Alguns estudos tentaram

    dar um enfoque teraputico mais pragmtico, com protoco-los variando de acordo com a avaliao individual de cada

    idoso24; outros, com exerccios que poderiam ser realizados no

    domiclio5,14; outros, com exerccios especficos a serem reali-

    zados em ambientes clnicos1,13e outro, com a associao da

    prtica no domiclio e no ambiente clnico17.

    Em relao aos programas de fortalecimento muscular, os re-

    sultados dos estudos foram contraditrios nos vrios desfechos

    avaliados. Diferenas em relao aos parmetros de tratamento

    adotados parecem no justificar as diferenas significativas

    encontradas, uma vez que a maioria dos parmetros adotados

    foram distintos entre estudos que verificaram um mesmo resul-tado e tinham semelhanas com estudos que tinham resultados

    diferentes. Nos estudos de fortalecimento, o tempo de interven-

    o variou de 105,14a 12 semanas1,13, sendo realizado de duas1a

    trs vezes por semana5,13-15e com o nmero de repeties de trs

    sries de oito5,13ou dez1ou duas sries de dez14. Todos adotaram

    um ajuste sistemtico das cargas e diferiram quanto aos recur-

    sos utilizados para o treino de fora muscular, com exceo de

    um estudo que no descreveu como eram realizados os ajustes

    das cargas e nem o nmero de sries17.

    necessrio cautela na interpretao dos efeitos do for-talecimento em idosos considerados frgeis, uma vez que os

    estudos apresentam problemas de qualidade1,15e estruturao

    metodolgica5,13e de definio da fragilidade1,5,13-15,17.

    Como descrito anteriormente, dois estudos avaliaram im-

    pacto de um programa de trs fases incluindo fisioterapia, for-

    talecimento muscular e treinamento aerbico4,16ao tratar um

    idoso octogenrio frgil. Os dois estudos foram desenvolvidos

    em um mesmo centro de estudos e com os mesmos pesquisa-

    dores. A amostra do estudo de Ehsani et al.16era composta por

    idosos que participaram do estudo de Binder et al.4, e o proto-

    colo era o mesmo. Entretanto, o estudo de Ehsani et al .16focouos aspectos relacionados funo cardiorrespiratria, en-

    quanto Binder et al.4tambm avaliaram a capacidade aerbica

    e outros aspectos relacionados capacidade funcional, funo

    muscular, equilbrio e percepo de sade. Os dois estudos en-

    contraram efeitos positivos desse protocolo sobre as variveis

    avaliadas, mostrando que mesmo um idoso frgil octogenrio

    capaz de realizar adaptaes biolgicas benficas.

    No estudo de Worm et al.17, que tambm utilizou mltiplas

    intervenes, tambm se verificaram benefcios dessa inter-

    veno em idosos frgeis, porm no se descreveu claramente

    quem era o idoso considerado frgil.

    As evidncias dos benefcios de um treino funcional em

    idosos frgeis so poucas. Apesar de terem sido encontra-

    dos cinco artigos que avaliaram os efeitos do treino fun-

    cional, quatro deles faziam parte do mesmo estudo, s que

    consideraram desfechos diferentes18-21,. Na verdade, apenas

    dividiram-se os artigos de acordo com os desfechos. Assim,

    apesar de ter sido apontado benefcio do programa na capa-cidade funcional, aumento na massa magra e qualidade de

    vida , os resultados ainda so escassos em relao a esse tipo

    de interveno.

    Estudos a respeito da eficcia de intervenes fisioterpicas

    e adaptao ambiental mais prescrio de dispositivo de aux-

    lio foram encontrados na literatura7,23-25. Uma vantagem dessas

    intervenes que elas se aproximam da abordagem realizada

    pelo fisioterapeuta na prtica clnica, com implementao de

    um programa multifatorial.

    No estudo conduzido por Brown et al.23, avaliou-se o efeito

    de um programa de fisioterapia de baixa intensidade que pos-sui exerccios de equilbrio, coordenao, flexibilidade, fortale-

    cimento e tempo de reao no tratamento de idosos frgeis. Os

    autores verificaram uma melhora significativa na fora mus-

    cular, flexibilidade, equilbrio, coordenao, cadncia e funo

    aps seis meses de interveno com a realizao dos exerccios

    trs vezes por semana. Eles concluram que essa pode ser uma

    alternativa eficaz para idosos que no conseguem acompanhar

    programas mais vigorosos, mas que, apesar da melhora na fun-

    o fsica, no se conseguiu eliminar a fragilidade, ressaltando

    a importncia da preveno.Uma importante concluso dos autores que avaliaram a

    eficcia das abordagens adaptao ambiental e prescrio

    de dispositivo de auxlio e tambm dessas abordagens asso-

    ciadas realizao de exerccios foi que essas intervenes

    foram capazes de reduzir o declnio funcional, mas no evit-

    lo7,25. Ambos os estudos acompanharam os idosos por longo

    perodo, 12 e 18 meses, sendo que um deles demonstrou que

    os benefcios s apareceram aps seis meses de interveno.

    Assim, o perodo de durao de intervenes em idosos

    frgeis visando melhora da funo deve ser escolhido com

    cautela. Alm disso, o nvel de fragilidade deve ser levadoem considerao, uma vez que, ao estratificar os idosos em

    moderados e graves, aqueles com nvel de fragilidade grave

    no se beneficiaram da interveno. Entretanto, deve-se ter

    cautela ao interpretar esses dados devido dificuldade de

    categorizao de nvel de fragilidade e ao pequeno nmero de

    estudos avaliando essa questo.

    O nico estudo encontrado que avaliou os benefcios de

    exerccios na gua foi o estudo de Sato et al. 26. Eles verificaram

    melhora na qualidade de vida e funcionalidade nos idosos que

    consideraram como frgeis. E ainda verificaram que a frequncia

    da prtica tambm influencia a velocidade de melhora. Os

    Reabilitao do idoso frgil

    Rev Bras Fisioter. 2009;13(5):365-75.

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    pesquisadores consideraram frgeis os idosos que apresentavam

    at cinco limitaes funcionais e adotaram critrios de seleo

    mais rigorosos; portanto, dependendo da definio de fragili-

    dade utilizada por um profissional, o exerccio aqutico pode se

    tornar uma prtica de risco de intercorrncia para o idoso.

    Um problema importante verificado nesta reviso foi re-

    lacionado qualidade dos estudos disponveis na literatura.Algumas limitaes metodolgicas importantes foram encon-

    tradas, e alguns estudos apresentam baixa qualidade metodo-

    lgica na avaliao pela escala PEDro1,4,15,20,23,24, o que dificulta a

    interpretao dos resultados. Em dois estudos, os idosos no

    foram alocados aleatoriamente nos grupos5,15. Em vrios, os

    examinadores no eram cegados1,4,7,15-21,23-25, no foi realizada

    anlise de inteno de tratar1,4,7,14,16-21,23-25, e apenas um22citou

    que foi realizado o clculo de tamanho amostral. Essa questo

    se torna de extrema relevncia em estudos com altas frequn-

    cias de desistncias e bitos, como o caso dos estudos anali-

    sados. preconizado que perdas na amostra sejam mantidas

    at 20%, computadas no clculo amostral, e que seja realizada

    anlise de inteno de tratar8. Os estudos no seguiram tais

    recomendaes. Em relao ao poder estatstico, somente um

    artigo5realizou esse clculo, no sendo possvel afirmar se a

    ausncia de melhora significativa devido s intervenes em

    alguns estudos ocorreu por falta de eficcia da tcnica ou por

    tamanho insuficiente de amostra.

    Outra dificuldade encontrada neste estudo foi o grande n-

    mero de intervenes encontradas na literatura, com pequeno

    nmero de publicaes para cada tipo de interveno. Isso

    certamente restringe as concluses. Futuros estudos devem

    avaliar especificamente cada tipo de interveno, uma vez

    que est clara a necessidade de estudos de interveno sobre

    o tema. Alm disso, importante que os prximos estudos uti-lizem critrios adequados para a definio de fragilidade e os

    deixem claros no texto.

    Concluso

    Existem poucas evidncias sobre os efeitos de in-

    tervenes ou preveno em idosos frgeis vivendo na

    comunidade. A diversidade dos critrios usados para ca-

    racterizar o que um idoso frgil dificulta a realizao e a

    comparao entre os estudos. Devido ao pequeno nmerode estudos encontrado, no foi possvel estabelecer con-

    senso a respeito da eficcia das interv enes. Parece haver

    concordncia entre alguns autores de que, apesar de terem

    sido encontrados ganhos significativos em relao fora,

    equilbrio e capacidade funcional, no foi possvel, com as

    intervenes utilizadas, reverter ou impedir a progresso

    da fragilidade.

    Paula M. M. Arantes, Mariana A. Alencar, Rosngela C. Dias, Joo Marcos D. Dias, Leani S. M. Pereira

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