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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL NORMA LAÍS DA SILVA E SILVA ATERRO SANITÁRIO PARA RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS - RSUMATRIZ PARA SELEÇÃO DA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO FEIRA DE SANTANA 2011

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL

NORMA LAÍS DA SILVA E SILVA

ATERRO SANITÁRIO PARA RESÍDUOS SÓLIDOS

URBANOS - RSU– MATRIZ PARA SELEÇÃO DA ÁREA DE

IMPLANTAÇÃO

FEIRA DE SANTANA

2011

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II

NORMA LAÍS DA SILVA E SILVA

ATERRO SANITÁRIO PARA RESÍDUOS SÓLIDOS

URBANOS - RSU – MATRIZ PARA SELEÇÃO DA ÁREA DE

IMPLANTAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Departamento de

Tecnologia da Universidade Estadual de

Feira de Santana como requisito para

obtenção de título de bacharel em

Engenharia Civil.

Orientador: Profª Doutora Sandra Maria Furiam Dias

FEIRA DE SANTANA

2011

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III

NORMA LAÍS DA SILVA E SILVA

ATERRO SANITÁRIO PARA RESÍDUOS SÓLIDOS

URBANOS - RSU – MATRIZ PARA SELEÇÃO DA ÁREA DE

IMPLANTAÇÃO

Monografia submetida à banca

examinadora como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de

bacharel em Engenharia Civil.

Feira de Santana, 18 de Agosto de 2011

BANCA EXAMINADORA

Profª. Drª. Sandra Maria Furiam Dias

Universidade Estadual de Feira de Santana

Prof. Me. Diogenes Oliveira Senna

Universidade Estadual de Feira de Santana

Profª. Drª Maria do Socorro Costa São Mateus

Universidade Estadual de Feira de Santana

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IV

Dedico este trabalho aos meus

pais, pelo amor incondicional a mim

dedicado.

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V

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus. Foi por Seu nome que chamei nos

momentos mais difíceis dessa caminhada e a Sua luz me direcionou nesse caminho.

Aos meus pais, Ismar Moreira e Maria Rita, por me apoiarem

incondicionalmente, acreditarem no meu potencial, investirem na minha escolha,

enfrentarem comigo as dificuldades da distância e me ensinarem valores que carregarei

comigo o resto da vida. Aos meus irmãos Ney Carlos e Ana Naara, por serem amigos,

conselheiros e atentos expectatores da minha vida acadêmica.

A minha família, tios, primos e madrinha, pelo apoio e amor. Em especial ao

meu vô Abílio, de quem sinto muitas saudades. Aos cunhados Dani e Marcos. As

minhas primeiras companheiras de república, Lu, Leidy e Maevy. A minha querida

amiga Vanusia e ao meu pequenino Luidhy. A Aninha, Priscila, Camila e Lorena pelos

momentos de alegria. Aos amigos de infância, da escola e da vida. Agradeço a vocês

por me fazerem a cada dia uma pessoa melhor e mais feliz.

Aos professores e colegas das escolas Construção do Saber e Instituto

Educacional Valentense, companheiros, incentivadores e co-autores da minha vida

estudantil. Aos professores da UEFS, pelo conhecimento transmitido, em especial aos

professores Carlos Uchôa e Maria do Socorro, pela oportunidade da iniciação científica.

A minha orientadora, Sandra Furiam, pela paciência, ensinamento e compreensão das

minhas dificuldades.

Aos queridos e inesquecíveis amigos da turma 2006.2. Em especial a Rafa,

pelos gestos de carinho e atenção a mim dedicados. A Túlio, pelos diversos momentos

de alegria, estudo e incentivo sempre. A Fran, por tantos e tantos motivos. Amiga-irmã,

companheira de casa, de estudos, sorrisos e lágrimas. Vocês são muito especiais para

mim.

Aos colegas e amigos da EPP e Premier Feira, pelo aprendizado e pela

oportunidade de iniciar e prosseguir na minha carreira profissional, meu muito obrigada.

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VI

RESUMO

SILVA, N. L. S. Aterro Sanitário para resíduos sólidos urbanos - RSU –

Matriz para Seleção da Área de Implantação. Feira de Santana, 2011. Trabalho de

Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) – Universidade Estadual de Feira

de Santana.

A disposição inadequada de resíduos sólidos, que contamina os recursos

hídricos, o solo, o visual do ambiente e atrai catadores, crianças carentes e animais,

vetores de doenças, ainda é um problema presente em muitas localidades. Para resolver

essa problemática, uma alternativa ambientalmente correta de descarte é o aterro

sanitário. O bom desempenho do mesmo, sob os aspectos ambientais, técnicos,

econômicos, sociais e de saúde pública, está diretamente ligado a uma adequada escolha

da área de implantação, a qual envolve diferenciados critérios. A avaliação de critérios

ambientais (características geotécnicas do solo, distância para os recursos hídricos

superficiais, distância para os recursos hídricos subterrâneos, potencial hídrico, fauna e

flora), de uso e ocupação do solo (titulação da área, distância dos núcleos populacionais,

legislação municipal) e operacionais (economia de transporte, vida útil, espessura do

solo, disponibilidade de infra-estrutura, declividade) deve ser observada buscando

satisfazê-los. Neste trabalho, por meio de uma revisão bibliográfica, analisou-se cada

critério de seleção, atribuindo-lhes pesos e organizando-os em uma matriz, cujo

preenchimento classifica as áreas mais aptas para instalação de aterros sanitários.

PALAVRAS – CHAVE: aterro sanitário; matriz de seleção; resíduos sólidos

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VII

ABSTRACT

SILVA, N. L. S. Sanitary landfill for urban solid waste - Matrix for

Selecting the Disposed Area. Feira de Santana, 2011. End of Course Work (Civil

Engineering Graduation) - Universidade Estadual de Feira de Santana.

The inappropriated disposal of solid waste, which contaminates the soil, water

resources and the environment landscape, is still an existing problem in many locations.

To solve this problem a correct environmental alternative of disposal is the landfill. The

good performance of the landfill even under environmental, technical, economical,

social and public health aspects is directly related an adequated choice of the area of

disposed, which involves different criteria. The assessment of environmental criteria

(geotechnical characteristics of soil, distance to surface water resources, distance to

groundwater resources, water potential, fauna and flora), use and occupation of land

criteria (titration area, distance from population centers, municipal law) and operational

criteria (transport economy, useful life, soil thickness, infrastructure availability, slope)

should be observed to attend to fulfill these criteria. In this work, by a literature review,

we analyzed each selection criteria, gissing them weights and organizing them into a

matrix, which classifies the most indicated areas for sanitary landfills construction

KEY – WORDS: landfill; selection matrix; solid waste

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Influência de aspectos culturais na geração de resíduos...................................8

Figura 2 - Geração de resíduos em alguns países..............................................................8

Figura 3 - Esquema hierárquico de aplicação do Gerenciamento Integrado de Resíduos

Sólidos Urbanos...............................................................................................................11

Figura 4 - Exemplo de estrutura organizacional do sistema de gerenciamento integrado

de RSU para um município de pequeno porte.................................................................12

Figura 5 - Ilustração da poluição do solo pelo chorume..................................................20

Figura 6 - Funcionamento de um aterro controlado........................................................22

Figura 7 - Funcionamento de um aterro sanitário............................................................23

Figura 8 - Corte de um aterro sanitário............................................................................24

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IX

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Destino dos resíduos sólidos no Brasil em 2008 por número de cidades........7

Tabela 2 – Critérios a serem observados na escolha de área de aterro sanitário para

resíduos sólidos urbanos segundo Massunari (2000)......................................................41

Tabela 3 – Critérios a serem observados na escolha de área de aterro sanitário para

resíduos sólidos urbanos segundo Monteiro e Zveibil

(2001)...............................................................................................................................41

Tabela 4 – Critérios a serem observados na escolha de área de aterro sanitário para

resíduos sólidos urbanos segundo Gomes (2003)............................................................42

Tabela 5 – Critérios a serem observados na escolha de área de aterro sanitário para

resíduos sólidos urbanos segundo Correa e Lança

(2008)...............................................................................................................................42

Tabela 6 – Resumo dos pesos atribuídos pelos autores e determinação do peso final dos

critérios da matriz de seleção para áreas de implantação de aterros sanitários...............44

Tabela 7 – Faixas para análise final das áreas.................................................................45

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X

SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1

1.1- OBJETIVOS.............................................................................................................. 3

1.1.1 – Objetivo geral ....................................................................................................... 3

1.1.2 – Objetivo específico ............................................................................................... 4

2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 5

2.1- RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS ......................................................................... 5

2.1.1- Conceitos Gerais .................................................................................................... 5

2.1.2- Aspectos sobre a disposição Final de Resíduos Sólidos ........................................ 6

2.1.3- Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos ..................................... 10

2.1.4- Políticas Voltadas à Disposição de Resíduos Sólidos .......................................... 13

2.1.5- Formas de Disposição de Resíduos Sólidos ......................................................... 19

2.2- A SELEÇÃO DA ÁREA DE UM ATERRO SANITÁRIO E SUAS VARIÁVEIS

........................................................................................................................................ 26

2.2.1- Critérios Ambientais ............................................................................................ 27

2.2.2- Critérios de Uso e Ocupação do Solo................................................................... 31

2.2.3- Critérios Operacionais .......................................................................................... 34

3- METODOLOGIA .................................................................................................... 38

4- ELABORAÇÃO DA MATRIZ ............................................................................... 40

5- RESULTADOS..... .................................................................................................... 46

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 50

7- REFERÊNCIAS .......................................................................................................52

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1. INTRODUÇÃO

O saneamento básico é entendido como um conjunto de ações que visa

promover a saúde e o bem-estar da população, objetivando alcançar a salubridade

ambiental. Dentre os serviços previstos para atingir tal objetivo está a limpeza pública,

incluindo nesse aspecto a coleta e a disposição final de resíduos sólidos.

Sabe-se que a geração de resíduos é uma ação inevitável no dia-a-dia do

homem, seja para suprir suas necessidades básicas, seja para movimentar a economia e

o comércio. Entretanto, existe a preocupação, em nível mundial, de reduzir a geração de

resíduos pelo impacto que o descarte dos mesmos gera no meio ambiente.

Dias (2003) afirma que repensar a questão do lixo na sociedade é um passo

importante para atingir reduções na quantidade de resíduos gerados. “Economizar os

recursos da natureza por meio da minimização, da reciclagem e de um trabalho

transdisciplinar de transformação da sociedade” (DIAS - 2003, p.4) são meios de atingir

um manejo eficiente dos resíduos. Boff (2000) reflete sobre essa necessidade de

transformação da sociedade de consumo em uma sociedade consciente e sustentável

que:

[...] produz o suficiente para si e para os seres dos ecossistemas onde

ela se situa; que toma da natureza somente o que ela pode repor; que

mostra um sentido de solidariedade generacional, ao preservar para as

sociedades futuras, os recursos naturais de que elas precisarão. Na

prática, a sociedade deve mostrar-se capaz de assumir novos hábitos e

de projetar um tipo de desenvolvimento que cultive o cuidado com os

equilíbrios ecológicos e funcione dentro dos limites impostos pela

natureza. Não significa voltar ao passado, mas oferecer um novo

enfoque para o futuro comum. Não se trata, simplesmente, de não

consumir, mas de consumir responsavelmente. O móvel deste tipo

de desenvolvimento não está na mercadoria, nem no mercado, nem no

estado, nem no setor privado, nem na produção de riqueza. Mas na

pessoa humana, na comunidade e nos demais seres vivos que

partilham com ela a aventura terrenal. (BOFF 2000, p.137, grifei)

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Aliada à mudança comportamental da sociedade, deve existir uma maior

preocupação do poder público quanto à destinação final dos resíduos gerados. A

disposição inadequada de resíduos sólidos ainda é um problema presente em muitas

localidades. Uma cena que ainda pode ser observada em muitas localidades do Brasil

são depósitos de lixo descartados a céu aberto, que contaminam os recursos hídricos, o

solo, o visual do ambiente e atraem catadores, crianças carentes e animais, vetores de

doenças.

Para resolver essa problemática uma alternativa ambientalmente correta de

descarte é o aterro sanitário. Trata-se de uma forma antiga de tratamento dos resíduos,

muito utilizada em todo o mundo, principalmente, como afirma Pfeiffer (2002), por se

tratar de uma técnica simples e econômica de disposição final de resíduos sólidos. De

maneira geral, consiste na impermeabilização do terreno, instalação de sistemas de

drenagem para os líquidos e gases produzidos, recebimento dos resíduos devidamente

cadastrados para o aterro em questão, disposição dos mesmos em camadas,

compactação com espessura controlada e cobertura com uma camada de terra. Requer

estudos e técnicas de engenharia para alcançar o objetivo proposto de receber e confinar

o lixo produzido pelos habitantes de uma determinada localidade, ocupando a menor

área possível e reduzindo, ao máximo, o volume a ser estocado. Os aterros sanitários

como são conhecidos hoje evoluíram bastante, especialmente no que se refere à redução

da interferência que a sua instalação e operação podem causar no meio ambiente, visto

que antes de sua implantação estudos criteriosos são realizados.

O bom desempenho de um aterro sanitário, sob os aspectos ambientais,

técnicos, econômicos, sociais e de saúde pública, está diretamente ligado, em primeira

instância, a uma adequada escolha da área de implantação. Tal seleção caracteriza-se na

primeira etapa mais importante da concepção de um aterro sanitário, influenciando

diretamente na segurança e eficiência das etapas posteriores. O projeto, que se inicia

com estudos para triagem da área, deve se estender com atenção às etapas de

licenciamento ambiental, implantação, operação, monitoramento e encerramento do

aterro.

No que tange ao meio ambiente, técnicas como a apresentada, que possibilitem

a redução de impactos ambientais e proteção ao meio ambiente, devem ser

popularizadas e estimuladas no campo da Engenharia. Estudar as diversas “alternativas

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locacionais é considerado um importante instrumento de planejamento ambiental, pois

muitos impactos ambientais podem ser evitados ou minimizados com a escolha de local

adequado para a implantação do empreendimento”. (MASSUNARI, 2000, p.17).

De tal modo, os benefícios de uma seleção coerente da área para implantação

se assemelham com os benefícios do próprio aterro sanitário. Além da escolha correta

possibilitar o controle da poluição ambiental, a implantação de um aterro sanitário

permite a redução da poluição visual e proteção à saúde pública, podendo ainda ser

entendido como um tratamento, pois o conjunto de processos físicos, químicos e

biológicos que ocorrem tem como resultado uma massa de resíduos mais estáveis,

química e biologicamente e a geração de um sub-produto que é o biogás.

Os aterros sanitários configuram-se, portanto, como uma maneira correta e

segura de disposição final do lixo, exigindo para sua eficiência e eficácia que o processo

de escolha da sua área seja feito de uma maneira minuciosa e atenta para todos os

aspectos que interferem nesse processo. A avaliação de critérios ambientais (geologia,

geotecnia, recursos hídricos, etc.), de uso e ocupação do solo (legislações, titularidade

da área, núcleos populacionais, etc.) e operacionais (infra-estrutura, clinografia,

espessura do solo, etc.) deve ser realizada buscando satisfazê-los ao máximo. Por se

tratar de um processo de escolha que envolve diversas variáveis a aplicação de uma

matriz que permita a pontuação e classificação de áreas mais ou menos aptas configura-

se como uma ferramenta valiosa. A mesma garante que as variáveis mais relevantes

sejam avaliadas e que a área mais pontuada esteja apta a acomodar um aterro sanitário.

1.1- OBJETIVOS

1.1.1 – Objetivo geral

Elaborar uma matriz de orientação para a escolha de áreas adequadas para

implantação de um aterro sanitário.

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1.1.2 – Objetivo específico

Selecionar os critérios ambientais, operacionais e de uso e ocupação do solo

mais relevantes na composição da matriz;

Estabelecer pesos condizentes com os critérios escolhidos diante da relevância

dos mesmos.

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2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1- RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

2.1.1- Conceitos Gerais

A compreensão do tema em estudo requer a definição e o conhecimento do

termo a seguir:

a) Resíduos sólidos

A NBR 10004 (ABNT, 2004), Classificação de Resíduos Sólidos, define como

resíduos sólidos aqueles:

Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades

de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de

serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos

provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em

equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como

determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu

lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam

para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à

melhor tecnologia disponível. (ABNT - NBR 10004, 2004, p.1)

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei Federal nº

12.305 (2010) entende resíduo sólido como:

Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de

atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede,

se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido

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ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos

cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede

pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções

técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia

disponível; (BRASIL- Lei Federal nº 12.305, 2010)

Restringindo a conceituação sob um aspecto mais espacial, a NBR 8419

(ABNT, 1992) refere-se aos resíduos sólidos urbanos (RSU) como aqueles “gerados

num aglomerado urbano, excetuados os resíduos industriais perigosos, hospitalares

sépticos e de aeroportos e portos, [...]” (ABNT, NBR 8419, 1992, p.2).

2.1.2- Aspectos sobre a Disposição Final de Resíduos Sólidos

O aumento do uso de produtos industrializados trouxe consigo um acréscimo

na geração de resíduos, tanto no processo produtivo quanto no consumo em si. Esse

aumento do consumo não é acompanhado pela natureza na velocidade de decomposição

dos resíduos, o que gera um montante de lixo, que muitas vezes não tem uma destinação

adequada, acarretando em um problema ambiental e de saúde pública.

A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), realizada no ano de 2008

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério

das Cidades, revelou a grandeza do problema dos lixões no Brasil, como se observa na

tabela 1 que segue:

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TABELA 1 – Destino dos resíduos sólidos no Brasil em 2008 por número de cidades (Adaptado

de PNSB - 2008, 2010)

Municípios, total e com serviço de manejo de resíduos sólidos, por unidade de destino dos resíduos sólidos

domiciliares e/ou públicos, segundo os grupos de tamanho dos municípios e a densidade populacional - Brasil –

2008

Grupo de tamanho dos

municípios e

densidade

populacional

Municípios

Total

Com serviço de manejo de resíduos sólidos

Total

Unidade de destino dos resíduos sólidos domiciliares e/ou públicos

Vazadouro

a céu

aberto

(lixão)

Vazadouro

em áreas

alagadas

ou

alagáveis

Aterro

controla

do

Aterro

sanitário

Unidade

de

composta

gem de

resíduos

orgânicos

Unidade

de triagem

de resíduos

recicláveis

Unidade de

tratamento

por

incineração

Outra

Total 5564 5562 2810 14 1254 1540 211 643 34 134

100,00

%

99,96

% 50,50% 0,25% 22,54% 27,68% 3,79% 11,56% 0,61% 2,41%

Analisando os dados dispostos na tabela 1 observa-se que a destinação final

dos resíduos para vazadouros a céu aberto (lixões) é presente em 50,5% dos municípios

brasileiros. Apesar da gradativa alteração deste quadro nos últimos 20 anos, sobretudo

nas Regiões Sudeste e Sul do País, trata-se de um cenário de destinação

reconhecidamente inadequado, que exige soluções urgentes e estruturais para o setor.

Junto com a coleta e tratamento de esgoto, os lixões são um dos principais

problemas de saneamento básico do Brasil. Maiores investimentos nessa área se fazem

necessários para reverter tal quadro e atender as exigências da Lei Federal n°12.305

(BRASIL - Lei Federal nº12.305, 2010), que dá o prazo máximo até o ano de 2014 para

os municípios destinarem corretamente os seus resíduos sólidos em aterros sanitários.

No que tange à titularidade dos serviços, outros dados da pesquisa revelaram

que a maior parte das prefeituras (59,1%), incumbiu-se exclusivamente da prestação dos

serviços “destacando-se o caso da Região Norte, onde chegou a 90% dos municípios.

Contudo, observou-se que 31,2% das prefeituras executaram os serviços em parceria

com outras entidades, sobretudo no Centro-sul do País” (PNSB – 2008, 2010, p. 29).

O desenvolvimento e aplicação de tecnologias comprometidas com a

preservação do meio ambiente e com a preservação da qualidade de vida devem

aumentar em dimensão proporcional à geração de resíduos. Assim, “a preocupação

ecológica e social com os resíduos assume dimensão crescente, pela necessidade de se

definir que destinos devem ter os restos e as sobras, resultantes das necessidades básicas

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da sociedade e aquelas decorrentes do atendimento a demandas supérfluas”

(MANDARINO, 2002 apud BARBOSA, 2004, p. 19).

Há diversos fatores que influenciam nas características e no volume de

resíduos gerados. De maneira geral, fatores climáticos, geográficos, demográficos,

socioeconômicos e culturais devem ser analisados na etapa da concepção do projeto de

um aterro sanitário. O estudo técnico da caracterização, que determina a composição da

massa de resíduos e informa as porcentagens de cada componente em relação ao peso

total é importante para revelar hábitos da comunidade e fornecer “subsídios básicos para

o dimensionamento e a forma de processamento desses resíduos” (DIAS – 2003, p.48).

Os dados apresentados nas figuras 1 e 2 exemplificam a relação entre fatores

econômicos e geração de resíduos (Figura 1) e a relação entre volume de lixo produzido

e número de habitantes (Figura 2), no qual os países com maior volume de lixo

produzido por ano também se encontram na lista dos dez países mais ricos do mundo.

Figura 1 – Influência de aspectos culturais na geração de resíduos (Baseado em

Superinteressante, 2011).

Figura 2 – Geração de resíduos em alguns países (Baseado em Superinteressante,

2011)

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Conhecer as taxas demográficas é importante no momento de se planejar as

instalações e os equipamentos de um sistema de coleta, para garantir que o volume de

resíduos do projeto seja o mais próximo do volume real a ser coletado e para que o

espaço e a infra-estrutura dimensionados para o aterro não sejam insuficientes.

(MONTEIRO e ZVEIBIL, 2001, p. 39)

Além do aumento da geração de resíduos, o crescimento populacional

associado à crescente urbanização, acarreta outras interferências quando da instalação

de aterros sanitários. As cidades mais ocupadas, que logicamente produzem um maior

volume de lixo, são as que encontram maior dificuldade para destinação final desse

montante. No caso de se optar pela construção de um aterro sanitário, como as áreas já

estão densamente ocupadas, as que se encontram disponíveis apresentam, na maioria

das vezes, implicações de ordem econômica e ambiental.

Essa foi uma dificuldade encontrada em Porto Alegre onde, segundo Reichert

(1997):

[...] a disponibilidade de áreas para implantação de novos aterros

sanitários está cada vez menor. Primeiro, pela grande rigidez na

avaliação das áreas potenciais visando à proteção ambiental e

sanitária; segundo, devido à expansão urbana, que diminui a

existência de áreas de uso rural ou extensiva nas regiões

metropolitanas, propícias a tais investimentos, em muitos casos

eliminando-as. (REICHERT, G.A.,1997, p.1853)

Devido a esse impasse, que já era observado desde o ano de 1997 e ainda é

uma realidade, uma abordagem técnica deve ser muito mais precisa para avaliar e

escolher uma área de implantação. Na maioria das vezes, o que se vê são aterros

sanitários construídos em locais distantes das cidades, em função do mau cheiro e da

possibilidade de contaminação do solo e de águas subterrâneas.

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2.1.3- Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos

Em grande parte dos municípios brasileiros, principalmente naqueles

considerados de pequeno porte, com população de até 20.000 habitantes, a disposição

inadequada de resíduos sólidos é um problema visível. Há localidades em que o lixo é

depositado sem nenhum tipo de tratamento no solo das zonas rurais, para servir como

alimento aos animais e adubo à terra. Tal prática indica a falta de consciência e

preocupação da prefeitura do local com a situação do lixo, desconsiderando o

crescimento de vetores e a contaminação do solo e dos animais por produtos tóxicos

presentes no lixo. Vale salientar que a questão da redução desses resíduos e sua

destinação final devem envolver, além da participação do governo, da iniciativa privada

e da sociedade civil organizada, levando em conta as características dos municípios,

como sua estrutura organizacional, conscientização da população e previsões

orçamentárias (ZANTA, 2003).

Esse é o propósito do Plano de Gerenciamento Integrado de RSU, definido

pelo Ministério do Meio Ambiente como:

Um documento que apresenta a situação atual do sistema de limpeza

urbana, com a pré-seleção das alternativas mais viáveis, com o

estabelecimento de ações integradas e diretrizes sob os aspectos

ambientais, econômicos, financeiros, administrativos, técnicos, sociais

e legais para todas as fases de gestão dos resíduos sólidos, desde a sua

geração até a destinação final (MMA, 2001 apud ZANTA, 2003, p.

14).

Esse plano de gerenciamento faz parte do Gerenciamento Integrado de RSU

(GIRSU), que visa à operação do sistema de limpeza urbana (ZANTA, 2003). Como um

dos aspectos básicos para o desenvolvimento de um GIRSU tem-se o conhecimento da

definição de resíduos sólidos, sua classificação e caracterização, bem como dos aspectos

legais e normativos referentes ao assunto. A classificação correta dos resíduos auxilia na

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escolha do gerenciamento mais viável para cada situação e a caracterização possibilita a

escolha do tratamento e da disposição final mais adequada para cada resíduo.

Entende-se aqui gerenciamento e gestão de resíduos sólidos da mesma maneira

como referida na Lei Federal nº 12.305:

X - gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas,

direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo,

tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos

sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de

acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos

ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na

forma desta Lei;

XI - gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas

para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a

considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e

social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento

sustentável (BRASIL – Lei Federal nº 12.305, 2010).

A gestão e o gerenciamento integrado de resíduos sólidos devem ter como

estratégia principal a redução da geração do resíduo, com minimização do volume de

material descartado, em seguida o incentivo ao reaproveitamento e em paralelo a

reciclagem do mesmo, para, posteriormente, os resíduos seguirem para um processo de

tratamento e disposição final. Tal prática é mencionada na Lei Federal nº 12.305 de

agosto de 2010, a qual indica que o sistema de GIRSU prioriza como hierarquia de

aplicação (Figura 3):

Figura 3 – Esquema hierárquico de aplicação do Gerenciamento Integrado de

Resíduos Sólidos Urbanos

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12

No entanto, Zanta (2003) ressalva que tal sequência de aplicação depende das

especificidades de cada tipo de resíduo e das condições que o município oferece em

termos legais, sociais, econômicos, culturais e tecnológicos

O cumprimento das metas estabelecidas pelo sistema de GIRSU depende da

estrutura organizacional disponível. Em municípios de pequeno porte a prefeitura

municipal (Figura 4) é a principal responsável pelo gerenciamento dos resíduos sólidos,

estando os setores designados a gerenciar os mesmos vinculados a prefeitura por meio

de uma organização hierárquica.

Figura 4 - Exemplo de estrutura organizacional do sistema de gerenciamento integrado

de RSU para um município de pequeno porte. (ZANTA, 2003, p.11)

Planejamento estratégico baseado na aliança entre os três setores da sociedade

(empresas, governo e sociedade civil), conhecimento técnico, disponibilidade de

investimento nas ações previstas, conscientização da população quanto à redução de

lixo gerado e consolidação das competências do órgão gestor são essenciais para o

GIRSU atingir uma eficácia satisfatória. Moraes (2002) resume a proposta da Gestão

Integrada de RSU:

A busca de um novo paradigma para o adequado manejo dos resíduos

sólidos é certamente um dos principais desafios deste novo milênio.

As soluções geralmente isoladas e estanques, até aqui praticadas,

cometem o equívoco de tratar de forma parcial a problemática de

resíduos sólidos urbanos. A solução pode estar no desenvolvimento de

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13

modelos integrados e sustentáveis, que considerem desde o momento

da geração dos resíduos, a maximização de seu reaproveitamento e

reciclagem, até o processo de tratamento e disposição final.

(MORAES, 2002, p.2)

2.1.4- Políticas Voltadas à Disposição de Resíduos Sólidos

Em 01 de março de 1979, a Portaria MINTER n° 053, que dispõe sobre o

destino e tratamento de resíduos, foi aprovada e é considerada a primeira legislação

direcionada aos resíduos. Entretanto 32 anos após sua aprovação ainda são muitas as

obrigações a serem atendidas, estendidas e melhoradas.

Problemas envolvendo o descarte inadequado de pilhas e baterias, o panorama

cultural das empresas geradoras de resíduos volumosos e muitas vezes perigosos e a

própria sociedade que, sem uma devida educação ambiental, muitas vezes não se

interessa pela proteção ao meio ambiente, ainda são aspectos a serem melhorados.

O Decreto Federal 7404, de 23 de dezembro de 2010, que regulamenta a Lei no

12.305, de 2 de agosto de 2010, “institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o

Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador

para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa” se constitui, sob o aspecto da

legislação, no objeto mais recente de proteção ao meio ambiente. A Lei Federal nº

12.305 (2010) discorre sobre a responsabilidade e devidas obrigações dos setores

particulares, da União e dos governos estaduais e municipais no que se refere aos

resíduos gerados por suas atividades e pela sociedade.

A mesma apresenta como princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos

(PNRS):

I - a prevenção e a precaução;

II - o poluidor-pagador e o protetor-recebedor;

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III - a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as

variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de

saúde pública;

IV - o desenvolvimento sustentável;

V - a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento,

a preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam

as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do

impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no

mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta;

VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor

empresarial e demais segmentos da sociedade;

VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos

produtos;

VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável

como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e

renda e promotor de cidadania;

[...]

IX - o respeito às diversidades locais e regionais;

X - o direito da sociedade à informação e ao controle social;

XI - a razoabilidade e a proporcionalidade. (BRASIL – Lei Federal nº

12.305, 2010)

A partir desses princípios, a Política busca implantar uma visão diferenciada de

resíduo sólido e um comportamento desigual do que vigora na sociedade, sob um

conceito inovador denominado de logística reversa, definido no Artigo 13 do Decreto

7404/2010 como:

[...] o instrumento de desenvolvimento econômico e social

caracterizado pelo conjunto de ações, procedimentos e meios

destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao

setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros

ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.

(BRASIL - Decreto 7404, 2010)

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15

Essa sistemática se justifica para alcançar um dos objetivos desse regulamento,

de priorizar, como sequência, a não-geração e redução de resíduos, e, mesmo depois de

gerados, não descartá-los diretamente, aplicando a logística reversa de restituí-los a

sociedade, com práticas de reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos.

Segundo a advogada Tatiana Abranches

[...] a logística reversa, tanto sob o aspecto constitucional como

empresarial, afigura-se aceitável, tendo em vista o seu nobre objetivo

de prevenir e recuperar danos e prejuízos, por intermédio da

integração entre União, Estados, Municípios e particulares para

executar investimentos e esforços para a conservação do meio

ambiente (ABRANCHES, 2010, p.33).

A proibição mais relevante declarada na Lei Federal n° 12.305 é o lançamento

de resíduos sólidos ou rejeitos em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídricos, bem

como a céu aberto, excetuados os resíduos de mineração. Essa proibição, desde que

realmente respeitada, acabará com os lixões e, por conseqüência, reduzirá a

disseminação de doenças provocadas por vetores como baratas, moscas e ratos.

Em vista da proibição acima citada, os governos estaduais e municipais são

obrigados a elaborar um Plano de Gestão de Resíduos Sólidos, nos termos previstos

pela referida Lei, como condição para “terem acesso a recursos da União, ou por ela

controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à gestão de resíduos

sólidos, ou serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais

de crédito ou fomento para tal finalidade” (BRASIL – Lei Federal n° 12.305, 2010).

O referido plano de gestão deverá prever as soluções disponíveis para atender à

disposição correta de resíduos, considerando suas dimensões políticas, econômicas,

ambientais, culturais e sociais. Além disso, deve prever zonas adequadas para a

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implantação de unidades de tratamento de resíduos sólidos ou de disposição final de

rejeitos.

A Lei Federal n° 12.305 permite a utilização de tecnologias visando à

recuperação energética dos RSU, “desde que tenha sido comprovada sua viabilidade

técnica e ambiental e com a implantação de programa de monitoramento de emissão de

gases tóxicos, aprovado pelo órgão ambiental” (BRASIL – Lei Federal n 12.305, 2010).

Nas disposições finais, a lei prevê o cumprimento, pelos estados e municípios,

da elaboração do citado Plano de Gestão de Resíduos Sólidos no prazo máximo de 2

(dois) anos após sua publicação, assim como da disposição final ambientalmente

adequada dos rejeitos no prazo máximo de 4 (quatro) anos. Tais prazos implicam que

até 2012 todas as prefeituras já deverão ter elaborado seu plano de gestão e até 2014

implantado aterros sanitários, nos quais só poderão ser assentados os resíduos sem

possibilidade de reaproveitamento por outras atividades.

Acrescente-se a isto a Resolução Conama n° 001 de 1986 que prevê,

anteriormente ao projeto e implantação de um empreendimento desse tipo, a elaboração

do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) seguido de Relatório de Impacto Ambiental

(RIMA):

Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e

respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem

submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA

em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do

meio ambiente, tais como:[...]

X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos

tóxicos ou perigosos; (RESOLUÇÃO CONAMA 001, 1996)

Além desses ítens, a mesma Resolução prevê que:

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Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à

legislação, em especial os princípios e objetivos expressos na Lei de

Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes

gerais:

I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de

projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto;

[...]

Artigo 9º - O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá as

conclusões do estudo de impacto ambiental e conterá, no mínimo:

[...]

VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões

e comentários de ordem geral) (RESOLUÇÃO CONAMA 001, 1996).

A Resolução CONAMA n° 404, de 11 de novembro de 2008, discorre sobre o

licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de RSUe serve como

material de estudo e referência para atender à Lei Federal n° 12.305, anteriormente

citada. A seguir, são listadas as principais leis, resoluções e normas técnicas vigentes

que direcionam o planejamento e o projeto do manejo, ambientalmente correto, dos

resíduos sólidos em âmbito nacional:

Lei Federal nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 – Dispõe sobre a Política Nacional

de Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá

outras providências;

NBR 8418/NB 842 (ABNT, 1983) - Apresentação de projetos de aterros de

resíduos industriais perigosos – procedimento;

NBR 8849 (ABNT, 1983) - Apresentação de projetos de aterros controlados de

resíduos sólidos urbanos;

Resolução CONAMA 001/1986 – Dispõe sobre definições, responsabilidades,

critérios básicos e diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de

Impacto Ambiental;

NBR 10.157 (ABNT, 1987) - Aterros de resíduos perigosos - Critérios para

projeto, construção e operação – procedimento;

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Constituição Federal (1988) - Responsabiliza o município pelo serviço de coleta

e destino final dos resíduos domésticos;

Resolução CONAMA 006/1988 – Dispõe sobre licenciamento de atividades

industriais e geração de resíduos;

NBR 12235/NB 1183 (ABNT, 1992) - Armazenamento de resíduos sólidos

perigosos;

NBR 8419 (ABNT, 1992) – Apresentação de projetos de aterros sanitários de

resíduos sólidos urbanos;

Resolução CONAMA 005/1993 – Resíduo de Serviço de Saúde, Portos e

Aeroportos;

Resolução CONAMA 007/1994 – Importação e Exportação de Resíduos

Perigosos;

Resolução CONAMA 237/1997 - Estabelece norma geral sobre licenciamento

ambiental, competências, listas de atividades sujeitas a licenciamento, entre

outros;

NBR 13896 (ABNT, 1997) – Aterros de resíduos não perigosos – Critérios para

projeto, implantação e operação;

Lei Federal nº 9.605 de 1998 - Crimes ambientais;

Lei Federal nº 9.795 de 27 de abril de 1999 – Dispõe sobre a Educação

Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras

providências;

Resolução CONAMA 27/2001 – Estabelece o novo código de cores para os

diferentes tipos de resíduos;

Resolução CONAMA 307/2002 – Estabelece diretrizes, critérios e

procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil;

Resolução CONAMA 316/2002 – Dispõe sobre procedimentos e critérios para o

funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos;

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NBR 13.221 (ABNT, 2003) - Transporte terrestre de resíduos;

NBR 10004 (ABNT, 2004) – Resíduos Sólidos – Classificação;

Resolução CONAMA 358/2005 - Dispõe sobre o tratamento e a disposição final

dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências;

Resolução CONAMA 401/2008 - Estabelece os limites máximos de chumbo,

cádmio e mercúrio para pilhas e baterias comercializadas no território nacional e

os critérios e padrões para o seu gerenciamento ambientalmente adequado, e dá

outras providências. (Revoga a Resolução CONAMA nº 257/1999);

2.1.5- Formas de Disposição de Resíduos Sólidos

Mesmo se as práticas da logística reversa fossem empregadas em todos os

municípios, é sabido que há impossibilidade da restituição de todos os resíduos para a

cadeia produtiva. De tal modo “os resíduos sólidos que não puderem ser utilizados,

reciclados, e os refugos resultantes dos processos biológicos ou térmicos, devem ter

disposição final sanitária e ambientalmente adequada” (DIAS, 2003, p.50). A

disposição final ambientalmente adequada é aquela que proporciona “distribuição

ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a

evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos

ambientais adversos” (BRASIL – Lei Federal nº 12.305, 2010).

Quanto aos tipos de disposição de resíduos sólidos existem três formas que

podem ser destacadas:

a) Lixão ou vazadouro

O lixão ou vazadouro consiste em uma forma inadequada e ilegal, segundo a

legislação brasileira, de disposição de RSU, caracterizado pela simples descarga sobre o

solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. Não há preparação

prévia do solo e inexiste um sistema de tratamento sobre o chorume (líquido que escorre

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do lixo). Essa deficiência permite a contaminação do solo e do lençol freático, por meio

da percolação do referido líquido (Figura 5).

Figura 5 - Ilustração da poluição do solo pelo chorume (OLIVEIRA, 2010)

O lixo, despejado a céu aberto, favorece o aparecimento de moscas, mosquitos,

baratas, ratos, entre outros vetores, responsáveis por doenças como diarréias infecciosas,

leptospirose, etc., configurando-se, portanto, como um risco à saúde pública. Segundo a

PNSB - 2008 (2010), os lixões foram o destino dos resíduos de 50,5% das cidades

brasileiras.

Como danos ao meio ambiente, causados pelo descarte inadequado dos

resíduos no solo pode-se citar:

a.1) Poluição visual: as pilhas de lixo, descartadas de maneira inadequada, provocam

uma perturbação visual nas pessoas e contribui para perda do valor natural e econômico

da área em que o mesmo é despejado.

a.2) Poluição do solo: a decomposição do lixo, principalmente da fração orgânica do

mesmo, gera o chorume. Esse líquido altera as características físico-químicas do solo,

tornando-o muitas vezes indisponível para outros fins, como a agricultura,

representando assim um prejuízo ao meio-ambiente. Outro aspecto negativo dos lixões é

funcionar como criadouro e abrigo de vetores de doenças como moscas, ratos e baratas.

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a.3) Poluição da água: o chorume, ao escorrer e/ou percolar pelo solo é capaz de poluir

mananciais de água, tanto subterrâneos como superficiais.

a.4) Poluição do ar: o processo de decomposição dos resíduos provoca a formação de

gases, como dióxido de carbono, metano e ácido sulfídrico, ocasionando riscos de

migração de gás, explosões, doenças respiratórias para moradores das áreas

circunvizinhas, queima de vegetação

b) Tecnologias simplificadas

No caso de municípios considerados de pequeno porte, que muitas vezes não

dispõem de tecnologia para operar aterros sanitários e têm que lidar com restrições

orçamentárias, é possível a adoção de tecnologias simplificadas de aterros de disposição

de resíduos sólidos. Tais procedimentos são regulamentados pela Resolução CONAMA

n° 404, de 2008, que considera aterros sanitários de pequeno porte aqueles com

disposição diária de até vinte toneladas de RSU.

Tecnologias simplificadas de aterros de disposição de resíduos sólidos

urbanos (RSU) caracterizam-se pela menor complexidade de

implantação, operação e por requerem um investimento de capital

menor do que os aterros sanitários convencionais. [...]

Na literatura existem várias tecnologias simplificadas propostas, a

saber: aterro manual (JARAMILLO, 1997), aterro em valas

(CETESB, 1997 a), aterro sustentável (CASTILHOS JR, 2003) e

aterro sanitário simplificado (CONDER, 2004) todas muito similares.

(CAMPOS, 2008, p.22)

Outra tecnologia é a denominada aterro controlado. Sua definição, segundo a

NBR 8849 (ABNT, 1985) é muito semelhante a do aterro sanitário, definido pela NBR

8419 (ABNT, 1982) e é considerado aceitável quando a “execução de Aterro Sanitário

se mostrar onerosa em demasia” (ABNT, NBR 8849 – 1985, p.1). Apresenta-se,

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portanto como uma alternativa para comunidades de pequeno porte “porque os custos de

implantação e operação são menores, uma vez que podem ser utilizados equipamentos

simplificados para a operação, ou serem operados manualmente” (DIAS, 2003, p.51).

Sua técnica consiste em confinar adequadamente os RSU, garantindo a não

poluição do ambiente externo, por meio da cobertura das células de resíduos, porém,

sem promover a coleta e o tratamento dos efluentes líquidos e gasosos produzidos

(CORREA e LANÇA, 2008). Em muitos casos, o aterro controlado é um antigo lixão

remediado, ou seja, que recebeu cobertura de argila e grama, recursos para canalização

de chorume e remoção dos gases produzidos, além de melhorar o recebimento de novos

resíduos, submetendo-os a uma compactação adequada e recobrimento das células

expostas (Figura 6).

Figura 6 – Funcionamento de um aterro controlado (OLIVEIRA, 2010)

Trata-se de um empreendimento adequado à legislação, porém insuficiente do

ponto de vista ambiental, visto que há possibilidade de contaminação do solo natural e

do lençol freático, uma vez que o terreno não recebe impermeabilização ideal antes da

deposição do lixo. A NBR 8849 (ABNT, 1985) indica que, para implantação do aterro

controlado, devem ser previstos a drenagem de águas pluviais e um plano de inspeção

da área de influência do aterro controlado, com vistas ao controle da poluição

ambiental, além de análise criteriosa na localização do terreno em relação ao solo e aos

recursos hídricos. Segundo a PNSB 2008 (2010), os aterros controlados foram o destino

dos resíduos de 22,54% das cidades brasileiras.

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c) Aterro sanitário

A NBR 8419 (ABNT, 1992), Apresentação de Projetos de Aterros Sanitários

de RSU, define como aterro sanitário a:

Técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar

danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos

ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para

confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao

menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na

conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se

necessário. (ABNT, NBR 8419, 1992, p.1)

Trata-se de um método de disposição final de RSU, baseado em técnicas

sanitárias de impermeabilização do solo, compactação e cobertura diária das células de

lixo, coleta e tratamento de gases e chorume (Figuras 7 e 8). Em um aterro sanitário,

devem ser previstos planos de monitoramento ambiental e geotécnico (CORREA e

LANÇA, 2008), bem como sistemas de drenagem superficial das águas de chuva.

Figura 7 – Funcionamento de um aterro sanitário (OLIVEIRA, 2010)

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Figura 8 – Corte de um aterro sanitário (REICHERT, R., [entre 2005 e 2008])

Segundo Gadelha (2008):

O sistema de aterro sanitário precisa ser associado à coleta seletiva de

lixo e à reciclagem, o que permitirá que sua vida útil seja bastante

prolongada, além do aspecto altamente positivo de se implantar uma

educação ambiental com resultado promissor na comunidade,

desenvolvendo coletivamente uma consciência ecológica, cujo

resultado é sempre uma maior participação da população na defesa e

preservação do meio ambiente. (GADELHA et al, 2008, p.8)

Assim, o projeto de um aterro sanitário deve ser parte constituinte do

Gerenciamento Integrado de RSU (GIRSU), juntamente, com o planejamento para

implantação de coletiva seletiva, de práticas de educação ambiental e de redução do

consumo.

Gadelha (2008) ainda ressalta aspectos importantes de um aterro sanitário:

Restrição de uso do terreno pela limitação da vida útil

Dificuldade de escolha de terrenos próximos a centros urbanos

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Aumento dos gastos com a operação do aterro sanitário devido ao

distanciamento da zona urbana

Aumento na rigorosidade dos critérios e requisitos analisados quando da

aprovação do Estudo de Impacto Ambiental pelos órgãos de controle do

meio ambiente.

As desvantagens do aterro sanitário são a dificuldade de aquisição do

terreno para esse fim, devido à oposição por parte do público, o risco

de ser transformado em lixão a céu aberto pela descontinuidade das

administrações municipais, apresentando eventual contaminação das

águas subterrâneas e superficiais, se não houver uma monitorização

adequada durante a fase de sua operação e encerramento.

(JARAMILLO, 1994 apud DIAS, 2003, p. 51)

Segundo a PNSB 2008 (2010), os aterros sanitários foram o destino dos

resíduos de 27,68% das cidades brasileiras.

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2.2- A SELEÇÃO DA ÁREA DE UM ATERRO SANITÁRIO E SUAS VARIÁVEIS

Pfeiffer (2002) afirma ser a seleção de áreas para implantação de aterros

sanitários, de um modo geral, um processo demorado e dispendioso, pois envolve

exigências legais e resistência por parte da população. A escolha da área para destinar

os RSU passa pela fase dos estudos preliminares. Estes são importantes para definir o

sistema a ser adotado e, auxiliar no controle e monitoramento posteriores a deposição do

resíduo. A caracterização do município e o diagnóstico do gerenciamento de resíduos

sólidos utilizados se constituem em etapas dessa atividade.

Entende-se como caracterização do município, o conhecimento do número de

habitantes, da previsão do crescimento populacional, do poder aquisitivo da

comunidade, do índice de escolaridade, entre outros. Tais informações são importantes,

pois a geração do resíduo, quanto a seu tipo e volume, está intimamente relacionada

com os hábitos de vida da comunidade.

No que diz respeito ao diagnóstico do gerenciamento, as informações a serem

levantadas são a geração per capita de resíduos sólidos domésticos, sua composição

gravimétrica e os serviços de limpeza pública executados no município. O questionário

para levantar esses dados se divide nas partes de geração, varrição, coleta/transporte,

tratamento e disposição final. Tal disposição merece atenção especial por se observar,

na grande maioria dos municípios brasileiros, a precariedade nessa etapa do

gerenciamento. Caracterizar a área e o seu entorno e relacioná-la com o plano diretor

municipal e outras leis de uso e ocupação do solo, assim como recolher dados como o

tipo de solo, proximidade dos recursos hídricos, tipo de cobertura vegetal, entre outros

são maneiras de decidir o melhor destino final para os resíduos sólidos.

A escolha de locais para disposição de resíduos sólidos é um longo processo,

que envolve numerosas considerações sobre aspectos sociais, econômicos, políticos e

ambientais e que deve ter por premissas o menor risco à saúde humana e o menor

impacto ambiental possível (BROLLO, 2001, p.37). Gomes (2003), em seu trabalho

sobre Projeto, Implantação e Operação de Aterros Sustentáveis de RSU para Municípios

de Pequeno Porte, cita que os seguintes objetivos devem ser atendidos no processo de

seleção da área do aterro:

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27

Minimização da possibilidade de existência de impactos ambientais negativos

aos meios físico, biótico e antrópico.

Minimização dos custos envolvidos.

Minimização da complexidade técnica para viabilização do aterro.

Maximização da aceitação pública ao encontro dos interesses da comunidade.

Assim como os objetivos, são muitos os critérios a serem atendidos quando da

escolha do local de implantação do aterro sanitário. Atender esses objetivos e critérios

de forma balanceada é fundamental para uma escolha coerente da área de implantação.

Nesse contexto de várias variáveis, a utilização de uma matriz de seleção é bastante

pertinente. Entende-se aqui matriz de seleção como uma ferramenta que permita a

ponderação e ordenação dos critérios de maneira organizada, cujo preenchimento possa

ser feito de maneira simplificada e cujo resultado seja compreensível aos técnicos e

demais colaboradores envolvidos no processo.

2.2.1- Critérios Ambientais

a) Características geotécnicas do solo:

Deve-se analisar a condutividade hidráulica do solo, capacidade de carga,

condições de estabilidade do maciço (deve ter consistência tal que possibilite a

escavação por meio de retroescavadeira e capacidade para sustentação de taludes sub-

verticais) e processos de dinâmica superficial (erosão, escorregamento, etc...)

(CETESB, 1997 apud LINO, 2007)

A NBR 13896 (ABNT, 1997) alerta para a importância da identificação do tipo

de solo, visto que é o responsável pela capacidade de depuração e da velocidade de

infiltração, sendo preferíveis solos com certa impermeabilidade natural, com

características argilosas e nunca arenosas. “Considera-se desejável a existência, no

local, de um depósito natural extenso e homogêneo de materiais com coeficiente de

permeabilidade inferior a 10-6 cm/s e uma zona não saturada com espessura superior a

3,0 m.” (ABNT, NBR 13896, 1997).

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28

No caso de um acidente em um aterro [...] de resíduos sólidos urbanos

um local com maior condutividade hidráulica permitirá mais

facilmente a passagem do lixiviado pelo solo, potencializando o risco

de poluição das águas. Solos com baixa condutividade hidráulica

(<10–4

cm/s) apresentam maior potencial de utilização como camadas

de impermeabilização de laterais e fundo do aterro sustentável.

(GOMES, 2003, p.57)

A condutividade hidráulica é um parâmetro que mede a facilidade de

percolação da água em um meio poroso (CORREA e LANÇA, 2008).

b) Recursos hídricos

Um aterro sanitário exige cuidados com a impermeabilização do solo e a

implantação de sistemas de drenagem eficazes, para evitar uma possível contaminação

das águas; logo, é indispensável o conhecimento do comportamento natural da dinâmica

das águas subterrânea e superficiais.

Dada a essencialidade à vida, ao poder de resiliência dos corpos

hídricos em seus variados estados, frente às crescentes demandas por

água, os recursos hídricos são estratégicos nas mais variadas etiologias

da relação sociedade x natureza. (...) A conservação da natureza por

meio da manutenção da capacidade produtiva dos geossistemas e da

qualidade ambiental, concebida na observância da bacia

hidrográfica como referencial geográfico para a promoção do

planejamento, este centrado nos recursos hídricos, requer

avaliação conforme os ditames preconizados. (RODRIGUES, 2005

grifei)

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b.1) Distância para os recursos hídricos superficiais

Deve-se identificar a bacia hidrográfica onde a possível área de implantação

está localizada, observando o uso da água na bacia e, principalmente, determinando a

distância até o curso d’água mais próximo.

A Portaria do Ministério do Interior nº 124 (1980), que estabelece normas para

a localização de indústrias potencialmente poluidoras junto a coleções hídricas, visando

proteger a vida aquática e o abastecimento d’água determina, no seu corpo:

I - Quaisquer indústrias potencialmente poluidoras, bem como as

construções ou estruturas que armazenam substâncias capazes de

causar poluição hídrica, devem ficar localizadas a uma distância

mínima de 200 (duzentos) metros das coleções hídricas ou cursos

d’água mais próximos.

II - Todo depósito projetado ou construído acima do nível do solo,

para receber líquidos potencialmente poluentes, deverá ser protegido,

dentro das necessárias normas de segurança devendo ser construídos,

para tanto, tanques, amuradas, silos subterrâneos, barreiras ou outros

dispositivos de contenção, com a capacidade e a finalidade de receber

e guardar os derrames de líquidos poluentes, provenientes dos

processos produtivos ou de armazenagem.

III - Verificada, num determinado local, a impossibilidade técnica de

ser mantida a distância prevista no item I, ou de serem construídos os

dispositivos de prevenção de acidentes mencionados no item II desta

Portaria, o órgão estadual de controle do meio ambiente poderá

substituir as exigências previstas, por outras medidas preventivas e

igualmente seguras. (BRASIL - Portaria do Ministério do Interior n°

124, 1980)

Dessa maneira, aterros sanitários não devem, a princípio, se localizar a menos

de 200m de corpos d’água relevantes, como rios, lagos, lagoas e oceano. “Também não

poderão estar a menos de 50 metros de qualquer corpo d’água, inclusive valas de

drenagem que pertençam ao sistema de drenagem municipal ou estadual” (MONTEIRO

e ZVEIBIL, 2001).

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b.2) Distância para os recursos hídricos subterrâneos (lençol freático)

Como o princípio desse critério é evitar a contaminação das águas

subterrâneas, quanto mais profundo o lençol freático estiver da base impermeabilizante

do aterro, menores são as chances de contaminação do mesmo e mais favorável se torna

a área para receber os resíduos.

O atendimento da distância do lençol freático pode ser conseguido com a

execução de sondagens na área, através da Companhia de Abastecimento de Água do

município, ou ainda, se a captação for feita em poços subterrâneos, “essa informação

deverá existir no banco de dados da empresa” (GOMES, 2003, p. 57).

A NBR 13896 (ABNT, 1997) regulamenta que “Entre a superfície inferior do

aterro e o mais alto nível do lençol freático deve haver uma camada natural de espessura

mínima de 1,50 m de solo insaturado. O nível do lençol freático deve ser medido

durante a época de maior precipitação pluviométrica da região.”

Para aterros com impermeabilização inferior através de manta plástica

sintética, a distância do lençol freático à manta não poderá ser inferior

a 1,5 metros.

Para aterros com impermeabilização inferior através de camada de

argila, a distância do lençol freático à camada impermeabilizante não

poderá ser inferior a 2,5 metros e a camada impermeabilizante deverá

ter um coeficiente de permeabilidade menor que 10-6

cm/s.”

(MONTEIRO e ZVEIBIL, 2001)

b.3) Potencial hídrico

Devido à crescente preocupação com a escassez desse recurso natural,

localidades identificadas como de alto potencial hídrico não são recomendadas para

receber resíduos sólidos. Deve-se observar a presença de descontinuidades rúpteis da

rocha (fraturas e falhas abertas no local), pois essas facilitam a percolação do chorume e

a possível contaminação da água e do solo.

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A extensão da bacia de drenagem deve ser avaliada, de maneira que aquela que

possuir menor extensão seja privilegiada, evitando o ingresso de grandes volumes de

água de chuva na área do aterro (MONTEIRO e ZVEIBIL, 2001)

c) Fauna e Flora

“Esse parâmetro ambiental sofrerá interferências em todo o processo do

empreendimento, principalmente na fase do desmatamento, pois provavelmente

ocorrerá a destruição de nichos e habitats de espécies faunísticas local.” (CORREA e

LANÇA, 2008). Deve-se, nesse item, avaliar as espécies animais existentes na área do

aterro e nas proximidades, bem como as espécies vegetais e possíveis efeitos da sua

supressão, destacando a existência de espécies indicadoras de qualidade ambiental, de

valor científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção (GOMES 2003; CORREA

e LANÇA, 2008).

2.2.2- Critérios de Uso e Ocupação do Solo

a) Titulação da área

Faz-se necessário conferir se a área escolhida é propriedade da prefeitura, pois,

em caso contrário, será necessário adquiri-la, como um investimento inicial a ser

considerado (MASSUNARI, 2000).

Em muitas situações, a prefeitura “já dispõe de áreas que deseja avaliar ou

mesmo de algum terreno que vem sendo utilizado como lixão, podendo-se desta forma

reduzir custos com desapropriação e atrasos na implantação do aterro” (LANGE, 2003,

p.150).

Devem ser considerados os custos nos eventuais processos de desapropriação e

aquisição do terreno, atentando para a regularidade da documentação e a situação

fundiária dos imóveis, evitando problemas futuros para a prefeitura (MONTEIRO e

ZVEIBIL, 2001).

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b) Distância de núcleos populacionais:

Entende-se aqui Núcleo Populacional como “localidade sem a categoria de

sede administrativa, mas com moradias, geralmente em torno de igreja ou capela, com

pequeno comércio” (ABNT, NBR 13896, 1997, p.2).

A Constituição do Estado da Bahia veta, no seu artigo 226, a instalação e

operação de aterros sanitários sem que seja garantida a segurança sanitária ambiental de

núcleos residenciais, e para isso conjetura a “obediência na implantação a projetos

específicos [...], aprovados previamente pelos organismos oficiais estaduais com

competência técnica, jurídica e normativa sobre proteção ambiental” (CONSTITUIÇÃO

DO ESTADO DA BAHIA, 1991).

De tal modo a apreciação desse critério deve, em primeira instância, obedecer à

Constituição da Bahia, mantendo a população longe de riscos sanitários, além de

ponderar os dois seguintes fatores:

Evitar grandes distâncias dos núcleos populacionais, para reduzir custos com

transporte;

Locar o aterro a uma distância aceitável pela população residente.

A aceitação da população vizinha é um fator importante a ser avaliado. Para

Gomes (2003), a preocupação dos moradores com possíveis odores, ruídos (incremento

do tráfego e operação do aterro), poeira, incômodo visual, desvalorização da área e a

possibilidade da mesma se transformar em um lixão são os motivos que muitas vezes

levam a vizinhança a mover ações no ministério público, para combater a instalação do

aterro sanitário. Um argumento combativo a essa idéia é justamente o inverso, a

implantação de um aterro pode recuperar terrenos degradados convertendo-os em áreas

úteis, além do que, no futuro pode-se reaproveitar o terreno para áreas verdes, para fins

agrícolas ou para áreas de lazer.

Para atingir a satisfação desse critério, no aspecto tocante à aceitação da

vizinhança, um trabalho de conscientização da importância do empreendimento para o

município, e dos critérios técnicos e ambientais adotados, surtem efeito relevante. A

NBR 13896 (ABNT, 1997) indica que a distância para núcleos populacionais seja

superior a 500m, e autores consideram a distância de 15 km como a máxima para

resolver a questão (GOMES, 2003; CORREA e LANÇA, 2008).

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c) Legislação Municipal

A legislação do município deve ser analisada visto que é possível que existam

leis mais rigorosas, ou restritivas, que as de âmbito estadual e/ou federal. As

especificidades de cada município implicarão posicionamentos diferenciados no que diz

respeito às questões ambientais (GOMES, 2003). Com relação aos aspectos legais,

deverão ser avaliados Lei de Uso e Ocupação do Solo, Código de Posturas, Código de

Obras, Plano Diretor (CORREA e LANÇA, 2008) entre outros.

A Prefeitura Municipal de Feira de Santana, por exemplo, na sua Lei

Complementar n° 1.612, de 1992, institui o Código de Meio Ambiente, que define ações

a serem obedecidas quanto à destinação final de resíduos, além de possuir a Seção II –

Dos Resíduos Sólidos, específica para tratar sobre o assunto. Entre outras demarcações,

a referida legislação prevê:

Art. 21 - Ficam sujeitas à concessão de licenças prévias do

CONDEMA (Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente), de

localização e funcionamento, as seguintes atividades: [...]

IV - sistemas de tratamento e, ou disposição final de resíduos ou

materiais sólidos, líquidos ou gasosos;

[...]

Art. 80 - O solo somente poderá ser utilizado para destino final de

residuais de qualquer natureza, desde que sua disposição seja feita de

forma adequada, estabelecida em projetos específicos de transporte e

destino final, ficando vedada a simples descarga ou depósito.

Parágrafo único - Quando, a disposição final, mencionada neste artigo,

exigir a execução de aterros sanitários, deverão ser tomadas medidas

adequadas para proteção das águas superficiais e subterrâneas,

obedecendo-se normas Federais, Estaduais e as Municipais. (FEIRA

DE SANTANA, 1992)

No Plano Diretor da cidade, que define o zoneamento da mesma, deve-se

observar:

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Zoneamento urbano: o critério de zoneamento urbano se preocupa em

estabelecer normas de uso e ocupação da macrozona de uma cidade, fixando as

diversas áreas para o exercício das funções urbanas elementares. Define o lugar

para todos os usos essenciais do solo e dos edifícios na comunidade e indica,

portanto, a possibilidade de implantação de um aterro sanitário em determinada

área.

Zoneamento ambiental: o objetivo do zoneamento ambiental é controlar a

utilização do solo e definir as atividades nele permitido. Assim, conhecer as leis

de zoneamento ambiental do município em questão é fundamental para saber se

a área desejada está legalmente permitida para esse uso e, portanto, livre de

restrições ambientais.

A NBR 13896 (ABNT, 1997) descreve como áreas sensíveis “Áreas de recarga

de aqüíferos, áreas de proteção de mananciais, mangues e habitat de espécies

protegidas, áreas de preservação permanente conforme declaradas pelo Código

Florestal, ou áreas de proteção ambiental - APA’s”. Tais áreas não são aptas para

instalação de aterros sanitários.

2.2.3- Critérios Operacionais

a) Economia de transporte:

A economia de transporte está diretamente ligada à distância em relação ao

centro gerador. Sua consideração deve avaliar os custos operacionais envolvidas no

transporte do lixo coletado, para que não se tornem uma despesa alta para o município e

inviabilizem a manutenção e operação do aterro sanitário atentando para as condições

das vias de acesso. Maiores distâncias percorridas do centro gerador de lixo até o seu

destino final refletem em maiores gastos com combustível e com o tempo de utilização

do equipamento (MASSUNARI, 2000).

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Para municípios pequenos e de recursos escassos, a disponibilidade de

equipamentos para a operação de um aterro sanitário é fator limitante,

uma vez que tratores de esteira têm custos de aquisição e manutenção

elevados. Além do que o menor trator disponível no mercado nacional

tem capacidade para 150 t/dia, o que resultaria em longos períodos de

ociosidade para municípios com geração de lixo muito inferior a esse

limite. O equipamento seria, então, disponibilizado para atender a

outras demandas da localidade, ficando o aterro relegado a segundo

plano, o que ocasionaria sua transformação em lixão a céu aberto.

(CETESB, 1997 apud BARBOSA, 2004, p. 16 e 17)

Ainda nesse critério, devem-se avaliar as condições das vias de acesso,

observando os aspectos topográficos e de relevo, pois estes podem dificultar o acesso e

a operação dos caminhões de lixo e tratores de esteira responsáveis pela compactação

do lixo. A garantia de que os acessos e pátios de manobra terão permanente condição de

tráfego, quer seja em época de estiagem ou de elevada pluviosidade, são muito

importantes para garantir a operação do aterro, logo os seguintes itens devem ser

observados:

-integração à malha viária

-condições de trafegabilidade da via;

-necessidade de melhoramentos no sistema viário;

-existência ou não de pavimentação;

-condições de relevo.

Para Massunari (2000), esses itens devem ser avaliados pois estão ligados ao

custo de implantação e, principalmente, de operação do aterro sanitário visto que a via

em más condições acarreta em maior desgaste do veículo , necessidade de manutenção

corretiva do mesmo, maiores gastos no tempo das viagens e no consumo de

combustíveis.

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b) Vida útil do aterro sanitário

A NBR 13896 (ABNT, 1997) indica como avaliação técnica o tamanho

disponível e a vida útil de aterros de resíduos não perigosos, recomendando a

construção dos mesmos com vida útil mínima de 10 anos. Para previsão desse período,

consideram-se as dimensões da área sujeita a implantação do aterro, suas características

topográficas, a geração de resíduos e o crescimento populacional. A previsão do

crescimento demográfico da localidade é feita com base em estudos populacionais e

levantamento de dados históricos, via de regra por meio de dados do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE). Assim assegura-se que a previsão esteja vinculada à

dinâmica demográfica da área a ser atendida (GOMES, 2003).

Como a vida útil está associada à máxima capacidade de recebimento de

resíduos, o tratamento adequado desses faz com que o prazo daquele seja prolongado.

“O reaproveitamento e o tratamento dos resíduos são ações corretivas, cujos benefícios

podem ser a valorização de resíduos, ganhos ambientais com a redução do uso de

recursos naturais e da poluição, geração de emprego e renda e aumento da vida útil dos

sistemas de disposição final” (ZANTA, 2003, p.13).

É importante frisar “o aspecto de vida útil do aterro, uma vez que é grande a

dificuldade de se encontrar novos locais, próximos às áreas de coleta, para receber o

volume de lixo urbano gerado no Município, em face da rejeição natural que a

população tem de morar perto de um local de disposição de lixo (MONTEIRO e

ZVEIBIL, 2001, p.154)

c) Espessura do solo:

A relevância desse critério deve-se ao fato do mesmo ser diretamente ligado à

disponibilidade de material de cobertura, interferindo na implantação e principalmente

na operação do aterro. As áreas mais propícias em relação a esse quesito são aquelas

que já possuem, ou estão próximas, de jazidas de material de empréstimo para

confecção de camadas de cobertura e bases de aterro, garantindo de forma permanente a

cobertura dos resíduos a baixo custo (MONTEIRO e ZVEIBIL, 2001, p.154)

A existência no local de solo de boa compactação qualifica a área para

implantação de aterros sanitários. A análise da espessura do horizonte B é um bom

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indicador para avaliar esse critério, visto que “a camada A normalmente é retirada nas

etapas iniciais de movimentação de terra e obras de infra-estrutura” (GOMES, 2003,

p.59).

d) Disponibilidade de infra-estrutura

A disponibilidade de infra-estrutura na área escolhida reflete na redução de

gastos de investimento em abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos,

drenagem de águas pluviais, distribuição de energia elétrica e telefonia (MONTEIRO e

ZVEIBIL, 2001). Desses itens, a energia elétrica é o de maior relevância

(MASSUNARI, 2000, p.22)

e) Clinografia (declividade)

Segundo Weber [199-?] quanto menor for a declividade da área em análise,

mais apta ela será para a implantação de um aterro sanitário. Essa consideração se deve

ao fato que em baixas declividades as operações de movimentação de resíduos e solos

são facilitadas, além de oferecer condições menos críticas para o sistema de drenagem.

A NBR 13896(ABNT, 1997) recomenda a escolha de locais com declividade superior a

1% e inferior a 30%.

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3 METODOLOGIA

A estratégia adotada para esse trabalho é a pesquisa bibliográfica. Segundo

GIL (2008), a principal vantagem desse método é a “cobertura de uma gama de

fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. O

mesmo autor ainda define pesquisa como o “processo formal e sistemático de

desenvolvimento do método científico”.

Por se tratar de um trabalho de um processo decisório, que envolve diferentes

variáveis, escolheu-se a utilização de uma matriz para auxiliar nessa escolha que

permitisse a ponderação dos critérios em termos de importância. Segundo Fiúza (1997),

trata-se de uma técnica válida, pois “os engenheiros que usualmente lidam com uma

linguagem mais matemática necessitam, ao menos para reforço de seus julgamentos de

percepção mais abstrata, de algum mecanismo que de um modo mais cartesiano possa

auxiliá-los nas suas tomadas de decisões” (FIÚZA, 1997, p.1754)

Nessa linha de trabalho, o tema foi desenvolvido a partir de materiais já

elaborados, como livros, artigos científicos, revistas, periódicos e a internet e suas

etapas de confecção podem ser resumidas em:

a) leitura de materiais relacionados com o tema em questão;

b) seleção de trabalhos que apresentassem os critérios interferentes na escolha

de área de um aterro sanitário de RSU, priorizando aqueles que apresentavam os

critérios de maneira tabulada, associando-as em uma matriz ou tabela;

c) listagem dos critérios mais citados pelos autores e a escolha dos mesmos

para composição da matriz final;

d) análise e desdobramento de cada critério escolhido, ressaltando os aspectos

que devem ser contemplados;

e) escolha de quatro autores, que apresentavam matrizes de seleção com

critérios pontuados, para referenciar os pesos atribuídos a cada critério. Nessa etapa,

elaborou-se tabelas, independentes para cada autor, nas quais os pesos designados pelos

mesmos para cada critério de seleção foram convertidos em taxas de porcentagem, para

permitir a comparação entre os trabalhos;

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f) análise das tabelas indicadas no item e), por meio da elaboração de uma

tabela resumo, com os percentuais dos autores para cada critério, cálculo da média dos

respectivos percentuais e, por fim, a determinação de um peso final condizente com a

relevância do critério em questão;

g) elaboração da matriz para a seleção de áreas, para implantação de aterro

sanitário.

Para cada área sujeita à implantação, deve-se preencher a matriz com as

pontuações correspondentes as suas características e, da maneira que a matriz foi

estruturada, a alternativa de maior pontuação representará a melhor seleção locacional

para implantação do empreendimento.

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4 ELABORAÇÃO DA MATRIZ

Após o entendimento do que deve ser avaliado em cada critério, faz-se

necessário relacioná-los e ponderá-los dentro do conjunto em questão. A consideração

ou não dos critérios, assim como a sua relevância pode variar entre os autores. Os

seguintes itens, já explicitados no capítulo 3, foram observados como os mais citados e

importantes para composição da matriz, objetivo principal do trabalho, conforme

apresentado no quadro 1:

QUADRO 1 – Critérios da Matriz de Seleção para Implantação de Aterros Sanitários

Critérios de Seleção Sigla

Características geotécnicas do solo CGS

Distância para os recursos hídricos superficiais DRHSup

Distância para os recursos hídricos subterrâneos DRHSub

Potencial hídrico PH

Fauna e Flora FF

Titulação da área TA

Distância dos núcleos populacionais DNP

Legislação municipal LM

Economia de transporte ET

Vida útil VU

Espessura do solo ES

Disponibilidade de infra-estrutura DI

Clinografia (declividade) C

A seguir, encontram-se dispostos em tabelas (tabelas 2, 3, 4 e 5) os critérios

apreciados por quatro autores escolhidos como referência para elaboração da matriz

final, e as respectivas porcentagens de valoração dadas por cada um deles aos referidos

critérios.

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TABELA 2 – Critérios a serem observados na escolha de área de aterro sanitário para RSU,

segundo Massunari (2000)

Massunari (2000)

Critério Pontuação Percentual

Relação com o

critério de seleção

do Quadro 1

Distância em relação ao centro gerador

do lixo 5 15,15% ET

Condições das vias de acesso 5 15,15% ET

Vida útil do aterro sanitário 5 15,15% VU

Disponibilidade de solo para cobertura 3 9,09% ES

Ocupação atual da área 5 15,15% FF

Titulação da área 1 3,03% TA

Disponibilidade de infra-estrutura na

área 2 6,06% DI

Características do solo 3 9,09% CGS

Clima 1 3,03% --

Distância das áreas urbanas 3 9,09% DNP

Total 33 100,00%

TABELA 3 – Critérios a serem observados na escolha de área de aterro sanitário para RSU,

segundo Monteiro e Zveibil (2001)

Monteiro e Zveibil (2001)

Critério Pontuação Percentual

Relação com o

critério de seleção

do Quadro 1

Critérios Técnicos

Uso do solo 3 3,45% --

Proximidade a cursos d'água relevantes 10 11,49% DRHSup

Proximidade a núcleos residenciais

urbanos 10 11,49% DNP

Proximidade a aeroportos 10 11,49% --

Distância do lençol freático 10 11,49% DRHSub

Vida útil mínima 3 3,45% VU

Permeabilidade do solo natural 3 3,45% CGS

Extensão da bacia de drenagem 3 3,45% PH

Facilidade de acesso a veículos pesados 3 3,45% C

Disponibilidade de material de cobertura 3 3,45% ES

Critérios Econômico- Financeiros

Distância ao centro geométrico de coleta 1 1,15% ET

Custo de aquisição do terreno 4 4,60% TA

Custo de investimento em construção e

infra-estrutura 4 4,60% DI

Custos com a manutenção do sistema de

drenagem 2 2,30% C

Critérios Político-Sociais

Distância de núcleos urbanos de baixa

renda 6 6,90% --

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Acesso à área através de vias com baixa

densidade de ocupação 6 6,90% DNP

Inexistência de problemas com a

comunidade local 6 6,90% DNP

Total 87 100,00%

TABELA 4 – Critérios a serem observados na escolha de área de aterro sanitário para RSU,

segundo Gomes (2003)

Gomes (2003)

Critério Pontuação Percentual

Relação com o

critério de seleção

do Quadro 1

Critérios Ambientais

Distância de recursos hídricos 3 11,54% DRHSup

Áreas inundáveis 3 11,54% --

Geologia - Potencial hídrico 3 11,54% PH

Condutividade hidráulica do solo 3 11,54% CGS

Profundidade do lençol freático 3 11,54% DRHSub

Fauna e Flora local 3 11,54% FF

Critérios de Uso e Ocupação do Solo

Distância de vias 1 3,85% ET

Legislação municipal Pontuação

caso a caso LM

Distância aos centros urbanos 1 3,85% DNP

Critérios Operacionais

Clinografia (declividade) 1 3,85% C

Espessura do solo, horizonte B 2 7,69% ES

Reaproveitamento da área do lixão 3 11,54% --

Total 26 100,00%

TABELA 5 – Critérios a serem observados na escolha de área de aterro sanitário para RSU,

segundo Correa e Lança (2008)

Correa e Lança (2008)

Critério Pontuação Percentual

Relação com o

critério de seleção

do Quadro 1

Distância de recursos hídricos 3 18,75% DRHSup

Geologia - potencial hídrico 3 18,75% PH

Condutividade hidráulica do solo 3 18,75% CGS

Profundidade do lençol freático 3 18,75% DRHSub

Distância de vias 1 6,25% ET

Fauna e Flora Pontuação

caso a caso FF

Legislação municipal Pontuação

caso a caso LM

Distância de centros urbanos 1 6,25% DNP

Clinografia (declividade) 1 6,25% C

Espessura do solo 1 6,25% ES

Total 16 100,00%

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43

Nos quatro trabalhos utilizados como referência os autores não explicitaram

como foi atribuído pesos aos critérios por eles estudados. Gomes (2003) e Correa e

Lança (2008) utilizaram uma escala de 1 a 3, Massunari (2000) de 1 a 5, já Monteiro e

Zveibil pontuaram os critérios de 1 a 10. Em vista dessa diversidade, utilizou-se, para

atribuição de pesos da matriz do trabalho, a média das porcentagens dadas por cada

autor, seguido do ajuste das médias para que o somatório dos critérios pontuados

resultasse em 100%, como indicado na tabela 6. As faixas de avaliação utilizadas na

matriz de seleção também resultaram de uma mescla dos trabalhos dos quatro autores

tomados como referência.

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TABELA 6 – Resumo dos pesos atribuídos pelos autores e determinação do peso final dos

critérios da matriz de seleção para áreas de implantação de aterros sanitários.

Comparação entre os pesos dos autores e determinação do peso final da matriz

Critério de seleção

conforme Quadro 1

Massunari

(2000)

Monteiro

e Zveibil

(2001)

Gomes (2003)

Correa e

Lança

(2008)

Média

entre

autores

%

atribuída

na matriz

Critérios Ambientais

Características geotécnicas do

solo - CGS 9,09% 3,45% 11,54% 18,75% 10,71% 11,00%

Distância para os recursos

hídricos superficiais -

DRHSup

Não Contempla 11,49% 11,54% 18,75% 10,45% 11,00%

Distância para os recursos

hídricos subterrâneos (lençol

freático) - DRHSub

Não Contempla 11,49% 11,54% 18,75% 10,45% 11,00%

Potencial hídrico - PH Não Contempla 3,45% 11,54% 18,75% 8,44% 9,00%

Fauna e flora - FF 15,15% Não

Contempla 11,54%

Pontuação

caso a caso 8,90% 9,00%

Critérios de Uso e Ocupação do Solo

Titulação da área - TA 3,03% 4,60% Cita no trabalho,

mas não pontua

Cita no

trabalho,

mas não

pontua

3,82% 4,00%

Distância dos núcleos

populacionais - DNP 9,09% 25,29%* 3,85% 6,25% 11,12% 11,00%

Legislação municipal - LM Não Contempla Não

Contempla

Pontuação caso a

caso

Pontuação

caso a caso _

Pontuação

caso a caso

Critérios Operacionais

Economia de transporte - ET 30,30%** 1,15% 3,85% 6,25% 10,39% 11,00%

Vida útil - VU 15,15% 3,45% Cita no trabalho,

mas não pontua

Não

Contempla 6,20% 7,00%

Espessura do solo - ES 9,09% 3,45% 7,69% 6,25% 6,62% 7,00%

Disponibilidade de infra-

estrutura - DI 6,06% 4,60% Não Contempla

Não

Contempla 2,67% 3,00%

Clinografia - C Cita no trabalho,

mas não pontua 5,75%*** 3,85% 6,25% 5,28% 6,00%

*O valor de 25,29% do critério Distância dos Núcleos Populacionais, de Monteiro e Zveibil

(2001), foi obtido pela soma dos valores relacionados a esse critério da Tabela 3 (11,49 + 6,90 +

6,90 = 25,29).

**O valor de 30,3% do critério Economia de Transporte, de Massunari (2000), foi obtido pela

soma dos valores relacionados a esse critério da Tabela 2 (15,15 + 15,15 = 30,3)

***O valor de 5,75% do critério Clinografia, de Monteiro e Zveibil (2001), foi obtido pela soma

dos valores relacionados a esse critério da Tabela 3 (3,45 + 2,30 = 5,75)

A legenda “Não Contempla” refere-se a critérios que não foram citados no

trabalho do autor. Para células com essa legenda, atribui-se percentual de 0% no cálculo

da média. Já a legenda “Cita no trabalho, mas não pontua” foi utilizada para os critérios

ditos como importantes pelo autor, mas não inseridos na sua matriz principal. Essas

células, assim como as com a descrição “Pontuação caso a caso” não entraram como

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dados de valor na determinação da média. Por exemplo, no critério Fauna e Flora, a

média foi feita da seguinte maneira:

Média = (11,54+0+15,15)/3

Média= 8,9

O zero refere-se à legenda “Não contempla” e foram utilizados apenas 3 (três)

valores, pois a legenda “Pontuação caso a caso” não entra como dado de valor.

Para utilização da matriz, multiplica-se a nota, de acordo com a faixa de

avaliação, pelo peso do critério. O somatório dessas multiplicações resulta na nota final

da área avaliada. Da maneira que foi organizada, uma área que apresentar o máximo

resultado em todos os critérios obterá 982 pontos. A partir dessa observação pôde-se

estabelecer 3 faixas para julgamento das áreas, conforme explicitado na tabela 7:

TABELA 7 – Faixas para análise final das áreas.

Análise final das áreas

Julgamento Pontuação % de satisfação

dos critérios Observações

Insatisfatória ≤ 491 ≤ 50% Áreas com essa pontuação devem, a princípio, serem descartadas do

processo de seleção

Boa 491 -737 50%≤ pontuação

≤ 75%

Áreas com essa pontuação estão aptas a implantação de aterros

sanitários, devendo o profissional que aplicar a matriz observar quais

os critérios que apresentaram pontuação baixa e buscar propor

medidas mitigadoras dos impactos ambientais referentes a tal critério

Excelente 737 75% Áreas com essa pontuação estão, diante dos critérios avaliados,

totalmente adaptadas a acomodar aterros sanitários

O resultado da distribuição dos pesos e descrição dos critérios encontra-se na

matriz de seleção no capítulo 5.

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5- RESULTADOS

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MATRIZ DE SELEÇÃO PARA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Critérios Ambientais

Critério de

seleção Observações Faixa de Avaliação Nota Peso

Características

geotécnicas do

solo - CGS

A condutividade hidráulica é o parâmetro de referência desse item pois avalia a potencialidade de

percolação de líquidos no solo São preferíveis solos com certa impermeabilidade natural, com

características argilosas e nunca arenosas.

Infiltração alta: <10-3

cm/s 2

11 Infiltração média: <10

-3- 10

-4 cm/s 4

Infiltração baixa: <10-4

- 10-5

cm/s 8

Infiltração muito baixa: <10-5

cm/s 10

Distância para os

recursos hídricos

superficiais -

DRHSup

A distância mínima adotada visa atender a Portaria n° 124, de 20/08/1980, do Ministério do Interior, que

estabelece que "[...]construções ou estruturas que armazenam substâncias capazes de causar poluição

hídrica, devem ficar localizadas a uma distância mínima de 200 (duzentos) metros das coleções hídricas

ou cursos d’água mais próximos

< 200 metros 0

11 200 - 499 metros 6

500 - 1000 metros 8

> 1000 metros 10

Distância para os

recursos hídricos

subterrâneos

(lençol freático) -

DRHSub

A obtenção da distância do lençol freático pode ser conseguida

com a execução de sondagens na área, através da Companhia

de Abastecimento de Água do município, ou ainda, se a

captação for feita em poços subterrâneos, essa informação

deverá existir no banco de dados da empresa.

Para aterros com impermeabilização

inferior através de manta plástica

sintética

<1,5 metros 0

11 1,5 - 2,5 metros 2

2,5 - 4,5 metros 8

>4,5 metros 10

Para aterros com impermeabilização

inferior através de camada de argila

<2,5 metros 0

11 2,5 - 3,5 metros 2

3,5 - 5,5 metros 8

>5,5 metros 10

Potencial hídrico -

PH

A extensão da bacia de drenagem deve ser avaliada, de maneira que aquela que possuir menor extensão

seja privilegiada, evitando o ingresso de grandes volumes de água de chuva na área do aterro. Áreas com

existência de fraturas ou falhas devem ser evitadas.

Alto potencial hídrico (com

presença de falhas e fraturas) 0

9 Médio potencial hídrico 4

Baixo potencial hídrico 8

Fauna e flora - FF Deve-se avaliar as espécies animais existentes na área do aterro e nas proximidades, bem como as espécies

vegetais e possíveis efeitos da sua supressão. destacando a existência de espécies indicadoras de qualidade

ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção

Presença 0 9

Ausência 10

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MATRIZ DE SELEÇÃO PARA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Critérios de Uso e Ocupação do Solo

Critério de

seleção Observações Faixa de Avaliação Nota Peso

Titulação da área -

TA

Devem ser considerados os custos nos eventuais processos de desapropriação e aquisição do terreno,

atentando para a regularidade da documentação e a situação fundiária dos imóveis, evitando problemas

futuros para a prefeitura (Monteiro e Zveibil, 2001)

Propriedades pertencentes a

prefeitura 10

4

Propriedades pertencentes a

instituições ou grandes

proprietários

7

Propriedades pertencentes a

pequenos proprietários 5

Distância dos

núcleos

populacionais -

DNP

Na contemplação dessa variável deve-se evitar grandes distâncias dos núcleos populacionais (para reduzir

custos com transporte) e manter um afastamento aceitável pela população vizinha.

< 500 metros 0

11

500 - 1000 metros 6

1001 - 2000 metros 8

>15001 metros 8

10

Legislação

municipal - LM

A legislação do município deve ser analisada visto que é possível que existam leis mais rigorosas, ou

restritivas, que as de âmbito estadual e/ou federal. Com relação aos aspectos legais, deverão ser avaliados

Lei de Uso e Ocupação do Solo, Código de Posturas, Código de Obras, Plano Diretor (CORREA e

LANÇA), entre outros. Vale salientar que se a área em estudo for "sensível", segundo definição da NBR

13896 (ABNT, 1997), sua utilização como aterro sanitário deve ser restringida

Pontuação caso a caso -- --

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MATRIZ DE SELEÇÃO PARA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Critérios Operacionais

Critério de

seleção Observações Faixa de Avaliação Nota Peso

Economia de

transporte - ET

A economia de transporte está diretamente ligada à distância

em relação ao centro gerador. Sua consideração deve avaliar

os custos operacionais (combustível, tempo de utilização do

equipamento, etc) envolvidas no transporte do lixo coletado

para que não se tornem uma despesa alta para o município e

inviabilizem a manutenção e operação do aterro sanitário

atentando para as condições das vias de acesso. A avaliação

deve ser desdobrada em duas partes:

Distância de Vias - "Para a distância de

vias foi adotado o valor de 100 metros do

eixo de rodovias federais e estaduais

seguindo os trabalhos de Metropolan

(1998), Vieira et al (1999) e Gomes et

al., (2001)" (GOMES, 2003)

<100 metros 0

11

100 - 499 metros 3

500 - 1000 metros 4

>1000 metros 5

Tipo de pavimento/relevo -

Estrada de terra - Relevo muito

acidentado 1

Estrada de terra - Relevo pouco

acidentado 3

Pista asfaltada 5

Vida útil - VU

A NBR 13896 (ABNT, 1997) indica como avaliação técnica o tamanho disponível e a vida útil de aterros

de resíduos não perigosos, recomendando a construção dos mesmos com vida útil mínima de 10 anos. Para

previsão desse período consideram-se as dimensões da área sujeita a implantação do aterro, suas

características topográficas, a geração de resíduos e o crescimento populacional.

< 10 anos 2

7 =10 anos 5

15 anos 10

Espessura do solo

- ES

As áreas mais propícias em relação a esse quesito são aquelas

que já possuem, ou estão próximas, de jazidas de material de

empréstimo para confecção de camadas de cobertura e bases

de aterro, garantindo de forma permanente a cobertura dos

resíduos a baixo custo (MONTEIRO e ZVEIBIL, 2001,

p.154). A existência no local de solo de boa compactação

qualifica a área para implantação de aterros sanitários. A

análise da espessura do horizonte B é um bom indicador para

avaliar esse critério, visto que “a camada A normalmente é

retirada nas etapas iniciais de movimentação de terra e obras

de infra-estrutura”. (GOMES, 2003, p.59)

Espessura do solo B

<0,5m 0

7

0,5 - 0,9 metros 1

1 - 2 metros 3

>2 metros 5

Disponibilidade de solo para cobertura

100% no local 5

50% no local e restante até até 5km 3

100% até 5km 2

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Disponibilidade de

infra-estrutura - DI

A disponibilidade de infra-estrutura na área escolhida reflete na redução de gastos de investimento em

abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, drenagem de águas pluviais, distribuição de energia

elétrica e telefonia. (MONTEIRO e ZVEIBIL, 2001). Desses itens a energia elétrica é o de maior

relevância (MASSUNARI, 2000, p.22)

Há disponibilidade de energia

elétrica, rede de água, telefone e

rede de esgoto

10

3 Há energia e mais duas infra-

estruturas 9

Há energia e mais uma infra-

estrutura 8

Há apenas energia elétrica 7

Clinografia - C

Segundo Weber [199-?] quanto menor for a declividade da área em análise, mais apta ela será para a

implantação de um aterro sanitário. A NBR 13896 (ABNT, 1997) recomenda a escolha de locais com

declividade superior a 1% e inferior a 30%.

Alta: > 30% 2

6

Média: 20 - 30% 4

Baixa: 10 - 19,9% 6

Muito baixa: 3 - 9,9% 8

Plana: <3% 10

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6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

São muitos os parâmetros a serem avaliados quando da escalação de áreas para

aterros sanitários e, por isso mesmo, tal escolha é uma questão de risco. A forma de

combinar os critérios, a consideração de todos ou apenas parte deles, a forma como uns

podem compensar outros são aspectos que assumem grande importância nas decisões e

que dependerão de cada caso particular, principalmente no que tange a recursos

financeiros, a legislação ambiental do município a ser implantado e aos dados

disponíveis para análise.

A utilização de uma matriz interativa, obtida neste trabalho, pode ser de grande

valia desde que o profissional que dela faça uso compreenda cada critério nela contido e

elabore um verdadeiro estudo de caso da área considerada. A atribuição de pesos aos

critérios é um modo de quantificar a relevância do mesmo dentro do conjunto de fatores

a serem analisados. Entretanto, não existe um método consensual mais adequado para

essa valoração, por isso mesmo a matriz proposta neste trabalho é passível de

acréscimos e ajustes para adequação da escolha, diante do quadro particular que cada

município ou região apresenta. Existem casos específicos, como o da existência de

aeroportos nas proximidades de determinada área, que devem ter peso considerável

nessa etapa de seleção.

Atingir o equilíbrio entre aspectos ambientais, de uso e ocupação do solo e

operacionais é o ideal na escolha da área de um aterro sanitário. De acordo com Junior

“uma área adequada significa menos gastos com preparo, operação e encerramento do

aterro, mas fundamentalmente significa menos riscos ao meio ambiente e à saúde

pública.”

É importante frisar que a avaliação da relevância dos critérios, bem como a

inserção de outros por parte do responsável que aplicar a matriz contribui para um

resultado mais seguro, satisfatório e compatível com a realidade do local. A

consideração, por exemplo, da possibilidade de reaproveitamento da área do lixão para

usos futuros, citado por Gomes (2003) configura-se como um aspecto interessante a ser

abordado em uma análise mais criteriosa.

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No caso de nenhuma localidade apresentar resultado satisfatório, deve-se

identificar as limitações naturais destas áreas e, a partir disso, propor medidas

mitigadoras dos impactos, caso se decida pela implantação na mesma. Entretanto, o

ideal é que antes disso os parâmetros estudados sejam reavaliados, dando início a um

novo processo de seleção, até que seja possível determinar um local que reúna

condições ideais para o tipo de empreendimento, minimizando os aspectos negativos

afeitos a implantação do mesmo e, obviamente, aprimorando os seus aspectos positivos.

Recomenda-se que estudos de mais critérios e métodos de seleção para áreas de

implantação de aterros sanitários sejam realizados, visando a otimização e melhoria

contínua do processo de escolha, eliminando falhas e atualizando as exigências,

principalmente das leis ambientais. Uma análise paramétrica dos dados, que permita o

estudo mais específico de cada critério, contribuirá, de maneira consistente, para o

melhoramento dos pesos da matriz, ajustando valores discrepantes, como o do critério

operacional “economia de transporte”, cujo peso variou, na análise desse trabalho, de

1,15% a 30,3%.

O envio da matriz de seleção para diferentes especialistas, como engenheiros

civis e ambientais, geólogos e biólogos é outra sugestão que pode gerar acréscimos

positivos para a matriz. O envolvimento da comunidade no processo de escolha de áreas

também deve ser contemplado, para que todos estejam cientes e se comprometam com

as decisões tomadas.

A matriz deve ser vista como uma ferramenta orientadora da seleção, mas não

como indicadora de uma solução inquestionável. Quanto mais áreas forem analisadas,

menor o percentual de erro e mais segura e satisfatória será a escolha da área de

implantação para aterros sanitários.

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Reversa, e dá outras providências. Disponível em:

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COUTINHO, R., Prefeitura de Goiânia é acionada por dar tratamento inadequado

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