atenção plena para principiantes

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  • 8/18/2019 Atenção Plena Para Principiantes

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    ATENÇÃO PLENA

    PARA PRINCIPIANTES

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    Estou muito satisfeito por poder apresentar este tema, e faço-o na esperança

    de que o que quer que vos tenha atraído para o fascinante mundo da atenção

    plena (mindfulness), possa esse impulso ser acarinhado e crescer, pois

    ninguém aparece num programa deste género puramente por acidente, tem

    que existir um impulso na base dessa decisão que desea por uma resposta ouuma certa maneira de ser que pode parecer alusiva mas também altamente

    dese!vel, pois caso contr!rio ninguém se daria ao trabalho de procurar um

    programa como este"

    #ara além disso cada um de n$s tr!s o nosso pr$prio génio para esta aventura,

    e somos o resultado de cada uma das etapas da nossa vida que ficaram para

    tr!s mesmo aquelas que foram ou que ainda são de algum modo dolorosas" %

    nosso passado qualquer que tenha sido torna-se assim na plataforma sobre a

    qual se reali&a o trabalho de viver no momento presente"

    'orna-se tanto no trabalho como na aventura de uma vida inteira não ser

    apanhado nas armadilhas dos pensamentos e ideias mas reclamar de volta o

    nico momento que realmente dispomos para viver, e esse é sempre este

    mesmo instante" uidar deste preciso momento pode ter um impacto

    importante no momento seguinte e como tal no futuro"

    *este encontro vamos explorar a questão da atenção plena (mindfulness)

     untos como se nunca tivessem ouvido falar nela, nem soubessem do que se

    trata, nem do que é a meditação e porque é que se torna importante cultiva-

    la" +remos cobrir temos como, o que é, como cultiva-la na vida, que benefíciospode tra&er em termos de redução de stress, dor e sade"

    laro que esta introdução apenas aborda estes assuntos de uma forma leve

    tendo o obectivo de aumentar a vossa curiosidade e vontade de experimentar

    por vocs pr$prios adquirindo assim o nico tipo de conhecimento v!lido que

    vem da pr!tica e da reali&ação pessoal por meio da experincia" $ através da

    pr$pria experimentação se consegue adquirir um estrutura que permiteentender porque é que fa& tanto sentido, sobretudo no contexto da sociedade

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    actual fa&er algo tão estranho e alienígena como .nada/ numa base regular e

    sistem!tica de uma forma disciplinada"

    ultivar a pr$pria mente utili&ando os nossos recurso mais profundos para

    aprender, para crescer e para nos curarmos de afliç0es, potencialmente parauma transformação do entendimento de quem n$s realmente somos e de como

    viver neste mundo" e quisermos no entanto ir mais longe, não existe

    realmente um fim destes recursos, a atenção plena (mindfulness), como tema

    é o universo inteiro, tem muitas faces e gal!xias, é infinitamente profundo e

    maravilhoso e feli&mente existem muitos professores soberbos desde o remoto

    passado até ao presente, indo até ao pr$prio 1uda e mesmo antes do 1uda

    cuos escritos e livros e contacto directo no caso dos do presente são de um

    valor incalcul!vel para nos posicionar neste caminho do decorrer desta vida, da

    vossa vida"

    omecemos então, pelo princípio" % que é a 2tenção plena (mindfulness)3

    4ma boa definição para trabalhar sobre o conceito é a de que 2tenção plena

    (mindfulness) é o acto de prestar atenção de prop$sito no momento presente,

    como se a vida dependesse disso, sem efectuar ulgamentos"

    *a realidade atenção plena (mindfulness) é o resultado, o que sai do acto de

    prestar atenção de prop$sito no momento presente, como se a vida

    dependesse disso, sem efectuar ulgamentos e esse resultado não é mais do

    que a conscincia em si (a5areness)" onscincia é algo que todos

    conhecemos e com a qual estamos familiari&ados e no entanto somoscompletamente estranhos a ela, pelo que o treino de atenção plena

    (mindfulness) que iremos explorar aqui é na realidade o cultivo de uma

    recurso que ! é nosso por nature&a, não sendo portanto necess!rio ter que

    procura-lo em qualquer outro sitio" 6 necess!rio no entanto de algum modo

    aprender como .habitar/ um outro domínio da nossa mente como o qual, regra

    geral, estamos completamente fora de contacto mas, caso não o tivéssemos

    estaríamos literalmente mortos"

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    2tenção plena (mindfulness) é também v!rias ve&es referida como sendo o

    coração da meditação 1udista, embora na realidade esta sea na realidade

    universal porque se trata de atenção e conscincia como ! foi dito e estas são

    qualidades ou capacidades partilhadas por todos n$s" 2pesar disso é usto

    di&er que a articulaç0es mais refinadas e desenvolvidas desta capacidade aolongo da hist$ria, assim como a forma de a cultivar vem da tradição 1udista"

    2cerca disto é importante ainda entender que o pr$prio 1uda não era 1udista e

    mesmo o termo 1udismo não foi estabelecido até ao século 78+++ e esse termo

    foi criado por estudiosos religiosos europeus que tinham um entendimento

    muito limitado acerca das est!tuas de um homem sentado de pernas cru&adas,

    altares e templos, a iconografia cl!ssica que hoe em dia ligamos ao 1udismo"

    % significado de toda essa iconografia que hoe em dia ligamos ao 1udismo são

    na sua maioria representaç0es da mente e dos v!rios estados mentais"

    % 1uda representa um estado mental, que foi referido desta forma por ele

    pr$prio, que pode ser referido simplesmente como .2cordado/" 2ssim o 1uda

    tinha uma profunda reali&ação da nature&a da mente humana que pode ser

    aplicada a qualquer mente humana e não apenas de 1udistas ou pessoas que

    praticam meditação na tradição 1udista, até porque de outro modo não seria

    universal e v!lida"

    9osto de pensar no 1uda como um cientista, um génio cientista que não tinha

    qualquer tipo de instrumentos : sua disposição para além do seu corpo e da

    sua mente e que usou com grande vantagem para a sua pesquisa respondendo:s perguntas nas quais estava interessado, tais como .qual é a nature&a da

    mente3/ e .qual e a nature&a do sofrimento3/"

    laro que para responder a estas quest0es, o 1uda teve que calibrar o seu

    instrumento de an!lise e leitura tal como acontece com qualquer outro

    instrumento quer sea um r!dio-telesc$pio ou um oscilosc$pio ou mesmo uma

    escala" 6 necess!rio calibra-lo primeiro e estabili&ar a plataforma na qual elesassentam para garantir leituras de confiança" #arte da pratica de meditação

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    que o 1uda desenvolveu tinham precisamente esse obectivo em vista,

    estabili&ar e calibrar a mente de forma a que esta pudesse executar o trabalho

    profundo de perscrutar o interior da mente" %bviamente se estivermos a tentar

    observar a lua e colocarmos o nosso telesc$pio, digamos em cima de um

    colchão de agua, sempre que estivermos a observar a lua e mudarmos a nossaposição ainda que muito pouco, perderemos a lua no campo do telesc$pio"

    om a mente passa-se exactamente a mesma coisa, se a vamos utili&ar para

    fa&er um trabalho de investigação, primeiro temos que aprender pelo menos os

    rudimentos de como estabili&ar a mente o suficiente para que possa executar o

    trabalho de prestar atenção e estar consciente do que de facto se est! a passar

    por baixo da superfície das actividades das nossa pr$pria mente que tão

    frequentemente nos distanciam e distraem dos nosso foco de atenção"

    2ssim por todas estas ra&0es a atenção plena (mindfulness) é realmente

    universal e não tem nada a ver com 1udismo no sentido em que temos que ser

    1udistas para poder praticar atenção plena (mindfulness) ou mesmo que se

    tenha que praticar meditação para cultivar a atenção plena (mindfulness)"

    *o entanto se tivermos um entendimento da meditação de um modo mais

    profundo não h! como não praticar meditação quando cultivamos atenção

    plena (mindfulness) porque elas não são mais do que exactamente a mesma

    coisa, esta profunda dimensão de conscincia que sempre foi nossa mas tão

    estranha ao nosso entendimento que não somos capa&es de a utili&ar quando

    mais precisamos dela"

    #or mais ou menos ;< anos os meus colegas e eu no na clínica de redução de

    stress do centro médico da 4niversidade de =assachutets temos usado a

    atenção plena (mindfulness) untamente com a medicação convencional como

    um recurso profundo para pessoas que encaram situaç0es de stress, dor e

    doenças que não encontram respostas nos serviços de sade, aqueles que de

    algum modo caem pelas fendas do serviço nacional de sade" 2 ideia da clínica

    de redução de stress é desafiar as pessoas no sentido de averiguar se nãoexiste algumas coisa que possam fa&er por si pr$prias como complemento ao

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    que o sistema nacional de sade e a medicina tem para oferecer, elevando-se a

    níveis maiores de bem estar" *este caso, bem estar é referido no seu sentido

    mais profundo e alargado, não tendo exclusivamente a ver com a sade

    directamente relacionada com o corpo ou com o fa&er regressar as pessoas

    para níveis de .normalidade/ socialmente aceites" 'em a ver com a verdadeiraextensão do que ser humano significa, conhecer a mente intimamente e ser

    capa& de utili&a-la de modo a cultivar a sabedoria e as qualidades profundas de

    compaixão e bondade que existem em n$s" Este trabalho que est! espalhado

    em clínicas e centros médicos por todo o mundo é conhecido como redução de

    stress baseado na atenção plena (mindfulness)" =ais uma ve& isto não quer

    di&er que este tipo de abordagem sea exclusivo de pessoas que estea a

    enfrentar problemas ligados com doenças ou dores cronicas, estas pr!ticas são

    universais e aplic!veis por todas as pessoas que esteam em suma, vivas" *a

    realidade não dispomos de muitas estatísticas unto dos que estão mortos,

    mas de acordo com a nossa perspectiva, desde que alguém estea a respirar as

    notícias são mais boas do que m!s, quais quer que seam as m!s notícias e

    assim o momento presente torna-se num lugar $ptimo para começar esta

    aventura de uma vida"

    'al como tenho vindo a sugerir, depois de tudo dito e feito, quando se fala de

    meditação, fala-se de conscincia, das suas qualidades, estabilidade e

    confiança" 'rata-se de atenção pura, discernimento, visão clara e assim, de

    sabedoria, onde sabedoria tradu&-se em saber a realidade das coisas tal como

    elas são em ve& de ser apanhado no meio dos nossos maus entendimentos,

    enganos e percepç0es err$neas e estas são uma grande força para todos n$stal é a facilidade com que caímos sobre o nosso pr$prio sistemas de crenças,

    ideias e opini0es e preconceitos que formam uma espécie de véu ou nuvem

    que nos impedem de ver claramente o que est! mesmo em frente aos nosso

    olhos tal como é" 'al como disse trata-se de atenção pura e discernimento,

    visão clara e sabedoria e ao mesmo tempo também é acerca de uma qualidade

    afectiva na atenção, uma abertura, simpatia um tipo de atenção que

    compreende um tipo de cuidado"

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    >iria assim que essas qualidades são uma manifestação da compaixão

    intrínseca do nosso coração, não se tratando mais uma ve& de alguma coisa

    que tenhamos que obter, algo que podemos reali&ar que !, nem direi .temos/

    mas que ! somos" ?uando me referi : qualidade de ver claramente pode

    deixar transparecer a ideia errada de que essa qualidade se limita a um nicosentido, mas .ver/ neste caso representa todos os sentidos uma ve& que é por

    meio dos nosso sentidos que podemos apreender ou estar conscientes e como

    tal sabe o que quer que sea" =as da perspectiva meditativa sobretudo no

    1udismo, mas também na cincia existe um profundo entendimento de que

    existem mais do que cinco sentidos"

    % 1udismo inclui a mente como um sexto sentido e como mente não se

    entende o pensamento, não se entende s$ a mente que pensa, esta mente

    refere-se : mente mais pr$xima da conscincia em si, ao campo fértil a partir

    do qual todos os fen$menos dos quais nos tornamos conscientes surgem" Essa

    capacidade da mente que .sabe/ de forma não conceptual, que sabe onde

    estamos neste preciso momento, não precisamos de saber onde estamos

    agora, maior parte das ve&es simplesmente sabemos sem ter que pensar

    nisso, sabemos o que aconteceu antes e sabemos também o que vai acontecer

    daqui a um bocado" 'emos um sentido de orientação no tempo, temos um

    sentido de orientação no espaço, não pensamos acerca disso mas existem

    muitos aspectos da nossa existncia que temos como garantidos dos quais

    sabemos depender de formas muito profundas" 6 isso que esse pretende

    apontar aqui quando se fala da mente como um sexto sentido" 2ssim, ver

    claramente também quer di&er ouvir claramente, cheirar claramente, provarclaramente, tocar claramente, e saber claramente o que inclui saber o que se

    passa na nossa mente e como tal o que estamos a pensar" aber o nosso

    estado emocional, saber o que estamos a sentir sea medo, irritação,

    frustração, impacincia, desagrado ou outra emoção qualquer" *uma visão

    paralela, tal como foi referido a cincia também sugere que existem mias do

    que os cinco sentidos mais reconhecidos e que temos igualmente outros

    sentidos fascinantes que são absolutamente críticos para a nossa vida tal comoa conhecemos e gostamos de imaginar" 4m deles é chamado #ropriocepção ou

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    cinestesia, a capacidade em reconhecer a locali&ação espacial do corpo, a sua

    posição e orientação, a força exercida pelos msculos e a posição de cada

    parte do corpo em relação :s demais tanto parado como em movimento, sem

    utili&ar a visão" Este sentido, embora sea muito raro pode ser perdido em

    certo tipo de acidentes que envolvem estragos no tecido neurol$gico e casosdestes são uma revelação do quão pouco valor damos a este tipo de sentido na

    nossa vida" 'al como este existe ou outro sentido parecido chamado

    interocepção, a capacidade para nos apercebermos de estímulos sensoriais

    internos ao nosso corpo, o sentido de .sentir/ o que se est! a passar dentro do

    nosso corpo por assim di&er" =ais uma ve& constatamos que estes sentidos não

    envolvem o acto de pensar, trata-se de um sentimento interno embutido de

    que o neuro cientista 2nt$nio >am!sio escreve nos seus livros"

    'endo dito isto existem de facto um monte de coisas das quais nos podemos

    tornar conscientes durante a nossa experincia, tanto no mundo exterior como

    no mundo interior do nosso ser" 4ma ve& que a nossa conscincia pode

    espantosamente conter os esses dois mundos, tanto os fen$menos externos

    como os internos não h! uma separação fundamental entre interior e exterior,

    entre o que conhece e o aquilo que est! a ser conhecido, o sueito e o obecto

    ou ainda a separação entre .ser/ e .fa&er/" Esta separação apenas parece

    existir, e de facto parece de uma forma muito concreta, mas essa ilusão

    constitui um aspecto tão vincado da nossa experincia especialmente quando

    não estamos a prestar atenção suficiente no momento presente de uma forma

    não reactiva e isenta de uí&os por meio da atenção plena (mindfulness) que

    obscurece a unidade que nos di& que, misteriosamente existe somente o ver,o ouvir, o cheirar o saborear, o sentir e o saber, ou poderia ser dito, s$ a

    atenção, pensemos sobre isto por um momento" $ ver, o milagre desse

    significado, s$ ouvir e saber que se est! a ouvir isso é atenção (mindfulness)

    ou como gosto de di&er, atentamente (a5arenesing)"

    4sando o particípio presente, atentamente, d!-nos uma noção mais

    aproximada da verdadeira nature&a da atenção" >eixa de ser um substantivo epassa a ser um verbo, ganhando toda uma din@mica inerente : qualidade de

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    fluxo de um verbo que é muito importante para toda este domínio em que

    pretendemos olhar para quem n$s somos como seres humanos e verificar que

    funcionamos de um modo muito disfuncional, ca$tico e desorientado no

    mundo" 'emos o h!bito de fragmentar o mundo em interior e exterior, em isto

    e aquilo,no que gostamos e não gostamos, o que queremos e o que nãoqueremos"

    Aa&emos esse tipo de separação ainda que artificial e ilus$ria de uma forma

    muito profunda, e fa&e-lo tem ainda um peso muito grande nos nossos h!bito

    de pensamento, emoç0es sentimentos e sabedoria" ão esses h!bitos que nos

    mantém encalhados e previnem-nos de entender a claridade da atenção

    (mindfulness) apesar de podermos di&er que est! mesmo por baixo do nosso

    nari& em todos os momentos e sempre disponível uma ve& que a atenção

    (mindfulness) é nossa por direito de nascença e pela virtude de sermos

    humanos"

    *o que toca : esta qualidade de atenção plena (mindfulness) ninguém pode

    ser considerado uma autoridade uma ve& todos n$s vivemos embebidos nela, e

    s$ temos que definir o quanto queremos estar presentes na nossa pr$pria vida"

    2 atenção plena (mindfulness) é um assunto bastante batido hoe em dia e é

    infeli&mente frequentemente abordado sobre a perspectiva de v!rias

    disciplinas esotéricas que não puxam a si a responsabilidade de passar a

    concepção certa da ideia" 2s pessoas :s ve&es quando ouvem falar deste

    assunto tem reacç0es como achar giro, di&endo coisas como ."""oB, ! entendi,

    a ideia passa por eu estar mais presente, fa&er menos uí&os, porque é quenão pensei nisso antes3 6 f!cil a partir de agora tudo ser! diferente"""/"

    1em, tudo o que posso di&er sobre este tipo de abordagem é boa sorteC

    2contece que as coisas não funcionam bem dessa maneira" 2 atenção plena

    (mindfulness) não é apenas uma boa ideia ou mesmo uma grande filosofia

    oriental antiga" *a verdade é mais uma maneira de estar e uma maneira de

    viver, pelo que enquanto não a implementamos não é de facto nossa, é apenas

    mais uma ideia, um nome, um slogan" =a o verdadeiro desafio como veremosmais tarde est! na pr!tica que nos d! acesso instant@neo a outras dimens0es

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    da nossa vida que apesar de, tal como foi ! sugerido, tem estado sempre

    presentes, mas para as quais temos vivido sem o mínimo contacto" #oderemos

    contactar como usamos os nossos sentidos, ver sem realmente ver, ouvir sem

    realmente ouvir e como navegamos em piloto autom!tico na maior parte das

    nossas vidas pensando entretanto que sabemos o que se passa nelas, quemsomos e para onde vamos" % que é realmente interessante é o que se passa

    quando começamos a questionar quem somo e para onde vamos, afinal que

    tipo de certe&a temos n$s acerca de quem somos ou ser! que criamos uma

    historia iludida e gigantesca acerca de n$s e se a vida nos corre bem, estamos

    muito feli&es em velocidade de cru&eiro em direcção ao obectivo seguinte,

    mas se porventura alguma coisa core mal, a hist$ria que contamos a n$s

    pr$prios é uma de completa prisão, de falta de esperança e frustração"

    % que a atenção plena (mindfulness) nos di& é que tudo isto é apenas o

    exercício do pensamento uma espécie de obsessão : volta de um tipo de

    existncia auto centrada, e quando nos sentamos a questionar acerca de quem

    é que est! a produ&ir todos estes discursos dentro da nossa pr$pria cabeça,

    apercebemos-nos de que de facto não fa&emos a mínima ideia" 2percebemos-

    nos de que se queremos saborear o significado da unidade que est! na génese

    das palavras saud!vel, felicidade, sagrado a ironia é que est! aqui em todos os

    momentos em que uma rotação da conscincia nos permite observar e saber

    que estamos a observar, pensar e saber o que de facto se est! a passar dentro

    da nossa mente, de sentir uma emoção e de estar em relação a ela de uma

    maneira que é inteligente e auto compassiva em ve& de nos contentarmos com

    historias acerca do formid!veis que somos ou do horríveis que somos que

    agem como bloco de cimento separando-nos do conhecimento da nossapr$pria criação" >esse ponto de vista, a meditação não nos di& que devemos

    saber quem somos, trata-se mais de uma perspectiva que nos incentiva a

    perguntar se somos capa&es de por em causa quem é que somos e ficar

    confort!veis com a ideia de que de facto não sabemos"

    ?uando nos perguntam quem somos, respondemos normalmente referindo o

    nosso nome, mas este não é mais do que isso, um nome que nos deram :nascença e que não nos define, poderia ter sido o caso de nos ter calhado

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    outro nome e não seria por isso que seriamos uma pessoa, ou a ideia de uma

    pessoa diferente" er! que uma rosa com um outro nome teria um cheiro

    diferente3 2 mesma coisa é v!lida para a nossa idade, os nossos feitos e tudo

    o mais a que nos habituamos a concreti&ar como n$s" =as n$s somos alguma

    coisa de diferente, uma coisa mais misteriosa e definitivamente maior" DaltDhitman escreveu no seu poema ."""eu sou grande, contenho multid0es"""/ e é

    verdade, contemos o universo em n$s pr$prios, somos enormes, mas

    tendemos a uma contracção emocional e pensar em n$s como pequenos"

    % poder de atenção plena (mindfulness) é o poder de desbloquear esse tipo de

    visão contraída, essas perspectivas que nos mantém a pensar que sabemos

    quem somos e a não prestar atenção : actualidade do que somos, da bele&a

    de estar vivo e possibilidades de uma vida vivida no presente"

    *ão saber, a prop$sito não é assim tão mau, basicamente é ser honesto" laro

    que na maioria das ve&es temos medo de admitir em publico que não sabemos

    alguma coisa com medo de perecer-mos estpidos" *a realidade, se

    pensarmos nisso todos os grandes cientistas tem que admitir na base das suas

    pesquisas o que não sabem pois caso contr!rio nunca poderão percorrer o

    caminho necess!rio : descoberta" 2s novas descobertas ocorrem sempre na

    dimensão espacial que existe entre aquilo que é conhecido e o que não o é"

    e estivermos completamente preocupados com o que ! é conhecido nunca

    poderemos dar o salto para essa outra dimensão onde reside a criatividade, a

    imaginação ou o que quer que nos permita ver aquilo que até ser visto

    permanece escondido, e quando alguém v algo de novo reagimosestupefactos com o facto de não termos sido n$s a contacta-lo" 2 ra&ão para

    isso de algum modo acontece porque cada um de n$s tem o seu Barma e por

    isso não temos necessariamente de ver o que outros vem mas ainda assim

    podemos ver aquilo que é nosso para ser visto" E esse talve& possa ser o

    trabalho de uma vida, descobrir o que é nosso para ser descoberto, qual é a

    nossa traect$ria, o nosso trabalho no planeta"

    ?uando falamos em 2tenção plena (mindfulness) não posso deixar de referirque em todas as línguas asi!ticas a palavra para mente e a palavra para

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    coração é a mesma, pelo que quando ouvimos a expressão atenção plena

    (mindfulness) temos que entender qual o seu verdadeiro significado uma ve&

    que a podemos entender como atenção plena do coração (heartfulness)" 6 por

    isso que frequentemente falamos em atenção afectuosa ou em sermos

    carinhosos connosco porque não se trata de discernimento frio e distante, umcalculo da melhor traect$ria a percorrer ou melhor acção a executar" 2

    meditação não assenta o fa&er isto ou aquilo, ocupa-se da dimensão do ser, tal

    como nos mostra a expressão .ser/humano, e a resposta frequente a esta

    abordagem é o medo que as pessoas de deixarem de ter tempo para fa&er o

    que tem de fa&er, cumprir obectivos, etc"""

    =as a meditação não compactua com a ideia de um olha esva&iado sobe o

    infinito ou de uma retirada dos sentidos que nos permitem funcionar no

    mundo" 2 meditação trata de deixar a acção sair de dentro do ser no sentido

    em que permite que esta saia de uma dimensão de sabedoria que nasce da

    observação lcida de n$s pr$prios, que nos permite ver por baixo da superfície

    das aparncias, de ouvir o que realmente est! a ser dito ou pela expressão na

    cara de alguém que surge quando di&emos alguma coisa demasiado dura mas

    nem nos apercebemos da seta que disparamos na direcção do coração dessa

    pessoa e que nem notamos" 2 atenção plena pode conter todas estas coisas de

    uma maneira tal que nos permite não lançar essa seta logo : partida, mas se o

    fi&ermos reali&amos o efeito que ela tem na outra pessoa permitindo-nos uma

    reacção de integridade e car!cter apropriada que nos permite pedir desculpa e

    reconhecer mais um momento de falta de atenção" 4ma das primeiros

    sintomas de alguém que pratica atenção plena (mindfulness) e a descoberta doquanto estamos distraídos vulgarmente e é sobre essa reali&ação que entra a

    necessidade de o fa&ermos de uma forma não aui&adora, porque se nos

    vamos castigar cada ve& que nos deslocarmos do momento presente, iremos

    estar de castigo maior parte do tempo e talve& sea altura de pousar essa

    tendncia de castigar a n$s e a todos os outros que de alguma forma não

    estão : altura de uma forma de ideal" ?ue tal pensarmos em ser s$ honestos

    connosco e admitir que erramos quando erramos mas fa&endo-o de uma formaconsciente de que erramos para que o momento seguinte se apresente com

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    uma serie de opç0es para seguir em frente, é sobre o modo como vivemos a

    nossa vida e as opç0es que fa&emos nela e não sobre uma ideia torta de que

    se meditarmos vamos ter poderes de levitação ou vamos ser muito

    compassivos como o >alai ama ou como a =adre 'eresa ou quem quer que

    sea o nosso guru espiritual do momento" *ão teremos nunca a mínima dasmínimas hip$teses de ser como o >alai ama ou o 9handi ou outro her$i

    qualquer" 2 nica pessoa que temos hip$tese de ser somos n$s pr$prios e esse

    é na realidade o desafio da atenção plena (mindfulness) se n$s pr$prios e claro

    que a ironia é que claro, n$s ! o somos"

    2travessamos constantemente estados mentais que vão desde a 2patia,

    impacincia, irritabilidade, amuo, mas e que tal um pouco de alegria e estar

    consciente disso, ou compaixão pelas pessoas ou simpatia em relação a n$s

    mesmos" ?ue tal notar que o facto de notar contém tudo isso" Estaremos

    mesmo a sofrer quando nos encontramos numa segunda de manhã com uma

    semana de trabalho pela frente e chuva l! fora, estamos convictos dessa

    sensação de depressão mas façam esta pergunta a vocs pr$priosF procurem

    profundamente sem ser por meio do pensamento conceptual, ser! que a nossa

    conscincia de que estamos a sofrer est! a sofrer em si3 er! que a

    conscincia do meu medo e ansiedade est! com menos e ansiosa3 =omento

    ap$s momento temos hip$tese de sair desse argumento que é a hist$ria que

    solidificamos : nossa volta e de deixarmos de sr raptados pelas nossa emoç0es

    e opini0es cheias da dualidade do .gosto e não gosto/" #odemos passar a ter a

    escolha de estar na actualidade de descansar na nossa conscincia que é

    desde sempre a nossa companhia e aliada" 2 meditação não é mais do que oprocesso de a cultivar, trata-se de plantar sementes e dar-lhes agua e protege-

    las porque é preciso protege-la do caos, dos perigos antes de serem fortes o

    suficiente" #recisamos de proteger a nossa pratica, especialmente enquanto

    principiantes pois é fr!gil nestes primeiros est!gios e pode ser facilmente

    cortada por outras pessoas especialmente se começamos a contar-lhes que

    agora praticamos meditação e que estamos assim e assado dentro e que

    gostamos muito e que est! a correr muito bem" omeçamos a conversar aconversa da meditação e quando damos por isso ! não vamos estar a meditar"

  • 8/18/2019 Atenção Plena Para Principiantes

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    9astamos toda a nossa energia em conversa" *a realidade aconselho sempre

    as pessoas a não di&erem nada sobre a sua pr!tica de meditação nos primeiros

    cinco anos" empre que sintam a vontade de contar que estão a meditar,

    sentem-se e meditem um pouco mais"

    6 importante igualmente di&er que existe uma fundação ética ligada ao cultivo

    e pr!tica da atenção plena (mindfulness)" 2 atenção plena est! intimamente

    ligada : generosidade, compaixão e um tipo de abertura mental sem as as

    quais não é possível pratica-la" Estas qualidades estão na base de uma

    predisposição para não magoar" E não se trata de um espírito de fantasia, uma

    visão de fadas ou ne5age, é o principio basilar do uramento de Gip$crates,

    não fa&er mal"

    e cultivarmos este tipo de atitude em relação a n$s, quando nos sentamos

    para meditar saberemos porque estamos aqui, não o faremos com um

    sentimento de que estamos a praticar um grande exercício, seguir um conunto

    de instruç0es e esperar ser levados para um lugar de de magia" *ão h!

    nenhum lugar assim : nossa espera, pois ! estamos nesse lugar, no sitio mais

    espectacular onde iremos estar e esse sitio é aqui e agora" e o perdermos,

    bem, é s$ um momento na nossa vida, temos outro ! a seguir pois o outro !

    não existe" ?uanto tempo levaremos a acordar para o facto de que não

    dispomos de mais nada a não ser momentos para viver"

    #orque é que é importante enfati&ar a import@ncia da fundação ética para a

    meditação3 2 mente tem a particularidade de se enrodilhar em estadosmentais pouco saud!veis e frequentemente é apanhada naquilo que frequente

    mente se pode chamar um estado de ilusão, embora provavelmente não sea

    f!cil de assumi-lo" ?uando somos levados por uma preocupação constante por

    n$s pr$prios no sentido mais pequeno da palavra que envolve conceitos como

     .eu/ ou .meu/, a minha vida, a minha ambição, a minha carreira, as minhas

    necessidades, eu, eu, eu, meu, meu, meu" Aa&emos isto num processo de

    geração de uma orientação para a vida auto centrada, que pode de factocausar-nos mal a n$s e claro que aos outros o que acontece quando as nossas

  • 8/18/2019 Atenção Plena Para Principiantes

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    necessidades entram em conflito com as necessidades das outras pessoas"

    6 f!cil pensar como naç0es inteiras baseiam as suas relaç0es neste tipo de

    l$gica distorcida" E isto acontece sempre que enquanto indivíduos caímos nesta

    visão mesquinha de n$s pr$prios e no modo como nos identificamos connosco"*esta visão é f!cil cair em armadilhas emocionais que que tornam legitimo o

    acto de magoar" 2ssim quando afirmamos que a motivação fundadora da

    meditação é a de não magoar, isso permite-nos ganhar uma perspectiva nova

    sobre a maneira como vamos viver a nossa vida e mesmo uma visão mais

    clara sobre quais podem ser as nossas verdadeiras necessidades para a

    vivermos dentro de um espírito de felicidade independente de causas" 2s

    nossas necessidades reais podem ser muito diferentes das necessidades que

    pensamos serem fundamentais" %s nossos fortes apegos, as nossas emoç0es

    desesperadas, pensamos frequentemente em termos de ."""tenho que ter isto,

    ou a minha vida não ser! completa a não ser que aquilo aconteça"""/

    'ornamos-nos assim facilmente prisioneiros do que gostamos e não gostamos,

    das nossas ideias e opini0es, impulsos e e percepç0es" *ão parecemos

    paradoxalmente muito voltados para nos questionarmos se a realidade que

    parece surgir desses estados mentais aflitivos ser! mesmo verdade, ou estarei

    a cair em m!s percepç0es e maus entendimentos e como tal a criar a ilusão

    pela realidade3

    % 1uda explicou esta matéria de uma maneira muito terra a terra" 2grupou

    estes estados mentais em trs categorias que considerou serem como

    venenos"

    2o primeiro chamou-lhe simplesmente ganancia no sentido de apego a

    qualquer coisa que queremos" 6 uma noção um pouco forte e generalista mas

    se virmos bem mesmo os apegos mais inocentes tem a capacidade de gerar a

    ideia de que se não os reali&armos estamos incompletos" 9era-se a ideia de

    que se não tiver .isto/ se é infeli&, enquanto não tiver aquilo não se set! cem

    por cento completo" 2vançamos assim de apego em apego gerando sempre o

    mesmo tipo de sentimento em relação :s coisas que queremos caindo numciclo que vemos sempre melhor a desenrolar-se nos outros do que em n$s

  • 8/18/2019 Atenção Plena Para Principiantes

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    pr$prios"

    % segundo não é mais do que o contr!rio do primeiro, trata-se da aversão e

    tradu&-se em qualquer coisa de que não se goste" oisas das quais queremos

    fugir, temos uma perspectiva negativa e criticamos com entusiasmo"% terceiro é a ilusão : qual nos temos estado a referir, que pode ser

    classificada como sendo o oposto directo da sabedoria" *ão reconhecer a

    relação entre as coisas tal como elas são, não saber o que de facto se est! a

    passar, vivendo dentro da nossa versão da da realidade que se acaba por

    tornar nas nossas profecias pessoais onde racionali&amos o que queremos para

    acomodar da melhor maneira a nossa versão dos factos" +sto é ilusão"

    2ssim entre apego, aversão e ilusão existe um mundo de percepç0es :s quis

    podemos estar atentos, mesmo aqui tão perto de casa" *ão é necess!rio

    criticar ninguém nem a n$s" 2 ra&ão de ser da atenção plena (mindfulness) é

    reali&ar esta acção da mente e do corpo e como os dois interagem para criar as

    sensaç0es e emoç0es que nos controlam sempre que o permitimos" #odemos

    chamar a isso atenção plena (mindfulness)" E n$s simplesmente ignoramos-la

    e desvalori&amos-la a maior parte do tempo o que é uma tragédia" Existe

    muito para se estar atento e é por isso que a atenção plena é tão poderosa,

    porque contém poder transformativo e capacidade para nos orientar num

    processo de crescimento interior"

    *ão importa de facto a nossa idade quando tomamos contacto pela primeira

    ve& com a ideia de sair deste ciclo de ilusão construída pelas nossas emoç0es

    utili&ando esta ferramenta que é a meditação" Ela ter! sempre essa capacidadede nos devolver a vida e de nos orientar a partir do interior em qualquer idade

    ou situação por muito desfavor!vel que esta pareça desde que a nossa

    vontade de envolvermos com ela exista e a praticarmos como uma disciplina

    ao longo do tempo integrando-a e mecani&ando-a em ve& de lidarmos com ela

    como se fosse mais uma boa ideia" *ão é uma técnica de descontracção

    integrada num pacote de exercícios de um gin!sio orientado para o lucro" *ão

    é uma técnica sequer, é uma maneira de ser" 2 meditação embora empreguemuitas técnicas diferentes não tem nada a ver com elas" Estas são apenas

  • 8/18/2019 Atenção Plena Para Principiantes

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    modos h!beis para nos auda a acordar para a realidade do que ! é"

    'al como existe uma fundação ética inerente ! pratica da meditação é

    importante que se perceba logo desde o princípio que existe uma fundação

    ligada : atitude" 4ma qualidade de afectividade na atenção, ser simp!tico enão fa&er ulgamentos em relação a n$s e aos outros"

    4ma primeira atitude passa por não ulgar" 'emos ideias e opini0es acerca de

    tudo, basta começar a prestar atenção ao que se passa na nossa mente e

    reali&amos que basicamente tudo é um tipo de ulgamento"

    4ma segunda atitude que est! na fundação da atenção plena é a pacincia"

    Estamos sempre a tentar chegar a qualquer lugar ou a qualquer obectivo,

    estamos sempre a caminho de qualquer coisa melhor em relação ao tempo

    presente, sendo que frequentemente somos levados por uma sensação de

    ansiedade enquanto não chegamos a esse momento ideali&ado" 4m exemplo

    cl!ssico é o da criança que quer fa&er a borboleta sair do casulo mais cedo

    porque quer ter a borboleta o que o leva a descascar o casulo no sentido de

    tentar audar a borboleta a sair mais depressa, sem o entendimento de que as

    coisas se desenrolam a seu tempo" 2ssim a pacincia é um atitude essencial

    para se tra&er para a pr!tica porque esta pretende sair das imposiç0es do

    tempo, quando falamos do momento presente, falamos de sair fora do tempo

    do rel$gio" 'odos tempos momentos como esse e de facto não temos mais do

    que momentos como esse mas ignoramos quase todos eles, : excepção de

    muito de ve& em quando, e todos ! tivemos um momento como esse em queo tempo para para n$s, sea por um xtase ou tragédia"

    #odemos aprender a sair fora do tempo ditador do rel$gio por meio da atenção

    plena, o que nos d! na realidade muito mais tempo, pois temos uma infinidade

    de momentos entre este momento e o momento em que iremos morrer e

    quantos mais perdermos, mais r!pida ser! a viagem"

    2 terceira atitude fundamental é aquela a que chamamos ter uma mente de

  • 8/18/2019 Atenção Plena Para Principiantes

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    principiante" hunrHu u&uBi Iochi fala desta mente no seu livro .Jen mind,

    beguinnerKs mind/ onde explica qu ena mente de um perito existem muito

    poucas possibilidades ao passo qu ena mente de um principiante existem

    muitas possibilidades" % que precisamos é de manter esta mente de

    principiante ao longo de todos os momentos, porque as ideias e opini0es assimcomo a perícia frequentemente se colocam no caminho daquilo que não

    sabemos e descansar na compreensão daquilo que não se sabe é muito

    importante para se ver com claridade e criatividade" empre que nos

    debruçamos o tempo suficiente sobre determinada meteria acabamos por ficar

    com a ideia de que passamos a ser conhecedores dessa matéria" 4m a

    estratégia mais s!bia passa por reali&armos o quão pouco sabemos acerca sea

    do que for" 4m bom exemplo são monges seniores e amas de topo da

    tradição do 1udismo 'ibetano ou de outras tradiç0es que invariavelmente

    começam as suas palestras afirmando que na realidade não sabem nada, que

    na realidade deveríamos estar a ouvir outras pessoas"

    #ossuidores de um nível tremendo de humildade ,estes amas seniores com

    décadas e décadas de treino e estudos do >harma e meditação, di&em-nos

    com toda a honestidade que na realidade não são conhecedores, e não se trata

    de falsa modéstia, trata-se de manter uma mente de principiante, aberta a

    abrangente" ão como crianças ou gatinhos que tomam cada momento como

    novo e fresco tratando-o como se nunca o tivesse visto antes" *a realidade e

    ironicamente é verdade, nunca estamos em contacto com o mesmo momento

    duas ve&es" e tivermos uma atitude do género .quem v um momento, v-os

    a todos/ vamos ficar incrivelmente aborrecidos quando praticarmos atençãoplena (mindfulness) mas essa situação não tem que ser o fim da viagem, pois

    podemos sempre tomar conscincia e explorar o quanto aborrecidos estamos"

    E essa conscincia, podemos perguntar-nos, estar! a minha conscincia de qu

    estou aborrecido aborrecida3 >e maneira nenhuma, a nossa conscincia não é

    apanhada pelo nosso aborrecimento, e o nosso aborrecimento pode de facto

    tornar-se muito interessante, um outro estado mental, e isto é v!lido para

    qualquer outro estado mental que nos tirani&e"

  • 8/18/2019 Atenção Plena Para Principiantes

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    onfiança é a quarta atitude" % que é para n$s digno de confiança3 #odemos

    confiar naquilo que sabemos3 #odemos confiar no que sabemos através do

    pensamento3 9eralmente não, tal como foi referido podemos facilmente

    indu&ir-nos em erro, ser apanhados na nossa versão dos factos e não perceber

    o que de facto se est! a passar" =as e então que tal confiar na atençãoconscincia3 onfiar no nosso coração3 ?ue tal confiar na nossa motivação,

    pelo menos para não magoar" ?ue tal confiar na nossa pr$pria experincia até

    ser provado que est! incorrecta3 ?ue tal prestar atenção e ver, realmente

    olhar e ver as coisas pela primeira ve&3 #odemos confiar nos nossos sentidos3

    1em cada um dos nosso sentidos pode ser enganado" #odemos não poder

    confiar em pleno nos nosso sentidos, mas podemos confiar neles relativamente

    : medida em que nos treinamos em tomar contacto com eles" #odemos confiar

    no nosso corpo3 E se o nosso corpo teve uma doença grave no passado3

    >igamos um cancro, ser! que pensamos ter sido traídos pelo nosso corpo3 %u

    existe um sentido maior de confiança na base da nossa visão do nosso corpo,

    que nos di& que nos incentiva a não tomar a floresta pela !rvore3 E talve& sea

    uma questão de atitude o que nos leva a olhar para essa condição e lidar com

    esse cancro de uma forma positiva que cria as condiç0es para um ambiente

    propicio : cura, dando-nos a capacidade de viver a vida em pleno enquanto a

    podemos viver, er! que podemos meditar o cancro para fora do nosso corpo

    dessa forma3 *ão sei" 6 nesse .não sei/ que podemos confiar"

    2 quinta atitude fundamental, é esta é uma verdadeira arma apontada para

    todos n$s que vivemos numa sociedade moderna, é a atitude de não correr

    atr!s" #ertencemos a uma nova geração de humanos que existem porobectivos" #assamos a vida a caminhar de um obectivo para outro, somos

    fa&edores de coisas e nesse sentido deveríamos considerar em renomear a

    nossa espécie de seres humanos para .fa&edores/ humanos, porque estamos

    completamente voltados para a acção, e progresso e chegar a um destino sem

    ligar : viagem" Esta atitude est! ligada : necessidade de deixar cair o rel$gio

    no momento presente" *ão h! nenhum sitio para ir, nada para fa&er ou para

    atingir" 2ssim a meditação não é como nada que se tenha experimentadoantes, não é como aprender a condu&ir um carro que se torna autom!tico, um

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    h!bito que se tradu& numa habilidade que usamos sem ter que pensar nela, o

    que pode explicar o numero de acidentes rodovi!rios com que nos deparamos

    nas notícias, dificilmente as pessoas estão nos carros enquanto os condu&em

    sem prestar realmente atenção" 2 atitude de não correr atr!s não deve ser

    despre&ada, pois significa que ! estamos aqui" *ão existe um sitio para irporque o obectivo é estar acordado" *ão se trata de um ideal que é alcançado

    depois de trinta anos a meditar no topo do monte Evereste ou numa gruta nos

    Gimalaias, ou consultando um milhão de amas 'ibetanos ou depois de fa&er

    cem mil prostraç0es" % que acontece agora é o que importa" % futuro de que

    andamos : procura3 6 isto" Este é o futuro de todos os momentos com que

    sonhamos acerca do futuro, estamos nele" #erguntem-se, qual é o prop$sito

    desta vida se tudo aquilo a que podemos aspirar é chegar a um sitio e quando

    l! chegamos não estamos satisfeitos de qualquer maneira" % que nos tr!s :

    sexta atitude fundamental, a aceitação"

    Esta atitude é frequentemente mal entendida pelas pessoas, pois passa por

    conformismo" 2ceitação é s$ a coisa mais difícil de fa&er no mundo, aceitar o

    qu3 ?ue as coisas são simplesmente da maneira que são" *ão se pretende

    passar a ideia de que devemos nos conformar com a maneira como as coisas

    se processam" e as coisas vão de mal a pior, então esse saber, essa

    conscincia de que as coisas vão de mal a pior dão-nos um local para estar e

    agir no momento a seguir" e não aceitarmos a maneira como as coisas

    simplesmente são, não vamos ter esse espaço para considerar as opç0es" e

    tivermos uma dor de costas cr$nica e vivermos a nossa vida numa atitude de

    que a nossa vida é horrível , e que a nossa dor de costas arruinou a nossavida, então, vamos estar a criar a hist$ria de como a nossa vida é horrível

    porque a nossa dor de costas cr$nica a arruinou e de como me tornei a minha

    dor de costas" #or outro lado se pudermos colocar as circunstancias dentro do

    nosso espectro de atenção então essa hist$ria deixa de ser a nossa hist$ria"

    #assamos a ter uma hist$ria muito mais ampla, a historia de quanto consciente

    estou do quanto me estou a castigar acerca das minhas costas, da minha dor,

    do meu cancro, o que não deixa de ser verdade, simplesmente passa a não sera verdade toda" #assamos a ser mais do que aquilo que nos apoquenta"

  • 8/18/2019 Atenção Plena Para Principiantes

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    2ssim se pudermos aceitar a maneira como as coisas são agora, o pr$ximo

    momento passa a ser diferente, liberto de toda a poluição mental que

    deixamos que nos envolva" 2ceitar o momento tal como é sem precisarmos de

    ter mais isto ou menos aquilo para que sea perfeito é liberdade" Essa

    liberdade vem da aceitação mais não é resignação passiva" *ão passa por nosacomodarmos ao papel de capacho e deixarmos os outros ou a vida nos

    pisarem" #odermos então agir a partir dessa atenção plena de mente e

    coração, de um tipo de emoção sabedora em ve& de sermos resgatados pelas

    nossas emoç0es habituais acerca do que pensamos não poder aceitar" Ls ve&es

    é necess!rio passar por uma fase de negação, raiva ou luto pois estes são

    est!gios da perda que usamos para estabelecer o processo de aceitação das

    coisas tal como elas são, momento a momento" #rimeiro temos ver, sentir,

    tocar, cheirar, é uma pr!tica e não um ideal ou estado especial que

    alcançamos" 6 um processo feito momento a momento, perde-se a atenção e

    recupera-se no momento a seguir, é como o processo de andar em que

    perdemos o equilíbrio momento a momento para o recuperar logo depois, essa

    é de facto a mec@nica envolvida no processo de andar" om a atenção plena

    (mindfulness) passa-se o mesmo, caímos em n$s momento a momento,

    caímos em claridade, sendo que a ultima forma desta queda é o desapego :s

    coisas que queremos, ao que temos que ter ou :s coisas que odiamos"

    *ão é f!cil a pr!tica da atenção plena (minfulness), envolve um sentido de

    disciplina e diligncia por parte daqueles que embarcam neste desafio de uma

    vida, crescer na direcção daquilo que realmente somos"

    % processo cognitivo, tão dominante nas nossas vidas torna-se bastante visível

    assim que nos sentamos e tentamos meditar" 2 primeira coisa que notamos é

    que a mente tem uma vida pr$pria, anda desgovernada de um alado para o

    outro cheia de opini0es, agora também sobre a meditação que estamos a

    fa&er, acerca do bem que estamos a ir ou não, do aborrecidos que estamos etc"

    =as pensemos nisto, não é verdade que desde que fomos para a escola :

    muito anos atr!s fomos treinados em pensamento crítico3 embro-meclaramente de perguntar aos meus professores o porque de termos de

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    aprender algumas disciplinas, para que é que serviam em termos pr!ticos no

    nosso futuro3 2 resposta obtida frequentemente era no sentido de que eram

    importantes para desenvolver um pensamento crítico, pensar mais claramente

    e falar com mais eloquncia, o que acabei por contactar ser verdade" Goe em

    dia gosto muito de gram!tica e da língua +nglesa e de escrever, existem outras!reas que não uso muito como trigonometria mas gosto muito de toda a noção

    de geometria associada ao universo e o facto dessa geometria não ser linear

    como Einstein propMs e parece ser o caso de que o universo é dobrado por

    forças que ! foram tidas como magia e hoe são compreendidas como a

    gravidade, mostrando que as dimens0es do tempo e espaço são influenciadas

    pela massa dos obectos" Estas matérias são muito interessantes e são tão

    importantes para a compreensão do universo exterior onde vivemos como as

    cincias místicas orientais que se debruçaram desde sempre sobre as

    paisagens internas da nossa percepção e conscincia" #recisamos assim de

    uma fundação em pensamento crítico para melhor compreendermos a

    nature&a dos fen$menos : nossa volta" laro que pensar é uma habilidade

    espantosa e é muito importante que como principiantes na meditação

    possamos compreender que esta não se desenrola : volta da necessidade de

    deixar de pensar ou suprimir os pensamentos enquanto a praticamos" er!

    como tentar impedir o oceano de criar ondas pois est! na sua nature&a a

    criação destas, ondular é a sua acção superficial e a mente fa& o mesmo

    segregando os pensamentos como pequenas bolhas que sobem até :

    superfície da nossa conscincia" % problema surge quando esses pensamentos

    ocupam a totalidade da nossa atenção" ?uando isso acontece identificamos-

    nos com eles numa noção de que somos aquilo que pensamos e é a isso quese chama apego"

    % 1uda colocou isto nestes termosF >isse que todos os seus pensamentos

    poderiam ser condensados numa frase, e uma ve& que ensinou continuamente

    durante NO anos sem tirar férias ou fins de semana, acho que é licito di&er que

    se isso for verdade, talve& sea inteligente da nossa parte memori&armos essa

    frase" +maginem NO anos de ensinamento ininterruptos condensados numa s$frase" 2 frase éP

  • 8/18/2019 Atenção Plena Para Principiantes

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     .*ão h! nada neste mundo que possa ser entendido como eu ou meu/"

    'emos que tentar entender o que é dito aqui" *ão é que precisemos de nos

    preocupar com uma ideia de não existncia e que precisamos de alguém par

    anos calçar os sapatos porque não existimos ou que não temos dinheiro nanossa conta no banco porque como não existimos não temos conta, não" % que

    significa é que o apego :s ideias com as quais nos auto identificamos e a nossa

    postura auto centrada distorcem e criam a ilusão que funciona como uma

    prisão para n$s"

    *ão ser! verdade que nos tornamos tão bons a pensar que ! não

    reconhecemos os pensamentos como pensamentos3 *ão é verdade que

    tendemos a experimentar as nossas opini0es e ideias e pensamentos como

    factos3 omo sendo a realidade absoluta quando sabemos, e isto é uma

    grande verdade, que isso não é necessariamente verdade3 abemos mas ao

    mesmo tempo não sabemos o que fa&er com esse sentimento desconfort!vel

    que habita numa &ona menos conhecida da nossa conscincia, porque é um

    pouco assustador"

    =as aquilo que nunca tivemos desde a nossa inf@ncia ou em qualquer outra

    altura durante a nossa educação em termos gerais foi um tipo de conselho ou

    treino sistem!tico sobre o valor da atenção plena (mindfulness) como algo

    maior e mais abrangente do que pensamentos e emoç0es" 2lgo que pode

    conter ambos, pensamentos e emoç0es, e que não é apanhado neles"

    2 atenção plena (mindfulness) é nosso direito por nascença tanto como ashabilidades de pensar e sentir ou dentro do mesmo sentido, os nossos olhos

    para ver" =as quando é que qualquer um de n$s teve acesso a aulas de

    atenção plena (mindfulness) em paralelo com o nosso treino em pensamento

    crítico3 6 duvidoso que algum de n$s alguma ve& tenha tido" Estranhamente

    não fa& parte do currículo da escola preparat$ria ou liceu ou daquilo a que

    chamamos educação superior" Embora no momento actual essa situação estea

    a mudar em v!rios círculos através do panorama de ensino" *ão é que existaalguma coisa errada no processo de pensar é untamente com a comunicação

  • 8/18/2019 Atenção Plena Para Principiantes

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    um dos atributos mais importantes da humanidade, mas quando não passa

    pelo filtro da atenção plena o pensamento pode, como foi referido por sua

    santidade o >alai ama, ser utili&ado para ustificar qualquer meio em função

    do fim que se obectiva, tropeçando assim no tecido da sua pr$pria nature&a

    criando o processo de fabrico das emoç0es aflitivas, aprisionando-nos no seutumulto e causando sofrimento a n$s, aos outros e ao mundo" omo foi

    colocado por 2rist$teles de uma forma um bocado dura .2 vida não examinada

    não vale a pena ser vivida/"

    4ma ve& que atenção plena (mindfulness) é a cultivação momento a momento

    da conscincia por meio de uma atenção cuidada e sistem!tica pode parecer

    ao principio que aquilo que é mais importante são os obectos da nossa

    atenção, aquilo a que estamos a prestar atenção" ea o que estamos a ouvir

    ou a ver ou a sentir ou a pensar, ou em outras palavras a experimentar" +sso

    deve-se ao facto de que no princípio precisamos de alguma coisa a que dar

    atenção, quer sea a respiração, ou um obecto : nossa frente, uma imagem

    mental, um som repetido ou qualquer outra coisa que possa ser

    experimentada no momento presente" =as é importante perceber logo desde o

    principio da nossa pr!tica que não são estes obectos da nossa atenção aquilo

    que é importante, quer sea o movimento do peito no processo de respiração

    ou o fluxo dos pensamentos que nos passam pela mente como se fossem

    nuvens no céu, não é isso que é importante"

    % que é importante é passa facilmente despercebido ou é tomado como certo,

    é a atenção (mindfulness) que sente e sabe que respirar est! a acontecerneste momento, que ouvir est! a acontecer neste momento, que os

    pensamentos estão a passar pela mente neste momento, é a atenção

    (mindfulness) que é importante" Essa atenção (mindfulness) sempre foi

    nossa" Q! est! disponível e ! é completa, capa& de conter e de saber não

    conceptualmente qualquer coisa que experimentemos no nosso interior ou

    exterior, independentemente da import@ncia ou da trivialidade que apresente

    porque essa é a propriedade da atenção (mindfulness) em si e n$s ! a temos,ou talve& sea mais correcto di&er que n$s ! a somos"