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Mariah Theodoro de Souza A autopercepção de comportamentos relacionados à atenção plena em profissionais da saúde Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Programa de Medicina Preventiva Orientador: Prof. Dr. Reinaldo José Gianini São Paulo 2016

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Mariah Theodoro de Souza

A autopercepo de comportamentos relacionados ateno plena em

profissionais da sade

Dissertao apresentada Faculdade de

Medicina da Universidade de So Paulo

para obteno do ttulo de Mestre em

Cincias

Programa de Medicina Preventiva

Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Jos Gianini

So Paulo

2016

Mariah Theodoro de Souza

A autopercepo de comportamentos relacionados ateno plena em

profissionais da sade

Dissertao apresentada Faculdade de

Medicina da Universidade de So Paulo

para obteno do ttulo de Mestre em

Cincias

Programa de Medicina Preventiva

Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Jos Gianini

So Paulo

2016

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

Preparada pela Biblioteca da

Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

reproduo autorizada pelo autor

Souza, Mariah Theodoro de A autopercepo de comportamentos relacionados ateno plena em profissionais

da sade / Mariah Theodoro de Souza. -- So Paulo, 2016.

Dissertao(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Programa de Medicina Preventiva.

Orientador: Reinaldo Jos Gianini.

Descritores: 1.Promoo da sade 2.Sade mental 3.Ateno plena 4.Estresse psicolgico 5.Transtornos mentais 6.Meditao 7.Centros de ateno terciria

8.Condies sociais 9.Nvel de sade 10.Indicadores bsicos de sade 11.Pessoal de

sade 12.Questionrios 13.Estudos transversais

USP/FM/DBD-090/16

NORMALIZAO ADOTADA

Esta dissertao ou tese est de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento

desta publicao:

Referncias: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors

(Vancouver).

Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Diviso de Biblioteca e

Documentao. Guia de apresentao de dissertaes, teses e monografias. Elaborado

por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana,

Marinalva de Souza Arago, Suely Campos Cardoso, Valria Vilhena. 3a ed. So Paulo:

Diviso de Biblioteca e Documentao; 2011.

Abreviaturas dos ttulos dos peridicos de acordo com List of Journals Indexed in Index

Medicus.

A Lista de Siglas e Abreviatura foi elaborada seguindo a ordem de entrada no texto.

DEDICATRIA

Este trabalho dedicado com todo meu amor aos

meus pais Luciana e Eduardo, cujo apoio foi

fundamental para a realizao do que vivo hoje

como presente em minha estrada da vida

profissional. Aos seus valores e ensinamentos que

me guiam com determinao em busca de minha

construo como um ser humano melhor e

literalmente amante... De como a vida me sada.

AGRADECIMENTOS

Gratido a Deus por manifestar-se na singeleza da vida e na grandeza de nosso potencial

humano.

Ao meu orientador Dr. Reinaldo Gianini, a quem devo a concretizao deste sonho, por

toda disponibilidade, ateno, sabedoria que me transmitiu e que guardarei para sempre

como exemplo de Professor.

Aos meus pais Eduardo e Luciana pelo apoio incondicional, pelo amor, felicidade e

suporte.

A minha linda irm Sarah por todo afeto e parceria sem igual. Sem voc comigo os dias

no teriam sido to brilhantes.

Ao meu marido Jos Luiz pela compreenso, pacincia, amor e orientaes nesta

caminhada.

A minha av Lena pela f que tenho hoje, por sua doce presena. Aos meus outros avs

que vibram sem dvida por minhas conquistas.

A Lourdes por sua delicadeza, amor e dedicao de uma vida a mim e minha famlia.

A Moah e Branca, bichinhos amados, por cada demonstrao de afeto e

companheirismo sem igual. Ao Sr. Mar por cada onda que me permitiu surfar

renovando minha fora e o que h de melhor em mim.

A famlia Sebba de Souza pela torcida.

A querida amiga Dra. Flvia Azevedo quem me incentivou, acreditou em mim e me

abriu as portas no HC-FMUSP e na Faculdade de Medicina de So Paulo. Minha

gratido eterna.

A Marbel por toda dedicao, inspirao e aprendizado interno que venho conquistando.

Aos meus Mestres reikianos Eugnio e Cleide Rojas por todo carinho e cuidado.

Aos amigos do Departamento de Medicina Preventiva, Cleiton Eduardo Firio, Marcia

Mandelli, Felipe Nascimento e Juliana Yukari pelas boas risadas, fora e ajuda.

A Miriam Regina de Souza por sua simpatia e colaborao sem tamanho.

Aos Professores Doutores Ana Cludia Germani, Paulo Rossi Menezes, Emmanuel

Burdmann, Mario Ferreira Junior, Milton Arruda Martins pelo acolhimento e

ensinamentos.

Aos colegas e professores do Mente Aberta que me incentivaram e me possibilitaram o

aprofundamento prtico e terico do tema deste trabalho: Marcelo Demarzo, Ricardo

Monezi, Mrcio Sussumo Hirayama e Vincius Terra Loyola.

Aos que de alguma forma se esforaram para me ajudar na realizao deste trabalho:

Dra. Melissa Brand Faintuch, Valria de Vilhena Lombardi, Lilian Prado, Marlene

Goreti de Sales, Mariana Dionisia Garcia e Andria Padilha.

Hoje acordei observando minha vida em 3D.

Um espao tridimensional que contempla a

altura da generosidade, a profundidade das

experincias e a largura da amorosidade.

Este efeito tem se dado pelo relevo de

minha alma e particularmente pela gratido

em estar vivendo.

Mariah Theodoro de Souza

SUMRIO

Lista de siglas e abreviaturas

Lista de tabelas

Resumo

Abstract

1. INTRODUO ....................................................................................... 1

2. JUSTIFICATIVA .................................................................................. 11

3. OBJETIVOS .......................................................................................... 12

3.1 Objetivo Geral .................................................................................. 12

3.2 Objetivos Especficos ....................................................................... 12

4. MTODOS ............................................................................................ 13

4.1 Tamanho da Amostra ...................................................................... 14

4.2 Instrumento ...................................................................................... 17

4.3 Coleta e Tratamento de Dados ....................................................... 19

4.4 Anlise ............................................................................................... 20

5. QUESTES TICAS ............................................................................ 21

6. RECURSOS UTILIZADOS ................................................................. 22

7. RESULTADOS ...................................................................................... 23

8. DISCUSSO .......................................................................................... 41

8.1 Limitaes do estudo ...................................................................... 55

9. CONCLUSO ....................................................................................... 57

9.1 Consideraes finais ....................................................................... 58

10. ANEXOS ................................................................................................ 59

11. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................. 70

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

MT/MCA Medicina Tradicional Complementar/Alternativa

CMD Common Mental Disorders

PICS Prticas Integrativas e Complementares em Sade

PHMS Philadelphia Mindfulness Scale

EFM Escala Filadlfia de Mindfulness

SAMSS Servio de Assistncia Mdica e Social ao Servidor

AMS Atendimento Mdico ao Servidor

SESMT Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do

Trabalho

HC-FMUSP Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de

So Paulo

GHQ-12 Questionrio de Sade Geral

TMC Transtorno Mental Comum

OMS Organizao Mundial da Sade

FMI The Freiburg Mindfulness Inventory

MAAS Mindfulness Attention Awareness Scale

KIMS Kentucky Inventory of Mindfulness Skills

MQ The Mindfulness Questionnaire

FFMQ Five Facet Mindfulness Questionnaire

TMS The Toronto Mindfulness Scale

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuio de frequncia das variveis sociodemogrficas,

HC-FMUSP, 2014 ................................................................................. 23

Tabela 2 Distribuio de frequncia das variveis socioeconmicas, HC-

FMUSP, 2014 ........................................................................................ 24

Tabela 3 Distribuio de frequncia das variveis relativas s condies

de trabalho, HC-FMUSP, 2014 ............................................................. 25

Tabela 4 Distribuio de frequncia das variveis relativas situao de

sade, HC-FMUSP, 2014 ...................................................................... 27

Tabela 5 Distribuio de frequncia das variveis consumo de tabaco,

lcool e drogas ilcitas, HC-FMUSP, 2014 ........................................... 29

Tabela 6 Distribuio de frequncia das variveis sono, atividade fsica e

lazer, HC-FMUSP, 2014 ....................................................................... 30

Tabela 7 Escore Total e dos Componentes da Escala Filadlfia de

Mindfulness, HC-FMUSP, 2014 ............................................................ 32

Tabela 8 Escore do Questionrio de Sade Geral GHQ-12, HC-FMUSP,

2014 ....................................................................................................... 32

Tabela 9 Anlise das diferenas das mdias (X) dos escores de ateno

plena segundo variveis dicotmicas (Teste t), HC-FMUSP,

2014 ....................................................................................................... 33

Tabela 10 Anlise das diferenas das mdias (X) dos escores de ateno

plena segundo variveis ordinais e politmicas (ANOVA), HC-

FMUSP, 2014 ........................................................................................ 36

Tabela 11 Anlise das diferenas nos escores de ateno plena segundo

categoria de TMC para as variveis Profisso e Tipo de Doena

Referida, HC-FMUSP, 2014 ................................................................. 39

RESUMO

Souza MT. A autopercepo de comportamentos relacionados ateno plena em

profissionais da sade [Dissertao]. So Paulo: Faculdade de Medicina,

Universidade de So Paulo; 2016.

INTRODUO: As intervenes de promoo da sade mental avanam e

atividades no medicamentosas ganham espao. Neste sentido, estudos apontam a

ateno plena (mindfulness) como estratgia integrativa para o enfrentamento do

estresse e de transtornos mentais comuns, bem como para obteno do autocuidado.

Mindfulness referido no contexto laico contemporneo como um estado mental

presente em todos os indivduos em maior ou menor intensidade que pode ser cultivado

diariamente atravs de prticas meditativas. OBJETIVO: Descrever o nvel da

autopercepo de comportamentos relacionados Mindfulness em profissionais da

sade de um Hospital Tercirio e analisar a associao dos nveis de mindfulness

autopercebidos com determinados indicadores das condies de vida e sade.

MTODO: Foi realizado um estudo transversal com 97 profissionais da sade que

compem o complexo do Hospital das Clnicas - FMUSP por via de caracterizao

Sociodemogrfica, da Escala Filadlfia de Mindfulness (EFM) e de um Questionrio de

Sade Geral (General Health Questionnaire -12). Todos os questionrios foram

aplicados no perodo de fevereiro/novembro de 2014. RESULTADO: Na EFM, o escore

mdio apresentado foi maior para o componente Conscincia (mdia 29,9; desvio-

padro 0,62) do que para Aceitao (mdia 15,7; desvio-padro 0,86), sendo a mdia

45,6 e desvio-padro 1,1 para o Escore Total (componente conscincia somada a

aceitao); Verificou-se nmero significativo de indivduos (41%) com suspeita de

transtornos mentais comuns (TMC), aqueles que apresentaram um escore de trs ou

mais no GHQ-12. Em anlise mais detalhada (Teste t e ANOVA) observou-se

associaes fortemente significantes (p

ABSTRACT

Souza MT. The self-perception of mindfulness-related behaviors in health care

workers [Dissertation]. So Paulo: "Faculdade de Medicina, Universidade de So

Paulo"; 2016.

INTRODUCTION: The Mental Health Promotion interventions advance and

non-drug activities gain ground. In this case, studies show meditation as an opportunity

to cope with stress and the common mental disorders, as well as to obtain self-care.

Mindfulness is referred in contemporary laic context as a present mental state in all

individuals in greater or lesser degree which can be daily cultivated through meditative

practices. OBJECTIVE: This study aimed to describe the self-perceived level of

Mindfulness-related behaviors in health care professionals of a tertiary care hospital as

well as to analyze the association of self-perceived mindfulness levels with certain

indicators of living conditions and health. METHOD: A cross-sectional study is

proposed with 97 health professionals who make up the University Hospital complex -

FMUSP via Socio Demographic characterization, a study of the Philadelphia

Mindfulness Scale (PMS) and a Questionnaire of General Health (General Health

Questionnaire -12). All interviews were conducted between February and November/

2014. RESULT: In PMS, the average score was higher for the component awareness

(mean 29.9, SD 0.62) than for acceptance (mean 15.7, SD 0.86), with an average 45.6

and SD 1.1 for the Total Score (component awareness added to acceptance); There

was a significant number of individuals (41%) with suspected common mental disorders

(CMD), those with a score of three or higher in the GHQ-12. In a more detailed analysis

(T-Test and ANOVA) it was observed strongly significant associations (p

1

1. INTRODUO

A etimologia da palavra Mindfulness advm da palavra sati que significa

recordar-se continuamente do objeto de ateno, uma constante presena da mente -,

proveniente da linguagem Pli, idioma de origem budista, o qual era utilizado para os

ensinamentos de Sidarta Gautama, o Buda. Suas prticas foram evidenciadas

historicamente nas tradies orientais (principalmente no budismo), perpassando por

diferentes outras tradies filosficas, religiosas, culturais e mdicas ocupando-se de um

contexto laico (Hirayama, 2014).

No existe um consenso para a traduo da palavra em portugus. Uma de suas

tradues ateno plena. Do mesmo modo, ainda no existe consenso para a

operacionalizao do tema (Chiesa, 2012). A palavra mindfulness (ateno plena) pode ser

utilizada para designar tanto um processo psicolgico, um trao inerente ao indivduo que

pode ser mutvel, um comportamento ou um conjunto de tcnicas e prticas de cultivo

meditativo (de ateno plena) que corroboram a um estado mental mindful (Keng,

Smoski & Robins, 2011; Loyola, 2015).

O conceito clssico de mindfulness, na literatura da psicologia atual, se distancia de

qualquer crivo de juzo reflexivo, como crenas e narrativas. Prioriza os aspectos

atencionais e de viglia da experincia que est ocorrendo no presente, de forma intencional

e sem julgamento (Kabat-Zinn, 1990).

Mindfulness no significa meditao e no consiste em deixar a mente em branco ou

em suprimir emoes de forma voluntria. Mindfulness referido a um estado mental

presente em todos os indivduos em maior ou menor intensidade que pode ser cultivado

diariamente atravs de prticas meditativas. Contudo, nem todas as prticas meditativas

esto associadas ao desenvolvimento da ateno plena (Campayo & Demarzo, 2015).

2

Desta forma, a ateno plena pode ser definida como uma prtica integrativa que

consiste no direcionamento da ateno do indivduo de forma intencional ao momento

presente, com uma atitude de abertura, curiosidade e aceitao. De modo, que o indivduo

mantenha-se concentrado na experincia imediata, favorecendo assim o reconhecimento da

realidade experienciada (Bishop, 2004; Demarzo, 2011).

A concentrao no momento presente refere-se a estar em contato com o presente

sem estar preso a lembranas do passado ou a pensamentos sobre o futuro. O termo

intencional designa a escolha do praticante de mindfulness em estar plenamente atento e

disposto para atingir este objetivo. O no julgamento representa a aceitao dos

sentimentos, pensamentos e emoes como legtimos, vivenciando seus contedos da

maneira em que so apresentados. Sem caracteriz-los como positivos ou negativos,

suspendendo qualquer racionalizao pelas quais as pessoas costumam investir

automaticamente na luta contra experincias aversivas (Vandnberghe & Sousa, 2006).

O cultivo e a manuteno da ateno de forma intencional no momento presente

desenvolve um estado de concentrao mais refinado que pode favorecer a observao de

estmulos que servem como gatilhos de comportamentos adaptativos e mal adaptativos.

Isso permite aos que cultivam a prtica um melhor manejo de seus prprios

comportamentos, de forma a possibilitar o indivduo a manter ou aumentar comportamentos

adaptativos e diminuir padres de comportamentos mal-adaptativos (Rapgay & Bystrysky,

2009; Barros, 2013).

sabido que existe dor na existncia de todo ser humano e que cada indivduo ir

experiment-la em alguns momentos. Uma quantidade maior de sofrimento estar ligada as

expectativas do indivduo sobre o mundo e por sua tentativa de resistir e tentar controlar a

realidade. Desta forma, a aceitao em mindfulness consiste em admitir que o sofrimento

faz parte da vida e tolerar da melhor maneira possvel um problema, agindo ativa e

efetivamente no que possa ser til. O indivduo se torna mais desperto e consciente sobre o

controle real que se tem sobre uma dificuldade e no a confronta irracionalmente ou se

resigna a ela. Aceitar o nico modo de converter o sofrimento insuportvel em uma dor

passvel de ser tolerada (Campayo & Demarzo, 2015; Penman & Williams, 2015).

3

OCIDENTALIZAO DO TEMA E EVIDNCIAIS CINTFICAS

A expanso de Mindfulness para cincia se deu no sculo XX - atravs das prticas

clnicas comportamentais e de estudos com base em evidncias-, por produzir efeitos

positivos psicolgicos, bem estar e por melhorar sintomas de vrias enfermidades dos

indivduos (Holzel et al., 2011).

Foi Jon Kabat-Zinn o precursor pela ocidentalizao do tema. Desenvolveu o

Programa de Reduo de Estresse Baseado em Mindfulness (MBSR) para o manejo da

dor crnica e doenas relacionadas ao estresse. Fundou o Centro de Mindfulness da

Universidade de Massachussetts nos EUA em 1979 (Kabat-Zinn, 1990; Campayo &

Demarzo, 2015).

Na dcada de oitenta, outros programas com aplicaes de Intervenes Baseadas

em Mindfulness (MBI) comearam a ser explorados adquirindo identidade nas psicoterapias

comportamentais e cognitivas (Mindfulness-Based Stress Reduction - MBSR; Mindfulness-

Based Cognitive Therapy - MBCT; Mindfulness-Based Relapse Prevention MBRP). Mais

tarde, nos anos 90, foi inserida dentro das terapias de Terceira Gerao (Dialectical and

Behavior Therapy DBT, Acceptance and Commitment Therapy - ACT), se tornando uma

caracterstica central dessas (Baer, 2003; Dryden & Still, 2006; Silveira et al, 2012).

O MBTC foi desenvolvido com a integrao de prticas formais de meditao e

estratgias tradicionais da terapia cognitiva para preveno de recada de depresso

recorrente (Segal, Williams & Teasdale, 2002). O MBRP baseou-se no modelo MBTC, mas

foi desenvolvido para auxiliar pacientes dependentes de substncias que estejam tentando

no fazer uso (Marlatt & Donovan, 2009).

O programa DBT incluiu procedimentos cognitivos comportamentais e habilidades

de mindfulness para o treino de habilidades sociais do transtorno borderline (Linehan,

1993). A ACT encoraja os indivduos que buscam a terapia para experienciarem

pensamento e emoes, mesmo que desagravveis, conforme eles vo surgindo sem que

tentem julgar, avaliar, mudar ou evit-los (Wilson, 2010). Tanto na DBT como na ACT

habilidades de mindfulness so ensinadas, mas sem um foco formal na prtica meditativa,

diferentemente dos programas descritos anteriormente.

4

SADE, CINCIA E MINDFULNESS

As evidncias e teorias atuais de mindfulness explicam sua eficcia atravs de

mecanismos como o aumento da conscincia corporal, o aumento da ateno, a regulao

das emoes e mudanas na perspectiva subjetiva do indivduo (Campayo & Demarzo,

2015).

Os efeitos de mindfulness possuem uma repercusso importante na sade dos

indivduos, porque alm de manter uma atitude correta de desapego proporciona benefcios

objetivos no tratamento de: doenas fisiolgicas ou psiquitricas e na preveno de

estresse, mal estar psicolgico e no desenvolvimento do bem estar psicolgico, no aumento

da capacidade de concentrao e no rendimento das tarefas, aprimoramento das relaes

interpessoais e maior empatia, diminuio de estresse referente ao trabalho e riscos

psicossociais, aumento da satisfao no trabalho e melhora do ambiente laboral (Campayo

& Demarzo, 2015; Penman & Williams, 2015).

Em meio uma sociedade ps-moderna, nas reas urbanas principalmente, exigncias e

necessidades dirias fazem com que possamos agir de modo a nos denotarmos eficientes e

objetivos. Porm, nem sempre a eficincia e a objetividade esto relacionadas com a

capacidade de estarmos atentos ao que de fato relevante no momento presente. Agimos

em parte das vezes, sem estarmos envolvidos emocionalmente com nossas aes para

dinamizarmos melhor o tempo e atingirmos as metas propostas. Ficamos em outras vezes,

presos a pensamentos voltados ao passado ou ao futuro, impedindo nosso contato direto

com o momento atual, vivendo em modo piloto automtico (Hayes, 2004).

Isto ocorre porque o contato com aspectos importantes do dia a dia podem ser

dolorosos ou incmodos. Colocar-se em contato com pensamentos e emoes (processos

mentais) podem gerar sensaes de insegurana, tristeza e at mesmo incapacidade para

enfrentar dificuldades. Mas, no lidar diretamente com essas sensaes naturais da vida

pode perpetuar no aumento do estresse fsico e mental, bem como o adoecimento do

indivduo. Assim, estar sob comando do piloto automtico estar limitado a reagir ao

ambiente de forma flexvel e adaptativa, o que pode ser negativo na maior parte do tempo

(Kabat-Zin, 1990), a no ser numa situao imediata de fuga ou esquiva, por exemplo,

5

como no caso de levantar as mos para se proteger de um objeto que est prestes a cair

sobre voc (uma resposta imediata diante de algo inesperado que demandava uma ao de

reflexo).

Mindfulness permite uma reduo da vulnerabilidade desses processos mentais que

levam ao adoecer. Em um estado de ateno plena os pensamentos e os sentimentos so

observados como eventos da mente, sem que ocorra qualquer julgamento, identificao ou

reao automtica com eles. Torna-se possvel um espao de observao e de separao dos

pensamentos e das aes (Bishop, 2004). Em outras palavras, quando eu passo a agir de

forma mindful eu passo a aceitar e a permitir as experincias que a vida nos oferece

diariamente, sem tentar resistir, julgar ou mud-la. Este modo de ser mindful pode ser

alcanado de forma voluntria com o tempo e com a prtica de ateno plena, alterando a

perspectiva de como nos relacionamos com o mundo ao redor e internamente.

A ateno plena auxilia as pessoas a responder de forma mais eficaz durante um

processo de mudana comportamental. Desde mudanas rotineiras de hbitos de sade (que

envolve contingncias de reforo individual, social e ambiental), at para atitudes mais

compassivas consigo prprio durante o processo, como na persistncia e manuteno do

autocuidado. O estado de mindfulness tambm pode ajudar o indivduo a ser menos reativo

a pensamentos negativos e emoes que aparecem quando buscam se envolver com

comportamentos mais saudveis (Gilbert & Waltz, 2010).

A mente humana esta sempre trabalhando. Mesmo que se deseje focar em algo em

poucos segundos o divagar mental, o dilogo interno comea, pensamentos intrusivos

aparecem - processo mental chamado de Default Mode Network (rede neural de modo

padro) - e com tudo isso o crebro passa a consumir de 20 a 25% do oxignio, da glicose e

do fluxo sanguneo corporal. Entretanto, esse processo no ocorre com meditantes que

aderem as prticas meditativas para a vida, ou seja, o disparo do discurso interno no

acontece mesmo que no estejam fazendo alguma coisa. Isso porque espontaneamente a

mente focaliza-se em sensaes corporais e sensrias, mas no em verbalizaes internas

(Brewer et al, 2011; Hanson, 2012).

6

A prtica mindfulness permite uma avaliao metacognitiva: livre de julgamentos

ou preconceitos e atenta percepo, cognio e emoo, podendo moderar os contedos

mentais angustiantes mediante o descentramento - a ausncia de apego aos nossos

pensamentos e emoes. Isso permite o desembaraar do indivduo sobre identificaes

resignantes que tem sobre o ambiente, sobre sua histria e autoimagem proporcionando

maior flexibilidade cognitiva (Campayo & Demarzo, 2015).

Atravs do aprendizado da prtica meditativa mindfulness, este estado pode ser

cultivado por qualquer pessoa e produzir mudanas importantes, constatados em nveis

psicolgicos e de neuroimagem. Mindfulness eficaz na promoo do bem estar

psicolgico de indivduos saudveis como tambm no tratamento de distrbios

psiquitricos, transtornos alimentares e somticos. Em alguns casos especficos, algumas

alteraes precisam ser feita na tcnica aplicada (Hlzel et al, 2011; Aucoin et al, 2014;

Marchand, 2014; Nyklek et al, 2014).

O processo da prtica formal de mindfulness inclui quatro fases: a identificao do

objeto de ateno, a divagao mental, percepo de que perdemos o objeto atencional e o

retorno suave ao ponto de ateno. Este movimento de perceber que perdemos a ancoragem

o momento mindful mais importante.

A estruturao de mindfulness em sua essncia baseia-se em uma srie de prticas

formais composta pela prtica: A uva passa (prtica explicativa experiencial do tema),

Mindfulness na respirao (mais conhecida e praticada), Body Scan (escaneamento

corporal, como ancora as sensaes corporais de cada parte do corpo), Mindfulness

caminhando (prtica diria e simples, ancorada no caminhar), Mindfulness nos

movimentos corporais (utiliza-se de posturas especficas como ancora de uma observao

consciente do momento presente) e Prtica dos trs minutos, a mais curta e adequada

para se adotar regularmente (Campayo & Demarzo, 2015; Penman & Williams, 2015).

Contudo, apesar de mindfulness ter sua eficcia comprovada importante considerar

que no pode ser visto como uma panaceia, a ponto de ser eficaz para todas as doenas ou

substituir outros tratamentos psicolgicos ou farmacolgicos. Algumas resistncias tambm

podem ser observadas e servir de obstculo para sua regularidade: dor, inquietao,

7

irritabilidade, tdio, sono, medo, excesso de zelo ou rejeio a meditao. Porm,

mantendo-se na prtica e observando as sensaes bem de perto, como se mergulhasse

nelas, elas comeam a ser diludas, pois no so permanentes. Uma boa prtica no

implicar na ausncia de pensamentos e sensaes e sim na capacidade de observao de

nossas experincias corporais ou mentais com aceitao e curiosidade genuna.

MINDFULNESS E PROMOO DA SADE

A medicina tradicional complementar/alternativa (MT/MCA), de acordo com o

Departamento de Ateno Bsica brasileiro, faz parte das Prticas Integrativas e

Complementares em Sade (PICS) voltadas para promoo da sade no ambiente do

Sistema nico de Sade. Esta prtica integrativa e complementar integra e adapta as

intervenes baseadas em mindfulness como algum de seus recursos que visam estimular os

mecanismos naturais de preveno de agravos e recuperao da sade de forma segura e

eficaz (http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_pic.php; Demarzo, 2010).

Embora pouco exploradas, as PICS tm contribudo para a promoo da sade no

cenrio pblico nacional. Essas prticas ocupam um espao importante na rea da sade de

pases mais pobres ultrapassando o ambiente familiar. Nos pases mais ricos e

desenvolvidos a procura pela medicina alternativa complementar tem crescido, tanto em

termos de aprimoramento profissional, como em indicaes dos profissionais para o

cuidado da sade do paciente, e tambm na rea de pesquisa. Seu reconhecimento pela

sociedade formal, pela populao e em parte da cincia biomdica, ocorreu devido sua

capacidade de estimular o reequilbrio e a cura do paciente, perseverando a proximidade da

relao curador-doente (Tesser, 2009).

Tendo em vista que as intervenes de promoo da sade mental avanam e

atividades no medicamentosas ganham espao, as intervenes de ateno plena apontam

como outras oportunidades em termos de enfrentamento do estresse e maior qualidade de

vida. Estas intervenes podem no apenas auxiliar na rotina dos pacientes do Sistema

nico de Sade como prticas integrativas e complementares, mas adicionalmente, rotina

dos profissionais da sade, j que evidncias cientficas indicam o quanto o autocuidado

8

tambm preditor no efeito do trabalho que ser realizado na rea profissional (Arenas-

Monreal et. al., 2004; Medeiros, Pulido, 2011; Rocha Junior et al., 2011).

A promoo da sade compreende a sade como um conjunto de fatores voltados ao

coletivo ambiente fsico, social, cultural, econmico- que se do atravs de condies

favorveis ao desenvolvimento da sade, de polticas pblicas e do reforo da capacidade

da populao quanto indivduo e comunidade (Ayres, 2004; Lages, 2007). Para a

Organizao Mundial da Sade (OMS) a sade no apenas a ausncia de doena, mas o

estado de bem estar fsico, psicolgico, social e espiritual

(www.ufmg.br/boletim/bol1551/segunda.shtml).

Assim, permite-se entender que promover sade vai para alm de prolongar a vida e

prevenir doenas, assegurando tambm situaes e recursos que ampliem o experienciar da

qualidade de vida. Favorecendo desta forma, o dilogo entre profissional e o usurio acerca

dos saberes da construo dos processos de sade (Alves, 2005).

Os profissionais da sade enfrentam demandas que incluem um alto nmero de

casos desgastantes e pesados, um controle limitado sobre o ambiente de trabalho, longas

horas de dedicao e muitas vezes lida com sistemas e estruturas organizacionais em

transio. Essas condies esto diretamente associadas com o aumento do estressse e

sintomas de burnout, que por sua vez, geram consequncias adversas para esses

profissionais e para a qualidade dos atendimentos prestados aos pacientes. Segundo

evidncias, quando estado de mindfulness cultivado melhor os benefcios acerca da sade

mental e fsica dessa populao (Irving et al, 2009).

Como forma de impulsionar o desenvolvimento de competncias de autocuidado e

bem estar dos profissionais da sade, a ateno plena passa ser objeto de estudo, tanto

como estratgia de interveno, como medidas psicomtricas que mensuram o nvel de

mindfulness dos profissionais para analisar o impacto das possveis relaes e diferenas

com determinantes de vida e de sade.

As atitudes de autocuidado referem-se ao modo como cada indivduo se percebe, se

faz presente no mundo, se relaciona consigo e com o prximo, como age consigo prprio,

9

sua capacidade de modificar-se e transformar-se. Em outras palavras, o autocuidado est

vinculado tanto com o exerccio poltico de o indivduo encarar a vida e estar no mundo e

refletir sobre seu modo de ser e agir, como com a dimenso da sade e da tica do saber

que conferem aspectos do viver saudvel dentro da condio de cada ser (Bub et al, 2006).

Por fim, na rea da sade o autocuidado estende-se para aes voluntrias,

responsveis e intencionais ao cuidado de si. o conhecer dos recursos mais bsicos e

saber como acess-los. Ser mais consciente em suas decises e aes, bem como nas

prticas que possibilitem o bem estar, a vida e a sade (Lages, 2007).

ESCALAS PSICOMTRICAS DE MINDFULNESS

Mindfulness vem sendo tambm discutida e sistematizada na proposio de escalas

para ser reproduzida em pesquisas cientficas baseadas em evidncias (Silveira et. al.,

2012). Considerada a importncia de novas intervenes para promoo da sade, a verso

brasileira validada da Philadelphia Mindfulness Scale (Cardaciotto & cols., 2008)

apresentada com o intuito de esclarecer a posio de mindfulness enquanto um processo

psicolgico passvel de mensurao.

Instrumentos de quantificao de mindfulness so essenciais para que a pesquisa

dentro desta rea de conhecimento avance. Assim, possvel averiguar quais dos elementos

que compreendemos como mindfulness fazem de fato efeito dentro desta teraputica (Baer

et al., 2008). Permite averiguar se os indivduos se tornam realmente mais conscientes ao

longo do tempo, analisar os nveis de comportamentos relacionados mindfulness numa

determinada populao e se essas mudanas tm efeitos na sade psicolgica dos

indivduos.

Apesar de haver vrios questionrios de mindfulness, no existe um consenso

definido sobre o que mindfulness e de como mensur-lo. Cada escala se baseia num

constructo diferente, seja por diferenas de entendimentos e significados, prtica pessoal,

compreenso semntica, que aponta dimenses que levam a mindfulness (Loyola, 2015).

10

Entre as escalas psicomtricas de mindfulness esto: The Freiburg Mindfulness

Inventory FMI (Buchheld et al, 2001); Mindfulness Attention Awareness Scale - MAAS

(Brown & Ryan, 2003); Kentucky Inventory of Mindfulness Skills -KIMS (Baer et al, 2004);

Cognitive and Affective Mindfulness Scale Revised (Feldma et al, 2007); The Mindfulness

Questionnaire - MQ (Chadwick et al., 2008); Five Facet Mindfulness Questionnaire -

FFMQ (Baer et al, 2006); The Toronto Mindfulness Scale -TMS (Lau et al., 2006);

Philadelphia Mindfulness Scal PHMS (Cardaciotto et al, 2008); Southampton

Mindfulness Scale (Chadwick et al., 2008); Langer Mindfulness/Mindlessness Scale (Haigh

et al, 2011); Effects of Meditation Scale (Reavley & Pallant, 2009); Developmental

Mindfulness Survey (Solloway & Fisher, 2007).

11

2. JUSTIFICATIVA

Atravs deste trabalho torna-se possvel investigar e descrever o nvel de

comportamentos autopercebidos de mindfulness em uma populao especfica de um

Hospital Tercirio renomado brasileiro, de forma a contribuir com o conhecimento e

ampliao do tema na rea da promoo da sade.

Este estudo exploratrio oferece ampliar a noo de possveis impactos dos nveis

de mindfulness enquanto um conceito crescente de interesse poltico e social em relao a

condutores de vida e de sade, que esto fortemente relacionadas ao autocuidado dos

profissionais da sade, bem como ao amparo da sade dos pacientes.

O cenrio do mundo atual implica em mudanas dirias, presses e adaptaes que

contribuem ao estresse, a depresso, a ansiedade, degradando a sade mental e fsica,

levando o indivduo ao adoecimento. Assim, possvel que mindfulness tenha potencial de

integrao s terapias atuais, tambm dentro do contexto hospitalar e de ateno primria,

por ser uma estratgia complementar para o bem estar e qualidade de vida do indivduo.

12

3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

Descrever o nvel da autopercepo de comportamentos relacionados Mindfulness

em funcionrios de um Hospital Tercirio.

3.2. Objetivos Especficos

Descrever o nvel e o perfil de Conscincia ou Awareness (monitoramento

da experincia interna e externa do indivduo no momento em que elas

ocorrem) e Aceitao (atitude de no julgamento, abertura e compaixo

relacionada experincia momentnea) - comportamentos relacionados

mindfulness - de profissionais da sade, com grau de escolaridade superior

completo do HC-FMUSP.

Analisar a associao dos nveis de Mindfulness com determinados

indicadores das condies de vida e sade nos profissionais de sade.

13

4. MTODO

Foi realizado um estudo transversal com profissionais da sade que frequentam e

compem o Servio de Assistncia Mdica ao Servidor do Hospital das Clnicas da

Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (HC FMUSP), pelos profissionais

da sade que trabalham no Servio de Clnica Geral do Hospital das Clnicas da Faculdade

de Medicina da USP e por outros treze profissionais da sade de diferentes setores que

compe o complexo do HC- FMUSP.

Criado em 1943, o Hospital das Clnicas FMUSP atualmente entidade autrquica

do Governo do Estado de So Paulo e constitudo por seis institutos: Instituto Central,

Instituto do Corao, Instituto da Criana, Instituto de Ortopedia, Instituto de Psiquiatria e

Instituto de Radiologia.

O Servio de Assistncia Mdica e Social ao Servidor (SAMSS) um servio

previsto no Regulamento do HC pelo Decreto n 33.360 de 08 de agosto de 1958, vinculado

ao Gabinete da Superintendncia do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da

USP. Este servio oferece atividades de Ateno Primria (Promoo da Sade e Preveno

de Doenas) e de Ateno Secundria (Assistncia Mdica e de Enfermagem), alm de

estimular a melhoria da qualidade de vida aos servidores.

Destinada a cuidar do cuidador desde 2006, o SAMSS compreende duas unidades: o

Atendimento Mdico ao Servidor (AMS) e o Servio Especializado em Engenharia de

14

Segurana e Medicina do Trabalho (SESMT). O AMS destinado a funcionrios ativos do

Hospital das Clnicas-FMUSP, da Faculdade de Medicina da USP, da Fundao Zerbini,

mdicos residentes, alunos do HC-FMUSP, menores aprendizes e aprimorandos,

contemplando aproximadamente 27.000 vidas. O SESMT tem como misso desenvolver

aes que promovam a aptido ao trabalho, a plena integridade fsica e mental dos

servidores e minimizem riscos ambientais, contribuindo para cultura prevencionista e

melhor qualidade de vida.

O Servio de Clnica Geral do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da

USP realizado no Departamento de Clnica Mdica, localizado no Instituto Central do

HCFM-USP. Este departamento visa ser centro de liderana nacional em ensino, pesquisa,

extenso profissional e de assistncia em Clnica Mdica. Busca, desta forma, integrar as

diferentes reas da Clnica Mdica em contnua troca de conhecimentos entre a clnica geral

e as clnicas de especialidades.

4.1 Tamanho da Amostra

A populao estudada para a anlise descritiva foi orientada por facilidades

operacionais (amostra de convenincia) e constituda inicialmente pelos profissionais do

Servio de Assistncia Mdica e Social ao Servidor, por profissionais de todo complexo do

HC-FMUSP que passaram por consulta no SAMSS, depois pelos profissionais que

trabalham no Servio de Clnica Mdica e para completar a amostra foram includos por

disponibilidade e acessibilidade treze profissionais da sade do HC. A equipe do SAMSS e

do Ambulatrio de Clnica Mdica Geral so formadas por mdicos, psiclogos,

nutricionistas, auxiliares tcnicos de enfermagem, assistentes sociais, bilogos,

15

farmacuticos e setor administrativo. Os treze profissionais que completaram a amostra

eram todos mdicos (este fato deveu-se a falta de profissionais disponveis nos outros dois

setores descritos para completude da amostra, assim buscou-se outros profissionais da

sade do complexo HC para que a amostra fosse concluda com xito).

Foram elegveis os profissionais com vnculo empregatcio e com nvel de formao

superior completo. Os indivduos afastados ou de licena no foram includos. Com o

intuito de calcular o tamanho da amostra, procurou-se atravs dos dados obtidos no estudo

Adaptao e validao da Escala Filadlfia de Mindfulness para adultos brasileiros

(Silveira et al., 2012), apoiar-se numa escala de convenincia entre aqueles que passaram

pelo Atendimento Mdico ao Servidor e que constaram no Cadastro Corporativo do AMS

como profissionais da sade do complexo do HC-FMUSP durante um perodo pr-

determinado, como tambm, com os prprios profissionais da sade que atenderam nos

setores do SAMSS, no Servio de Clnica Mdica e em outros setores do Hospital das

clnicas da Faculdade de Medicina da USP.

Pretendeu-se atravs de uma coleta piloto com 50 funcionrios do Servio de

Assistncia Mdica e Social ao Servidor para verificar se a varivel pontuao da Escala

Filadlfia de Mindfulness seria compatvel com a distribuio normal. Os dados analisados

no estudo piloto foram compatveis com a distribuio normal. Para isso, foi aplicado o

teste para normalidade STATA-10 (Shapiro-Wilk, 1985-2011) e tais resultados foram

demonstrados: Prob = 0,80715, portanto maior que 0,05 ento esta distribuio no

significantemente diferente da normal. Esta distribuio apresentou Mdia (X) de 56,04,

Desvio-padro (S) de 1,415356 e assumiu-se um erro de 0,465.

16

Desta forma, para o clculo do tamanho de amostra final foi utilizada a Equao 1

abaixo:

(1)

onde:

n = Tamanho da amostra;

= Nvel de significncia adotado;

1- = Poder do teste;

= Desvio padro;

Z1- = Valor de z correspondente a 1- na distribuio normal;

Z1- = Valor de z correspondente a 1- na distribuio normal;

A - B = 0,465

A Equao 1 foi desenvolvida por Pagano & Gauvreau (1993) e designada para

calcular amostras simples e que assumem a curva de distribuio normal. O software

utilizado para a seleo da amostra final foi o STATA-10 . O nmero amostral calculado

foi n=97 (Erro assumido 0,465; Mdia 56,04 e Desvio Padro 1,41).

Caso a varivel pontuao Mindfulness apresentasse uma distribuio no-

paramtrica, os pesquisadores empreenderiam um esforo de coleta equivalente ao mximo

de sua capacidade operacional, consideradas as condies de acesso aos indivduos

elegveis para a amostra.

17

4.2. Instrumento

Neste trabalho pretendeu-se utilizar um questionrio com bloco de informaes

sociodemogrficas que identifica o sexo, a idade, a profisso, o grau de escolaridade, o

trabalho, a unidade federativa de residncia do respondente, condies socioeconmicas,

condies familiares, lazer, hbitos alimentares, tabagismo, alcoolismo, sono, atividade

fsica (Anexo 2). Outro bloco apresentado foi composto pela Escala Filadlfia de

Mindfulness (Anexo 3) e o ltimo bloco pelo Questionrio de Sade Geral, o GHQ-12

(Anexo 4).

O questionrio que comps o primeiro bloco de perguntas foi elaborado

primeiramente a partir de modelos de questionrios voltados para rea da sade, com

perguntas estruturadas que buscavam informaes sociodemogrficas e socioeconmicas,

hbitos de vida, sade e trabalho. Num segundo momento, outras variveis deste

questionrio foram elaboradas e includas em conjunto com especialistas da rea de

pesquisa em sade. E por fim, o questionrio foi revisado e previamente aplicado em outros

profissionais pesquisadores acadmicos para assegurar sua compreenso e funcionalidade

para este trabalho.

A Philadelphia Mindfulness Scale (PHMS) uma escala de autorrelato recente

utilizada para mensurar mindfulness enquanto um processo contnuo de monitoramento de

experincia individual, sem contedo de julgamento. Os autores Cardaciotto e cols. (2008)

consideraram para PHMS a proposio de duas dimenses colocadas por Bishop e cols.

(2004) a ateno para o momento presente; e a atitude de abertura, curiosidade e

aceitao-, por serem partes de um constructo que sugere uma definio operacional de

Mindfulness (Silveira et al., 2012).

18

A Escala Filadlfia de Mindfulness (EFM) um instrumento validado para o

portugus a partir da PHMS, semelhante ao original, que visa mensurar mindfulness de

forma acessvel para adultos. dirigida para grupos grandes de amostra e no apenas para

indivduos com experincia em prtica meditativa. De acordo com suas evidncias de

validade e confiabilidade recomenda-se seu uso para populaes brasileiras especficas que

tenham escolaridade mnima de nvel fundamental ou mdio (Silveira et al., 2012).

Este instrumento (EFM) se apoia em dois componentes ou dimenses que sugerem

a operacionalizao do conceito de mindfulness: Awareness ou Conscincia referida mais

precisamente a conscincia/ateno voltada ao momento presente, ou seja, ao

monitoramento da experincia interna ou externa do indivduo no momento em que elas

ocorrem; e Aceitao referida como a atitude de no julgamento, de abertura e compaixo

relacionada experincia presente (Bishop et al, 2004; Cardaccioto e cols, 2008; Silveira

et. al., 2012).

A EFM solicita que os participantes indiquem o quanto se identifica com as

afirmaes constantes nos itens utilizando uma escala do tipo Likert de cinco pontos, em

que 0 representa nada caracterstico e 4 extremamente caracterstico. formada

por 20 itens com duas subescalas, composta por um nmero bem distribudo de itens, sendo

10 para o componente Aceitao (itens pares) e 10 para Conscincia / Awareness (itens

mpares). O tempo mdio para respond-lo de aproximadamente 15 minutos.

Para maior complementariedade do trabalho foi inserido o Questionrio de Sade

Geral (Lopes et. al., 2003), validado para o portugus e amplamente utilizado na rea de

sade coletiva. Este questionrio um instrumento de rastreamento para transtornos

19

psiquitricos menores - transtornos mentais comuns (ansiedade, depresso, insnia, fadiga,

irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentrao, queixas somticas que produzem

incapacidade funcional das pessoas) -, no perodo de duas semanas anteriores ao

preenchimento. autoaplicvel, numa verso mais curta que mensura o bem estar

psicolgico sem comprometer a confiabilidade. O ponto de corte estabelecido 0

ausncia de transtorno mental comum (TCM) e para 1 TCM presente. Desta forma, para

quem autopreencher trs pontos ou mais caracterizar a presena de TMC.

4.3. Coleta e Tratamento dos Dados

Os dados foram coletados por intermdio de questionrios autoaplicveis: todos os

questionrios impressos. Os dados foram digitalizados com a utilizao do EpiData para

construo de banco de dados e em seguida, os dados foram analisados no Stata.

De acordo com a validao da Escala Filadlfia de Mindfulness para o portugus, os

resultados dos itens de cada subescala (aceitao mais conscincia ou awareness)

devem ser somados. Lembrando que a dimenso Aceitao tem os itens "invertidos", ou

seja, como a pontuao Likert vai de 0 at 4, para a subescala aceitao o 0

significa 4, 1 significa 3, 2 significa 2, 3 significa 1, 4 significa 0. Os

autores utilizam essa tcnica para que ocorra maior controle das respostas dadas pelos

participantes que costumam marcar aleatoriamente uma resposta ou uma mesma coluna

para todas as questes.

Para os itens que no foram assinalados o valor agregado soma total foi zero, para

os itens conscincia (awareness) que foram assinalados mais de uma resposta na mesma

20

sentena incluiu-se na soma o menor nmero e para os itens aceitao considerou-se no

caso de mais de uma resposta assinalada na mesma sentena o maior nmero, j que esta

subescala representa os itens invertidos.

Assim como em algumas escalas de conscincia e autopercepo em psicologia -

Escala de Autoconscincia (Teixeira e Gomes, 1995) e Escala Ruminao e Reflexo

(Zanon e Teixeira, 2006) - no h pontos-de-corte estabelecidos. O uso apropriado dessa

escala como medida contnua.

4.4. Anlise

Foi realizada uma anlise descritiva da distribuio de frequncia absoluta e relativa

das variveis pesquisadas.

Na anlise de associaes e diferenas do escore Filadlfia de Mindfulness segundo

demais variveis pesquisadas, foi utilizado o Teste t de Student para quando houvesse

apenas duas categorias em estudo, e a ANOVA quando houvesse mais de duas categorias

em estudo. Foi realizada por fim, a anlise da associao de GHQ-12 com Mindfulness

estratificada: por profisso (mdicos, outros profissionais; profissionais assistenciais,

administrativos); e por tipo de doena referida (neurolgica / psiquitricas, outras).

21

5. QUESTES TICAS

Foi solicitado ao participante no momento em que se disps a participar da

pesquisa, antes mesmo deste responder a escala EFM de autorrelato, assinar um Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 1). O TCLE um documento que informou e

esclareceu o sujeito da pesquisa de forma didtica e resumida as informaes mais

importantes do protocolo de pesquisa. Desta forma, ele pde tomar sua deciso de forma

justa e sem constrangimentos sobre a sua participao neste estudo. uma proteo legal e

moral do pesquisador e do pesquisado, visto ambos estarem assumindo responsabilidades.

Pode ser que colaboradores desta pesquisa tenham sentido algum desconforto ou

constrangimento por inferirem um carter avaliativo no questionrio, porm, a metodologia

utilizada neste estudo no apresentou qualquer implicao que trouxesse risco aos sujeitos

de pesquisa e nenhum desconforto foi relatado.

O projeto foi avaliado e aprovado pelo Comit de tica antes da aplicao dos

questionrios terem sido feita.

22

6. RECURSOS UTILIZADOS

Esta pesquisa foi realizada com os recursos dos prprios pesquisadores e com os

recursos j existentes no Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, a saber,

microcomputadores, softwares para edio de texto e anlises estatsticas, entre outros.

23

7. RESULTADOS

Tabela 1 Distribuio de frequncia das variveis sociodemogrficas, HC-FMUSP,

2014

Varivel Categoria N %

Sexo Feminino 74 76,3

Masculino 23 23,7

Idade (Anos) 24 29 24 25,0

30 39 38 39,6

40 49 13 13,5

50 ou mais 22 21,9

Estado Civil Solteiro/Desquitado/Vivo 36 37,1

Casado/Unio Informal 61 62,9

Estado de Nascimento So Paulo 77 79,4

Outros 20 20,6

Com quem vive? Sozinho 13 13,3

Com um ou mais 84 86,7

Filhos Sim 34 35,0

No 63 65,0

De acordo com a apresentao da tabela 1, possvel observar o predomnio de

indivduos do sexo feminino; indivduos entre trinta e trinta e nove anos, casados ou

amigados, nascidos no estado de So Paulo, que no moram sozinhos e no tem filhos.

24

Tabela 2 Distribuio de frequncia das variveis socioeconmicas, HC-FMUSP,

2014

Varivel Categoria N %

Responsvel pelas Despesas Entrevistado 31 32,0

Outra Pessoa 12 12,4

Todos da Casa 19 50,5

No Informou 5 5,1

Renda Mensal (Reais) At 3500 33 34,0

3500 5000 29 30,0

Mais de 5000 35 36,0

Fonte de Renda HC-FMUSP 59 60,8

Outros 20 20,6

Mais de um Emprego 18 18,6

Recebe Benefcio Adicional Financeiro? Sim 18 18,6

No 79 81,4

A tabela 2 mostra que entre a maioria dos indivduos as despesas de casa so

divididas entre os habitantes do mesmo lar. Em relao renda financeira, observa-se uma

distribuio mais homognea entre as faixas de salrio, sendo a maior proporo

proveniente do HC-FMUSP e sem benefcios financeiros adicionais.

25

Tabela 3 Distribuio de frequncia das variveis relativas s condies de

trabalho, HC-FMUSP, 2014

Varivel Categoria N %

Profisso Mdico 37 38,2

Psiclogo, Assistente Social,

Prof. de Educao Fsica,

Bilogo, Fisioterapeuta e

Farmacutico 24 24,7

Estatstico, Oficial Admnistrativo

e Funcionrio Pblico 11 11,3

Enfermeiro 25 25,8

Turno de Trabalho Matutino 22 22,7

Vespertino/Noturno 5 5,2

Mais de um turno 69 71,1

No Informou 1 1,0

Dias de Trabalho/ Semana 3 4 7 7,2

5 6 87 89,7

7 dias 3 3,1

Horas de Trabalho/ Dia 4 at 7 26 26,8

8 at 12 67 69,1

13 at 16 4 4,1

Tempo (minutos) para chegar ao trabalho? 30 - 60 71 73,2

61 ou mais 22 22,7

mais de 120 min 4 4,1

Como classifica o trabalho? Muito estressante / Estressante 41 42,3

Muito prazeroso / Prazeroso 46 47,4

Duas respostas opostas 8 8,3

No Informaram 2 2,0

Satisfao com o Trabalho Nada Satisfeito/ Pouco satisfeito 20 20,6

Satisfeito/ Muito Satisfeito 76 78,4

No Informou 1 1,0

Faltas no Trabalho Nenhuma 43 44,3

At de dez 39 40,2

Mais de dez 7 7,2

No Informou 8 8,3

Razes das Faltas no Trabalho Sade 38 69,1

Outras 13 23,6

No Informou 4 7,3

26

A tabela 3 indica que a maioria dos indivduos da amostra so profissionais com

formaes especficas para a assistncia sade, na sua maioria mdicos, com mais de um

turno de trabalho, que trabalham de oito a doze horas por dia, de cinco a seis dias por

semana e que gastam de trinta minutos at uma hora para chegar ao local de trabalho.

Em relao classificao do trabalho observou-se que existe uma distribuio

prxima entre aqueles que consideram o trabalho estressante ou prazeroso, mas que no

geral se referiram satisfeitos. Em relao aos que apresentaram faltas, a maior causa

relatada foi por motivos de sade.

27

Tabela 4 Distribuio de frequncia das variveis relativas sade HC-FMUSP,

2014

Varivel Categoria N %

Doena Referida? Sim 42 43,3

No 54 55,7

No Informou 1 1,0

Tipo de Doena Referida Mais de uma 8 18,6

Demais doenas crnicas 8 18,6

Reumatolgica, Ortopdica,

Ginecolgica, Metablica ou

Gastroenterolgica

12 28,0

Neurolgica ou Psiquitrica 8 18,6

No Informou 7 16,2

Em Uso de Medicamento Sim 51 52,0

No 46 48,0

Tipo de Medicamento em Uso Psiquitrico 11 21,6

Anticoncepcional 7 13,5

Outros 29 57,0

No Informou 4 7,9

Encontra-se sob Atendimento Mdico Sim 31 32,0

No 65 67,0

No Informou 1 1,0

Continua...

28

Continuao

Varivel Categoria N %

Apresenta Dor Diariamente Sim 32 33,0

No 64 66,0

No Informou 1 1,0

Tipo de Dor Articulao / Muscular 11 36,4

Coluna Cervical / Cabea 13 39,4

Mais de um tipo de dor 3 10,0

No Informou 6 18,2

Frequenta algum Servio de Ateno Sade Sim 34 35,0

No 62 64,0

No Informou 1 1,0

Qual SAS? SAMSS 16 46,0

Particular/No Informou 19 54,0

Verifica-se na tabela 4 que um pouco menos da metade da amostra analisada refere

algum tipo de doena. Dentre a presena de doena neurolgica e psiquitrica pde-se

observar em 18,6% dos indivduos participantes da pesquisa, equiparada com a presena de

pessoas com mais de uma doena e com demais doenas crnicas. Observa-se tambm que

o nmero de pessoas que tomam algum medicamento maior do que o de pessoas que

relatam ter alguma doena. E em relao aos indivduos que relataram sentir algum tipo de

29

dor, pode-se observar coluna vertebral e cabea como as dores mais proeminentes desta

amostra.

Nota-se que a maioria desses indivduos no procura assistncia mdica e no

passam por servio de ateno sade. J, os que possuem algum tipo de ateno mdica

utilizam de servio particular (pouco mais do que a mdia dos indivduos, 54%) e o do

Servio oferecido pelo HC-FMUSP aos profissionais da sade (46% dos indivduos).

Tabela 5 Distribuio de frequncia das variveis consumo de tabaco, lcool e

drogas ilcitas, HC-FMUSP, 2014

Varivel Categoria N %

Histrico de Tabagismo Ex fumante ou fumante atual 15 16,0

Nunca fumou 81 83,0

No Informou 1 1,0

Histrico de Bebida Alcolica Costumava ou costuma consumir 36 37,0

No consome 60 62,0

No Informou 1 1,0

Histrico de drogas ilcitas Costumava ou costuma fazer uso 2 2,0

No faz uso 94 97,0

No Informou 1 1,0

De acordo com a tabela 5, a maioria dos indivduos relatou que no fuma, no

ingere bebida alcolica e no faz uso de drogas ilcitas.

30

Tabela 6 Distribuio de frequncia das variveis sono, atividade fsica e lazer,

HC-FMUSP, 2014

Varivel Categoria N %

Sono Referido Insatisfatrio 46 47,4

Satisfatrio 51 52,6

Horas de Sono/ Noite Menos de quatro 4 4,1

De quatro at seis 55 56,7

Mais de seis 37 38,1

No Informou 1 1,1

Histrico de Insnia J teve ou tem 56 57,7

Nunca teve 41 42,3

Atividade Fsica Pratica 50 51,6

No Pratica 47 48,4

Tipo de Atividade Fsica Aerbica 15 30,0

Anaerbica 8 16,0

Dois Tipos 20 40,0

No Informou 7 14,0

Frequncia Semanal de Atividade Fsica De uma a trs vezes 32 64,0

Mais de trs vezes 11 22,0

No Informou 7 14,0

Continua...

31

Continuao

Varivel Categoria N %

Anos de Prtica de Atividade Fsica At dois anos 22 44,0

Mais de dois anos 24 48,0

No Informou 4 8,0

Possui Momentos de Lazer Sim 90 92,8

No 7 7,2

Frequncia de Lazer Mensal 10 11,0

Semanal / Diria / Fim de semana 76 84,5

Anual / Frias / No tem 4 4,5

Verifica-se na tabela 6 uma proporo semelhante de indivduos em relao ao grau

de satisfao da varivel sono. A maioria dos profissionais da sade contida na amostra

indicou j ter sofrido ou sofrer de insnia e que dormem entre quatro a seis horas por noite.

Da mesma forma, se aplica uma distribuio mais homognea entre os indivduos

em relao prtica de atividade fsica e ao tempo em que praticam atividade fsica. A

maioria dos praticantes costuma usufruir mais de uma modalidade de atividade fsica e se

exercitar entre uma a trs vezes por semana.

Em relao ao lazer observa-se que quase todas as pessoas da amostra possuem pelo

menos um ou vrios momentos que consideram lazer durante a semana.

32

Tabela 7 Escore Total e dos Componentes da Escala Filadlfia de Mindfulness, HC-

FMUSP, 2014

Valor Mnimo Valor Mximo Mdia Desvio Padro

Escore Total 23 75 45,61 1,10

Aceitao 1 37 15,71 0,86

Conscincia 12 40 29,90 0,62

A tabela 7 indica um escore mdio maior para o componente Conscincia do

que para o componente Aceitao. Isso tambm pode ser observado nos valores extremos

onde a conscincia apresenta valores maiores tanto no valor mnimo quanto no valor

mximo na tabela.

Tabela 8 Escore do Questionrio de Sade Geral GHQ-12, HC-FMUSP, 2014

Escore GHQ-12 N %

0-2 (no apresenta transtorno mental comum) 57 58,8

3 ou mais (apresenta algum tipo de transtorno mental comum) 40 41,2

De acordo com a tabela 8 observou-se que um nmero significativo de indivduos

com indcios de transtornos mentais comuns, que so aqueles que apresentaram um escore

de trs ou mais no Questionrio de Sade Geral aplicado no perodo de fevereiro/novembro

de 2014.

33

Tabela 9 Anlise das diferenas das mdias (X) dos escores de ateno plena

segundo variveis dicotmicas (Teste t), HC-FMUSP, 2014

N Mdia Desvio P X S P X S P

Sexo

Feminino 74 14,05 0,90 14,05 0,95 43,95 1,20

Masculino 23 21,04 1,61 21,04 1,61 50,90 2,30

Estado de nascimento

So Paulo 77 15,93 0,97 29,77 0,64 45,70 1,21

Outros 20 14,85 1,86 30,35 1,74 45,20 2,35

Estado Civl

Casado/Unio Informal 36 18,19 1,44 30,19 1,00 48,38 1,81

Solteiro/Separado/Vivo 61 14,24 1,03 29,75 0,79 43,99 1,36

Com quem vive?

Sozinho 13 14,53 1,98 29,61 1,72 44,14 2,29

Com mais algum 84 15,89 0,94 29,94 0,66 45,83 1,22

Filhos

Sim 34 15,61 1,46 30,85 1,00 46,46 1,70

No 63 15,76 1,06 29,38 0,78 45,14 1,43

Benefcio Financeiro Adicional?

Sim 18 16,16 2,53 29,77 1,30 45,93 2,44

No 79 15,16 0,92 29,92 0,70 45,08 1,24

Satisfao com o Trabalho

Nada Satisfeito/ Pouco satisfeito 20 11,10 1,10 30,40 1,40 41,50 2,10

Satisfeito/ Muito Satisfeito 76 18,90 1,00 29,80 1,70 48,70 1,30

Razes das faltas no trabalho

Sade 38 13,90 1,40 29,40 1,00 43,30 1,60

Outras 13 17,90 2,20 32,10 1,50 50,00 2,80

Doena Referida

Sim 42 14,40 1,20 30,40 1,00 44,80 1,50

No 54 16,70 1,20 29,60 0,90 46,30 1,60

Em uso de Medicamento

Sim 50 13,60 1,10 29,30 0,90 42,90 1,40

No 45 17,50 1,30 30,70 0,90 48,20 1,70

Encontra-se sob atendimento mdico

Sim 31 12,50 1,50 31,40 1,10 43,90 1,90

No 65 17,20 1,00 29,20 1,00 46,40 1,40

Apresenta dor diariamente?

Sim 32 13,50 1,60 31,60 1,00 45,10 2,10

No 64 16,80 1,00 29,10 1,00 45,90 1,50

continua...

Varivel

34

...continuao

N X S P X S P X S P

Frequenta algum Servio de Ateno Sade

Sim 34 15,00 1,60 31,50 1,00 46,50 2,10

No 62 16,00 1,00 29,10 1,00 45,10 1,30

Sono Referido

Instatisfatrio 46 12,39 1,12 29,28 1,01 41,67 1,54

Satisfatrio 51 18,70 1,13 30,45 0,74 49,15 1,41

Insnia

J teve ou tem 56 14,71 1,11 28,92 0,83 43,63 1,38

Nunca teve 41 17,07 1,32 31,21 0,88 48,28 1,72

Atividade Fsica

Pratica 50 17,16 1,30 30,54 0,71 47,70 1,45

No Pratica 47 14,17 1,06 29,21 1,00 43,38 1,62

Frequncia Semanal de atividade fsica praticada

De uma a trs vezes 32 18,60 1,50 30,30 0,90 48,90 1,80

Mais de trs vezes 11 18,40 3,00 30,70 1,50 49,10 3,20

Anos de Prtica de Atividade Fsica

At dois anos 22 17,60 1,90 30,90 1,00 48,50 2,10

Mais de dois anos 24 17,10 1,90 30,00 1,00 47,10 2,10

Possui momentos de lazer

Sim 90 16,17 0,88 30,00 0,63 46,17 1,45

No 7 9,71 2,65 27,71 2,51 37,42 1,62

GHQ-12

0-2* 57 18,30 1,09 30,35 0,75 48,65 1,39

3 ou mais** 40 12,40 1,20 29,25 1,05 41,65 1,61

*no apresenta transtorno mental comum

**apresenta algum tipo de transtorno mental comum

0,29

Conscincia Total

0,03

0,04 0,14

Aceitao

0,02

35

No GHQ-12 notou-se uma diferena fortemente significante em relao aos nveis

de aceitao e do escore total (aceitao somado conscincia), que foram menores

para aqueles que apresentaram algum transtorno mental comum do que para os que no

apresentaram.

Para aqueles indivduos que no referiram sentir dor diariamente e que praticam

atividade fsica, o nvel de aceitao foi significantemente maior do que para aqueles que

sentem algum tipo dor diariamente e que no praticam atividade fsica.

Nem todas as questes do questionrio foram utilizadas para anlise por mau

desempenho.

36

Tabela 10 Anlise das diferenas das mdias (X) dos escores de ateno plena

segundo variveis ordinais e politmicas (ANOVA), HC-FMUSP, 2014

Variveis X S pA pB X S pA pB X S pA pB

Idade (Anos)

24 - 29 16,5 1,5 27,5 1,5 44,0 2,5

30 - 39 16,4 1,4 30,5 0,8 46,9 1,6

40 - 49 13,3 1,8 32,0 1,2 45,3 2,4

50 ou mais 13,2 1,9 29,3 1,3 42,5 2,4

Responsvel pelas Despesas

Entrevistado 1 14,0 1,5 28,6 1,1 42,6 2,0

Outro 2 11,2 1,8 (13;p=0,03) 28,5 2,0 39,7 2,3

Todos 3 18,6 1,1 (23;p=0,01) 31,1 0,8 49,7 1,4

Renda (Reais)

1000 - 3500 1 13,3 1,5 31,1 1,0 44,4 2,0

3500 - 5000 2 12,6 1,1 (13;p=0) 29,1 1,2 41,7 1,6

Mais de 5000 3 20,4 1,3 (23;p=0) 29,3 0,9 49,7 1,7

Fonte de Renda

HC-FMUSP 15,1 1,0 29,6 0,8 44,7 1,3

Outros 17,6 2,0 30,3 1,4 47,9 2,8

Mais de um emprego 15,6 2,1 30,1 1,3 45,7 2,6

Profisso

Mdico 1 19,0 1,0 27,4 1,0 46,4 1,7

Psiclogo, Assistente Social,

Profissional de Educao Fsica,

Bilogo, Fisioterapeuta e

Farmacutico 2 15,0 2,0 32,1 1,1 47,1 2,6

Estatstico, Oficial Admnistrativo e

Funcionrio Pblico 3 15,0 2,6 26,6 1,1 41,6 3,2

Enfermeiro 4 12,3 1,4 33,0 1,0 45,3 1,7

Turno de Trabalho

Matutino 1 14,5 1,6 32,8 1,0 47,3 2,0

Vespertino/Noturno 2 14,6 3,3 31,2 3,3 45,8 3,7

Mais de um turno 3 16,2 1,0 38,7 0,7 54,9 1,4

Dias de Trabalho por Semana

3 a 4 16,5 2,2 31,1 2,5 47,6 2,3

5 a 6 15,8 1,0 29,8 0,6 45,6 1,2

7 dias 9,0 2,6 28,0 2,3 37,0 4,0

Horas de Trabalho por Dia

4 at 7 15,3 1,8 31,1 1,1 46,4 2,1

8 at 12 15,7 1,0 29,4 0,7 45,1 1,3

13 at 16 17,5 4,2 29,7 4,0 47,2 7,3

Tempo (minutos) para chegar ao trabalho

30 - 60 16,7 1,0 29,2 0,7 45,9 1,2

61 ou mais 12,0 1,6 31,2 1,3 43,2 2,3

Mais de 120 min 17,7 6,6 33,7 2,2 51,4 7,2

Como Classifica o trabalho

Muito estressante / Estressante 14,6 1,3 30,4 1,0 45,0 1,6

Muito prazeroso / Prazeroso 16,2 1,2 29,0 0,8 45,2 1,5

Duas respostas opostas 20,0 2,8 31,1 2,4 51,1 4,6

Faltas no Trabalho

Nenhuma 1 17,0 1,3 30,6 0,8 47,6 1,8

At de dez 2 16,5 1,3 (13;p>0,01) 29,0 1,0 45,5 1,6

Mais de dez 3 6,4 0,8 (23;p=0,01) 28,5 2,5 34,9 3,0

continua...

(13;p=0,01)

1,00

0,00

0,01)

(14;p>0,01)

(23;p=0,04)

(34;p=0,01)

0,50 1,00

0,60 0,01 (13;p=0,01) 0,60

0,30 1,00 0,30

37

...continuao

Aceitao Conscincia Total

Variveis X S pA pB X S pA pB X S pA pB

Tipo de doena referida

Mais de uma 14,7 3,0 31,7 2,0 46,4 3,6

Demais doenas crnicas 14,1 2,4 29,5 2,0 43,6 2,4

Reumatolgica, Ortopdica,

Ginecolgica, Metablica ou

Gastroenterolgica 13,0 1,4 32,1 1,5 45,1 1,6

Neurolgica ou Psiquitrica 15,1 3,8 26,6 2,3 41,7 5,4

Tipo de Medicamento em Uso

Psiquitrico 14,3 3,3 26,8 2,0 41,1 4,0

Anticoncepcional 16,1 2,4 26,8 1,4 42,9 2,7

outros 13,0 1,3 30,0 1,1 43,0 1,7

Tipo de dor referida diariamente

Articulao / Muscular 12,5 2,8 30,0 1,4 42,5 3,2

Coluna Cervical / Cabea 15,5 2,5 32,0 1,8 47,5 3,5

Mais de um tipo de dor 16,3 6,6 33,3 2,8 49,6 9,3

Horas de Sono por Noite

Menos de quatro 7,5 2,5 28,7 4,6 36,2 6,8

De quatro at seis 15,8 1,0 29,5 0,8 45,3 1,3

Mais de seis 16,6 1,5 30,4 0,8 47,0 1,8

Tipo de Atividade Fsica

Aerbica 19,6 2,2 30,4 1,1 50,0 2,7

Anaerbica 16,7 3,3 29,1 1,8 45,8 4,2

Dois Tipos 18,2 2,0 30,7 1,0 48,9 2,1

Frequncia de Lazer

Mensal 8,2 1,7 28,1 2,2 36,3 2,8

Semanal / Diria / Fim de semana 17,4 0,9 30,3 0,6 47,7 1,1

Anual / Frias / No tem 12,0 1,4 29,7 3,2 41,7 4,4

0,70 0,10

(12;p=0,004)

0,70 0,70 0,60

38

A mesma coisa ocorre com a varivel renda, nmero de faltas no trabalho e

frequncia de lazer. Aqueles que ganham uma faixa maior de salrio apresentaram maior

nvel de aceitao e de aceitao somado a conscincia (escore total) em relao aos que

ganham menores salrios. Os profissionais que no faltaram ou que faltaram menos de dez

vezes no trabalho tambm apresentaram um nvel maior dos comportamentos de ateno

plena autopercebida, bem como para os profissionais que possuem a frequncia de lazer

semanal em relao aos que s possuem essa frequncia mensalmente.

Em relao a varivel profisso, houve uma diferena estatisticamente significante

entre as categorias mdico e enfermeiro, em que o nvel de aceitao mostrou-se

maior para a categoria profissional mdico. Contudo, para o escore conscincia o nvel

apresentado para categoria profissional mdico foi menor tanto em relao s categorias

enfermeiro, quanto para psiclogos, assistentes sociais, profissional de educao fsica,

bilogo e farmacutico. Os profissionais administrativos tambm apresentaram um nvel

de conscincia significantemente menor do que os enfermeiros.

Ainda referente ao nvel do escore conscincia, notou-se que os profissionais de

sade que referiram ter mais de um turno de trabalho por dia apresentaram

significantemente um maior nvel de conscincia em relao aos que trabalham apenas

um turno por dia.

39

Tabela 11 Anlise das diferenas nos escores de ateno plena segundo categoria de TMC

para as variveis Profisso e Tipo de Doena Referida, HC-FMUSP, 2014

Varivel

Profisso N X S P X S P X S P

No 18 20,00 2,00 0,20 27,30 1,30 0,50 47,30 2,75 0,30

Sim 19 18,00 1,50 27,40 1,50 46,40 2,30

No 16 19,60 2,00

40

Da mesma forma, segundo a anlise da associao GHQ-12 com Mindfulness

estratificada por Tipo de Doena verificou-se que h diferenas significantes nas

categorias Mais de uma doena, Doenas neuropsicolgicas/psiquitricas e Sem

doena referida, de modo que os escore Total maior para quem no apresenta TMC nas

categorias mais de uma doena e Sem doena; os escores aceitao so maiores para

quem no apresenta transtorno mental comum nas categorias , Doenas

neuropsicolgicas/psiquitricas e Sem doena referida.

Contudo, nessas categorias analisadas, a presena de transtorno mental comum

(referido pelo GHQ-12) est associada a menores escores de mindfulness, indicando uma

possvel correlao negativa que se deve ao domnio de aceitao.

41

8. DISCUSSO

A aceitao e conscincia so componentes ou dimenses descritas e

mensuradas pela a Escala Filadlfia de Mindfulness que podem ser caracterizados como

comportamentos autopercebidos relacionados ateno plena, em diferentes nveis.

Dizendo de outro modo, essas dimenses neste trabalho, correspondem aos

comportamentos de sair do modo piloto automtico e se colocar intencionalmente

atento/presente ao momento agora, com uma atitude de abertura, curiosidade e de no

julgamento.

Desta forma, pelo instrumento de mensurao utilizado (EFM) compreende-se

que quando um nvel maior de conscincia (awareness, aqui utilizada como

conscincia) observado, uma maior capacidade de monitoramento individual sobre as

prprias experincias - internas e externas - no momento em que elas ocorrem

identificada. E quando a aceitao observada em nveis mais altos em relao a uma

varivel e outra, ento identificada uma experincia de eventos de forma mais completa e

sem/menor resistncia pelos indivduos; sendo que os nveis mais baixos de aceitao so

ento, caracterizados por atitudes de evitao e tentativas de controle da experincia interna

pelo indivuo (Cardaciotto & cols., 2008).

Assim, algumas variveis estudadas nesta pesquisa apresentaram resultados

significantes que esto em consonncia com a literatura em que mindfulness se apoia e com

42

hipteses a serem continuamente aprofundadas. Essas hipteses implicam nos cuidados de

si para o cuidado dos outros na prtica da sade, no melhor gerenciamento do indivduo

para com sua sade mental e atitudes mais pr-ativas para com o outro e suas experincias.

At o momento no existe quase nenhuma evidncia cientfica focada em possveis

relaes ou diferenas entre homens e mulheres de acordo com o nvel autopercebido de

comportamentos relacionado mindfulness para ambos os sexos. Porm, neste estudo foi

encontrado uma diferena significante para homens e mulheres, indicando maior nvel de

ateno plena para o sexo masculino. Tendo em vista que este estudo no visa mensurar o

efeito da prtica de ateno plena e sim o nvel de aceitao e conscincia, dimenses

estas, abordadas pela Escala Filadlfia de Mindfulness como comportamentos relacionados

ateno plena, vale mesmo assim, considerar um recente estudo que abriu consideraes

sobre possveis achados em relao prtica de ateno plena entre o sexo feminino e

masculino.

O ensaio clnico realizado com sessenta pessoas, sendo trinta homens e trinta

mulheres (Lurders, Thompson & Kurth, 2015) utilizou-se de dados obtidos de ressonncia

magntica de alta resoluo a partir de 30 praticantes de longo prazo de meditao (15

homens / 15 mulheres) e 30 indivduos de controle bem pareados (15 homens / 15

mulheres) para avaliar se os efeitos especficos do hipocampo manifestam-se de forma

diferente no sexo masculino e feminino. E o resultado encontrado foi que houve diferenas

significantes nas dimenses do hipocampo dos homens e das mulheres em magnitude,

lateralidade e posio da superfcie hipocampal. O que sugere a hiptese de que isso ocorra

43

por fatores genticos inatos ou adquiridos nos crebros femininos e masculinos nas reas

envolvidas pela prtica meditativa de mindfulness e/ou que a parte hipocampal de cada sexo

recebe a prtica de mindfulness de forma diferente.

Outra varivel em que se observou diferena estatisticamente sigificante com nvel

de mindfulness foi estado civl. E no que se refere ao estado civl de uma pessoa casada,

unies informais ou que se relaciona afetivamente com algum, possvel compreender

que o modo como esses se relacionam entre si pode interferir positivamente ou no na

qualidade de vida e na rotina de cada um. As relaes afetivas podem ser mais satisfatrias

e saudveis quando a aceitao entre os indivduos maior, bem como, a interveno de

ateno plena em casais que pedem socorro (ajuda) em suas relaes, o trabalho prtico

de aceitao passa a ser o mediador assertivo para que a relao transpasse esse momento

de crise, seguindo em direo a uma relao conjugal mais satisfatria (Carson et al, 2007).

Estudos apontaram que o estado de mindfulness contribui na diminuio do estresse

emocional, na melhora da comunicao, na empatia, na percepo da relao, nas respostas

emocionais mais hbeis e nos movimentos de mudana ps-conflito entre os casais.

Sugerindo ento, que este estado desempenha uma influncia positiva na relao romntica.

(Barnes et al, 2007; Wachs & Cordova, 2007).

Quando experincias so divididas dentro de um mesmo lar, a habilidade de

desenvolver atitudes mais compassivas e generosas tende a aumentar, essas atitudes

possuem uma relao direta com a aceitao, j que o aceitar dentro de uma descrio

clssica de mindfulness pode ser entendida como uma atitude ou inteno de abraar tudo

44

aquilo que surge em cada momento (seja bom ou mal), sem juzo ou crticas. No

significando passividade, mas sim a atitude de tentar tomar conscincia da realidade e

assim ter a possibilidade de agir de maneira mais adequada s situaes. O viver em

conjunto ou o nvel de atividade social e de convivncia de uma pessoa pode interferir no

desenvolvimento de seu grau de aceitao dentro do contexto mindful de ser/estar

(Campayo & Demarzo, 2015).

Quando existe uma atitude mais compassiva do ser humano pelo prximo, a

aceitao frente s situaes e experincias diversas sendo essas positivas ou negativas

aproxima mais as pessoas envolvidas. Desta forma, possvel que pais, por exemplo, se

tornem pessoas com maior nvel de aceitao j que precisam aprender a lidar e lidam

diretamente com a vida de seus filhos, muitas vezes sem terem controle sobre os

acontecimentos do dia-a-dia. O que os tornam mais resilientes a uma situao difcil

quando no esperada (Reid et al, 2015).

Num estudo realizado no mbito prtico de mindfulness para famlias, observou-se

que atravs das intervenes que contemplavam o desenvolvimento de comportamentos

relacionados ateno plena, o bem estar entre pais e filhos e as dimenses da

parentalidade foram fortalecidos. Logo, o nvel de mindfulness tambm pode ser melhorado

atravs das prticas especficas de modo a mediar positivamente relaes familiares

(Coatsworth et al, 2015).

45

Na esfera profissional, a satisfao no trabalho outro fator importante a ser

discutido por se mostrar como um aspecto relevante na vida, na sade, na motivao do

indivduo, j que o trabalho ocupa parte significativa do dia de cada um. Nesta pesquisa,

pode-se observar que a maioria dos participantes trabalham sete dias por semana, em torno

de treze a dezessete horas por dia, sendo assim, perceber como esses profissionais se

sentem em relao ao trabalho permite uma reflexo sobre a sade fsica, mental e

funcional desses profissionais, que se dedicam ao ambiente de trabalho e aos cuidados com

os pacientes que sero atendidos.

O trabalho pode ser entendido como algo que constitui a essncia da natureza

humana, pois, no s proporciona a aquisio de bens materiais, mas a realizao

profissional e social do ser humano. Dentro desse contexto, possvel perceber que o

trabalho agrega diferentes dimenses da vida de um profissional, como a capacidade de

resilincia, experincias emocionais, a qualidade de vida, habilidades de liderana, de

mudana, competncia, aprendizagem, motivao e desenvolvimento (Markus & Lisboa,

2015).

Como mindfulness tem sido um objeto de investigao dentro do contexto

organizacional e do trabalho, um estudo (Hlsheger et al., 2013) confirmou inicialmente que

o estado de mindfulness est relacionado com grau de exausto emocional e satisfao no

trabalho. Os trabalhadores que experienciam exausto emocional e reduo na satisfao do

trabalho podem ter uma capacidade diminuda de ateno plena. No trabalho presente, o

nvel de aceitao entre aqueles que referiram se sentir satisfeitos com o trabalho foi

46

significantemente maior em relao aos que no se sentem satisfeitos. Isso uma

informao positiva, j que a maioria dos participantes desta pesquisa se refere satisfeitos

com o trabalho. J, a dimenso conscincia daqueles que trabalham mais de dois turnos

por dia maior em relao aos que trabalham apenas no turno matutino, ou seja, o nvel de

monitoramento interno desses indivduos que trabalham mais parece ser maior que os

daqueles que trabalham menos. possvel que os que trabalham mais turnos estejam sim

mais atentos, mais presentes as experincias para alcanar melhor desempenho nas tarefas

laborais e evitar situaes de riscos, j que o cansao pode ser um efeito prejudicial que

aumenta a chance de erros e de complicaes no ambiente profissional.

No existem ainda estudos que evidenciem possveis diferenas ou relaes entre

ateno plena e renda econmica. Porm, o aspecto financeiro um tema de preocupao

recorrente da vida cotidiana e que pode interferir direta ou indiretamente na sade do

indivduo, de sua famlia e, por conseguinte em suas funes de autocuidado e tambm de

trabalho.

Desta forma, entrando no tema econmico da vida de profissionais da sade e

correlacionando-o a ateno plena, Dellcorso (2015) constata que profissionais que

cultivam prticas de mindfulness apresentam caractersticas que podem ser importantes em

qualquer organizao ou empresa. Considera os indivduos que praticam e buscam maior

grau de ateno plena como os mais proativos e menos reativos s experincias antagnicas

com outras pessoas.

47

Isto pode servir como hiptese para apoiar o nvel mais alto de aceitao

identificado entre os indivduos entrevistados que dividem as despesas da onde moram. A

aceitao pode ser favorvel ao de gerar um clima cordial e de comprometimento em

grupo, para o ato de o indivduo partir da sua introspeco em sentido ao bom

relacionamento interpessoal, de saber reconhecer os problemas para melhor tomada de

deciso. Desenvolvendo assim, um interesse genuno na conduo de tarefas, passando

confiana e motivao para os demais atuarem de forma mais colaborativa. E por sua vez,

possibilitando o treino da prpria aceitao na vida acontecendo.

Ainda para o autor (Dellcorso, 2015), quando se busca trabalhar com a finalidade de

gerir pessoas e aprimorar comportamentos, mindfulness pode ser incorporado para

desenvolver a capacidade de resilincia e a boa vontade do indivduo frente situaes e

obstculos, propiciando respostas estratgicas e diminuindo conflitos externo, aprimorando

a habilidade para responder a desafios, com automotivao e instinto de investigao do

novo que a prtica da ateno plena possibilita. Contudo, possvel que para aqueles

indivduos entrevistados que possuem maior renda financeira e se sentem mais seguros

economicamente, o nvel de aceitao seja de fato mais acentuado, j que a motivao e a

abertura para novas situaes possam estar respaldadas pelo reforo financeiro. O que

implica num aspecto positivo na vida deste profissional da sade.

Os profissionais de cuidados primrios em sade apresentam nveis altos de

sofrimento e de sintomas ligados ao estresse no ambiente de trabalho. Num estudo

realizado com 450 profissionais da sade (mdicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem

48

e agentes comunitrios de sade) que trabalham em programas de cuidados primrios

orientados para a comunidade brasileira chamados de "Programas de Sade da Famlia,

com o objetivo de verificar correlaes entre comportamentos autopercebidos de ateno

plena, estresse e bem estar subjetivo atravs de instrumentos de autoavaliao validados,

verificou que os enfermeiros demonstraram menor nvel de ateno plena e afeto positivo,

bem como, nvel de estresse e afeto negativo superior em relao aos outros profissionais.

Outro resultado observado foi fortes correlaes negativas entre mindfulness e estresse

percebido, e correlaes mdias positivas entre mindfulness e bem estar subjetivo. Esta

pesquisa mostrou que estes profissionais relatam falta de treinamento adequado, sobrecarga

de trabalho, condies de trabalho precrias, sentimentos de desamparo e frustrao

profissional (Atanes et al, 2015).

Interessante que no presente trabalho os nveis de comportamentos

autopercebidos de aceitao entre enfermeiros foram significantemente menores dentre

os outros profissionais que contemplaram a amostra, enquanto que o nvel de conscincia

apresentou-se maior do que os dos mdicos e oficiais administrativos. Talvez isso possa

estar em congruncia com o relato das condies de trabalho, em estar alerta para evitar

problemas ou por falta de treinamento adequado ou por excesso de trabalho e tambm pelos

sentimentos sinalizados por estes profissionais, como demosntrado no estudo referido a

cima.

Trabalhar muitas horas por dia, fazer de uma a trs turnos de trabalho, estar

diretamente voltado a cuidar de pessoas que demandam ateno no tarefa simples. Exige

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muita responsabilidade, dedicao, autocuidado e humanidade. Porm, os acontecimentos

subjetivos que esto alm do trabalho, tambm fazem parte desse ser humano que vive

quase que integralmente para sade do outro.

Os resultados aqui observados sobre o absentesmo dos profissionais retrataram

que os profissionais da sade que no faltaram nenhuma vez no servio (at o momento

presente da entrevista) tiveram um nvel maior de aceitao e conscincia em relao

aos que faltaram at dez vezes e que referiram os motivos de sade como causa das faltas.

Visto tambm, que a maioria dos profissionais da sade que participaram deste

presente estudo no referiu doena, no referiu dores, no est em acompanhamento

mdico e no frequenta regularmente nenhum servio de ateno a sade, mas referiu estar

em uso de medicamento. Dentre desses aspectos associados autopercepo sobre a sade,

os nveis de aceitao e conscincia foram significantemente observados em maior nvel

para aqueles que referiram no fazer uso de medicamentos, o que pode seguir em direo

com o fato de que quando o estado de mindfulness do indivduo cultivado a tolerncia em

relao dor e capacidade de percepo sobre a real necessidade de cuidados

medicamentosos aumentada. O indivduo passa a lidar aceitando melhor a dor fsica e

emocional, bem como a capacidade de monitoramento interno passa a ser maior em relao

ao seu prpio cuidado, favorecendo talvez sua conscincia e ateno sade.

Um estudo americano realizado com 213 profissionais mdicos, enfermeiros,

nutricionistas, assistentes sociais e outros - do centro de sade acadmico Large

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Midwestern - Minnesota descreveu a relao entre mindfulness e autocompaixo com

fatores conceitualmente relacionados burnout e qualidade de cuidado (sono e resilincia),

atravs de instrumentos validados de confiabilidade externa de autorelato quantitativos e

qualitativos. Concluiu-se que a resilincia foi significantemente e fortemente

correlacionada com menos estresse e melhor sade mental, maior nvel de mindfulness e de

autocompaixo; j os disturbios do sono foram significamente e mais fortemente

correlacionados com o estresse percebido e pior sade, porm com menor nvel de

mindfulness e de autocompaixo (Kemper & Mo X, 2015).

Os distrbios do sono desencadeiam consequncias adversas sade e ao bem

estar dos indivduos, podendo afetar a qualidade do trabalho, o desempenho em funes

rotineiras, a capacidade de cognio, a socializao e os relacionamentos (Muller et al.,

2007). O mais interessante que dentre os resultados observados para varivel sono,

analisada no presente trabalho, o nvel de aceitao foi maior para aqueles que

consideraram o sono satisfatrio, independentemente das horas de sono dormidas e o nvel

de conscincia foi maior para aqueles que no referiram histrico de insnia. Isto pode

sugerir o quanto qualidade do sono pode estar relacionada positivamente com a

capacidade de monitoramento interno e com uma atitude de abertura, curiosidade,

generosidade e compaixo mais privilegiada. E como tambm sugere outro estudo, o

quanto a prtic