associaÇÃo educacional dom bosco - ead.aedb.br · poder público. o crescimento populacional...
TRANSCRIPT
ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DOM BOSCO Mantenedora da Faculdade de Ciências Econômicas, Administração e da Computação Dom Bosco,
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco, da Faculdade de Engenharia de Resende e do Colégio de Aplicação de Resende.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB
Av. Cel. Prof. Antonio Esteves, nº 01, Campo de Aviação – Resende-RJ
CEP: 27.523-000 Tel./Fax: (24) 3383 -9000
www.aedb.br
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 2
Prezado (a) aluno (a)
Seja bem-vindo a disciplina online de Responsabilidade Social Corporativa no
modelo de EAD (ensino à distância). Espera-se que todos possam construir
conhecimentos e saberes para a excelência de sua formação profissional. O sistema de
educação à distância é uma ferramenta possibilitada graças ao desenvolvimento
tecnológico recente. E por se tratar de uma nova maneira de aprender e ensinar, alguns
problemas e dúvidas podem ocorrer durante as aulas. Não se acanhem busquem os
esclarecimentos necessários e bom estudo. Estarei sempre à disposição para atendê-los.
A mobilidade do capital internacional produz efeitos indesejáveis na sociedade
contemporânea. Ao buscar novas opções produtivas que ofereçam vantagens
competitivas aos negócios, as empresas promovem impactos sociais desequilibrando
sistemas amadurecidos. Alguns destes impactos são benéficos para a sociedade enquanto
que outros geram efeitos malefícios de enormes proporções. A cadeira de
Responsabilidade Social Corporativa estuda exatamente o fenômeno dos problemas
decorridos da transnacional idade capitalista, oferecendo material para análise do corpo
discente e criando debates sobre a situação dos atores sociais.
No decorrer do período letivo serão utilizados textos básicos e de apoio fornecidos pelo
tutor, e como meio de desenvolvimento de pesquisas acadêmicas, serão solicitadas
redações sobre assuntos atuais pertinentes a cadeira de Responsabilidade Social
Corporativa. A utilização de chat será uma ferramenta indispensável para a
sistematização e construção dos conhecimentos. Trabalharemos com amplo espaço de
tempo para os debates e participação de todos.
O objetivo é que o discente, até o final do período letivo, tenha uma posição racional do
momento presente de nossa sociedade, e possa identificar, analisar, e propor soluções
para os conflitos entre o capital e a sociedade.
Abraços,
Rafael Roesler
Professor Tutor
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 3
Conteúdo Programático 1.º Bimestre
1. Gestão Social
1.1 Fundamentos Teóricos
1.2 Modernas Concepções das Organizações Sociais
1.3 Terceiro Setor
1.4 Empreendedorismo Social no Brasil
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 4
GESTÃO SOCIAL
1. Gestão Social
Pode-se definir Gestão Social como a administração das ações públicas voltadas
para o atendimento das necessidades e demandas da sociedade. São consequências de
agendas políticas e programas de governos quando partem da Administração Pública. A
iniciativa privada pode elaborar também, atividades voltadas para a Gestão Social
através de projetos sociais. Desta forma pode-se concluir que todas ações derivadas do
Estado são públicas, mas nem todas ações públicas originam do Estado.
A verificação da eficácia das ações sociais reside no controle da instituição. A
participação dos atores sociais no acompanhamento do resultado esperado versus
resultado alcançado é determinante na correção dos possíveis desvios. Este
acompanhamento pode ser realizado pelo Estado, com seus meios de fiscalização, e pela
sociedade com o objetivo de elevar o aproveitamento dos recursos empregados.
Volte para seu curso e participe do Fórum "Boas-Vindas" no Bloco Fóruns de
Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.
ANOTAÇÕES:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 5
GESTÃO SOCIAL
1.1 Fundamentos Teóricos da Gestão Social
A nova ordem econômica mundial impôs diferentes desafios a Administração
Pública. O deslocamento constante e maciço do capital internacional provoca a
necessidade de novos arranjos sociais. O crescimento econômico de uma localidade pode
ser extremamente positivo se o Estado regulamentar, através de Políticas Públicas, a
distribuição de renda para os atores sociais.
Gestão Social e Políticas Públicas
A elaboração de Políticas Públicas, para amenizar os efeitos negativos gerados
pelo capital internacional nas relações sociais cria um formato diferenciado nas ações do
Poder Público. O crescimento populacional desorganizado, decorrente da procura de
melhor qualidade de vida, gera: falta de espaços habitacionais, ineficiência no
atendimento de saneamento básico, piora no atendimento educacional, deterioração do
sistema de saúde pública e outros serviços sociais.
O mesmo ocorre com o esvaziamento social produzido pelo fechamento de organizações.
A falta de recursos e apoio de empresas deixam um vazio financeiro para a sociedade, e
também para os cofres públicos. A retração da arrecadação fiscal afeta diretamente a
qualidade dos serviços comunitários.
Estas alterações abruptas exigem planejamento complexo para viabilizar soluções. A
Gestão Social, com sua abrangência, pode determinar estudos e experiências para a
retomada da normalidade comunitária.
Os administradores públicos precisam flexibilizar seus conceitos e visões sobre a
diversidade e a criatividade na elaboração de sua agenda política. O Gerente Social
(entenda-se Gestor Social) obrigatoriamente tem que trabalhar de forma conjunta e única
com toda a sociedade, sob pena de não atender todas as camadas sociais, e assim,
promover a exclusão dos atores sociais mais carentes, estes normalmente sem voz ativa
na participação de movimentos populares.
Ao elaborar estratégias e planos de ações para melhorar os indicadores de qualidade de
vida, o Gestor Público está, em outras palavras, desenvolvendo Políticas Públicas. As
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 6
principais ações que podem ser tomadas pelos Gestores Sociais são: redefinir o papel do
Estado, identificar necessidades da comunidade, implementar ações públicas, analisar
resultados em termos de eficiência e eficácia das ações, promover correção de desvios, e
integrar as diferentes correntes sociais.
Estas ações realizadas com todos os segmentos da sociedade promovem no setor público
a sua reconstrução, e flexibilização com vistas a atender todas as camadas sociais. Desta
forma, o que se busca na verdade é a melhor distribuição de renda, via setor público, para
os atores sociais menos favorecidos.
Gestão Social e Desenvolvimento Local
O crescimento econômico de uma determinada região impulsionado pelo
capitalismo internacional necessita de regulamentações legais para que beneficie toda a
estrutura social. Este crescimento sem a divisão justa da riqueza produzida, tem como
consequência o acúmulo financeiro por uma pequena parcela da população, gerando
graves distorções sociais.
O Gestor Social precisa elaborar dispositivos jurídicos para que a riqueza construída seja
transformada em benefícios para todos os atores sociais envolvidos no processo. Estes
dispositivos precisam ser estabelecidos de forma que não sejam onerados os capitais
produtivos e nem sobre taxados os produtos, para se evitar o bloqueio ao crescimento
econômico. Estas medidas necessitam de um amplo debate junto à sociedade.
A Gestão Social tem como foco principal a busca por soluções que potencializem
os investimentos públicos e privados, de maneira a distribuir a riqueza gerada entre todos
os envolvidos. Esta distribuição democrática é a característica básica do desenvolvimento
social e econômico de uma localidade, região ou país. Entre as muitas iniciativas tem-se:
a reforma tributária; o incentivo a formalização profissional; o incentivo
ao investimento produtivo; o incentivo a maior participação do Terceiro Setor em áreas
de difícil atuação eficaz do Estado; a melhoria dos índices educacionais; adequação da
cobertura social; e a eliminação do capital especulativo.
Uma das características do desenvolvimento econômico é a participação dos atores
sociais na elaboração das estratégias, nos processos decisórios e na implementação das
Políticas Públicas ajustadas.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 7
Verifica-se que a questão social tem caráter relevante no desenvolvimento local,
legando ao segundo plano os investimentos financeiros. As ações do público em geral é
que possuem os valores determinantes para o estabelecimento de Políticas Sociais
eficazes para a valorização do capital humano, social e cultural. Sabe-se que a
maximização das potencialidades, oportunidades e vantagens comparativas de cada
localidade é que determinam o desenvolvimento local. Assim pode-se afirmar que o
efetivo desenvolvimento social e econômico de uma sociedade nasce com a participação
de todos os atores sociais e não apenas de uma elite financeira, sendo que o início de todo
o processo depende diretamente das ações do Gestor Social, estimulando a prática
corporativa social de todos os cidadãos.
Clique no seguinte link e faça uma leitura : Gestão Social: Um Conceito em construção
Volte para seu curso e participe do Fórum "Fundamentos Teóricos da Gestão
Social" no Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa
vale ponto.
ANOTAÇÕES:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 8
GESTÃO SOCIAL
1.2 Modernas Concepções das Organizações Sociais
Diversos trabalhos acadêmicos enfatizam a importância de novas instâncias de
participação e a mobilização da sociedade civil na concretização de um Estado
democrático. Espaços públicos como o orçamento participativo, conselhos gestores,
fóruns temáticos, organizações não-governamentais e movimentos sociais, entre outros,
são preciosos exemplos do avanço da sociedade civil e do Estado.
Conforme definição do Ministério do Planejamento Organização Social é uma
qualificação dada às entidades privadas sem fins lucrativos (associações, fundações ou
sociedades civis), que exercem atividades de interesse público, certificadas pelo Governo
Federal através da Lei número 9.637 de 18/05/1998. Estados e Municípios podem e
devem editar normas especificas sobre suas conveniências para disciplinar esta matéria.
As Organizações de alcance social geralmente são direcionadas para o ensino,
pesquisa científica e tecnológica, cultura, áreas diversas relacionadas à saúde, e a
preservação e educação ambiental. Estas atividades são complementares as realizadas
pelo setor público, porém com destacada melhoria no grau de eficiência. Estas
organizações podem receber repasse dos governos municipais, estaduais e federal desde
que atendam os pressupostos legais de controle orçamentário e resultados, inclusive com
ação direta do Tribunal de Contas sobre os valores recebidos.
Para atender os novos preceitos administrativos, as Organizações Sociais precisam ter
bem definidos os objetivos de seus projetos. A base objetiva do Poder Público para a
implementação e incentivo às atividades voluntárias são:
Econômica – aumento da capacidade de investimento do Estado em áreas
essenciais, e redução do déficit público;
Política – ampliação da participação popular nos processos decisórios; e
Social – melhor atendimento às camadas sociais mais necessitadas.
A expansão dos serviços oferecidos pelas organizações beneficentes e socialmente
organizadas não deve reduzir o Estado a mero gerenciador de entidades não-
governamentais. Quando o atendimento voluntário for ineficiente o Estado tem que
reassumir seu papel assegurando aos atores sociais completa cobertura dos serviços
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 9
essenciais. De qualquer forma, a parceria pública – privada vem colhendo bons frutos
em todas as regiões do Brasil.
Clique no seguinte link e faça uma leitura do texto "Gestão Social: uma visão
introdutória." listado no Volume 2: Gestão Social: O que há de novo?
Volte para seu curso e participe do Fórum "Modernas Concepções das Organizações
Sociais" no Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa
vale ponto.
ANOTAÇÕES:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 10
GESTÃO SOCIAL
1.3 Terceiro Setor
Defini-se Terceiro Setor como o agrupamento de organizações sem vínculos com
o Estado e que desenvolvem atividades geradoras de bens ou serviços públicos. Um ponto
a ser lembrado é que estas atividades não substituem as obrigações governamentais,
apenas a complementam. O Terceiro Setor caracteriza-se por obter recursos de empresas
e organizações não governamentais. Alguns autores supõem que o Terceiro Setor está a
serviço do Capitalismo Internacional e que tem como pano de fundo o afastamento do
Estado de suas funções para que sua minimização seja utilizada para fins lucrativos
empresariais. Esta proposição precisa de uma profunda análise, pois, até o momento
nenhuma iniciativa, no Brasil ou no exterior, esboçaram tal comportamento.
O cenário de surgimento do Terceiro Setor
As décadas de 1960, 1970, 1980, e 1990 trouxeram um cenário de grandes
alterações sociais, principalmente com a construção da nova ordem econômica mundial.
As inovações tecnológicas reduziram drasticamente o número de empregos em todos os
setores econômicos. Este fenômeno debilitou ainda mais as relações trabalhistas e
produziu um fato novo a competição entre os atores sociais por melhor capacitação
profissional.
No Brasil, nas últimas décadas do século XX, os movimentos campesinos, sindicais, e
estudantis se expandiram exigindo do Estado melhor atendimento para as necessidades
públicas. O setor religioso, por sua vez, direcionava e incentivava seus membros para a
criação de organizações beneficentes. Este novo panorama propiciou o surgimento de um
novo tipo de organização conhecida na época como entidades sem fins lucrativos com
aspectos público e privado. A destinação de capital privado para geração de mais capital
privado pertence ao que se denomina por Primeiro Setor. O desenvolvimento de
atividades públicas custeadas pela Administração Pública são pertinentes ao que se
conhece como Segundo Setor. O novo panorama determinou o aparecimento do Terceiro
Setor; uma situação onde o capital privado se ocupa de ações voltadas para o social.
Esta condição reduziu a participação do Poder Público nos investimentos sociais, que se
demonstraram crescentes, uma vez que uma parcela considerável da população se
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 11
deslocava de sua região de origem na procura de melhor qualidade de vida, observou-se
principalmente o esvaziamento do meio rural e o inchaço das áreas urbanas.
A medida em que o Estado negligencia seu papel de suprir das carências sociais e
promotor do bem-estar social , o meio privado se vê obrigado a deslocar recursos para a
melhoria do ambiente social. Com o passar dos anos a iniciativa privada ocupou o espaço
que deveria pertencer ao Estado.
O Terceiro Setor deve ser visto como um agente do ambiente político-econômico,
interferindo de maneira positiva nas relações entre o Estado e o mercado no que se refere
às questões de melhoria social, emprestando seus modelos de gerenciamentos
organizacionais de sucesso para a gestão de entidades direcionadas à filantropia. A
transformação da sociedade impulsionada com a atuação do Terceiro Setor proporciona
o desenvolvimento coletivo melhorando os indicadores sociais e econômicos.
As Políticas Sociais
Os espaços abandonados pelo Poder Público, sejam por sua inoperância ou por
seu desconhecimento, ampliam a importância das intervenções das organizações do
Terceiro Setor. Um dos motivos para o acerto dos investimentos vem da aplicação de
Políticas Sociais adequadas para cada tipo de necessidade. Observa-se nestes casos que
existe um minucioso planejamento antes do investimento de cada recurso, e desta forma
tornando eficiente toda empreitada. A elaboração de projetos contemplando as reais
necessidades de cada comunidade, a previsão de consumo de recursos, e os possíveis
desvios na implantação, minimizam os riscos de erros.
Outro ponto que merece destaque é a inversão do planejamento das necessidades. As
políticas definidas pelo Poder Público partem de gabinetes e tem origem em planilhas,
gráficos, e quadros. Este meio de elaboração de projetos possuem elevado grau de erro
para contemplar todas as carências comunitárias. O contrário ocorre com projetos
elaborados pela iniciativa privada, que inicialmente buscam a participação do público
alvo para depois serem planejados.
Na década de 1980 algumas iniciativas de participação popular na elaboração de
projetos foram realizadas , porém, os problemas burocráticos emperram a máquina
administrativa pública.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 12
Verifica-se que as Políticas Sociais discutidas, definidas e planejadas em conjunto com
as comunidades possuem alto índice de acertos por identificar as reais necessidades dos
“clientes”.
Desafios do Terceiro Setor
As empresas que patrocinam as iniciativas das entidades do Terceiro Setor exigem
resultados dos seus investimentos, que só podem ser obtidos com a maximização da
eficiência administrativa. Para alcançar este patamar as instituições ligadas a este setor
precisam superar diversas dificuldades entre elas:
a) Sustentabilidade Financeira – Toda organização necessita de formação de
fundos para custear as atividades. Geralmente estes fundos vem de empresas que
precisam observar o projeto para decidir se patrocinam ou não. A elaboração de um
projeto já consome verbas criando assim um dilema “Só financio um projeto se eu ver
(empresa) versus Só elaboro um projeto se tiver recursos (Terceiro Setor).”
b) Reconhecimento Social – Este desafio decorre da necessidade de aceitação por
parte dos atores sociais, que uma instituição vai a partir do nada deslocar recursos para
melhorar as condições de uma comunidade. Para agilizar este processo é necessária a
transparência administrativa com seus associados, colaboradores, e toda comunidade
envolvida. A continuidade das ações depende da eficiência nos resultados, portanto, a
capacitação e profissionalização dos envolvidos é um meio de fortalecer a imagem e o
caráter social e voluntário da instituição.
c) Objetivos Claros – Definir o foco principal das instituições voluntárias é
extremamente importante para o inicio do “negócio”. A administração de uma
organização do Terceiro Setor não pode subestimar as ações da Administração Pública,
menos ainda exigir que os beneficiados acatem perfeitamente as suas determinações.
Muitas vezes os objetivos entre as instituições e seus “clientes” não são coincidentes,
neste caso o melhor é rediscutir o plano de ação e refazer o planejamento.
A burocracia foi um dos mais relevantes problemas da Administração Pública, chegando
ao absurdo de ser criado um Ministério da Desburocratização no governo do Presidente
João Batista de Figueiredo.
Estas iniciativas são conhecidas como orçamento participativo e significaram um
grande avanço social.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 13
1.3.1 - Empreendedorismo Social
Empreendedorismo social é um conjunto de ações que beneficiam a comunidade
por organizações sociais sem esperar retorno financeiro pelos atos. As principais
características são: criatividade, atividades inovadoras e forte determinação.
Leia os textos abaixo para melhor compreensão do assunto.
Terceiro Setor e Empreendedorismo Social
Numa palestra há alguns anos, o jornalista Joelmir Betting fez uma brilhante
definição de terceiro setor. Enquanto o primeiro setor se caracteriza pelo uso do bem
público para gerar benefícios públicos, o segundo setor se caracteriza pelo uso do bem
privado para gerar benefícios privados. Pelo raciocínio, o terceiro setor seria o uso de
bens privados para gerar benefícios públicos e, porque não dizer, haveria também o
quarto setor, que seria o uso de bens públicos para gerar benefícios privados (o que
explica muitas coisas que temos visto na política ultimamente). Há aproximadamente 5
anos, eu pedi a meus alunos para escreverem, como trabalho final da disciplina de
empreendedorismo, um Plano de Negócios.
Um grupo de alunos resolveu escrever um plano para a recuperação de uma creche
que atendia mães que não tinham recursos para pagar pelos serviços. Na época eu
rechacei o trabalho dizendo que entidades sem fins lucrativos e empresas eram bastante
diferentes e que o plano de negócios tinha que ser escrito de forma totalmente diferente.
A veemência com que defenderam a idéia me fez prestar mais atenção nos modelos de
negócios do terceiro setor desde então. Hoje eu faço uma idéia diferente do que
normalmente chamam de ONG (Organização Não Governamental), um termo, aliás
totalmente inapropriado pois qualquer empresa do setor privado também é não
governamental, assim ONG seriam todas as organizações do segundo e do terceiro
setores. Talvez o termo mais apropriado seja OSFL (Organização Sem Fins Lucrativos).
E é aí que reside a essência deste tipo de organização, a ausência do lucro como
um fim em si mesmo.
Muitas pessoas confundem ‘sem fins lucrativos’ com ‘sem resultados financeiros’
e são dois conceitos bastante distintos. Com o passar do tempo, as OSFL estão se dando
conta que precisam ser administradas de forma profissional, precisam zelar pelo bom uso
dos recursos que lhes são colocados à disposição, e, mais importante, precisam buscar
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 14
formas de se desvincular da necessidade da doação voluntária de recursos e serviços.
Estas organizações estão cada vez mais procurando formas de garantir sua auto-
sustentabilidade. Em outras palavras, estão tentando fazer dinheiro para conseguir se
manter. Por outro lado, as empresas com fins lucrativos, passada a onda de se definir
declarações de missão e visão de forma artificial e divulgar por todos os cantos da
empresa, estão finalmente aprendendo que é mais importante entender o significado e o
objetivo de sua missão e visão do que simplesmente decorar a declaração. Neste processo
de amadurecimento, algumas estão descobrindo que o objetivo final da empresa não é
necessariamente gerar valor para o acionista na forma de lucros financeiros. O acionista
agora está sendo visto como uma entidade necessária para prover os recursos a serem
usados para um fim maior da empresa, que acaba resvalando para algum tipo de benefício
para a sociedade.
As novas declarações de missão e visão estão começando a refletir estes novos
valores. Nas relações entre representantes do segundo e do terceiro setores, os objetivos
também estão começando a evoluir. Cada vez menos as empresas estão dispostas a doar
dinheiro para causas sociais apenas para colocar alguma coisa em seus relatórios de
balanços sociais. Elas estão procurando alinhar causas sociais à sua missão e valores. Da
simples doação de recursos, estão aproximando suas competências e seus modelos de
negócio para atender a comunidade a que servem. As empresas que fazem isso com
maior sucesso são aquelas que pouco conseguem diferenciar quais das suas ações são de
negócio e quais são sociais. Vamos falar um pouco sobre a diferença entre dono e
investidor. Quando uma empresa abre o seu capital ela visa, primordialmente, a captação
de recursos externos. Neste ponto, o dono passa a ter sócios investidores,
que são os acionistas.
Apesar de ambos, numa primeira instância, visarem o lucro, enquanto o dono
quer manter o seu negócio no longo prazo, os acionistas são mais volúveis, na primeira
turbulência retiram o seu capital e o levam para outros negócios mais promissores, a
maioria não mantém uma relação de fidelidade. Uma parte dos resultados financeiros é
re-investida na empresa e outra parte é distribuída entre o dono e os acionistas. No
terceiro setor, as organizações também precisam de investidores, que, neste caso, não
visam o lucro e por isso são melhor designados como doadores ou patrocinadores. Não
há nenhum problema se a entidade usar estes recursos para criar negócios que gerem
receita suficiente para ela não mais depender destes doadores. Seria como se os
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 15
resultados financeiros fossem, parte re-investidos na empresa e parte distribuída entre os
investidores que por sua vez investiriam na empresa novamente. Se você está entendendo
a minha linha de raciocínio já deve ter percebido que o que quero demonstrar é que a
única diferença entre organizações do segundo e do terceiro setor é o que ambas fazem
com o lucro que geram.
O resto é ou será absolutamente a mesma coisa. Enquanto as empresas privadas
distribuem seus lucros para os acionistas, as OSFL revertem os lucros para a comunidade
na forma de novos investimentos para que aumentem a abrangência dos benefícios
sociais propostos e que garantam sua sustentabilidade no longo prazo. Bem, eu lembrei
de escrever sobre isto porque há uma semana, quando um aluno me perguntou qual a
diferença de escrever um plano de negócios para o terceiro setor, me lembrei daquele
grupo de alunos que reprovei e, fazendo um humilde ‘mea culpa’ aqui publicamente,
afirmo: ‘Não há diferença alguma!!’.
Extraído de: HASHIMOTO, Marcos; De Avó, M. R. e Silva, L. I. Relevance of
intrapreneurship in SMB: the influence of agency conflicts and institutionalized
practices, United States Association of Small Business and Entrepreneurship Annual
Conference Proceedings, San Antonio, TX, EUA, Janeiro, 2008
Volte para seu curso e participe do Fórum "Terceiro Setor" no Bloco Fóruns de
Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.
ANOTAÇÕES:
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 16
GESTÃO SOCIAL
1.4 Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desafios
– notas introdutórias.
Resumo:
No presente artigo, procuramos apresentar os principais elementos introdutórios
ao tema empreendedorismo, tomando como exemplo a realidade brasileira. Partimos da
constatação de que o empreendedorismo social emerge no cenário dos anos 1990, ante a
crescente problematização social, a redução dos investimentos públicos no campo social,
o crescimento das organizações do terceiro setor e da participação das empresas
no investimento e nas ações sociais. Atualmente, o empreendedorismo social se
apresenta como um conceito em desenvolvimento, mas com características teóricas,
metodológicas e estratégicas próprias, sinalizando diferenças entre uma gestão social
tradicional e uma empreendedora. É o que procuramos apresentar, mesmo que
sinteticamente e de forma introdutória, a partir dos principais conceitos, nacionais e
internacionais, e de um exemplo típico brasileiro e de impacto global: as sensíveis
diferenças entre empreendedorismo social e outros conceitos, como responsabilidade
social empresarial e empreendedorismo privado. Finalizando, apontamos algumas
características de entendimento do empreendedorismo social no Brasil, bem como alguns
elementos sobre os desafios e possibilidades dessa nova forma e paradigma de gestão
social que se apresenta como emergente e de grande poder de transformação social no
cenário de um Brasil paradoxal, com muitos problemas, mas repleto de possibilidades.
Palavras-chave: empreendedorismo social; gestão social; terceiro setor.
Abstract
The present article aims at showing the entrepeneurism main introductory elements
based on the Brazilian reality. We started by ascertaining that the social entrepeneurism
emerged in the 90s due to social problems, decreased social public investments, third
sector organization growth and company participation in the social sector investments
and actions. Nowadays, the social entrepeneurism is a developing concept with its own
theoretical, methodological and strategic characteristics, showing differences between
traditional and entrepreneur-like social management.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 17
Based on main international and national concepts and on a typical Brazilian example
with a global impact we attempt to show, even if in a synthetic and introductory way: the
clear differences between social entrepeneurism and other concepts, such as company
social responsibility and private entrepeneurism. Finally, we show some characteristics
of the social entrepeneurism in Brazil, as well as some elements of the challenges and
possibilities of this new form of emerging social management paradigm that has a great
social transformation power in a paradoxical Brazilian scenario full of problems but also
of possibilities.
Key words: social entrepeneurism; social management; third sector.
Introdução
O tema empreendedorismo social é novo em sua atual configuração, mas na sua
essência já existe há muito tempo. Alguns especialistas apontam Luther King, Gandhi,
entre outros, como empreendedores sociais.
Isso foi decorrente de suas capacidades de liderança e inovação quanto às mudanças em
larga escala. Na nossa pesquisa, uma das primeiras constatações foi a pouca bibliografia
sobre o assunto, não somente no Brasil como também no exterior, o que demonstra ser
o tema novo e ainda estar em desenvolvimento. Esse fato gera certo grau de confusão
entre alguns termos que, apesar de parecerem semelhantes no significado, são bem
distintos, como, por exemplo, responsabilidade social e empreendedorismo privado.
Essa confusão, diga-se de passagem, é encontrada, tanto por pesquisadores brasileiros
quanto estrangeiros.
Outra constatação é o fato de, no Brasil, as fontes para embasamento teórico
serem, em muitos casos, de origem estrangeira. Mas, no tocante à prática, já temos alguns
exemplos nacionais com impacto internacional, como é o caso do Comitê de
Democratização da Informática - CDI, de Rodrigo Baggio, no Rio de Janeiro. Tais
constatações nos levam a crer que o Brasil não se diferencia em relação a outros países
quanto à definição do que seja empreendedorismo social. Já temos, inclusive, exemplos
concretos que podem sinalizar um padrão específico que distingue o empreendedorismo
social de outros termos e práticas relativamente similares. Logo, e considerando o espaço
e objetivo deste artigo, apresentamos, em um primeiro momento, os principais conceitos
mais em voga, tanto na visão internacional como na nacional sobre o significado de
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 18
empreendedorismo social na atual conjuntura. Em um segundo momento, abordamos o
que consideramos como tênues diferenças entre dois principais termos, que regularmente
apresentam certa similitude e até confusão com o empreendedorismo social:
responsabilidade social empresarial e empreendedorismo privado. Em um terceiro,
tratamos de um dos casos mais exemplares de empreendedorismo social nacional, mas
com impacto e notoriedade internacionais. Em um quarto momento, descrevemos os
principais traços do conceito e caracterização do empreendedorismo social, bem como
uma síntese de seu significado e fundamentação. Em um quinto, apresentamos em linhas
gerais os principais desafios e possibilidades do empreendedorismo social no Brasil,
algumas considerações finais e sugestões quanto ao conhecimento sistematizado em
nossa investigação. Com isso, esperamos contribuir para uma introdução mais
sistematizada e contextualizada sobre o tema e ampliar o debate.
Metodologia
Trata-se do resultado de uma pesquisa qualitativa, multicaso, tipo exploratória.
Foi feito um estudo descritivo de oito organizações consideradas típicas e exemplares
em relação ao conceito e prática do empreendedorismo social, destacando-se entre elas:
Academia Social de Recife-CE, Comitê de Democratização da Informática - CDI do Rio
de Janeiro e Ashoka de São Paulo. Por intermédio da Ashoka, conseguimos contactar
quatro organizações da rede de empreendedores.
Destas, três se submeteram ao preenchimento de um questionário semi-
estruturado. E, dessas três, uma permitiu que realizássemos um estudo de caso em
profundidade. Tais fontes permitiram extrair os principais fundamentos, que
delimitamos em: ontológicos, gnoseológicos, epistemológicos e das estratégias de gestão
dos empreendimentos sociais realmente empreendedores. Os dados foram
sistematizados e, com o auxílio de software de pesquisa, fizemos a análise léxica e
qualitativa dos principais dados. A seguir, apresentamos uma pequena parte desses dados
como introdução à presente temático.
O atual entendimento sobre empreendedorismo social
Em nossa investigação, verificamos que parte da pouca bibliografia sobre o assunto tem
como fontes artigos e trabalhos produzidos por outros países. Ao analisarmos as
organizações e suas propostas, podemos destacar algumas delas que têm influenciado a
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 19
disseminação do conceito e da prática do empreendedorismo social: School Social
Entrepreneurship - SSE, UK - Reino Unido, Canadian Center Social Entrepreneurship -
CCSE, Canadá; Foud Schwab, Suíça; e The Institute Social Entrepreneurs - ISE, Estados
Unidos. No quadro 1, sintetizamos os principais entendimentos sobre empreendedorismo
social.
No que se refere aos conceitos difundidos no Brasil, podemos verificar uma certa
semelhança, que encontramos a partir de fontes diversas, tais como: dissertações, artigos,
livros. Vejamos no quadro 2 uma amostra de algumas citações catalogadas no decorrer
da referida investigação.
QUADRO 1 - CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL - VISÃO
INTERNACIONAL
ORGANIZACAO ENTENDIMENTO
School Social Entrepreneurship
- SSE, Uk-Reino Unido
"É alguém que trabalha de uma maneira empresarial,
mas para um público ou um benefício social, em lugar
de ganhar dinheiro. Empreendedores sociais podem
trabalhar em negócios éticos, órgãos governamentais,
públicos, voluntários e comunitários [...]
Empreendedores sociais nunca dizem 'não pode ser
feito'."
Canadian Center Social
Entrepreneurship - CCSE,
Canadá
"Um empreendedor social vem de qualquer setor, com
as características de empresários tradicionais de visão,
criatividade e determinação, e empregam e focalizam
na inovação social [...] Indivíduos que [...] combinam
seu pragmatismo com habilidades profissionais,
perspicácias."
Foud Schwab, Suíça "São agentes de intercambiação da sociedade por meio
de: proposta de criação de idéias úteis para resolver
problemas sociais, combinando práticas e
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 20
conhecimentos de inovação, criando assim novos
procedimentos e serviços; criação de parcerias e
formas/meios de auto-sustentabilidade dos projetos;
transformação das comunidades graças às associações
estratégicas; utilização de enfoques baseados no
mercado para resolver os problemas sociais;
identificação de novos mercados e oportunidades para
financiar uma missão social. [...] características
comuns aos empreendedores sociais: apontam idéias
inovadoras e vêem oportunidades onde outros
não vêem nada; combinam risco e valor com critério e
sabedoria; estão acostumados a resolver problemas
concretos, são visionários com sentido prático, cuja
motivação é a melhoria de vida das pessoas, e
trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo
social."
The Institute Social
Entrepreneurs - ISE, EUA
"Empreendedores sociais são executivos do setor sem
fins lucrativos que prestam maior atenção às forças do
mercado sem perder de vista sua missão (social) e são
orientados por um duplo propósito: empreender
programas que funcionem e estejam disponíveis às
pessoas (o empreendedorismo social é base nas
competências de uma organização), tornando-as
menos dependentes do governo e da caridade."
Ashoka, Estados Unidos "Os empreendedores sociais são indivíduos
visionários que possuem capacidade empreendedora e
criatividade para promover mudanças sociais de longo
alcance em seus campos de atividade. São inovadores
sociais que deixarão sua marca na história."
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 21
Erwing Marion, Kauffman
Foundation
"Empreendimentos sem fins lucrativos são o
reconhecimento de oportunidade de cumprimento de
uma missão para criar e sustentar um valor social, sem
se ater exclusivamente aos recursos."
FONTE: Oliveira (2004)
QUADRO 2 - CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL - VISÃO
NACIONAL
AUTOR CONCEITO
Leite (2002 “O empreendedor social é uma das espécies do gênero dos
empreendedores. [...] São empreendedores com uma missão social,
que é sempre central e explícita.”
Ashoka
Empreendedores
Sociais e
Mackisey e Cia.
INC (2001)
“Os empreendedores sociais possuem características distintas dos
empreendedores de negócios. Eles criam valores sociais pela
inovação, pela força de recursos financeiros em prol do
desenvolvimento social, econômico e comunitário. Alguns dos
fundamentos básicos do empreendedorismo social estão
diretamente ligados ao empreendedor social, destacando-se a
sinceridade, paixão pelo que faz, clareza, confiança pessoal,
valores centralizados, boa vontade de planejamento, capacidade de
sonhar e uma habilidade para o improviso.”
Melo Neto e Froes
(2001)
“Quando falamos de empreendedorismo social, estamos buscando
um novo paradigma.O objetivo não é mais o negócio do negócio
[...] trata-se, sim, do negócio do social, que tem na sociedade civil
o seu principal foco de atuação e na parceria envolvendo
comunidade, governo e setor privado, a sua estratégia.”
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 22
Rao (2002 “Empreendedores sociais, indivíduos que desejam colocar suas
experiências organizacionais e empresariais mais para ajudar os
outros do que para ganhar dinheiro.”
Rouere e Pádua
(2001)
) “Constituem a contribuição efetiva de empreendedores sociais
inovadores cujo protagonismo na área social produz
desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e mudança de
paradigma de atuação em benefício de comunidades menos
privilegiadas.”
FONTE: Oliveira (2004)
A partir dessa primeira aproximação, fica nítido que tanto nacional quanto
internacionalmente o conceito está em construção. Apesar disso, essa amostra nos
possibilita perceber que há certa similitude quanto à compreensão da origem e
estreitamento do empreendedorismo social com a lógica empresarial, fator este
influenciado pela crescente participação das empresas no enfrentamento dos problemas
sociais. Essa relação próxima e até histórica tem diferenças significativas, que nos
auxiliam a compreender e melhor definir o que seja empreendedorismo social na
atualidade, se não de forma definitiva, bem mais próxima e específica. A seguir,
apresentamos o que chamamos de diferenças tênues em relação a dois outros conceitos
historicamente próximos – responsabilidade social empresarial e empreendedorismo
empresarial – mas, como mostraremos, distintos.
Tênues diferenças, mas que fazem diferença
Antes de dizermos o que é empreendedorismo social, vamos, inicialmente,
explicar o que não é empreendedorismo social. O empreendedorismo social não é
responsabilidade social empresarial, pois esta supõe um conjunto organizado e
devidamente planejado de ações internas e externas, e uma definição centrada na missão
e atividade da empresa, ante as necessidades da comunidade. Não é uma profissão, pois
não é legalmente constituída, não havendo formação universitária ou técnica, nem
conselho regulador e código de ética profissional legalizado; não é também uma
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 23
organização social que produz e gera receitas, a partir da venda de produtos e serviços,
e muito menos é representado por um empresário que investe no campo social, o que
está (2002, p.40), “[...] a solidariedade que produz ajuda mais próximo da
responsabilidade social empresarial, assistencialista representa fantástico processo de ou,
quando muito, da filantropia e da caridade imbecilização”. Os quadros 3, 4 e 5 fazem
comparativos empresarial, que já se mostraram inadequadas, não entre os principais
pontos que diferem e, ao mesmo somente para os “ajudados”, mas também para os
tempo, apresentam certa semelhança com o negócios e para a sociedade, pois, como
enfatiza Demo empreendedorismo social.
QUADRO 3 - DIFERENÇAS ENTRE EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL
E EMPREENDEDORISMO SOCIAL
EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL EMPREENDEDORISMO SOCIAL
1. É individual 1. É coletivo
2. Produz bens e serviços 2. Produz bens e serviços à comunidade
3. Tem o foco no mercado 3. Tem o foco na busca de soluções para
os
problemas sociais
4. Sua medida de desempenho é o lucro 4. Sua medida de desempenho é o
impacto social
5. Visa a satisfazer necessidades dos clientes
e a ampliar as potencialidades do negócio
5. Visa a respeitar pessoas da situação
de risco social e a promovê-las
FONTE: Adaptado de Melo Neto e Froes (2002, p.11)
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 24
QUADRO 4 - ORGANIZAÇÕES SOCIAIS TRADICIONAIS E
EMPREENDEDORAS
TRADICIONAIS EMPREENDEDORAS
1. Hierarquia 1. Time/trabalho orientado
2. Controle centralizado 2. Descentralização/empowerment
3. Foco no que é melhor para a organização 3. Foco no que é melhor para o cliente
4. Ênfase nos programas 4. Ênfase no centro de competências
5. Dependente de recursos 5. Financeiramente auto-suficiente
6. Tentativa de ser todas as coisas para todas as
pessoas
6. Nicho orientado
FONTE: Adaptado de Thalhuber (2002)
QUADRO 5 - CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL,
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E EMPREENDEDORISMO
PRIVADO
EMPREENDEDORISMO
PRIVADO
RESPONSABILIDADE
SOCIAL
EMPRESARIAL
EMPREENDEDORISMO
SOCIAL
É individual É individual com possíveis
parcerias
É coletivo e integrado
Produz bens e serviços para
o mercado
Produz bens e serviços para
si e para a comunidade
Produz bens e serviços para a
comunidade, local e global
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 25
Tem o foco no mercado Tem o foco no mercado e
atende à comunidade
conforme sua missão
Tem o foco na busca de
soluções para os problemas
sociais e necessidades da
comunidade
Sua medida de desempenho
é o lucro
Sua medida de
desempenho é o retorno
aos envolvidos no processo
stakeholders
Sua medida de desempenho
são o
impacto e a transformação
social
Visa a satisfazer
necessidades dos clientes e
a ampliar as potencialidades
do negócio
Visa a agregar valor
estratégico ao negócio e a
atender expectativas do
mercado e da
percepção da
sociedade/consumidores
Visa a resgatar pessoas da
situação de risco social e a
promovê-las, e a gerar
capital social, inclusão e
emancipação social
FONTE: Adaptado de Melo Neto e Froes (2002)
A investigação realizada sobre o assunto permitiu fazer esses comparativos e
também captar um entendimento mais específico acerca do significado e formatação do
empreendedorismo social brasileiro, o que pode ficar mais claro a partir da apresentação
de um caso exemplar, que hoje é modelo nacional e internacional e talvez um dos que
melhor explicitam a nova perspectiva do empreendedorismo social.
Essa análise pode ser complementada observando-se o perfil do empreendedor social
(quadro 6).
QUADRO 6 - PERFIL DO EMPREENDEDOR SOCIAL
CONHECIMENTOS HABILIDADES COMPETÊNCIAS POSTURAS
Saber aproveitar as
oportunidades
Ter visão clara Ser visionário
Ter senso de
Ser inconformado
e
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 26
Ter competência
gerencial
Ser pragmático e
responsável
Saber trabalhar de
modo
empresarial para
resolver
problemas sociais
Ter iniciativa
Ser equilibrado
Ser participativo
Saber trabalhar em
equipe
Saber negociar
Saber pensar e agir
estrategicamente
Ser perceptivo e
atento
aos detalhes
Ser ágil
Ser criativo
Ser crítico
Ser flexível
Ser focado
Ser habilidoso
Ser inovador
Ser inteligente
Ser objetivo
responsabilidade
Ter senso de
solidariedade
Ser sensível aos
problemas
sociais
Ser persistente
Ser consciente
Ser competente
Saber usar forças
latentes e
regenerar forças
pouco
usadas
Saber correr riscos
calculados
Saber integrar vários
atores
em torno dos
mesmos
objetivos
Saber interagir com
diversos
segmentos e
interesses dos
diversos setores da
sociedade
Saber improvisar
Ser líder
indignado com a
injustiça
e desigualdade
Ser determinado
Ser engajado
Ser comprometido
e leal
Ser ético
Ser profissional
Ser transparente
Ser apaixonado
pelo que
faz (campo social)
FONTE: Oliveira (2004)
Esses dados sobre o perfil do empreendedor social foram elaborados com base na
catalogação das várias fontes de pesquisas, já nomeadas, e na entrevista com
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 27
empreendedores sociais brasileiros, que vivenciam, e não só teorizam sobre o assunto.
Os dados podem sinalizar um super-homem, ou uma supermulher, mas de fato, se
refletirmos, os indicadores não são tão excepcionais, pois essas características são
necessárias em qualquer área em que se queira fazer diferença e ir além do trivial. Tais
características do perfil do empreendedor social não ficam tão distantes, quando
podemos verificar que, na prática, já podemos ver esses elementos de forma concreta e
sendo expressas em ações. São numerosos exemplos, que podem ser analisados a partir
da consulta a algumas organizações como a Ashoka (www.ashoka.org.br) ou a Foud
Schwab (www.foudschwab.org). No momento, destacamos o caso do CDI, no Rio de
Janeiro, que hoje está em várias partes do Brasil e do mundo, fato este que o faz ser o
exemplo presente dos futuros empreendimentos na lógica do empreendedorismo social,
como veremos a seguir.
Um exemplo brasileiro de empreendedorismo social
Em 1994, Rodrigo Baggio, um jovem profissional da área de educação em
informática, percebeu que a tecnologia da informação poderia ser uma grande ferramenta
para lutar contra a exclusão social. Primeiramente, criou um link para unir jovens de
todas as classes sociais, o JovemLink. Notou, porém, que só os que tinham computador
acessavam a rede. Verificou que era necessário levar a tecnologia ao “outro lado da
fronteira digital”. Assim, criou a primeira escola de informática na favela de Dona Marta,
no subúrbio do Rio de Janeiro, e deu os primeiros passos para a criação, em 1995, do
Comitê de Democracia da Informática CDI, uma organização não-governamental, cuja
missão é “promover a inclusão social utilizando a tecnologia da informação como um
instrumento para a construção e exercício da cidadania”. Com sede no Rio de Janeiro,
hoje está construída e consolidada uma rede de Escolas de Informática e Cidadania -
EIC, de forma autônoma e auto-sustentável. São cerca de 789 escolas, com atuação em
âmbito nacional, em 38 cidades e 20 estados. Nelas, foram capacitadas 461.440 crianças
e jovens. Internacionalmente, está distribuída em cerca de 10 países. O CDI mantém uma
vasta rede de parceiros para dinamizar suas atividades, nacionais e internacionais,
destacando-se entre eles: BNDES, Fundação W. K. Kellogg, BID, Banco Mundial,
Xerox, Fundação EDS. Devido aos resultados, esse projeto é considerado pela ONU
como de impacto e de exemplo mundial, pois pode ser aplicado em vários lugares e
alcançar, a um baixo custo, resultados significativos de inclusão não só digital, mas
também social e de exercício da cidadania.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 28
Afinal, o que é empreendedorismo social?
Considerando o que apresentamos até o momento, já é possível destacar algumas
características que nos aproximam da resposta deste item. Primeiramente, é possível
distinguir dois tipos de organizações que, atualmente, disseminam o conceito e a prática
do empreendedorismo social. Uma opera como sustentadora, capacitadora e divulgadora,
como é o caso da Ashoka, no exterior e no Brasil, e da Foud Schwab, na Suíça. Além de
recrutarem e manterem por algum tempo o sustento pessoal e técnico do empreendedor
social, abrem espaços e ações de disseminação teórica, com livros, artigos, sites, cursos,
encontros, rede de contato, entre outros. Atuam, portanto, em um nível estratégico e
tático. Um segundo tipo de organização é o que opera na intervenção local, atual, em um
nível operacional, executando e aprimorando os conhecimentos técnicos de gestão e
inovação no campo social.
O CDI é uma ONG que tem com o missão “promover a inclusão social utilizando a
tecnologia da informação como um instrumento para a construção e exercício da
cidadania”
Não estamos fazendo, com isso, uma divisão entre grupos pensantes e grupos
operantes, muito ao contrário, ambos necessitam um do outro para se alimentar. Essa
característica é típica de projetos de empreendedorismo social que não abrem mão do
teórico, do técnico, mas são, como afirmam Melo Neto e Froes (2001), “pragmáticos
responsáveis”, isto é, não despendem tempo em grandes e infindáveis elucubrações
teorizantes, que servem mais para o prazer e ego acadêmicos do que para serem úteis à
sociedade em si.
Nesse sentido, observamos que se trata, antes de tudo, de uma ação inovadora
voltada para o campo social cujo processo se inicia com a observação de determinada
situação-problema local, para a qual se procura, em seguida, elaborar uma alternativa de
enfrentamento. Observamos também que essa idéia tem de apresentar algumas
características fundamentais, tais como:
1.º) ser inovadora;
2.º) ser realizável;
3.º) ser auto-sustentável;
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 29
4.º) envolver várias pessoas e segmentos da sociedade, principalmente a população
atendida;
5.º) provocar impacto social e permitir que seus resultados possam ser avaliados.
Os passos seguintes são: colocar essa idéia em prática, institucionalizar e gerar um
momento de maturação até que seja possível a sua multiplicação por outras localidades,
criando, assim, um processo de rede de atendimento ou de franquia social, até se tornar
política pública.
No exemplo do CDI, nós encontramos todos esses elementos:
1.º) é uma idéia inovadora, nunca antes realizada;
2.º) é uma idéia agora realizada;
3.º) tornou-se auto-sustentável;
4.º) envolveu várias pessoas e segmentos da sociedade (principalmente a população
atendida);
5.º) provocou impacto social, local e global, e os seus resultados e o retorno do
investimento aplicado podem ser avaliados;
6.º) foi multiplicada e aplicada em outras regiões e até em outros países;
7.º) transformou-se em política pública.
Nesse sentido, e de forma mais específica, o empreendedorismo social pode ser
considerado como:
• Um novo paradigma de intervenção social, pois apresenta um novo olhar e leitura
da relação e integração entre os vários atores e segmentos da sociedade.
• Um processo de gestão social, pois apresenta, como vimos, uma cadeia sucessiva
e ordenada de ações, que pode ser resumida em três fases: a) concepção da idéia; b)
institucionalização e maturação da idéia; c) multiplicação da idéia. O que é semelhante
ao processo da metamorfose da lagarta, que entra no casulo e sai borboleta. Foi a partir
dessa analogia que criamos um projeto de extensão chamado “Casulo Sociotecnológico”.
Esse projeto está em andamento, é um projeto de extensão universitária realizado em
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 30
parceria com a Associação Comercial e Industrial de Toledo -Acit e visa a colocar em
prática os princípios e as estratégias do empreendedorismo social.
• Uma arte e uma ciência. Uma arte porque permite a cada empreendedor aplicar
as suas habilidades e aptidões e, por que não, seus dons e talentos, sua intuição e
sensibilidade na elaboração do processo do empreendedorismo social. Uma ciência
porque utiliza meios técnicos e científicos para ler, elaborar/planejar e agir sobre e na
realidade humana e social.
• Uma nova tecnologia social, pois sua capacidade de inovação e de empreender
novas estratégias de ação faz com que sua dinâmica gere outras ações que afetam
profundamente o processo de gestão social, já não mais assistencialista e mantenedor,
mas empreendedor, emancipador e transformador.
• Um indutor de auto-organização social, pois não é uma ação isolada, mas, ao
contrário, necessita da articulação e participação da sociedade para se institucionalizar e
apresentar resultados que atendam às reais necessidades da população, tendo de ser
duradouro e de alto impacto social. Não é privativo, pois a principal característica e a
possível multiplicação da idéia/ação partem de ações locais, mas sua expansão é para o
impacto global. Dessa forma, é um sistema dentro de um maior, que é a sociedade,
gerando mudanças significativas a partir do processo de interação, cooperação e estoque
elevado de capital social. Como ressaltam Melo Neto e Froes (2001, p.31) “O processo
de empreendedorismo social exige, principalmente, o redesenho de relações entre
comunidade, governo e setor privado, que se baseia no modelo de parcerias”, tendo como
principal objetivo (2001, p.11 e 12) “[...] retirar pessoas da situação de risco social e [...]
o foco é nos problemas sociais, e o objetivo a ser alcançado é a solução a curto, médio e
longo prazos destas questões [...] buscando propiciar-lhes plena inclusão social”.
Perspectivas para o empreendedorismo social no Brasil
Como podemos verificar, o empreendedorismo social não se constitui de um
“passe de mágicas”, mas de uma ação que requer, acima de tudo, a capacidade
coordenada das pessoas, mesmo que isso se inicie, primeiramente, por uma pessoa. Logo,
e como sugestão, podemos sinalizar as perspectivas em duas direções: desafios e
possibilidades.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 31
Quanto aos desafios, seriam dois os principais:
a) criar capital social, que é base para elaboração e sucesso das ações do
empreendedor social.Considerando o histórico de cultura individualista em nossa
sociedade, ou do estilo “o que eu vou ganhar fazendo isso?”, ou da vaidade dos gestores,
das organizações públicas, privadas e do terceiro setor, em que prevalece a cultura do
tipo, “minhas crianças”, “meus pobres”, cremos que gerar capital social é, hoje, um dos
grandes desafios para os empreendimentos sociais;
b) empoderamento dos sujeitos do processo, ou seja, quebrar o discurso do “só
tenho direito e não tenho nada de deveres” e fazer com que as pessoas, principalmente
as excluídas e marginalizadas, tenham uma postura de cidadãs e não de vítimas e
comecem a fazer a sua parte sem esperar um “salvador da pátria”, o que em uma cultura
do “me-dá-me-dá” não é uma tarefa muito fácil. É preciso fortalecer o caminhar juntos,
pois, como ressalta Maturana (1997, p.206), “[...] ser social envolve sempre ir com o
outro, e só se vai livremente com quem se ama”.
Quanto às possibilidades, destacamos as seguintes:
a) gera dinamismo e objetividade;
b) gera resultados sociais de impacto;
c) cria capital social e empoderamento;
d) resgata a auto-estima e a visão e futuro;
e) é dinâmico, cativa e motiva as pessoas ao engajamento cívico;
f) tem ênfase na geração de novos valores e mudança de paradigmas;
g) tem na inovação, na criatividade e na cooperação os pilares de suas ações. No médio
e longo prazos, irá influenciar radicalmente a elaboração e execução de projetos sociais,
que deverão, cada vez mais, apresentar, como nos negócios empresariais, propostas que
demonstrem efetividade, eficiência e eficácia quanto à aplicação dos recursos
solicitados, além de apresentar maneiras de aferir os resultados de forma clara e
transparente.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 32
Considerações finais
Procuramos apresentar dados e informações básicas sobre o empreendedorismo
social no Brasil. O título, apesar de pretensioso, trata-se, antes de tudo, da apresentação
de parte dos resultados de uma pesquisa qualitativa e estudo multicaso sobre
organizações e profissionais que estão vivenciando a construção histórica de um novo
modo de gestão social, que recusa a lógica da filantropia, da caridade e do
assistencialismo, que mais serviram para aplacar a consciência dos “ajudadores”, do que
resolver de fato a vida dos “ajudados”, para incorporar uma lógica empreendedora. Ela
busca a inovação de estilo empresarial na solução de problemas e causas sociais,
impactando ações que geram, na prática, mais do que na teoria, a emancipação social, a
inclusão social e o empoderamento dos cidadãos por meio do estoque de capital social e
ações voltadas para o desenvolvimento integrado e sustentável.
Verificamos que esse processo surge da constatação do crescimento das organizações
do terceiro setor, da diminuição do investimento público na questão social e da
participação crescente das empresas no campo social.
Analisamos também que o empreendedorismo social apresenta certa semelhança
com outros termos, tais como responsabilidade social empresarial e o empreendedorismo
privado. No entanto, e como procuramos mostrar, as diferenças, apesar de tênues, são
substanciais, pois o empreendedorismo social atua mais na geração de ações que causem
o impacto local – não restrito a causas específicas e focadas, como é o caso da
responsabilidade social empresarial – e tem como objetivo o resultado coletivo,
diferentemente do empreendedorismo privado. Também apresenta uma característica
inovadora quanto ao modo de ver (paradigma) de sua metodologia (processo), de sua
aplicação e formatação (ciência e arte), e de suas estratégias e impactos (auto-
organização social). Tais fatores e constatações apontam para um novo momento em que
os problemas sociais deixam de ser simples tema de discursos para políticos, objeto de
pesquisa para pesquisadores e lamentação para a sociedade e passam a ser uma causa
comum a todos, o que requer novas formas de agir, pensar e abraçar as alternativas postas
em nosso presente tempo. Como bem afirmam Melo
Neto e Froes (2002, p.15): “Intelectuais, políticos, empresários e pesquisadores sociais
apontam distorções, culpam o governo, criticam as políticas públicas e identificam
gestores e instituições corruptas, ineficientes e ineficazes. Muito se fala e pouco se faz
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 33
de concreto e efetivo. Muitas vezes, o que se fala esconde a inércia, o conformismo, a
visão banalizada dos problemas, o ceticismo diante das questões sociais “[grifo nosso].
Em outras palavras, devemos deixar do muito falar e, de modo responsável,
praticar ações em prol do bem comum, pois, se assim não o fizermos, estaremos
plantando no presente um futuro sóbrio. A esperança é de que estejamos atentos às
possibilidades de compormos novas sínteses e novos rumos para as nossas vidas. Como
afirma Rubem Alves (1984, p.160), “[...] a diferença entre o homem e os animais deve
ser encontrada no fato de que, enquanto cada espécie animal é prisioneira de sua própria
melodia, o homem tem a capacidade de compor novas”. Que ao tentarmos ampliar o
significado do empreendedorismo social, possamos vislumbrar tais possibilidades.
Recomendações
Dadas a importância e a profundidade do empreendedorismo social e a partir de
nossa vivência na área, fazemos as seguintes e principais sugestões:
a) inclusão do empreendedorismo social na formação profissional universitária e no
ensino médio, a exemplo do que está ocorrendo com o empreendedorismo empresarial;
b) implementação e adoção do empreendedorismo social no campo da gestão social
pública, nos níveis federal, estadual e municipal;
c) implementação e adoção do empreendedorismo social nos Conselhos de Direito das
categorias profissionais;
d) criação de mais espaços de apoio, incentivo, pesquisa e disseminação dos
fundamentos e das estratégias do empreendedorismo social no Brasil, como uma política
nacional de estímulo à inovação de novas tecnologias sociais empreendedoras;
e) potencialização das ações das faculdades e universidades por intermédio de projetos
de extensão na perspectiva do empreendedorismo social.
Referências
ALVES, Rubem. O suspiro dos oprimidos. São Paulo: Paulinas, 1984.
ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS; MACKISEY E CIA. INC.
Empreendimentos sociais sustentáveis. São Paulo: Peirópolis, 2001.
Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 34
DEMO, Pedro. Solidariedade como efeito de poder. São Paulo: Instituto Paulo Freire,
2002. v.6. (Coleção Prospectiva).
LEITE, Emanual. Incubadora social: a mão visível do fenômeno do empreendedorismo
criando riqueza. In: IV ENCONTRO NACIONAL DE EMPREENDEDORISMO -
ENEMPRE. Anais... Santa Catarina: UFSC/ENE, 2002.
MATURANA, Humberto. A antologia da realidade. Belo Horizonte: UFMG, 1997.
MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César. Gestão da responsabilidade social
corporativa: o caso brasileiro – da filantropia tradicional à filantropia de alto rendimento
e ao empreendedorismo social. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.
MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César. Empreendedorismo social: a
transição para a sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.
OLIVEIRA, Edson Marques. Empreendedorismo social no Brasil: fundamentos e
estratégias. 2004. Tese (Doutorado) Universidade Estadual Paulista - Unesp, Franca,
2004.
RAO, Srikumar. Renasce o imperador da paz. Forbes, v. 162, n. 5, 7 set. 1998.
Disponível em: <www.ashoka.org.br>. Acesso em: 8 set. 2002.
ROUERE, Mônica de; PÁDUA, Suzana Machado. Empreendedores sociais em ação.
São Paulo: Cultura Associados, 2001.
THALHUBER, Jim. The national center social entrepreneurs. Disponível em:
<www.socialentrepreneurs.org>. Acesso em: 22 out. 2002.
Extraído da Revista FAE, vol. 7, n. 2, p. 9 – 18 (julho/dezembro – 2004).autoria de Edson
Marques Oliveira.
Volte para seu curso e participe do Fórum "Empreendedorismo Social no Brasil" no
Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.