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Página 1 de 21 ANÁLISE TÉCNICA E JURÍDICA DA LEI DE EMISSÃO DE SONS E RUÍDOS DA ESTÂNCIA TURÍSTICA DE RIBEIRÃO PIRES E PROPOSTA DE ALTERAÇÃO DA LEI Tecgº Wallace Rodrigues de Santana Mestrando em Engenharia da Informação pela UFABC Tecnólogo em Informática com Ênfase em Gestão de Negócios pela FATEC-Mauá Tecnólogo em Mecânica de Precisão pela FATEC-SP [email protected] Resumo Este trabalho apresenta uma análise dos principais aspectos técnicos e jurídicos sobre a questão da poluição sonora no âmbito do município de Ribeirão Pires, principalmente nas áreas urbanas que contém zonas mistas de residências e comércios. Este trabalho também procura apresentar alternativas para o problema de emissão de ruídos. Abstract This work shows an analysis of the mainly technical and juridical aspects about noise pollution in Ribeirão Pires, mainly in urban areas that contains houses and commerce. This work presents alternates to solve the noise pollution problem. 1 – Introdução A seção 2 deste trabalho apresenta um breve histórico da origem da Lei Municipal 4.855/2005, mais conhecida como “Lei do Silêncio”. Na seção 3 é feita uma análise da legislação que trata da poluição sonora e do direito de vizinhança, e na seção 4 são apresentadas as normas que estabelecem limites de emissão de sons e ruídos. Na seção 5 é feita uma comparação entre a lei municipal e os normativos federal e estadual, e na seção 6 são sugeridas propostas para alteração da lei municipal. Por fim, na seção 7 são apresentadas as conclusões.

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ANÁLISE TÉCNICA E JURÍDICA DA LEI DE EMISSÃO DE SONS E RUÍDOS DA ESTÂNCIA TURÍSTICA DE RIBEIRÃO

PIRES E PROPOSTA DE ALTERAÇÃO DA LEI

Tecgº Wallace Rodrigues de Santana

Mestrando em Engenharia da Informação pela UFABC Tecnólogo em Informática com Ênfase em Gestão de Negócios pela FATEC-Mauá

Tecnólogo em Mecânica de Precisão pela FATEC-SP [email protected]

Resumo Este trabalho apresenta uma análise dos principais aspectos técnicos e jurídicos sobre a questão da poluição sonora no âmbito do município de Ribeirão Pires, principalmente nas áreas urbanas que contém zonas mistas de residências e comércios. Este trabalho também procura apresentar alternativas para o problema de emissão de ruídos. Abstract This work shows an analysis of the mainly technical and juridical aspects about noise pollution in Ribeirão Pires, mainly in urban areas that contains houses and commerce. This work presents alternates to solve the noise pollution problem. 1 – Introdução A seção 2 deste trabalho apresenta um breve histórico da origem da Lei Municipal 4.855/2005, mais conhecida como “Lei do Silêncio”. Na seção 3 é feita uma análise da legislação que trata da poluição sonora e do direito de vizinhança, e na seção 4 são apresentadas as normas que estabelecem limites de emissão de sons e ruídos. Na seção 5 é feita uma comparação entre a lei municipal e os normativos federal e estadual, e na seção 6 são sugeridas propostas para alteração da lei municipal. Por fim, na seção 7 são apresentadas as conclusões.

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2 – Histórico Ribeirão Pires, situada na região metropolitana de São Paulo, com 100% de seu território inserido em área de mananciais, foi elevada recentemente à condição de Estância Turística. A sua região central é formada principalmente por zonas de comércio e zonas mistas, que comportam tanto edifícios comerciais quanto residenciais. Uma região problemática da cidade é a região conhecida como Centro Novo. Ela é famosa por abrigar os bares e casas noturnas mais freqüentadas da região, onde há um grave problema: esta zona de uso abriga não só estabelecimentos comerciais, mas também edifícios residenciais. É de se estranhar o fato da prefeitura ter permitido a ocupação desta região por dois tipos de edificações que nunca deveriam dividir o mesmo espaço. O comércio diurno pouco atrapalha o sossego e bem estar dos moradores de apartamentos, mas o comércio noturno não só atrapalha como até é prejudicial à saúde da população dessa região. Para dar respostas às diversas reclamações dos moradores do Centro Novo e adjacências, a Câmara Municipal e o conjunto da sociedade, formados principalmente por moradores e comerciantes, discutiram por muito tempo uma legislação que garantisse o funcionamento dos bares e casas noturnas dentro de limites legais e ao mesmo tempo protegessem o sossego e bem estar dos moradores. Dentre as leis que foram criadas ou alteradas, a mais recente é a Lei nº 4.855, de 26 de julho de 2005, mais conhecida como “Lei do Silêncio” ou “Lei de Emissão de Sons e Ruídos”. No entanto, esta Lei Municipal, que deveria estabelecer limites aos comerciantes e proteger os moradores, não é devidamente cumprida. E o pior, uma breve análise da lei nos permite averiguar que a mesma tem diversas brechas e não segue normas estabelecidas por órgãos nacionais, devidamente reconhecidos pelo poder público federal e estadual. A “Lei de Emissão de Sons e Ruídos” como está hoje é inócua. Ela permite que os comerciantes cometam abusos e impede que o poder público municipal, por meio de seu setor de fiscalização, possa controlar a emissão de ruídos e punir aqueles que não cumprem a lei.

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3 – Aspectos Jurídicos De acordo com FREITAS, “no ordenamento jurídico brasileiro, existem diplomas legais que fixam padrões de emissão de ruídos e parâmetros para sua avaliação em ambientes e mencionam que as pessoas devem ter assegurado a sua saúde, segurança e sossego. O que deve sempre ser levado em consideração é o direito da pessoa humana, tais como, vida com dignidade, qualidade de vida e saúde pública, física e mental, podendo ser protegido o ser humano em quaisquer condições contra agentes produtores de causas agressoras, que possam importar em danos físicos e psíquicos, como os problemas decorrentes da poluição sonora ambiental”. No que diz respeito ao meio ambiente, a Constituição Federal de 1988 assegura em seu Art. 225 que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Os problemas decorrentes da emissão de sons e ruídos estão incluídos entre os sujeitos ao controle da poluição ambiental, e sua normatização é atribuída ao CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, conforme CARNEIRO. Esta atribuição tem como origem a Lei Federal nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências, que foi regulamentada pelo Decreto nº 99.274 de 06 de junho de 1990. O CONAMA, dotado então da devida competência técnica e jurídica, estabeleceu por meio da Resolução nº 01 de 08 de março de 1990, em seu item II, ser “prejudicial à saúde e ao sossego público os ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela norma NBR 10.151”. CARNEIRO nos explica que, embora as resoluções do CONAMA e as normas ABNT sejam normas gerais, em razão do sistema constitucional de repartição de competências, os Estados e Municípios podem complementar a legislação federal. Ou seja, embora a norma seja federal, Estados e Municípios podem estabelecer regras próprias sobre controle de poluição ambiental (incluindo a sonora) e proteção ao meio ambiente, pois têm competência constitucional para tal. Sendo assim, estes entes da Federação podem instituir regras regionais e locais, mas não podem ultrapassar os limites das normas federais, conforme Art. 24, itens VI, XII, § 1º e § 2º da Constituição Federal de 1988. No caso mais específico dos municípios, os itens I e II do Art. 30 da CF são muito claros: o município pode “legislar sobre assuntos de interesse local” e “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”, mas devem atentar para a prevalência da norma mais restritiva. Os problemas decorrentes da emissão de sons e ruídos podem ser caracterizados a partir do ponto de vista do Direito Criminal, Direito Ambiental e do Direito de Vizinhança. O Decreto Lei 3.688, de 03 de outubro de 1941, Lei das Contravenções Penais, afirma em seu Art. 42 que “Perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheios: com gritaria ou algazarra; exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais; abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos; provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de quem tem guarda”, sujeita o infrator a pena de prisão simples de quinze dias a três meses, ou multa. A mesma lei afirma ainda, em seu Art. 65, que “Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranqüilidade, por acinte ou por motivo reprovável”, sujeita o infrator a pena de prisão simples de quinze dias a dois anos, ou multa. A Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, Lei de Crimes Ambientais, em seu Art. 54 afirma que “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à

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saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora”, sujeita o infrator a pena de reclusão de um a quatro anos, e multa. E se o crime for culposo, pena de detenção, de seis meses a um ano, e multa. A Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002, que institui o novo Código Civil, nos Art. 1.277 a 1.279, disciplina os problemas referentes a ruídos urbanos. De acordo com FREITAS, “o ruído perturba o sono, o sossego, ou o bem estar dos vizinhos e caracteriza uso nocivo da propriedade, ainda que inexista a intenção de prejudicar ou incomodar, justificando a aplicação da regra do Art. 1277 do Código Civil de 2002, pois o que deve ser considerado é a qualidade de vida e a saúde do ser humano e não a atividade econômica”. O Art. 1.277 do Código Civil diz que “O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde das que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha”. FREITAS nos lembra que o Código Civil sobrepõe à Legislação Municipal, e seu Art. 1.227 dá ao proprietário prejudicado o direito de impedir o mau uso da propriedade. Conforme explica SILVA, “o direito de propriedade não é um direito absoluto”. SILVA cita em seu trabalho o exposto na página 243 do número 0 da Revista de Direito Ambiental: “a propriedade, os estabelecimentos comerciais não podem ser utilizados de maneira única e desejada pelo proprietário, há de respeitar o direito de vizinhança, do seu fim social e da respeitabilidade à tranqüilidade, à segurança. (…) É proibido perturbar o sossego e o bem-estar público ou da vizinhança, com ruídos, algazarras, barulhos ou sons de qualquer forma. A propriedade deve respeitar a sua função social (Art. 5º, XXIII, CF/88) e a propriedade urbana cumprirá sua função social quando atender às exigências fundamentais de ordenação da cidade, expressas no plano diretor (Art. 182, § 2º, CF/88). Cabe ao plano diretor assegurar o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida (Art. 39 do Estatuto da Cidade)”. Em outras palavras, “A atividade privada não pode se sobrepor aos interesses de ordem coletiva e sobre o direito difuso do cidadão. A saúde e a tranqüilidade do homem é a Lei Suprema que deve prevalecer”. Para SILVA, “a saúde e a tranqüilidade da população figuram como fundamentos utilizados para postular que cessem as perturbações sonoras. Trata-se de danos ocasionados às pessoas por intermédio do meio ambiente, ou seja, o meio ambiente é o meio condutor desse dano”. SILVA cita ainda um exemplo de poluição sonora, retirado da página 159 do número 6 da Revista de Direito Ambiental: “Observe-se ainda que a comercialização de produtos de bar após as 22:00 horas nas mesas espalhadas na calçada conduz a emissões de barulho que, com o avançar da madrugada, tornam-se intoleráveis, impedindo o sono, a tranqüilidade e o bem estar da coletividade (…)”. Para concluir, SILVA diz que “a jurisprudência não considera a poluição sonora apenas uma afronta ao direito de vizinhança. Ela vai além de considerações de direito privado e isso ocorre quando a poluição sonora ultrapassa a lesão a direito subjetivo individual. Nesse contexto, com base no artigo 3º, III, da Lei 6.938/81, a poluição sonora é considerada uma agressão ao meio ambiente, pois o agressor atinge não apenas o interesse coletivo dos vizinhos, mas também interesse difuso”. De acordo com DELGADO, “interesses difusos são aqueles que abrangem número indeterminado de pessoas unidas pelas mesmas circunstâncias de fato e coletivos aqueles pertencentes a grupos, categorias ou classes de pessoas determináveis, ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica-base”.

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Sendo assim, o problema de poluição sonora enfrentado pelos moradores do Centro Novo, por exemplo, pode ser objeto de investigação por parte do Ministério Público. Em relação à sua legitimidade, o Conselho Superior do Ministério Público editou a seguinte súmula: “Súmula 14 – Em caso de poluição sonora praticada em detrimento de número indeterminado de moradores de uma região da cidade, mais do que meros interesses individuais, há no caso interesses difusos a zelar, em virtude da indeterminação dos titulares e da indivisibilidade do bem jurídico protegido. Fundamento – Se os ruídos urbanos importam lesões que não são restritas ao direito de vizinhança, mas atingem a qualidade de vida dos moradores da região ou de toda a coletividade, o Ministério Público estará legitimado à ação civil pública (Pt. N. 35.137/93)”. Infelizmente, a Lei Municipal nº 4.855 de 26 de julho de 2005 fere frontalmente tudo o que se expôs até aqui. Ela estabelece limites maiores aos valores máximos permitidos segundo a norma NBR 10.151, e os métodos de medição são totalmente diferentes do que especifica a mesma norma, de forma que podemos afirmar que esta lei é inconstitucional, por ser contrária ao disposto nos Art. 24 e 30 da Constituição Federal.

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4 – Aspectos Técnicos De acordo com FERNANDES, “o som é um fenômeno vibratório resultante de variações da pressão no ar”. A pressão no ar pode ser medida em Pa (pascal), onde 1 Pa equivale a 1 N/m2 (newton por metro quadrado). Para efeitos de comparação, 1 bar equivale a 100.000 Pa, que é igual a 10 N/cm2 (newton por centímetro quadrado). Uma componente importante do som é a freqüência, que representa o número de oscilações por segundo do movimento vibratório do som, medido em Hz (hertz). A faixa de som audível ao ser humano se situa entre 20 Hz (sons graves) e 20.000 Hz (sons agudos). Para que os efeitos da poluição sonora possam ser quantificados, usa-se uma escala de medida denominada decibel, cujo plural é decibels (e não “decibéis”). Essa escala é usada para representar o ganho ou a perda de um sinal, e é comumente aplicada em telecomunicações e acústica, entre outras áreas. Esta escala recebeu o nome de Bel em homenagem ao inventor do telefone, Alexander Graham Bell, que viveu nos Estados Unidos entre os anos de 1847 a 1922. O Bel é representado da seguinte forma:

���

����

�=

010log

PP

Bel (1)

Onde: P = potência medida P0 = potência de referência Para que fosse possível indicar variações menores de potência, acrescentou-se um submúltiplo. Assim:

���

����

�⋅=

010log10

PP

deciBel (2)

Baseada nesta fórmula, a ABNT estabeleceu em sua norma NBR 10.152 que o nível de pressão sonora é dado pela expressão:

2

010log10 ��

����

�⋅=

PP

LP [dB] (3)

Onde: LP = nível de pressão sonora P = valor eficaz da pressão, em pascal P0 = pressão sonora de referência (20 �Pa ou 0,00002 Pa) Devemos observar que a expressão está elevada ao quadrado por que a intensidade acústica (relação potência versus área) é proporcional ao quadrado da pressão sonora. A pressão sonora de

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referência também é conhecida como limiar da audição, que representa o menor som audível ao ser humano. De acordo com a publicação “Guidelines for community noise” (Orientações para Ruído na Comunidade), editado pela Organização Mundial de Saúde em 1999, para que o ser humano possa ter uma vida saudável, recomenda-se que os níveis de ruído fiquem abaixo dos 55 dB(A). E para que se possa ter uma noite de sono tranqüila, a OMS recomenda que o nível de ruído em dormitórios esteja abaixo de 30 dB(A). Apresentamos na figura abaixo exemplos de intensidade sonora.

Figura 1 – Exemplos de intensidade sonora (adaptado de FERNANDES)

É importante destacar que o decibel não indica quantidade, mas sim uma relação de grandeza entre a diferença do valor eficaz da pressão e a pressão sonora de referência. Por ser uma escala logarítmica, o nível de pressão sonora irá dobrar a cada 3 dB. Assim, o dobro de 40 dB é 43 dB, e não 80 dB. A metade de 40 dB será 37 dB, e não 20 dB. Como podemos ver na tabela abaixo, a escala de decibel é conveniente porquê ela consegue representar dentro de uma faixa relativamente pequena variações de mais de 100 trilhões de vezes! Enquanto 0 dB representa o limiar da audição, ou seja, o menor som audível ao ser humano, 120 dB

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representa o limiar da dor, que é o nível de intensidade sonora a partir do qual o ser humano pode ter danos irreparáveis no sistema auditivo se ficar exposto por muito tempo.

dB Aumento dB Aumento dB Aumento 0 0 8 6,31 70 10.000.000 1 1,26 9 7,98 80 100.000.000 2 1,58 10 10 90 1.000.000.000 3 2,00 20 100 100 10.000.000.000 4 2,51 30 1.000 110 100.000.000.000 5 3,16 40 10.000 120 1.000.000.000.000 6 3,98 50 100.000 130 10.000.000.000.000 7 5,01 60 1.000.000 140 100.000.000.000.000

Tabela 1 – Tabela de aumento da escala de decibels

A medição dos níveis de ruído se faz por meio de um aparelho chamado Medidor de Nível de Pressão Sonora (erroneamente chamado de “decibelímetro”), que deve seguir as especificações das normas IEC 60651:1979 (para tipo 0, tipo 1 e tipo 2) e IEC 60804:1985. Este aparelho deve possuir pelo menos duas curvas de ponderação: as curvas A e C, bem como no mínimo duas constantes de tempo: lenta e rápida, que servem para medir ruídos de caráter contínuo, flutuante e impulsivo. O equipamento ainda deve ser capaz de medir níveis de intensidade sonora que estejam entre 30 dB e 140 dB.

Figura 2 – Curvas de ponderação (adaptado de FERNANDES)

De acordo com FERNANDES, “as curvas de ponderação dos medidores são usadas para que o aparelho efetue as medições do ruído de acordo com a sensibilidade do ouvido humano”. A curva de ponderação “A” atenua os sons graves, dá maior ganho para a banda de 2.000 a 5.000 Hz e volta a atenuar levemente os sons agudos. Conforme FERNANDES, é exatamente essa a curva de sensibilidade do ouvido humano. Assim, o medidor será capaz de perceber o som como nós ouvimos.

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Já a curva de ponderação “C” é quase plana e serve para medir todo o som do ambiente sem filtros, ou para avaliar a presença de sons de baixas freqüências. Se durante uma medição for constatado uma grande diferença entre os valores medidos na escala “A” e “C”, isto significa que grande parte do ruído encontra-se na faixa de baixas freqüências. Assim, a ABNT estabeleceu em sua norma NBR 10.152 que o nível de pressão sonora ponderado em A é dado pela expressão:

2

010log10 ��

����

�⋅=

PP

L APA [dB(A)] (4)

Onde: LPA = nível de pressão sonora ponderado PA = valor eficaz da pressão ponderada, em pascal P0 = pressão sonora de referência (20 �Pa ou 0,00002 Pa) De acordo com a norma NBR 10.151, o método de avaliação do nível de ruído baseia-se numa comparação entre o nível de pressão sonora medido e o nível de critério de avaliação NCA. A tabela abaixo mostra esta comparação, levando-se em conta que as medidas estão sendo efetuadas no exterior de edificações a uma distância de pelos menos 1,2 metros do piso e 2 metros do limite da propriedade e de quaisquer outras superfícies refletoras, como determina o item 5.2 da referida norma:

TIPO DE ÁREAS DIURNO NOTURNO Áreas de sítios e fazendas 40 35 Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45 Área mista, predominantemente residencial 55 50 Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55 Área mista, com vocação recreacional 65 55 Área predominantemente industrial 70 60

Tabela 2 – Nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos, em dB(A)

De acordo com o item 6.2.2 desta mesma norma, “os limites de horário para o período diurno e noturno da tabela podem ser definidos pelas autoridades de acordo com os hábitos da população. Porém, o período noturno não deve começar depois das 22 h e não deve terminar antes das 7 h do dia seguinte. Se o dia seguinte for domingo ou feriado o término do período noturno não deve ser antes das 9 h”. Já para a medição de ruídos em ambientes internos, levando-se em conta que as medidas estão sendo efetuadas a uma distância de no mínimo 1 metro de quaisquer superfícies, os valores da tabela anterior sofrem uma correção de -10 dB para janela aberta e -15 dB para janela fechada.

DIURNO NOTURNO TIPO DE ÁREAS Janela

aberta Janela

fechada Janela aberta

Janela fechada

Áreas de sítios e fazendas 30 25 25 20 Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 40 35 35 30 Área mista, predominantemente residencial 45 40 40 35 Área mista, com vocação comercial e administrativa 50 45 45 40 Área mista, com vocação recreacional 55 50 45 40 Área predominantemente industrial 60 55 50 45

Tabela 3 – Nível de critério de avaliação NCA para ambientes internos, em dB(A)

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Assim, podemos resumir os valores de nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos e internos na tabela a seguir:

AMBIENTES EXTERNOS AMBIENTES INTERNOS

DIURNO NOTURNO TIPO DE ÁREAS DIURNO NOTURNO Janela

aberta Janela

fechada Janela aberta

Janela fechada

Áreas de sítios e fazendas 40 35 30 25 25 20 Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45 40 35 35 30

Área mista, predominantemente residencial 55 50 45 40 40 35

Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55 50 45 45 40

Área mista, com vocação recreacional 65 55 55 50 45 40 Área predominantemente industrial 70 60 60 55 50 45

Tabela 4 – Nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos e internos, em dB(A)

Devemos frisar que os valores estabelecidos pelas normas ABNT foram exaustivamente discutidos pela Comissão de Estudo de Desempenho Acústico de Edificações do Comitê Brasileiro de Construção Civil da ABNT. Fizeram parte desta comissão profissionais do IPT, do INMETRO, da CETESB, de universidades federais e estaduais, entre outros, conforme GHISE et. al. Assim, os municípios deveriam legislar de forma a adaptar as normas ABNT às particularidades de cada cidade, sem deixar de observar os limites impostos pelas normas federais. Para isso, deveriam observar também o que diz o Estatuto da Cidade (Lei Federal 10257/2001). Este estatuto, de acordo com SILVA, introduziu um instrumento inovador, o Estudo de Impacto de Vizinhança. Segundo SILVA, “a legislação municipal poderá definir quais os empreendimentos e atividades privados ou públicos, em área urbana, que dependerão do EIV para obter as licenças ou autorizações necessárias para a sua construção, ampliação ou funcionamento”. Conforme SILVA, “o objetivo do EIV é de prevenir efeitos negativos e contemplar os aspectos positivos desses empreendimentos à qualidade de vida da população, analisando necessariamente algumas questões, como por exemplo, o adensamento populacional, equipamentos urbanos e comunitários e a geração de tráfego e demanda por transporte público”. Para SILVA, pode ser que a instalação de apenas uma atividade em determinada zona não provoque ruídos em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos, mas a instalação de vários empreendimentos e atividades em zonas próximas pode resultar em efeitos negativos à saúde, ao sossego e à tranqüilidade da população, decorrentes da poluição sonora. Assim, o objetivo do EIV passa a ser o de prevenir os efeitos negativos do mau planejamento urbano. Devemos atentar para o fato de que o EIV não substitui o Estudo de Impacto Ambiental, mas possibilita uma melhor gestão dos efeitos que as atividades e empreendimentos podem gerar no espaço urbano e notadamente à qualidade de vida da população. Desta forma, entende-se que o Relatório de Impacto de Vizinhança deveria conter, no mínimo:

• A definição dos limites da área impactada ou circunvizinha em função do porte do empreendimento e/ou de suas atividades e das suas características quanto ao uso, localização e interferência;

• Uma avaliação técnica quanto às interferências que o empreendimento e/ou atividade possa causar na vizinhança;

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• Uma descrição das medidas que possam minimizar os impactos negativos decorrentes da implantação do empreendimento e/ou atividade e seus procedimentos de controle.

Atualmente em nossa cidade, todo estabelecimento comercial que faça uso de música mecânica ou ao vivo, e que quiser ter o alvará de funcionamento autorizando tal atividade, tem de obter apenas uma autorização especial de funcionamento expedida pela prefeitura. O ideal seria que tais estabelecimentos apresentassem os seguintes documentos:

• Laudo de Impacto de Vizinhança, que deve ser feito de acordo com o previsto no Estatuto das Cidades (Lei Federal 10257/2001);

• Laudo de Isolamento Acústico, que deve atender a norma ABNT NBR 12179:1992 – Tratamento acústico em recintos fechados.

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5 – Análise da Lei Municipal 4.855/2005 O problema de poluição sonora é uma questão de meio ambiente, e a Constituição Federal de 1988 assegura em seu Art. 225 que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. A legislação pertinente à matéria provém principalmente da Lei Federal 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, que foi regulamentada pelo Decreto 99.274/ 1990, que instituiu então o Conselho Nacional do Meio Ambiente. O CONAMA estabeleceu por meio da Resolução 01/1990, em seu item II, ser “prejudicial à saúde e ao sossego público os ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela norma NBR 10.151”. Como bem esclarece os itens I e II do Art. 30 da CF, o município pode “legislar sobre assuntos de interesse local” e “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”, mas devem sempre atentar para a prevalência da norma mais restritiva. Sendo assim, a Lei Municipal 4.855/2005 poderia no máximo SUPLEMENTAR o que dizem os normativos federais, e nos casos em que haja dúvidas, PREVALECE sempre a norma mais restritiva, seja ela federal, estadual ou municipal. A Lei Municipal 4.855/2005, quando de sua promulgação, revogou duas leis anteriores: a lei 4.576 de 13 de novembro de 2001 e a lei 4.730 de 05 de dezembro 2003. A primeira foi feita numa época de muita discussão, onde os moradores defendiam que os bares e similares fechassem à meia-noite. De outro lado, os comerciantes pressionaram os vereadores para que fosse aprovada uma lei que fosse o mais permissível possível. O resultado foi que a lei 4.576/2001 foi aprovada em meio a protestos e não resolveu a problemática da poluição sonora. É importante destacar que mesmo com problemas, esta lei estabelecia limites de emissão de sons e ruídos próximos aos indicados pelas normas ABNT.

ZONAS DE USO SEMANA 1º Horário das 07:00 às 22:00

2º Horário das 22:00 às 00:00

3º Horário das 00:00 às 07:00

Segunda 60 55 45 Terça 60 55 45 Quarta 60 55 45 Quinta 60 55 45 Sexta 60 55 45

Sábado 60 60 45 Domingo 60 60 45

ZONA MISTA

Feriado 60 60 45

Tabela 5 – Valores referentes aos sons e ruídos máximos admitidos dentro das residências ou estabelecimentos com janelas fechadas, para zonas mistas, em dB(A) (adaptado da Lei 4.576/2001)

No entanto, em dezembro de 2003, os vereadores apresentaram propostas de alteração da lei. A principal delas foi o aumento dos limites de emissão de sons e ruídos. Ao que parece, essas alterações foram reivindicadas pelos comerciantes, que poderiam assim continuar com suas atividades sem serem autuados pela fiscalização. Se a lei anterior já não seguia os normativos federais e protegia muito pouco os moradores, essa última só piorou as coisas e fez com que os moradores tivessem que conviver com níveis de ruído muito acima dos recomendados pela Organização Mundial de Saúde.

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SEMANA 1º Horário das 07:00 às 22:00

2º Horário das 22:00 às 00:00

3º Horário das 00:00 às 07:00

Segunda 82 80 78 Terça 82 80 78 Quarta 82 80 78 Quinta 82 80 78 Sexta 82 80 78

Sábado 82 82 78 Domingo 82 82 78

ZONAS DE

USO

Vésperas de Feriados 82 82 78

Tabela 6 – Valores referentes aos sons e ruídos máximos admitidos dentro das residências ou estabelecimentos com janelas fechadas, para qualquer zona de uso, em dB(A) (adaptado da Lei 4.730/2003)

Por fim, a atual lei 4.855/2005 apenas ratificou as alterações anteriores com vistas a proteger a prefeitura de problemas com eventos e festividades promovidos pelo próprio poder público. Eventos como a Festa do Chocolate e os shows na Praça da Bíblia são realizados em áreas mistas de comércio e residências, e ultrapassam todos os limites permissíveis de emissão de sons e ruídos estabelecidos em leis e normas. Para exemplificar, comparemos alguns artigos da lei municipal com a norma NBR 10.151. No que diz respeito aos limites de horários e os níveis de intensidade sonora, a lei municipal 4.855/2005 diz o seguinte:

Art. 1º, I. É permitido o funcionamento dos elencados no caput desta Lei entre as 5:00 horas e 24:00 horas respeitando o limite de 80 db (oitenta decibéis). Art. 1º, III. Para funcionamento após as 24 h, deverão ter autorização especial do setor competente da Prefeitura, manter-se de portas fechadas com isolamento acústico respeitando-se o limite de 60 db (sessenta decibéis).

Assim, podemos resumir os limites de horários e níveis de intensidade sonora máximos válidos pela legislação municipal na tabela abaixo:

TIPO DE ÁREAS DIURNO NOTURNO Qualquer área, sem distinção 80 60

Tabela 7 – Nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos e internos, em dB(A)

Já a norma ABNT NBR 10.151, diz o seguinte:

Item 6.2.1. O nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos está indicado na tabela. Item 6.2.2. Os limites de horário para o período diurno e noturno da tabela podem ser definidos pelas autoridades de acordo com os hábitos da população. Porém, o período noturno não deve começar depois das 22 h e não deve terminar antes das 7 h do dia seguinte. Se o dia seguinte for domingo ou feriado o término do período noturno não deve ser antes das 9 h. Item 6.2.3. O nível de critério de avaliação NCA para ambientes internos é o nível indicado na tabela com a correção de -10 dB(A) para janela aberta e -15 dB(A) para janela fechada.

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Assim, podemos resumir os limites de horários e níveis de intensidade sonora máximos válidos para medição em ambientes externos na tabela abaixo:

TIPO DE ÁREAS DIURNO NOTURNO Áreas de sítios e fazendas 40 35 Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45 Área mista, predominantemente residencial 55 50 Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55 Área mista, com vocação recreacional 65 55 Área predominantemente industrial 70 60

Tabela 8 – Nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos, em dB(A)

Podemos perceber claramente que a legislação municipal permite níveis de ruídos superiores aos da norma ABNT vigentes. Outro detalhe importante é que a lei municipal não prevê a medição em ambientes internos, contrariando o que diz a NBR 10.151. Para a medição em ambientes internos, a NBR 10.151 prevê uma correção de -10 dB(A) para janela aberta e -15 dB(A) para janela fechada.

DIURNO NOTURNO TIPO DE ÁREAS Janela

aberta Janela

fechada Janela aberta

Janela fechada

Áreas de sítios e fazendas 30 25 25 20 Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 40 35 35 30 Área mista, predominantemente residencial 45 40 40 35 Área mista, com vocação comercial e administrativa 50 45 45 40 Área mista, com vocação recreacional 55 50 45 40 Área predominantemente industrial 60 55 50 45

Tabela 9 – Nível de critério de avaliação NCA para ambientes internos, em dB(A)

Assim, podemos resumir os limites de horários e níveis de intensidade sonora máximos válidos para medição em ambientes externos e internos na tabela abaixo:

AMBIENTES EXTERNOS AMBIENTES INTERNOS

DIURNO NOTURNO TIPO DE ÁREAS DIURNO NOTURNO Janela

aberta Janela

fechada Janela aberta

Janela fechada

Áreas de sítios e fazendas 40 35 30 25 25 20 Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45 40 35 35 30

Área mista, predominantemente residencial 55 50 45 40 40 35

Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55 50 45 45 40

Área mista, com vocação recreacional 65 55 55 50 45 40 Área predominantemente industrial 70 60 60 55 50 45

Tabela 10 – Nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos e internos, em dB(A)

Para comprovar que a lei municipal 4.588/2005 “atropela” o que diz a NBR 10.151, em seu Art. 6º ela diz que “os níveis de intensidade de sons e ruídos fixados por esta lei (...) são de acordo com as determinações e recomendações definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnica”. Apesar

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da lei municipal afirmar que segue as recomendações da ABNT pertinentes à matéria, vemos que a prática é bem diferente. Já no que diz respeito aos métodos de medição, a lei municipal 4.855/2005 diz o seguinte:

Art. 6º. Os níveis de intensidade de sons e ruídos fixados por esta lei, bem como o método utilizado para medição e avaliação, são de acordo com as determinações e recomendações definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnica (ABNT) em regulamentações pertinentes a matéria. Art. 6º, §2º. Os valores constantes no inciso I e III do artigo 1º desta Lei, refere-se àqueles máximos admitidos a serem suportados do limite real da propriedade situando-se à distância de 03 a 04 mt (três a quatro metros), medidos em qualquer ponto da divisa física em que seja fonte potencial, ou real, de poluição sonora.

O Art. 6º da lei municipal é muito claro: “(...) o método utilizado para medição e avaliação, são de acordo com as determinações e recomendações definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnica (ABNT) (...)”. Assim, deveríamos esperar que os fiscais fizessem a medição de acordo com o que diz a NBR 10.151:

Item 5.2. Medições no exterior de edificações: Deve-se prevenir o efeito de ventos sobre o microfone com o uso de protetor, conforme instruções do fabricante. Item 5.2.1. No exterior das edificações que contêm a fonte, as medições devem ser efetuadas em pontos afastados aproximadamente 1,2 m do piso e pelo menos 2 m do limite da propriedade e de quaisquer outras superfícies refletoras, como muros, paredes etc. Na impossibilidade de atender alguma destas recomendações, a descrição da situação medida deve constar no relatório. Item 5.2.2. No exterior da habitação do reclamante, as medições devem ser efetuadas em pontos afastados aproximadamente 1,2 m do piso e pelo menos 2 m de quaisquer outras superfícies refletoras, como muros, paredes etc. Caso o reclamante indique algum ponto de medição que não atenda as condições de 5.2.1 e 5.2.2, o valor medido neste ponto também deve constar no relatório.

Item 5.3. Medições no interior de edificações:

As medições em ambientes internos devem ser efetuadas a uma distância de no mínimo 1 m de quaisquer superfícies, como paredes, teto, pisos e móveis. Os níveis de pressão sonora em interiores devem ser o resultado da média aritmética dos valores medidos em pelo menos três posições distintas, sempre que possível afastadas entre si em pelo menos 0,5 m. Caso o reclamante indique algum ponto de medição que não atenda as condições acima, o valor medido neste ponto também deve constar no relatório. As medições devem ser efetuadas nas condições de utilização normal do ambiente, isto é, com as janelas abertas ou fechadas de acordo com a indicação do reclamante.

Podemos perceber então que a NBR 10.151 prevê métodos específicos para a medição em ambientes externos e internos, contrariando totalmente o que diz a lei municipal, que considera apenas a medição em ambientes externos a partir da distância de 3 a 4 metros.

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Para concluir a comparação entre a lei municipal e a NBR 10.1515, no que diz respeito ao relatório técnico de inspeção, a lei municipal 4.855/2005 diz o seguinte:

Art. 5º. A fiscalização será realizada com a utilização de instrumento medidor de nível de som, sendo os resultados da avaliação descritos no relatório técnico de inspeção, do qual deverá constar:

I – identificação da pessoa física ou jurídica; II – identificação do seu representante legal; III – endereço da atividade ou do local da inspeção, quando se tratar de fonte fixa; características do meio emissor do ruído quando este for móvel; IV – horário de realização da medição; V – caracterização da zona de uso; VI – descrição da atividade; VII – nível de ruído verificado no limite real da propriedade na qual se encontra a fonte emissora; VIII – nível de ruído de fundo, medido no mesmo local em que foi realizada a leitura do nível de ruído da fonte e com os mesmos procedimentos metodológicos.

Se os fiscais seguissem à risca o que diz o Art. 6º da lei municipal, eles deveriam incluir também os seguintes itens, de acordo com a NBR 10.151:

Item 7. Relatório do ensaio: O relatório deve conter as seguintes informações:

a) marca, tipo ou classe e número de série de todos os equipamentos de medição utilizados; b) data e número do último certificado de calibração de cada equipamento de medição; c) desenho esquemático e/ou descrição detalhada dos pontos da medição; d) horário e duração das medições do ruído; e) nível de pressão sonora corrigido Lc, indicando as correções aplicadas; f) nível de ruído ambiente; g) valor do nível de critério de avaliação (NCA) aplicado para a área e o horário da medição; h) referência a esta Norma.

Sendo assim, podemos concluir que se o Setor de Fiscalização e Posturas do município poderia muito bem impedir os abusos cometidos pelos comerciantes do Centro Novo no que diz respeito à poluição sonora e perturbação do sossego. Bastaria para tal, usar os critérios e limites impostos pela norma mais restritiva, que neste caso cabe às resoluções e normativos federais. Podemos concluir também que a lei municipal 4.855/2005 é inconstitucional, pois procura legislar de forma a afrontar o disposto no Art. 30 da Constituição Federal de 1988, que diz em seus itens I e II que o município pode “legislar sobre assuntos de interesse local” e “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”, devendo sempre atentar para a prevalência da norma mais restritiva.

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6 – Propostas para alteração da Lei Municipal 4.855/2005 A Lei Municipal 4.855/2005 é um recorte mal feito e sem nexo de várias leis de outros municípios. Nossa lei foi mal elaborada e se contradiz em vários aspectos. Por conta disso, são vários os problemas encontrados nela. Os principais são:

• Horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais – a lei é simplista demais neste item. Em seu Art. 1º ela estabelece que estabelecimentos comerciais poderão funcionar entre 5:01 hs e 24:00 hs desde que respeitem o limite de 80 dB, e das 24:01 hs às 5:00 hs desde que tenham isolamento acústico e respeitem o limite de 60 dB. A lei infelizmente não prevê um horário diferenciado para as vésperas de dias úteis, o que permite que bares e casas de show possam funcionar livremente durante a semana e prejudicar o sono daqueles que precisam levantar cedo para ir trabalhar;

• Isolamento acústico – também em seu Art. 1º, a lei estabelece que só poderão funcionar

após as 24:00 hs os estabelecimentos dotados de isolamento acústico. No entanto, a lei não especifica como deve ser este isolamento, o que faz com que comerciantes usem materiais não apropriados como cortiça e isopor para dizer que estão de acordo com a lei;

• Métodos de medição e avaliação – apesar da lei especificar em seu Art. 6º que o método

utilizado para medição e avaliação são os determinados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o que se vê na prática é bem diferente. Em primeiro lugar a lei não especifica qual norma ABNT deve ser seguida. Os fiscais ao realizarem a medição de nível de ruído não aplicam os procedimentos estabelecidos na norma NBR 10151, e os mesmos desconhecessem totalmente a existência de tais normas. Outra prática comum aos fiscais é que eles nunca fazem o relatório técnico de inspeção, conforme determina a lei em seu Art. 5º;

• Limites diferentes de níveis de ruído para diferentes zonas de uso – a lei atual não

especifica níveis permissíveis de ruídos de acordo com o zoneamento de áreas da cidade. Os limites de 60 dB e 80 dB são igualmente válidos tanto para zonas estritamente comercias quanto para zonas comercias e industriais;

• Limite real de propriedade – a lei define, em seu Art. 2º, item XIV, que o limite real da

propriedade é um plano imaginário que separa a propriedade real de uma pessoa física ou jurídica de outra propriedade real. E em seu Art. 6º, §2º, estabelece que a medição deva ser realizada de 3 a 4 metros de qualquer ponto da divisa física. O que ocorre é que no caso de edifícios de apartamentos que possuam casas noturnas no andar térreo, e que conseqüentemente se encontram no mesmo terreno, não podem ser objeto de aplicação da lei, pois a mesma só prevê os casos em que a propriedade do reclamante seja distinta da propriedade onde se encontra a fonte do ruído;

• Fiscalização – a presença de fiscais só é verificada às sextas, sábados, domingos e vésperas

de feriados. No entanto, há vários estabelecimentos comerciais que promovem shows no meio de semana, e nesses dias, mesmo solicitando antecipadamente a presença de fiscais, os mesmos não são destacados para efetuar a fiscalização preventiva.

Para que a lei possa ser respeitada e o poder público tenha condições de aplicá-la corretamente, é necessário adequá-la às normas federal e estadual vigentes e fazer com que ela não tenha brechas. Por ter sido mal elaborada, nossa lei estabelece níveis superiores aos determinados em lei federal, o

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que faz com que ela seja inconstitucional. De forma a amenizar o problema, sugerimos algumas alterações na atual “Lei do Silêncio”:

• Horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais – a exemplo da legislação de outros municípios e para se adequar às normas do Conselho Nacional de Meio-Ambiente e da Associação Brasileira de Normas Técnicas, a nossa legislação deveria adotar horários para adequar melhor o funcionamento dos estabelecimentos comerciais de forma a incomodar o mínimo possível o sossego dos moradores. Para tal se propõe os seguintes horários, que deverão ter limites de emissão de ruídos diferenciados:

a. Horário diurno, compreendido entre 08:01 e 22:00 horas – horário permitido para o

funcionamento de todos os estabelecimentos comerciais; b. Horário noturno, compreendido entre 22:01 e 08:00 horas – horário onde

estabelecimentos comerciais que possuem música ao vivo ou eletromecânica seriam autorizados a funcionar, desde que possuam isolamento acústico de acordo com a norma ABNT NBR 12179 – Tratamento acústico em recintos fechados;

• Isolamento acústico – os estabelecimentos comerciais que queiram fazer uso de música ao

vivo ou eletromecânica devem possuir isolamento acústico de acordo com a norma ABNT NBR 12179 – Tratamento acústico em recintos fechados. Tais estabelecimentos devem também possuir um Laudo de Impacto de Vizinhança, que deve ser elaborado a partir de entrevistas com os moradores do entorno;

• Métodos de medição e avaliação – os fiscais devem receber treinamento adequado e usar os

procedimentos contidos nas normas ABNT NBR 10151 – Acústica – Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento, e NBR 10152 – Níveis de ruído para conforto acústico;

• Equipamentos de medição – todos os componentes dos Medidores de Nível de Pressão

Sonora deverão ser devidamente calibrados anualmente pelo INMETRO ou por instituições credenciadas por este;

• Limites diferentes de níveis de ruído para diferentes zonas de uso – os limites de ruído em

decibels para ambientes externos devem obedecer aos limites abaixo:

TIPO DE ÁREAS DIURNO NOTURNO Áreas de sítios e fazendas 40 35 Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45 Área mista, predominantemente residencial 55 50 Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55 Área mista, com vocação recreacional 65 55 Área predominantemente industrial 70 60

Tabela 11 – Nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos, em dB(A)

• Limites de níveis de ruídos para ambientes internos e externos – para ambientes externos,

devem ser seguidos os valores do item anterior. Para ambientes internos, como residências e apartamentos, os limites da tabela anterior devem ser corrigidos em -10 dB com janela aberta e -15 dB com janela fechada;

• Limite real de propriedade – este item pode ser mantido da lei atual, com o seguinte

acréscimo: que seja proibida a instalação de estabelecimentos comerciais que façam uso de

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música ao vivo ou eletromecânica em edifícios residenciais, a menos que seja estritamente autorizado pelos moradores e adotado em convenção de condomínio, devidamente registrada em cartório;

• Fiscalização – a fiscalização poderá ser feita por fiscais ou por agentes da Guarda Civil

Municipal, que sempre deverão emitir o relatório técnico de inspeção.

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7 – Conclusão O poder público municipal não tem atuado em favor das pessoas que vivem em áreas mistas de comércio e residências. A forte pressão dos comerciantes e as relações de promiscuidade política de alguns vereadores têm colocado o bem-estar da população em segundo plano, sob a desculpa da necessidade do desenvolvimento do potencial turístico da cidade. A prefeitura não tem proposto um planejamento que contemple a ocupação harmoniosa dos espaços públicos entre os diversos tipos de atividades. A simples adequação da lei municipal aos normativos federais já seria suficiente para proteger os habitantes de áreas onde estão instalados estabelecimentos comerciais que promovem shows e apresentações musicais. Espera-se que estas adequações possam dar uma melhora significativa na qualidade de vida dos moradores, sem prejudicar o desenvolvimento econômico do município. Deseja-se também que o poder público cumpra seu papel, protegendo o cidadão e promovendo o bem-estar da população.

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