aspectos gerais do instituto premial da delacao premiada

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ IVAN DE MORAES SARMENTO ASPECTOS GERAIS DO INSTITUTO PREMIAL DA DELAÇÃO PREMIADA CURITIBA 2013

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Instituto da delação premiada e seus aspectos e repercussões no ordenamento jurídico brasileiro.

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  • UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARAN

    IVAN DE MORAES SARMENTO

    ASPECTOS GERAIS DO INSTITUTO PREMIAL DA DELAO

    PREMIADA

    CURITIBA

    2013

  • IVAN DE MORAES SARMENTO

    ASPECTOS GERAIS DO INSTITUTO PREMIAL DA DELAO

    PREMIADA

    Projeto de Pesquisa, apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Cincias Jurdicas da Universidade Tuiuti do Paran, como requisito parcial para a obteno de grau de Bacharel de Direito. Orientador: Prof.Dlio Zippin Filho.

    CURITIBA

    2013

  • TERMO DE APROVAO

    IVAN DE MORAES SARMENTO

    ASPECTOS GERAIS DO INSTITUTO PREMIAL DA DELAO

    PREMIADA

    Esta monografia foi julgada e aprovada para a obteno do ttulo de Bacharel no Curso de Bacharelado em

    Direito da Universidade Tuiuti do Paran

    Curitiba, ____ de _______________de 2013

    ________________________________________________________

    Bacharelado em Direito Universidade Tuiuti do Paran

    Orientador: Professor: ______________________________ Dr. Dlio Zippin Filho

    Universidade Tuiuti do Paran Professor: ______________________________ Universidade Tuiuti do Paran Professor: ______________________________ Universidade Tuiuti do Paran

  • minha famlia, Nazareth, Nikyas e Andrey, pilares em minha

    vida, pelo apoio e dedicao, sem vocs nada teria sentido.

    Ao professor orientador Dlio Zippin Filho pelo caminho a

    mim ensinado.

    Aos amigos pela tolerncia e suporte quando precisei.

    Aos meus companheiros de jornada, Joel Dutka e Jovenal

    Lisboa

  • memria de Marco Antonio de Moraes Sarmento,

    meu pai, por todo ensinamento e carinho repassados ao logo

    de sua vida.

  • Das grandes traies iniciam-se as grandes renovaes.

    Vassili Vassilievitch Rozanov

  • RESUMO

    O presente documento tem como propsito a compreenso e a analise do

    instrumento processual, reconhecido pela expresso Delao Premiada, utilizado

    como uma espcie de ferramenta de combate ao Crime Organizado, onde

    oferecido um benefcio, material ou processual, para aquele que, na condio de

    ru, colabora com a justia informando detalhes sobre o ato tpico e ilcito cometido.

    iniciando com um breve estudo conceituando o instituto demonstrando vises

    diferenciadas. Seguindo para uma abordagem histrica diante de uma anlise do

    direito estrangeiro at a contemplao do mecanismo pelo direito Brasileiro seguindo

    para analise material e formal quanto a sua estrutura e barreiras que o instituto

    encontra no tocante a sua essncia e sua efetividade tanto no de carter objetivo

    como no carter subjetivo.

    Palavras - chave: Delao Premiada Colaborador Benefcio tica Garantia

    Necessidade

  • LISTA DE SIGLAS

    Pargrafo

    Art. Artigo

    CP Cdigo Penal

    CPI Comisso Parlamentar de Inqurito

    CRFB/88 Constituio da Repblica Federativa do Brasil

    Decam/ECT Departamento de Contratao dos Correios

    DP Delao Premiada

    N Nmero

    PTB Partido Trabalhista Brasileiro

    STJ Superior Tribunal de Justia

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................... 10

    2 ANLISE CONCEITUAL DA DELAO PREMIADA....................................... 11

    2.1 ETIMOLOGIA ..................................................................................................... 11

    2.2 CONCEITOS DOUTRINRIOS .......................................................................... 11

    3 DELAO PREMIADA NO DIREITO ESTRANGEIRO ..................................... 13

    3.1 DIREITO ITALIANO ............................................................................................ 13

    3.2 DIREITO NORTE AMERICANO ......................................................................... 14

    3.3 DIREITO INGLS ............................................................................................... 15

    3.4 DIREITO ESPANHOL......................................................................................... 15

    4 DELAO PREMIADA NO BRASIL ................................................................. 17

    4.1 PASSAGENS HISTRICAS ............................................................................... 17

    4.2 FONTES LEGAIS ............................................................................................... 18

    4.2.1 Cdigo Penal Artigo 159, Pargrafo 4 ............................................................... 19

    4.2.2 Lei n 8.072 de 25 de julho de 1990 ................................................................... 19

    4.2.3 Lei n 7.492 de 16 de junho de 1986 .................................................................. 19

    4.2.4 Lei n 8.137 de 27 de novembro de 1990 ........................................................... 20

    4.2.5 Lei n 9.034 de 03 de maio de 1995 ................................................................... 20

    4.2.6 Lei n 9.613 de 03 de maro de 1998 ................................................................. 20

    4.2.7 Lei n 9.807 de 13 de julho de 1999 ................................................................... 21

    4.2.8 Lei n 11.343 de 23 de agosto de 2006 .............................................................. 21

    4.3 PROBLEMTICA DA SUCESSO NORMATIVA .............................................. 21

    5 NATUREZA JURDICA ...................................................................................... 22

    6 REQUISITOS DA DELAO PREMIADA ......................................................... 23

    6.1 COLABORAO ESPONTNEA ...................................................................... 23

    6.2 EFETIVIDADE DAS INFORMAES ................................................................ 24

    6.3 RELEVNCIAS DAS DECLARAES .............................................................. 24

    6.4 PERSONALIDADE DO COLABORADOR .......................................................... 25

    7 BENEFCIOS DA DELAO PREMIADA ......................................................... 26

    8 VALOR PROBATRIO ...................................................................................... 28

    9 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO ..... 29

    9.1 PRINCPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL .................................................. 29

    9.2 AMPLA DEFESA E DO CONTRADITRIO ....................................................... 29

  • 9.3 PRINCPIO DA INOCNCIA .............................................................................. 29

    9.4 DIREITO AO SILNCIO OU DIREITO DE NO SE AUTOACUSAR ................. 30

    9.5 PRINCPIO DA INADMISSIBILIDADE DE PROVAS OBTIDAS POR MEIOS

    ILCITOS ............................................................................................................. 30

    10 QUESTES CONTRRIOS E FAVORVEIS AO INSTITUTO ......................... 31

    10.1 QUESTES CONTRRIOS AO INSTITUTO ..................................................... 31

    10.2 QUESTES FAVORVEIS AO INSTITUTO ...................................................... 32

    11 JURISPRUDENCIA ............................................................................................ 34

    11.1 EFETIVIDADE DAS INFORMAES ................................................................ 34

    11.2 RELEVNCIA DAS DECLARAES................................................................. 34

    11.3 ESPONTANEIDADE DA DELAO................................................................... 35

    12 ALEGAES FINAIS ........................................................................................ 37

    REFERNCIAS ............................................................................................................. 38

  • 10

    1 INTRODUO

    A realidade global moderna apresenta um panorama onde fica destacada

    uma onda delituosa organizada com feies cada vez mais complexa que se

    esgueira pelas entranhas da sociedade.

    O Crime organizado apresenta-se em constante mutao, a todo o momento

    criam-se peculiaridades novas, o que torna cada vez mais difcil o acesso ao seu

    ncleo dificultando ou at mesmo impossibilitando uma tutela de resposta Estatal.

    Devido a esta constante mudana e a dificuldade por ela gerada, o Estado, na

    tentativa de diminuir a lacuna que se cria, passa a utilizar de instrumentos variados

    na busca da salvao de todos os males.

    Dentre os instrumentos faz presente figura do instituto denominado como

    Delao Premiada, meio este, utilizado como forma de alcance probatrio com a

    finalidade de reunir elementos decorrentes das Organizaes Criminosas onde o

    colaborador auxilia os investigadores repassando o retrato claro do ambiente

    criminoso o qual integrava em troca de um benefcio.

    Cada vez mais a figura premial vem sendo utilizada em nosso meio jurdico,

    dentro dos processos e perquiries penais, tornando-se cada vez mais presente na

    realidade brasileira.

    Inserido no ordenamento ptrio pelo artigo 7 da Lei n 8.072/1990, a figura

    premial surge como forma de auxilio ao combate do Crime Organizado, que hoje

    supera as barreiras nacionais, com aplicao em alguns casos exclusivos, sendo

    disciplinada, de forma dispersa, em artigos (art.) de diferentes Leis nacionais.

    Mesmo j recepcionada pelo ordenamento ptrio a Delao Premiada passa

    pelo crivo de parte da doutrina, que se posiciona de forma contrria a figura premial,

    havendo entre nossos doutrinadores a divergncia no uso do instrumento a acerca

    da questo tica moral em sua aplicao.

    No longe a Delao Premiada esbarra em outro entrave, a realidade social,

    que hoje envolta pela nuvem negra, intitulada como Lei do Silncio, fato que cria

    uma barreira, decorrente do medo de represlias, tornando dificultoso o uso do

    instituto na busca de uma soluo.

    Este trabalho tem como objetivo apontar detalhes estruturais do instituto

    abordando seus aspectos gerais como forma de melhor entende-lo.

  • 11

    2 ANALISE CONCEITUAL DA DELAO PREMIADA

    2.1 ETIMOLOGIA

    A palavra delao tem origem no termo em latim delatione que por sua vez

    significa ao de delatar, denunciar, revelar, denunciar, acusar.

    A palavra delao diante do direito penal pode ser vista de duas formas:

    delao no sentido de notitia criminis, onde demonstra a pessoa do delator sem um

    vinculo com o fato delituoso. Segundo o doutrinador Fernando Capez (2006, p.82)

    pode ser definido como conhecimento, espontneo ou provocado, pela autoridade

    policial de um fato aparentemente criminoso. Ainda o termo delao pode ser visto

    de outro ngulo sob a conotao de delao como conduta do agente que realiza o

    ato ilcito aceitando sua parcela de responsabilidade, porm seguido de uma

    colaborao ativa por parte do acusado no sentido de ajudar na soluo casustica

    do crime.

    Seguindo o estudo, analisando a segunda parte do termo, temos o significado

    literal do verbo premiar como recompensar, conceder, compensar. Configura como

    uma recompensa por parte do legislador frente confisso do integrante delator da

    organizao criminosa. A palavra prmio deve ser entendida, nesse contexto, como

    significando um mal menor imposto ao individuo que, depois do cometimento de

    uma conduta punvel pelo direito penal, realiza contraconduta colaborativa destinada

    a diminuir ou elidir a pena prevista para o ilcito originariamente cometido (PEREIRA,

    2013.p. 02).

    2.2 CONCEITOS DOUTRINRIOS

    Guilherme de Souza Nucci em seu livro intitulado como manual de processo

    penal e execuo penal conceitua a ferramenta processual da delao premiada da

    seguinte forma:

    Delatar significa acusar, denunciar ou revelar. Processualmente, somente tem sentido em delao quando algum, admitindo a prtica criminosa, revela que outra pessoa tambm ajudou de qualquer forma. Esse um testemunho qualificado, feito pelo indicado ou acusado. Naturalmente, tem valor probatrio, especialmente porque houve admisso de culpa pelo delator. (NUCCI, 2008. p. 444).

  • 12

    Na viso de Eduardo Arajo Silva delao premiada ou, na terminologia que

    aborda, colaborao premiada, pode ser conceituada da seguinte forma:

    A colaborao processual meio de obteno de prova que ocupa importante funo na tarefa de apurar a criminalidade organizada, porque ajuda a romper a lei do silncio imposta s lideranas e aos membros em troca da concesso de benefcios e da proteo do colaborador ou dos seus familiares. Justifica-se na necessidade da produo da prova sobre fato que no seria conhecido pelo emprego de outras formas de investigao. Sua finalidade bsica romper e desestruturar a hegemonia e a solidariedade instalada entre os membros do grupo criminoso. (SILVA, 2009. p.42).

    O conceito de delao premiada para Walter Barbosa Bittar:

    Delao premiada, na forma como foi introduzida em nossa legislao, um instituto de Direito Penal que garante ao investigado, indiciado, acusado ou condenado, um prmio, reduo podendo chegar at a liberao da pena, pela confisso e ajuda nos procedimentos persecutrios, prestada de forma voluntria. (BITTAR, 2011. p.5).

    Fernando Capez define o instituto da seguinte forma:

    a atribuio do crime a terceiro, feita pelo acusado, em seu interrogatrio, e pressupe que o delator tambm confesse a sua participao. Tem valor de prova testemunhal na parte referente imputao e admite perguntas do delatado. (CAPEZ, 2006. p.152).

    Antonio Scarance Fernandes, Jos Raul Gavio de Almeida e Mauricio

    Zanide de Moraes, coordenadores da obra Crime Organizado aspectos

    processuais, trazem a delao premiada trabalhada com seguinte idia:

    (...) outra forma de apurar crimes perpetrados por organizaes criminosas contando com a colaborao de seus prprios membros. Pressupe o oferecimento de vantagens a quem auxilia, as quais podem ser de ordens: material e processual. As primeiras consistem em reduo, iseno de pena ou perdo judicial. As segundas constituem alternativas de soluo antecipada do processo em favor do colaborador, pelo arquivamento das peas de investigao, pela suspenso do processo. A delao premiada, expresso cunhada no Brasil, instituto tpico do direito premial. Pode assumir feio de causa de extino da punibilidade, quando concedido ao infrator o perdo judicial, ou de causa de diminuio da pena, em relao ao crime delatado, desde que preenchidos os requisitos legais para a sua concesso. (FERNANDES, 2009. p. 49).

    Mrio Sergio Sobrinho contribui, em trecho contido no livro organizaes

    criminosas ao qual participa, afirmando que:

  • 13

    A colaborao processual meio de produo de prova normalmente utilizado na fase de investigao criminal, embora possa recorrer duramente a tramitao do processo e na fase de execuo da pena. Ela se aperfeioa no momento que o acusado assume postura cooperativa, confessa crimes e indica a atuao de terceiros, interferindo no resultado das investigaes e do processo em troca de benefcios. (SOBRINHO, 2009. P. 47).

    3 DELAO PREMIADA NO DIREITO ESTRANGEIRO

    3.1 DIREITO ITALIANO

    Segundo o autor Walter Barbosa Bittar, citando Salvatore Lupo (2011, p.13), a

    Mfia na Itlia surge como um acordo entre a fora pblica e os criminosos para a

    recuperao dos bens roubados. Ao longo do tempo essa organizao passou a

    exigir quantias de fazendeiros e comerciantes em troca e um suposto servio de

    proteo.

    Posteriormente esses criminosos passaram a expandir suas relaes

    atingindo pessoas influentes tanto no fator econmico como poltico.

    Ao final dos anos 60 a Mfia j se encontrava enraizada na sociedade italiana

    onde sua prtica, conivncia por parte do Estado e a grande influncia j era notria

    o que gerou uma grande sensao de impotncia e descrdito frente ao Estado.

    Diante deste panorama o Estado se viu na necessidade de elaborar

    estratgias de combate estes criminosos que apodreciam com a sociedade

    italiana.

    Surge ento o mecanismo conhecido inicialmente pela expresso Operazione

    Mani Pulliti (Operao Mos Limpas) e atualmente pela nomenclatura de Nazionale

    antimafia, o instituto, um instrumento utilizado na Itlia que visa o combate s

    Mfias ou combate as organizaes criminosas no pais.

    Antonio Scarance Fernandes (Fernandes 2009. p. 238 apud Kawamoto 2000)

    divide o instrumento em duas formas:

    Os arrependidos (pentitti) que antes de uma sentena condenatria deixam a

    organizao e informam dados a respeito da estrutura da mesma. A outra figura so

    os dissociados (dissociati) que antes da sentena condenatria agem para reduzir

    ou evitar os efeitos prejudiciais dos crimes.

  • 14

    3.2 DIREITO NORTE AMERICANO

    Ao final da dcada de 20 surge nos Estados Unidos a Lei Seca que torna

    proibido o comrcio de bebidas alcolicas. A medida surge na inteno de

    solucionar problemas sociais crescentes decorrentes de elevado grau de consumo

    de substancias etlicas, porm o que deveria servir como uma soluo tornou-se um

    problema maior.

    Com a proibio formaram-se grupos se organizaram e iniciaram um mercado

    ilegal de distribuio de bebidas. O contrabando foi aflorando e aumentando suas

    propores o que fadadamente gerou disputas violentas pelo comercio. Com o

    passar do tempo esses grupos foram ampliando seu leque de atividades

    abrangendo outras atividades ilcitas como o jogo e a prostituio. Tudo isso com a

    conivncia de autoridades que recebiam subornos para que toda a transao

    passasse despercebida aos olhos de quem deveria reprimir.

    Em paralelo, na Itlia, a Mfia comea a expandir seu comrcio e buscando

    outros continentes para a sua prtica desembarcando em territrio americano no

    final da dcada de 60. Em solo americano membros de famlias ligadas a Cosa

    Nostra comeam a exercer suas atividades envolvendo trfico de drogas e lavagem

    de dinheiro. A Mfia talo-americana, como ficou conhecida, tornou-se um negcio

    lucrativo porem junto com o lucro estavam as disputas entre as famlias por

    territrios, disputas essas marcadas na maioria das vezes por atos de violncia e

    crueldade.

    Frente realidade desenhada, o Estado se v em uma posio de conflito

    com as organizaes criminosa iniciando um combate as instituies onde utilizam

    de meios de desfazer esses organizaes dentre eles a colaborao premiada ou

    Plea Bargaining como intitulada.

    Walter Barbosa Bittar (Bittar 2011. p. 28 e 29 apud Souza 1998) divide a Plea

    Bargaining em trs modalidades: Sentence Bargaining, que consiste num acordo em

    que, em troca da declarao de culpabilidade do acusado lhe feita a promessa de

    aplicao de uma pena determinada ou determinvel, ou, de que no se opor o

    rgo de acusao ao pedido de moderao de pena feita pela defesa. A charge

    bargaining onde em troca da confisso de culpa do ru com relao a um ou mais

    crimes, o persecutor se compromete a abandonar determinada ou determinadas

    importaes que originalmente lhe foram feitas, ou acus-lo de um delito menos

  • 15

    grave que o realmente cometido e uma outra forma mista onde existe a aplicao de

    uma pena atenuante e diminuio de imputao em troca da confisso do acusado.

    A Doutrina americana vem discutindo bastante sobre o tema uma vez que o

    ato direciona que o Estado harmonize com o facnora premiando-o com a escusa de

    combater o crime.

    3.3 DIREITO INGLS

    O Crime Organizado na Inglaterra tem origem no contexto popular urbano nos

    aglomerados populares configurando diversos ncleos sociais que em seu interior

    originaram grupos criminosos. No diferente ao que ocorrera em outros pases na

    Inglaterra os grupos criminosos aproveitaram um nicho devido s restries e

    proibies a ramos populares de entretenimento direcionados ao vcio e ao prazer.

    A prtica evolui para uma realidade violenta produzida pelos grupos

    criminosos formados dentro da sociedade inglesa. No diferente do que ocorrera em

    outros pases, a Delao Premiada, apesar de haver prtica anterior, porm no

    institucionalizada, aparece como fonte legal na tentativa de resgate da sociedade.

    No ordenamento Ingls h duas figuras dentro dos entes administrativos de

    competncia criminal , que trazem a imunidade ao colaborador, denominadas como

    Immunity notice e Restricted use undretaking onde a primeira refere-se imunidade

    de acusao com relao aos crimes formalizados, a segunda a garantia de que o

    que for delatado no ser usado em prejuzo do colaborador.

    3.4 DIREITO ESPANHOL

    A Delao Premiada surge no ordenamento espanhol no ano de 1988 diante

    da proliferao do terrorismo e o problema por ele gerado. Com uma legislao j

    defasada frente ao terrorismo, a Espanha segue o caminho de outros pases

    Europeus, e com base em suas legislaes, institui a colaborao premial no

    combate ao Crime Organizado.

    No decorrer do tempo novas configuraes nas Organizaes resultaram em

    uma diversificao de conduta delituosa tendo os grupos organizados expandindo

    sua rea de atuao passando a englobar atividades como o trfico ilegal de armas,

    trfico de drogas, trfico e explorao de seres humanos, roubo e trfico de veculos

  • 16

    entre outros. Diante dessa nova realidade o pais amplia sua legislao de forma a

    abranger tais condutas delituosas.

    No bastasse a criminalidade organizada tem em seu favor outro elemento

    que evoluo tecnolgica onde o uso de meios sofisticados para afastar a ao

    dos rgos de represso ao crime cada vez mais se faz presente, tornando ainda

    mais difcil o combate essas organizaes.

    Como nos demais pases, na Espanha a Delao Premiada porta-se como

    um meio de desestabilizar as Organizaes assim possibilitando o combate efetivo

    aos entes delituosos.

    O Pas Catalo disciplina a Delao Premiada na Lei Orgnica n 10/1995 nos

    artigos 376 e 359.3 do CP sendo estes aplicados, respectivamente, a casos

    envolvendo o narcotrfico e a prtica terrorista.

    Em previso os art. 376 e 359.3 do Cdigo Penal Espanhol estabelecem

    benefcios aos colaboradores desde que preenchidos os requisitos elencados no

    ordenamento sendo estes o abandono voluntrio das atividades criminosas; tenha

    trabalhado ativamente com as autoridades ou seus agentes para impedir a produo

    do delito, ou para obter provas decisivas para identificao ou a captura de outros

    agentes, ou para evitar o desenvolvimento ou desempenho das organizaes ou

    associaes a que pertencia ou com quem tenha trabalhado (2013, p. nica).

  • 17

    4 DELAO PREMIADA NO BRASIL

    4.1 PASSAGENS HISTRICAS

    A Delao Premiada torna-se notria no Brasil em um evento histrico

    poltico conhecido e intitulado como Inconfidncia Mineira, onde, em 15 de maro de

    1789, o ento Coronel Comandante do Regimento de Cavalaria Auxiliar, Joaquim

    Silvrio dos Reis delatou seus colegas de Inconfidncia ao Visconde de Barbacena

    em troca do perdo de suas dvidas junto Coroa Portuguesa.

    Posteriormente, em um salto histrico, em 1964 durante o golpe militar a

    figura premial foi utilizada com o fim de tomar conhecimento de supostos criminosos

    que no consentiam com o Regime.

    Nas ltimas trs dcadas inmeros casos de atuao de Organizaes

    Criminosas foram desmanteladas a partir do uso do instituto da Delao Premiada.

    Dentre os casos de maior repercusso faz-se necessrio a meno de trs

    episdios de explorao do errio pblico descoberto atravs do instrumento aqui

    trabalhado.

    A colaborao por parte do irmo do ex-presidente Fernando Collor de Mello,

    Pedro Collor de Mello, onde Pedro delatou esquema de corrupo, chefiado pelo

    ento Tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Mello Presidncia da

    Repblica Paulo Cesar Farias, ou PC Farias como veio a ser conhecido na mdia. A

    trama consistia na prtica de cobrana de propina de empresrios ligados ao

    Governo em troca de vantagens junto ao governo representado pela figura do, j

    ento eleito, Presidente Fernando Collor de Mello.

    Como consequncia do escndalo uma CPI foi instaurada pelo Congresso

    Nacional que reconhece a ligao do Presidente Collor com o Tesoureiro PC Farias

    e que o mesmo estaria agindo em desonra com o cargo o qual ocupava. Em 1 de

    Outubro de 1992 instaurado o processo de impeachment onde em 30 de

    Dezembro de 1992 o Senado Federal condena Fernando Collor perda do mandato

    e inelegibilidade por oito anos. Sendo ele o primeiro Presidente Brasileiro a sofrer

    um processo de impeachment na histria do pas.

    Outro fato marcante foi o esquema fraudulento envolvendo a Comisso de

    Oramento, denunciado pelo Assessor Tcnico da Comisso de Oramento no

  • 18

    Congresso o economista Jos Carlos Alves dos Santos, intitulado como Anes do

    Oramento.

    No ano de 1993 o Economista Jos Carlos Alves dos Santos, aps ser preso

    sob a acusao de matar sua esposa, delata a rede de criminosos envolvidos em

    fraudes com o dinheiro da comisso de Oramento.

    Em caso mais recente mais um escndalo poltico nacional figura no contexto

    ptrio. No ano de 2005 o ex-chefe do Decam/ECT Mauricio Marinho foi filmado

    recebendo dinheiro, de um falso empresrio, em troca de uma vantagem indevida

    junto ao Governo. Nas gravao o ex-chefe do Decam/ECT conta em detalhes como

    funcionava todo o processo da rede criminosa que envolvia agentes pblicos. Na

    gravao Marinho cita o nome Roberto Jefferson com este sendo o chefe de todo a

    clula.

    Pressionado e acuado o presidente do PTB Roberto Jefferson denuncia a

    existncia do esquema nomeado de mensalo em troca de benesses sua pena.

    Utilizada como forma de referencia mensalidade recebida pelos deputados

    envolvidos no caso, a palavra mensalo vinha carregada de prticas ilegais e

    imorais de negociatas que favoreciam poucos em detrimento do Estado e do povo

    ao qual ele representa. O mensalo no princpio colocou em prova a mudana de

    governo que se iniciava sendo este questionado e muitas vezes desacreditado pela

    populao que o elegera. Posteriormente demonstrou que h uma movimentao

    para que os erros sejam corrigidos atravs de uma atuao eficaz no combate a

    corrupo e a improbidade e que os mecanismos utilizados se tornam cada vez mais

    importantes nessa busca.

    4.2 FONTES LEGAIS

    O instituto em nosso ordenamento faz presente inicialmente com o advindo da

    Lei n 8.072 de 25 de julho de 1990 que vem a criar a lei dos Crimes Hediondos.

    A partir deste marco surgem alguns efeitos decorrentes desta lei como a

    introduo do pargrafo 4 no artigo 159 do Cdigo Penal.

    A Delao Premiada no aplicada a todo e qualquer delito sendo tratada em

    nosso ordenamento de forma difusa, ou seja, no est normatizada em apenas uma

    nica lei havendo assim a existncia de diversas figuras normativas que fazem

    referncia em seu texto legal ao instituto premial.

  • 19

    4.2.1 Cdigo Penal Artigo 159, Pargrafo 4

    Cdigo Penal Artigo 159, Pargrafo 4, Decreto Lei n 2.848 de 07 de

    dezembro de 1940, com redao dada pela Lei n 9.269 de 02 de abril de 1969, em

    seu texto legal prev:

    Art. 159 Seqestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condio ou preo de resgate. Pargrafo 4 - Se o crime cometido em concurso, o concorrente que o denunciar autoridade facilitando a libertao do seqestrado, ter sua pena reduzida de um a dois teros. (2012. p. nica).

    4.2.2 Lei n 8.072 de 25 de julho de 1990

    Titulada como Lei dos Crimes Hediondos a Lei n 8.072 de 25 de julho de

    1990 artigo 8 pargrafo nico dispe em seu texto a seguinte redao:

    Art. 8 Ser de trs a seis anos de recluso a pena prevista no art. 288 do Cdigo Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prtica da tortura, trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Pargrafo nico O participante e o associado que denunciar autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, ter a pena reduzida de um a dois teros. (2012. p. nica).

    4.2.3 Lei n 7.492 de 16 de junho de 1986

    Titulada como Lei de Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional a Lei n

    7.492 de 16 de junho de 1986 artigo 25 pargrafo 2, includo pela Lei n 9.080 de 19

    de julho de 1995, dispe em seu texto a seguinte redao:

    Art. 25 So penalmente responsveis, nos termos desta lei, o controlador e os administradores de instituio financeira, assim considerados os diretores, gerentes. Pargrafo 2 - Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partcipe que atravs de confisso espontnea revelar autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa ter a sua pena reduzida de uma a dois teros. (2012. p. nica).

  • 20

    4.2.4 Lei n 8.137 de 27 de novembro de 1990

    Titulada como Lei de Crimes Contra a Ordem Tributria, Econmica, e

    Relaes de Consumo a Lei n 8.137 de 27 de novembro de 1990 em seu artigo 16

    pargrafo nico, includo pela Lei n 9.080 de 19 de julho de 1995, dispe:

    Art. 16 Qualquer pessoa poder provocar a iniciativa do Ministrio Pblico nos crimes descritos nesta Lei, fornecendo-lhe por escrito informaes sobre o fato e a autoria, bem como indicando o tempo, o lugar e os elementos de convico. Pargrafo nico Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria o co-autor ou partcipe que atravs de confisso espontnea revelar autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa ter a sua pena reduzida de um a dois teros. (2012. p. nica).

    4.2.5 Lei n 9.034 de 03 de maio de 1995

    Titulada como Lei do Crime Organizado a Lei n 9.034 de 03 de maio de 1995

    em seu artigo 6 dispe:

    Art. 6 - Nos crimes praticados em organizao criminosa, a pena ser reduzida de um a dois teros, quando a colaborao espontnea do agente levar ao esclarecimento de infraes penais e sua autoria. (2012. p. nica).

    4.2.6 Lei n 9.613 de 03 de maro de 1998

    Titulada como Crimes de Lavagem de Capitais a Lei n 9.613 de 03 de maro

    de 1998 em seu artigo 1 pargrafo 5, com redao dada pela Lei 12.683 de 09 de

    julho de 2012, dispe:

    Art. 1 - Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localizao, disposio, movimentao ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infrao penal. Pargrafo 5 - A pena poder ser reduzida de uma a dois teros e ser cumprida em regime aberto ou semi-aberto, facultando-se ao juiz deixar de aplic-la ou substitu-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partcipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimento que conduzam apurao das infraes penais, identificao dos autores, co-autores e partcipes, ou localizao dos bens, direitos ou valores objeto do crime. (2012. p. nica).

  • 21

    4.2.7 Lei n 9.807 de 13 de julho de 1999

    Titulada como Lei de Proteo a Vitima e s Testemunhas a Lei n 9.807 de

    13 de julho de 1999 no artigo 13 dispe:

    Art. 13 Poder o juiz, de oficio ou a requerimento das partes, conceder o perdo judicial e a conseqncia extino da punibilidade ao acusado que, sendo primrio, tenha colaborado efetiva e voluntariamente coma investigao e o processo criminal, desde que dessa colaborao tenha resultado: I a identificao dos demais co-autores ou partcipes da ao criminosa; II a recuperao total ou parcial do produto do crime; III a recuperao total ou parcial do produto do crime; Pargrafo nico A concesso do perdo judicial levar em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstancia, gravidade e repercusso social do fato criminoso. (2012. p. nica).

    Ainda, no artigo 14 o presente texto legal dispe:

    Art. 14 O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigao policial e o processo criminal na identificao dos demais co-autores ou partcipes do crime, na localizao da vtima com vida e na recuperao total ou parcial do produto do crime, no caso de condenao, ter pena reduzida de um a dois teros. (2012. p. nica).

    4.2.8 Lei n 11.343 de 23 de agosto de 2006

    Titulada como Lei de Drogas a Lei n 11.343 de 23 de agosto de 2006 em seu

    artigo 41 dispem:

    Art. 41 O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigao policial e o processo criminal na identificao dos demais co-autores ou partcipes do crime e na recuperao total ou parcial do produto do crime, no caso de condenao, ter pena reduzida de um tero a dois teros. (2012. p. nica).

    4.3 PROBLEMTICA DA SUCESSO NORMATIVA A delao premiada, como j citado no item 4.2, apresenta-se de forma difusa

    constando em diversos regramentos que surgiram de forma sucessiva em nosso

    ordenamento. Criadas sem nenhuma diretriz determinadora a sucesso apresenta

    uma problemtica no que concerne a sua interpretao. A sucesso normativa

    interfere na hermenutica da norma. Devido a ampla e fragmentada previso, a

  • 22

    delao premiada apresenta modalidades diferentes o que acaba acarretando em

    duvidas como, qual dispositivo legal deve ser aplicado, qual critrio a ser utilizado.

    5 NATUREZA JURDICA

    A anlise do instituto quanto a sua natureza jurdica gera uma dificultosa

    conceituao apresentando diversos entendimentos doutrinrios quanto sua

    natureza em virtude dos variados aspectos o qual apresenta.

    A Delao Premiada se configura quando o colaborador confessa a

    participao e indica demais integrantes, diante desse contexto, seguindo essa

    premissa a doutrina tem reclinado apontando a Figura Premial como uma forma

    probatria de natureza testemunhal.

    Nessa mesma vertente tem trabalhado o professor Guilherme de Souza Nucci

    (2008. P. 444) onde discorre sobre o tema deferindo seu parecer no sentido de que

    a Delao Premiada um meio de testemunho qualificado, feito pelo indiciado ou

    acusado. Naturalmente, tem valor probatrio, especialmente porque houve admisso

    de culpa pelo delator.

    Vicente Greco Filho (2010. p. 218): Na verdade a confisso no um meio de

    prova. a prpria prova, consiste no reconhecimento da autoria por parte do

    acusado. A confisso pode estar contida no interrogatrio ou ser espontnea

    oferecida pelo acusado a qualquer tempo, caso em que ser lavrado termo de

    ocorrncia.

    Assim, com base na doutrina, possvel afirmar que o instrumento premial

    pode ser classificado quanto forma, com um valor probatrio de natureza

    testemunhal, quanto ao sujeito, decorrente do ato acontecer da pessoa, quanto ao

    objeto, de ordem direta demonstrando o fato de forma direta.

    Por fim pode-se, com ressalvas, dizer que a figura da delao premiada

    possui a natureza jurdica de perdo judicial, resultando em extino ou de

    diminuio de pena, ou, dentro de um contexto processual como um valor de prova

    testemunhal, um valor probatrio no tocante imputao feita.

  • 23

    6 REQUISITOS DA DELAO PREMIADA

    6.1 COLABORAO ESPONTNEA

    necessrio inicialmente diferenciar o termo espontneo da colocao

    voluntrio.

    As terminologias espontnea e voluntria remetem a idia de uma vontade

    livre sendo diferenciado no tocante a forma qual decorre do agente.

    Dentro da voluntariedade admite-se que a idia de prestar as informaes

    possa emanar de forma diferente que no do prprio agente.

    Na forma espontnea, a vontade livre decorre do prprio agente sem

    influencia externa. Nesta forma no h uma figura coercitiva que influncia na

    vontade do agente que presta a informao.

    Seguindo o raciocnio, conclui-se a necessidade que a contribuio seja de

    forma livre e sem influncias como a coao, ou seja, o colaborador no pode ser

    forado a prestar informaes, em contrrio, acarretando a consequncia da prova

    obtida configurar como ilcita.

    Nesse sentido discorre o professor Antonio Scarance Fernandes (2009. P.

    48), [...] excessos empregados para a obteno da confisso e indicao da

    participao alheia na prtica do crime resultaro da ilicitude da prova obtida.

    A Constituio Federal de 1988 (CRFB/88), em seu art. 5, inc, LVI, veda a

    utilizao da prova ilcita quando estabelece que: so inadmissveis, no processo, as

    provas obtidas por meios ilcitos. (VADE MECUM, 2013. P. 10).

    Decorrente deste preceito, com ausncia do elemento espontaneidade,

    estaria prtica em desrespeito as normas constitucionais afrontando o principio

    nela contido.

    Em consonncia com a CRFB/88 O art. 157 do Cdigo de Processo Penal em

    seu caput traz a seguinte previso: So inadmissveis, devendo ser desentranhadas

    do processo, as provas ilcitas, assim entendidas as obtidas em violao a normas

    constitucionais ou legais. (VADE MECUM, 2013. P. 601).

    Conclui-se, portanto que a colaborao deve originar da livre e intima vontade

    do colaborador, devendo partir do prprio agente sem qualquer tipo de presso

    externa sob pena de restar prova obtida desprovida de valorao desta forma

    refletindo em todo o processo podendo restar em prejuzo causa.

  • 24

    6.2 EFETIVIDADE DAS INFORMAES

    Caminhando o estudo chegamos no correspondente efetividade das

    informaes.

    Walter Barbosa Bittar, citando David Teixeira de Azevedo (BITTAR,

    2011, p.180) esclarece em seu livro de forma eficaz o presente requisito quando

    expem o seguinte texto: Auxilio efetivo aquele caracterizado pela participao

    ativa do acusado na realizao das diligencias, na demonstrao de um especial

    empenho pessoal no exitoso desdobramento das investigaes.

    Segundo Eugnio Pacelli de Oliveira (2009, p.713): Trata-se de norma

    imperativa, atributiva de direito subjetivo ao ru, bastando seja demonstrada a sua

    efetiva participao, tanto no curso da investigao, quanto na fase de ao penal.

    O atual elemento est atrelado ao fator onde no basta que o colaborador

    apenas fornea informaes concernentes ao grupo criminoso, o agente delator

    deve estar em constante auxilio comparecendo ou acompanhando os atos tendentes

    ao caso.

    6.3 RELEVNCIA DAS DECLARAES

    Na medida das declaraes fornecidas existe a necessidade de que as

    declaraes sejam dotadas de uma relevncia que permitam chegar ao

    reconhecimento da materialidade das condutas criminosas realizadas ou seja que as

    informaes prestadas conduzam aos demais agentes da organizao, provas

    decorrentes do ato criminoso a localizao dos bens, direitos ou valores, objetos do

    crime, que somente com ajuda das informaes prestadas pelo colaborador, poderia

    se chegar ao seu paradeiro.

    Nesse sentido cabe citar o entendimento do Superior Tribunal Justia (STJ)

    que se posiciona da seguinte maneira:

    A pena ser reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois teros) e comear a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplic-la ou substitu-la por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partcipe colaborar espontaneamente com a autoridades, prestando esclarecimento que conduzam apurao das infraes penais e de sua autoria ou localizao dos bens, direitos ou valores objeto do crime. (2013. p. nica).

  • 25

    Deve-se abrir um parntese ao se falar em localizao dos bens ou

    recuperao do produto do crime. Tal definio no deve ser seguida de forma

    absoluta, h que se atentar ao fato da possibilidade ftica da medida, haver

    ocasies em que alcanar tal produto no ser possvel atravs da colaborao,

    uma vez que o delator pode vir a desconhecer sobre o paradeiro, nem por isso

    dever a declarao feita ser tachada de irrelevante, nesses casos, apesar da no

    possibilidade de localizar ou recuperar o produto do crime, no ser afastado o

    benefcio decorrente da informao prestada.

    6.4 PERSONALIDADE DO COLABORADOR

    Devem-se ponderar as informaes fornecidas pelo agente delator com sua

    personalidade, onde o mesmo possui em seu mago valores voltados quebra de

    condutas morais e normativas. Sua declarao pode vir carregada de forte interesse

    pessoal considerar os motivos que levaram o agente a prestar a informao

    Guilherme de Souza Nucci em uma passagem de seu Manual nos ensina:

    Nunca deve o magistrado deixar de atentar para os aspectos negativos da personalidade humana, pois no impossvel que algum, odiando outrem, confesse um crime somente para envolver seu desafeto, que na realidade, inocente. (NUCCI, 2008. p. 444)

    Deve se atentar ao fato de que o ru colaborador surge de uma realidade

    onde questes como honra, verdade, certo ou errado, no esto presentes em seu

    dia a dia. Vive ele sob a regra marginal onde a violncia e a desonestidade esto

    presentes.

    Assim o magistrado deve pesar confrontando o afirmado pelo delator com os

    aspectos subjetivos decorrentes de sua personalidade.

  • 26

    7 BENEFCIOS DA DELAO PREMIADA

    Como j explanado anteriormente, a Delao Premiada utilizada como um

    mecanismo pela justia onde oferecido um benefcio, material ou processual, para

    aquele que, na condio de ru, colabora com a justia informando detalhes sobre o

    ato tpico e ilcito cometido.

    Antonio Scarance Fernandes (2009. p. 20) delega sobre o tema quando trata

    da Delao Premiada em dois aspectos o material no sentido de reduo, iseno

    de pena ou perdo judicial e processual como alternativa de soluo antecipada do

    processo em favor do colaborador, pelo arquivamento das peas de investigao,

    pela suspenso do processo.

    O ordenamento brasileiro prev os benefcios decorrentes do mecanismo sob

    dois momentos sendo eles como causa de extino de punibilidade ou causa de

    diminuio de pena.

    Se o colaborador responder aos requisitos previstos em lei, apresentar a

    condio de primariedade, demonstrar aspectos subjetivos relacionados a

    personalidade, circunstncia, gravidade e repercusso social do fato criminoso, a

    seu favor, poder o juiz, de ofcio ou a requerimento das partes conceder o perdo

    judicial e a consequncia extino da punibilidade ao acusado (BITTAR, 2011. p.

    181)

    Nos casos em que houver a condenao a penas restritiva de liberdade,

    desde que cobertos os requisitos legais, deve ser aplicada a reduo na nas

    propores de 1 (um) a 2/3 (dois teros) sobre a pena aplicada.

    Ainda duas outras hipteses figuram entre as benesses decorrentes da

    delao correspondendo ao cumprimento da pena em regime aberto e a substituio

    da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito.

    A primeira est ligada a reduo auferida ao colaborador onde, preenchidos

    os requisitos, poder o colaborador ser beneficiado com a progresso de regime

    cumprindo a pena em regime aberto. H que se frisar que o delator no fica imune a

    regresso de regime caso venha a descumprir os elementos exigidos em lei para tal.

    Tendo diferente da hiptese do perdo judicial e tendo agido o colaborador

    com parte dos requisitos necessrios poder o ru fazer gozo da substituio da

    pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito.

  • 27

    Vale ressaltar ainda o Projeto de Lei n 6.578 de 09 de dezembro de 2009 que

    dispem, entre outras previses, sobre os meios de obteno de prova, onde em

    seu artigo 4 caput, regula o instituto Delao Premiada onde traz o seguinte texto:

    Art. 4 O juiz poder,de oficio ou a requerimento conjunto das partes, conceder o perdo judicial, reduzir em at dois teros a pena privativa de liberdade ou substitu-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigao e com o processo criminal, desde que dessa colaborao tenha resultado:

    I - a identificao dos demais coautores e partcipes da organizao criminosa e das infraes penais por eles praticadas;

    II - a revelao da estrutura hierrquica e da diviso de tarefas da organizao criminosa;

    III - a preveno de infraes penais decorrentes das atividades da organizao criminosa;

    IV - a recuperao total ou parcial do produto ou do proveito das infraes penais praticadas pela organizao criminosa;

    V - a localizao da eventual vtima com a sua integridade fsica preservada.

    Sem critrio estabelecido em norma, a concesso do benefcio fica ligada ao

    preenchimento dos requisitos primordiais proporcional colaborao. Em

    negociao com o Ministrio Publico fica estipulado benesse, que posteriormente,

    ser concedida pelo magistrado que conduz a lide.

  • 28

    8 VALOR PROBATRIO

    Como j visto a Delao Premiada tem valor probatrio ou seja um

    elemento que pode levar o conhecimento de um fato a algum. Dentro do direito

    processual conceituado como um instrumento que traz os elementos de prova aos

    autos (GRECCO, 2010. p. 185).

    Edilson Mougenot Bonfim em seu livro Curso de Processo Penal (2012. p.

    355). define a prova como sendo um instrumento usado pelos sujeitos processuais

    para comprovar os fatos da causa, Isto , aquelas alegaes que so deduzidas

    pelas partes como fundamento para o exerccio da tutela jurisdicional.

    A prova judiciria tem um objetivo claramente definido: a construo dos fatos

    investigados no processo, buscando maior coincidncia possvel com a realidade

    histrica, isto , com a verdade dos fatos, tal como efetivamente ocorridos no

    espao e no tempo (OLIVEIRA, 2009. p. 317)

    Fernando Capez expe sobre o tema da seguinte forma:

    Do Latim probatio, representa o conjunto de atos praticados pelas partes, pelo juiz (arts. 156, 2 parte, 209 e 234 do CPP) e por terceiros (por exemplo peritos), destinados a levar ao Magistrado a convico acerca da existncia ou inexistncia de um fato, da falsidade ou veracidade de uma afirmao. Trata-se portanto, de todo e qualquer meio de percepo empregado pelo homem com a finalidade de comprovar a verdade de uma alegao (CAPEZ, 2006. P. 132)

    O art. 197 do CPP traz a valorao da confisso dentro do sistema processual

    onde em seu texto descreve a seguinte premissa:

    O valor da confisso se aferir pelos critrios adotados para os outros elementos de prova, e para a sua apreciao o juiz dever confront-lo com as demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordncia (VADE MECUM, 2013. P. 604)

    A Delao o meio o qual o ru entrega os demais integrantes da

    Organizao Criminosa em troca de uma beneficio. Porm deve-se atentar sobre a

    motivao do ato podendo este ser provocado por meio de obter vingana,

    direcionado busca ento somente de uma reduo ou extino de pena.

    A prova no dever ser considerada de forma isolada sendo necessrio que a

    mesma seja confrontada com o conjunto probatrio no todo.

  • 29

    Por fim pode-se concluir que sua aplicao no deve ser tratada com fora

    probatria absoluta devendo esta ser apreciada frente s demais provas do

    processo para, a partir dessa anlise, retirar uma concluso.

    9 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO

    9.1 PRINCPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

    O artigo 5 da CRFB/88 no inciso LIV prev que ningum ser privado da

    liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (VADE MECUM, 2013. P.

    10).

    Como um dos pilares processuais do Sistema Democrtico de Direito, o

    princpio do devido processo deve assegurar ao acusado o direito de percorrer

    dentre as regras de direito estabelecidas.

    9.2 AMPLA DEFESA E DO CONTRADITRIO

    A Constituio da Repblica Federativa do Brasil no art. 5, inciso, LV,

    assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em

    geral, o contraditria e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes

    (VADE MECUM, 2013. P. 10).

    A ampla defesa se traduz, em termos objetivos, englobando a instruo contraditria, em algumas solues tcnicas dentro do processo, as quais, na verdade, tornam efetiva a garantia. Entre elas a adoo do sistema acusatrio, a apresentao formal da acusao, a citao regular, a instruo contraditria, o princpio da verdade real e o exerccio de defesa tcnica (GRECO, 2010. p. 55).

    9.3 PRINCPIO DA INOCNCIA

    Firmado no artigo 5 da CRFB/88 no inciso LVII, este princpio assegura ao

    indivduo a no atribuio de culpa sem que haja o transito em julgado de sentena

    penal condenatria.

    Eugnio Pacelli de oliveira (2009, p. 42):

  • 30

    O princpio da inocncia, ou estado ou situao jurdica de inocncia, impe ao Poder Pblico a observncia de duas regras especficas em relao ao acusado: uma de tratamento, segundo a qual o ru, em nenhum momento de iter persecutrio, pode sofrer restries pessoais fundadas exclusivamente na possibilidade de condenao, e outra de fundo probatrio, a estabelecer que todos os nus da prova relativa existncia do fato e sua autoria devem recair exclusivamente sobre a acusao.

    9.4 DIREITO AO SILNCIO OU DIREITO DE NO SE AUTOACUSAR Em previso expressa no artigo 5 inciso LXIII da CRFB/88, o preso ser

    informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo lhe

    assegurado a assistncia da famlia e de advogado (VADE MECUM, 2013. P. 10).

    Norberto Cludio Pncaro Avena:

    O direito ao silncio coaduna-se com a obrigatoriedade que assiste acusao de provar os fatos alegados na pea vestibular do processo criminal. Tal nus, com efeito, afeto ao Ministrio Pblico, na hiptese de aes penais pblicas, e ao querelante, quando for o caso de ao penal privada. Destarte, em razo deste privilgio, no estar o acusado obrigado a responder as perguntas que lhe forem formuladas por ocasio de seu interrogatrio; (AVENA, 2009. p. 149)

    Assim ao acusado no se deve impor o dever de se incriminar, figurando o acusado como parte no deve ele se declarar, com risco de afast-lo do dever de se defender. O direito ao acusado em ficar calado concede ao mesmo o direito de no produzir prova contra si, devendo o Estado utilizar dos mecanismos que possu. 9.5 PRINCPIO DA INADMISSIBILIDADE DE PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILCITOS Como j exposto no sub-ttulo 6.1 deste trabalho, a CRFB/88 em seu artigo 5

    inciso LVI veda a realizao ou busca de prova a ser obtida por forma ilcita.

    O processo penal deve formar-se em torno da produo de provas legais e

    legtimas, inadmitindo-se qualquer prova obtida por meio ilcito (NUCCI, 2008. p.87.)

    Cabe ressaltar a exceo quando poder ser aceita a prova ilcita se a

    mesma puder ser obtida por outro meio lcito.

  • 31

    10 QUESTES CONTRRIOS E FAVORVEIS AO INSTITUTO

    10.1 QUESTES CONTRRIOS AO INSTITUTO

    Segundo a ministra Maria Thereza Rocha de Assis Moura (2006 apud

    FERNANDES 2009) a Delao Premiada, prevista em diversas leis brasileiras, no

    atende a exigncias ticas, requisito cuja presena essencial ao ordenamento

    jurdico e deve orientar a totalidade das aes do Estado e dos agentes.

    Vrias questes conduzem o entendimento de parte da doutrina na questo

    referente aos preceitos subjetivos da tica e da moral violados pela prtica da

    delao premiada.

    Nesse contexto agiria o Estado de forma antitico e imoral no momento em

    que estaria premiando o delator para que o mesmo entregasse seus semelhantes

    dessa forma incentivando a prtica da traio;

    Outro aspecto se configura no problema, de adequao constitucional

    relacionado ao plo do delator, da relao de proporcionalidade entre a medida da

    pena de uma lado, e a gravidade objetiva do fato e culpabilidade do autor de outro.

    (PEREIRA, 2013. p. 55)

    Ainda o uso do instituto agiria de forma contrrio figura da traio, que em

    regra deveria servir para agravar ou qualificar o crime, diante da prtica do delator,

    estaria servindo como redutor da pena.

    Outro questionamento consiste na hiptese de que o Estado estaria

    negociando com o crime se valendo da cooperao do criminoso na busca da

    justia.

    Vislumbra-se ainda o meio de colaborao como forma de estimulo a

    falsidade nas declaraes agindo o colaborador com intuito de vingar-se dos demais

    membros da organizao.

    O instituto tambm estaria influenciando de forma negativa onde haveria um

    aumento de delaes ineficientes decorrente do ento somente beneficio.

    Outro ponto seria a posio contrria a afirmao que a delao estaria em

    busca de um bem maior sendo esta necessria ao momento mesmo que possa ser

    considerada imoral ou antitica idia cunhada pela doutrina com a expresso os

    fins justificam os meios.

  • 32

    J em relao violao s garantias individuais parte da doutrina tem se

    posicionado sob o embasamento de que ao aplicar a Delao Premiada estaria o

    colaborador sendo violado em suas garantias constitucionais sendo elas o direito ao

    silncio, o papel do interrogatrio como meio de defesa, o nexo retributivo entre a

    pena e o delito, o princpio da materialidade, a moralidade pblica, a ampla defesa e

    o contraditrio (PEREIRA, 2013. p. 53 e 54)

    10.2 QUESTES FAVORVEIS AO INSTITUTO

    Guilherme de Souza Nucci de forma objetiva rebate os pontos contrrios ao

    instrumento onde elenca vrios pontos positivos a aplicao da delao:

    No universo criminoso, no se pode falar em tica ou valores moralmente elevados, dada, a prpria natureza da prtica de condutas que rompe com as normas vigentes, ferindo bens jurdicos protegidos pelo Estado; No h leso proporcionalidade na aplicao da pena, pois esta regida, basicamente, pela culpabilidade (juzo de reprovao social), que flexvel. Rus mais culpveis devem receber pena mais severa. O delator, ao colaborador com o Estado, demonstra menor culpabilidade, portanto, pode receber sano menos grave; O crime praticado por traio grave, justamente porque o objetivo almejado a leso a um bem jurdico protegido. A delao seria a traio de bons propsitos, agindo contra o delito e em favor do Estado Democrtico de Direito; Os fins podem ser justificados pelos meios, quando estes forem legalizados e inseridos, portanto, no universo jurdico; A ineficincia atual da delao premiada condiz com o elevado ndice de impunidade reinante no mundo do crime, bem como ocorre em face da falta de agilidade do Estado em dar efetiva proteo ao ru colaborador; O Estado j est barganhando com o autor de infrao penal, como se pode constatar pela transao, prevista na Lei 9.099/95. A delao premiada apenas outro nvel de transao; O benefcio institudo por lei para que o criminoso delate o esquema no qual est inserido, bem como os cmplices, pode servir de incentivo ao arrependimento sincero, com forte tendncia regenerao interior, o que seria um dos fundamentos da prpria aplicao da pena; A falsa delao, embora possa existir, deve ser severamente punida; A tica juzo de valor varivel, conforme a poca e os bens em conflito, razo pela qual no pode ser empecilho para a delao premiada, cujo fim combater, em primeiro plano, a criminalidade organizada. (NUCCI, 2008. P.446 e 447)

    Walter Barbosa Bittar (2011. P.225), reconhece a antieticidade do instituto da

    Delao Premiada, porm, ressalta que na maioria dos casos, pela imoralidade do

    comportamento dos colaboradores, em nada afeta a questes meramente jurdicas,

    pois so campos de investigao distintos.

    Antonio Scarance Fernandes (2009. P. 51), reconhece a necessidade de

    discutir sobre a base tica da Delao Premiada e, notadamente, debat-la nas

  • 33

    situaes em que a preservao da vida humana est em jogo. Reconhece tambm

    a convenincia em permitir a aplicao do instituto aos casos relacionados

    criminalidade organizada, observando o princpio da proporcionalidade, apesar da

    questo tica ressaltada.

    Ainda contrapondo a idia de quebra da garantia individual ao silencio, tramita

    no Senado Federal o projeto de Lei n 6.578 de 09 de dezembro de 2009, originado

    do projeto de Lei do Senado 150/2006, que em seu art. 4 pargrafo 14 traz a

    seguinte premissa:

    Art. 4 [...]

    14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciar, na presena de seu defensor, ao direito ao silncio e estar sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.

    Frederico Valdez Pereira conclui (2013, p. 102):

    A situao de exigncia na concretizao de um dever de proteo minimamente eficaz por parte do Estado se maximiza nos crimes cometidos no bojo de organizaes criminosas, em relao s quais j foi reconhecida quase que uma impossibilidade prtica de o Estado superar o bloqueio na resposta judiciria, o que leva a que a alternativa de estmulo colaborao com a justia seja uma das nicas medidas eficazes possveis. Concluso que leva ento a se reconhecer a convenincia da previso normativa de um instrumento judicial de facilitao do abandono das atividades delituosas como mtodo provavelmente mais adequado, ao menos sob o ponto de vista ttico operativo, no enfrentamento aos delitos de maior gravidade cometidos de forma associativa estvel e estruturada.

  • 34

    11 JURISPRUDENCIA

    11.1 EFETIVIDADE DAS INFORMAES

    TJPI - Apelao Criminal APR 201200010015868 PI (TJPI) (2013. p. nica).

    PROCESSO PENAL. APELAAO CRIMINAL. FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATRIO NAO VERIFICADO. DEPOIMENTOS DOS POLICIAIS HARMNICOS E CONSISTENTES COM OS DEMAIS ELEMENTOS DE PROVA ERIGIDOS NO CURSO DA INSTRUAO CRIMINAL SOB O MANTO DO CONTRADITRIO JUDICIAL. DELAAO PREMIADA CONFIGURADA. 1. In casu, o lastro probatrio restou evidenciado, em especial, pelo depoimentos lcidos dos policiais, testemunhais e delao premiada. Verifica-se harmnico o conjunto ftico-probatrio, cuja sano aplicada foi suficiente e necessria para elidir a prtica da infrao penal que lhe foi imputada. 2. Delao premiada respaldada na admisso do ilcito e prestao de informaes eficazes para o deslinde da trama delituosa. 3. Recurso improvido. (201200010015868 PI , Relator: Des. Jos Francisco do Nascimento, Data de Julgamento: 15/01/2013, 1a. Cmara Especializada Criminal)

    APR 20274 MS 2006.020274-3 (2013. P. nica)

    APELAO CRIMINAL - ROUBO QUALIFICADO - PRETENSO ABSOLUTRIA - ALEGADA INSUFICINCIA DE PROVAS - NO-OCORRNCIA - PRETENSO DE APLICAO DA BENESSE DA DELAO PREMIADA - FALTA DE COLABORAO EFETIVA - RUS QUE NO RENEM OS REQUISITOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA LEI - RECURSOS IMPROVIDOS. (20274 MS 2006.020274-3, Relator: Des. Gilberto da Silva Castro, Data de Julgamento: 27/02/2007, 1 Turma Criminal, Data de Publicao: 16/03/2007)

    11.2 RELEVNCIA DAS DECLARAES

    APR 474262920068070001 DF 0047426-29.2006.807.0001 (2013. p. nica).

    PENAL. QUADRILHA. CONJUNTO PROBATRIO QUE AMPARA

    A CONDENAO. APLICAO DO BENEFCIO DE DELAO

    PREMIADA. INCABVEL O RECONHECIMENTO DE CRIME

    CONTINUADO. CONJUNTO PROBATRIO QUE AMPARA A

    CONDENAO. O INSTITUTO DA DELAO PREMIADA CONTEMPLA O

    INDICIADO OU ACUSADO QUE COLABORA VOLUNTARIAMENTE NA

  • 35

    IDENTIFICAO DOS DEMAIS COAUTORES OU PARTCIPES DO

    CRIME, INDIQUE A LOCALIZAO DA VTIMA E COLABORE COM A

    RECUPERAO TOTAL OU PARCIAL DO PRODUTO DO CRIME. NO

    CASO, DEVE-SE APLICAR O BENEFCIO DA DELAO PREMIADA, A

    FIM DE REDUZIR A PENA DE DOIS DOS APELANTES, POIS SEUS

    DEPOIMENTOS FORAM ESSENCIAIS PARA A SOLUO DOS CRIMES.

    NO H DE SE FALAR EM CONTINUIDADE DELITIVA QUANTO A

    FATOS RELATIVOS A CRIMES DE ESPCIES DISTINTAS. APELOS

    PARCIALMENTE PROVIDOS, PARA APLICAR O BENEFCIO DE

    DELAO PREMIADA E REDUZIR A PENA DE DOIS APELANTES.

    (474262920068070001 DF 0047426-29.2006.807.0001, Relator: LEILA

    ARLANCH, Data de Julgamento: 12/05/2011, 1 Turma Criminal, Data de

    Publicao: 17/05/2011, DJ-e Pg. 205)

    APR 35980620088070003 DF 0003598-06.2008.807.0003

    PENAL E PROCESSAL PENAL - ART. 157, 2 INCISOS I E II, DO CP -

    DELAO PREMIADA (ART. 14 DA LEI 9807/99)- POSSIBILIDADE.157

    2IIICP1498071. TENDO O RU COLABORADO COM A INVESTIGAO

    POLICIAL, APONTANDO ONDE SE ENCONTRAVAM OS PRODUTOS

    ROUBADOS, TEM DIREITO DIMINUIO DA PENA NOS TERMOS DO

    ART. 14 DA LEI 9807/99. 2. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.149807

    (35980620088070003 DF 0003598-06.2008.807.0003, Relator: ANA

    CANTARINO, Data de Julgamento: 27/11/2008, 2 Turma Criminal, Data de

    Publicao: 21/01/2009, DJ-e Pg. 120)

    11.3 ESPONTANEIDADE DA DELAO

    HC 23479 RJ 2002/0083604-9 (2013. p. nica).

    "PROCESSUAL PENAL. HC. EXTORSO MEDIANTE SEQESTRO. ALEGAO DE OMISSO DA CAUSA DE DIMINUIO DA PENA, REFERENTE AO ART. 159, 4 DO CP. ACUSADO QUE DELATOU SEUS COMPARSAS, FACILITANDO A LIBERTAO DA VTIMA. A Lei n 9.269/96 no traz como requisito a espontaneidade da denncia para o fim de diminuir a pena. A causa de diminuio de pena prevista no artigo 159, 4, do CP de aplicao obrigatria quando, como no caso dos presentes autos, as informaes so eficazes, possibilitando ou facilitando a libertao da vtima."

  • 36

    Ordem concedida para que seja aplicada a causa de diminuio de pena prevista no 4 do artigo 159 do Cdigo Penal, com redao da Lei 9.269/96.159 4CP9.269159 4CP 4159Cdigo Penal9.269 (23479 RJ 2002/0083604-9, Relator: Ministro JOS ARNALDO DA FONSECA, Data de Julgamento: 17/02/2003, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicao: DJ 24.03.2003 p. 250)

    TJSP- Processo: 20756420088260185 SP

    Roubo triplamente qualificado e quadrilha armada - Delao - R que confessa o crime e incrimina os demais rus - Admissibilidade - Prova de grande valor probatrio para formao da convico do Julgador, em relao a conduta dos delatados - Absolvio - No ocorrncia. Qualificadoras - Comprovada pelas palavras da vtima - Afastamento - Impossibilidade. Quadrilha armada - Existncia de vnculo associativo permanente entre os rus para prtica de crimes - Delito configurado. Roubo triplamente qualificado e quadrilha armada - Uso de arma de fogo - Bis in idem - No ocorrncia - Delitos que so autnomos. Penas-bases fixadas no patamar mximo para os rus Aparecido, Odair e Antnio Tavares, pois possuem maus antecedentes e tambm pelos crimes cometidos, demonstrando alto grau de periculosidade - Reduo da reprimenda em face do aumento exacerbado- Possibilidade. R Heluiza - Penas fixadas em seu mnimo legal para ambos os crimes - Reconhecimento da confisso espontnea - Impossibilidade -Reprimenda que no pode ficar aqum do mnimo legal - Aplicao da delao premiada -Inadmissibilidade, pois no houve colaborao voluntria da apelante e a res no foi recuperada. Ru Aparecido - Concesso da Justia gratuita -No cabimento - Acusado que durante toda a instruo criminal foi representado por Defensor constitudo, fato que faz presumir sua no hipossuficincia econmica. Regime prisional inicial fechado bem fundamentado - Alterao - Impossibilidade -Recurso de Heluiza improvido e dos demais rus providos parcialmente. (20756420088260185 SP , Relator: Pedro Menin, Data de Julgamento: 11/01/2011, 16 Cmara de Direito Criminal, Data de Publicao: 31/01/2011)

  • 37

    12 ALEGAES FINAIS

    O Crime Organizado brasileiro uma realidade presente em todo setor do

    territrio ptrio e encontra-se em constante expanso. O cenrio criminoso

    organizado figura rodeado por uma barreira fundada em medo de represlias por

    parte dos integrantes e cdigos prprios. No bastasse o grupo conta ainda com

    vasto arsenal tecnolgico como meio de afastar as foras inibidoras de sua conduta

    criminosa.

    Na outra ponta do vrtice encontra-se o Estado, que na tentativa de

    acompanhar essa crescente evoluo, deparou-se com a necessidade de criar um

    mecanismo na inteno de sobrepujar essas barreiras possibilitando combater essas

    organizaes assim mantendo a tutela estatal sociedade.

    Presente no ordenamento brasileiro como um meio de auxilio poltico-criminal

    visando o combate ao ilcito praticado por um grupo organizado, a Delao

    Premiada, um mecanismo processual que auxilia no combate ao crime organizado,

    com objetivo de desestruturar o grupo criminoso.

    A Delao Premiada, embora muito contestada, devido a sua peculiar

    aplicao, surge como mais uma ferramenta de reforo ao combate criminal pela

    figura representativa do Estado.

    Mesmo diante de alguns entraves em seu uso, como afronta a quebras de

    garantias constitucionais, apontamentos referentes a razes subjetivas relacionadas

    tica e a moral, a necessidade de uma codificao mais slida, o instrumento se

    faz necessrio e justificvel uma vez que seu objetivo reforar a atuao Estatal no

    combate aos malefcios gerados na sociedade decorrente das organizaes

    criminosas.

    O instituto surge como um meio que visa garantia de um bem maior a ser

    protegido podendo ser considerado este como um mal necessrio segurana

    social.

  • 38

    REFERNCIAS

    BRASIL APR 20274 MS 2006.020274-3. Disponvel em: . Acesso em: 30 de mar. 2013 BRASIL APR 35980620088070003 DF 0003598-06.2008.807.0003. Disponvel em: http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6105453/apr-apr-35980620088070003-df-0003598-0620088070003-tjdf. Acesso em: 30 de mar. 2013 BRASIL APR 474262920068070001 DF 0047426-29.2006.807.0001. Disponvel em: . Acesso em: 30 de mar. 2013 BRASIL Lei n 7492, de 16 de junho de 1986. Disponvel em: . Acesso em: 04 de nov. 2012 BRASIL Lei n 8.072, de 25 de julho de 1990. Disponvel em: . Acesso em: 04 de nov. 2012 BRASIL Lei n 8.137, de 27 de novembro de 1990. Disponvel em: . Acesso em: 05 de nov. 2012 BRASIL Lei n 9.034, de 3 de maio de 1995. Disponvel em: . Acesso em: 04 de Nov. 2012 BRASIL Lei n 9.613, de 3 de maro de 1998. Disponvel em: . Acesso em: 05 de nov. 2012 BRASIL Lei n 9.807, de 13 de julho de 1999. Disponvel em: . Acesso em: 05 de nov. 2012 BRASIL Lei n 11.343, de 23 de agosto de 2006. Disponvel em: . Acesso em: 06 de Nov. 2012 BRASIL Projeto e Lei n 6578 de 09 de dezembro de 2009. Disponvel em: . Acesso em: 27/04/2013 ESPANHA Ley Orgnica 10/1995, de 23 de noviembre, del Cdigo Penal. Disponvel em: . Acesso em: 23 de jan. 2013 Habeas Corpus n 23.479 - RJ (2002/0083604-9) Disponvel em: . Acesso em: 30 de mar. 2013

  • 39

    TJPI - Apelao Criminal APR 201200010015868 PI (TJPI). Disponvel em: . Acesso em: 30 de mar. 2013 TJSP- Processo: 20756420088260185 SP. Disponvel em: http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/18020983/20756420088260185-sp-tjsp. Acesso em: 30 de mar. 2013 AVENA, Norberto Cludio Pncaro. Processo Penal Para Concursos Pblicos. 4. Ed. So Paulo: Mtodo, 2008. BONFIM, Edlson Mougenot. Curso de Processo Penal. 7. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. CAPEZ, Fernando. Processo Penal. 15. ed. So Paulo: Damsio de Jesus, 2006 CELSO, Delmanto. Cdigo Penal Comentado. 6. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002 FERNANDES, Scarance Antonio (Org.); ALMEIDA, Jos Raul Gavio (Org.); MORAES, Mauricio Zanoide (Org.); Crime Organizado Aspectos Processuais. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. 8. ed. So Paulo: Saraiva, 2010 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execuo Penal. 5. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2008 OLIVEIRA, Eugnio Pacelli de. Curso de Processo Penal Atualizada de Acordo Com a Reforma Processual Penal de 2008 (lei 11.689, 11.690 e 11.719) e pela Lei 11.900 (novo interrogatrio), de 08/01/2009. Rio de Janeiro: Lmen Jris, 2009. PEREIRA, Frederico Valdez. Delao Premiada Legitimidade e Procedimento. Curitiba: Juru Editora, 2013. SILVA, Eduardo Arajo. Crime Organizado: Procedimento Probatrio. 2. ed. So Paulo: Atlas, 2009. TENRIO, Igor; LOPES, Igncio Carlos Dias: Crime Organizado. 1. ed. Braslia: Consulex, 1995 VADE MECUM. Obra Coletiva de Autoria da Editora saraiva. 13. ed. So Paulo: Saraiva, 2012.