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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Manuela Fernanda Braga de Lima Wzorek DELAÇÃO PREMIADA: UMA TRAIÇÃO BENÉFICA CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Manuela Fernanda Braga de Lima Wzorek

DELAÇÃO PREMIADA: UMA TRAIÇÃO BENÉFICA

CURITIBA

2011

DELAÇÃO PREMIADA: UMA TRAIÇÃO BENÉFICA

Curitiba

2011

Manuela Fernanda Braga de Lima Wzorek

DELAÇÃO PREMIADA: UMA TRAIÇÃO BENÉFICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel. Orientador: Afonso Henrique Prezoto Castelano.

CURITIBA

2011

TERMO DE APROVAÇÃO

Manuela Fernanda Braga de Lima Wzorek

DELAÇÃO PREMIADA: UMA TRAIÇÃO BENÉFICA

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de

Direito da Universidade Tuiuti do Paraná

Curitiba, 29 de Julho de 2011

____________________________________________

Direito

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Dr. Afonso Henrique Prezoto Castelano

Prof. Dr.

Prof. Dr.

RESUMO

No presente trabalho observam-se inúmeros diplomas legais que versam sobre o tema da Delação Premiada, que devido aos prêmios concedidos ao delator, estimula à confissão espontânea ou como diriam alguns, uma traição benéfica. Tendo com condição para se alcançar um determinado fim, a voluntariedade e espontaneidade do réu, em delatar um ou mais comparsas, conseguindo dessa forma a diminuição de sua pena ou até mesmo o perdão judicial. Menciona-se quanto à eficácia do programa de proteção ás vítimas e testemunhas ameaçadas. Discute-se também quanto à violação dos princípios do contraditório e da ampla defesa, como também o da proporcionalidade da aplicação da pena. E, principalmente questiona-se a eficácia de um instituto que confia no réu que participou do crime para a elucidação do mesmo. Para alguns doutrinadores a delação caracteriza-se como uma afronta aos direitos e garantias individuais, bem como uma forma antiética de comportamento social.

Palavra chave: Delação Premiada, testemunhas, voluntariedade, espontaneidade, direitos, valor probatório.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 5 CAPÍTULO I - DELAÇÃO PREMIADA ....................................................................... 8 

1.1 - CONCEITO.......................................................................................................... 8 1.2 - ORIGEM DO INSTITUTO NO DIREITO BRASILEIRO ................................. 9 1.3 - A DELAÇÃO PREMIADA E SUA PREVISÃO LEGAL................................ 10 1.4 - DELITOS CABÍVEIS ........................................................................................ 13 1.5 - REQUISITOS DA DELAÇÃO PREMIADA ................................................... 14 1.6 - MOMENTO DA SUA REALIZAÇÃO ............................................................. 18 1.7 - QUANTO A LOCALIZAÇÃO DA VÍTIMA ................................................... 20 1.8 - NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA ...................................................... 21 1.9 - APLICAÇÃO DO INSTITUTO NO CRIME DIVERSO ................................. 22 

CAPÍTULO II - RÉUS AMEAÇADOS ....................................................................... 23 2.1 - A PROTEÇÃO A RÉUS AMEAÇADOS ......................................................... 23 2.2 - A PROTEÇÃO ÁS VÍTIMAS E TESTEMUNHAS AMEAÇADAS ............... 24 

2.2.1 - Nos Estados Unidos ..................................................................................... 24 2.2.2 - Na Itália ........................................................................................................ 28 2.2.3 - No Canadá .................................................................................................... 31 2.2.4 - Na Inglaterra ................................................................................................ 32 2.2.5 - No Brasil ...................................................................................................... 33 

2.3 - ESTATÍSTICAS DA APLICAÇÃO DO PROGRAMA ................................... 36 CAPÍTULO III - PRINCÍPIOS E ASPECTOS DA DELAÇÃO PREMIADA ............ 38 

3.1 - DO DIREITO DE NÃO PRODUZIR PROVA CONTRA SI MESMO ........... 38 3.2 - DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA ............................................................ 38 3.3 - DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA ........................................... 40 3.4 - ASPECTOS NEGATIVOS E POSITIVOS DA DELAÇÃO PREMIADA ...... 41 

CONCLUSÃO ............................................................................................................... 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 48 

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INTRODUÇÃO

“Então, um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com o príncipe dos sacerdotes e perguntou-lhes: “Que quereis dar-me e eu vo-lo entregarei”. Ajustaram com ele trinta moedas de prata. E desde aquele instante, procurava uma ocasião favorável para entregar Jesus”1

O objetivo deste trabalho é colocar o conceito da Delação Premiada a sua

origem dentro da história, demonstrando de que forma e em quais situações este

instituto pode ser aplicado e quais seus benefícios, bem como exemplificando detalhes

no tocante a sua aplicação dentro de nosso ordenamento jurídico.

Pode-se capitular que a Delação Premiada teve sua origem nas ordenações

Filipinas, mas como a traição era a base para atender aos requisitos desta instituição,

acabou sendo deixada ao esquecimento tendo seu retorno ao nosso ordenamento

jurídico com a Lei de Crimes Hediondos lei nº 8072/90.

Verifica-se que são várias as expressões apresentadas em nosso país, mas

ficou consagrada e conhecida como Delação Premiada mesmo não sendo citada com

esta terminologia em nosso ordenamento.

Vários diplomas legais aderiram ao instituto: Lei 8.137/1990 (Lei dos Crimes

contra a Ordem Tributária), Lei 7.492/1986 (Lei dos Crimes contra o Sistema

Financeiro), Lei 9.034/95 (Lei do Crime Organizado), o Código Penal em seu artigo

159, parágrafo 4º com redação determinada pela Lei 9.269/1996, Lei 9.613/98 (Lei de 1 BÍBLIA SAGRADA, Evangelho segundo Mateus, capítulo 26, versículos 14 a 16. Edição segundo a tradução original aprovada pelo Patriarca Arcebispo Eleito de Lisboa, atualizada e anotada no Brasil por eminentes especialistas. Novo Brasil Editora – São Paulo. p. 690, 1988.

6

Lavagem ou ocultação de Bens), Lei 9.807/99 (Lei de Proteção a Vítimas e

Testemunhas) e Lei 11.343/2006 (Lei de Tóxicos), existindo explicitamente nos

diplomas legais nomeados, vários delitos em que o réu pode se beneficiar da Delação

Premiada.

Neste trabalho procura-se demonstrar em que condições serão oferecidos e

qual das situações terá o réu-colaborador a concessão de tal benefício, de que maneira

e quando este réu deverá colaborar, contribuindo com informações concretas que

levem a elucidação do delito, que contribuam para o desmantelamento da quadrilha ou

bando, em que local a vítima está localizada, ou para uma atenuação de sua pena

fornecer informações no tocante ao crime.

Analisamos também os debates referentes à natureza jurídica de uma sentença,

se condenatória, absolutória ou declaratória, quando da aplicação do benefício ao réu

no cometimento de um crime diverso.

Com a promulgação da Lei 9.807/99, e a implantação do programa para

resguardar a integridade física das vítimas e testemunhas ameaçadas, fica demonstrado

através dos benefícios oferecidos, que os mesmos não ficam restritos somente aos réus

condenados, conforme observa-se em seus artigos 13, 14 e 15.

O que se espera de um programa como este é uma demonstração do real

atendimento a estas pessoas que estão ameaçadas de alguma forma, mas hoje

encontramos grandes dificuldades na apuração de uma estatística sobre o programa de

proteção as vítimas e testemunhas ameaçadas, pois nos deparamos com informações

desatualizadas, mesmo através de contatos diretos com as secretarias responsáveis

dentro da União e Estado, mostrando assim uma falha nesta matéria.

7

Com relação ao benefício concedido ao réu delator, verificar-se-á inúmeras

críticas dos doutrinadores, sendo considerado até imoral, mas tendo uma gama de

seguidores e defensores que são os advogados criminalistas, que são contratados para

atuar na defesa dos mais diversos tipos de delitos, o que se mostraria corrompida, com

a violação do princípio do contraditório, ampla defesa e o princípio da

proporcionalidade da pena, sendo que as informações apresentadas poderão ser

sigilosas e os colaboradores que ajudaram no cometimento do mesmo delito terão

penas diferenciadas.

No presente trabalho serão demonstradas algumas considerações sobre os

aspectos positivos e negativos da delação premiada, contado com sua verdadeira

aplicação dentro de nosso ordenamento jurídico, proporcionando a análise e

confirmação de que a delação premiada poderá ser vista como uma traição que

beneficie sobre tudo as questões para desmantelamento de uma quadrilha ou bando, ou

para que se encontre vítimas de seqüestros sem que se chegue ao delito inserido em

nossos códigos, que seria a morte da vítima.

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CAPÍTULO I - DELAÇÃO PREMIADA

1.1 - CONCEITO

Delatar significa acusar, denunciar ou revelar. "Premiada", devido aos

prêmios que o legislador concede ao delator, diminuindo sua pena ou até mesmo o

perdão judicial.

Cezar Roberto Bitencourt define delação premiada2:

“Consiste na redução de pena (podendo chegar, em algumas hipóteses, até mesmo a total isenção de pena), para o delinqüente que delatar seus comparsas, concedida pelo juiz na sentença final condenatória, desde que sejam satisfeitos os requisitos que a lei estabelece (...)”

Para Guilherme de Souza Nucci3:

“Delatar significa acusar, denunciar ou revelar. Processualmente, somente tem sentido falarmos em delação quando alguém, admitindo a prática criminosa, revela que outra pessoa também ajudou de qualquer forma. Esse é um testemunho qualificado, feito pelo indiciado ou acusado. Naturalmente, tem valor probatório, especialmente porque houve admissão de culpa pelo delator. (...)”

Rogério Sanches Cunha4 demonstra que:

“A delação premiada pode se firmar como causa extintiva da punibilidade na forma de perdão judicial, o qual é direito público subjetivo do delator diante da eficiência das informações prestadas as autoridades incumbidas da persecução penal”.

Para Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha a delação premiada consiste5:

A delação, ou chamamento de co-réu, consiste na afirmativa feita por um acusado, ao ser interrogado em juízo ou ouvido na polícia, e pela qual, além de confessar a autoria de um fato criminoso, igualmente atribui a um terceiro a participação como seu comparsa. Afirmamos

2 BITENCOURT, Cesar Roberto, e. Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional e Contra o Mercado de Capitais, 1ª ed, ed. Lumen Juris, RJ 2010, p.303. 3 NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Processo Penal e Execução Penal. 7ª ed., ed. Revistas dos Tribunais. São Paulo, 2011, p.447. 4CUNHA, Rogério Sanches, Limites Constitucionais da Investigação. 1ª ed., ed. Revistas dos Tribunais, São Paulo, 2011, p. 173. 5 RANHA, Adalberto José Q. T. de Camargo, Da Prova no Processo Penal, 4ª ed. Atualizada e ampliada, ed. Saraiva, São Paulo, 1996, p.110.

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que a delação somente ocorre quando o acusado e réu também confessa, porque, se negar a autoria e atribuí-la a um terceiro, estará escusando-se e o valor da afirmativa como prova é nenhum.

Com todos esses conceitos e definições sobre o instituto da delação

premiada, verifica-se que é um negócio jurídico bilateral, onde de um lado está o

acusado de crime ou co-réu, que em seu interrogatório, seja na investigação policial ou

em juízo, confessa a prática do ato criminoso, e da mesma forma incrimina um terceiro

por esse mesmo fato; e de outro lado está o Estado que irá conceder um prêmio para o

delinqüente que delatar seus comparsas, podendo desta forma haver a redução de sua

pena ou até mesmo o perdão judicial.

A concessão do prêmio ao delator tem como objetivo promover ao Estado o

conhecimento de fatos inerentes ao crime, proporcionando a interrupção dos atos

delituosos, principalmente quando ligados ao crime organizado, que pelo seu formato,

dificulta o trabalho das autoridades em desvendar e punir os seus responsáveis

somente com uma simples investigação.

1.2 - ORIGEM DO INSTITUTO NO DIREITO BRASILEIRO

Sua origem remonta às Ordenações Filipinas que vigorou de janeiro de 1603

até a entrada em vigor do Código Criminal de 1830.

O Código Filipino traduzia o crime como “Lesa Majestade”, cuidando

especificamente do tema, que dizia: “Como se perdoará aos malfeitores que derem

outros à prisão”6.

Devido a sua questionável ética, uma vez que incentivava uma traição, ou

seja, uma forma antiética de comportamento social, o instituto acabou sendo

6 JESUS, Damásio E. de, Revista Bonijuris, ano XVIII, n. 506, p. 09/10, jan.2006, consulta acervo biblioteca Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

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abandonado, reaparecendo somente na década de 1990, com a Lei dos Crimes

Hediondos, sendo posteriormente regulamentado por vários diplomas legais.

1.3 - A DELAÇÃO PREMIADA E SUA PREVISÃO LEGAL

Observa-se atualmente que vários diplomas legais do ordenamento jurídico

brasileiro dispõem a cerca da Delação Premiada, e isto se dá devido ao grande

aumento de crimes, onde são utilizados cada vez mais meios sofisticados por aqueles

que cometem os atos delituosos, sendo praticados em concurso de agentes de uma

forma organizada.

Neste sentido vem a delação premiada como uma forma de auxílio para o

Estado no combate a essa espécie de criminalidade, como se vê em diversos textos

legais, os quais estão colocados em um rol para melhor compreensão sobre o tema.

a) Lei dos Crimes Hediondos, Lei nº 8.072/90, no seu artigo 8º parágrafo

único, que dispõe:7

Art. 8º-Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único - O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.

b) Lei dos Crimes Contra a Ordem Tributária, Lei nº 8.137/90, artigo 16,

parágrafo único, acrescentado pela Lei nº 9.080/95, que dispõe: 7 EMENTA: CRIMINAL. RECURSO DE APELAÇÃO. CONDENAÇÃO POR TRÁFICO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. Art. 33 da Lei 11.343/2006. Recurso de defesa irresignação tão somente quanto a aplicação da pena-base aventada incursão em bis in idem suposta exasperação de pena em razão da quantidade de droga apreendida, e que teria sido valorada negativamente na culpabilidade e nas circunstâncias do delito tese não acatada decisão que valorou a quantidade de droga apenas para justificar o elevado grau de reprovabilidade da conduta confissão espontânea circunstância não reconhecida na sentença decisão escorreita réu que, em interrogatório extraconjugal, se reservou a permanecer calado e, em juízo, negou a autoria do delito aplicação da causa de redução de pena contida no Artigo 33, § 4º, da lei 121.343/06. Impossibilidade circunstâncias do crime que revelam dedicação a atividades criminosas delegação premiada Artigo 41 da lei 11.343/06. Inaplicabilidade ao caso em tela ausência de demonstração quanto a identificação objetiva e eficaz de integrantes da organização crimino – recurso desprovido (TJ – PR – Relator Des. Jefferson Alberto Johnson, 3º Câmara Criminal, 2008).

11

Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos crimes descritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a autoria, bem como indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção. Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.

c) Lei dos Crimes Contra o Sistema Financeiro, Lei nº 7.492/86, artigo 25,

parágrafo 2º, com a redação dada pela Lei nº 9.080/95, que dispõe:

Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o controlador e os administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores, gerentes (Vetado). Parágrafo 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.

d) Lei do Crime Organizado, Lei nº 9.034/95, artigo 6º, que dispõe:

Art. 6º-Nos crimes praticados em organizações criminosas, a pena será reduzida de um a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento de infrações penais e sua autoria.

e) Código Penal de 1940, no seu artigo 159, parágrafo 4º com redação

determinada pela Lei 9.269/1996, que dispõe:

Art.159-Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate. Parágrafo 4º-Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

f) Lei de Lavagem ou ocultação de Bens, Lei nº 9.613/98 artigos 1º parágrafo

5º que dispõe8:

8 DECISÃO: ACORDÃO, os Desembargadores integrantes da Segunda Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná, por unanimidade de votos, em conceder a ordem impetrada, com extensão ao co-denunciado Ricardo Henrique Nogueira, expedindo-se alvarás de soltura clausulados em favor de ambos. EMENTA: HABEAS CORPUS. - CORRUPÇÃO PASSIVA MAJORADA, DIVERSAS VEZES (CONCURSO FORMAL); FORMAÇÃO DE QUADRILHA MAJORADA; CRIME DE LAVAGEM OU OCULTAÇÃO DE

12

Art. 1º-Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente de crime. Paragrafo 5º-A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se o autor, co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime..

g) Lei de Proteção as Vítimas e Testemunhas, Lei nº 9.807/99, artigos 13 e 14,

que dispõe:

Art.13-Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa; II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada; III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.

Art. 14 - O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.

h) Lei de Drogas, Lei nº 11.343/2006 no seu artigo 41, que dispõe:9

BENS OU VALORES. - CONCURSO MATERIAL. - PRISÃO PREVENTIVA. - LIBERDADE CONCEDIDA A OUTROS TRÊS CUSTODIADOS PELO MESMO DECRETO. - JUÍZO A QUO QUE CONCEDEU BENEFÍCIO DA LEI DE PROTEÇÃO AS VÍTIMAS, TESTEMUNHAS E COLABORADORES DA JUSTIÇA (LEI Nº 9.807/99). - CONDIÇÕES PESSOAIS E PROCESSUAIS SEMELHANTES. - EXEGESE DO ARTIGO 580 DO CPP. - EXTENSÃO DOS EFEITOS DA LIBERDADE AO PACIENTE E AO CO-DENUNCIADO. - ORDEM CONCEDIDA COM EXPEDIÇÃO DOS ALVARÁ DE SOLTURA. I. Por ter o Juízo Singular concedido liberdade provisória a três dos cinco custodiados, necessária extensão dos efeitos aos demais custodiados pelo mesmo decreto, dentre eles o ora paciente. II. Os aspectos pessoais dos réus são semelhantes, primários, bons antecedentes, endereço e residências fixas, não se justificando a manutenção da custódia de dois réus, quando os demais respondem à ação penal em liberdade. Deve ser assegurado o direito à igualdade de tratamento dos réus denunciados em concurso de agentes.(TJ - Paraná – Relator Desembargador Lídio José Rotoli de Macedo 2ª Câmara Criminal Decisão Unânime 2007).

9Toma-se como exemplo neste sentido: EMENTA: HABEAS CORPUS PENA DE MULTA. MATÉRIA NÃO SUSCITADA NAS INSTÂNCIAS PRECEDENTES. NÃO CONHECIMENTO RÉU BENEFICIADO COM A DELAÇÃO PREMIADA. EXTENSÃO PARA O CO-RÉU DELATADO. IMPÓSSIBILIDADE. TRÁFICO DE ENTORPECENTE INTUITO COMERCIAL, ELEMENTO INTEGRANTE DO TIPO. 1 A questão referente à nulidade da pena de multa não pode ser conhecida nesta Corte, por não ter sido posta a exame das instâncias precedentes. 2. Descabe estender ao co-réu o benefício do afastamento da pena, auferido em virtude da delação

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Art.41-O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.

A natureza jurídica da delação premiada verifica-se a partir do momento que o

indivíduo preenche os requisitos mencionados acima, podendo ele ter a diminuição de

sua pena ou até mesmo o perdão judicial, o que não exclui o crime, uma vez que só há

a extinção do jus puniendi, ou seja, o direito de punir do Estado, devido à colaboração

voluntária ou espontânea que o réu prestou nas investigações.

Verifica-se então a ausência de qualquer semelhança com qualquer meio de

prova prevista no ordenamento jurídico brasileiro, já que não se pode falar em

testemunho ou confissão, uma vez que o primeiro é a pessoa que declara ter tomado

conhecimento de algo, podendo confirmar a sua veracidade, devendo dizer a verdade e

ser imparcial, já o segundo a afirmação incriminadora deverá atingir o próprio

confidente, o que não ocorre na delação premiada, já que o foco principal também é

um terceiro que ajudou no fato criminoso.

1.4 - DELITOS CABÍVEIS

Verifica- se que a delação premiada não é utilizada nos crimes comuns, ou

seja, aquele praticado por qualquer pessoa. Portanto, conforme previsão legal, o réu

para se beneficiar deste instituto deverá ter praticado os delitos acima mencionados.

viabilizadora de sua responsabilidade penal. 3. Sendo o intuito comercial integrante do tipo referente ao tráfico de entorpecentes, não pode ser considerado como circunstância judicial para exasperar a pena. Ordem concedida, em parte, para, mantido o decreto condenatório, determinar que se faça nova dosimetria da pena, abstraindo-se a referida circunstância judicial. (STF Habeas Corpus nº 85.176 PE Relator Min. Marco Aurélio 1ª turma. 10 NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Processo Penal e Execução Penal. 7ª ed., ed Revistas dos Tribunais. São Paulo, 2011, p.461. 11ARANHA, Adalberto José Q. T. de Camargo, Da Prova no Processo Penal, ed. Saraiva, 7ª ed. Atualizada e ampliada São Paulo, 2006, p. 112.

14

Conclui-se que nas oito leis que tratam a cerca da Delação Premiada, se pode

notar a redução da pena em um a dois terços, porém na Lei de Lavagem ou Ocultação

de Bens, a pena é reduzida de um a dois terços e começa a ser cumprida em regime

aberto, onde o juiz pode deixar de aplicar a pena ou substituí-la por pena restritiva de

direitos.

Na lei de Proteção às Vítimas e Testemunhas, o juiz pode conceder até o

perdão judicial, se ele for primário, verificando a sua personalidade e as circunstancia

que levaram ao cometimento do fato criminoso; ou não sendo o acusado primário

pode lhe ser aplicado à redução da pena de um a dois terços.

1.5 - REQUISITOS DA DELAÇÃO PREMIADA

Conforme previsto da legislação brasileira, o réu poderá ter extinta a sua

punibilidade, seja na forma de perdão judicial, ou diminuição de pena, desde que

cumprido certos requisitos10.

Algumas leis falam em colaboração voluntária e outras colaboração

espontânea, ou ainda em réu-colaborador.

A colaboração voluntária e a espontânea ocorrem sem a intervenção humana,

ou seja, ambas deverão partir da livre vontade do réu, sem a intervenção de terceiros,

e não poderão ser cumuladas. Sendo assim, se a lei exige espontaneidade o acusado

deve agir como sendo este seu desejo pessoal, já na voluntariedade não importa se o

acusado age com espontaneidade podendo ser a idéia do benefício da delação

premiada de um terceiro, por exemplo, mas o acusado deve estar de acordo e não

sofrer nenhum tipo de coação.

10 GRECO, Rogério. Código Penal Comentado, art. 107, IX, 5ª ed., ed. Impretus, São Paulo, 2011.

15

Já no que tange o réu-colaborador, este deve denunciar seu bando ou

quadrilha e outras apenas os co-autores do crime, portanto, em alguns casos basta que

o réu-colaborador tenha se reunido com no mínimo outra pessoa para caracterizar o

concurso de pessoas.

Em todas as situações, as informações prestadas pelo réu deverão ser precisas,

efetivas e eficazes, contribuindo efetivamente para o desvendamento das infrações

penais, fazendo com que o Estado descubra quem são os integrantes da organização

criminosa. Sendo assim, a concessão do benefício da delação premiada, é, portanto,

um direito público e subjetivo do réu, desde que estejam presentes os requisitos da

delação premiada.

Abaixo analisaremos as leis que norteiam a Delação Premiada:

a) A Lei dos Crimes Hediondos aponta que, o acusado deve denunciar o

bando ou quadrilha possibilitando o seu desmantelamento;

Assim, tendo o acusado delatado o bando ou quadrilha, e essa informação

tenha ajudado no desmantelamento dela, tem o acusado o direito ao benefício da

redução da pena.

b) A Lei dos Crimes Contra a Ordem Tributária aponta que, o acusado deve

revelar toda a trama delituosa;

Neste caso, o acusado somente revela a autoridade à trama delituosa, possui

assim o direito ao benefício da delação premiada.

c) A Lei dos Crimes Contra o Sistema Financeiro aponta que, o acusado deve

mostrar à autoridade judicial toda a trama delituosa;

Também neste caso, o acusado somente revela a autoridade à trama delituosa,

16

possui assim o direito ao benefício da delação premiada.

d) A Lei do Crime Organizado aponta que, o acusado deve levar ao

esclarecimento de infrações penais e sua autoria;

Nesta Lei, o acusado deve esclarecer as infrações penais e revelar seus

comparsas, devendo sua colaboração ser espontânea.

e) O Código Penal aponta que, o acusado deve informar a autoridade

competente o local onde está à vítima ou, caso não saiba onde ela está, deve indicar

ou fornecer outras informações que possam possibilitar à localização da vítima.

f) A Lei de Lavagem ou Ocultação de Bens aponta que o acusado deve prestar

esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e sua autoria ou à

localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime;

Neste caso, o acusado deve prestar informações que permitam a autoridade

competente apurar infrações penais e sua autoria ou a localização dos bens objeto do

crime, observe-se que aqui existe o termo ou um ou outro, não se exigindo os dois.

g) A Lei de Drogas aponta que, o acusado deve colaborar na identificação dos

demais co-autores e na recuperação total ou parcial do produto do crime;

Aqui, o acusado deve colaborar na identificação dos comparsas e na

recuperação total ou parcial do produto do crime, neste caso a lei exige que sejam

cumulativas as duas situações, mas não exige que o produto do crime seja recuperado

integralmente.

h) A lei de Proteção às Vítimas e Testemunhas no artigo 13 aponta que o

acusado, sendo primário, tenha colaborado com a investigação e dela resulte: a

identificação dos demais co-autores; a localização da vítima com sua integridade

17

física preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Neste artigo, a Lei concede o perdão judicial, mas ela não é clara quanto à

cumulatividade ou alternatividade. Na cumulatividade, o réu deve ser primário e

cumprir os três incisos, na alternatividade ser primário e cumprir um ou outro inciso.

Damásio11 adota a posição de alternatividade como podemos verificar:

1º cumulatividade: a satisfação deve ser simultânea: o réu deve preencher, ao mesmo tempo, todas as exigências legais (cúmulo material); 2º alternativa: o atendimento a uma só das três condições satisfaz o tipo. Minha posição: a segunda.

Nucci,12 também afirma, “portanto, parece-nos natural concluir pela

alternatividade dos requisitos”.

Diante disto, verifica-se que aplicação da alternatividade é mais aceitável,

devido à dificuldade do réu conseguir ser primário e ainda cumprir com os três

requisitos.

O artigo 14 contempla os acusados que não são primários concedendo a eles o

benefício de diminuição da pena de um a dois terços caso o acusado colabore na

identificação dos demais co-autores, na localização da vítima com vida e na

recuperação total ou parcial do produto do crime.

Este artigo refere-se ao acusado que não é primário, portanto não pode ser

contemplado pelo perdão judicial do artigo 13, tendo sua pena apenas reduzida.

Todos os artigos legais citados mencionam a diminuição da pena como foco

principal concedido àqueles indivíduos que colaboram com a justiça através

informações concretas e precisas, facilitando assim, a verdade processual.

11JESUS, Damásio E. de, Revista Bonijuris, ano XVIII, n. 506, jan.2006, p. 09/10, consulta acervo biblioteca Ministério Público do Estado do Paraná. 12 NUCCI, Guilherme de Souza, Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, 1ª ed., ed. RT, São Paulo, 2006, p. 678.

18

As informações prestadas deverão estar relacionadas com a ação penal,

devendo ter um alto grau de importância, e sendo elas imprecisas ou mentirosas o

beneficio delação estará completamente comprometido.

Para Eugênio Pacelli de Oliveira, a efetiva colaboração ocorrerá quando em

um ato criminoso puder apontar todos os envolvidos, ou seja, deverá ocorrer a

identificação os co-autores e partícipes, constituindo assim os elementos definidores

da colaboração do acusado13.

1.6 - MOMENTO DA SUA REALIZAÇÃO

De acordo com a Lei do Crime Organizado não há previsão temporal para a

delação premiada, o que já não ocorre com a Lei de Drogas e na Lei de Proteção as

Vítimas e Testemunhas, onde se verifica que o momento da delação deverá ocorrer na

fase investigatória ou no curso do processo criminal, desta forma, encerrado o

processo o acusado não poderá mais se valer deste benefício.

Para Cassio Roberto Conserino, o momento da colaboração poderá ocorrer

em qualquer fase da investigação ou durante o processo14.

Mendroni afirma quanto ao momento processual que15,

Como a lei não estabelece o momento processual, as indicações (esclarecimentos), segundo interpretamos, devem ainda necessariamente ser prestadas no máximo em período de tempo próximo ao seu interrogatório judicial, para que não sirva de “tábua de salvação” aquele acusado que esteja prestes a ser sentenciado, visando assim a devida apuração e comprovação por parte da polícia e do Ministério Público, ainda no decorrer do processo.

13 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de, Curso de Processo Penal, 12ª ed., ed. Lumen Juris, Rio de Janeiro 2009, p. 714 . 14 CONSERINO, Cassio Roberto, Crime Organizado Institutos Correlatos. Edição 1ª, Ed. Atlas, São Paulo 2011, p. 115. 15 MENDRONI, Marcelo Batlouni, Crime Organizado, Aspectos Gerais e Mecanismos Legais. Edição 1ª, Ed. Atlas São Paulo 2007, p. 44.

19

Damásio afirma que, não se pode excluir a aplicação do benefício após a

sentença,

A análise dos dispositivos referentes à delação premiada indica, em uma primeira análise, que o benefício somente poderia ser aplicado até a fase da sentença. Não se pode excluir, todavia a possibilidade de concessão do prêmio após o trânsito em julgado, mediante revisão criminal. Uma das hipóteses de rescisão de coisa julgada no crime é a descoberta de nova prova de "inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial de pena" (art. 621, III, do CPP). Parece-nos sustentável, portanto, que uma colaboração posterior ao trânsito em julgado seja beneficiada com os prêmios relativos à delação premiada. O argumento de que não seria cabível em fase de execução, por ser o momento de concessão dos benefícios (redução de pena, regime penitenciário brando, substituição de prisão por pena alternativa ou extinção da punibilidade) da sentença, não nos convence. O art. 621 do CPP autoriza explicitamente desde a redução da pena até a absolvição do réu em sede de revisão criminal, de modo que este também deve ser considerado um dos momentos adequados para exame de benefícios aos autores de crimes, inclusive em relação ao instituto ora analisado. Exigir-se-á, evidentemente, preenchimento de todos os requisitos legais, inclusive o de que o ato se refira à delação dos co-autores ou partícipes do(s) crime(s) objeto da sentença rescindenda. Será preciso, ademais, que esses concorrentes não tenham sido absolvidos definitivamente no processo originário, uma vez que, nessa hipótese, formada a coisa julgada material, a colaboração, ainda que sincera, jamais seria eficaz, diante da impossibilidade de revisão criminal pro societate16.

Diante das considerações dos autores, verifica-se que a concessão da delação

premiada deve ser analisada caso a caso.

Com as afirmações de Mendroni, o réu poderá sim em momento de

desespero, principalmente com a aproximação da sentença condenatória, se utilizar da

delação, fornecendo fatos vagos ou mentirosos para protelar a sentença ou safar seus

comparsas. Poderá ainda se utilizar de fatos verdadeiros, porém devido o decorrer dos

dias da ação penal, pouco poderá ajudar o desvendamento da ação criminosa.

Damásio17 ao analisar o artigo 621 do Código de Processo Penal, verifica a

16 JESUS, Damázio E.de, Ibidem, p.10 17 JESUS, Damázio E.de, Ibidem, p.10.

20

possibilidade de uma revisão criminal, quando houver novas provas. Tendo como

exemplo, o réu que participou de um roubo, mas quando seus comparsas é que

esconderam o objeto do crime. Tendo este posteriormente descoberto de alguma

forma, denuncia às autoridades em fase de revisão criminal para se beneficiar através

do instituto.

Sendo assim, concluímos que a delação poderá ser requerida após a sentença

em fase de revisão criminal, no entanto o Poder Judiciário fará uma análise na qual

verificará o grau de importância nesta fase do processo.

1.7 - QUANTO A LOCALIZAÇÃO DA VÍTIMA

Existem situações distintas para a localização da vítima:

a) Como preleciona Código Penal em seu artigo 159 parágrafo 4º, o réu-

colaborador deve facilitar a libertação do seqüestrado, tendo o réu-colaborador

mostrado concretamente a localização da vítima independente desta ter sofrido ou não

lesões corporais, sendo colocada em liberdade, o Juiz quando pronunciar a sentença

verificará a redução da pena.

b) A Lei nº 9.807/99, Lei de Proteção as Vítimas e Testemunhas em seu artigo

14 da dispõe que: o acusado deve colaborar na localização da vítima com vida, desta

fita o que se pode verificar desta afirmativa é que se o réu simplesmente tiver

colaborado na localização da, (entenda-se não é libertação como o artigo anterior, é a

simples localização da vítima), estando com vida, o juiz quando da sentença fará

apreciação quanto à redução da pena.

Já no artigo 13 inciso II da Lei de Proteção as Vítimas e Testemunhas dispõe

que: o acusado deve colaborar na localização da vítima com sua integridade física

21

preservada, verifica-se neste instante que novamente se fala em simples localização e

não libertação, desde que a integridade física da vítima esteja preservada. Caso a

vítima tenha sofrido maus tratos ou lesões corporais, o réu-colaborador não possui o

direito ao perdão judicial com o qual seria contemplado.

Verifica-se um problema, pois nas três hipóteses fala-se em “vítima ou

seqüestrado” no singular, e nos casos de vítimas no plural? Nucci trata do tema18,

Parece-nos que, atuando o agente para a localização de uma ou mais vitimas, desde que haja sucesso, pode merecer o benefício. Tudo depende do caso concreto. Se houver mais de um ofendido e o delator indica o paradeiro de um deles, mas omite outro(s) apenas para continuar a exigir resgate (por exemplo), é obvio que não tem direito ao perdão. Porém, se duas forem as vítimas, indicando o paradeiro daquela que conhece, permitindo seu resgate, com a integridade física preservada, ainda que a outra, desconhecida do delator, não se salve, é possível aplicar o perdão.

Nota-se que o juiz ao analisar o caso concreto deve verificar as reais intenções

do réu-colaborador, ou a sua efetiva colaboração, para descobrir se realmente tinha

reais intenções de colaborar ou se ele tentava burlar a lei em questão.

1.8 - NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA

Observa-se a existência de uma exceção no artigo 13 da Lei de Proteção às

Vítimas e Testemunhas, a natureza jurídica da sentença é condenatória com redução da

pena de um a dois terços, conforme fique demonstrada a colaboração do réu. O que se

pode notar é que, em outras leis aparece somente “no caso de condenação”.

Na mesma lei em questão, caso seja observado que o réu colaborador for

merecedor do perdão judicial, a sentença não é condenatória, nem absolutória. Desta

forma será declaratória da extinção da punibilidade, de acordo com a Súmula 18 do

Superior Tribunal de Justiça “A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória 18 NUCCI, Guilherme de Souza, Ibidem, p. 678 e 679.

22

da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório”, sendo que

no artigo 13 da referida lei se fala em “conseqüente extinção da punibilidade”.

1.9 - APLICAÇÃO DO INSTITUTO NO CRIME DIVERSO

Verifica-se se é possível aplicação do instituto da Delação Premiada em crime

diverso.

Para Damásio de Jesus,19:

Entende que não, uma vez que as normas relativas à matéria exigem que o sujeito ativo da delação seja participante do delito questionado (co-autor ou partícipe). Em nosso ordenamento jurídico, essa possibilidade somente era possível quando da vigência das Ordenações Filipinas. Agora não mais.

Sendo assim, entendemos que não, pois de acordo com a legislação brasileira

o benefício da delação premiada deverá ser para o sujeito delator do crime que tenha

sido “participante”, “concorrente do crime”, “concorrido em concurso”, “demais co-

autores”, da mesma ação delituosa.

19 JESUS, Damásio E. de, Ibidem, p.10, jan.2006.

23

CAPÍTULO II - RÉUS AMEAÇADOS

2.1 - A PROTEÇÃO A RÉUS AMEAÇADOS

A proteção aos réus presos está prevista no artigo 15º da Lei 9.807/99, que

dispõe:

Art. 15. Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela, medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física, considerando ameaça ou coação eventual ou efetiva.

§ 1o Estando sob prisão temporária, preventiva ou em decorrência de flagrante delito, o colaborador será custodiado em dependência separada dos demais presos.

§ 2o Durante a instrução criminal, poderá o juiz competente determinar em favor do colaborador qualquer das medidas previstas no art. 8o desta Lei.

§ 3o No caso de cumprimento da pena em regime fechado, poderá o juiz criminal determinar medidas especiais que proporcionem a segurança do colaborador em relação aos demais apenados.

E ainda podemos perceber que no artigo 2º em seu parágrafo 2º desta mesma

lei, que estão excluídos da proteção os indivíduos cuja personalidade ou conduta seja

incompatível com os requisitos exigidos pelo programa, os condenados que estejam

cumprindo pena e os indiciados ou acusados sob prisão cautelar em qualquer de suas

modalidades.

Diante disto, a proteção aos a esses réus colaboradores não será prestada pelo

programa de assistência às vítimas e testemunhas, e sim pelos órgãos de segurança

pública, os quais deverão tomar medidas cabíveis a fim de proteger a integridade

dessas desses indivíduos.

Recebendo a proteção do programa o réu colaborador terá as seguintes

24

providências20:

- Alteração do nome completo, podendo essa providência ser estendida aos

familiares e a inclusão em programa de proteção;

- segurança na residência, incluindo o controle de telecomunicações;

- apoio e assistência social, médica e psicológica;

- apoio do órgão executor do programa para o cumprimento de obrigações

civis administrativas que exijam o comparecimento pessoal;

- sigilo em relação aos atos praticados em virtude da proteção concedida;

- suspensão temporária das atividades funcionais, sem prejuízo dos respectivos

vencimentos ou vantagens, quando servidor público ou militar

- transferência de residência ou acomodação provisória em local compatível

com a proteção.

2.2 - A PROTEÇÃO ÁS VÍTIMAS E TESTEMUNHAS AMEAÇADAS

Para que se possa ter uma melhor compreensão a respeito do Programa de

Proteção ás Vítimas e Testemunhas e como esse programa chegou ao Brasil, se faz

necessário um estudo a cerca do mesmo programa em outros países, principalmente os

Estados Unidos que foi o primeiro país a criar o programa.

2.2.1 - Nos Estados Unidos

Os Estados Unidos foi o primeiro país a criar um programa do gênero, onde

era chamado de serviço Marshall, que visava proteger Juízes Federais, Jurados e em

determinadas situações também protegia o Presidente da República.

20 CONSERINO, Cassio Roberto, Crime Organizado Institutos Correlatos. 1ª ed., ed. Atlas, São Paulo 2011, pág. 123

25

O programa foi autorizado em 1970 pelo Organized Crime Control Act, e foi

emendado pelo Comprehensive Control Act of 1984, onde a agência Federal Marshalls

Service faz todo o gerenciamento e de segurança da Corte e do Poder Judiciário. Logo

após a autorização deste programa, em 1971 foi criado o Programa de Segurança da

Testemunha ou Programa Witsec21, que é vinculado ao Marshall, onde o lema adotado

até hoje é que o testemunho é a proteção para o resto da vida.

José Silveira22 em seu livro cita o pronunciamento proferido no I Seminário

Nacional de Proteção à Testemunha, realizado nos dias 11 e 12/12/1997 em Recife-PE,

Donald Baker, Inspetor Chefe do programa de Segurança à Testemunha de Miami,

Estados Unidos:

(...) Os empregados do Serviço Marshall são neutros no sistema de justiça e por essa razão o Congresso dos Estados Unidos, em 1971, depois que aprovou o projeto de Lei amabus de crime, encarregou o Marshall do Serviço de Proteção à Testemunha. O Marshall sabia como trabalhar com juízes, prisioneiros, advogados e com tribunal. Esta nova tarefa consistia em trabalhar com famílias, protegê-las, relocá-Ias para uma área segura, achar para a testemunha um local seguro para conseguir emprego, um lugar seguro para as crianças irem à escola. Prover cuidados médicos e apoio financeiro, dar a elas novas identidades, então tínhamos de apresentar ao tribunal a testemunha, em segurança para as medidas legais. Nada disso é tarefa fácil.

Para que se possa participar do programa, será realizada uma análise

preliminar pelo Promotor de Justiça que verificando se tratar de um caso que mereça

proteção direciona a testemunha para o Witsec. A testemunha quando de sua chegada

ao centro é submetida a uma grande quantidade de perguntas envolvendo também

pessoas da família ligadas diretamente a ela.

Com a aceitação da testemunha e seus familiares autorizando seu ingresso no

21 http://pt.scribd.com/doc/29662747/O-Programa-de-Protecao-a-Testemunhas-no-Brasil acessado em 24/07/11 as 11:31 22SILVEIRA, JOSÉ Braz da. A Proteção à Testemunha & o Crime Organizado no Brasil, Curitiba, Juruá, 1ª edição 2004, 3ª tiragem, p. 22 e 23, 2006.

26

programa de proteção a testemunha, passa então pelo Centro de Orientação, para

receberam todas as orientações sobre as regras a serem seguidas dentro do programa,

sendo seu primeiro compromisso, de não praticar nenhum delito, não colocar-se de

maneira entusiasta retornando a sua cidade natal, sem prévia comunicação ao Centro

de Apoio e sem acompanhamento de pessoas responsáveis (AGENTES) do programa,

não colocar-se em contato de forma alguma com antigos conhecidos, amigos e

parentes que tivesse ligação com seu passado.

As pessoas que participam do programa nos Estados Unidos da América têm a

garantia mesmo com grande dificuldade do cumprimento do prazo estipulado de

receberem em seis meses uma nova documentação. Mas a dificuldade demonstrada

está justamente com as crianças, pois as mesmas sentem grande dificuldade, por serem

chamadas por um determinado nome por todas as pessoas da família e pessoas ligadas

a família, e sem entenderem um dia tem outro nome, outra lugar para morar outra

escola, vizinhos e tudo mais que seja relacionado ao seu desenvolvimento dentro da

sociedade em que terá que conviver deste dia em diante, psicologicamente abaladas e

traumatizadas o programa tenta acalentar esta condição mudando somente o primeiro

nome.

Contudo mesmo diante de todas as fases em que passa a testemunha e seus

familiares, pode-se observar que um problema continua, pois quando se quer localizar

alguém não se verifica somente os nomes constantes em documento, mas também as

imagens, e este fato comprometem muito o programa, pois esta alteração de um rosto

(face) é praticamente impossível.

A testemunha que participa deste programa obtém uma nova vida, onde é

27

colocada em outra cidade, seus filhos são colocados em outra escola, a testemunha é

recolocada no mercado de trabalho em um novo emprego com renda suficiente para

sua manutenção e de seus familiares.

O aconselhamento que passa a testemunha referente a toda sua vida e

pertences, como tudo que agrega sua residência anterior como móveis, para que não

seja percebida sua mudança, não chamando desta forma a atenção de vizinhos e outras

pessoas, evitando serem descobertos não criando dificuldades de se estabelecerem em

sua nova vida, recebe a testemunha uma verba proporcionada pelo governo para que

possa suprir suas necessidades de acordo com o custo de vida da cidade em que está

vivendo.

O mercado de trabalho é que se coloca como empecilho e entrave para

recolocação da testemunha no mercado de trabalho, devendo essas pessoas executar

treinamento para sua recolocação.

No que se refere a tratamento de saúde, os médicos e outras necessidades não

são indicados pelo programa, cabendo a testemunha escolher o profissional

responsável e as pessoas do programa entrarão em contato, evitando dissabores em que

a própria testemunha não terá motivos para reclamações, como o governo me colocou

nas mãos de um profissional incompetente sem conhecimentos.

Para que uma testemunha compareça a um determinado Júri, existe a

necessidade de toda uma preparação especial do ambiente com a utilização de técnicas

apuradas de segurança inclusive disfarces, todas as instalações da sala do tribunal que

receberá a testemunha deverá passar por uma minuciosa vistoria, e mesmo após o

cumprimento de todos estes detalhes, uma pessoa responsável que faz parte da equipe

28

permanece dentro do estabelecimento em toda a fase de interrogatório, os locais de

acesso da testemunha não devem e não podem ser os mesmos que de uma pessoa

normal que adentre ao recinto do tribunal, devendo existir um local diferenciado para

testemunha se abrigar caso aconteça qualquer incidente, locais para a entrada e guarda

de veículos bem como a equipe responsável, devem sempre estar atentos para qualquer

situação, seus veículos devem ser diferenciados dos demais veículos com mais

potência, incluindo-se todo aparato policial para que o depoimento da testemunha

transcorra sem qualquer incidente, sendo que todos estes procedimentos devem ser

atualizados e melhorados de acordo com a situação e testemunha envolvida.

As pessoas que trabalham como agentes do programa precisam passar por um

treinamento rigoroso de treze semanas, terem um passado ilibado, e depois de um

completo treinamento é aceito no programa passa o agente por mais um treinamento

específico com duração de cinco semanas.

2.2.2 - Na Itália

A Itália iniciou seu programa com a “Operação mãos Limpas” (Operazione

Mani Pulitti), conseguindo restaurar a segurança contra toda a violência no país, o que

foi demonstrado com um elevado número de transgressores criminosos que foram

punidos e encarcerados. Hoje o programa é denominado Nazionale Antimafia, com

fundamental importância contra crimes de terrorismos e organizações mafiosas,

assassinatos de juízes, policiais, políticos, jornalistas e vários outros, pela máfia

italiana bem organizada aniquilando quem se coloca em seu caminho, ocupando

espaços na sociedade com os mais diversos tipos de crimes até os mais comuns índices

29

de criminalidade.23

Com a máfia italiana e suas atuações criminosas foi então necessária a

implantação do programa que pudesse colocar testemunhas em um programa de

proteção, o Ministério do Interior com uma comissão vinculada, sendo composta por

um subsecretário de estado, dois magistrados, especialistas que tenham conhecimento

do crime organizado e também por cinco profissionais que também tenham

entendimento do assunto, podendo ser pessoas ligadas à segurança pública ou da

própria justiça.

No programa implantado na Itália também devem ser observados certos

requisitos para o ingresso dos colaboradores com as autoridades para que se possa

vislumbrar com exatidão a reconstrução dos atos delituosos, colocando a disposição do

poder judiciário autores identificados com suas respectivas capturas, descobrimento de

instrumentos utilizados como armas e explosivos, para a prática criminosa, prevenindo

com isso chacinas, sendo que esta colaboração deve levar em conta a importância para

o processo, tendo uma grande importância de acordo com a gravidade das informações

pertinentes ao crime que será ou foi praticado.

Como em outros países, a testemunha, a vítima e o colaborador e os que

fizeram parte da organização criminosa, lhes é oferecido à participação no programa, e

quando são aceitos no programa, fica a pessoa participante tendo ao seu alcance todas

as regras e informações, permanecendo a princípio protegido cautelarmente pela

polícia.

A família é princípio basilar com suas características, para a escolha do local

23 Retirado de: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/10705-10705-1-PB.htm, acessado em 24/-7/2001, às 11he 20 min.

30

onde será transferida, no início verifica-se a possibilidade de que a testemunha

protegida possa prover o seu sustento, tendo como finalidade do programa que o

colaborador, coloque sua vida a reconstrução de um novo destino distante da

criminalidade.

Após a detenção se o detido quiser participar e ter o benefício, de imediato lhe

será concedido, podendo inclusive ter uma detenção especial e diferenciado dos

demais presos. Ao prestar informações através de seu depoimento o colaborador terá

todas as garantias preservando desta forma sua integridade física e de outras pessoas

envolvidas no ato delituoso.

O que se verifica também como nos Estados Unidos a família do protegido,

tem assistência financeira, judiciária e a saúde, sendo fixada esta questão econômica

pela Comissão Central, todas estas questões apresentadas estende-se ao protegido

colaborado e toda sua família, desta feita com todo esse aparato buscando-se a

reinserção perante a sociedade, mas como todo programa está implícito algumas

exigências no tocante a cabelo e modo de vestir. A documentação somente será

alterada quando os casos apresentados sejam considerados excepcionais.

Quando o protegido viola determinadas regras, para permanecer no programa

de proteção, pode sofrer de uma simples advertência podendo até ser excluído do

programa. Caso o protegido venha a sair do programa cuida-se para que tenha um

retorno mais seguro e suave diante das controvérsias que poderá enfrentar, sendo que o

protegido poderá ser excluído, quando cessa os motivos que o levaram a participar do

programa, não existindo mais perigo a sua integridade física e de seus familiares, ou

simplesmente por não observância das normas e regras impostas pelo programa de

31

proteção.

2.2.3 - No Canadá

No Canadá é feita uma análise dos fatos relatados pelas testemunhas, de

acordo com a excepcionalidade e sua importância, é oferecido às testemunhas a

proteção incluindo seus familiares, sempre colocando como prioridade a análise do

fato delituoso.

Com a chegada da testemunha ao programa lhe é apresentado um protetor

(agente), com dedicação quase em tempo integral e exclusivo a testemunha e sua

família, tendo como dever e obrigação de colocação em local apropriado para

instalação e moradia, bem como escola para pessoas da família e atendimento a saúde

quando for necessário, e prioritariamente colocação em ambiente de trabalho, entre

outras necessidades que se fizerem necessárias.

O protegido quando adentra ao programa de proteção, recebe um documento

escrito relatando todas as condições, regras de definem a permanência do protegido no

programa.

O beneficiário inserido no programa de proteção tem direito de ter todas as

informações da tramitação (andamento processual) do processo do qual é colaborador,

pelo seu agente protetor, tendo acompanhamento e assessoramento jurídico por parte

do programa.

No caso de haver por algum motivo o protegido quebrado as regras, deverá ser

informado com prioridade a divisão de Coordenação, para que a família seja deslocada

e recolocada em outra localidade.

Todos os protegidos possuem um número telefônico de plantão, onde o

32

protegido e protetor podem se comunicar a qualquer momento, as correspondências

também são enviadas ao protetor que as enviará sem endereço de seu protegido, e são

postadas utilizando um endereço seguro, evitando-se desta forma, que seja localizado

o paradeiro do protegido, para que pessoas interessadas em dissuadir de qualquer

maneira as intenções da testemunha em seus eventuais depoimentos.

2.2.4 - Na Inglaterra

O Victim Support24 promove além da proteção policial, também presta serviço

de apoio social e psicológico, apresentando uma diferença entre todos os outros

programa de proteção a testemunha, neste programa vislumbra-se a vítima como tema

principal, mas, tem-se também os centros de serviço de proteção a testemunha

amparado pelo Tribunal Superior de Justiça.

Os fundamentos basilares do programa sãos os direitos básicos em número de

cinco, garantidos na Inglaterra pela sua Constituição às vítimas de crimes sendo eles: a

independência da vítima, direito a informação, direito a proteção, à reparação de danos

morais e materiais e direito a dignidade das pessoas.

Com o surgimento deste programa no ano de 1974, a vítima é indagada pela

autoridade policial se deseja receber os benefícios do programa, então entra em

contato com o programa para apresentar a vítima.

Preliminarmente busca o programa estabelecer novamente o estado de espírito

normal à vítima, mostrando-lhe que o desejo de vingança não pode prosperar,

iniciando-se após todas as ações que o programa vai proporcionar de apoio e incentivo

à vítima, para que somente busquem de seus agressores ou do próprio governo a

24 Retirado de: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/10705-10705-1-PB.htm, acessado em 24/07/2011 ás 11:20 min.

33

indenização devida, de danos morais e materiais podendo até ter alteração de endereço

se for esta a necessidade.

Ao entrar em contato com o programa de sua localidade, pois há em cada área

policial um coordenador do Victim Suppott, e a partir deste momento é designado um

voluntário para explicações e visitas, que são feitas na própria residência na maioria

das vezes.

O Serviço de Apoio a Testemunha, surgiu quando da necessidade de

elucidação dos crimes onde as vítimas estão envolvidas, foi introduzido em 1990, após

dezesseis anos de existência do serviço de proteção as vítimas.

2.2.5 - No Brasil

O programa no Brasil iniciou no ano de 1996, e a primeira experiência de

proteção realizada à vítima e testemunha foi no Estado do Recife/PE.

Já em 1998, o Ministério da Justiça no âmbito da Secretaria do Estado dos

Direitos Humanos estabeleceu a primeira parceria oficial com o governo

pernambucano, e com isso fez com que outros Estados como Bahia, Espírito Santo e

Rio de Janeiro também assinassem convênios semelhantes.

Em 1999, foi promulgada a Lei 9.807/99, que trouxe uma inovação que

padronizou as normas de programas Estaduais, e instituiu também o Programa Federal

de Assistência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas.

De acordo com essa Lei, somente as pessoas sem prisão decretada e os réus

colaboradores terão direito aos benefícios, tais como transferência de residência,

auxílio financeiro, segurança nos deslocamento, colocação no mercado de trabalho,

assistência psicológica, social e médica, preservação de sigilo de identidade e de dados

34

pessoais e em casos excepcionais, a mudança de identidade.

Hoje, temos um total de 17 Estados participantes do programa, sendo eles:

Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão,

Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio

Grande do Sul Santa Catarina e São Paulo.

No Paraná, o Programa de Proteção foi criado pela Lei 14.551/04, o qual

instituiu o PROVITA PARANÁ.

Abaixo a estrutura do programa conforme artigo 10 º da lei 14.551/04:

Art. 10º. O programa será dirigido por um Conselho Deliberativo que decidirá sobre o ingresso ou exclusão do protegido, bem como das providências necessárias ao cumprimento das regras desta lei, e que contará com a seguinte composição:

I. 1 (um) representante da Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania;

II. 1 (um) representante da Secretaria da Segurança Pública; III. 1 (um) representante do Ministério Público Estadual; IV. 1 (um) representante da Magistratura Estadual; V. 1 (um) delegado do Departamento da Polícia Civil do Estado do

Paraná; VI. 1 (um) oficial da Polícia Militar do Paraná;

VII. 1 (um) delegado da Polícia Federal; VIII. 1 (um) representante da Comissão de Direitos Humanos da

OAB/PR; IX. 1 (um) representante da Comissão de Direitos Humanos da

Assembléia Legislativa do Estado; X. 1 (um) representante do Conselho Permanente dos Direitos

Humanos do Paraná – COPED; XI. 1 (um) representante de 03 (três) entidades não-governamentais

com atuação na área de Direitos Humanos, estando dentre elas a que funciona como Órgão Executor do Programa.

O conselho deliberativo tem a função de assegurar o bom funcionamento do

programa, aprovando ou excluindo beneficiários, regulando também a participação da

sociedade.

A estrutura do programa também é composta por um Órgão Executor, o qual é

responsável pela contratação dos integrantes da equipe técnica e demais e cargos. E

35

nesta equipe técnica, formada por sete pessoas, é realizado um trabalho diretamente

com os beneficiários, com o dever de encontrar um lugar seguro para a proteção

destes.

O programa exige que aquele que pretende ser beneficiário cumpra alguns

requisitos, sendo eles:

- O futuro protegido deve estar sob coação ou grave ameaça;

- deverá colaborar com as investigações;

- deve haver o requerimento por parte do beneficiário e o mesmo deve estar

ciente das regras que devem ser seguidas, onde assinará um termo de compromisso

com todas as informações relativas a ele, como novo endereço, nos casos excepcionais

até uma nova identidade, sendo tudo mantido em sigilo absoluto.

Segundo Mendroni25:

Considera-se que em casos excepcionais há que se deferir mudança de identidade da pessoa protegida para que não se torne alvo de membros da organização criminosa, cujo tamanho e número de integrantes dificilmente é bem conhecido. Embora não previsto expressamente, em casos igualmente excepcionais é possível também imaginar hipóteses em que i Juiz autorize, às expensas do Estado a realização de cirurgias plásticas de forma a mudar as feições da pessoa protegida evidentemente desde que ela esteja de acordo.

Sendo o beneficiário aceito no programa receberá apoio social, psicológico e

financeiro na proporção de suas despesas.

Os Estados que não possuem o programa em âmbito estadual são atendidos

pelo programa federal. O programa federal é coordenado pela Secretária Especial dos

Direitos Humanos da Presidência da República.

25 MENDRONI, MARCELO Batlouni, Ibidem, p. 99, 2007.

36

2.3 - ESTATÍSTICAS DA APLICAÇÃO DO PROGRAMA

Conforme se mencionou acima, hoje contamos com 17 Estados que participam

do sistema. Com os programas implantados através de convênio celebrado com a

Secretaria de Justiça ou com a secretaria de Segurança Pública contando também com

a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, com uma capacidade de atendimento de

30 beneficiários, entre os quais estão as testemunhas, vítimas e seus familiares, que

tem garantidos seus direitos e integridades, físicas e financeiras, garantidos por um

dispositivo que as colocam em outras localidades fazendo parte da sociedade em que

devam conviver.

Nos demais estados que ainda não fazem parte do sistema de proteção, as

testemunhas, devem ser atendidas pelo programa Federal.26

Comentado anteriormente por Silveira,27 as estatísticas já demonstravam que

com a implantação deste sistema, haveria um grande avanço, tecnológico e um grande

acréscimo no número de pessoas que passariam a ser atendidas e beneficiadas pelo

programa.

“Desde a sua implantação no Brasil, o Programa de Proteção a Vitimas e Testemunhas Ameaçadas já protegeu 1.100 (um mil e cem pessoas) aproximadamente. Permanecem sobre a proteção do programa, aproximadamente 600 (seiscentas) pessoas, entre vítimas, testemunhas e familiares desta. A dificuldade para obtenção de números exatos junto ao Gajop e também no ministério da Justiça é grande, sendo esta ao nosso entender uma deficiência do programa”.

Marco Antonio de Barros,28 colacionou também já no ano de 2002 que:

“Para se ter idéia dessa carência material, no Estado de São Paulo, sob a coordenação da Secretaria da Justiça, em agosto de 1999, criou-se o Programa Estadual de Proteção a Testemunhas-Provita. Conforme

26 http://www.direitoshumanos.gov.br/protecao/Id_prot_testemunha/Id_prot_sist, acessado em 24/07/2011 as 21:34 min 27 SILVEIRA, JOSÉ Braz da. Ibidem, p. 99. 28 BARROS, Marco Antonio de, A Busca da Verdade no Processo Penal. Editora RT, São Paulo, p. 284, 2002.

37

levantamento feito no início de 2002, aproximadamente 500 testemunhas haviam solicitado esse tipo de proteção, mas, devido aos parcos recursos disponíveis, apenas 130 delas foram incluídas no programa, visto que "a maioria não atendia ao perfil, que é de testemunha ameaçada em função de seu depoimento". Nessa época apurou-se que, no Brasil, estavam sendo atendidas 424 pessoas (ver: Jornal do Advogado, São Paulo, maio de 2002.”

Hoje no Brasil a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, congrega o

Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas, no Paraná através dos seus

representantes, o PROVITA da Coordenadoria de Direitos da Cidadania CODIC/PR,

estrategicamente vinculada a Secretaria da Justiça e da Cidadania, não possuem dados

concretos de estatísticas sobre pessoas que são atendidas pelo programa, existindo sim

um balanço anterior mostrado em um seminário, que de maneira alguma pode refletir

com transparência com transparência a realidade do sistema, demonstra sim um

número bem reduzido, inclusive de testemunhas que são permutadas com outros

estados, que não podem permanecer em seus locais de origem.29 Comentários que

mostram que o programa foi implementado através “do clamor da sociedade civil

organizada, na luta contra a impunidade”.

29 http://www.codic.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6, acessado em 24/07/2011, as 22:19min

38

CAPÍTULO III - PRINCÍPIOS E ASPECTOS DA DELAÇÃO PREMIADA

3.1 - DO DIREITO DE NÃO PRODUZIR PROVA CONTRA SI MESMO

Consagrado pela Constituição Federal, o princípio do direito de não produzir

prova contra si mesmo, ou princípio da nemo tenetur detegere, é considerado como

um princípio fundamental do indivíduo que esteja na posição de investigado ou

acusado.

Para João Claudio Couceiro30,

O direito ao silêncio integra um direito maior de todo homem a não colaborar na produção de qualquer prova que procure prejudicá-lo. Este direito de não colaborar pode ser compreendido, no que se refere à audiência do imputado, em direito de não ser ouvido e direito de calar. O direito ao silêncio e o direito de não ser interrogado são espécies do direito de não de não colaborar, não ser confundido entre si.

No que se refere à delação, nas palavras de Maria Elizabeth Queijo, para que

ela possa ser válida e possa servir como meio de prova, é imprescritível que o delator

tenha ciência do negocio jurídico que estará estabelecendo, das suas repercussões e

alcances, bem como tenha sido efetuado em condições de plena liberdade psíquica,

não podendo haver coação, fraude ou violência, ou linguagem que leve ao erro o

imputado. Deverá também, a autoridade e um advogado, que esteja na investigação e

seja de sua confiança, esclarecer sobre a não obrigação de colaborar. Porém querendo

ele colaborar, deverá expressar sua livre vontade e consentimento31.

3.2 - DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA

Para esse princípio a pena deverá ser individualizada e adaptada para cada

indivíduo.

30COUCEIRO João Claudio. A Garantia Constitucional do Direito ao Silêncio. São Paulo: ED. RT. 2004. p 152. 31 QUEIJO, Maria Elizabeth. O Direito de Não Produzir Prova Contra Si Mesmo: O Princípio Nemo Tenetur Se Detegere e Suas Decorrências no Processo Penal. 1ª ed., ed. Saraiva, São Paulo 2003, p.55

39

Quanto ao delito cometido, o artigo 5º, inciso XLVI da Constituição Federal

prevê:

- a lei regulará à individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;

b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos.

Para Rogério Grecco, caberá ao judiciário a aplicação da pena de acordo com

o crime cometido, e que interpretando o texto constitucional, pode-se concluir que o

primeiro momento da chamada individualização da pena ocorre com a seleção feita

pelo legislador, quando escolhe para fazer parte do pequeno âmbito de abrangência do

Direito Penal, aquelas condutas positivas ou negativas, que atacam nossos bens mais

importantes. Destarte, uma vez feita à seleção, o legislador valora as condutas,

cominando-lhes penas que variam de acordo com a importância do bem a ser

tutelado32, sendo assim, é aceitável que duas pessoas que cometeram o mesmo crime

serem condenadas a penas diferentes. Portanto, pelo instituto da delação premiada, isto

é cabível, tendo em vista a diminuição da pena pelas informações prestadas pelo réu-

colaborador ou até o perdão judicial, com a completa extinção da punibilidade.

Observa-se então, que a delação premiada não está em desacordo com o

princípio da indivisibilidade da ação penal, conforme inscrita no art. 48 do Código de

Processo Penal, que nos remete a ação penal privada. A adoção do princípio da

divisibilidade para a ação penal pública é a posição amplamente majoritária na 32 GRECO, Rogério, Curso de Direito Penal Parte Geral, ed. Impetus v. I, 10ª ed. 2008, p. 71.

40

jurisprudência, permitindo-se ao Ministério Público excluir algum dos co-autores ou

partícipes da denúncia, desde que mediante prévia justificação33.

3.3 - DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA

Conforme prevê o artigo 5º LV da Constituição Federal, o princípio do

contraditório é a possibilidade das partes envolvidas no processo terem direito de

manifestarem, devendo haver um equilíbrio na relação estabelecida entre a pretensão

punitiva do Estado e o direito à liberdade e a manutenção do estado de inocência do

acusado.

Já a ampla defesa, nas palavras de Nucci, é um direito concedido ao réu de se

valar de amplos e externos métodos para se defender da imputação feita pela acusação,

gerando inúmeros direitos exclusivos ao réu, como o caso da revisão criminal34.

No que tange a delação premiada, verifica-se que há uma afronta aos

mencionados princípios, uma vez que a defesa é garantia constitucional, que para sua

realização necessita-se de todas as provas existentes nos autos. No entanto, os

testemunhos prestados pelos réus-colaboradores podem ser mantidos em sigilo, ou

seja, com clausula de confidencialidade, o que dificultará, portanto o acesso as

33 HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA AÇÃO PENAL, QUE TERIA ORIGEM EM PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO: EVENTUAL VÍCIO NÃO CARACTERIZADO. PRECEDENTES. REEXAME DO CONJUNTO PROBATÓRIO EXISTENTE NOS AUTOS DA AÇÃO PENAL: IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE: NÃO-APLICAÇÃO À AÇÃO PENAL PÚBLICA. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. É firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de que o Ministério Público pode oferecer denúncia com base em elementos de informação obtidos em inquéritos civis instaurados para a apuração de ilícitos civis e administrativos, no curso dos quais se vislumbrou a suposta prática de ilícitos penais. Precedentes. 2. Não há, nos autos, a demonstração de que os elementos de informação que serviram de suporte para o recebimento da denúncia tenham sido obtidos em investigação criminal conduzida pelo Ministério Público ou que teriam sido decisivos para a instauração da ação penal, o que seria imprescindível para analisar a eventual existência de vício. 3. Somente o profundo revolvimento de fatos e provas que permeiam a lide permitiria afastar a alegação de que as investigações teriam motivação política, ao que não se presta o procedimento sumário e documental do habeas corpus. 4. Por fim, a jurisprudência deste Supremo Tribunal é no sentido de que o princípio da indivisibilidade não se aplica à ação penal pública. Precedentes. 5. Ordem denegada. 34 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. Ed. RT. São Paulo, 7ª ed. p.86.

41

informações para que o acusado possa realizar sua defesa.35.

3.4 - ASPECTOS NEGATIVOS E POSITIVOS DA DELAÇÃO PREMIADA

Devido a inúmeras opiniões acerca do instituto da delação premiada, faz com

que se torne um tema polêmico entre os juristas, uma vez que muitos vêem na delação

um instrumento antiético, inconstitucional e imoral.

Além das questões éticas, devido à traição que o instituto incentiva outras

situações problemáticas também poderão ocorrer, em exemplo, Renato Flávio Marcão

cita36:

A possibilidade do instituto gerar a “acomodação”, à apatia da autoridade incumbida da apuração tendo em vista que a responsabilidade para o desmantelamento das quadrilhas ou bandos ou a recuperação do objetos de roubo ou ainda o resgate das vítimas é da autoridade policial, que deveria estar preparada para isso e não confiar em réus que possuem participação nos crimes, para resolver tais problemas.

35 Em torno do assunto, CERCEAMENTO DE DEFESA – NEGATIVA DE ACESSO À ACORDO DE COLABORAÇÃO DE TERCEIRO, questão já foi objeto de análise pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região no HC 2006.04.00.007320-0/PR, impetrado pela defesa do réu. Naquela decisão foi consignado que o pedido de vista daqueles autos foi acertadamente indeferido na decisão prolatada nos autos 2004.70.00.043116-0/PR, acolhendo-se na íntegra, a fundamentação lá exposta pelo MM. Juiz Titular nos seguintes termos: Autos 2004.70.00.043116-0. O feito contém acordo celebrado entre o MPF e Antonio Celso Garcia e em relação ao qual há cláusula de confidencialidade quanto aos seus termos específicos. Para a defesa do requerente nas ações penais que responde basta saber que existe acordo e que ele prevê à redução da pena de Antonio Celso Garcia caso ele colabore com a Justiça dizendo a verdade em seus depoimentos e sob pena de quebra de compromisso. Por outro lado, no feito foram colhidas provas relativas à outras investigações que não envolvem o ora requerente. Tais investigações poderiam restar prejudicadas caso fosse dada às provas prematura publicidade. Diga-se ainda, que o material probatório presente nos autos pertinente ao réu, notadamente as escutas ambientais, já foram encaminhadas ao Juízo das ações penais a que responde. Eventual material adicional deve ser requerido como prova emprestada através daquele Juízo. Assim, indefiro o pedido de vista. Juiz Federal Élcio Pinheiro de Castro - 8ª turma da Justiça Federal da 4º Região na Ação Penal nº 2005.70.00.029545-0. Ainda sobre o mesmo caso:O requerimento da defesa para vista dos autos em que o Ministério Público Federal firmou acordos de delação premiada com ANTÔNIO CELSO GARCIA e SÉRGIO RENATO COSTA FILHO deve ser indeferido. Inicialmente cabe consignar que, conforme bem observado pelo Ministério Público Federal às fls. 467, é da natureza dos procedimentos previstos pela Lei nº 9.807/99 seu trâmite em segredo de justiça. E isso tanto para resguardar aqueles que firmaram o acordo de colaboração quanto para garantir o sigilo de investigações relacionadas ou decorrentes das informações prestadas pelo colaborador. O fato de tais testemunhas terem prestado informações e depoimentos relacionados aos fatos que são objeto da presente ação penal não gera direito subjetivo ao acusado à vista daqueles autos, pois o contraditório é exercido sobre os fatos e provas que integram a ação penal, não se estendendo a procedimentos a ela alheios. Saliente-se que além de ambas essas testemunhas terem sido ouvidas em juízo, exercendo a defesa o contraditório em relação a seus depoimentos, toda prova de forma direta ou indireta se relaciona a essas testemunhas já integra à ação penal, carecendo à defesa de interesse jurídico para vista desses procedimentos, Ação Penal nº 2005.70.00.029546-2, Des. Federal Élcio Pinheiro de Castro - 8ª turma. 36 MARCÃO, Renato Flávio, Revista Bonijuris, ano XVII, n. 505, p. 18/19, Dez. 2006, consulta acervo biblioteca Ministério Público do Estado do Paraná.

42

Outro ponto negativo seria que a delação premiada poder ferir o princípio

constitucional da proporcionalidade da aplicação da pena, pois, o delator recebe pena

menor do que os delatados que fizeram tanto ou até menos que ele.

Tem-se a preocupação também, que o réu-colaborador poderá ocultar

informações do crime, ou até mesmo mentir para desviar o rumo das investigações,

possibilitando a fuga dos seus comparsas.

Outra discussão é em relação ao princípio do contraditório e ampla defesa,

cerceados ao réu-delatado, pois, quando do acordo entre réu-colaborador e autoridade,

este pode ser celebrado com cláusula de confidencialidade não podendo o réu-acusado

ter acesso, para garantir à integridade física e psicológica do réu-colaborador.

Para Nucci37:

A traição, em regra, serve para agravar ou qualificar a prática de crimes, motivo pelo qual não deveria ser útil para reduzir a pena. O Estado não pode aquiescer em barganhar com a criminalidade.

Em se tratando dos aspectos positivos, como sabemos a cada dia a violência e

a criminalidade organizada cresce aceleradamente, o que faz dela um mal necessário,

já que o bem maior a ser tutelado é o Estado Democrático de Direito.

Nos casos de crimes organizados, verifica-se que a nossa inteligência policial

está cada dia mais longe de resolver este problema, e que a maior desgraça é que tudo

vem a público imediatamente, porque o tempo da mídia não é o mesmo tempo da

justiça38.

No mundo da criminalidade não se pode falar em ética ou valores morais, pois

37 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. Ed. RT. São Paulo, 7ª ed. p.448.) 38 GOMES, Luiz Flávio. Corrupção Política e Delação Premiada. Revista Síntese de Direito Processual, V. 6, nº 34, 2005, Porto Alegre, p. 19.

43

são eles os primeiros a afrontar estes valores. A delação como afirma Nucci39 é “a

traição de bons propósitos”.

Nucci40 também explica que não há lesão à proporcionalidade da aplicação da

pena, pois esta é regida, basicamente, pela culpabilidade (juízo de reprovação social),

que é flexível.

Quanto ao princípio do contraditório e ampla defesa, não há afronta se

pensarmos que o maior interesse do Estado é desvendar crimes. E, principalmente, no

caso de existirem vítimas seqüestradas, o bem maior é a vida da vítima. Por

conseguinte, a vida do réu-colaborador que por mais que seja culpado, pode ter se

arrependido e ajudado na localização da vítima. Estando comprovado o envolvimento

dos demais co-autores, estes devem se defender dos fatos dos autos, dos atos

cometidos e não se preocupar com fatos anteriores que ajudaram a desvendar os

crimes.

39 NUCCI, Guilherme de Souza, Ibidem 2006 p. 676. 40 NUCCI, Guilherme de Souza, Id. Ibidem 2006 p.676. GOMES, Luiz Flávio. Corrupção Política e Delação Premiada. Revista Síntese de Direito Processual, V. 6, nº 34, 2005, Porto Alegre, p. 19.

44

CONCLUSÃO

Não tendo a intenção e nem pretensão de esgotamento do assunto tratado no

presente trabalho, pois são inimagináveis as situações que nos são colocadas

diariamente em nosso estudo acadêmico do curso de Direito, se fazem necessárias

reflexões e considerações sobre o tema tratado.

A pretensão com todo exposto foi tentar demonstrar quais os objetivos básicos

sobre a delação premiada, sendo que as demonstrações dos benefícios dos

colaboradores não implicam em imoralidade por parte de quem obtém as informações

para a elucidação de crimes, talvez em um âmbito de coleguismo entre os delinqüentes

talvez cause certo estarrecimento aos olhares da sociedade comum e entre eles

próprios, assim chamados de delatores (x9, vulgarmente denominados dentro de

delegacias de polícia e em presídios), que correm risco de morte após serem

descobertos, quase sempre são sacrificados em rebeliões.

Com a existência de diversas leis que tratam sobre o assunto da delação

premiada, sendo elas aplicadas a vários tipos de delitos, como: crimes hediondos;

crimes contra a ordem tributária; crimes contra o sistema financeiro; crimes praticados

por concurso de agentes; quadrilha; bando ou organizações criminosas; crimes de

extorsão mediante seqüestro; crimes de lavagem e ocultação de bens; crimes do tráfico

ilícito de entorpecentes.

Toda esta legislação aplicada ao instituto em pauta possuem lacunas, das quais

geram grande polêmica entre os mais diversos estudiosos da área do Direito Penal e

Processual Penal, quanto a sua aplicabilidade, em qual momento, quando das

investigações, já no processo criminal e ou poderá ser aplicada após a sentença.

45

Ficando demonstrado que a colaboração poderá ser prestada em qualquer destas fases

acima expostas. Deixando-se a cargo do magistrado a decisão sobre se realmente

existe importância da colaboração em determinada fase processual.

Com relação Lei de Proteção às Vitimas e Testemunhas Ameaçadas em seu

artigo 13, nos geram dúvidas relativo ao perdão judicial, pois alguns doutrinadores

entendem que deva ser aplicada a alternatividade e não a cumulatividade para

aplicação da pena.

O que se pode verificar que tendo prudência e razoabilidade ao analisar cada

caso, deve-se aplicar a alternatividade, quando a lei torna-se confusa, direcionando

somente para seus incisos, deve então o legislador aplicar a lei mais favorável ao réu.

No que tange o Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Norte

Americano, chega-se a conclusão de que é o maior volume de investimentos

considerado, e um dos mais caros, sendo que o programa na Itália está entre os mais

eficientes, o que denota a sua aplicabilidade em todos os casos em que a Máfia esteve

envolvida.

No Brasil este programa é muito importante e se encontra estruturado em um

sistema Nacional, composto de dezessete programas estaduais e mais o programa

Federal. O governo brasileiro em relação ao Programa de Proteção a Vítimas e

Testemunhas - PROVITA, não fornece dados atualizados de gastos e números de

beneficiários. Talvez esses fatos relatados não tenham como culpa exclusiva o

governo e sim por falta uma pessoal negligência dos agentes envolvidos, que deveriam

zelar pela transparência de todos os atos do governo.

Este programa trata das vítimas e testemunhas ameaçadas e faz pouca alusão

46

aos réus-colaboradores, mas o que nos mostra é que está totalmente incrustado e

implícito em relação ao instituto da delação premiada, buscando o sigilo das

informações prestadas, como forma de preservar a integridade física e psicológica do

colaborador. Mas diante disso não deixa de afrontar o princípio do contraditório e

ampla defesa.

Poderia se dizer que o Estado no item Segurança Pública estaria falido, pois

através de sua polícia judiciária e de prevenção não consegue conter os avanços da

criminalidade, necessitando de um delator para conter este aumento do índice de

crimes, mas o dever do Estado é sim conter o avanço da criminalidade pode ele e ao

meu ver deve utilizar-se de todos os meios necessários e possíveis para solucionar

crimes de maneira menos traumática para a população.

O que se pode relacionar como aspectos negativos da delação premiada,

estariam eles, em uma acomodação da autoridade policial e do poder público,

confiando em quem cometeu ou deu causa ao delito. Também colocando em segundo

plano os princípios do contraditório, da ampla defesa e proporcionalidade da pena.

Positivamente seria uma localização mais rápida e eficiente de vítimas e

objetos de crimes, contando principalmente com a rapidez para o desmantelamento de

organizações criminosas.

Sendo assim, para o aprimoramento do Estado na questão de segurança

pública, faz-se necessário o instituto da delação premiada.

Conclui-se que o Instituto da Delação Premiada apesar de não ser um instituto

relativamente novo, pois está à disposição dos réus desde a Lei de Crimes Hediondos

nº 8.072/1990, poucos doutrinadores tratam da matéria, e os que tratam possuem

47

dúvidas e divergências em relação ao tema.

A delação premiada para alguns doutrinadores poderia ser considerada uma

ofensa, sendo tratada como uma imoralidade perante todo o ordenamento jurídico,

colocando-se sobre virtudes e discussões, em que traidores, delatores podem se utilizar

deste benefício garantindo muitas vezes a sua liberdade em garantia de informações

prestadas para a apreensão de pessoas (comparsas) que participaram da mesma

situação delituosa, sendo que ao trocarem determinadas informações que beneficiem

na condução e conclusão das investigações, ficam impunes ou tem suas penas

reduzidas.

A quem diga que suprimindo garantias individuais inerentes a todas as

pessoas, criminosas ou não, todos deveriam ser tratados da mesma forma sem

distinção, mantendo-se assim o princípio do contraditório e ampla defesa, princípio

balizador dos direitos e garantias fundamentais, incrustado em nossa Constituição

Federal.

48

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