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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ IVAN DE MORAES SARMENTO ASPECTOS GERAIS DO INSTITUTO PREMIAL DA DELAÇÃO PREMIADA CURITIBA 2013

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

IVAN DE MORAES SARMENTO

ASPECTOS GERAIS DO INSTITUTO PREMIAL DA DELAÇÃO

PREMIADA

CURITIBA

2013

IVAN DE MORAES SARMENTO

ASPECTOS GERAIS DO INSTITUTO PREMIAL DA DELAÇÃO

PREMIADA

Projeto de Pesquisa, apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel de Direito. Orientador: Prof.Dálio Zippin Filho.

CURITIBA

2013

TERMO DE APROVAÇÃO

IVAN DE MORAES SARMENTO

ASPECTOS GERAIS DO INSTITUTO PREMIAL DA DELAÇÃO

PREMIADA

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de Bacharelado em

Direito da Universidade Tuiuti do Paraná

Curitiba, ____ de _______________de 2013

________________________________________________________

Bacharelado em Direito Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Professor: ______________________________ Dr. Dálio Zippin Filho

Universidade Tuiuti do Paraná Professor: ______________________________ Universidade Tuiuti do Paraná Professor: ______________________________ Universidade Tuiuti do Paraná

À minha família, Nazareth, Nikyas e Andrey, pilares em minha

vida, pelo apoio e dedicação, sem vocês nada teria sentido.

Ao professor orientador Dálio Zippin Filho pelo caminho a

mim ensinado.

Aos amigos pela tolerância e suporte quando precisei.

Aos meus companheiros de jornada, Joel Dutka e Jovenal

Lisboa

À memória de Marco Antonio de Moraes Sarmento,

meu pai, por todo ensinamento e carinho repassados ao logo

de sua vida.

“Das grandes traições iniciam-se as grandes renovações”.

Vassili Vassilievitch Rozanov

RESUMO

O presente documento tem como propósito a compreensão e a analise do

instrumento processual, reconhecido pela expressão Delação Premiada, utilizado

como uma espécie de ferramenta de combate ao Crime Organizado, onde é

oferecido um benefício, material ou processual, para aquele que, na condição de

réu, colabora com a justiça informando detalhes sobre o ato típico e ilícito cometido.

iniciando com um breve estudo conceituando o instituto demonstrando visões

diferenciadas. Seguindo para uma abordagem histórica diante de uma análise do

direito estrangeiro até a contemplação do mecanismo pelo direito Brasileiro seguindo

para analise material e formal quanto a sua estrutura e barreiras que o instituto

encontra no tocante a sua essência e sua efetividade tanto no de caráter objetivo

como no caráter subjetivo.

Palavras - chave: Delação Premiada Colaborador Benefício Ética Garantia

Necessidade

LISTA DE SIGLAS

§ Parágrafo

Art. Artigo

CP Código Penal

CPI Comissão Parlamentar de Inquérito

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil

Decam/ECT Departamento de Contratação dos Correios

DP Delação Premiada

Nº Número

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

STJ Superior Tribunal de Justiça

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10

2 ANÁLISE CONCEITUAL DA DELAÇÃO PREMIADA....................................... 11

2.1 ETIMOLOGIA ..................................................................................................... 11

2.2 CONCEITOS DOUTRINÁRIOS .......................................................................... 11

3 DELAÇÃO PREMIADA NO DIREITO ESTRANGEIRO ..................................... 13

3.1 DIREITO ITALIANO ............................................................................................ 13

3.2 DIREITO NORTE AMERICANO ......................................................................... 14

3.3 DIREITO INGLÊS ............................................................................................... 15

3.4 DIREITO ESPANHOL......................................................................................... 15

4 DELAÇÃO PREMIADA NO BRASIL ................................................................. 17

4.1 PASSAGENS HISTÓRICAS ............................................................................... 17

4.2 FONTES LEGAIS ............................................................................................... 18

4.2.1 Código Penal Artigo 159, Parágrafo 4º ............................................................... 19

4.2.2 Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990 ................................................................... 19

4.2.3 Lei nº 7.492 de 16 de junho de 1986 .................................................................. 19

4.2.4 Lei nº 8.137 de 27 de novembro de 1990 ........................................................... 20

4.2.5 Lei nº 9.034 de 03 de maio de 1995 ................................................................... 20

4.2.6 Lei nº 9.613 de 03 de março de 1998 ................................................................. 20

4.2.7 Lei nº 9.807 de 13 de julho de 1999 ................................................................... 21

4.2.8 Lei nº 11.343 de 23 de agosto de 2006 .............................................................. 21

4.3 PROBLEMÁTICA DA SUCESSÃO NORMATIVA .............................................. 21

5 NATUREZA JURÍDICA ...................................................................................... 22

6 REQUISITOS DA DELAÇÃO PREMIADA ......................................................... 23

6.1 COLABORAÇÃO ESPONTÂNEA ...................................................................... 23

6.2 EFETIVIDADE DAS INFORMAÇÕES ................................................................ 24

6.3 RELEVÂNCIAS DAS DECLARAÇÕES .............................................................. 24

6.4 PERSONALIDADE DO COLABORADOR .......................................................... 25

7 BENEFÍCIOS DA DELAÇÃO PREMIADA ......................................................... 26

8 VALOR PROBATÓRIO ...................................................................................... 28

9 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO ..... 29

9.1 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL .................................................. 29

9.2 AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO ....................................................... 29

9.3 PRINCÍPIO DA INOCÊNCIA .............................................................................. 29

9.4 DIREITO AO SILÊNCIO OU DIREITO DE NÃO SE AUTOACUSAR ................. 30

9.5 PRINCÍPIO DA INADMISSIBILIDADE DE PROVAS OBTIDAS POR MEIOS

ILÍCITOS ............................................................................................................. 30

10 QUESTÕES CONTRÁRIOS E FAVORÁVEIS AO INSTITUTO ......................... 31

10.1 QUESTÕES CONTRÁRIOS AO INSTITUTO ..................................................... 31

10.2 QUESTÕES FAVORÁVEIS AO INSTITUTO ...................................................... 32

11 JURISPRUDENCIA ............................................................................................ 34

11.1 EFETIVIDADE DAS INFORMAÇÕES ................................................................ 34

11.2 RELEVÂNCIA DAS DECLARAÇÕES................................................................. 34

11.3 ESPONTANEIDADE DA DELAÇÃO................................................................... 35

12 ALEGAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 37

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 38

10

1 INTRODUÇÃO

A realidade global moderna apresenta um panorama onde fica destacada

uma onda delituosa organizada com feições cada vez mais complexa que se

esgueira pelas entranhas da sociedade.

O Crime organizado apresenta-se em constante mutação, a todo o momento

criam-se peculiaridades novas, o que torna cada vez mais difícil o acesso ao seu

núcleo dificultando ou até mesmo impossibilitando uma tutela de resposta Estatal.

Devido a esta constante mudança e a dificuldade por ela gerada, o Estado, na

tentativa de diminuir a lacuna que se cria, passa a utilizar de instrumentos variados

na busca da salvação de todos os males.

Dentre os instrumentos faz presente à figura do instituto denominado como

Delação Premiada, meio este, utilizado como forma de alcance probatório com a

finalidade de reunir elementos decorrentes das Organizações Criminosas onde o

colaborador auxilia os investigadores repassando o retrato claro do ambiente

criminoso o qual integrava em troca de um benefício.

Cada vez mais a figura premial vem sendo utilizada em nosso meio jurídico,

dentro dos processos e perquirições penais, tornando-se cada vez mais presente na

realidade brasileira.

Inserido no ordenamento pátrio pelo artigo 7º da Lei nº 8.072/1990, a figura

premial surge como forma de auxilio ao combate do Crime Organizado, que hoje

supera as barreiras nacionais, com aplicação em alguns casos exclusivos, sendo

disciplinada, de forma dispersa, em artigos (art.) de diferentes Leis nacionais.

Mesmo já recepcionada pelo ordenamento pátrio a Delação Premiada passa

pelo crivo de parte da doutrina, que se posiciona de forma contrária a figura premial,

havendo entre nossos doutrinadores a divergência no uso do instrumento a acerca

da questão ética moral em sua aplicação.

Não longe a Delação Premiada esbarra em outro entrave, a realidade social,

que hoje envolta pela nuvem negra, intitulada como “Lei do Silêncio”, fato que cria

uma barreira, decorrente do medo de represálias, tornando dificultoso o uso do

instituto na busca de uma solução.

Este trabalho tem como objetivo apontar detalhes estruturais do instituto

abordando seus aspectos gerais como forma de melhor entende-lo.

11

2 ANALISE CONCEITUAL DA DELAÇÃO PREMIADA

2.1 ETIMOLOGIA

A palavra delação tem origem no termo em latim delatione que por sua vez

significa ação de delatar, denunciar, revelar, denunciar, acusar.

A palavra delação diante do direito penal pode ser vista de duas formas:

delação no sentido de notitia criminis, onde demonstra a pessoa do delator sem um

vinculo com o fato delituoso. Segundo o doutrinador Fernando Capez (2006, p.82)

pode ser definido como “conhecimento, espontâneo ou provocado, pela autoridade

policial de um fato aparentemente criminoso”. Ainda o termo delação pode ser visto

de outro ângulo sob a conotação de delação como conduta do agente que realiza o

ato ilícito aceitando sua parcela de responsabilidade, porém seguido de uma

colaboração ativa por parte do acusado no sentido de ajudar na solução casuística

do crime.

Seguindo o estudo, analisando a segunda parte do termo, temos o significado

literal do verbo premiar como recompensar, conceder, compensar. Configura como

uma recompensa por parte do legislador frente à confissão do integrante delator da

organização criminosa. A palavra prêmio deve ser entendida, nesse contexto, como

significando um mal menor imposto ao individuo que, depois do cometimento de

uma conduta punível pelo direito penal, realiza contraconduta colaborativa destinada

a diminuir ou elidir a pena prevista para o ilícito originariamente cometido (PEREIRA,

2013.p. 02).

2.2 CONCEITOS DOUTRINÁRIOS

Guilherme de Souza Nucci em seu livro intitulado como manual de processo

penal e execução penal conceitua a ferramenta processual da delação premiada da

seguinte forma:

Delatar significa acusar, denunciar ou revelar. Processualmente, somente tem sentido em delação quando alguém, admitindo a prática criminosa, revela que outra pessoa também ajudou de qualquer forma. Esse é um testemunho qualificado, feito pelo indicado ou acusado. Naturalmente, tem valor probatório, especialmente porque houve admissão de culpa pelo delator. (NUCCI, 2008. p. 444).

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Na visão de Eduardo Araújo Silva delação premiada ou, na terminologia que

aborda, colaboração premiada, pode ser conceituada da seguinte forma:

A colaboração processual é meio de obtenção de prova que ocupa importante função na tarefa de apurar a criminalidade organizada, porque ajuda a romper a “lei do silêncio” imposta às lideranças e aos membros em troca da concessão de benefícios e da proteção do colaborador ou dos seus familiares. Justifica-se na necessidade da produção da prova sobre fato que não seria conhecido pelo emprego de outras formas de investigação. Sua finalidade básica é romper e desestruturar a hegemonia e a solidariedade instalada entre os membros do grupo criminoso. (SILVA, 2009. p.42).

O conceito de delação premiada para Walter Barbosa Bittar:

Delação premiada, na forma como foi introduzida em nossa legislação, é um instituto de Direito Penal que garante ao investigado, indiciado, acusado ou condenado, um prêmio, redução podendo chegar até a liberação da pena, pela confissão e ajuda nos procedimentos persecutórios, prestada de forma voluntária. (BITTAR, 2011. p.5).

Fernando Capez define o instituto da seguinte forma:

É a atribuição do crime a terceiro, feita pelo acusado, em seu interrogatório, e pressupõe que o delator também confesse a sua participação. Tem valor de prova testemunhal na parte referente à imputação e admite perguntas do delatado. (CAPEZ, 2006. p.152).

Antonio Scarance Fernandes, José Raul Gavião de Almeida e Mauricio

Zanide de Moraes, coordenadores da obra Crime Organizado – aspectos

processuais, trazem a delação premiada trabalhada com seguinte idéia:

(...) outra forma de apurar crimes perpetrados por organizações criminosas contando com a colaboração de seus próprios membros. Pressupõe o oferecimento de vantagens a quem auxilia, as quais podem ser de ordens: material e processual. As primeiras consistem em redução, isenção de pena ou perdão judicial. As segundas constituem alternativas de solução antecipada do processo em favor do colaborador, pelo arquivamento das peças de investigação, pela suspensão do processo. A delação premiada, expressão cunhada no Brasil, é instituto típico do direito premial. Pode assumir feição de causa de extinção da punibilidade, quando concedido ao infrator o perdão judicial, ou de causa de diminuição da pena, em relação ao crime delatado, desde que preenchidos os requisitos legais para a sua concessão. (FERNANDES, 2009. p. 49).

Mário Sergio Sobrinho contribui, em trecho contido no livro organizações

criminosas ao qual participa, afirmando que:

13

A colaboração processual é meio de produção de prova normalmente utilizado na fase de investigação criminal, embora possa recorrer duramente a tramitação do processo e na fase de execução da pena. Ela se aperfeiçoa no momento que o acusado assume postura cooperativa, confessa crimes e indica a atuação de terceiros, interferindo no resultado das investigações e do processo em troca de benefícios. (SOBRINHO, 2009. P. 47).

3 DELAÇÃO PREMIADA NO DIREITO ESTRANGEIRO

3.1 DIREITO ITALIANO

Segundo o autor Walter Barbosa Bittar, citando Salvatore Lupo (2011, p.13), a

Máfia na Itália surge como um acordo entre a força pública e os criminosos para a

recuperação dos bens roubados. Ao longo do tempo essa organização passou a

exigir quantias de fazendeiros e comerciantes em troca e um suposto serviço de

proteção.

Posteriormente esses criminosos passaram a expandir suas relações

atingindo pessoas influentes tanto no fator econômico como político.

Ao final dos anos 60 a Máfia já se encontrava enraizada na sociedade italiana

onde sua prática, conivência por parte do Estado e a grande influência já era notória

o que gerou uma grande sensação de impotência e descrédito frente ao Estado.

Diante deste panorama o Estado se viu na necessidade de elaborar

estratégias de combate à estes criminosos que apodreciam com a sociedade

italiana.

Surge então o mecanismo conhecido inicialmente pela expressão Operazione

Mani Pulliti (Operação Mãos Limpas) e atualmente pela nomenclatura de Nazionale

antimafia, o instituto, é um instrumento utilizado na Itália que visa o combate às

Máfias ou combate as organizações criminosas no pais.

Antonio Scarance Fernandes (Fernandes 2009. p. 238 apud Kawamoto 2000)

divide o instrumento em duas formas:

Os arrependidos (pentitti) que antes de uma sentença condenatória deixam a

organização e informam dados a respeito da estrutura da mesma. A outra figura são

os dissociados (dissociati) que antes da sentença condenatória agem para reduzir

ou evitar os efeitos prejudiciais dos crimes.

14

3.2 DIREITO NORTE AMERICANO

Ao final da década de 20 surge nos Estados Unidos a “Lei Seca” que torna

proibido o comércio de bebidas alcoólicas. A medida surge na intenção de

solucionar problemas sociais crescentes decorrentes de elevado grau de consumo

de substancias etílicas, porém o que deveria servir como uma solução tornou-se um

problema maior.

Com a proibição formaram-se grupos se organizaram e iniciaram um mercado

ilegal de distribuição de bebidas. O contrabando foi aflorando e aumentando suas

proporções o que fadadamente gerou disputas violentas pelo comercio. Com o

passar do tempo esses grupos foram ampliando seu leque de atividades

abrangendo outras atividades ilícitas como o jogo e a prostituição. Tudo isso com a

conivência de autoridades que recebiam subornos para que toda a transação

passasse despercebida aos olhos de quem deveria reprimir.

Em paralelo, na Itália, a Máfia começa a expandir seu comércio e buscando

outros continentes para a sua prática desembarcando em território americano no

final da década de 60. Em solo americano membros de famílias ligadas a Cosa

Nostra começam a exercer suas atividades envolvendo tráfico de drogas e lavagem

de dinheiro. A Máfia ítalo-americana, como ficou conhecida, tornou-se um negócio

lucrativo porem junto com o lucro estavam as disputas entre as famílias por

territórios, disputas essas marcadas na maioria das vezes por atos de violência e

crueldade.

Frente à realidade desenhada, o Estado se vê em uma posição de conflito

com as organizações criminosa iniciando um combate as instituições onde utilizam

de meios de desfazer esses organizações dentre eles a colaboração premiada ou

Plea Bargaining como é intitulada.

Walter Barbosa Bittar (Bittar 2011. p. 28 e 29 apud Souza 1998) divide a Plea

Bargaining em três modalidades: Sentence Bargaining, que consiste num acordo em

que, em troca da declaração de culpabilidade do acusado lhe é feita a promessa de

aplicação de uma pena determinada ou determinável, ou, de que não se oporá o

órgão de acusação ao pedido de moderação de pena feita pela defesa. A charge

bargaining onde em troca da confissão de culpa do réu com relação a um ou mais

crimes, o persecutor se compromete a abandonar determinada ou determinadas

importações que originalmente lhe foram feitas, ou acusá-lo de um delito menos

15

grave que o realmente cometido e uma outra forma mista onde existe a aplicação de

uma pena atenuante e diminuição de imputação em troca da confissão do acusado.

A Doutrina americana vem discutindo bastante sobre o tema uma vez que o

ato direciona que o Estado harmonize com o facínora premiando-o com a escusa de

combater o crime.

3.3 DIREITO INGLÊS

O Crime Organizado na Inglaterra tem origem no contexto popular urbano nos

aglomerados populares configurando diversos núcleos sociais que em seu interior

originaram grupos criminosos. Não diferente ao que ocorrera em outros países na

Inglaterra os grupos criminosos aproveitaram um nicho devido às restrições e

proibições a ramos populares de entretenimento direcionados ao vício e ao prazer.

A prática evolui para uma realidade violenta produzida pelos grupos

criminosos formados dentro da sociedade inglesa. Não diferente do que ocorrera em

outros países, a Delação Premiada, apesar de haver prática anterior, porém não

institucionalizada, aparece como fonte legal na tentativa de resgate da sociedade.

No ordenamento Inglês há duas figuras dentro dos entes administrativos de

competência criminal , que trazem a imunidade ao colaborador, denominadas como

Immunity notice e Restricted use undretaking onde a primeira refere-se à imunidade

de acusação com relação aos crimes formalizados, a segunda é a garantia de que o

que for delatado não será usado em prejuízo do colaborador.

3.4 DIREITO ESPANHOL

A Delação Premiada surge no ordenamento espanhol no ano de 1988 diante

da proliferação do terrorismo e o problema por ele gerado. Com uma legislação já

defasada frente ao terrorismo, a Espanha segue o caminho de outros países

Europeus, e com base em suas legislações, institui a colaboração premial no

combate ao Crime Organizado.

No decorrer do tempo novas configurações nas Organizações resultaram em

uma diversificação de conduta delituosa tendo os grupos organizados expandindo

sua área de atuação passando a englobar atividades como o tráfico ilegal de armas,

tráfico de drogas, tráfico e exploração de seres humanos, roubo e tráfico de veículos

16

entre outros. Diante dessa nova realidade o pais amplia sua legislação de forma a

abranger tais condutas delituosas.

Não bastasse a criminalidade organizada tem em seu favor outro elemento

que é evolução tecnológica onde o uso de meios sofisticados para afastar a ação

dos órgãos de repressão ao crime cada vez mais se faz presente, tornando ainda

mais difícil o combate à essas organizações.

Como nos demais países, na Espanha a Delação Premiada porta-se como

um meio de desestabilizar as Organizações assim possibilitando o combate efetivo

aos entes delituosos.

O País Catalão disciplina a Delação Premiada na Lei Orgânica nº 10/1995 nos

artigos 376 e 359.3 do CP sendo estes aplicados, respectivamente, a casos

envolvendo o narcotráfico e a prática terrorista.

Em previsão os art. 376 e 359.3 do Código Penal Espanhol estabelecem

benefícios aos colaboradores desde que preenchidos os requisitos elencados no

ordenamento sendo estes o abandono voluntário das atividades criminosas; tenha

trabalhado ativamente com as autoridades ou seus agentes para impedir a produção

do delito, ou para obter provas decisivas para identificação ou a captura de outros

agentes, ou para evitar o desenvolvimento ou desempenho das organizações ou

associações a que pertencia ou com quem tenha trabalhado (2013, p. única).

17

4 DELAÇÃO PREMIADA NO BRASIL

4.1 PASSAGENS HISTÓRICAS

A Delação Premiada torna-se notória no Brasil em um evento histórico –

político conhecido e intitulado como Inconfidência Mineira, onde, em 15 de março de

1789, o então Coronel Comandante do Regimento de Cavalaria Auxiliar, Joaquim

Silvério dos Reis delatou seus colegas de Inconfidência ao Visconde de Barbacena

em troca do perdão de suas dívidas junto à Coroa Portuguesa.

Posteriormente, em um salto histórico, em 1964 durante o golpe militar a

figura premial foi utilizada com o fim de tomar conhecimento de supostos criminosos

que não consentiam com o Regime.

Nas últimas três décadas inúmeros casos de atuação de Organizações

Criminosas foram desmanteladas a partir do uso do instituto da Delação Premiada.

Dentre os casos de maior repercussão faz-se necessário a menção de três

episódios de exploração do erário público descoberto através do instrumento aqui

trabalhado.

A colaboração por parte do irmão do ex-presidente Fernando Collor de Mello,

Pedro Collor de Mello, onde Pedro delatou esquema de corrupção, chefiado pelo

então Tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Mello à Presidência da

República Paulo Cesar Farias, ou PC Farias como veio a ser conhecido na mídia. A

trama consistia na prática de cobrança de propina de empresários ligados ao

Governo em troca de vantagens junto ao governo representado pela figura do, já

então eleito, Presidente Fernando Collor de Mello.

Como consequência do escândalo uma CPI foi instaurada pelo Congresso

Nacional que reconhece a ligação do Presidente Collor com o Tesoureiro PC Farias

e que o mesmo estaria agindo em desonra com o cargo o qual ocupava. Em 1º de

Outubro de 1992 é instaurado o processo de impeachment onde em 30 de

Dezembro de 1992 o Senado Federal condena Fernando Collor à perda do mandato

e à inelegibilidade por oito anos. Sendo ele o primeiro Presidente Brasileiro a sofrer

um processo de impeachment na história do país.

Outro fato marcante foi o esquema fraudulento envolvendo a Comissão de

Orçamento, denunciado pelo Assessor Técnico da Comissão de Orçamento no

18

Congresso o economista José Carlos Alves dos Santos, intitulado como “Anões do

Orçamento”.

No ano de 1993 o Economista José Carlos Alves dos Santos, após ser preso

sob a acusação de matar sua esposa, delata a rede de criminosos envolvidos em

fraudes com o dinheiro da comissão de Orçamento.

Em caso mais recente mais um escândalo político nacional figura no contexto

pátrio. No ano de 2005 o ex-chefe do Decam/ECT Mauricio Marinho foi filmado

recebendo dinheiro, de um falso empresário, em troca de uma vantagem indevida

junto ao Governo. Nas gravação o ex-chefe do Decam/ECT conta em detalhes como

funcionava todo o processo da rede criminosa que envolvia agentes públicos. Na

gravação Marinho cita o nome Roberto Jefferson com este sendo o chefe de todo a

célula.

Pressionado e acuado o presidente do PTB Roberto Jefferson denuncia a

existência do esquema nomeado de “mensalão” em troca de benesses sua pena.

Utilizada como forma de referencia à mensalidade recebida pelos deputados

envolvidos no caso, a palavra mensalão vinha carregada de práticas ilegais e

imorais de negociatas que favoreciam poucos em detrimento do Estado e do povo

ao qual ele representa. O mensalão no princípio colocou em prova a mudança de

governo que se iniciava sendo este questionado e muitas vezes desacreditado pela

população que o elegera. Posteriormente demonstrou que há uma movimentação

para que os erros sejam corrigidos através de uma atuação eficaz no combate a

corrupção e a improbidade e que os mecanismos utilizados se tornam cada vez mais

importantes nessa busca.

4.2 FONTES LEGAIS

O instituto em nosso ordenamento faz presente inicialmente com o advindo da

Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990 que vem a criar a lei dos Crimes Hediondos.

A partir deste marco surgem alguns efeitos decorrentes desta lei como a

introdução do parágrafo 4º no artigo 159 do Código Penal.

A Delação Premiada não é aplicada a todo e qualquer delito sendo tratada em

nosso ordenamento de forma difusa, ou seja, não está normatizada em apenas uma

única lei havendo assim a existência de diversas figuras normativas que fazem

referência em seu texto legal ao instituto premial.

19

4.2.1 Código Penal Artigo 159, Parágrafo 4º

Código Penal Artigo 159, Parágrafo 4º, Decreto Lei nº 2.848 de 07 de

dezembro de 1940, com redação dada pela Lei nº 9.269 de 02 de abril de 1969, em

seu texto legal prevê:

Art. – 159 Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço de resgate. Parágrafo 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. (2012. p. única).

4.2.2 Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990

Titulada como Lei dos Crimes Hediondos a Lei nº 8.072 de 25 de julho de

1990 artigo 8º parágrafo único dispõe em seu texto a seguinte redação:

Art. – 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único – O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços. (2012. p. única).

4.2.3 Lei nº 7.492 de 16 de junho de 1986

Titulada como Lei de Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional a Lei nº

7.492 de 16 de junho de 1986 artigo 25 parágrafo 2º, incluído pela Lei nº 9.080 de 19

de julho de 1995, dispõe em seu texto a seguinte redação:

Art. 25 – São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o controlador e os administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores, gerentes. Parágrafo 2º - Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de uma a dois terços. (2012. p. única).

20

4.2.4 Lei nº 8.137 de 27 de novembro de 1990

Titulada como Lei de Crimes Contra a Ordem Tributária, Econômica, e

Relações de Consumo a Lei nº 8.137 de 27 de novembro de 1990 em seu artigo 16

parágrafo único, incluído pela Lei nº 9.080 de 19 de julho de 1995, dispõe:

Art. 16 – Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos crimes descritos nesta Lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a autoria, bem como indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção. Parágrafo único – Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços. (2012. p. única).

4.2.5 Lei nº 9.034 de 03 de maio de 1995

Titulada como Lei do Crime Organizado a Lei nº 9.034 de 03 de maio de 1995

em seu artigo 6º dispõe:

Art. 6º - Nos crimes praticados em organização criminosa, a pena será reduzida de um a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento de infrações penais e sua autoria. (2012. p. única).

4.2.6 Lei nº 9.613 de 03 de março de 1998

Titulada como Crimes de Lavagem de Capitais a Lei nº 9.613 de 03 de março

de 1998 em seu artigo 1º parágrafo 5º, com redação dada pela Lei 12.683 de 09 de

julho de 2012, dispõe:

Art. 1º - Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. Parágrafo 5º - A pena poderá ser reduzida de uma a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semi-aberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimento que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, co-autores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime. (2012. p. única).

21

4.2.7 Lei nº 9.807 de 13 de julho de 1999

Titulada como Lei de Proteção a Vitima e às Testemunhas a Lei nº 9.807 de

13 de julho de 1999 no artigo 13 dispõe:

Art. 13 – Poderá o juiz, de oficio ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a conseqüência extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente coma investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I – a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa; II – a recuperação total ou parcial do produto do crime; III – a recuperação total ou parcial do produto do crime; Parágrafo único – A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstancia, gravidade e repercussão social do fato criminoso. (2012. p. única).

Ainda, no artigo 14 o presente texto legal dispõe:

Art. 14 – O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços. (2012. p. única).

4.2.8 Lei nº 11.343 de 23 de agosto de 2006

Titulada como Lei de Drogas a Lei nº 11.343 de 23 de agosto de 2006 em seu

artigo 41 dispõem:

Art. 41 – O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços. (2012. p. única).

4.3 PROBLEMÁTICA DA SUCESSÃO NORMATIVA A delação premiada, como já citado no item 4.2, apresenta-se de forma difusa

constando em diversos regramentos que surgiram de forma sucessiva em nosso

ordenamento. Criadas sem nenhuma diretriz determinadora a sucessão apresenta

uma problemática no que concerne a sua interpretação. A sucessão normativa

interfere na hermenêutica da norma. Devido a ampla e fragmentada previsão, a

22

delação premiada apresenta modalidades diferentes o que acaba acarretando em

duvidas como, qual dispositivo legal deve ser aplicado, qual critério a ser utilizado.

5 NATUREZA JURÍDICA

A análise do instituto quanto a sua natureza jurídica gera uma dificultosa

conceituação apresentando diversos entendimentos doutrinários quanto à sua

natureza em virtude dos variados aspectos o qual apresenta.

A Delação Premiada se configura quando o colaborador confessa a

participação e indica demais integrantes, diante desse contexto, seguindo essa

premissa a doutrina tem reclinado apontando a Figura Premial como uma forma

probatória de natureza testemunhal.

Nessa mesma vertente tem trabalhado o professor Guilherme de Souza Nucci

(2008. P. 444) onde discorre sobre o tema deferindo seu parecer no sentido de que

a Delação Premiada é um meio de testemunho qualificado, feito pelo indiciado ou

acusado. Naturalmente, tem valor probatório, especialmente porque houve admissão

de culpa pelo delator.

Vicente Greco Filho (2010. p. 218): Na verdade a confissão não é um meio de

prova. É a própria prova, consiste no reconhecimento da autoria por parte do

acusado. A confissão pode estar contida no interrogatório ou ser espontânea

oferecida pelo acusado a qualquer tempo, caso em que será lavrado termo de

ocorrência.

Assim, com base na doutrina, é possível afirmar que o instrumento premial

pode ser classificado quanto à forma, com um valor probatório de natureza

testemunhal, quanto ao sujeito, decorrente do ato acontecer da pessoa, quanto ao

objeto, de ordem direta demonstrando o fato de forma direta.

Por fim pode-se, com ressalvas, dizer que a figura da delação premiada

possui a natureza jurídica de perdão judicial, resultando em extinção ou de

diminuição de pena, ou, dentro de um contexto processual como um valor de prova

testemunhal, um valor probatório no tocante à imputação feita.

23

6 REQUISITOS DA DELAÇÃO PREMIADA

6.1 COLABORAÇÃO ESPONTÂNEA

É necessário inicialmente diferenciar o termo espontâneo da colocação

voluntário.

As terminologias espontânea e voluntária remetem a idéia de uma vontade

livre sendo diferenciado no tocante a forma à qual decorre do agente.

Dentro da voluntariedade admite-se que a idéia de prestar as informações

possa emanar de forma diferente que não do próprio agente.

Na forma espontânea, a vontade livre decorre do próprio agente sem

influencia externa. Nesta forma não há uma figura coercitiva que influência na

vontade do agente que presta a informação.

Seguindo o raciocínio, conclui-se a necessidade que a contribuição seja de

forma livre e sem influências como a coação, ou seja, o colaborador não pode ser

forçado a prestar informações, em contrário, acarretando a consequência da prova

obtida configurar como ilícita.

Nesse sentido discorre o professor Antonio Scarance Fernandes (2009. P.

48), [...] excessos empregados para a obtenção da confissão e indicação da

participação alheia na prática do crime resultarão da ilicitude da prova obtida.

A Constituição Federal de 1988 (CRFB/88), em seu art. 5º, inc, LVI, veda a

utilização da prova ilícita quando estabelece que: são inadmissíveis, no processo, as

provas obtidas por meios ilícitos. (VADE MECUM, 2013. P. 10).

Decorrente deste preceito, com ausência do elemento espontaneidade,

estaria à prática em desrespeito as normas constitucionais afrontando o principio

nela contido.

Em consonância com a CRFB/88 O art. 157 do Código de Processo Penal em

seu caput traz a seguinte previsão: São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas

do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas

constitucionais ou legais. (VADE MECUM, 2013. P. 601).

Conclui-se, portanto que a colaboração deve originar da livre e intima vontade

do colaborador, devendo partir do próprio agente sem qualquer tipo de pressão

externa sob pena de restar à prova obtida desprovida de valoração desta forma

refletindo em todo o processo podendo restar em prejuízo à causa.

24

6.2 EFETIVIDADE DAS INFORMAÇÕES

Caminhando o estudo chegamos no correspondente à efetividade das

informações.

Walter Barbosa Bittar, citando David Teixeira de Azevedo (BITTAR,

2011, p.180) esclarece em seu livro de forma eficaz o presente requisito quando

expõem o seguinte texto: Auxilio efetivo é aquele caracterizado pela participação

ativa do acusado na realização das diligencias, na demonstração de um especial

empenho pessoal no exitoso desdobramento das investigações.

Segundo Eugênio Pacelli de Oliveira (2009, p.713): Trata-se de norma

imperativa, atributiva de direito subjetivo ao réu, bastando seja demonstrada a sua

efetiva participação, tanto no curso da investigação, quanto na fase de ação penal.

O atual elemento está atrelado ao fator onde não basta que o colaborador

apenas forneça informações concernentes ao grupo criminoso, o agente delator

deve estar em constante auxilio comparecendo ou acompanhando os atos tendentes

ao caso.

6.3 RELEVÂNCIA DAS DECLARAÇÕES

Na medida das declarações fornecidas existe a necessidade de que as

declarações sejam dotadas de uma relevância que permitam chegar ao

reconhecimento da materialidade das condutas criminosas realizadas ou seja que as

informações prestadas conduzam aos demais agentes da organização, provas

decorrentes do ato criminoso a localização dos bens, direitos ou valores, objetos do

crime, que somente com ajuda das informações prestadas pelo colaborador, poderia

se chegar ao seu paradeiro.

Nesse sentido cabe citar o entendimento do Superior Tribunal Justiça (STJ)

que se posiciona da seguinte maneira:

A pena será reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços) e começará a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com a autoridades, prestando esclarecimento que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime. (2013. p. única).

25

Deve-se abrir um parêntese ao se falar em localização dos bens ou

recuperação do produto do crime. Tal definição não deve ser seguida de forma

absoluta, há que se atentar ao fato da possibilidade fática da medida, haverá

ocasiões em que alcançar tal produto não será possível através da colaboração,

uma vez que o delator pode vir a desconhecer sobre o paradeiro, nem por isso

deverá a declaração feita ser tachada de irrelevante, nesses casos, apesar da não

possibilidade de localizar ou recuperar o produto do crime, não será afastado o

benefício decorrente da informação prestada.

6.4 PERSONALIDADE DO COLABORADOR

Devem-se ponderar as informações fornecidas pelo agente delator com sua

personalidade, onde o mesmo possui em seu âmago valores voltados à quebra de

condutas morais e normativas. Sua declaração pode vir carregada de forte interesse

pessoal considerar os motivos que levaram o agente a prestar a informação

Guilherme de Souza Nucci em uma passagem de seu Manual nos ensina:

Nunca deve o magistrado deixar de atentar para os aspectos negativos da personalidade humana, pois não é impossível que alguém, odiando outrem, confesse um crime somente para envolver seu desafeto, que na realidade, é inocente. (NUCCI, 2008. p. 444)

Deve se atentar ao fato de que o réu colaborador surge de uma realidade

onde questões como honra, verdade, certo ou errado, não estão presentes em seu

dia a dia. Vive ele sob a regra marginal onde a violência e a desonestidade estão

presentes.

Assim o magistrado deve pesar confrontando o afirmado pelo delator com os

aspectos subjetivos decorrentes de sua personalidade.

26

7 BENEFÍCIOS DA DELAÇÃO PREMIADA

Como já explanado anteriormente, a Delação Premiada é utilizada como um

mecanismo pela justiça onde é oferecido um benefício, material ou processual, para

aquele que, na condição de réu, colabora com a justiça informando detalhes sobre o

ato típico e ilícito cometido.

Antonio Scarance Fernandes (2009. p. 20) delega sobre o tema quando trata

da Delação Premiada em dois aspectos o material no sentido de redução, isenção

de pena ou perdão judicial e processual como alternativa de solução antecipada do

processo em favor do colaborador, pelo arquivamento das peças de investigação,

pela suspensão do processo.

O ordenamento brasileiro prevê os benefícios decorrentes do mecanismo sob

dois momentos sendo eles como causa de extinção de punibilidade ou causa de

diminuição de pena.

Se o colaborador responder aos requisitos previstos em lei, apresentar a

condição de primariedade, demonstrar aspectos subjetivos relacionados a

personalidade, circunstância, gravidade e repercussão social do fato criminoso, a

seu favor, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes conceder o perdão

judicial e a consequência extinção da punibilidade ao acusado (BITTAR, 2011. p.

181)

Nos casos em que houver a condenação a penas restritiva de liberdade,

desde que cobertos os requisitos legais, deve ser aplicada a redução na nas

proporções de 1 (um) a 2/3 (dois terços) sobre a pena aplicada.

Ainda duas outras hipóteses figuram entre as benesses decorrentes da

delação correspondendo ao cumprimento da pena em regime aberto e a substituição

da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito.

A primeira está ligada a redução auferida ao colaborador onde, preenchidos

os requisitos, poderá o colaborador ser beneficiado com a progressão de regime

cumprindo a pena em regime aberto. Há que se frisar que o delator não fica imune a

regressão de regime caso venha a descumprir os elementos exigidos em lei para tal.

Tendo diferente da hipótese do perdão judicial e tendo agido o colaborador

com parte dos requisitos necessários poderá o réu fazer gozo da substituição da

pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito.

27

Vale ressaltar ainda o Projeto de Lei nº 6.578 de 09 de dezembro de 2009 que

dispõem, entre outras previsões, sobre os meios de obtenção de prova, onde em

seu artigo 4º caput, regula o instituto Delação Premiada onde traz o seguinte texto:

Art. 4° O juiz poderá,de oficio ou a requerimento conjunto das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até dois terços a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;

II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;

V - a localização da eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Sem critério estabelecido em norma, a concessão do benefício fica ligada ao

preenchimento dos requisitos primordiais proporcional à colaboração. Em

negociação com o Ministério Publico fica estipulado à benesse, que posteriormente,

será concedida pelo magistrado que conduz a lide.

28

8 VALOR PROBATÓRIO

Como já visto a Delação Premiada tem valor probatório ou seja é um

elemento que pode levar o conhecimento de um fato a alguém. Dentro do direito

processual conceituado como um instrumento que traz os elementos de prova aos

autos (GRECCO, 2010. p. 185).

Edilson Mougenot Bonfim em seu livro Curso de Processo Penal (2012. p.

355). define a prova como sendo um instrumento usado pelos sujeitos processuais

para comprovar os fatos da causa, Isto é, aquelas alegações que são deduzidas

pelas partes como fundamento para o exercício da tutela jurisdicional.

A prova judiciária tem um objetivo claramente definido: a construção dos fatos

investigados no processo, buscando maior coincidência possível com a realidade

histórica, isto é, com a verdade dos fatos, tal como efetivamente ocorridos no

espaço e no tempo (OLIVEIRA, 2009. p. 317)

Fernando Capez expõe sobre o tema da seguinte forma:

Do Latim probatio, representa o conjunto de atos praticados pelas partes, pelo juiz (arts. 156, 2ª parte, 209 e 234 do CPP) e por terceiros (por exemplo peritos), destinados a levar ao Magistrado a convicção acerca da existência ou inexistência de um fato, da falsidade ou veracidade de uma afirmação. Trata-se portanto, de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de comprovar a verdade de uma alegação (CAPEZ, 2006. P. 132)

O art. 197 do CPP traz a valoração da confissão dentro do sistema processual

onde em seu texto descreve a seguinte premissa:

O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-lo com as demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância (VADE MECUM, 2013. P. 604)

A Delação é o meio o qual o réu “entrega” os demais integrantes da

Organização Criminosa em troca de uma beneficio. Porém deve-se atentar sobre a

motivação do ato podendo este ser provocado por meio de obter vingança,

direcionado à busca então somente de uma redução ou extinção de pena.

A prova não deverá ser considerada de forma isolada sendo necessário que a

mesma seja confrontada com o conjunto probatório no todo.

29

Por fim pode-se concluir que sua aplicação não deve ser tratada com força

probatória absoluta devendo esta ser apreciada frente às demais provas do

processo para, a partir dessa análise, retirar uma conclusão.

9 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO

9.1 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

O artigo 5º da CRFB/88 no inciso LIV prevê que ninguém será privado da

liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (VADE MECUM, 2013. P.

10).

Como um dos pilares processuais do Sistema Democrático de Direito, o

princípio do devido processo deve assegurar ao acusado o direito de percorrer

dentre as regras de direito estabelecidas.

9.2 AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO

A Constituição da República Federativa do Brasil no art. 5º, inciso, LV,

assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em

geral, o contraditória e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes

(VADE MECUM, 2013. P. 10).

A ampla defesa se traduz, em termos objetivos, englobando a instrução contraditória, em algumas soluções técnicas dentro do processo, as quais, na verdade, tornam efetiva a garantia. Entre elas a adoção do sistema acusatório, a apresentação formal da acusação, a citação regular, a instrução contraditória, o princípio da verdade real e o exercício de defesa técnica (GRECO, 2010. p. 55).

9.3 PRINCÍPIO DA INOCÊNCIA

Firmado no artigo 5º da CRFB/88 no inciso LVII, este princípio assegura ao

indivíduo a não atribuição de culpa sem que haja o transito em julgado de sentença

penal condenatória.

Eugênio Pacelli de oliveira (2009, p. 42):

30

O princípio da inocência, ou estado ou situação jurídica de inocência, impõe ao Poder Público a observância de duas regras específicas em relação ao acusado: uma de tratamento, segundo a qual o réu, em nenhum momento de iter persecutório, pode sofrer restrições pessoais fundadas exclusivamente na possibilidade de condenação, e outra de fundo probatório, a estabelecer que todos os ônus da prova relativa à existência do fato e à sua autoria devem recair exclusivamente sobre a acusação.

9.4 DIREITO AO SILÊNCIO OU DIREITO DE NÃO SE AUTOACUSAR Em previsão expressa no artigo 5º inciso LXIII da CRFB/88, o preso será

informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo lhe

assegurado a assistência da família e de advogado (VADE MECUM, 2013. P. 10).

Norberto Cláudio Pâncaro Avena:

O direito ao silêncio coaduna-se com a obrigatoriedade que assiste à acusação de provar os fatos alegados na peça vestibular do processo criminal. Tal ônus, com efeito, é afeto ao Ministério Público, na hipótese de ações penais públicas, e ao querelante, quando for o caso de ação penal privada. Destarte, em razão deste privilégio, não estará o acusado obrigado a responder as perguntas que lhe forem formuladas por ocasião de seu interrogatório; (AVENA, 2009. p. 149)

Assim ao acusado não se deve impor o dever de se incriminar, figurando o acusado como parte não deve ele se declarar, com risco de afastá-lo do dever de se defender. O direito ao acusado em ficar calado concede ao mesmo o direito de não produzir prova contra si, devendo o Estado utilizar dos mecanismos que possuí. 9.5 PRINCÍPIO DA INADMISSIBILIDADE DE PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILÍCITOS Como já exposto no sub-título 6.1 deste trabalho, a CRFB/88 em seu artigo 5º

inciso LVI veda a realização ou busca de prova a ser obtida por forma ilícita.

O processo penal deve formar-se em torno da produção de provas legais e

legítimas, inadmitindo-se qualquer prova obtida por meio ilícito (NUCCI, 2008. p.87.)

Cabe ressaltar a exceção quando poderá ser aceita a prova ilícita se a

mesma puder ser obtida por outro meio lícito.

31

10 QUESTÕES CONTRÁRIOS E FAVORÁVEIS AO INSTITUTO

10.1 QUESTÕES CONTRÁRIOS AO INSTITUTO

Segundo a ministra Maria Thereza Rocha de Assis Moura (2006 apud

FERNANDES 2009) a Delação Premiada, prevista em diversas leis brasileiras, não

atende a exigências éticas, requisito cuja presença é essencial ao ordenamento

jurídico e deve orientar a totalidade das ações do Estado e dos agentes.

Várias questões conduzem o entendimento de parte da doutrina na questão

referente aos preceitos subjetivos da ética e da moral violados pela prática da

delação premiada.

Nesse contexto agiria o Estado de forma antiético e imoral no momento em

que estaria premiando o delator para que o mesmo entregasse seus semelhantes

dessa forma incentivando a prática da traição;

Outro aspecto se configura no problema, de adequação constitucional

relacionado ao pólo do delator, da relação de proporcionalidade entre a medida da

pena de uma lado, e a gravidade objetiva do fato e culpabilidade do autor de outro.

(PEREIRA, 2013. p. 55)

Ainda o uso do instituto agiria de forma contrário à figura da traição, que em

regra deveria servir para agravar ou qualificar o crime, diante da prática do delator,

estaria servindo como redutor da pena.

Outro questionamento consiste na hipótese de que o Estado estaria

negociando com o crime se valendo da cooperação do criminoso na busca da

justiça.

Vislumbra-se ainda o meio de colaboração como forma de estimulo a

falsidade nas declarações agindo o colaborador com intuito de vingar-se dos demais

membros da organização.

O instituto também estaria influenciando de forma negativa onde haveria um

aumento de delações ineficientes decorrente do então somente beneficio.

Outro ponto seria a posição contrária a afirmação que a delação estaria em

busca de um bem maior sendo esta necessária ao momento mesmo que possa ser

considerada imoral ou antiética idéia cunhada pela doutrina com a expressão “os

fins justificam os meios”.

32

Já em relação à violação às garantias individuais parte da doutrina tem se

posicionado sob o embasamento de que ao aplicar a Delação Premiada estaria o

colaborador sendo violado em suas garantias constitucionais sendo elas o direito ao

silêncio, o papel do interrogatório como meio de defesa, o nexo retributivo entre a

pena e o delito, o princípio da materialidade, a moralidade pública, a ampla defesa e

o contraditório (PEREIRA, 2013. p. 53 e 54)

10.2 QUESTÕES FAVORÁVEIS AO INSTITUTO

Guilherme de Souza Nucci de forma objetiva rebate os pontos contrários ao

instrumento onde elenca vários pontos positivos a aplicação da delação:

No universo criminoso, não se pode falar em ética ou valores moralmente elevados, dada, a própria natureza da prática de condutas que rompe com as normas vigentes, ferindo bens jurídicos protegidos pelo Estado; Não há lesão à proporcionalidade na aplicação da pena, pois esta é regida, basicamente, pela culpabilidade (juízo de reprovação social), que é flexível. Réus mais culpáveis devem receber pena mais severa. O delator, ao colaborador com o Estado, demonstra menor culpabilidade, portanto, pode receber sanção menos grave; O crime praticado por traição é grave, justamente porque o objetivo almejado é a lesão a um bem jurídico protegido. A delação seria a traição de bons propósitos, agindo contra o delito e em favor do Estado Democrático de Direito; Os fins podem ser justificados pelos meios, quando estes forem legalizados e inseridos, portanto, no universo jurídico; A ineficiência atual da delação premiada condiz com o elevado índice de impunidade reinante no mundo do crime, bem como ocorre em face da falta de agilidade do Estado em dar efetiva proteção ao réu colaborador; O Estado já está barganhando com o autor de infração penal, como se pode constatar pela transação, prevista na Lei 9.099/95. A delação premiada é apenas outro nível de transação; O benefício instituído por lei para que o criminoso delate o esquema no qual está inserido, bem como os cúmplices, pode servir de incentivo ao arrependimento sincero, com forte tendência à regeneração interior, o que seria um dos fundamentos da própria aplicação da pena; A falsa delação, embora possa existir, deve ser severamente punida; A ética é juízo de valor variável, conforme a época e os bens em conflito, razão pela qual não pode ser empecilho para a delação premiada, cujo fim é combater, em primeiro plano, a criminalidade organizada. (NUCCI, 2008. P.446 e 447)

Walter Barbosa Bittar (2011. P.225), reconhece a antieticidade do instituto da

Delação Premiada, porém, ressalta que na maioria dos casos, pela imoralidade do

comportamento dos colaboradores, em nada afeta a questões meramente jurídicas,

pois são campos de investigação distintos.

Antonio Scarance Fernandes (2009. P. 51), reconhece a necessidade de

discutir sobre a base ética da Delação Premiada e, notadamente, debatê-la nas

33

situações em que a preservação da vida humana está em jogo. Reconhece também

a conveniência em permitir a aplicação do instituto aos casos relacionados à

criminalidade organizada, observando o princípio da proporcionalidade, apesar da

questão ética ressaltada.

Ainda contrapondo a idéia de quebra da garantia individual ao silencio, tramita

no Senado Federal o projeto de Lei nº 6.578 de 09 de dezembro de 2009, originado

do projeto de Lei do Senado 150/2006, que em seu art. 4º parágrafo 14 traz a

seguinte premissa:

Art. 4º [...]

§ 14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.

Frederico Valdez Pereira conclui (2013, p. 102):

A situação de exigência na concretização de um dever de proteção minimamente eficaz por parte do Estado se maximiza nos crimes cometidos no bojo de organizações criminosas, em relação às quais já foi reconhecida quase que uma impossibilidade prática de o Estado superar o bloqueio na resposta judiciária, o que leva a que a alternativa de estímulo à colaboração com a justiça seja uma das únicas medidas eficazes possíveis. Conclusão que leva então a se reconhecer a conveniência da previsão normativa de um instrumento judicial de facilitação do abandono das atividades delituosas como método provavelmente mais adequado, ao menos sob o ponto de vista tático operativo, no enfrentamento aos delitos de maior gravidade cometidos de forma associativa estável e estruturada.

34

11 JURISPRUDENCIA

11.1 EFETIVIDADE DAS INFORMAÇÕES

TJPI - Apelação Criminal APR 201200010015868 PI (TJPI) (2013. p. única).

PROCESSO PENAL. APELAÇAO CRIMINAL. FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO NAO VERIFICADO. DEPOIMENTOS DOS POLICIAIS HARMÔNICOS E CONSISTENTES COM OS DEMAIS ELEMENTOS DE PROVA ERIGIDOS NO CURSO DA INSTRUÇAO CRIMINAL SOB O MANTO DO CONTRADITÓRIO JUDICIAL. DELAÇAO PREMIADA CONFIGURADA. 1. In casu, o lastro probatório restou evidenciado, em especial, pelo depoimentos lúcidos dos policiais, testemunhais e delação premiada. Verifica-se harmônico o conjunto fático-probatório, cuja sanção aplicada foi suficiente e necessária para elidir a prática da infração penal que lhe foi imputada. 2. Delação premiada respaldada na admissão do ilícito e prestação de informações eficazes para o deslinde da trama delituosa. 3. Recurso improvido. (201200010015868 PI , Relator: Des. José Francisco do Nascimento, Data de Julgamento: 15/01/2013, 1a. Câmara Especializada Criminal)

APR 20274 MS 2006.020274-3 (2013. P. única)

APELAÇÃO CRIMINAL - ROUBO QUALIFICADO - PRETENSÃO ABSOLUTÓRIA - ALEGADA INSUFICIÊNCIA DE PROVAS - NÃO-OCORRÊNCIA - PRETENSÃO DE APLICAÇÃO DA BENESSE DA DELAÇÃO PREMIADA - FALTA DE COLABORAÇÃO EFETIVA - RÉUS QUE NÃO REÚNEM OS REQUISITOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA LEI - RECURSOS IMPROVIDOS. (20274 MS 2006.020274-3, Relator: Des. Gilberto da Silva Castro, Data de Julgamento: 27/02/2007, 1ª Turma Criminal, Data de Publicação: 16/03/2007)

11.2 RELEVÂNCIA DAS DECLARAÇÕES

APR 474262920068070001 DF 0047426-29.2006.807.0001 (2013. p. única).

PENAL. QUADRILHA. CONJUNTO PROBATÓRIO QUE AMPARA

A CONDENAÇÃO. APLICAÇÃO DO BENEFÍCIO DE DELAÇÃO

PREMIADA. INCABÍVEL O RECONHECIMENTO DE CRIME

CONTINUADO. CONJUNTO PROBATÓRIO QUE AMPARA A

CONDENAÇÃO. O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA CONTEMPLA O

INDICIADO OU ACUSADO QUE COLABORA VOLUNTARIAMENTE NA

35

IDENTIFICAÇÃO DOS DEMAIS COAUTORES OU PARTÍCIPES DO

CRIME, INDIQUE A LOCALIZAÇÃO DA VÍTIMA E COLABORE COM A

RECUPERAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DO PRODUTO DO CRIME. NO

CASO, DEVE-SE APLICAR O BENEFÍCIO DA DELAÇÃO PREMIADA, A

FIM DE REDUZIR A PENA DE DOIS DOS APELANTES, POIS SEUS

DEPOIMENTOS FORAM ESSENCIAIS PARA A SOLUÇÃO DOS CRIMES.

NÃO HÁ DE SE FALAR EM CONTINUIDADE DELITIVA QUANTO A

FATOS RELATIVOS A CRIMES DE ESPÉCIES DISTINTAS. APELOS

PARCIALMENTE PROVIDOS, PARA APLICAR O BENEFÍCIO DE

DELAÇÃO PREMIADA E REDUZIR A PENA DE DOIS APELANTES.

(474262920068070001 DF 0047426-29.2006.807.0001, Relator: LEILA

ARLANCH, Data de Julgamento: 12/05/2011, 1ª Turma Criminal, Data de

Publicação: 17/05/2011, DJ-e Pág. 205)

APR 35980620088070003 DF 0003598-06.2008.807.0003

PENAL E PROCESSAL PENAL - ART. 157, § 2º INCISOS I E II, DO CP -

DELAÇÃO PREMIADA (ART. 14 DA LEI 9807/99)- POSSIBILIDADE.157§

2ºIIICP1498071. TENDO O RÉU COLABORADO COM A INVESTIGAÇÃO

POLICIAL, APONTANDO ONDE SE ENCONTRAVAM OS PRODUTOS

ROUBADOS, TEM DIREITO À DIMINUIÇÃO DA PENA NOS TERMOS DO

ART. 14 DA LEI 9807/99. 2. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.149807

(35980620088070003 DF 0003598-06.2008.807.0003, Relator: ANA

CANTARINO, Data de Julgamento: 27/11/2008, 2ª Turma Criminal, Data de

Publicação: 21/01/2009, DJ-e Pág. 120)

11.3 ESPONTANEIDADE DA DELAÇÃO

HC 23479 RJ 2002/0083604-9 (2013. p. única).

"PROCESSUAL PENAL. HC. EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA, REFERENTE AO ART. 159, § 4º DO CP. ACUSADO QUE DELATOU SEUS COMPARSAS, FACILITANDO A LIBERTAÇÃO DA VÍTIMA. A Lei nº 9.269/96 não traz como requisito a espontaneidade da denúncia para o fim de diminuir a pena. A causa de diminuição de pena prevista no artigo 159, § 4º, do CP é de aplicação obrigatória quando, como no caso dos presentes autos, as informações são eficazes, possibilitando ou facilitando a libertação da vítima."

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Ordem concedida para que seja aplicada a causa de diminuição de pena prevista no § 4º do artigo 159 do Código Penal, com redação da Lei 9.269/96.159§ 4ºCP9.269159§ 4ºCP§ 4º159Código Penal9.269 (23479 RJ 2002/0083604-9, Relator: Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, Data de Julgamento: 17/02/2003, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ 24.03.2003 p. 250)

TJSP- Processo: 20756420088260185 SP

Roubo triplamente qualificado e quadrilha armada - Delação - Ré que confessa o crime e incrimina os demais réus - Admissibilidade - Prova de grande valor probatório para formação da convicção do Julgador, em relação a conduta dos delatados - Absolvição - Não ocorrência. Qualificadoras - Comprovada pelas palavras da vítima - Afastamento - Impossibilidade. Quadrilha armada - Existência de vínculo associativo permanente entre os réus para prática de crimes - Delito configurado. Roubo triplamente qualificado e quadrilha armada - Uso de arma de fogo - Bis in idem - Não ocorrência - Delitos que são autônomos. Penas-bases fixadas no patamar máximo para os réus Aparecido, Odair e Antônio Tavares, pois possuem maus antecedentes e também pelos crimes cometidos, demonstrando alto grau de periculosidade - Redução da reprimenda em face do aumento exacerbado- Possibilidade. Ré Heluiza - Penas fixadas em seu mínimo legal para ambos os crimes - Reconhecimento da confissão espontânea - Impossibilidade -Reprimenda que não pode ficar aquém do mínimo legal - Aplicação da delação premiada -Inadmissibilidade, pois não houve colaboração voluntária da apelante e a res não foi recuperada. Réu Aparecido - Concessão da Justiça gratuita -Não cabimento - Acusado que durante toda a instrução criminal foi representado por Defensor constituído, fato que faz presumir sua não hipossuficiência econômica. Regime prisional inicial fechado bem fundamentado - Alteração - Impossibilidade -Recurso de Heluiza improvido e dos demais réus providos parcialmente. (20756420088260185 SP , Relator: Pedro Menin, Data de Julgamento: 11/01/2011, 16ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação: 31/01/2011)

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12 ALEGAÇÕES FINAIS

O Crime Organizado brasileiro é uma realidade presente em todo setor do

território pátrio e encontra-se em constante expansão. O cenário criminoso

organizado figura rodeado por uma barreira fundada em medo de represálias por

parte dos integrantes e códigos próprios. Não bastasse o grupo conta ainda com

vasto arsenal tecnológico como meio de afastar as forças inibidoras de sua conduta

criminosa.

Na outra ponta do vértice encontra-se o Estado, que na tentativa de

acompanhar essa crescente evolução, deparou-se com a necessidade de criar um

mecanismo na intenção de sobrepujar essas barreiras possibilitando combater essas

organizações assim mantendo a tutela estatal à sociedade.

Presente no ordenamento brasileiro como um meio de auxilio político-criminal

visando o combate ao ilícito praticado por um grupo organizado, a Delação

Premiada, é um mecanismo processual que auxilia no combate ao crime organizado,

com objetivo de desestruturar o grupo criminoso.

A Delação Premiada, embora muito contestada, devido a sua peculiar

aplicação, surge como mais uma ferramenta de reforço ao combate criminal pela

figura representativa do Estado.

Mesmo diante de alguns entraves em seu uso, como afronta a quebras de

garantias constitucionais, apontamentos referentes a razões subjetivas relacionadas

à ética e a moral, a necessidade de uma codificação mais sólida, o instrumento se

faz necessário e justificável uma vez que seu objetivo é reforçar a atuação Estatal no

combate aos malefícios gerados na sociedade decorrente das organizações

criminosas.

O instituto surge como um meio que visa à garantia de um bem maior a ser

protegido podendo ser considerado este como um mal necessário à segurança

social.

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REFERÊNCIAS

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