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Cad. ANDES Brasília n. 25 p. 1-41 Agos.2007 As novas faces da reforma universitária do governo Lula e os impactos do PDE sobre a educação superior Cadernos ANDES 25 Agosto/2007 ISSN 1677-8107

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As novas faces da reforma universitária do governo Lula e

os impactos do PDE sobre a educação superior

Cadernos

ANDES25Agosto/2007

ISSN 1677-8107

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Cadernos

ANDES

Cad.ANDES Brasília n.25 p.1-41 Agos.2007

As novas faces da reforma universitária do governo Lula e

os impactos do PDE sobre a educação superior

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Cadernos

ANDES

NÚMERO 25

AGOSTO - 2007

BRASÍLIA-DF

SindicatoNacionaldosDocentesdasInstituiçõesdeEnsinoSuperiorENSINOPÚBLICOEGRATUITO:direitodetodos,deverdoEstado.

� Cad.ANDESBrasílian.25p.1-41Agos.2007

ISSN 1677-8107

Comissão editorial:LighiaBrigittaH.MatsushigueEvsonMalaquiasdeMoraesSantosLuizHenriqueSchuch

Equipe de produção:TâniaMariaBatistadeLimaAlexandreAntônioGiliNaderGeneMariaVieiraLyraSilvaLighiaBrigittaH.MatsushigueMariaInêsCorrêaMarquesNeilaNunesdeSouza

Projeto gráfico:ElizângelaAraújo

Ilustração da capa:RicardoBorges

Revisão:MariaMargaridaPintoCoelho

Normalização bibiográfica:CEDOC/ANDES-SN

Editor:SindicatoNacionaldosDocentesdasInstituiçõesdeEnsinoSuperiorSCSQd.2-Ed.CedroII5ºandar-Bl.C70302-914Brasília-DFFone:(61)33227561|Fax:(61)[email protected]

Impressão:Fotoart Gráfica Editora

Tiragem:5milexemplares

Cadernos ANDES - n. 1 (1988)

n. 25 ISSN: 1677-8707

1. Educação - Periódicos 2. Ensino Superior - Periódicos 3. Ensino Superior - Re-forma Universitária - Periódicos 4. Ensino Superior-PDE-Periódicos

CDU 378 (81) (05)

Catalogação na fonte

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SUMÁRIO

Introdução....................................................................................................................................

�. OsfundamentosdoplanodedesenvolvimentodaeducaçãodogovernoLuladaSilva 1.1AreformadoEstadobrasileiro................................................................................ 1.2AreformadoEstadonareformadaEducaçãoSuperior........................................

�.ConcepçõesdeuniversidadenocontextodoPDE:universidadesdeensinoXuniversidadesdepesquisa..........................................................

�.REUNI,UniversidadeNova&Professor–equivalente:facesdareformauniversitária.............................................................................................................................

�. PDE e reforma da educação profissional: análise do Decreto 6.095/07 .................................

�.Financiamentodaeducação:desfazendoequívocoseilusões..............................................

�.Conclusões..............................................................................................................................

Anexos -Decretonº6.095,de24deabrilde2007.................................................................... -Decretonº6.096,de24deabrilde2007.................................................................... -PortariaNormativaInterministerialnº-22,de30deabrilde2007..............................

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Ogovernofederallançou,em24deabrilde2007,oPlanodeDesenvolvimentodaEdu-cação-PDE,dandoseqüênciaàsuacontra-reformadaeducaçãopública.OPDEéconstituídoporumconjuntodedecretos,projetosdelei,resoluçõeseportarias,incluindotambémumapor-tariainterministerial(MinistériodaEducação-MECeMinistériodoPlanejamento,OrçamentoeGestão-MPOG).SegundoasanálisesrealizadaspeloGrupodeTrabalhoPolíticaEducacional-GTPEdoANDES-SN,oPDEdácontinuidade,deformaextremamenteautoritária,àreformauni-versitáriajáemandamento,quefoiiniciadacomváriasaçõesclaramentefavoráveisàiniciativaprivada,tantonaeducaçãoquantonaáreadatecnologia,comooPROUNIeaLeideInovaçãoTecnológica.

Paramelhorcompreensãodoalcancedasaçõesdogoverno,aDiretoriadoANDES-SNentendequeénecessáriosituá-lasnocontextomaisamploemqueocorrem.Apresenta,portanto,análisededoisdecretos,edaPortariaInterministerial22/07,queinstituiuo“BancodeProfes-sores-equivalente”, trêsdasmedidas legaisdoPDEqueafetamdiretamenteosistemafederalpúblicodeEducaçãoSuperior,precedidaporumabreveavaliaçãodaconjuntura.TalanáliseéfortementebaseadaemcontribuiçõesdoGTPE.

INTRODUÇÃO

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1. OS FUNDAMENTOS DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO

DO GOVERNO LULA DA SILVA

1.1 A reforma do Estado brasileiro

Existem vários documentos de organismos internacionais (Organizações das NaçõesUnidas,BancoMundial,FundoMonetárioInternacionaleaOrganizaçãoMundialdoComércio)que, confrontados com ocorrências posteriores, em especial, nos países “em desenvolvimen-to”, marcam a influência danosa de “recomendações” de tais organismos sobre o desenvolvi-mento soberano desses países. Uma agenda de reformas estruturais foi, na prática, impostaaos países denominados ‘mercados emergentes’, com o objetivo de atender às demandasdo capital no que concerne ao fornecimento de energia, à exploração dos recursos naturais,renováveis e não renováveis e, antes de tudo, de instaurar uma lógica de propriedade in-telectual quepossibilitasseo controle sobre todasas formasdeproduçãohumana, sempreafavor dos países hegemônicos, em especial, os do chamado G7. O “Consenso de Washing-ton”, estabelecido em 1989, é instrumento importante para a implementação desse objetivo.

Nocasobrasileiro,noperíodoseguinteàpromulgaçãodaConstituiçãode1988,surgiramasprimeirasarticulaçõesemtornodasexigênciasdosorganismosinternacionaisque,paraserematendidas,demandavammudançasnaCartaMagna.OprocessoretardouumpoucodevidoàincapacidadedeCollordeMelloemlideraraaglutinaçãodeforçaspolíticasquefoiaguçadapelacrisequeparalisouseugovernoatéacassação.ÉcomoPlanoRealquesetornapossível,jásobaliderançadeFernandoHenriqueCardoso,naépocaministrodeItamarFranco,umacoesãodasforçasconservadorasemtornodaagendaneoliberal.Emagostode1995,oCongressoNacionalaprovaaEmendaConstitucionalnº6,propostaporFernandoHenriqueCardoso,que introduzmodificações no capítulo da ordem econômica, substituindo o conceito de empresa nacional por empresaconstituídasobasleisbrasileirasecomsedenoterritórionacional,concedendoaessasodireitodeseremconcessionáriasdosmonopóliosestatais,desdeaexploraçãomineralatéaproduçãodeserviços.Comisso,empresasmultinacionaispassaramateracessoàexploraçãodosubsoloeáparticipaçãoemtodooprocessodeprivatizaçõesdeempresasestataisqueseseguiu.

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NaseqüênciadaliberalizaçãodoEstado,ogovernoFernandoHenriqueCardosoaprovaumaleidepropriedadeintelectualquerepresentaumfreioàspossibilidadesdedesenvolvimentoautônomo do país, sob o ponto de vista científico e tecnológico. Em 1998, ainda sob FHC, o então MinistériodaAdministraçãoeReformadoEstado-MARE,nagestãodeBresserPereira,executaumareformanaqualpraticamentetodosossetoresdeinfra-estrutura,quedavamsustentaçãoàmáquinadoEstadobrasileiro,sãoprivatizadosouterceirizados.Asvagasdeixadaspelosservido-respúblicosaposentados,falecidosouafastadosnãoforammaispreenchidaseumexemplodoresultadodestapolíticapodeservistonacategoriadosdocentesdasuniversidadesfederaisqueacumula um déficit de 8.000 vagas.

Houvea“delimitaçãodasfunçõestípicasdoEstado”,reduzindoseutamanho,emtermosprincipalmentedepessoal,pormeiodeprogramasdeprivatizaçãoeterceirização,mas,especial-mente,pormeiodaquiloquesepodechamarde‘publicização’(esteúltimoprocessoimplicandonatransferênciadeatividadeserecursosparaosetorpúbliconão-estatal–tomadocomosendoas “organizações sociais de interesse público”) - dos serviços sociais e científicos que o Estado aindapresta(CadernosMAREdareformadoEstado–no1–Brasília/DF,1997,p.18).Deacordocomadoutrinaaplicada,queseconvencionouchamarde‘neoliberal’,substitui-seoconceitodedireito social – Art. 6° da C.F./1988, que o define como direito de todos e dever do Estado – pelo de “serviço sociais e científicos”, com o entendimento de que os investimentos na infra-estrutura enaexecuçãodessesserviçosnãoseriammais,arigor,obrigaçõesexclusivasdoEstado.

Dentre esses chamados “serviços sociais e científicos” estão: escolas, universidades, centros de pesquisa científica e tecnológica, creches, ambulatórios, hospitais, etc. Atividades es-sasquedizemrespeitoaosdireitossociais,masquepassamaserconcebidascomoatividadessujeitasà“constituiçãodequasemercados”,segundoargumentaçãonosdocumentosdoMARE. As reformas,promovidasao longodosdezesseteanosqueseseguiramàsprimeirasinvestidas efetivadas pelo governo Collor, reconfiguraram, de fato, a estrutura da organização do Estado brasileiro em três grandes blocos. O primeiro ficou caracterizado como o bloco das ‘funçõestípicasdeEstado’,queseresumemàsegurançanacionaleinterna(forçasarmadasederepressão),àemissãodemoeda(BancoCentral,CasadaMoeda),aocorpodiplomático(Ita-marati) e à fiscalização (Receita Federal, Ibama).

Emumsegundoblocoforamagregadasasinstituiçõesdasáreasdesaúde,cultura,edu-cação,ciênciaetecnologia.Oobjetivoera,eaindaé,transformartodososórgãospúblicosdessebloco(hospitais,museus,universidadesecentrosdepesquisa)emorganizaçõessociaisouemfundaçõespúblicasdedireito privado, abrindoasportasparaoprocessodeprivatizaçãodosrecursoshumanosepatrimoniaisdessasautarquiasedasfundaçõesque,porenquanto,aindasãodedireitopúblico.Muitosdessesórgãospúblicosjáforam,aolongodotempo,totalouparcial-mente‘publicizados’,ouseja,gerenciados,naprática,porfundaçõesprivadasditasdeapoio.

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NoterceiroblocodoEstadobrasileiroestãoasempresasestataisdossetoresdeener-gia,mineração,telecomunicações,recursoshídricos,saneamentoentreoutras.Nesteblocodainfra-estruturadoEstado,osgovernosneoliberais,incluindooatual,aprofundaramadependênciaeconômica do país em relação às potências hegemônicas, por meio das privatizações, licita-ções fraudulentasevendadopatrimônionacionalem troca,muitasvezes,de “moedapodre”.

Valelembrarque,quantoàpesquisa,antesdaimplantaçãodareformadoEstado,algu-masempresasestatais,comoaPetrobras,EletrobráseEmbratelmantinhamcentrosprópriosdepesquisadealtíssimonível.Algosemequivalêncianosetorprivado,mesmonasempresascomacesso a subsídios constitucionais para essa finalidade. Esses centros de pesquisa das estatais mantinhamestreitasrelaçõescomasuniversidadesecomosinstitutosdepesquisapúblicos,semmaioresarranhõesàautonomiauniversitária. Com a privatização das estatais, foi estabelecida, como um dos braços principais daatualpolíticadeciênciaetecnologiadopaís,acriaçãodosfundossetoriaisdasáreasdeenergia,telefonia,mineração, transporte,petróleoetc.Asagências reguladoras–AgênciaNacionaldeEnergiaElétrica -ANEEL ,AgênciaNacionaldeTelecomunicações -Anatel,AgênciaNacionaldeÁguas-ANA,AgênciaNacionaldeTransporteTerrestre-ANTT,AgênciaNacionaldoPetró-leo-ANPeoutras-,criadaspelogovernoparaintermediarasrelaçõesentreosinteressesdasociedade e a atuação das empresas privatizadas, passaram a definir os rumos das pesquisas a serem financiadas por esses fundos. Como as agências reguladoras, na verdade, atendem aos interesses do mercado, as pesquisas universitárias financiadas com recursos desses fundos passaramaatenderàsdemandasdasempresas.E,nolugardoantigofomentoesuportediretoàsuniversidadeseinstitutosdepesquisa,patrocinadopeloscentrosdepesquisadasestatais,foicriadooFundodeInfra-Estrutura-CT-INFRA,comoobjetivodeviabilizaramodernizaçãoeam-pliaçãodainfra-estruturaedosserviçosdeapoioàpesquisanasinstituiçõespúblicasdeensinosuperior e nas instituições públicas de pesquisa, devendo ter como fonte de financiamento 20% dosrecursosdestinadosaosdemaisfundos.

Destaque-sequeosvaloresrepassadospelosfundossetoriais,aocontráriodoqueépro-pagandeadopormuitasreitorias,nãoadicionaram,percentualmente,nada–e,emmuitoscasos,atéchegaramareduzir–aoqueerarepassadopelasestataisnarelaçãoquemantinhamentreseuscentrosdepesquisaeasuniversidades.Alegislaçãojápreviaqueasestataisdeveriamdes-tinar parte de seus recursos para a formação de profissionais e para a pesquisa no país. Note-se que,parateracessoaosrecursosdosfundossetoriais,asuniversidadespassaramadependerdasfundaçõesprivadas,ditas“deapoio”,paraconcorreraoseditaisdefomentoemanutenção.

Aindacomrespeitoàsfundaçõesdedireitoprivado,aEmendaConstitucionalnº20/98,do governo Fernando Henrique, que criou o regime de emprego público para contratação denovosservidorescombasenasregrasdaConsolidaçãodasLeisTrabalhistas-CLT, facultou-lhescontratarpessoalparaatuarnosprojetosoriundosdasuniversidades.Nessecontexto,são

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1.2) A reforma do Estado na reforma da Educação Superior

Em todos os três blocos do atual organograma do Estado, fica evidente a decisão go-vernamentaldeprivatizarouconcederparaosetorprivadoaexecuçãodefunçõeseserviçospúblicos.

Assim,aeducaçãosuperiorpública,quenoBrasil,aindaquetardiamente,estruturou-sesobretudonaformadeuniversidade,combasenaindissociabilidadeentreasfunçõesdeensino,pesquisaeextensão,passouaserquestionadacomveemênciacrescente.

Emrealidade,jáemmeadosdosanos80,aindaduranteogovernoSarney,haviasidocriadooGrupoExecutivoparaaReformulaçãodaEducaçãoSuperior-GERES,encarregadodeelaborarrelatórioeanteprojetodelei,visandoàreestruturaçãodesseníveldeensino.Essegrupofoidesfeitoanteareaçãodossegmentossociaisorganizados,emespecialdasentidadesligadasàcomunidadeuniversitária,comdestaqueparaoANDES-SN(então,aANDES).Apartirdesseperíodo,contudo,ganhaforçaaalegaçãodequeo“modeloúnico”adotadoparaaeducaçãosu-perior–odaindissociabilidadeentreensino,pesquisaeextensão-,que,diga-sedepassagem,não foi totalmente implementado,nemsequernasuniversidadesentãomaisbemconstituídas(“centrosdeexcelência”),émuitocaro,anacrônicoeobsoleto.

NogovernoCollor,alçadoàcondiçãodeMinistrodaEducação,JoséGoldembergcons-tróicomsuaequipe,constituídaporintegrantesdacomunidadeuniversitáriadedestacadores-paldoacadêmico,argumentaçãodeataqueao “modeloúnico”deuniversidade,defendendoanecessidade de sua diversificação, explicitada sobretudo na idéia da criação de “Universidade de Ensino”,idéiaessaquecarreganobojoaperspectivadeelitizaçãodaeducaçãosuperiorparaalguns,promovendoaindamaisadesigualdadesocial.

Mas,éapenasnogovernodeFHCqueessaidéiaéoperacionalizadanaformade“linhasdeatuaçãodoMEC”,dentreasquais,“expandirosistemadeensinosuperiorpúblicopormeioda otimização dos recursos disponíveis e da diversificação do atendimento, valorizando alter-nativasinstitucionaisaosmodelosexistentes”.(PlanejamentoPolítico–Estratégico1995/1998;MEC,1995p.26).TaliniciativagovernamentaltemreferênciaemumadasdiretrizesdoBanco

criadasnasuniversidadesnovasfundaçõesdedireitoprivadoe,noâmbitodoMinistériodaCiên-ciaeTecnologia,asredesnacionaisdepesquisasãointegradasporentidadesmajoritariamenteconstituídas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP, uma novamodalidadedeorganizaçãonãogovernamental-ONG.AsOSCIPoperamnasuniversidadesemconvêniosouassociaçõescomasfundaçõesdedireitoprivado,utilizandoprofessores,técnicos-administrativoseestudantesdepós-graduação,alémdecontratarservidoresportempodetermi-nadoounoregimeceletista,nosmoldesprevistospeloregimedeempregopúblico.

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MundialparaaReformadoEnsinoSuperiornospaísesemdesenvolvimento:“proporcionarincen-tivos para que as instituições públicas diversifiquem as fontes de financiamentos, por exemplo, a participação dos estudantes nos gastos e a estreita vinculação entre financiamento fiscal e resultados”.(BancoMundial,Laenseñanzasuperior–LasLeccionesderivadasdelaexperiencia,Washington,D.C.,1995,p.4).

Apartirdessaépoca,apropagandagovernamental,auxiliadapelamídiaimpressa,faladae televisiva, faz com que ganhe força a idéia da flexibilização do princípio da indissociabilidade entreensino,pesquisaeextensão.ProvaconcretadistosãoaprópriaLeideDiretrizeseBasesdaEducaçãoNacional(Lein°9.394/96–LDB),comaprevisãodediversasmodalidadesdeinsti-tuições de ensino superior e a formatação desse ensino diversificado, feita por meio dos Decretos n°2.207/97en°2.306/97.Essasiniciativas,entretanto,numprimeiromomento,poucoafetaramas instituições públicas, servindo primordialmente para facilitar ações da iniciativa privada nadireçãodemaiorlucratividadeparaseusnegócios.

Uma explicitação bastante contundente dessa flexibilização é a defesa feita por Cláudio de Moura Castro (economista do BID, colunista da Revista Veja), que propõe quatro funçõesparaoensinosuperior:1)formarelites–liderançasecríticosàslideranças-queprecisamdeensino, pesquisa e extensão; 2) formar profissionais – dentistas, médicos, advogados, engenhei-ros, etc. - função que envolve um longo período de aprendizagem específica; 3) formar técni-cos – contadores, técnicos em eletrônica, fisioterapeutas, etc. -, função que demanda cursos demaiscurtaduraçãoequedevemter“laçoscomomercado”;4)formarpessoascomeduca-ção geral (generalistas), não voltadas para uma única profissão, em áreas que exigem menos investigação.Segundotalconcepção,conformesepode inferirdosdocumentosqueaexplici-tamcommaiorgraudedetalhamento,aformaçãodeprofessoresdar-se-ianessaúltimafunção. Comosepodever,poressebrevehistórico,foisendoconstruídoum“lastro”conceitualque“fundamenta”propostas/projetosdotipo:cursosseqüenciais;ensinoadistância(sobretudoparaapretensaformaçãodeprofessores);ediferentesnuançasde“CiclosBásicos”.Essaspro-postastêmsido,maisrecentemente,contempladaseminiciativastaiscomo:UniversidadeAbertadoBrasil(UAB),“UniversidadeNova”,propostaapresentadacomosefosseoriundadaprópriaacademia,etc.

Acontra-reformadaeducaçãosuperioremandamentonutre-sedesseprocessodeba-nalizaçãodosconceitos,eoatualgovernoincorporouumanovaetapadestaaoseuProgramadeAceleraçãodoCrescimento-PAC,decunhofrancamenteneoliberal,sobadenominaçãodePlanodeDesenvolvimentodaEducação-PDE.

Dentreoutraspropostas,constamdoPDEdoisdecretos,aseremanalisadosnopresentetextoemalgumdetalhe,referindo-seaPlanosdeReorganizaçãoeExpansão,tantodasUniver-sidadesFederais -REUNI,comodaRedeFederaldeEducaçãoTecnológica (Redede IFET).

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Édesesalientarque,nessa“reorganização”, foiatribuídoaessaRedeo importantepapeldeformaçãodeprofessoresdaEducaçãoBásica-sobretudoosdeCiênciaseMatemática-porforadauniversidade,portanto.

Naverdade,oPACprecisaservisualizadocomoaversãocontemporânea,adequadaaoatualestágiodacirculaçãocapitalistainternacionalderiquezasemercadorias,dareformadoEstadobrasileiro.TalcomoosdemaisprojetosincluídosnoPAC,oplanodeeducaçãodeLuladaSilvatambémserádesenvolvidoseguindoospressupostosdalegislaçãoqueregulaasparceriaspúblico-privadas-PPP.E,comodenunciadopelossetoresdocapital–federaçõesdeindústria,agricultura,dentreoutras–quantoàfaltaderecursosprevistosparaaimplementaçãodoPAC,também para o PDE não haverá verbas suficientes e, seguramente, nenhuma verba nova para suaexecução.

Casonãoocorraumamobilizaçãoforte,agregandoàcomunidadeuniversitáriaosseg-mentosdapopulaçãodesfavorecidaqueserãoatingidospelaelitizaçãoadicionaldiagnosticadanosplanosdogoverno,essenovopacoteeducacionalconsolidaráoprocessodedestruição,emparte,pelaprivatizaçãointernadoensino,dapesquisaedaextensãonasuniversidadespúblicas.

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2. CONCEPÇÕES DE UNIVERSIDADE NO CONTEXTO DO PDE: universidades de ensino X universidades

de pesquisa

Adivisãointernacionaldotrabalho,noatualestágiodedesenvolvimentodocapitalismo,determina,na lógicaneoliberal,paraoBrasil, comopaísperiférico,a reformadeseusistemaeducacionalnosentidodeadequá-loaoseupapelnessanovaordem.

Nessalógica,asuniversidadesdepesquisa,quedemandamaltoinvestimento,corpodo-cente qualificado e com dedicação exclusiva, só deveriam ser mantidas em pequeno número (os centrosdeexcelência),entreoutrosmotivos,paraatenderaosinteressesdomercadopormeiodaLeideInovaçãoTecnológica.

Poroutrolado,estásendoatribuídoumoutropapelàuniversidade,quenãolhecorres-ponde em outras partes do mundo, qual seja, ser instrumento de profissionalização aligeirada, em cursosdemaiscurtaduração,semambientedepesquisaverdadeiramenteacadêmico,consti-tuindo-senauniversidade(?!) de ensino.

Tal“instituição”jáexistelargamentenosetorprivado,aoladodaentidadeespecialmentecriada para este fim específico, que são os “centros universitários”.

Contudo,estácadavezmaisevidentequeogovernoquercaminharnadireçãode,semlhestiraropomposotítulo,transformar,naprática,muitasdasatuaisuniversidadesfederaistam-bémeminstituiçõesvoltadasapenasaoensino.Apela,paratanto,àinegávelnecessidadededemocratizaroacessoepromoverainclusãodascamadasdesfavorecidasdapopulação,maspromoveumensino“pobreparaospobres”,cujaênfaserecainaformaçãodocidadãotrabalhadorparaasociedadedodesemprego,instituídapelocapital.

Essasociedadesecaracterizapelaaceitaçãododiscursoqueoempregocomoumdirei-tosocialnãoexistemais,éumacoisadopassadoequecadaumdeveserresponsávelporga-

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rantirsuaprópriasobrevivência,tornando-seumempreendedordesimesmo,ouseja,retirandoaresponsabilidadedoEstado,dasociedadeedasempresas.Aidéiadotrabalhadorempreendedorassenta-senosprincípiosdoliberalismoeconômico,dovínculodiretodaeducaçãocomomerca-do,numaperspectivautilitária,pragmáticaeimediatista.Asuniversidades,nessesentido,devemformar indivíduos polivalentes, flexíveis e adaptáveis.

Nessasociedadedodesemprego,osindivíduosdevemserconvencidosqueaeducaçãoéumcapitalhumanovirtual.Aeducação,vistaexclusivamentecomoaquisiçãodeconhecimento/informaçãoedecompetênciasclaramentemensuráveis,passaaseruminvestimentoindividualque possibilitaria a competição pelos reduzidos postos de trabalho existentes, ao qualificar a forçadetrabalhoqueoindivíduopodepôravendanomercado,ouparacolocarempráticasuaformaçãoempreendedora.

Comocontrapartidaàformaçãoapequenada,acena-secomanecessidadedeformaçãopermanente,nosentidodacapacitaçãosemprerenovada,dodesenvolvimentodenovascompe-tências,queseconstituinumprocessoderetro-alimentaçãodasformasdeensinoreducionistase aligeiradas, próprias de um mercado flexível e consumista, também na área da Educação, tornandoossujeitosrefénsdoscursosdamoda.

Nessecenário,acríticaàuniversidadedepesquisaéreforçadaapresentando-acomobaseadanummodeloobsoleto,arcaico,seletivo,excludenteefrutodoregimemilitar,portantoalgoqueprecisaserrejeitado.Estaperspectiva,defendidapelosatuaisprotagonistasfavoráveisaosprojetosdereestruturaçãodasuniversidadesbrasileiras,omiteopapelfundamentaldasuni-versidadespúblicasemdiversospaísesdomundo,emespecialnosperiféricos,comoespaçoprivilegiado para a produção do conhecimento, para o desenvolvimento científico e tecnológico, comoinstânciacríticadasociedade,paraoamadurecimentodosujeitopolítico,comformaçãosólida que o capacite para entender as complexas relações do mundo atual e para influir como propositornaelaboraçãodepolíticaspúblicase,emalgunscasos,tornar-seeleprópriodirigentedoprocesso. A dificuldade com o processo em curso no país é que, ao construir a adequação ao novo mo-deloexigidopelosorganismosinternacionais–ver,porexemplo,BancoMundial,“Brazil:Equitable,Competitive,Sustainable–ContributionsforDebate(2003)e“CountryAssistanceStrategy,Brazil,2004-2007”-,asváriasgestõesdoExecutivoFederal,emespecial,ogovernoLuladaSilva,proce-dem de maneira gradual e com forte apoio propagandístico, dificultando que boa parte dos setores queserãoatingidosseapoderemdorealconteúdodosprojetosemandamento.Acrescente-seaissoasváriasiniciativasdecooptaçãodosmovimentossociais,emqueogovernoLuladaSilvaéespecializado, e temos um quadro de dificuldades que, só mais recentemente, começa a se aclarar.

Assim,houveatentativadecooptarlargossetoresdosmovimentosestudantisedocen-tesduranteolongoprocessodepartodoPLnº7200/06.Fracassadaparcialmenteessainvestida,

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em parte devido a contingenciamentos importantes impostos pela área financeira ao longo das váriasversõesdoprojetodelei,oExecutivopartiuparaaefetivaçãodeumafraçãodasmetasori-ginaispormeiodedecretos,partedosquaisestãoreunidosnoPDE,temaprincipaldasanálisesaseremfeitasnestetexto.

Dessemodo,ogoverno,pormeiodoPDE,buscaimplantar,paraamaioriadesfavorecidadapopulação,umapseudo-educaçãodenívelsuperior,quepoderiasercaracterizadacomoumpós-médioouensinocompensatóriodecorrentedabaixaqualidadedaeducaçãobásica,refor-çandoeampliandoomercadoparaasinstituiçõesprivadasquevendemcursosrápidosebaratos.Auniversidadepública,daqualopaísesuapopulaçãoprecisamparaseuverdadeirodesenvolvi-mentocomonaçãosoberana,será,apartirdetaisações,muitoprovavelmente,forçadaatentarbuscarseusprópriosrecursos.

Destaque-seque,seasuniversidadespúblicas,emespecialasIFES,sucumbiremàco-optaçãoeàcoerção,pormeiodasquaisogovernopretendeimplantarasaçõescontidasnosde-cretosdereestruturaçãoeexpansão,terãoummodelodequalidadedeformaçãoigualadaàquiloque as instituições privadas produzem, possibilitando, assim, que seja justificado o financiamento públicoparaessasinstituições.EstariaatendidoopleitoprincipaldosempresáriosdaeducaçãoecujaimplementaçãopareceteravançadonosgovernosFHCeLuladaSilva.

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3. REUNI, UNIVERSIDADE NOVA e PROFESSOR-EQUIVALENTE: faces da reforma

universitária

Fortesindícios,extraídosdaanálisegeralfeitaatéaqui,embasamaconclusãodeque,hápelomenosumadécada,prevalecenasesferasdecisóriasdapolíticanacionalaidéiadequeàuniversidadebrasileiracabeapenasopapeldedifundireaplicarconhecimentosetecnologiasproduzidosalhures.Paraatenderaessalógica,auniversidadeestruturadanotripéensino-pes-quisa-extensãocomregimedetempointegralededicaçãoexclusiva,alémdeserconsideradacara,torna-sedesnecessária.

Naurgênciadaconsolidaçãodenovomodelo,opresidenteda república instituiu,pormeiodoDecreton°6.096de24deabrilde2007,o“ProgramadeApoioaPlanosdeReestru-turaçãoeExpansãodasUniversidadesFederais-REUNI”,queobjetiva“criarcondiçõesparaaampliaçãodoacessoepermanêncianaeducaçãosuperior,noníveldegraduação”,utilizando-sedo“melhoraproveitamentodaestrutura físicaedosrecursoshumanosatualmenteexistentes”nessasinstituições.

O objetivo traçado nesse decreto é, definitivamente, incompatível com a qualidade da educaçãosuperior,poisasprecáriascondiçõesemquehojeseencontrampraticamentetodasasuniversidades públicas brasileiras, tanto em termos de sua infra-estrutura quanto de insuficiên-ciasemseusquadrosdocenteedetécnico-administrativo,nãopermitemaampliaçãodoacessoàeducaçãosuperiorcomgarantiadepermanência–aindaqueestasejaumalutahistóricadoMovimentoDocente. Atualmente,existemsalassuperlotadasemmuitas IFESe IEES,emvistada faltadereposiçãodasvagasdocentes,conformejáhistoriado;há,também,ausênciadecondiçõescon-dizentescomaenvergaduraeimportânciadotrabalhoaserrealizado,querdopontodevistadoapoiotécnico,querdascondiçõesfísicasdasinstituições.Estarealidadeimpedeemgrandeparteotrabalhopedagógicoadicional,queserianecessáriopararecuperar,nemquesejaparcialmente,as muitas lacunas que o insuficiente ensino básico tem deixado na maioria dos estudantes que

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ingressamnoensinosuperior.

Talsituaçãoéespecialmentedeplorávelnascondiçõesbrasileiras,emqueumaexpan-sãodaeducaçãosuperiorpública,dequalidade,éessencialparaamelhoriaqualitativageraldoensinosuperioremseutodo,oque,mediantepolíticasadequadas,poderiapropagar-seaosdemaisníveis.Entretanto,estametaéimpraticávelsemquesedemonstre,efetivamente,aprio-ridade conferida à expansão por meio do aumento substancial do financiamento.

3.1 O desenvolvimento histórico da proposta

OhistóricodoDecreton°6.096/07érevelador.Teminícionosegundosemestrede2006,comforteecontinuadacampanhacontraoatualformatodoensinonamaioriadasuniversidades,apresentando,paraisto,dadosestatísticosquenãoexpressamumaanálisequalitativadosas-pectoseproblemasdequetratam,taiscomo,porexemplo,osdadossobreaevasãodoensinosuperior. Dos 40% tidos como evasão, desconsideram-se as transferências, mudanças de curso e/ouconclusãodeummesmocursocomumsegundovestibular,queimplicaumanovamatrícula,dandoaprimeiracomevadida.

Nesse caldo de cultura, é posta a público a proposta Universidade Nova, tida comoorigináriadeumagrandeuniversidadefederaleamplamenteveiculadacomosoluçãocontraaobsolescência“diagnosticada”paraasuniversidadesdomodelotradicional.Houveumpériplo,especialmentedoreitordaUFBA,pelasdemaisIFES,explicando,preferencialmenteemAulasInaugurais,quea“formação”generalistadeumgrandecontingentedejovensemCiclosBásicosde2a3anos,paraposteriorguindadadeunspoucos,peneiradoscomo“osmaiscapacitados”,até a profissionalização propriamente dita, seria a panacéia para todos os problemas diagnosti-cados.Oânimopropagandísticoarrefeceuumpoucoquandoconseguiuserdifundidaacontra-argumentaçãodeque,numasituaçãodecontingenciamentoderecursospermanenteeescassezde vagas na etapa profissionalizante, o Ciclo Básico ranqueador instalado se tornaria, indubita-velmente,ummecanismoadicionaldeexclusãosocial.

Em fins de 2006, começo de 2007, circulou, em ambiente restrito, o documento não-oficial doMECcomonomede“PlanoUniversidadeNovadeReestruturaçãoeExpansãodasUniversi-dadesFederaisBrasileiras”–projetodedecreto.Já constavam dessa versão as “metas” que viriam a caracterizar as exigências do Decerto n° 6.096/07 - REUNI - para as universidades federais: o aumento, em cinco anos, da relação estudantes por professor para 18/1; e da taxa média de conclusão para 90%. Tais metas parecem, pois, elementos pétreos da proposta.

Nesse documento, o art. 1º especificava os objetivos do plano, em sete itens, dos quais a

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absolutamaioriatentavadetalharcomosedariaarevisãoprofundadaestruturaacadêmicaqueevitasse uma “profissionalização precoce e fechada”, por meio da “introdução dos ciclos ou níveis de formação”. No sexto desses itens, afirmava-se querer “produzir, por meio de novas arquitetu-rascurriculares,umasubstancialreduçãodastaxasdeevasãoeaumentodevagas...”Noart.2º,essaprimeiraversão(daquiloquesetornariaoREUNI)detalhava,emnoveoutrositens,asdire-trizes específicas para as IFES, a serem apresentadas num edital. Essas diretrizes reafirmavam ainduçãoaciclosdeensino,àexpansão,tantodoscursosdeformaçãodeprofessores,comodaqueles“associadosàpolíticaindustrialedeinovaçãotecnológica”,emparticular.Autilizaçãodosrecursoseferramentasdamodalidadeeducaçãoadistância,atémesmonoscursospresen-ciaisérecomendada.Aadesãoaoplanosedariapor“manifestaçãodeseurepresentantelegal,apoiadaemdeliberaçãodeseusórgãossuperioresdegestão”.

Oart.6ºdesseprojetodedecretoreferia-seàUniversidadeAbertadoBrasil–consórcio,cujoscursossãooferecidos,dentrodamodalidadedeensinoadistância,apartirdeeditaispúbli-cos–aindacomopropostanãoconcretizadaedenunciava,poisessaversãododocumentoforaelaboradaantesdapublicaçãododecretoqueinstituiuaUAB,emjunhode2006.Comoverbaadicionalparapessoal,estariamprevistos,conformeconstavadoanexoaoprojetodedecreto,até2012,apenas860milhõesdereais,paraprofessorese153milhõesdereaisparaservidores,caracterizando a expansão sem qualidade, já que tais recursos seriam amplamente insuficientes para garantir atendimento à expansão de matrículas de quase 200% prevista a partir das metas colocadas.Aotodo,segundooanexo,estariaprevisto,entreinvestimentosecusteioprojetados,oirrisóriovalordeR$3,75bilhõesem5anos,númeroquevinhasendodivulgadopelosmeiosdecomunicação.

Dandoreforçoaoquetemsidodenunciadoemmuitasáreasdeatuaçãosocialdogo-verno,mesmoaversãoposteriormente “consensuada”entreMECeAssociaçãoNacionaldosDirigentesdasInstituiçõesFederaisdeEnsinoSuperior-AndifesdoDecreton°6.096/07sofreumodificações importantes, introduzidas no caminho entre MEC e Casa Civil: mudou-se, entre outros, a formulação dos incisos I e II do art. 3°, que trata da utilização dos recursos financeiros, todosestritamentevinculadosaosobjetivosdoprograma.AmençãonoitemII,quantoà“compradebense serviçosnecessáriosao funcionamentodosnovos regimesacadêmicos”abreumaenormebrechaparaquepartedos,extremamenteparcos,recursossejadesviadaparaacomprade“pacoteseducacionais”,produzidosmuitasvezesnoexterior,comvistaaaceleraracorridaparaimplantaçãodoprograma,gerandoconseqüênciasimprevisíveisamédioelongoprazo.Fi-nalmente,tornandoaaceitaçãoporpartedaAndifesmaisproblemática,nãoforamacatadasduasdesuasprincipaisreivindicações,quaissejam,incluirestudantesdepós-graduaçãonacontagemdameta18/1eestenderaoprazodeimplantaçãodasmetaspara10anos.

Aotodo,asmudançasnaredaçãodoprojeto,emseupercursoatéapublicaçãocomodecreto, conferiram-lhe características mais gerais que contribuem muito para mascarar seusfundamentos e finalidades, a médio e a longo prazo, para o público que não acompanhou a sua gênese.

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3.2 Análise de alguns dos dispositivos do Decreto n°6.096/07

O governo, por meio do Plano REUNI, pretende impor uma elevação da ordem de 100% no número de ingressantes, o que significa que o número de alunos em salas de aula dobrará, no mínimo, sem que haja ampliação da estrutura física e de recursos humanos, ratificando a lógica daexpansãocomprecarização.

Apossibilidadedesseincrementonoingressoestáfortementeacopladaàrazãode18estudantesdegraduação,emcursospresenciaisporprofessor,colocadacomoumadasmetas,logonoart.1º(§1º).Historicamente,onúmeromédiodeestudantesdegraduaçãoporprofessorsitua-sepróximoa9emIFESeIEES.Nosúltimostrêsanos,essenúmerojávemaumentandosignificativamente, sendo citado na última compilação de dados do INEP, correspondente ao ano de2005,comosendode10,9.

Énecessárionãoconfundirarazãoestudante/professorcomoatendimentodeestudan-tespelosprofessores,ouseja,comotamanhodasclassesdeaula,queémuitomaioremfunçãodecadaestudantecursarváriasdisciplinassimultaneamenteporsemestre.Énecessáriotambémconsiderarqueomesmoprofessoratendeestudantesdepós-graduação–queNÃOentramnaconta -, fazpesquisas,executa tarefasadministrativasesupervisionaatividadesdeextensão.

Os valores da relação estudante/professor atualmente praticados no Brasil são muitopróximos às razões que se verificam em vários outros países que têm organização acadêmica se-melhanteàbrasileira,como,porexemplo,ospaísesnórdicosdaEuropa,aAlemanhaetambémoJapão.

A UNESCO publica, periodicamente, dados sobre essas razões (www.uis.unes-co.org/Exceltables, 2005, Tabela 5.c). Na avaliação de tais dados é, entretanto, necessá-rio exercer certa cautela. Por exemplo, há diferenciações importantes na classificação da figura do ‘professor’: nos Estados Unidos (razão próxima a 16) não são considerados na con-ta os TAs (TeachingAssistants), que são responsáveis por boa parte do contato com os es-tudantes, e na França (razão de 17,8), a pesquisa é majoritariamente deslocada para cen-tros de pesquisa (subordinados ao CNRS,ao INSERN, etc.) e não em universidades.

Alémdodobrodeingressantes,oprograma,aoestabelecercomooutrameta,nomesmoart. 1º, a taxa de conclusão média dos cursos presenciais em 90%, pretende uma ampliação adi-cional no total de estudantes matriculados. Atualmente, essa taxa é de 60% nas IFES, segundo os últimosdadosdoInep(2005paraconcluintese2002paraingressantes),valortambémveiculadopelaSESU/MEC.Destaque-seque,nospaísescomponentesdaOCDE,ataxamédiadeconclu-são é de 70%, situando-se abaixo desse valor em vários países, como, em ordem decrescente, Estados Unidos, Bélgica, França, Suécia e, finalmente, Itália, onde tal taxa está em 42% (dados daOCDE,EducationataGlance,2005,TabelaA3.4).

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Impormetatãodesproporcionalmentealtademonstraumanítidaintençãodeforçarumaaprovação em massa, nos moldes da aprovação automática experimentada no ensino funda-mental.Note-seque,emconjuntocomametaqueampliaoingresso,ametaenfocadaaquiiriaresultar num aumento de quase 200% nas matrículas. Com quase nenhum financiamento adicio-nal,numpassedemágicamalévola,seriamtriplicadososestudantesdasuniversidadesfederaisemelhorados,emmuito,osdadosaserem fornecidosàsestatísticas internacionais.Asduasmetas,citadasnoart.1ºdoDecretonº6.096/07,serevelam,destemodo,comometas pétreasdoprojetogovernamental.

Paraumarealampliaçãodoacessonasdimensõespropostas,mascomqualidade,faz-se necessário, além da renúncia a índices irreais, um rápido aumento no financiamento público para a educação, como um todo, até alcançar a ordem de 10% do PIB, conforme previsto no PNE daSociedadeBrasileira.

Na contramão dessa necessidade, o REUNI acena com um mero reordenamento deverbas e uma ampliação que não ultrapassa os 20% do que atualmente é destinado às IFES, condicionado,ainda,aadesãodasuniversidadesàssuasmetaseàmudançanaestruturacurri-culardoscursosdegraduaçãoeaoscritériosdeconferênciadetitulaçãoconformesedepreendedosseusarts.3°,4°e7°.Nestesestáexplícitoque“oatendimentodosplanosécondicionadoàcapacidadeorçamentáriaeoperacional”doMEC(§3°,art.3°),queoplano,poroutrolado,“de-verá indicar a estratégia e as etapas” para alcançar as duas metas definidas (art. 4°), certamente paratornar-seperiodicamenteavaliável,eque“asdespesasdecorrentesdestedecretocorrerãoàcontadasdotaçõesorçamentáriasanualmenteconsignadas”aoMEC(art.7°).Nessesanostodos, não se verificou um real incremento nas verbas para a educação.

Em resumo, pode ser dito que o governo anuncia um congelamento do financiamento das IFESnoatualpatamar,comumacenoàpossíveldisputaporparcasverbasadicionais,altamentecondicionadasàadesão(voluntária?)aumrígidocontroleexterno.

Areestruturação,segundooart.2°,estácondicionadaàsseguintesdiretrizes:I)reduçãodastaxasdeevasão;II)ampliaçãodamobilidadeestudantil;III)revisãodaestruturaacadêmica,comatualizaçãodemetodologiasdeensino-aprendizagem(leia-seensinoadistância?);IV)di-versificação das modalidades de graduação, preferencialmente não voltadas à profissionalização precoceeespecializada;V)ampliaçãodepolíticasdeinclusãoeassistênciaestudantil;eVI)arti-culaçãoentreostrêsníveisdeensino(básico,graduaçãoepós-graduação).OsincisosdeIaIVdesteartigorevelamqueospontosnorteadoresdaUniversidadeNovasemantêmpresentes. Defato,serápraticamenteimpossívelcontemplarasmetaspétreasqueguiamaexpan-são sem financiamento adicional correspondente que se pretende impor, sem uma reestruturação acadêmica importante, lançando mão, eventualmente, da redução da duração dos cursos degraduaçãoparaapenas2400horas,conformepermitido,recentemente,peloConselhoNacional

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de Educação. Confirmando a opção de ensino pobre para os pobres, há notícias de que algumas IFES,dentreelasaUFMG,pensamnessaopção,acoplando-aacursosinovadoresparaseuscampimaisdistantes.

MuitoemboranodiscursopropagandistadomodeloUniversidadeNova,modeloquepro-vavelmenteorientaráareestruturação,defenda-seaidéiadeumCicloBásicoemquesebuscaauniversalizaçãodosaber,naessênciaamudançapretendeoferecerumaligeiramentodafor-mação, sem profissionalização. Trata-se, portanto, de um projeto que visa atender a uma forte demandasocialporformaçãosuperior,semaqualidaderequeridaparatale,especialmente,compoucas possibilidades de inclusão dos jovens oriundos da classe trabalhadora na real profissiona-lizaçãodeníveluniversitário,umavezqueoacessoaessenívelapenassedarámedianteapro-vaçãoemumaduplaseleção:umaparaoacessoaoBachareladoInterdisciplinar(BI),pretensagraduaçãocorrespondenteaoCicloBásico,eoutraparaoingressonopróximociclo.

Vale lembrar que o desenho que é apresentado, pretensamente pondo fim ao vestibular, étomadoporalgunscomopartedanossalutaemdefesadaampliaçãodoacesso,sefosseple-namentearticuladoàampliaçãodascondiçõesparaesteacesso.Entretanto,nemissoéfato:jáquenãohaverávagasparatodosemtodasasuniversidadesfederais,aseleçãopelasnotasnoENEM configura-se como mecanismo mais provável de ingresso.

Asanálisesdemonstram,pois,quequalquertentativadeatingirasduasmetaspétreas,queparecemconstituiracolunavertebraldaproposta,semrecorreracursosaligeiradosedocen-tes“polivalentes”dedicadosquaseexclusivamenteaoensino,mostrar-se-áinviável.Ademais,aformaçãouniversitáriadessapropostaserá,fundamentalmente,elitista,poisapenasumaminoriaalcançará os demais ciclos necessários à completa formação profissional, tão almejada pelos nossosjovens.

3.3 A relação do Banco de Professores-equivalente com o REUNI

APortariaInterministerialMEC/MPOGnº22/07éumainstruçãonormativacombasenaqualdeve-sedaraexpansãodaofertadeensinosuperiorprevistanoREUNI.

Paraalcançarsuametaglobalde “elevaçãogradualda taxadeconclusãomédiadoscursos de graduação presenciais para 90% e da relação de alunos de graduação em cursos pre-senciais por professor para 18, ao final de 5 anos”, o decreto apresenta uma lógica produtivista eempresarial,cujaracionalidadeseexpressa,dentreoutras,pormeiodasseguintesestratégiascompensatórias dos limites impostos aos recursos financeiros:

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a.precarizaçãodotrabalhodocente; b.precarizaçãodosprocessosdeformação; c.aumentodasclassesaserematendidasporcadadocente, quebradotripéuniversitárioafavordoensino; d. exigência do cumprimento de metas propostas pelo REUNI, verificadas de perto e ami-údepormeiodeparâmetrosquantitativos,comocondiçãopararecebimentoderecursospúblicos;refere-seàsinstituiçõese,provavelmente,tambémaosprópriosdocentes. Diante dos limites financeiros apontados, a Portaria Normativa Interministerial n°22/07 representaaprimeiramedidaefetivadeimplementaçãododecretopresidencial,constituindo,emcadauniversidade,um“instrumentodegestãoadministrativadepessoal”:obancodeprofesso-res-equivalente(Art.1o).Emsíntese,obancodeprofessores-equivalentecorrespondeaototaldeprofessoresde3ºgrauefetivosesubstitutosemexercícionauniversidade,nodia31/12/2006,expressona“unidadeprofessor-equivalente”.

Parachegaraessaunidade,ogoverno,tomandocomoreferênciaaequivalênciasalarialentreumprofessorefetivoeumprofessorsubstituto(Leinº11.344,de8/9/2006,quedispõeso-breareestruturaçãoearemuneraçãodascarreirasdeMagistériodeEnsinoSuperioreoutras),atribuiuumfator(peso)diferenciadoacadadocentesegundosuacondiçãodetrabalho.

Na versão publicada da referida portaria, foi definido, como referência 1,0 de cálculo, oprofessorAdjuntoIcom40horas,ouseja,oprofessorAdjunto40h-DEvale1,55;oprofessordoutor20hvale0,5;oprofessordoutorsubstituto40hvale0,8eoprofessordoutorsubstituto20horasvale0,4.

Nessalógica,umdocenteemdedicaçãoexclusivavaleumpoucomais(1,55)que3pro-fessoresefetivosemregimede20h(0,5)eumpoucomenosdoque4professoressubstitutoscom20h(0,4).

Comoorigemparaaaplicaçãodessefator,tem-seaseguinteequivalênciasalarialatual: -salário-basedeumprof.AdjuntoI-DE=R$1.209,45 -salário-basedeumprof.Efetivo(Dr.)40h=R$780,29 -salário-basedeumprof.Efetivo(Dr.)20h=R$390,15.

Acima desses valores, os docentes recebem uma série de gratificações, elevando os valores do salário bruto real, gratificações estas que NÃO são estendidas aos substitutos.

Anecessidadedocumprimentodasmetasdeexpansãopropostasnodecretoeoslimitesorçamentáriosjáexplicitados,adinâmicadecontrataçãodeprofessoresnasuniversidades,pautan-do-sepelo‘bancodeprofessores-equivalentes’,eforçandoumaumentodeprodutividadeemde-

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trimentodaqualidade,vão,necessariamente,resultarnaprecarizaçãodascondiçõesdetrabalho.

Aoconsiderarque4professoressubstitutosemregimede20h,praticamente,equivalema1professor40hDE,auniversidadeseráinduzidaapreteriresteemfavordaqueles,dosquaisobteráumacargahoráriadeensinomaiordoqueadeumúnicodocenteefetivoquetambémteriaasatribuiçõesdepesquisaeextensão,alémdasburocrático-administrativas.

Como a meta global do decreto é expansão do número de matrículas nos cursos degraduação,acontrataçãodeprofessoressubstitutosparaafunçãoexclusivadeensino,comojáocorreatualmente(emmédia,umprofessorsubstituto20hministra3disciplinasporsemestre),seriaamaneiramais“racional”,semcustosadicionais,deatenderàsdemandasdecrescimentodoensinosuperior,umavezque4professoressubstitutos20h(equivalentesaumprofessorad-juntoI-DE)atenderiam,emmédia,doze(12)turmas-disciplinas.

Noquedizrespeitoàsrelaçõesdetrabalhonoâmbitodasuniversidades,aadoçãodaestra-tégiadecontrataçãodesubstitutos,combasenobancodeprofessores-equivalentes,vaiaprofundar,alémdoprocessodeprecarização,ofossoentreotrabalhorealizadopeloprofessorefetivo,comde-dicaçãoexclusiva,eotrabalhodoprofessorsubstituto,cujocontratodetrabalhoolimitaadaraulas.

ComopossuivínculotransitóriocomaIFES,oprofessorsubstitutonãopodeassumircar-gosadministrativos,desenvolvere/ouorientarpesquisas,submeterecoordenarprojetos.Tudoisso levaaumcomprometimentodo trabalho institucional-acadêmico comoum todo, poisumnúmerocadavezmenordeprofessoresefetivosteráqueacumularessastarefas.Alémdisso,éoprofessorsubstitutoque,adespeitodesuaprecarizaçãosalarialedetrabalho,deveráassumiraresponsabilidadecomsuaaposentadoria,poisnãofarápartedoquadrodosinativos,“liberando”gastoseresponsabilidadesfuturas,porpartedogoverno,noquedizrespeitoàprevidênciasocial.

Emvárioseventospúblicos,representantesdoMEC,pressionadosporargumentosqueressaltam a alta taxa de substitutos atualmente em atividade nas IFES (da ordem de 30% do total dedocentes,emmédia)epelaconstataçãoquepraticamentetodoselesforamcontratadosemsubstituiçãoaprofessoresemDE,andaramfazendodeclarações,manifestandoqueaportariasofreriaumarevisãonosentidodeproporcionaroíndice1,0aqualquerprofessorsubstituto,inde-pendentemente de estar em regime de 20 ou de 40 horas. Afirmaram, ainda, que o ‘momento da fotografia’ de cada IFES, que define a quantidade total em seu “banco”, seria transferido para uma data posterior à definida na Resolução 22/07. Não se tem notícia, por enquanto, de ação efetiva aesserespeito,noâmbitodalegislação.Taisalteraçõesdiminuiriam,masnãoneutralizariamainfluência deletéria da resolução a médio prazo. Umaconsideraçãoaserfeitaéqueexistemlimiteslegaisparaacontrataçãodesubsti-tutos.Aprevaleceropropósitodo‘banco’,omecanismomaisprováveldeprecarização,tantodotrabalhodoprofessorquantodaatuaçãoda instituição,será,portanto,apaulatinaextinçãodo

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regime de dedicação exclusiva e, possivelmente, até da figura do professor efetivo, constituindo uma nova categoria de profissionais “flutuantes” que, limitados pelas relações de trabalho, não podemdarcontade todasasdimensõesqueo trabalhopedagógicoe institucional-acadêmicoexige.Tais providências se darão, quase naturalmente, naquelas IFES que, ao se sujeitaremàsimposiçõesdoREUNIemtrocadeparcasverbasadicionais,setransformarem,demaneirairreversível,emuniversidades de ensinoe,saliente-se,prestandoensinodebaixaqualidade,devidoàausênciadapesquisaedaextensão.

Conforme comentado anteriormente, o atendimento às metas do REUNI implicará a fle-xibilização dos processos de avaliação do ensino-aprendizagem e o desprezo pelas especifici-dadesdedeterminadasáreas/disciplinasacadêmicas(ex.:saúde,música,artes,físicaetc).Todoesseprocessoresultará,necessáriaediretamente,naprecarizaçãodosprocessosdeformação,pois,aoexigirdoprofessorotrabalhocomumnúmerodealunosporturmaincompatívelcomumatendimento individualizado , além de flexibilizar os processos de avaliação, induzindo uma “pro-moção automática”, fará com que o resultado final do seu trabalho não será o da efetiva promoção do conhecimento e da formação integral do homem. Ao contrário, promoverá uma qualificação aligeirada, superficial, desvinculada da pesquisa, com perspectivas polivalentes, conformada às demandasdecurtoprazodomercado.

A implementação desse processo resultará numa universidade desfigurada, descarac-terizada,transformadaem‘escolade3ºgrau’,subtraídadesuasfunçõessociaisdeproduçãoesocialização do conhecimento científico, tecnológico e cultural.

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4. PDE E REFORMA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: análise do Decreto nº 6.095/07

ODecretonº6095/07,de24deabril,épartedomesmoconjuntodemedidasnormativasquevisaàconcretizaçãodoPlanodeDesenvolvimentodaEducação-PDE,oqual,porsuavez,écaracterizadopelogovernoLuladaSilvacomoocomponenteeducacionaldoPlanodeAcelera-çãodoCrescimento-PAC.Essedecreto,tendoemvistaodestaqueatribuídopeloatualgovernoao campo da EducaçãoTecnológica, caracteriza-se como uma das principais medidas desseconjunto.

Esse instrumento legal instituidiretrizesparaoprocessode integraçãode instituiçõesfederais de educação tecnológica, para fins de constituição de Institutos Federais de Educação, CiênciaeTecnologia-IFET-noâmbitodaRedeFederal.Constitui,dessaforma,umareenge-nhariae/oureformataçãodasinstituiçõesintegrantesdaRedeFederaldeEducaçãoTecnológica,bemcomodaprópriaredeemsi.

Areengenharia/reformataçãopropostapelodecretotrabalhanumaperspectivadeatua-çãointegradaregionalmente,por intermédiodeumainstituiçãodenaturezajurídicaautárquicaedotadadeautonomiaadministrativa,patrimonial,didático-pedagógicaedisciplinar(Art.1º).Talinstituição será de educação superior, básica, profissional, pluricurricular e multicampi, especia-lizada na oferta de educação profissional e tecnológica nas várias modalidades, com base na conjugaçãodosconhecimentostécnicosetecnológicosàssuaspráticaspedagógicas.

Uma lei específica dará o passo final na criação do IFET, sendo o coroamento doprocessodeintegraçãodasinstituiçõesqueocompuseram(Art.2º).Esseprocessoteminíciocomacelebraçãodoacordoqueformalizaráaagregaçãovoluntáriadasinstituiçõesdeorigem,quepoderãoserCEFET,ETF,EAFeEscolasTécnicasvinculadasauniversidadesfederais,des-dequetodasnomesmoestado.OprocessoteráasupervisãodaSETEC/MEC,eotermodeveráseraprovadopelosórgãossuperioresdegestãodecadaumadasinstituiçõesenvolvidas.Essaformulação, bastante ambígua, pode colocar poder de decisão na mão dos dirigentes. Afinal, gestãopode,quandoconvém,serpensadacomotarefadainstânciaexecutiva.

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A instituição terá, ainda, definida na lei de sua criação, sua abrangência territorial que po-deráserdeumestado(oudoDF)oudeumaoumaismesoregiõesdeumestadoquedetenhamidentidadesprópriasemtermoshistóricos,culturais,sociaiseeconômicos.Nessaperspectiva,podemos visualizar uma identificação dessas mesoregiões com os pólos de desenvolvimento pre-vistonoPAC,oquerevelamaisumavezaintençãodogovernodesubordinarapolíticaeducacio-nal às demandas do mercado. Tal percepção intensifica-se na análise dos pontos subseqüentes.

OPDI integrado,aserelaboradoapósacelebraçãodoacordode integração,priorizadois grandes eixos: ações orientadoras da vocação institucional e objetivos orientadores do perfil acadêmico.Semapretensãodesubstituiraleituradodecreto,algunsaspectosneleprevistos,emcadaumdessesdoiseixos,merecemdestaques.

No primeiro eixo, a educação profissional e tecnológica apresenta-se em estreita articula-çãocomossetoresprodutivosecomogeraçãoeadaptaçãodesoluçõestécnicasetecnológicas;ofertaformativaembenefíciodosarranjosprodutivoslocais;atuaçãocomocentrodeexcelência/referêncianaofertaenoapoioàofertaporoutrosdoensinodeciências;ofertadeprogramasdeextensão centrados na divulgação científica; estimulo à pesquisa aplicada, empreendedorismo e desenvolvimento científico-tecnológico.

No segundo eixo, oferta de educação profissional técnica de nível médio, em articula-çãocomoensinoregular;decursosdeformaçãoinicialecontinuada,emtodososníveis,paratrabalhadores nas áreas de educação profissional e tecnológica; articulação com o Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos-PROEJAnaofertadeformaçãoinicialecontinuadadetrabalhadoresedeeducaçãoprofissional e técnica de nível médio; realização de pesquisas aplicadas, estimulando o desen-volvimento de soluções; atividades de extensão em acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica e em articulação com o setor produtivo; estímulo e apoio a processoseducativosque levemàgeraçãode trabalhoe renda;ofertadeeducaçãosuperior-graduaçãoembachareladostecnológicoseoutroscursossuperioresdetecnologiavoltadosaosdiferentes setores da economia,- pós-lato para formar especialistas para a educação profissional e tecnológica,- pós-stricto, mestrado e doutorado, preferencialmente profissionais, para promover oaumentodacompetitividadenacionalvisandogeraçãoeinovaçãotecnológica,-licenciaturas/formaçãopedagógicaparaprofessoresdaeducaçãobásica,sobretudodeciênciasematemática.

Paraimplementaçãodesseseixosorientadores,háadeterminaçãolegalparaaaplica-ção dos recursos, condicionados a determinados objetivos: no mínimo 50% do orçamento no conjuntodoscursosdeformaçãoinicialecontinuadaparaostrabalhadoresdaáreadaeducaçãoprofissional e tecnológica, da articulação com o PROEJA e da realização de pesquisas aplicadas e 20% nas licenciaturas e formação pedagógica para professores da educação básica.

Há,ainda,emprincípio,apossibilidadedecomplementaçãodequadrodepessoalna

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instalaçãodoIFET,adicionalaoresultantedaagregaçãodosquadrosdasinstituiçõesoriginárias,desde que justificada no PDI e que a justificativa seja acatada pelo MEC e incluída a complemen-taçãonoPLdecriaçãodoIFET.

OquesevislumbranaestruturaformaldoIFETéqueesseémaisummodeloalternativoàuniversidadeprodutoradeconhecimentocríticoeinovador,queoANDES-SNdefende.Se,noREUNI, a perspectiva é a transformação e desqualificação da universidade por dentro, o modelo dosIFETbuscaaconsolidaçãodeumsistemainstitucionalparalelo.

Dentre as características desse modelo, alguns aspectos são dignos de registro. Emprimeiro lugar, os projetos de lei de instituição do IFET definirão estruturas multicampi, na qual cada campus é uma unidade descentralizada, com dotação orçamentária especificada, exceto no caso de pessoal e despesas relacionadas, para permitir, ao que parece, uma certa flexibilidade na lotaçãodosrecursoshumanos.

Outroaspectoaserdestacadoéqueo IFETserãoequiparadosàsuniversidades,naáreaterritorialdeabrangênciadesuaatuação,dopontodevistadaautonomiaacadêmica.Esseganho aparente na autonomia acadêmica fica limitado pela questão financeira (Art. 5º e 8º). Se tudoestádevidamenteregulamentado,aautonomianãoassustaetorna-seumornamentocomaltopotencialdecapitalizaçãopelogoverno.

Nessa lógica, a figura do dirigente máximo, denominada REITOR, não passará de um mero gerente fiscalizador do cumprimento das determinações do MEC. Isso posto, é possível ver os IFET comoumaversãoaperfeiçoada,nosentidodeserportadoradeumteormaiscoesoe,portanto,me-noscontraditório,dasuniversidadesespecializadasporcampodosaberdaLDB,naáreadaC&T.

Ou seja, os IFET serão certamente muito mais eficazes na subordinação da educação profissional e tecnológica aos interesses do mercado do que as universidades tecnológicas exis-tentesouemprocessodeformulação,quedeverãoter,respectivamente,seufuncionamentoesuacriaçãofortementedesestimulados.Ficaclaroqueofuturodeexpansãodasatuaisinstitui-çõesedaprópriaRedeFederaldeEducaçãoTecnológicaserápelaviadomodeloIFET.

Por fim, é importantíssimo mencionar, ainda em relação ao modelo, a atuação dessas instituições na área do ensino de ciências. O deslocamento da formação de professores dasuniversidadesparaosIFET,emprincípio,nãoestádescartadaapossibilidadedeatuaçãonosváriosramosdoconhecimento,separando-adapráticadapesquisabásica,trará,semdúvida,umaligeiramentoeumamudançadefocoparaessaformação.

Alémdisso,asdemaisvertentesdessaatuaçãonosváriosníveisdeensino terãoumpapel significativo, no reforço na inculcação da lógica do mercado. Vamos lembrar os PCN da EducaçãoBásica,principalmenteosdoEnsinoMédioequeacontribuiçãoparatransformarcon-

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textualizaçãodoconhecimentoempresentismodócilàsdemandasdocapitalnaáreadasciên-ciasnaturaisesuastecnologiasquepoderáserprestadaporumprofessorformadonosmoldesprevistosnessedecretoé,semdúvida,inestimável.

Os IFET serão mais um espaço, mantido com o dinheiro público, dado às empresasqueatuamemnossopaís,produtorase/oucompradorasdepacotestecnológicosemnegóciostransfronteiriços,paraque,acustoreduzido,possamrealizaraformaçãoderecursoshumanosadequados para esse fim.

A proposta dos IFET, uma vez que se pauta pela subordinação dos interessesdas camadas populares brasileiras aos ditames do grande capital globalizado, expres-sos por suas representações sócias em âmbito nacional e internacional, é, portanto, par-te do processo de desmonte de uma educação que, a despeito das condições em que sedesenvolve e ainda que portadora de contradições, apresenta elementos relevantes dequalidade – como é o caso dos CEFET e das universidades públicas - que a tornam deten-toradevirtualidadespara tornar-seconstrutorada identidadeeautonomiadopovobrasileiro.

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5. FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO: desfazendo equívocos e ilusões

Financiamentopúblicoquepossagarantir,naprática,oatendimentoaosdireitosdapo-pulaçãonasáreassociais,emparticularnaeducação,équestãocentralecondiçãonecessária,se bem que não suficiente, para a efetivação desses direitos.

JáfoisalientadoqueoProgramadeAceleraçãodoCrescimento-PAC,e,dentrodele,osubprogramaPlanodeDesenvolvimentodaEducação-PDE,nãoprevêem,defato,recursosnovos,masambospretendemalcançarseusobjetivosporumaredistribuiçãodeênfasesepeloincentivoaaçõesdentrodeumaperspectivadeparceriaspúblico-privadas-PPP.

Se tal intento dificilmente alcança a verdadeira dimensão dos direitos sociais em países socialmentemaisorganizados, noBrasil, comsua tradiçãopaternalista eescravista, transfor-ma-se logoemaçõesdecaráterassistencialista, focadasemnecessidadesmais imediatase,freqüentemente, em oportunidade adicional de desvio de recursos públicos para fins privados.

Dequalquermodo,emlugaralgumdomundo,açõesbaseadasemPPPconstituemafonte principal do financiamento da educação. Assim, do investimento global em educação dos países do bloco da OCDE, que correspondeu, em 2005, à média de 5,9% dos respectivos Produ-tosInternosBrutos(PIB),menosdaoitavapartedestepercentualcorrespondeuainvestimentosprivados;mesmoopaísconsideradocampeãodoneoliberalismoeconômico,osEstadosUnidos,que destinou, no mesmo ano, 7,5% do seu avantajado PIB à Educação, obteve apenas 2,1% do mesmoPIB,ouseja,menosdeumterço,defontesprivadas.

ReferenciaroinvestimentoaoPIBéumamaneirauniversaldeavaliaraprioridadequeopaísconfereadeterminadasáreas,nocasoàeducação.OBrasilinformou,em2002,àUNESCOque destinava 4,4% do PIB em verbas públicas à educação, como um todo, somando todos os níveisdegoverno.ComarecenterevisãodosvaloresdoPIBbrasileiro,situando-onaordemde10% acima dos valores anteriormente publicados, tal montante sofreu um decréscimo para 4,0%, comoéevidenciadonatabelaaseguir:

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Observando-se os dados apresentados na quarta coluna daTabela 1, referentes aosvalores com o PIB revisto, verifica-se que no primeiro governo Lula da Silva (2003-2006), o inves-timento brasileiro em educação vem decrescendo e manteve-se, de fato, abaixo dos 4%, valendo destacar que, no ano de 2005, correspondeu a meros 3,5% do PIB.

Essa proporção de financiamento está muito abaixo das possibilidades do país e, cer-tamente,donecessário,levandoemconsideraçãoofatodeque,emespecialnosníveismédioesuperior,osistemaeducacionalpúblicoprecisariaserconsideravelmenteexpandidoe,princi-palmentenaEducaçãoBásica,tersuaqualidaderesgatada.Umimportanteaporteadicionaldeverbaspúblicasseráimperioso,elevandoomontanteparaníveismaispróximosaosinternacio-nais, em particular de países que estão despontando como desenvolvimentistas. Isto significaria triplicar, inicialmente, os recursos para a área (para, depois, atingir entre 7% e 8% do PIB, quando o sistema educacional chegar a uma situação estabilizada), investindo da ordem de 10% durante oregimedetransição. ApoucaprioridadeconferidanoBrasilàáreadaeducaçãotambémpodeserdemonstradaporoutracomparação.Emrelaçãoaototalderecursospúblicosdisponíveis,opaísinvestiu,em2002, 12,2% em educação como um todo e, 2,5% em educação superior (2). Tais percentuais si-tuam-sebastanteabaixodospraticadosinternacionalmente,salientando-se,porexemplo,aMalá-sia, em processo de desenvolvimento, que destinou 28% e 9,8% à educação, como um todo, e ao ensinosuperior,respectivamente.MesmooMéxicoinvestemaisnaáreaenasubárea,sendoosvolumes respectivamente de 23,8% para o total e 4% no ensino superior. No caso dos Estados Uni-dos, o investimento em 2003, foi de 15,2% para a educação em geral, e 4% para o ensino superior.

Desconstrói-se,assim,apartirdequalquercomparaçãocompatamaresinternacionaisdeinvestimento,omito,muitopropagadonaimprensabrasileirae,emboaparte,baseadoem“análises”doBancoMundial,deque,noBrasil, investe-semuitoemeducaçãosuperior (ena

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educaçãocomoumtodo)equeoproblemaseriaaaplicaçãoincorretadosrecursos.

Analisando o financiamento da União, efetuado no primeiro governo Lula da Silva (perí-odo de 2003 a 2006), na área de políticas sociais, confirma-se que, diferentemente do discurso presidencialacercadoaumentoderecursosparaaeducação,houve,defato,reduçãodosgastospúblicos. Ao examinar a execução orçamentária da União sob a ótica da classificação das despe-sasporfunção(Tabela2),pode-seterumquadromaisdetalhadodocomportamentodogovernoemrelaçãoàsdiferentespolíticassociais.

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Observa-sequeafunção‘educação’manteve,noperíodo,umvolumeconstantededes-pesasnaordemde17bilhõesaoanoequeafunção‘saúde’,quecresceuemrecursos,obteveuminvestimentode40bilhõesem2006.Énecessárioteremconta,paraefeitosdecomparação,que,nomesmoanode2006,foidestinadaavultosasomadeR$275bilhõesparaopagamentodosserviçosdadívidainternaeexternae,mesmoassim,adívidacresceusubstancialmente.Adívida externa brasileira, no final de 2006, era de 199 bilhões de dólares e a dívida interna passou aserde1,2trilhãodereais.Paraoanode2007,estáprevistonoProjetodeLeidoOrçamentodaUnião, o comprometimento de 59,5% dos recursos da União para o refinanciamento, amortização oupagamentodosjurosdadívidapública.

Ressalte-se,portanto,queaprioridadedogovernotemsidoopagamentodosencargosda dívida pública, externa e interna, comprometendo em média 40% das despesas da União, no períodode2003a2006(3).AcadaanoopercentualdoorçamentodaUniãodestinadoaopa-gamentodosserviçosdadívidacresceemdetrimentodosinvestimentosnaspolíticassociais.Ogovernofederalgastou,comtodasaspolíticassociais,noperíododequatroanos,R$403bilhõeso que indica claramente a opção do governo Lula da Silva pela manutenção do ajuste fiscal.

Alémdisso,é importanteregistrarque,ao longodecadaano,ogovernovemadotan-doumapolíticadecontingenciamentoderecursos,concentrandoaexecuçãodosprogramaseações no final do ano, com a finalidade de garantir o superávit primário, fazendo reserva para asseguraropagamentodeparceladosserviçosdadívidapública,sinalizandoaoscredoresasboasintençõesdogovernoemeconomizar.

Desde o primeiro ano de mandato, em 2003, o índice previsto de 3,75% de superávit pri-mário em relação ao PIB foi aumentado para 4,25%. As Leis de Diretrizes Orçamentárias - LDO daUniãodosanossubseqüentespreviamessemesmopatamar,noentanto,ogovernosuperoua cada ano essa meta. Em 2004, a taxa foi de 4,59%; em 2005 passou para 4,83% e, em 2006, ficou um pouco mais baixa, 4,32%, mas, ainda, superior ao previsto na LDO (INESC, 2007).

Considerando, agora, as despesas liquidadas da União especificamente com manuten-çãoedesenvolvimentodoensinosuperior,observa-senaTabela3umaumentonovalornominaldosrecursosnoperíodode2003a2006,comdestaqueparaoanode2006(anoeleitoral),queteveumacréscimode1,2bilhõesemrelaçãoaoanoanterior.Esseaumento,noentanto,nãoacompanhouaevoluçãodaarrecadaçãotributáriadaUnião,comopodeservistonaTabela3,onde se verifica uma queda da proporção de 5,6% em relação ao total, em 2003, para 5,3% em 2006.Odiscursodogoverno,reforçadopelosreitoresedirigentes,dequeasIFESteriamrece-bidomaisrecursosnosúltimosanosdesconsideraoaumentodareceitadaUniãobemcomoaexpansãodasmatrículasocorridanesseperíodoeacriaçãodenovasuniversidadesecampi.

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ComarevisãodoPIBpeloIBGE,osrecursospúblicosdestinadosàeducaçãosuperior,em 2002, situaram-se em apenas 0,7% do PIB. Esse percentual confirma a situação de desvan-tagemtambémnessasubárea,reconhecidamentedeimportânciacrucialparaodesenvolvimentonacional.

A média dos países da OCDE situa-se quase 40% acima desse valor e os países nórdicos (Suécia,Noruega,Finlândia)investememseusistemapúblicodoensinosuperiormaisdodobro(emrelaçãoaoseuPIB),valendosalientaraFinlândia,quemuitocresceunasúltimasdécadas,onde o montante correspondeu, em 2003, a 1,7% do PIB.

Note-seque,nascontasinternacionais,aalínea‘pesquisa’éapresentadaseparadamen-te,enquanto,nocasobrasileiro,partedessetipodeinvestimentodeveestarabrigadonaalíneadaeducaçãosuperior.

Desfaz-se,assim,umoutromito,coroláriodoanteriormentemencionado,muitocultivadopelosmeiosdecomunicaçãoe,atémesmo,peloMECdeque,nopaís,há recursospúblicossuficientes para a educação, especialmente para o ensino superior, mas que eles, nessa lógica, seriammalinvestidospelasinstituiçõespúblicasbrasileiras.

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Apartirdasanálisesapresentadas,épossívelperceberaintençãodogovernodepro-moverumacolossal reestruturaçãodaeducaçãosuperiorbrasileira, tantoem termosdeseusobjetivos quanto de sua arquitetura institucional, implicando uma deterioração importante dascondiçõesdeestudoedetrabalhodacomunidadequelhedávida.Ironicamente,senãohouverumaconscientizaçãorápidadacomunidadeuniversitária,evitandoquedireções,cooptadasouinconseqüentes,adiramaoREUNIouaosistemaIFET,estaevoluçãodeletériadar-se-á,aparen-temente,nosmarcosdeumapretensadecisãoautônomadaIES.

É possível, ainda, perceber que essa reestruturação caminha no sentido de dificultar, aindamais,aparticipaçãodaclassetrabalhadoranoprocessodeconstruçãoeapropriaçãodoconhecimento inovadorecrítico,chegandomesmoapostulara inadequaçãoou inutilidadedaocorrênciadesseprocessoemnossopaís.

A análise do financiamento da educação, considerando também comparações internacio-nais,situou-aemproporçõesvergonhosamentebaixas,apontandoqueamanutenção,aolongodedécadas,dabaixaprioridadeefetivareveladaporessesíndicesédeterminanteparaapro-blemáticavivenciadapelosistemaeducacionalcomoumtodo.OsprojetosREUNIe IFETsãoexemplosdetentativasparamanterocongelamentodeverbascomampliaçãodeatribuições.

A lógica de não enfrentar os interesses do capital, causa do financiamento insuficiente, mas,mesmoassim,promoveraexpansãodasmatrículasnoensinosuperiorpúblico(queé,semdúvida,umaaspiraçãojustadapopulação)precisaserdenunciadaeenfrentada,poisresultaránodesmontedeumsistemaqueaindaconseguemanter-secomcertaqualidadeequefoiconstruídopeloesforçoconjuntodacomunidadeacadêmica,apoiadapor recursosoriundosde impostospagosportodapopulação. Nestahora,énecessáriofrisarqueumsistemacomplexo,comoéodoensinoepesquisanoconjuntodeuniversidadespúblicas,levadécadasparaserconstruído,massuadestruiçãoéquestãodepoucosanos,umavezquesuasustentaçãodepende,essencialmente,dasinergiadascapacidades intelectuais,de liderançaedecooperaçãodaspessoasqueoconstituem,a

6. CONCLUSÕES

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qualseesvai,nomomentoemqueadeterioraçãodascondiçõesobjetivasdeestudoetrabalhoultrapassaumcertolimite.

Reverterastendênciasapontadasnestetextoexige,comocondiçãonecessária,aindaque não suficiente, nosso empenho e disposição de luta. Nãoétarefasimplesnemrápida,mas,nestemomento,éindispensávelquerespondamospositivamenteaochamamentoparaesseembate,sobpenade,aonãoaceitá-lo,estarmoscontri-buindo,poromissãooucumplicidade,paraumalijamentoadicionaldosestudantesprovenientesdas classes menos favorecidas das oportunidades de profissionalização, na já extremamente excludentesociedadebrasileira.Alémdisso,talomissãoreforçariaoabandonodapossibilidadede,nocontextointernacional,opaísexerceropapeldedisporautonomamentesobreoseuimen-sopotencialderiquezashumanasemateriais,porfaltadedensidadecríticanaatuaçãodeseusprofissionais e ainda maior escassez de pesquisas autóctones. Orecentereagrupamentodasforçassociaisvivas,aoredordeaçõesderesistênciaàsinvestidasgovernamentais,reacendeaesperançadeque,numfuturonãolongínquo,opaísvolteavivercondiçõesparaqueessasmesmasforçasseampliemereivindiquemoquelhesédevidoem termosdedireitos sociais, aí incluída comdestaque,umaeducaçãopúblicadequalidadesocialmentereferenciada.

São Luís, �� de julho de �00�

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ANEXOS

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Presidência da RepúblicaCasa Civil

Subchefia para Assuntos JurídicosDECRETO Nº 6.095, DE 24 DE ABRIL DE 2007

Estabelecediretrizesparaoprocessodeintegraçãodeinstituiçõesfederaisdeedu-cação tecnológica, para fins de constituição dos Institutos Federais de Educação, Ciência e

Tecnologia-IFET,noâmbitodaRedeFederaldeEducaçãoTecnológica.

OPRESIDENTEDAREPÚBLICA,nousodaatribuiçãoquelheconfereoart.84,incisoVI,alínea“a”,daConstituição,

DECRETA:

CAPÍTULO IDAREORGANIZAÇÃOEINTEGRAÇÃODEINSTITUIÇÕES

FEDERAISDEEDUCAÇÃOTECNOLÓGICA

Art.1oOMinistériodaEducaçãoestimularáoprocessodereorganizaçãodasinstituiçõesfede-rais de educação profissional e tecnológica, a fim de que atuem de forma integrada regionalmen-te,nostermosdesteDecreto.

§1oAreorganizaçãoreferidanocaputpautar-se-ápelomodelodeInstitutoFederaldeEduca-ção, Ciência e Tecnologia - IFET, definido por este Decreto, com natureza jurídica de autarquia, detentoresdeautonomiaadministrativa,patrimonial,didático-pedagógicaedisciplinar,respeita-dasasvinculaçõesneleprevistas.

§2o Osprojetosde leidecriaçãodos IFETsconsiderarãocada institutocomo instituiçãodeeducação superior, básica e profissional, pluricurricular e multicampus, especializada na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, com base na con-jugaçãodeconhecimentostécnicosetecnológicosàssuaspráticaspedagógicas,nostermosdomodeloestabelecidonesteDecretoedasrespectivasleisdecriação.

§ 3o Os projetos de lei de criação dos IFETs tratarão de sua organização em ba-ses territoriais definidas, compreendidas na dimensão geográfica de um Esta-do, do Distrito Federal ou de uma ou mais mesorregiões dentro de um mesmo Es-tado, caracterizadas por identidades históricas, culturais, sociais e econômicas.

CAPÍTULO II

DOPROCESSODEINTEGRAÇÃODASINSTITUIÇÕESFEDERAISDEEDUCAÇÃOPROFIS-SIONALETECNOLÓGICAPARAAFORMAÇÃODOSIFETs

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Art. 2o A implantação de IFETs ocorrerá mediante aprovação de lei específica, após a conclusão, quando couber, do processo de integração de instituições federais de educação profissional e tecnológica,naformadesteDecreto.

Art.3oOprocessodeintegraçãoteráiníciocomacelebraçãodeacordoentreinstituiçõesfede-rais de educação profissional e tecnológica, que formalizará a agregação voluntária de Centros FederaisdeEducaçãoTecnológica-CEFET,EscolasTécnicasFederais-ETF,EscolasAgrotéc-nicasFederais-EAFeEscolasTécnicasvinculadasàsUniversidadesFederais,localizadosemummesmoEstado.

§ 1o O processo de integração será supervisionado pela Secretaria de Educação Profissional e TecnológicadoMinistériodaEducação.§2oOtermodeacordodeveráseraprovadopelosórgãossuperioresdegestãodecadaumadasinstituiçõesenvolvidas.

Art.4oApósacelebraçãodoacordo,asinstituiçõesdeverãoelaborarprojetodePlanodeDe-senvolvimentoInstitucional(PDI)integrado,observando,noquecouber,odispostonoart.16doDecretono5.773,de9demaiode2006.

§1oAvocação institucionalexpressanoprojetodePDI integradodeveráseorientarparaasseguintesações:

I - ofertar educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, formando e qualificando profissionais para os diversos setores da economia, em estreita articulação com os setoresprodutivoseasociedade;II - desenvolver a educação profissional e tecnológica, como processo educativo e investigativo degeraçãoeadaptaçãodesoluçõestécnicasetecnológicasàsdemandassociaisepeculiarida-desregionais;

III - orientar sua oferta formativa em benefício da consolidação e fortalecimen-to dos arranjos produtivos locais, identificados com base no mapeamento das po-tencialidades de desenvolvimento socioeconômico no âmbito de atuação do IFET;

IV-constituir-seemcentrodeexcelêncianaofertadoensinodeciências,emgeral,edeciênciasaplicadas,emparticular,estimulandoodesenvolvimentodeespíritocrítico,voltadoàinvestigaçãoempírica;

V - qualificar-se como centro de referência no apoio à oferta do ensino de ciências nas instituições públicasdeensino,oferecendocapacitaçãotécnicaeatualizaçãopedagógicaaosdocentesdasredespúblicasdeensino;

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VI - oferecer programas de extensão, dando prioridade à divulgação científica; e

VII-estimularapesquisaaplicada,aproduçãocultural,oempreendedorismo,ocooperativismoeo desenvolvimento científico e tecnológico.

§2oNoplanoacadêmico,oprojetodePDIintegradodeveráseorientaraosseguintesobjeti-vos:

I - ministrar educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente em cursos e programas integradosaoensinoregular;

II-ministrarcursosdeformaçãoinicialecontinuadadetrabalhadores,objetivandoacapacitação,o aperfeiçoamento, a especialização e a atualização de profissionais, em todos os níveis de es-colaridade, nas áreas da educação profissional e tecnológica;

III - ofertar, no âmbito do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educa-çãoBásicanaModalidadedeEducaçãodeJovenseAdultos -PROEJA,cursoseprogramasde formação inicial e continuada de trabalhadores e de educação profissional e técnica de nível médio;

IV-realizarpesquisasaplicadas,estimulandoodesenvolvimentodesoluçõestécnicasetecnoló-gicas,estendendoseusbenefíciosàcomunidade;

V - desenvolver atividades de extensão de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica, em articulação com o setor produtivo e os segmentos sociais e com ênfase na difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos;

VI-estimulareapoiarprocessoseducativosquelevemàgeraçãodetrabalhoerenda,especial-mente a partir de processos de autogestão, identificados com os potenciais de desenvolvimento localeregional;

VII-ministraremníveldeeducaçãosuperior:

a)cursosdegraduação,compreendendobachareladosdenaturezatecnológicaecursossuperio-res de tecnologia, visando à formação de profissionais para os diferentes setores da economia;

b)cursosdepós-graduaçãolatosensudeaperfeiçoamentoeespecialização,visandoàformaçãode especialistas para as diferentes áreas da educação profissional e tecnológica;

c)programasdepós-graduaçãostrictosensu,compreendendomestradoedoutorado,preferen-

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cialmente de natureza profissional, que promovam o aumento da competitividade nacional e o estabelecimentodebasessólidasemciênciaetecnologia,comvistaaoprocessodegeraçãoeinovaçãotecnológica;e

d)cursosdelicenciatura,bemcomoprogramasespeciaisdeformaçãopedagógica,comvistaàformaçãodeprofessoresparaaeducaçãobásica,sobretudonasáreasdeciênciasematemática,deacordocomasdemandasdeâmbitolocaleregional.

Art. 5o O projeto de lei que instituir o IFET vinculará sua autonomia financeira de modo que o Ins-tituto,emcadaexercício,apliqueomínimodecinqüentaporcentodesuadotaçãoorçamentáriaanual no alcance dos objetivos definidos nos incisos I, II e III do § 2o do art. 4o, e o mínimo de vinteporcentodesuadotaçãoorçamentáriaanualnaconsecuçãodoobjetivoreferidonaalínea“d”,incisoVII,do§2odocitadoart.4o.

Art.6oApropostadeimplantaçãodeIFETseráencaminhadaaoMinistériodaEducação,instru-ídacomoprojetodePDIintegrado,projetodeestatutoeadocumentaçãopertinente.

§ 1o Caberá à Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação analisar a proposta e, se for o caso, elaborar o projeto de lei específico de implantação de cada instituto,submetendo-oàapreciaçãodoMinistrodeEstadodaEducação,quedecidiráacercadeseuencaminhamento.

§2oAcomplementaçãodoquadrodecargosefunções,quandonecessáriaemdecorrênciadaimplantaçãodeumIFET,deveráconstardorespectivoprojetodelei.

CAPÍTULO IIIDOMODELODEINSTITUTOFEDERALDEEDUCAÇÃO,

CIÊNCIAETECNOLOGIA

Art. 7o O processo de integração de instituições federais de educação profissional e tecnológica eaelaboraçãodoprojetodePDIintegradodeverãolevaremcontaomodelojurídicoeorganiza-cional de IFET definido neste Decreto.

Art. 8o Os projetos de lei de instituição dos IFETs definirão estruturas multicampi, com gestão orçamentária e financeira descentralizada.

§1oCadacampuscorresponderáaumaunidadedescentralizada.

§2oAprovadaainstituiçãodoIFET,oMinistériodaEducaçãoencaminharáapropostaorçamen-tária anual com identificação de cada campus, exceto no que diz respeito a pessoal, encargos sociaisebenefíciosaosservidores.

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Art.9oOsprojetosdeleideinstituiçãodosIFETsproporãoestruturasdotadasdeautonomia,noslimitesdesuaáreadeatuaçãoterritorial,paraacriaçãoeextinçãodecursos,medianteautoriza-çãodocolegiadosuperiorcompetenteparaamatériaacadêmica.

§1oParaefeitodaincidênciadasdisposiçõesqueregemaregulação,avaliaçãoesupervisãodasinstituiçõesecursosdaeducaçãosuperior,osIFETsserãoequiparadosauniversidades.

§2oOsIFETspoderão,nostermosdalei,registrardiplomasdoscursosporelesoferecidos.

Art.10.NoprojetodeleideinstituiçãodoIFET,aadministraçãosuperiorseráatribuídaaoReitor,aoColégiodeDiretoreseaoConselhoSuperior,noâmbitodesuasrespectivascompetências.

§1oAsPresidênciasdoColégiodeDiretoresedoConselhoSuperiorserãoexercidaspeloReitordoIFET.

§2oOColégiodeDiretoresserácompostopeloReitor,peloVice-Reitor,pelosPró-Reitoresepelodiretor-geraldecadacampusqueintegraoInstituto.

§3oOConselhoSuperiorpossuirácaráterdeliberativoeconsultivoeserácompostoporrepre-sentantesdosdocentes,dosestudantes,dostécnicos-administrativos,dosegressosdainstitui-ção,dasociedadecivil,doMinistériodaEducaçãoedoColégiodeDiretoresdoIFET.

§4oOestatutodoIFETdisporásobreascompetênciaseasnormasdefuncionamentodoColé-giodeDiretoresedoConselhoSuperior,bemcomosobreacomposiçãodoConselhoSuperior.

Art.11.NoprojetodeleideinstituiçãodoIFET,seráprevistaanomeaçãodoReitoreVice-ReitorpeloPresidentedaRepública,naformadalegislaçãoaplicávelànomeaçãodereitoresdasuni-versidadesfederais,observadasasdisposiçõesdesteartigo.

§1o Poderãocandidatar-seaoscargosdeReitoreVice-ReitorosdocentespertencentesaoQuadrodePessoalAtivoPermanentedequalquerdoscampiqueintegramoIFET,desdequepossuamomínimodecincoanosdeefetivoexercícionainstituiçãoequeatendamapelomenosumdostrêsseguintesrequisitos:

I-possuirotítulodedoutor;

II-estarposicionadonaClasseEspecialdaCarreiradeMagistériode1oe2oGrausdoPlanoÚnico de Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos, de que trata a Lei no 7.596, de 10 deabrilde1987;e

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III-estarposicionadononívelIVdaClassedeProfessorAdjuntodaCarreiradeMagistérioSu-perior do Plano Único de Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos, de que trata a Lei nº7.596,de1987.

§2oOsmandatosdeReitoredeVice-Reitorextinguem-sepelodecursodoprazo,ou,antesdesseprazo,pelaaposentadoria,voluntáriaoucompulsória,pelarenúnciaepeladestituiçãoouvacânciadocargo,naformadoestatuto.

Art.12. Noprojetode leide instituiçãodo IFET,seráprevistaaadministraçãodoscampipordiretores-gerais,nomeadospeloReitor,apósprocessodeconsultaàcomunidadedorespectivocampus,nostermosestabelecidospeloestatutodainstituição.

Parágrafoúnico. Osdiretores-geraisdoscampiserãonomeadosparaummandatodequatroanos,permitidaumarecondução,podendocandidatar-seaocargoosdocentesqueintegraremoQuadrodePessoalAtivoPermanentedorespectivocampus,equepossuíremomínimodecincoanos de docência em instituição federal de educação profissional e tecnológica.

CAPÍTULO IVDASDISPOSIÇÕESGERAISETRANSITÓRIAS

Art. 13. A criação de novas instituições federais de educação profissional e tecnológica, bem comoaexpansãodasinstituiçõesjáexistentes,levaráemcontapreferencialmenteomodelodeIFETdisciplinadonesteDecreto.Art.14.OsprojetosdeleidecriaçãodosIFETscontemplarãoregimedetransição,queatenderáàsseguintesdisposições:

I-osDiretoreseVice-DiretoresdosCEFETs,EscolasTécnicas,AgrotécnicaseEscolasTécnicasvinculadas às Universidades Federais exercerão até o final os mandatos em curso;

II-oDiretor-GeraleoVice-Diretor-GeraldoCEFETquederorigemàsededoIFETexercerão,até o final de seu mandato em curso e em caráter pro tempore, as funções de Reitor e Vice-Reitor, respectivamente,comaincumbênciadepromover,noprazomáximodecentoeoitentadias,aelaboraçãoeencaminhamentoaoMinistériodaEducaçãodoestatutodonovoinstituto;

III-apropostadeimplantaçãodeIFETqueresultardaintegraçãodeduasoumaisinstituiçõesdeveráindicarqualdelascorresponderáàsededoInstituto;e

IV-noscampiemprocessodeimplantação,oscargosdediretor-geralserãoprovidosprotem-pore, por designação do Reitor do IFET, até que seja possível identificar candidatos que atendam aosrequisitosestabelecidosnoparágrafoúnicodoart.12.

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Art.15.EsteDecretoentraemvigornadatadesuapublicação.

Brasília,24deabrilde2007;186odaIndependênciae119odaRepública.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVAFernandoHaddadPauloBernardoSilvaEstetextonãosubstituiopublicadonoDOUde25.4.2007

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Presidência da República Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

DECRETO Nº 6.096, DE 24 DE ABRIL DE 2007

Institui o Programa de Apoio a Planos deReestruturação e Expansão das Universidades

Federais - REUNI.

OPRESIDENTE DA REPÚBLICA,nousodaatribuiçãoquelheconfereoart.84,incisoVI,alínea“a”,daConstituição,econsiderandoametadeexpansãodaofertadeeducaçãosuperiorcons-tantedoitem4.3.1doPlanoNacionaldeEducação,instituídopelaLeino10.172,de9dejaneirode2001,

DECRETA:

Art.1oFicainstituídooProgramadeApoioaPlanosdeReestruturaçãoeExpansãodasUniversida-desFederais-REUNI,comoobjetivodecriarcondiçõesparaaampliaçãodoacessoepermanêncianaeducaçãosuperior,noníveldegraduação,pelomelhoraproveitamentodaestruturafísicaederecursoshumanosexistentesnasuniversidadesfederais.

§1oOProgramatemcomometaglobalaelevaçãogradualdataxadeconclusãomédiadoscursosdegraduaçãopresenciaisparanoventaporcentoedarelaçãodealunosdegraduaçãoemcursospresenciais por professor para dezoito, ao final de cinco anos, a contar do início de cada plano.

§2oOMinistériodaEducaçãoestabeleceráosparâmetrosdecálculodosindicadoresquecompõemametareferidano§1o.

Art.2oOProgramateráasseguintesdiretrizes:I-reduçãodastaxasdeevasão,ocupaçãodevagasociosaseaumentodevagasdeingresso,espe-cialmentenoperíodonoturno;

II -ampliaçãodamobilidadeestudantil, coma implantaçãode regimescurricularesesistemasdetítulosquepossibilitemaconstruçãodeitineráriosformativos,medianteoaproveitamentodecréditoseacirculaçãodeestudantesentreinstituições,cursoseprogramasdeeducaçãosuperior;

III-revisãodaestruturaacadêmica,comreorganizaçãodoscursosdegraduaçãoeatualizaçãodemetodologiasdeensino-aprendizagem,buscandoaconstanteelevaçãodaqualidade;

IV - diversificação das modalidades de graduação, preferencialmente não voltadas à profissionaliza-çãoprecoceeespecializada;

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V-ampliaçãodepolíticasdeinclusãoeassistênciaestudantil;e

VI-articulaçãodagraduaçãocomapós-graduaçãoedaeducaçãosuperiorcomaeducaçãobásica.

Art. 3o O Ministério da Educação destinará ao Programa recursos financeiros, que serão reservados a cada universidadefederal,namedidadaelaboraçãoeapresentaçãodosrespectivosplanosdereestruturação,a fim de suportar as despesas decorrentes das iniciativas propostas, especialmente no que respeita a:

I-construçãoereadequaçãodeinfra-estruturaeequipamentosnecessáriasàrealizaçãodosobjeti-vosdoPrograma;

II-compradebenseserviçosnecessáriosaofuncionamentodosnovosregimesacadêmicos;e

III-despesasdecusteioepessoalassociadasàexpansãodasatividadesdecorrentesdoplanodereestruturação.

§1oOacréscimoderecursosreferidonoincisoIIIserálimitadoavinteporcentodasdespesasdecusteioepessoaldauniversidade,noperíododecincoanosdequetrataoart.1o,§1o.

§2oOacréscimoreferidono§1otomaráporbaseoorçamentodoanoinicialdaexecuçãodoplanodecadauniversidade,incluindoaexpansãojáprogramadaeexcluindoosinativos.

§3oOatendimentodosplanosécondicionadoàcapacidadeorçamentáriaeoperacionaldoMinistériodaEducação.

Art.4oOplanodereestruturaçãodauniversidadequepostuleseuingressonoPrograma,respeitadosavocaçãodecadainstituiçãoeoprincípiodaautonomiauniversitária,deveráindicaraestratégiaeasetapasparaarealizaçãodosobjetivosreferidosnoart.1o.

Parágrafoúnico.Oplanodereestruturaçãodeveráseraprovadopeloórgãosuperiordainstituição.

Art.5oOingressonoProgramapoderásersolicitadopelauniversidadefederal,aqualquertempo,mediantepropostainstruídacom:

I-oplanodereestruturação,observadooart.4o;

II - estimativa de recursos adicionais necessários ao cumprimento das metas fixadaspela instituição, ematendimentoaosobjetivosdoPrograma,naformadoart.3o,vinculandooprogressivoincrementoorçamentárioàsetapasprevistasnoplano.

Art.6oAproposta,seaprovadapeloMinistériodaEducação,daráorigemainstrumentos próprios, que fixarão os recursos financeiros adicionais destinados à universidade, vin-

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culandoosrepassesaocumprimentodasetapas.

Art.7oAsdespesasdecorrentesdestedecretocorrerãoàcontadasdotaçõesorçamentáriasanualmenteconsignadasaoMinistériodaEducação.

Art.8oEsteDecretoentraemvigornadatadesuapublicação.

Brasília,24deabrilde2007;186odaIndependênciae119odaRepública.

LUIZINÁCIOLULADASILVAFernandoHaddadPauloBernardoSilvaEstetextonãosubstituiopublicadonoDOUde25.4.2007

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GABINETE DO MINISTRO

PORTARIA NORMARTIVA INTERMINISTERIAL Nº - 22, DE 30 DE ABRIL DE 2007

OSMINISTROSDEESTADODAEDUCAÇÃOEDOPLANEJAMENTO,ORÇAMENTOEGESTÃO,nousodesuasatribuiçõeslegais,resolvem:

Art.1ºFicaconstituído,emcadauniversidadefederal,comoinstrumentodegestãoadministrativadepessoal,umbancodeprofessores-equivalente,nostermosdoAnexodestaPortariaInterministerial.

Art.2ºObancodeprofessores-equivalentecorresponderáàsomadosProfessoresde3ºGrauefeti-vosesubstitutosemexercícionauniversidade,expressanaunidadeprofessor-equivalente.

§1ºAreferênciaparacadaprofessor-equivalenteéoProfessorAdjunto,nívelI,noregimedetraba-lhodequarentahorassemanais.

§2ºOsdocentesefetivosemregimedededicaçãoexclusivaouemregimede20horassemanaisserãocomputadosmultiplicando-seaquantidadedeprofessorespelofator1,55,noprimeirocaso,e0,5,nosegundo,tendoemvistaodispostonoart.7º,parágrafoúnico,daLeinº11.344,de8desetembrode2006.

§3ºOsdocentessubstitutosserãocomputadosproporcionalmenteaosfatoresindicadosno§2º,multiplicando-seosdocentessubstitutosemregimede20horaspor0,4eaquelesem40horas,por0,8.

§4ºOcálculodototaldeprofessores-equivalentedobancolevaráemcontaascontrataçõesjáautorizadaspeloMinistériodoPlanejamento,OrçamentoeGestão,emprocessoderealização.

Art.3ºAsuniversidadesterãoprazode90diasparasolicitaràSecretariadeEducaçãoSuperiordoMinistériodaEducação,seforocaso,revisãodosdadosconstantesdoAnexo,obtidoscombasenasinformaçõesconstantesdoSIAPEem31dedezembrode2006.

§1ºAsnomeaçõesecontrataçõesrealizadasapartirde31dedezembrode2006,devidamenteautorizadasemportariasdoMinistériodoPlanejamento,OrçamentoeGestão,deverãosercompu-tadas, para fim de acréscimo ao banco de professores-equivalente de cada universidade, mediante requerimentodauniversidade,naformadocaput.

§2ºNovoatoconjuntodosMinistériosdaEducaçãoePlanejamento,OrçamentoeGestão,decidirásobre a retificação das informações e correções dos bancos.

Art. 4º Observados os limites do banco de professores-equivalente fixado nos termos do art. 1º, será facultado à universidade federal, independentemente de autorização específica:

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I-realizarconcursopúblicoeprovercargosdeProfessorde3ºGrau;

II-contratarprofessorsubstituto,observadasashipótesesdecontrataçãoprevistasnaLeinº8.745,de9dedezembrode1993,bemcomoascondiçõeseosrequisitosnelaprevistosparacontratação.

§1ºArealizaçãodeconcursopúblicoeprovimentodocargosãocondicionadosàexistênciadecargovagonoquadrodauniversidade.

§2ºAquantidadedeProfessorTitularélimitadaadezporcentodonúmerototaldedocentesefeti-vosdauniversidade.

Art.5ºASecretariadeEducaçãoSuperiorenviaráaoMinistériodoPlanejamento,OrçamentoeGestão,atémaiodecadaano,aestimativadeacréscimoaoorçamentodepessoaldocentedasuniversidadesfederaisparaoexercícioseguinte,comadiscriminaçãomensaldaprevisãodepreen-chimentodevagasdocentes.

§1ºASecretariadeEducaçãoSuperiorproduziráaestimativamencionadanocaputcomapartici-paçãodasuniversidadesfederais.

§2ºAsuniversidadesenviarãosemestralmenteàSecretariadeEducaçãoSuperiorrelatórioinfor-mandoaaberturadeconcurso,opreenchimentodecargosdocenteseacontrataçãodeprofessoressubstitutosnoperíodo.

§3ºASecretariadeEducaçãoSuperiorconsolidaráasinformaçõesenviadaspelasuniversidades,encaminhando-asaoMinistériodoPlanejamento,OrçamentoeGestão.

Art.6ºAsnovasautorizaçõesparacontrataçãodedocentes,correspondentesàexpansãodasuni-versidadesfederais,serãoexpressasemprofessores-equivalente,poracréscimoaobancoconstituí-donaformadestaPortaria.

Art.7ºEstaPortariaentraemvigornadatadesuapublicação.

FERNANDOHADDADMinistrodeEstadodaEducação

PAULOBERNARDOSILVAMinistrodeEstadodoPlanejamento,OrçamentoeGestão

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SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR