a contra reforma universitária do governo lula

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    4 - DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    SumrioA (contra) reforma universitria, em curso, no governo Lula

    Morte anunciada: educao superior pblica.

    Celi Zulke Taffarell

    Contra essa reforma universitria.

    Osvaldo Coggiola

    Reforma universitria ou a modernizao mercadolgica das universidades pblicas.Olgases Maus

    A reforma universitria no contexto de um governo popular democrtico:

    primeiras aproximaes.

    Deise Mancebo e Joo dos Reis Silva Junior

    Universidade (pblica) para todos.

    Maringela Nather

    O papel das fundaes de apoio no processo de privatizao da universidade pblica.Marinalva Silva Oliveira, Arley Jos Silveira da Costa e Dorinaldo Barbosa Malafaia

    Comentrios sobre o financiamento do ensino superior.

    Otaviano Helene

    Os caminhos da privatizao interna na universidade pblica brasileira:

    o caso das fundaes de apoio.

    Alejandra Pascual

    O desmonte da universidade pblica: a interface de uma ideologia.Ernni Lampert

    Entrevista: Gaudncio Frigotto

    Debates Contemporneos

    O Sindicalismo tardio da educao bsica no Brasil.

    Sadi Dal Rosso e Magda de Lima Lcio

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    DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 - 5UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    A educao superior mercadoria ou direito no mbito da Organizao Mundial do Comrcio?

    Carlos Lima e Joo dos Reis Silva Junior

    Mulher e sociedade: desafios e perspectivas.

    Maria Helena Santana Cruz

    Violncia: sua natureza e motivao em Hannah Arendt.

    Anatrcia Ramos Lopes

    As polticas pblicas no atual contexto brasileiro: Universalidade versus focalidade.

    Ana Laura Bressan

    Educao poltica e militncia partidria: experincias e reflexes.

    Martha DAngelo

    A concepo de criana em Plato e Rousseau.

    Marcos Antonio da Silva

    Sociedade da informao, reestruturao produtiva e economia do conhecimento.Csar Bolao

    A hiptese da crise final do capitalismo no passou na prova da histria

    Valrio Arcary

    Procedimentos de avaliao das universidades brasileiras: contribuies do CEG/UFRJ

    Ana Canen, Alfredo Silveira da Silva, Ana Maria Ribeiro, Maria Jos Coelho, Maria Luza Mesquita da

    Rocha e Wellington Augusto da Silva.

    Carta do 5 CONED - Congresso Nacional de Educao

    ResenhaCrnicas de uma democracia difcil: disputa poltica e escolha eleitoral na Universidade

    Federal de Santa Catarina. (O preo do voto os bastidores de uma eleio para reitor.

    Waldir Jos Rampinelli (org). Florianpolis. Editora Insular. 2004). - Por Remy Jos Fontana

    Ensaio FotogrficoA esperana est na luta

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    A universidade brasileira vem, pau-latinamente, perdendo seu carterpblico, estatal, suas possibilidadesde expanso e, portanto, deixandode receber milhes de jovens quedeveriam hoje cursar o ensino supe-rior em nosso pais, de realizar aspesquisas para incrementar odesenvolvimento econmico, sociale cultural que se faz necessrio evital, no contribuindo, portanto,para a instalao de um lastronacional de referncia unitria dequalidade, no campo educacional eda cincia & tecnologia.

    Os diagnsticos educacionaisapontam que somente 9% de jovensem idade de freqentar a universida-de o fazem, que o setor privado foi oque mais cresceu nos ltimos anos(mais de 70% das matriculas so eminstituies privadas) e que a capaci-dade de a sociedade brasileira sus-tentar o setor lucrativo das empresasprivadas de educao esgotou-se.

    A capacidade salarial dos traba-lhadores brasileiros, submetidos aanos de arrocho salarial, chegou a seulimite. Com salrio mnimo irrisriode R$ 260,00, com taxas de desem-

    prego em torno de 13%, sem cresci-mento econmico significativo, semgerao de emprego, com a infra-es-trutura industrial sucateada, com osservios pblicos em franca decom-posio, no h como a sociedadebrasileira sustentar os lucros aviltan-tes do setor privado da educao.

    Sem sensibilidade poltica paraavaliar o papel estratgico das insti-tuies de ensino superior para o de-senvolvimento e crescimento de umanao soberana, voltada para os inte-resses dos trabalhadores, mas com de-terminao poltica de avanar na

    DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 - 9UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    Morte anunciada:

    educao superior pblicaCeli Zulke Taffarel

    *

    A (Contra) Reforma Universitria

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    implementao das contra-reformasneoliberais que beneficiam o capi-tal, implementam-se iniciativas nocampo educacional, por parte do go-verno Lula.

    Atravs de projetos de lei e medi-

    das provisrias, impe-se naobrasileira a destruio da educaopblica, gratuita, laica, de qualidadecom referncia social. A construode consensos possveis, conduzi-dos pelo estrategista Fernando Had-dad, frente da secretaria executivado MEC, incorpora desde proposi-es da Equipe de Trabalho Intermi-nisterial, grupo criado em 20 de ou-

    tubro de 2003 e composto por mem-bros da Casa Civil, e dos ministriosda Fazenda, Planejamento, Ora-mento e Gesto, Educao e Cincia& Tecnologia, proposies de seto-res privatizantes da educao, at osinteresses de lobistas, diretamenteligados a empresas educacionais pri-vadas com fins lucrativos. A meta diluir o pblico no privado. Aliam-

    se, a, interesses conduzidos pelosMinistrios da Fazenda, do Planeja-mento, Oramento e Gesto e da Ca-sa Civil voltados a garantir a execu-o, risca, da macroeconomia ado-tada pelo governo Lula, voltada paraos interesses de grupos dos pasesimperialistas aliados burguesia na-cional, interessados em incluir, nostratados internacionais, a educaocomo um servio comercializvel e,

    portanto, algo da alada do privado,do pblico no-estatal, e no mais deinteresse pblico estatal, consolidan-do-se o empresariamento da educa-o. O que se intenta derrubar asfronteiras entre o pblico e o priva-do, como se tudo fosse de interessepblico, inclusive a mercadorizaoda educao. Continua, assim, osetor privado no centro de desenvol-

    vimento e expanso da educao su-perior no Brasil. Subordina-se, as-sim, a Universidade a um projeto denao subalterna, no plano das rela-es internacionais do trabalho.

    As abordagens e estudos sob di-

    versos prismas encontram pontosem comum que permitem identifi-car as medidas do governo Lula, sin-tonizadas com as proposies doFMI, Banco Mundial, OMC. Emsintonia com a macroeconomia queexige a fixao de altos ndices parao supervit primrio, garantindo-seo pagamento das dividas interna eexterna, em detrimento das metas

    sociais, entre as quais constam asmetas do Plano Nacional de Educa-o que prev atender 40%, o queainda pouco, da juventude brasi-leira, no sistema de ensino superiorat 2007, em 2003 o governo brasi-leiro empregou 62% do PIB, ou seja,145 bilhes, no pagamento da dvi-da, desviando-se a riqueza social-mente produzida no Brasil em detri-

    mento dos interesses da nao.Outro ponto em comum nasabordagens demonstra que o primei-ro esforo terico a ser empreendidopara a compreenso das denomina-das reformas do governo Lula, en-tre as quais constam as reformas sin-dical e trabalhista e a da reforma daprevidncia, todas voltadas para re-tirada de direitos conquistados emlongas lutas da classe trabalhadora,

    diz respeito investigao do funda-mento da crise em que submerge asociedade capitalista contempor-nea, e que, atravs de mediaes, es-tabelece mudanas no trabalho, re-estruturao produtiva, nas relaescom o Estado, reformas estruturais,bem como modificaes no campoeducacional.

    Trata-se aqui de estabelecer ne-

    xos e determinaes entre o movi-mento mais geral do metabolismodo capital, em suas relaes de sub-suno com o trabalho e suas ex-presses na educao.

    Tais anlises nos permitem reco-

    nhecer e destacar relaes e nexos dareforma universitria do GovernoLula com os mecanismos estratgi-cos de gerncia da crise do capital,especificamente a expanso de mer-cados ALCA, NAFTA, MERCO-SUL - com a internacionalizao daeconomia, a reestruturao produtiva,o neoliberalismo como fenmenosrelacionados, com recentes modifica-

    es do trabalho. Isto evidente, sejaem seu aspecto de desemprego estru-tural (Forrester, 1997; Pochmann,1999, 2001; Singer, 2000), de frag-mentaes no interior do processoprodutivo e conseqentes alteraesna classe trabalhadora (Antunes,1995; Katz, Braga & Coggiola, 1995,Bihr, 1998), bem como mudanas noprprio contedo do trabalho (Antu-

    nes, 1999; Gounet, 1999).Os estudos reconhecem as crisesdo capital, buscam o seu fundamentoterico, procurando estabelecer co-nexes com as tentativas de gerencia-mento dessas crises, canalizadas parao campo educacional e, mais especi-ficamente, a reforma universitriaem curso.

    Reconhecem, tambm, que aspropostas neoliberais para a educa-

    o, de Collor de Melo, de FernandoHenrique Cardoso e agora do gover-no Lula, incorporam orientaes de-rivadas das experincias acumuladaspelos mecanismos internacionais demonitoramento e gerenciamento docapital, na Amrica Latina.

    Isto pode ser comprovado, em re-lao ao governo Lula, em iniciati-vas, como por exemplo, o SINAES

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    Sistema Nacional de Avaliao da

    Educao Superior- apresentado eaprovado pela Lei 10.861, em 14 deabril de 2004, a que caber decidirsobre o futuro da universidade.

    Situam-se, tambm, as iniciativasdo PROJETO DE LEI N 3582/2004,de iniciativa do poder executivo, queinstitui o PROGRAMA UNIVER-SIDADE PARA TODOS PROUNI- e o PROJETO DE LEI 3627/2004

    que institui o sistema especial de re-serva de vagas e cria cotas para in-gresso na educao superior.

    Ficam evidentes, nos estudosque existem, alternativas, sim, daideologia dominante, e que necess-rio se faz um forte enfrentamentopara barrar a continuidade das medi-das e buscar a revogao do j apro-vado, pois, a estratgia do MEC intensificar um pseudodebate paraconstruo de consensos poss-veis, com a realizao de semin-rios, oitivas etc. Segue-se, assim, arisca, o propsito de aprofundamen-to da poltica neoliberal na educaoe desenvolvem-se novas fases do ve-lho processo de desmantelamentodos servios pblicos, conseqnciada estratgica reforma do Estado, ini-ciada no Governo de Fernando Hen-

    rique Cardoso, com as medidas liga-

    das Reforma Administrativa deBresser Pereira (Ementa Constitu-cional 19), agora, continuada no par-lamento, com debates, com projetosde lei, de forma fatiada, desconexa,desintegrada com os demais nveisque constituem o sistema nacional deensino. Implementam-se, assim, asmedidas necessrias para que a edu-cao deixe de ser um direito para

    converter-se em mercadoria.A expanso do ensino superiorno Brasil para que possamos atingira meta de 40% da juventude naUniversidade at 2007, dependefundamentalmente de investimentospblicos e estes no esto previstosno PPA 2004-2007, apresentadopelo governo Lula. Isto significaque, com a manuteno da macroe-conomia que exige cortes nos inves-timentos bsicos, arrocho salarial, eque impe o desemprego estrutural,refletindo-se na educao, as metaspara educao no sero cumpridas.Para agravar ainda mais a situao,continuam os vetos ao PNE, estabe-lecidos no governo de FHC e queLula mantm. Estes vetos dizemrespeito ao financiamento da educa-o. Um dos itens vetados diz que

    deve ser elevado, na dcada, atravsde um esforo conjunto entre Unio,Estado, Municpio e DF, o percen-tual de gastos pblicos em educa-o, em relao ao PIB, para atingiro mnimo de 7%. Para tanto, os re-

    cursos devem ser ampliados, anual-mente, razo de 0,5% do PIB, nosprimeiros 4 anos, e de 0,6 % noquinto ano em diante. Se considera-mos o Plano Nacional da SociedadeBrasileira, vamos encontrar a refe-rncia de 10%. No entanto, o Gover-no Lula mantm a poltica anteriorde no ampliar os investimentos naeducao pblica superior.

    Aliadas a tais medidas, existemoutras como a Lei de Inovao Tecno-lgica que contribui para a quebra deisonomia e paridade entre os docen-tes, para a utilizao das bases tecno-lgicas da universidade pela iniciativaprivada, para a fuga de crebros dasuniversidades pblicas, para a preca-rizao do trabalho docente.

    Outra medida a regulamenta-

    o das Fundaes, convertendo-asem organizaes sociais para captarrecursos, submetendo a autonomiafinanceira das universidades aos in-teresses do mercado, estabelecendocontratos de gesto que nada maisrepresentam do que a parceria pbli-co-privado que, em ltima instncia,desvia verbas do setor pblico parao setor privado.

    A Lei Orgnica da Universidade,outra medida em curso, desconstitu-cionaliza o artigo 207, da Constitui-o Brasileira, atingindo em cheioum dos princpios fundamentais daeducao pblica: a autonomia uni-versitria.

    A criao de fundos setoriais, deprogramas de parceria pblico-priva-do, da massificao do ensino dis-tncia, da privatizao da assistncia

    DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 - 11UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    A (Contra) Reforma Universitria

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    estudantil, com o Programa de Apoioao Estudante e ampliao do FIES(Lei n. 10.846, de 12 de maro de2004, que dispe sobre o Fundo deFinanciamento ao Estudante do En-sino Superior) para a iniciativa priva-

    da, e outras medidas de financiamen-to do ensino superior como cobranade mensalidades, criao de fundos,converso da dvida, novos impostos,enfim, uma srie de iniciativas quecontribuem para que a educao p-blica superior, em nosso pas, deixede ser o pilar central da formao in-tegral, ominalteral dos trabalhadorese referncia para o desenvolvimento

    cientifico & tecnolgico de uma na-o soberana e passe a ser uma mer-cadoria negocivel e sujeita regula-o da Organizao Mundial do Co-mrcio.

    Frente a tal investida contra aeducao superior pblica, antesnunca intentada, sempre barrada eagora em franca implementao,nos cabe intensificar o debate pbli-

    co, os estudos tericos, enfim, avan-ar nos esclarecimentos da popula-o, organizarmos aes e ampliar-mos a atuao junto sociedade emgeral, com os organismos de classe eos movimentos populares para quese recupere e se defenda, em nossopas, a universidade pblica, gratui-ta, laica, de qualidade social, como aprincipal referncia para educaosuperior e desenvolvimento cientifi-co & tecnolgico, e se barre, assim,a poltica destrutiva do governo Lulapara a educao no Brasil.

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    * Celi Zulke Taffarel professora da

    Universidade Federal da Bahia e Secre-

    tria Geral do ANDES-SN, gesto 2002-

    2004.

    12 - DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    A (Contra) Reforma Universitria

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    DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 - 13UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    A (Contra) Reforma Universitria

    Contra essa reforma UniversitriaOsvaldo Coggiola*

    Um terremoto parece estar abalan-do as universidades, nos mais di-versos pases. Na Inglaterra, o go-verno Blair empenhou a (pouca)responsabilidade poltica que lherestava, para fazer aprovar, noParlamento (com escassa margemde votos, 316 x 311) a quase tripli-cao das matrculas nas universi-dades pblicas, de 1125 para 3000libras anuais (ou US$ 5300).Logicamente, haver bolsas paraestudantes carentes (que deveroser reembolsadas pelos beneficia-dos), e as anuidades sero adminis-tradas como crditos que os estu-dantes devero pagar depois de for-mados, a partir de ganharem sal-

    rios (anuais) de US$ 25000 (lembraalguma coisa?).1 A proposta teve oapoio do presidente do sistema das122 universidades britnicas (IvorCrewe), uma espcie de Andifes(ou Cruesp) daquelas paragens.2 Deum modo geral, na Unio Europia(UE), a passagem das moedasnacionais para o euro foi aproveita-da para arredondar (na altura dasnuvens) os preos de todos os arti-gos e servios (includas as matr-culas universitrias). A ComissoEuropia chamou a ateno para ofato de que a UE s investe 1,1%do PIB na educao superior, con-tra 2,3% dos EUA (a includos osfundos privados). Na Itlia, por sua

    vez, a 17 de fevereiro, milhares deprofessores e estudantes manifesta-ram em Roma, contra a (con-tra)reforma universitria que estsendo implantada, um verdadeiropacote com vrios presentes:precarizao do trabalho (os pes-quisadores, primeiro escalo da car-reira, sero agora incorporados comcontratos de tempo determinado,com salrios reduzidos e a quasecerteza, com excees, de seencontrarem no olho da rua com35-40 anos, devido escassez dosconcursos de contratao/efetiva-o), flexibilizao do trabalho(abole-se a distino entre tempopieno -integral- e tempo defini-

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    to, parcial), soluo para o pro-blema do financiamento via recur-sos privados para faculdades, cur-sos e at ctedras, atravs de fun-daes de direito privado, abertass empresas (de novo, lembra algu-

    ma coisa?).3

    Sob pretexto de unificao curri-cular europia, na Itlia (e outrospases) foi adotado o sistema dedupla licenciatura (ou 3+2),com licenas curtas (3 anos) e es-pecializadas (5 anos), variante pri-meiro-mundista dos famigeradoscursos seqnciais, j denunciadacomo uma fbrica de graduados de

    baixa qualificao, produzidos emquantidades industriais e aptos paraos salrios baixos e as condies detrabalho flexveis/precrias, que se-riam as caractersticas do admir-vel mundo novo do trabalho.

    O conjunto se apia no aumentoda competio EUA/UE no plano dapesquisa (ou C&T), considerada abase da competitividade no mercado

    mundial, e da conquista de novosmercados. Os EUA investem US$270 bilhes em C&T, contra US$200 bilhes da UE. Nos EUA, doisteros do investimento provm dosetor privado que, neste ano, pelaprimeira vez duplicou os investi-mentos do setor pblico. Na UE, osetor pblico continua sendo a baseda pesquisa, as autoridades achamque est a a base da distncia (cres-cente) que os separa dos EUA, e jacharam o condo mgico para su-per-la: as fundaes e os contratosde pesquisa universidade pbli-ca/empresas (na Itlia posto comoexemplo o contrato entre o Politc-nico de Milo e a Pirelli-Merloni).4

    Nos EUA, por sua vez, o crescimen-to mais rpido do investimento pri-vado no significa que o investi-

    mento pblico esteja caindo, ao con-trrio, o secretrio do Departamentode Energia, Spencer Abraham, de-clarou que essa a base da sua su-perioridade nos continentes (o queno lhe poupa ter uma grande crise

    energtica na sua prpria casa, noestado mais rico, a Califrnia).

    Mas impossvel criticar todoesse processo, situando-se no mes-mo plano ideolgico e poltico doscompetidores globais. Isto signifi-ca, em primeiro lugar, criticar aabordagem puramente quantitativa,sair do mundo numrico global, ese deter brevemente no plano quali-

    tativo. Afinal, onde foi que ficaramdcadas de crtica alienao capi-talista da cincia?5 O crescimentorelativo do investimento em C&T(noutros termos, o incremento dacomposio orgnica do capital, ba-se, por sua vez, da tendncia para aqueda da taxa de lucro) foi umacaracterstica marcante do desenvol-vimento capitalista de ps-guerra,

    em especial nos EUA, onde esse in-vestimento cresceu 15 vezes entre1947 e 1967, contra uma multiplica-o por 3 do PIB, no mesmo pero-do.6 A partir da crise dos anos 70 (eat o presente), esse gap aumentouainda mais, evidenciando o cresci-mento da concorrncia mundial,prpria de todo perodo de crise ca-pitalista.

    Nos EUA, no entanto, associa-es de cientistas criticam que, emque pese esse incremento espetacu-lar do investimento em C&T, a pes-quisa em fsica e astronomia estretrocedendo de modo alarmante, e,de um modo geral, toda a pesquisabsica, base do desenvolvimento ci-entfico e tecnolgico e, por sua vez,do progresso econmico. Dos fun-dos pblicos para a pesquisa, por

    outro lado, US$ 58 bilhes (ou 65%do total, um nmero, verdade, masquo qualitativamente significativo)so absorvidos pela rea de Defesa,isto , pela produo de armas dedestruio massiva pra valer (no

    como as no-encontradas nos bura-cos precariamente cavados por Sad-dam Hussein no Iraque). O no in-vestimento em pesquisa bsica estdificultando cada vez mais, dizemos cientistas, as pesquisas a respeitodas mudanas climticas, dos riscosdos OGM (transgnicos), das novasdoenas epidmicas ou endmicas(novos germes patgenos), da cada

    vez maior crise energtica, da segu-rana da vida posta pelos proble-mas morais postos pelos novosavanos tecnolgicos, denunciandoo favorecimento de posturas funda-mentalistas e a perda do primadoda razo, o que no pouca coisa.7

    Dito de outro modo, a acirrada ofen-siva quantitativista,8 est masca-rando a degradao da cincia, o

    bloqueio crescente, e at a destrui-o, das foras produtivas sociais, oque no mais do que a conseqn-cia histrica da sobrevivncia dasrelaes capitalistas de produo.

    Uma constatao semelhanterealiza Paul Forman, um dos princi-pais historiadores da fsica:9 a cin-cia cada vez mais uma empresapoltica e econmica, atualmentea cincia valorizada simplesmen-te como um componente da tecnolo-gia, e esta no como um meio parafazer cincia. A tecnologia se trans-forma no propsito da cincia, esta-belece seus objetivos e orienta suaatividade, no mais concebida comodotada de seus prprios fins ou ob-jetivos intrnsecos, porque carentede uma concepo hierrquica deconhecimento: a cincia incapaz

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    A (Contra) Reforma Universitria

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    DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 - 15UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    A (Contra) Reforma Universitria

    de criar seus prprios fins, a tecno-logia se converte no instrumento eobjetivo indispensvel da atividadecientfica.10 O cantado avano tec-nolgico, portanto, encobre a crisee retrocesso cientfico reais; a so-ciedade do conhecimento, cantadaem verso e prosa por reitores e mi-nistros, tende a ser, na verdade, umasociedade do desconhecimento,11

    entupida de gadgets tecnolgicos,de cada vez menor valor e utilidadesociais, no meio de um mar de ame-aas, no encaradas, sobrevivnciada humanidade, includas as armasde destruio macia, estas sob res-ponsabilidade crescente de indiv-duos cujo conhecimento se reduz leitura, de segunda mo, da Bblia,do Talmud ou do Coro (pela ordem,e ofenda-se quem quiser).

    A lgica contraditria e parasit-ria do capital se expressa, em rela-o ao conhecimento, na socializa-o crescente da sua produo, e naprivatizao crescente da sua apro-priao, como ocorre, notadamente,no caso do estudo da bio-diversida-de, e outros: Tomando como pre-texto a "revoluo multimdia", cer-tos lobbies mobilizaram-se para pe-

    dir uma reviso do direito da pro-priedade intelectual, fortalecendo-oem proveito de seus detentores.Conseguiram um prolongamento dadurao de proteo s obras, a cria-o de novos direitos de propriedadeintelectual (como o assim chamadodireito sui generis, que protege a ati-vidade, no inventiva, de constitui-o de bases de dados a partir de

    elementos pr-existentes), a limita-o das excees legais (como o usolegal das obras protegidas, chamado

    fair use), o questionamento de direi-tos adquiridos (caso das bibliotecaspblicas) e at a possibilidade de pa-tentear programas de computadorPor trs desta mudana, delineia-seum remodelamento da correlao deforas entre Estados -os puramente

    exportadores e os importadores deprodues intelectuais- e entre gru-pos sociais com interesses contr-rios (acionistas de empresas, profes-sores, educadores, pesquisadores,usurios). Impe-se, portanto, umareflexo sobre a noo de "interessegeral", para evitar que os grupos do-minantes faam pender para seulado a balana do direito da proprie-dade intelectual. A maioria das ino-vaes e invenes baseia-se emidias que fazem parte do bem co-mum da humanidade. portantouma aberrao limitar o acesso in-formao e ao conhecimento queconstituem esse bem comum, porfora de um direito excessivamentepreocupado em proteger interessesparticulares. Garantir a proteo deum "domnio pblico" mundial da

    informao e do conhecimento umaspecto importante da defesa do inte-resse geral. Alm disso, o mercado seaproveita dos "bens pblicos mun-diais" atualmente disponveis, comoo conhecimento pertencente ao do-mnio pblico ou as informaes epesquisas financiadas por verbaspblicas, mas no contribui direta-mente para sua promoo e defesa.12

    As reformas universitrias emcurso, com sua seqela de flexibili-zao e precarizao do trabalhouniversitrio (docente, de pesquisa eextenso) e de desqualificao cres-cente de formandos e formados, re-

    foram objetivamente, isto , inde-pendentemente das intenes deseus formuladores, o processo des-crito. As reformas so de fato inspi-radas pelo Banco Mundial, o FMI, oneoliberalismo, o centro-esquerdaadaptado ao capital, a OMC, o diaboque seja, mas tm um fundamentobsico, a lgica crescentemente des-trutiva e reacionria do capital,

    escala global. Quem no partirdesta premissa corre o risco de ficar,como o Quixote, combatendo moi-nhos de vento.

    No Brasil, as peculiaridades na-cionais da base universitria que sepretende reformar so bem conhe-cidas:

    a) o escasso investimento gover-namental (contra o que reza a lenda

    divulgada pela mdia) no ensino su-perior pblico: o governo federal in-veste 0,5% do PIB na universidadepblica (contra 2,1% do Chile, 1,8%da Holanda, 1,1% da Inglaterra,1,2% da Itlia, 2% da Finlndia);13

    b) a baixa taxa de cobertura doensino superior em relao faixaetrea correspondente, situada hojerealistamente na casa dos 9% (depoisdo ex-ministro Paulo Renato ter ma-

    nipulado as cifras para elev-la at13%), bem abaixo da mdia latino-americana, e que se pretende elevarat atimgir 30% at 2010 (colocandomais 4 milhes 900 mil alunos nagraduao do ensino superior); 14

    c) presena crescentemente do-minante do setor privado, em rela-o ao setor pblico, no ensino su-perior, ao contrrio da Amrica La-

    Impe-se, portanto, uma reflexo sobre a noo de "interesse

    geral", para evitar que os grupos dominantes faam pender

    para seu lado a balana do direito da propriedade intelectual.

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    tina e do resto do mundo: hoje te-mos 3.482.069 alunos na graduaopresencial. Destes, 2.428 mil no se-tor privado e 1.053 mil no setor p-blico. Em relao a 1994, o nmerode alunos no setor pblico nem che-

    gou a dobrar, enquanto no privado,triplicou. Temos 88,1% das institui-es e 70% das matrculas no siste-ma privado; 15

    d) qualidade espantosamentebaixa do setor privado: 83,3% dasuniversidades privadas no cum-prem as exigncias, bastante laxas eflexveis, da LDB, em relao titu-lao e regime de trabalho do corpo

    docente, e em relao pesquisa (apercentagem deve ser maior, seincludas as privadas que driblam,com procedimentos matreiros, essasexigncias); 16

    e) crescimento do setor privadobaseado, crescentemente, em fundospblicos, substrados do sucateado easfixiado setor pblico universit-rio, seja de modo indireto, atravs de

    vasta renncia fiscal e pilantrpica(em 2000, essa renncia foi equiva-lente a R$ 2,1 bilhes, 44% concen-trados no estado de So Paulo), oudireto, via crdito educativo, ou Fies(programa de Financiamento do En-sino Superior), cujas verbas foramaumentadas em 23% pelo governoLula para 2003, passando de R$673,8 milhes para R$ 829,2 mi-lhes (esse programa j consumiumais de R$ 2 bilhes desde a sua cri-ao, no segundo semestre de 1999,alcana 8% dos alunos das universi-dades privadas, um percentual cadavez menor: no segundo semestre de2003, 277 mil alunos disputaram 70mil emprstimos);

    f) investimento cada vez menor,em relao ao PIB e at em termosabsolutos, no sistema universitrio

    pblico, como tendncia histrica(os gastos com as IFES cairam de R$6627 milhes, ou 21,9% do total dogasto educacional do governo, em1995, para R$ 5478 milhes, ou ou17,6% do total do gasto educacional

    do governo, em 1999), com sua con-seqncia de arrocho salarial, desin-vestimento, queda da qualidade doensino e da pesquisa, sucateamentodo parque existente, flexibilizao eprecarizao, e por a vai;

    g) heterogeneidade e desigualda-de do sistema pblico (federais, es-taduais e municipais), cada vez maisdistante de um padro unitrio de

    qualidade (se acrescentarmos o se-tor privado, a distncia se torna as-tronmica), conseqncia do inves-timento desigual, que permite quetrs universidades estaduais paulis-tas recebam recursos equivalentes a45% do que recebem 56 universida-des federais, concentrando, almdisso, quase 60% da pesquisa;17

    h) ausncia de transparncia na

    outorga de financiamentos da pes-quisa (condio essencial para suaqualidade e utilidade social), cujosrecursos sofrem distribuio regio-nal, via agncias financiadoras, ain-da pior que os recursos destinados apessoal, custeio e investimento nasuniversidades, e esto submetidos acritrios de assignao duvidosos,burocrticos, privatistas e no raroreacionrios, devido ausncia decontrole da ao das agncias, assimcomo da nomeao das suas autori-dades;

    i) privatizao branca crescen-te das universidades pblicas, viafundaes, contratos com o setorprivado, flexibilizao do tempo in-tegral, e salve-se-quem-puder, tudofavorecido pelo discurso que enco-raja a diversificao das fontes de

    financiamento (institucional e, so-bretudo, pessoal); 18

    j) ausncia de autonomia e de-mocracia (duas caras da mesmamoeda) nas IES pblicas (se levadoem conta o setor privado, cabe falar

    em ditadura pura e simples), autono-mia de gesto patrimonial, financei-ra e didtico-cientfica, pela inter-veno do poder pblico na nomea-o das suas autoridades e na fixa-o das suas polticas (inclusive asalarial), tudo encoberto por umasemi-fico de democracia baseadaem colgios eleitorais restritos ouanti-democrticos.

    A lista poderia continuar. Pro-blemas no faltam. A pergunta :combate a reforma universitria pro-posta pelo governo esses proble-mas? A resposta no, os agrava.

    A expanso de vagas no sistemapblico (at atingir 40% do total at2007) dar-se-ia basicamente atravsda expanso do ensino distncia,desqualificado e a-crtico, at atin-

    gir uma meta de 500 mil estudantes distncia no mesmo ano. Alm dis-so, haveria o aumento da carga did-tica dos docentes, e o aumento do n-mero de estudantes por classe (en-trambas se elevaria de pouco maisde 11 para 18 a mdia de alunos porprofessor, o que significaria salas deaula com 90 alunos, em mdia, paraum semestre ideal) provocando aqueda da qualidade.19 Duas catego-rias de alunos (os presenciais e os "distncia") seriam criadas. A dete-riorao da situao docente nas fe-derais est presente nos levantamen-tos oficiais.

    A expanso docente incorporariaos aposentados excelentes, e osrecm doutores, com uma bolsaespecfica, ou seja, seria criado odocente 100% precrio, como no

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    DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 - 17UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    A (Contra) Reforma Universitria

    exemplo visto da Itlia (no fica cla-ro se esses docentes faro parte dacontratao sugerida de 25.785 do-centes at 2007). Trata-se de uma

    falsa expanso, generalizando diplo-mas de curso superior, de valor es-casso ou nulo no mercado de trabal-ho (j foi dito que, hoje, o curso su-perior das universidades mercantisfunciona como indicativo, no mer-cado de trabalho, de que o sujeito alfabetizado), tendo como contra-partida, na outra ponta, uma elitiza-o maior do ensino de ponta (ou

    de excelncia, um conceito queagora abrangeria tambm o ensino).O enfeite do indigesto bolo o sis-tema de cotas, poltica compensa-tria da no-expanso real de vagasno ensino pblico, com qualidade,que possui o ingrediente suplemen-tar de deflagrar, nos setores suposta-mente beneficiados (alunos egres-sos do ensino mdio pblico, ne-gros, ndios, e outras minorias), umaconcorrncia pelas vagas postas disposio, quebrando a unidade nomovimento de luta pela defesa e ex-panso da escola e a universidadepblica.

    Prev-se o aumento do investi-mento nas universidades federais,at atingir R$ 1,01 bilhes em 2007(em 2003, ele foi de 551, milhes, apreviso para 2004 de R$ 759 mi-

    lhes) que seria complementadovia o famigerado sistema de funda-es, de desastrosos resultados naUSP, mas em verso piorada. Seu

    objetivo, alm de manter o arrochodo ensino superior pblico, seriacriar a concorrncia entre docentes,com a diferenciao salarial (queatingiu nveis espantosos na USP)que os sistemas da GID e da GEDfracassaram, afinal de contas, emcriar. E por trs de tudo perfila-se aabertura de um novo filo capita-lista, a criao, proposta no docu-

    mento oficial do Grupo de Trabalhodo governo (no Anexo Alternativasde financiamento) de fundos em-presariais para o ensino superiorou mesmo de uma lei de incentivofiscal para o setor,20 ou seja, umalei Rouannet tamanho famlia: oensino superior, que j pretextopara a renncia fiscal que beneficiaos tubares do ensino, estenderiaessa benesse agora para o conjuntoda classe capitalista que, alm depagar menos (ou nenhum) imposto,vai querer mais coisas em troca,como j acontece nos EUA com osgenerosos doadores das universi-dades. Alm disso, la Blair, oGTI (Grupo de Trabalho Inter-min-isterial) prope, embora sem unan-imidade a respeito, a cobrana decontribuio, via aumento da al-

    quota correspondente do IR, dosex-alunos formados nas universida-des pblicas.

    O restante dos problemas enume-

    rados acima nem so tocados, ou sotocados s de raspo (como no casoda criao de uma cota de bolsas deps-graduao para o Norte-Nor-deste), o que significa que, alm deprivatista encoberta, a proposta dereforma universitria de Lula-ZDirceu-GTI no passa de uma ma-nobra tapa-buracos.

    A proposta mais espetacular,

    agora de Tarso Genro, a da estati-zao de 100 mil vagas nas univer-sidades privadas, para destin-las aalunos de baixa renda, negros, n-dios e ex-detentos. Em cinco anos,o governo quer estatizar 300 mil va-gas. H quem suponha que o projetodo Tarso Genro no colocaria maisdinheiro em tais instituies, masquer que elas, para receberem os be-nefcios que j recebem, acolham osestudantes excludos, o que parece-ria razovel como paliativo enquan-to o ensino superior no se expande,dado que o sistema tornaria pblicas25% das vagas ociosas, e no have-r necessidade de acrscimo de ca-pital ou de ampliao de estrutura.Mas, no projeto do GTI, o MEC seprope a assegurar um fluxo regu-lar adicional de recursos para aque-

    Evoluo dos Quadros Docente e Discente das Universidades Federais

    Corpo

    Discente 1990 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

    Alunado 356.176 400.113 414.735 426.677 441.580 463.668 506.336 493.632 532.304 563.687

    Oferta

    de Vagas 68.336 92.913 91.680 97.065 102.255 105.116 131.124 134.866 112.643 115.877

    Docentes

    Efetivos 48.416 45.243 43.115 42.411 43.150 42.766 42.985 42.619 41.716 42.363

    Docentes

    Temporrios 2.010 5.183 7.311 8.015 7.276 7.660 7.441 7.807 8.710 8.063

    Relao 7.06 7.93 8.22 8.46 8.76 9.2 10.04 9.79 10.56 11.18

    Fonte: Censo INEP 2002

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    las instituies universitrias queaceitem aderir a um Pacto de Educa-o para o Desenvolvimento Inclu-sivo.21 O MEC faria editais com asmetas e objetivos e pagaria s uni-versidades vencedoras da concor-

    rncia pblica um valor mensal poraluno ao longo do curso, e um adi-cional na concluso. O Pacto in-cluiria, explicitamente, instituiescomunitrias ou privadas, ao ladodas pblicas.

    Mas usar dinheiro pblico paracolocar alunos em fbricas de diplo-mas no dar acesso universal aoensino superior. Quantas vagas po-

    deriam ser criadas nas universidadespblicas com o dinheiro que foi anis-tiado do crdito educativo (R$ 1,5bilho) e da renncia fiscal das fi-lantrpicas (R$ 700 milhes)?: tudosomado d R$ 2,2 bilhes. Lembre-se que o oramento de todas as fede-rais R$ 5,5 bilhes. Imagine-sequanto poderia isso representar emnovas vagas nas federais, de muito

    melhor qualidade, esse dinheiro p-blico dado iniciativa privada. AUFMA, por exemplo, tem oramen-to de R$ 135 milhes e nove mil alu-nos, quatro doutorados, seis mestra-dos, um hospital universitrio queatende a toda a populao carente doEstado. Somente as trs fundaesprivadas da FEA-USP arrecadammais do que isso por ano: a FEA re-cebe dinheiro de trs das fundaesque mais arrecadam recursos exter-nos: FIA (Fundao Instituto de Ad-ministrao), Fipe (Fundao Insti-tuto de Pesquisas Econmicas) eFipecafi (Fundao Instituto de Pes-quisas Contbeis, Atuariais e Finan-ceiras). Em 2003, as 33 fundaes li-gadas USP faturaram cerca de R$200 milhes e repassaram universi-dade R$ 5,8 milhes, 2,9% do total.

    Se forem considerados os recursosdo SUS (Sistema nico de Sade)repassado pelo governo federal sfundaes da Faculdade de Medici-na, que administram o Hospital dasClnicas e o Incor, o volume sobe aR$ 700 milhes.22

    O Censo Educacional revelouque, hoje, das 1.477 mil vagas exis-

    tentes nas universidades privadas,apenas 924 mil esto ocupadas. Issoquer dizer que no sistema privado hmais de 400.000 vagas ociosas (ou-tras informaes falam que, na m-dia, as instituies privadas tem37,4% de ociosidade, o que equiva-le a cerca de 550 mil vagas). Nou-tros termos que, assim como no se-tor automotriz ou dada computao,

    h uma crise de sobreproduo nonegcio do ensino superior privado,23

    e o Estado, como no passado, entraem cena para lhe garantir um merca-do cativo, que evite a sua falncia,em vez de proceder a sua nacionali-zao (sem pagar um tosto). O pro-psito da medida foi esclarecido pe-lo prprio ministro, ao afirmar queo MEC estuda uma forma jurdicapara enquadrar essas instituies deensino em um sistema que permita,por exemplo, captar recursos nomercado e distribuir lucros entre osscios. A campanha de Luiz Mari-nho e Vicentinho para salvar a Uni-ban comeou a funcionar.

    O ministro prope a estatizaode um sistema privado que no fun-ciona ao invs de investir (e melho-rar) um sistema pblico que pode

    funcionar.24 Tarso deixou claro queprope "retirar as instituies da ile-galidade, coloc-las num plano nor-mativo transparente e ao mesmotempo estatizar parte das vagas". Oargumento usado (o de que a univer-sidade pblica atende e favorece os10% mais ricos da populao) foidesmantelado pelos dados veicula-

    dos rapidamente nos jornais, quemostram que a mdia dos alunos dasunivesidades pblicas menos ricado que a mdia dos alunos das IESparticulares.25 No possvel criarum sistema de ensino superior (deensino em geral) de qualidade e paramuitos que no seja pblico e finan-ciado pelo Estado.

    O Frum de Polticas Pblicas do

    IEA-USP, conhecido como grupoMarilena Chau, produziu um do-cumento de Propostas para a revi-talizao da rede pblica das uni-

    versidades brasileiras (diretrizes de

    poltica acadmica e de gesto).Conforme as propostas j expostasanteriormente pela professora (defi-nir a autonomia universitria no spelo critrio dos chamados contra-tos de gesto, mas pelo direito epelo poder de definir suas normasde formao, docncia e pesquisa;desfazer a confuso atual entre de-mocratizao da educao superiore massificao; articular o ensinosuperior pblico e outros nveis deensino pblico; reformar as gradescurriculares atuais e o sistema decrditos, uma vez que ambos produ-zem a escolarizao da universida-

    18 - DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    H uma crise de sobreproduo no negcio do ensino superior

    privado, e o Estado, como no passado, entra em cena

    para lhe garantir um mercado cativo, que evite a sua falncia,

    em vez de proceder a sua nacionalizao.

    A (Contra) Reforma Universitria

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    DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 - 19UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    A (Contra) Reforma Universitria

    de, com a multiplicao de horas-aula; assegurar, simultaneamente, auniversalidade dos conhecimentos[programas cujas disciplinas tenhamnacionalmente o mesmo contedono que se refere aos textos clssicos

    de cada uma delas] e a especificida-de regional; revalorizar a docncia,que foi desprestigiada e negligencia-da com a chamada avaliao daprodutividade; revalorizar a pes-quisa, estabelecendo no s as con-dies de sua autonomia e as condi-es materiais de sua realizao,mas tambm recusando a diminui-o do tempo para a realizao dos

    mestrados e doutorados; polticaspblicas de financiamento por meiode fundos pblicos destinados a essefim por intermdio de agncias na-cionais de incentivo pesquisa) ogrupo dito da USP prope algu-mas medidas bsicas: menor homo-geneizao da grade curricular, ma-ior autonomia das universidades pa-ra definio dos crditos e discipli-

    nas e at dos vestibulares, transfe-rncia de verbas e deciso sobrepesquisa das agncias para as uni-versidades, ampliao de vagas nosetor pblico, cursos noturnos, etc.

    Trata-se de uma proposta tmidade autonomia, principalmente did-tico-cientfica, s significativa notocante transferncia das verbas depesquisa para as universidades, queavana muito pouco (para dizer o

    mnimo) na questo central da de-mocratizao (que abrange todas asreas da gesto autnoma da insti-tuio), mencionando, de passagem,o funcionamento interno pautadopor valores, regulaes e procedi-mentos democrticos. Mais com-plicado ainda seu posicionamentocom relao ao avano do setor pri-vado: Dever ser reconhecido, va-

    lorizado e apoiado, o papel suple-mentar desempenhado no sistema daeducao superior brasileira peloensino oferecido por instituiesprivadas. Elas no s colaboramcom o Estado no cumprimento de

    suas tarefas educacionais, comogarantem um horizonte mais amplode pluralismo no que se refere sconcepes culturais diversas da ta-refa da formao humana e profis-sional. No que se refere a tais insti-tuies, o governo buscar, em vistado interesse pblico, estabelecerinstrumentos mais eficazes e rigoro-sos para o exerccio de seu papel fis-

    calizador garantindo a qualidadedo ensino e inibindo uma mercanti-lizao de suas atividades incompa-tvel com sua funo social pr-pria.26 A inibio do carter mer-cantil do setor privado, no entanto, o problema da quadratura do crcu-lo. Quanto ao pluralismo das con-cepes culturais diversas no sev em que isto possa justificar o ca-

    rter privado, ou confessional, doensino superior. Melhor seria reto-mar os termos doManifesto Liminardo movimento pela Reforma Uni-versitria, de 1918, grande marcohistrico da luta pela universidadepblica na Amrica Latina:

    Exigimos una educacin sin pre-

    tales ni anteojeras, que prepare a

    los hombres para la vida en lugar de

    acondicinarlos para todos los des-

    potismos. Por eso penetramos a los

    templos deslumbrantes de luces y

    oro y rompimos en las manos de los

    charlatanes de feria el instrumento

    del vasallaje con que atan las con-

    ciencias a todos los dolores y las

    miserias de este mundo ensombreci-

    do por la bajeza y la mentira cristia-

    na. E, com relao democracia eautoridade dentro da universidade:

    El concepto de autoridad que cor-

    responde y acompaa a un director

    o a un maestro en un hogar de estu-

    diantes universitarios no puede apo-

    yarse en la fuerza de disciplinas ex-

    traas a la sustancia misma de los

    estudios. La autoridad en un hogarde estudiantes no se ejercita man-

    dando, sino sugiriendo y amando:

    enseando.

    No possvel, portanto, salvarpedaos da reforma universitriaproposta, cortando-a em fatias. Elafaz parte de um projeto poltico eeducacional nico, posto em sinto-nia com as tendcias capitalistas

    mundiais, que implicam a destrui-o da educao pblica e o impas-se no avano cientfico, posto a ser-vio das necessdidades do grandecapital. A Andes, a Fasubra, a UNE,como entidades, a princpio situadasfora do jogo intra-institucional,devem adotar uma posio clara derejeio desta pseudo-reforma uni-versitria, que encampa e aprofunda

    a estrutura e o processo anti-demo-crtico, anti-social e privatizanteque afetam universidade brasileira.

    Notas

    1. Nos EUA, isso corre solto faz tempo: aUniversidade de Michigan, uma das princi-pais instituies pblicas estaduais norte-americanas, tem 57% de seu oramento deUS$ 1,130 bilho, de 2004, custeado pormensalidades de alunos. O Estado de Mi-

    chigan aporta US$ 327 milhes e o governofederal, US$ 149 milhes. O sistema decla-radamente elitista e classista (burgus), com-pensado por cotas para minorias.2.La Nacin, Buenos Aires, 5 de janeiro de2004.3. Corriere Universit, 6 de fevereiro de2004; Docenti e studenti ocupano luniver-sit, Corriere della Sera, 5 de fevereiro de2004.4. No Brasil, como se sabe, a trilha das fun-daes j foi percorrida, com resultados de-sastrosos, pela USP. A Unicamp, agora, de-

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    cidiu entrar em cheio pelo caminho dasparcerias pblico-privado via sua Agnciade Inovao (Inovacamp; j existe projeto ergo semelhantes na USP) cujo pessoaldirigente recrutado fora da universidade,na rea do marketing, e que pretende ga-rantir um fluxo de R$ 2 a 3 milhes anuais

    para a universidade, com a transferncia depatentes para o setor privado. Em 2003, aUnicamp registrou 53 patentes (possui, aotodo, 350) e pretende encaminhar para a uni-versidade recursos situados entre 20% (nocaso de frmacos) e 3% a 7% (no caso deprodutos qumicos) do faturamento brutodas empresas com os produtos desenvolvi-dos a partir das patentes, produtos que, porsua vez, concorrero no mercado com olabelda universidade pblica: bom pretextopara cortar recursos pblicos da universida-de pblica, cuja sade financeira passaria adepender, crescentemente, do seu sucesso nomaravilhoso mundo dos negcios (Ver:Unicamp entra no mundo dos negcios, Ga-zeta Mercantil, So Paulo, 27 de janeiro de2004).5. Para uma atualizao, ver: Laboratorioper la Crtica Sociale.Profito o Scienza? Lacontroriforma universitaria al servizo degliinteressi aziendali, Roma, fevereiro 2001.6. Ernest Mandel. O Capitalismo Tardio.So Paulo, Abril Cultural, 1988.7. USA, cresce la ricerca privata: Fondi dop-

    pi rispetto allo Stato, Corriere della Sera, 20de novembro de 2003.8. Segundo Marilena Chau, na confernciade abertura da Anped, Poos de Caldas,5/10/2003, a viso organizacional da uni-versidade produziu aquilo que, segundoFreitag (Le naufrage de luniversit), pode-mos denominar como universidade opera-cional. Regida por contratos de gesto, ava-liada por ndices de produtividade, calculadapara ser flexvel, a universidade operacionalest estruturada por estratgias e programas

    de eficcia organizacional e, portanto, pelaparticularidade e instabilidade dos meios edos objetivos. Definida e estruturada pornormas e padres inteiramente alheios aoconhecimento e formao intelectual, estpulverizada em micro organizaes que ocu-pam seus docentes e curvam seus estudantesa exigncias exteriores ao trabalho intelec-tual. A heteronomia da universidade autno-ma visvel a olho nu: o aumento insano dehoras-aula, a diminuio do tempo paramestrados e doutorados, a avaliao pelaquantidade de publicaes, colquios e con-

    gressos, a multiplicao de comisses e rela-trios, etc. Viso semelhante, em relao universidade europia, encontra-se em: Pier-re Jourde. Ce qui tue lUniversit.Le MondeDiplomatique, Paris, setembro 2003.9. Curador da rea de fsica no Museu nacio-nal de Histria Americana, na Smithsonian

    Institution.10. Hoy la ciencia se valora simplementecomo un componente de la tecnologia. En-trevista com Paul Forman, El Pas, Madri,12 de novembro de 2003.11. Segundo o texto j citado de Chau,deve-se adotar uma perspectiva crticamuito clara tanto sobre a idia de sociedadedo conhecimento quanto sobre a de educa-o permanente, tidas como idias novas ediretrizes para a mudana da universidadesob a perspectiva da modernizao. preci-so tomar a universidade sob a perspectiva desua autonomia e de sua expresso social epoltica, cuidando para no correr em buscada sempreterna idia de modernizao que,no Brasil, como se sabe, sempre significasubmeter a sociedade em geral e a universi-dades pblicas; em particular, a modelos,critrios e interesses que servem ao capital eno aos direitos dos cidados.12. Philippe Quau, A quem pertence oconhecimento?, Le Monde Diplomatique,Paris, agosto 2001 (Philippe Quau diretorda Diviso de Informao e Informtica da

    UNESCO).13.Desigualdade de renda e gastos sociaisno Brasil: algumas evidncias para o debate.SDTS/PMSP, no site www.trabalhosp.pre-feitura.sp.gov.br.14. A ttulo de comparao, registre-se queessa taxa era, em 1985 (h quase 20 anos, por-tanto) de 29,4% na Alemanha, de 30,2% naEspanha, de 32,2% Blgica, de 31,4% naHolanda, de 36,9% na Sucia, de 64,4%nos EUA (a includas tanto as research uni-versities quanto as teaching universities, es-

    tes colegies tamanho famlia, que o Brasil re-produz desastradamente com os Centros Uni-versitrios, e os community colleges, queso iguais ou piores do que as nossas pioresparticulares), tendo crescido bastante desdeento (Informaes em: Christophe Charle eJacques Verger. Histria das Universidades.So Paulo, Edunesp, 1996, p. 126). No Brasil,desde 1998, o nmero total de candidatos auma vaga no ensino superior aumentou72,15%, passando de 2,895 milhes para4,984 milhes. O crescimento das vagas nocompensa o aumento da demanda.

    15. Informaes de: Dilvo Ristoff (entrevis-ta com), Fortalecimento do sistema pblico a nica esperana, Jornal da Universi-dade-UFRGS, Porto Alegre, n 67, novem-bro/dezembro de 2003. Menos de 20% dasvagas de graduao do pas so de universi-dades pblicas, segundo informaes divul-

    gadas pelo Inep (Instituto Nacional de Es-tudos e Pesquisas Educacionais). De acordocom relatrio do rgo, a quantidade de va-gas oferecidas em todo o pas j correspon-de a 86% do nmero de concluintes de ensi-no mdio (1,8 milho em 2001), mas somen-te 17% so gratuitas. O nmero de vagasoferecidas nos vestibulares no Brasil cresceumais de 200% nos ltimos anos, passando de517 mil, em 1991, para 1,6 milho, em 2002.Mais de 72% delas concentram-se em duasregies do pas: Sul e Sudeste. O Nordeste a regio com maior participao da rede p-blica no nmero de vagas oferecidas: 35,7%.Por outro lado, as instituies pblicas naRegio Sudeste tm uma participao depouco mais de 10%, um reflexo da concen-trao dos estabelecimentos privados nasregies mais desenvolvidas economicamen-te (Folha de S.Paulo, 8 de dezembro de2003).16.Folha de S. Paulo, 12 de janeiro de 2004.A cumplicidade governamental se ilustraneste exemplo: o Conselho Nacional deEducao autorizou a abertura de nada me-

    nos que 222 cursos de direito nos ltimostrs anos. Existem hoje 762 cursos jurdicosno pas. Em 1993, eles eram 183. A OAB(Ordem dos Advogados do Brasil) divulgoua lista das faculdades recomendadas. Das215 avaliadas, apenas 60 (28%) receberam o"nihil obstat"(Folha de S. Paulo, 29 de ja-neiro de 2004).17. O oramento de 2004, por exemplo,prev que a USP receba do governo de SoPaulo R$ 1,58 bilho, 87% dos quais serosupostamente consumidos no pagamento de

    salrios de 4.884 professores, 15 mil funcio-nrios e 5.700 aposentados. Sobram 13%para as demais despesas administrativas, oque inclui alguns investimentos. Isto perfazpouco menos de 30% do oramento total

    das universidades federais. Apesar disso, osrecursos da USP so insuficientes para fi-nanciar as atividades de pesquisa, que de-pendem de repasses de agncias federais eestaduais. Em 2003, essas instituies trans-feriram USP R$ 130 milhes para pesqui-sa, alm de R$ 200 milhes para bolsas deestudos.

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    DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 - 21UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    A (Contra) Reforma Universitria

    18. Para o j citado Ristoff, quando vejofundao vejo venda de servios dentro docampus. Fundao dentro do campus, hoje,chamo de universidade prpria. Digo queexistem trs tipos de universidades dentrodas universidades pblicas (estaduais e fede-rais): a Unig (universidade da Graduao), a

    Unic (universidade da Capes e do CNPq, daps-graduao) e a Ufa (universidade dasfundaes de apoio) ou seja, a universidadeque trabalha com a venda de servios. A pri-meira faz graduao, se imagina democrti-ca e pblica; a Unic se imagina pequena ecatedrtica; e a Ufa s pensa no prprio um-bigo, s vende servios para completar sal-rio de professor. Em grande parte acabaacontecendo isso. Ela no faz s isso, fazmais que isso. Elas se tornaram to fortesdentro do setor pblico que so capazes desolapar a prpria poltica institucional, hoje.Cito o caso na USP, de uma fundao quecriou um curso de graduao pago dentro daprpria USP, concorrendo com um curso degraduao regular da USP. Virou at notciaem jornal. Finalmente o Conselho Universi-trio vetou. Elas so muito fortes, adminis-tram milhes de casos, estou falando demuitos milhes. Elas so muito mais fortes egeis do que a administrao pblica conse-gue ser. Os MBAs oferecidos pela FIA(Fundao Instituto de Administrao) epela Fipecafi (Fundao Instituto de Pes-

    quisas Contbeis, Atuariais e Financeiras),ligadas FEA (Faculdade de Economia, Ad-ministrao e Contabilidade) da USP. Oscursos custam entre R$ 18 mil e R$ 20 mil ea maioria d um certificado reconhecidopela USP. Parte dos recursos transferida USP, mas quase toda a receita fica com asfundaes. No ano passado, a FIA recebeuR$ 63 milhes e repassou R$ 3 milhes universidade. Os R$ 60 milhes restantesforam usados para pagar seus 450 funcion-rios e os cerca de 55 professores dos 90 do

    Departamento de Contabilidade que do au-las na FIA: em troca desses R$ 3 milhes selegitima o uso do nome da universidade ematividades privadas, e o conflito entre as ati-vidades do docente na USP e na fundao,pela qual ganha s vezes mais do que seusalrio.19. Cf. Roberto Leher. A contra-reformauniversitria de Lula da Silva, documento.20. Folha de S. Paulo, 20 de fevereiro de2004.21. Documento elaborado pelo Grupo de

    Trabalho Interministerial, criado por Decre-

    to de 20 de outubro de 2003, composto pormembros da Casa Civil e da Secretaria-Ge-ral da Presidncia da Repblica e dos Mi-nistrios da Cincia e Tecnologia, do Plane-jamento, Oramento e Gesto, da Fazenda eda Educao.22. O governo Lula, por exemplo, anistiou a

    multa da dvida da AES - Eletropaulo de R$600 milhes, quase o dobro do oramento daUFPB. Agradecemos a Jos Menezes Go-mes, da UFMA, a posta a disposio dessesdados.23. Segundo Dilvo Ristoff , a principalquesto revelada no censo foi que a expan-so do ensino superior privado comea achegar prxima ao esgotamento a relaocandidato por vaga j est quase em 1/1 nosetor; alm disso as vagas ociosas esto che-gando s quinhentas mil e a inadimplnciados alunos j est batendo nos 30%, ou se-ja, que o negcio est no f im. A sobrepro-duo, em relao ao mercado (isto , ao ca-pital), no em relao s necessidades so-ciais, se estende toda a produo de mo deobra qualificada. Na verdade, o pas temum nmero pequeno de doutores em relao sua populao ou ao PIB, se tomarmoscomo referncia pases em estgio de desen-volvimento comparvel", diz Adalberto Faz-zio, presidente da Sociedade Brasileira deFsica. Num trabalho intitulado A Regiona-lizao da Pesquisa e da Ps-graduao - o

    Desafio Amaznico, o pesquisador Adalber-to Lus Val, do Instituto Nacional de Pesqui-sas da Amaznia (Inpa), mostrou essa situa-o em nmeros. Entre 2000 e 2002 forma-ram-se 16.130 novos doutores no Brasil, dosquais somente 7.758 - menos da metade -conseguiram emprego na rea de sua forma-o. A m distribuio dos doutores pelo ter-ritrio outro complicador. Dos 16.130 for-mados, nada menos que 13.476 fizeram seudoutorado na regio Sudeste. Na hora deoferecer emprego, no entanto, essa regio

    deixa muito a desejar. Dos 13.476 doutoresformados apenas 3.186 foram fixados, umdficit de 10.290 vagas. Mas faltam douto-res para as necessidades nacionais: seria ur-gente investir mais em pesquisa na Amaz-nia, por exemplo: "Para estudar toda a biodi-versidade que existe l seriam necessrios de5 mil a 10 mil doutores", calcula Enio Can-diotti, presidente da SBPC.24. A participao das universidades pbli-cas no total do corpo docente no ensino su-perior em geral, nos ltimos anos, baixou de57,2% para 38%. J no setor privado, a linha

    ascendente: est com 62%, em consonn-cia com o nmero de alunos. Em relao aosdoutores, embora o setor pblico respondehoje somente por 11,9% das instituies, es-te detm 65% dos doutores, ou seja, o gran-de potencial ainda est nas pblicas: Estra-nhamente, a reforma em perspectiva parece

    desconhecer a expressiva melhoria da quali-dade acadmico-cientfica das IFES. Nesseaspecto, bastaria citar o xito da sua ps-gra-duao. De 1996 para este ano, o seu nme-ro de alunos de mestrado titulados aumentoude 5.300 para 11.000 e o de alunos de dou-torado de 1.100 para 3.000. Isto muitomais do que conseguem todas as Universi-dades da Argentina. No se pode, tambm,desconhecer, os ganhos de eficincia doconjunto das 53 IFES, nesse mesmo perodo.A sua oferta de vagas no vestibular cresceua 7% a.a.. O aumento do seu total de alunosmatriculados foi de 6% a.a., com a sua partematriculada nos cursos noturnos crescendo taxa de 11%a.a. O seu nmero de alunos degraduao diplomados cresceu a 6% a.a..Como se sabe, nos aludidos anos, as IFEStiveram os seus quadro de servidores tcni-co-administrativos e oramento global (emvalor real) reduzidos s taxas anuais de 7% e6%. A comunidade acadmica das IFES, hanos, clama por uma verdadeira reformauniversitria. Os caminhos a seguir so pordemais conhecidos: adequado suporte de fi-

    nanciamento, autonomia e reestruturao or-ganizacional acadmico-administrativa(Rmulo Soares Polar.A reforma universit-ria de Z Dirceu, documento). A desigualda-de tambm est presente aqui: na maioriadas universidades pblicas fora do Sudeste,apenas cerca de 30% dos docentes tm dou-torado. Em regies de fronteira, como Acree Amap, esse ndice ainda menor, apenas10% ou 20% dos professores so doutores.25. Ver, por ex.: Carlos H. de Brito Cruz,Universidade pblica, o mito do elitismo. O

    Estado de S. Paulo, 18 de janeiro de 2004.26. Propostas para a revitalizao da redepblica das universidades brasileiras (dire-trizes de poltica acadmica e de gesto),IEA-USP, novembro de 2003.

    *Osvaldo Coggiola professor da Uni-

    versidade de So Paulo e 2 Vice-presi-

    dente do ANDES-SN, gesto 2002-2004.

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    22 - DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    A (Contra) Reforma Universitria

    Reforma universitriaou a modernizao mercadolgica

    das universidades pblicasOlgases Maus*

    A universidade brasileira umainstituio relativamente nova. Foicriada na dcada de 1930, incio dosculo XX, dentro do modelo hum-boldtiano, ou seja, ancorada em trsprincpios, quais sejam: a relao

    entre ensino e pesquisa; a organiza-o do ensino e da pesquisa tendocomo ponto de referncia o profes-sor, que deve ser funcionrio comprestgio e bem pago; e a garantia deliberdade acadmica. (BOURDON-CLE, 1994, p.94).

    Ciavatta (2003) diz que a univer-sidade brasileira fruto tardio docolonialismo, tendo em vista que, na

    Europa, essa instituio surge nosculo XII e, aqui, somente oitocen-tos anos depois. Ao longo de suaexistncia, tem sido um espao decriao e de produo, sendo res-ponsvel, hoje, por grande parte daspesquisas realizadas no pas.

    H muito que a universidade japresenta sinais de crise. O final dadcada de 1980 trouxe uma srie deindcios dos problemas que hoje sosignificativos, principalmente, asquestes de financiamento. A dca-da seguinte marcou decisivamente auniversidade, que passou a ser qua-lificada como em runas, operacio-nal, cativa, sitiada, na penumbra eoutros. Esses so ttulos -de artigos,de livros e outras publicaes- quetraduzem a penria que a universi-dade pblica estava vivendo, tendo

    esse processo se acentuado, sobretu-do a partir da dcada de 1990.

    No governo FHC (1995-2002),os recursos para o ensino superiordiminuram consideravelmente, ten-do havido uma reduo de 24% nas

    verbas de custeio e de 70% nas deinvestimento (Folha de So Paulo,12.04.04). As universidades federaispassaram a viver uma situao deindigncia, com cortes de energiaeltrica, telefone, gua, dispensa dasempresas terceirizadas responsveispela limpeza, sem falar nos aspectosdidtico-cientficos, prejudicadospela deficincia de bibliotecas, la-

    boratrios, salas de aula e falta decomputadores e outros equipamen-tos necessrios para esse fim.

    No mesmo perodo, o nmero dedocentes efetivos teve um decrsci-mo, passando de 43.115 para 42.363,enquanto o nmero de docentes tem-porrios aumentou de 7.311 para8.063. (Relatrio do Grupo de Tra-balho Interministerial, institudo pe-lo Decreto de 20/10/2003)?

    Alm dos aspectos estruturais,outras questes foram alteradas emrelao s universidades pblicas.Naquela ocasio comeou uma re-forma no varejo, com medidaspontuais, parecendo isoladas, mas,na realidade, entrelaadas, que alte-raram substancialmente as relaesno interior dessa instituio. Desta-cam-se algumas dessas medidas,

    como a Lei de escolha de dirigentes(n 9.192/1995), o decreto que insti-tui a diferenciao das instituiesdo ensino superior (n 3.860/2001),a Lei que regulamenta o ExameNacional de Cursos (Lei n 9.131/-

    1995).Todas as mudanas, feitas nessa

    instituio, no impediram que amesma duplicasse o nmero de alu-nos, abrisse cursos noturnos, aumen-tasse o nmero de docentes com titu-lao de mestre e doutor, tivesse umaproduo na ordem de 95% da gera-o de conhecimentos no pas. Aresistncia que a universidade pbli-

    ca brasileira tem demonstrado digna de destaque e o passaportepara que ela se mantenha viva e atu-ante. Ela tem sobrevivido a todosesses ataques, graas, sobretudo aosmovimentos organizados de estudan-tes, docentes e tcnico-administrati-vos, que tm feito uma verdadeirafrente em defesa dessa instituio.

    A institucionalizao da reforma

    A universidade brasileira conti-nua no olho do furaco. Assim que, em 20 de outubro de 2003, oPresidente da Repblica constituiu,por decreto, um Grupo de TrabalhoInterministerial1 (GT I) com objeti-vo de [...] no prazo de 60 dias [...]analisar a situao atual e apresentarplano de ao visando reestrutura-o, desenvolvimento e democrati-

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    DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 - 23UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    A (Contra) Reforma Universitria

    zao das Instituies Federais de

    Ensino Superior (art.1). Em de-zembro de 2003, o GT I apresentouo relatrio, que teve uma divulgaorestrita, composto de trs grandespartes, a saber: a primeira, relativas chamadas Aes Emergenciais;a segunda, Autonomia das Uni-versidades Federais e a terceira,aos Primeiros Passos para o Rede-senho do Quadro Atual.

    Ao fazermos uma breve anlisesobre cada um desses itens que com-pem o Relatrio, pode-se observarque o GT I identifica, em relaos Aes Emergenciais, as questesque o ANDES, a ANDIFES, o F-rum Nacional em Defesa da EscolaPblica e outras entidades acadmi-cas e cientficas tm apontado, nosltimos anos, ou seja, a precarizaoabsoluta na qual a universidade p-

    blica est mergulhada, por falta de

    recursos financeiros. Para sair desseimbrglio em que o prprio governocolocou essa instituio, o Relatrioreconhece, j para 2004, a necessi-dade de R$ 982 milhes distribudosnas seguintes rubricas: professores,bolsa para aposentados e recm dou-tores, manuteno, investimento eps-graduao. Esses valores deve-ro passar para R$ 1.797 bilho, em2007.

    Ao consultarmos um outro docu-mento do governo Lula da Silva, in-titulado Gasto Social do GovernoCentral, 2001-2002, publicado emdezembro de 2003 e produzido peloMinistrio da Fazenda, pode-seconstatar uma certa incoerncia nalinha das polticas educacionais, emrelao ao Relatrio do GT I, tam-bm do mesmo ms e ano.

    Enquanto este ltimo reconhece

    a necessidade de investimentos pe-sados para tirar a universidade dacrise, o outro documento atribui suniversidades a responsabilidadepelo desequilbrio e absoro dosgastos sociais. Para sustentar essaargumentao, informado queexiste uma grande concentrao derecursos no ensino superior (BRA-SIL, 2003, p.23), o que representacerca de 70% do gasto direto do go-verno central com Educao e Cul-tura. O mesmo documento continua,mostrando como os gastos so efeti-vados e que o custo mdio do alunonesse nvel de ensino representa170% do PIB per capita, enquantonos pases da Organizao de Co-operao e Desenvolvimento Eco-nmico (OCDE) isso representa100%. O objetivo da anlise mos-

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    24 - DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    A (Contra) Reforma Universitria

    trar que esses gastos, mais a gratui-dade do ensino superior representamum esforo superior ao esforo rea-lizado em pases mais ricos e bemsuperiores ao de pases em desen-volvimento (ibid, p.35).

    Dessa forma, a educao supe-rior fica responsabilizada pelos pou-cos recursos que a Unio repassa pa-

    ra os Estados. Alm do mais, segun-do o referido documento do Minis-trio da Fazenda, cerca de 46% dosrecursos do governo central para oensino superior beneficiam apenasindivduos que se encontram entreos 10% mais ricos da populao(ibid, p.35). Com esses dados e suasanlises, o governo quer evidenciarque o ensino superior o grandebeneficirio dos recursos da Uniopara a educao e que esses recursosvo atender populao mais rica,aquela que pode pagar pelo ensino.

    O documento Gasto Socialparece ser da linha adotada por ou-tros documentos elaborados peloBanco Mundial, nos quais a questodo ensino superior colocada damesma forma. Um dos documentos Brasil: Justo, Competitivo, Sus-

    tentvel, Contribuies para Deba-te, de novembro 2002, o qual sa-lienta que [...] os gastos com o en-sino superior beneficiam apenaspoucos (pg.20), e continua suge-rindo que a nfase dos investimen-tos deve ser no ensino fundamental.

    O outro aspecto destacado comofundamental pelo Relatrio do GT Irefere-se Autonomia das Univer-

    sidades Federais. Quanto a esseponto, a compreenso do grupo deque

    se por um lado, a gravidade dacrise emergencial das universi-dades est na falta de recursosfinanceiros do setor pblico,no se pode negar que, por ou-tro lado, a crise decorre tam-

    bm das amarras legais que im-pedem cada universidade decaptar e administrar recursos,definir prioridades e estruturasde gastos e planejamento.

    Na realidade, a autonomia aquesto central dessa reforma queest sendo desenhada pelo atualgoverno. Diferentemente do enten-dimento que os movimentos sociaise sindicais tm do artigo 207, daConstituio de 1988, isto , que omesmo auto-aplicvel, os gover-nos, passados e o atual, insistem emregulament-lo, dando ao mesmoum outro sentido que o de outor-gar s universidades o direito defazer parcerias, buscar outras fontesde financiamento, estabelecer umplano de cargos e carreiras para seusprofessores (com quebra da isono-

    mia, hoje existente, entre os profes-sores que esto na ativa), contratar,nomear, demitir, exonerar e transfe-rir, servidores docentes e no docen-tes, fixar acordos, convnios, dentreoutras aes.

    O sentido que vem sendo dado,pelo governo, autonomia est tra-duzido em vrios documentos, taiscomo Reforma da Educao Supe-

    rior Brasileira, Diagnstico (2003)2,O Ensino Superior no Mundo e noBrasil Condicionantes, Tendnciase Cenrios para o Horizonte 2003-2005, Relatrio do GT I (2003),dentre outros. Nesses documentos, o

    que se evidencia a autonomia co-mo forma de captao e de adminis-trao de recursos, de definio deprioridade e estruturas de gastos eplanejamento.

    A autonomia parece estar intima-mente vinculada, sobretudo, capa-cidade de captao de recursos, per-mitindo assim que o Estado se deso-brigue cada vez mais da responsabi-

    lidade com esse nvel de ensino.Mas, enquanto a proposta de

    liberar as universidades para diversi-ficarem as fontes de financiamento,recomendao bem explcita em umdocumento do BM, datado de 1995,intitulado La enseanza superior.Las lecciones derivadas de la expe-riencia, o governo tem assumidocada vez mais o financiamento das

    instituies privadas.A privatizao o rumo seguroque essas polticas indicam, refor-ando ainda mais o atual quadro. Al-guns nmeros podem ajudar a en-tender essa situao: em 2002, exis-tiam 1637 instituies de ensino su-perior no pas: dessas, 1442 eramprivadas e apenas 195 pblicas. Asprimeiras ofereceram, naquele ano,1.477.733 novas vagas e as outras295.354. Em relao s matrculas,as instituies privadas tm 70% dototal. (PORTO e RGNIER, 2003,p.120). Os nmeros de instituies ede matrculas e os recursos pblicospara o setor privado demonstrambem a filosofia que est na base daconcepo do governo em relaoao ensino superior.

    O terceiro aspecto apresentado

    A autonomia parece estar intimamente vinculada,

    sobretudo, capacidade de captao de recursos,

    permitindo assim que o Estado se desobrigue cada vez mais

    da responsabilidade com esse nvel de ensino.

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    DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 - 25UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    no Relatrio trata do redesenho doquadro atual, e a se pode visuali-zar, de forma transparente, os rumosque a universidade poder tomar, seessa Reforma adotar as indicaesdo GT I. O primeiro trao desse

    redesenho o Pacto da Educaopara o Desenvolvimento Inclusivo.

    O referido pacto trata de criar umademanda induzida para formar pro-fissionais em reas que o governoidentificar e considerar estratgi-ca. mais uma camisa de fora queo governo quer impingir s universi-dades autnomas, medida queassegura mais recursos quelas ins-

    tituies que aderirem ao tal pacto,que consiste em ter cursos, induzi-dos pelas necessidades empresa-riais, j estando definidas algumasdas reas, tais como engenharias,professores de matemtica, portu-gus, fsica, qumica, biologia, his-tria, geografia, enfermagem, sani-tarismo etc. Para tal, sero abertoseditais para formao desses profis-

    sionais, aos quais podero concorrertodas as instituies de ensino supe-rior, pblicas, comunitrias, filan-trpicas, privadas. mais uma for-ma de repassar recursos pblicospara instituies privadas.

    A educao distncia aparececomo a outra ponta do redesenhodo ensino superior, estando previs-ta, at 2007, matrcula de 500 milalunos nessa modalidade de ensi-

    no. A ampliao de vagas por meioda EAD parece ser a nica soluoe a menos cara que o governo estencontrando para engordar seusndices de alunos no 3 grau, quehoje no chegam a 10% dos jovensna faixa de 19 a 24 anos, muitoabaixo de nossos vizinhos da Am-rica do Sul.

    Finalmente, o Relatrio do GT I

    fecha as suas recomendaes comum achado sem precedentes, ou se-ja, que com a autonomia proposta ecom a colaborao das fundaes deapoio as universidades federais cer-tamente disporiam de condies no

    s para aumentar a captao de re-cursos, mas tambm para gerenciarcom mais eficincia e previsibilida-de os recursos que conseguir captar.

    A mudana na cpula do minis-trio, promovida pelo Presidente daRepblica, em janeiro de 2004,parece ter contribudo para a elabo-rao de uma outra proposta emrelao universidade pblica

    3. O

    ministro que assumiu a pasta daeducao ignorou o Relatrio do GTI e passou a centrar esforos em umaoutra poltica, que denominou Uni-versidade para Todos.

    Essa proposta, que est sendo aprincipal bandeira do ministro daeducao, prope a ocupao dasvagas ociosas nas instituies priva-das (cerca de 25%), por negros, po-

    bres, ex-detentos, em troca da isen-o fiscal. Esse programa, se de fatoimplementado, ser uma forma ex-cepcional de transferncia de recur-sos pblicos para a iniciativa priva-da, num verdadeiro socorro a essasempresas, que, segundo dados doIBGE, apud Coggiola (2004), tmhoje, mais de 400.000 vagas ocio-sas, o que representa prejuzo paraessas instituies.

    Os recursos que deixaro de serrecolhidos aos cofres pblicos pelasinstituies privadas, na ordem deR$ 839,7 milhes ao ano (R$ 634milhes, em contribuies ao INSS,e R$ 205,7 milhes, em tributosrecolhidos pela Receita Federal), se-riam suficientes para criar cerca de520 mil novas matrculas, nas uni-versidades federais (Folha de So

    Paulo, 12/04/2004). Se somarmosesses valores ao R$ 1,5 bilho cor-respondente anistia dada pelo go-verno aos devedores do crdito edu-cativo, teremos cerca de R$ 2,3 bi-lhes, sendo o oramento das 52 ins-

    tituies federais de R$ 5,5 bilhes(COGGIOLA, 2004).

    O SINAES

    Um outro aspecto inerente re-forma universitria a criao, pormeio da Medida Provisria n147,de 15 de dezembro de 2003, e con-vertida na Lei n 10.861, de 14 deabril de 2004, do Sistema Nacional

    de Avaliao do Ensino Superior-SINAES. O objetivo desse Sistema assegurar processo nacional deavaliao das instituies de educa-o superior, dos cursos de gradua-o e do desempenho acadmico deseus estudantes, nos termos do art.9, VI, VIII e IX da Lei n 9.394, de20 de dezembro de 1996. (art.1.).O sistema ter trs componentes

    principais: avaliao das institui-es, dos cursos e do desempenhodos estudantes. No primeiro caso,devero ser avaliadas as misses e oplano de desenvolvimento institu-cional, o que deve incluir a polticapara o ensino, a responsabilidadesocial, as polticas de pessoal, a in-fra-estrutura fsica. Essa avaliaoser interna e externa.No que diz respeito avaliao dos

    cursos, a nfase ser dada s condi-es de ensino oferecido aos estu-dantes, ao perfil do corpo docente e organizao poltico-pedaggica.O SINAES substitui o Provo pe-lo Exame Nacional de Desempenhodos Estudantes (ENADE), com pe-riodicidade trienal, o qual ser feitopor amostra de alunos de cada cursode graduao, ao final do primeiro e

    A (Contra) Reforma Universitria

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    do ltimo anos dos cursos, sendoobrigatrio para aqueles alunossorteados. Os melhores classifica-dos recebero uma bolsa.A incumbncia da realizao da ava-liao ser do MEC/INEP. Para ope-

    racionalizao da avaliao criadaa Comisso Nacional de Avaliaoda Educao Superior CONAES,responsvel pelo estabelecimento dediretrizes para a avaliao. A Co-misso ser composta por 13 mem-bros assim constitudos: um repre-sentante do INEP; um representanteda CAPES; trs representantes doMEC; um representante do corpo

    discente; um representante do corpodocente e um representante do cor-po tcnico-administrativo das insti-tuies de educao superior; cincomembros indicados pelo MEC, es-colhidos entre cidados com notriosaber cientfico, filosfico e artsti-co, e reconhecida competncia emavaliao ou gesto da educao su-perior. (art.6.).

    As instituies que tiverem resulta-dos insatisfatrios devero celebrarprotocolo de compromisso com oMEC, do qual constaro o diagns-tico objetivo das condies da insti-tuio, as aes necessrias para su-perar as dificuldades e os prazos emetas para o cumprimento dessasaes. O no cumprimento do proto-colo redundar desde suspensotemporria do processo seletivo docurso at a cassao da autorizaode funcionamento, podendo tambmimplicar a cassao do mandatodo reitor.A lgica eficientista e produtivistapermanecem nesse novo modelo deavaliao, contribuindo para a efeti-vao das diretrizes que norteiam areforma universitria. A punio e apremiao so a tnica desse Sis-

    tema, dentro de uma filosofia meri-trocrtica. Mais ainda, a avaliaodeve estar referenciada em um pro-jeto de universidade: no caso brasi-leiro, o fato de a aprovao da legis-lao especfica anteceder reforma

    universitria pode representar a ten-tativa de enquadrar esta ltima nasexigncias postas pelo SINAES, nu-ma tentativa de tornar, cada vez mais,a universidade a servio dos interes-ses mercadolgicos.

    Os subsdios para a Reforma

    Universitria

    Para que se possa entender me-

    lhor a lgica das polticas educacio-nais para o ensino superior propos-tas pelo governo, fundamental seconhecer algumas das idias que es-to dando sustentao reformauniversitria. Um dos documentosque pode ajudar nesse exerccio decompreenso O Ensino Superiorno Mundo e no Brasil Condicio-nantes, Tendncias e Cenrios para o

    Horizonte 2003-202. Uma Aborda-gem Exploratria, encomendadopelo Departamento de Poltica deEnsino Superior, do Ministrio daEducao. O documento aborda oensino superior no mundo e no Bra-sil, tendo como eixos as tendncias,as perspectivas, os possveis condi-cionantes e, em funo disso tudo,apresenta cenrios resultantes dasdiferentes combinaes das vari-veis citadas.

    O objetivo de analisar o referidodocumento compreender os rumosque o governo brasileiro vem indi-cando para o ensino superior. Acre-dita-se que subsdios como esse tra-balho, traduzido em cenrios, so oselementos bsicos que esto alimen-tando o projeto de reforma da uni-versidade brasileira. Assim, dedica-

    remos alguns pargrafos para exporas idias que do sustentao s pro-postas de reformas.

    Para uma maior contextualiza-o, o documento analisa as tendn-cias de transformao do ensino su-perior em nvel mundial, dando des-taque s seguintes: 1- Mudana nas

    Caractersticas do Setor de Educa-o, significando a quebra do mono-plio geogrfico, regional ou local;o desaparecimento e a fuso de uni-versidades; a transformao de uni-versidades amplas em instituiesmais especializadas. 2- Mudana naEstrutura do Setor de EducaoSuperior, com o surgimento de uni-versidades corporativas, administra-das e patrocinadas pelas empresas e

    voltadas para seus empregados; em-presas instrucionais, que prestamservios s universidades no pr-prio domnio do ensino superior,em alguma rea do conhecimento ounos aspectos pedaggicos; entidadesde intermediao, que devem fazer aponte entre os provedores e osconsumidores de educao; organi-zaes no tradicionais, tais como

    A (Contra) Reforma Universitria

    26 - DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

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    DF, Ano XIV, N 33, junho de 2004 - 27

    empresas de telecomunicao, deinformtica, ONG, empresas de en-tretenimento. 3- Mudana nas rela-es da universidade com a Socie-dade. 4- Mudana na natureza daprestao dos servios acadmicos.

    5- Mudana no modo de execuodas atividades acadmicas. Em rela-o a essa tendncia o documentodeixa claro que:

    A universidade do sculoXXI ser considerada, cada vezmais, como uma instituioprestadora de servios do conhe-cimento [...] em qualquer dasformas demandadas pela socie-

    dade contempornea. Neste con-texto, embora seus papis tradi-cionais (ensino-pesquisa-exten-so) no devam sofrer alteraesfundamentais, seus modos espe-cficos de execuo mudarosignificativamente. (PORTO eRGNIER, 2003, p. 19).

    As tendncias j consolidadas,em nvel mundial, so o declnio das

    taxas de crescimento demogrfico eo progressivo envelhecimento dapopulao, a acelerao da produ-o cientfica e tecnolgica, a dispo-nibilidade de novas tecnologias paraa educao e o crescimento da edu-cao distncia, a redefinio daestrutura do mercado de trabalho edas condies de empregabilidade,o crescimento da educao conti-nuada, a consolidao da educao

    como objeto de aspirao dos jovense das famlias.

    Alm desses aspectos j defini-dos, o documento elenca algumasmudanas que esto em andamentoe que iro influenciar os novos cen-rios da educao superior. Dentreelas destacam-se a globalizao domercado de trabalho, a certificaode conhecimentos feita por empre-

    sas produtoras de tecnologia, a des-territorializao e a internacionali-zao da oferta de ensino superior,maior presena das universidadescorporativas e de novos arranjos ins-titucionais.

    O fio condutor do documentoso os fundamentos dos cenriosque iro condicionar o futuro. No

    caso especfico do ensino superior,isso demonstrado de forma muitoclara: dos ambientes econmico, po-ltico, social, tecnolgico e culturalvo emergir foras de transforma-o que vo atuar sobre as institui-es de educao superior, que, porsua vez, vo engendrar novas for-mas de atuao sobre os ambienteseconmicos, poltico, social, tecno-

    lgico e cultural. Esses ambientestm o que o documento chama deinvariantes, ou seja conjunto detendncias e processos do macrocontexto e do contexto especficoque so de difcil reverso[...] (ibid,p.85).

    Dentre os invariantes, no casobrasileiro, em nvel macro, desta-cam-se o envelhecimento da popula-o, a mudana nas relaes de tra-balho e a redefinio do papel doEstado. Em conseqncia, no ensinosuperior, so ressaltados alguns as-pectos que seriam dados, postos eirreversveis, tais como a expanso ediversificao da demanda de ensi-no superior, a valorizao da educa-o como instrumento de mobilida-de social, o crescimento de estudan-tes vindos das camadas populares, a

    presena de alunos mais velhos, adiversificao de ensino, a especia-lizao das instituies, a multipli-cao de novos produtos e serviosassociados ao ensino, crescimentodas universidades corporativas, con-solidao da cultura de avaliao.

    Alm dos fatores invariantes,fundamentais para a definio dos

    possveis cenrios, o documento re-laciona aqueles denominados fatosportadores de futuro (ibid, p.100),isto , eventos e processos j emcurso e que permitem inferir na di-reo de sua continuidade e aquelesque so muito incipientes ou emer-gentes.

    Para o ensino superior brasileiro,so arrolados dezenove invariantes,

    dos quais cito alguns: crescimentono nmero das instituies privadas;crescimento da inadimplncia; ex-panso do ensino a distncia; novosarranjos institucionais, (universida-des virtuais, consrcios); novas for-mas de financiamento do ensino su-perior (distribuio de vouchers,cobrana de mensalidades escalona-da por tipo de cursos ou pelo perfilsocioeconmico do aluno, captaode recursos junto de ex-alunos);abertura do ensino superior para ocapital financeiro (por meio da pre-sena de novos atores atuando emparceria com as instituies nacio-nais, ou por meio de investimentosem instituies j consagradas queabrem seu capital para acionistasexternos); estabelecimento de con-tratos de gesto entre o Estado e as

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    A (Contra) Reforma Universitria

    As tendncias j consolidadas, em nvel mundial, so o declnio

    das taxas de crescimento demogrfico e o progressivo envelheci-

    mento da populao, a acelerao da produo cientfica e tecno-

    lgica, a disponibilidade de novas tecnologias para a educao...

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    UNIVERSIDADE E SOCIEDADE

    IES (acordos entre as instituies eos Estados, por meio de recebimen-to de verbas e fundos em troca do al-cance de metas de desempenho esti-puladas pelo Estado); aproximaodas instituies de ensino superior

    com o setor produtivo (busca de no-vas fontes de financiamento para oensino, a pesquisa e a extenso, pormeio de prestao de servios, deoferta de cursos, de pesquisas apli-cadas).

    O documento em questo OEnsino Superior no Mundo e noBrasil - destaca incertezas com rela-o aos invariantes arrolados e aos

    fatos portadores de futuro e indicaIncertezas Crticas em nvel ma-cro e relativas ao ensino superior. Saps o esclarecimento das incerte-zas que sero traados os poss-veis cenrios para o ensino superiorbrasileiro.

    As principais incertezas do con-texto nacional so: a amplitude e avelocidade das reformas estruturais

    no Brasil; o papel do Estado na eco-nomia brasileira; os investimentosem infra estrutura e no setor produ-tivo; a natureza e os efeitos das pol-ticas industriais, de cincia e tecno-logia e de comrcio exterior; a for-ma de insero do Brasil na econo-mia mundial; a natureza e a efetivi-dade das polticas sociais e o desen-volvimento regional e distribuioespacial do crescimento econmico.

    Em relao ao ensino superior, asprincipais incertezas crticas arrola-das pelo documento (p.121) so: oritmo do crescimento do ensinomdio; o comportamento e a nature-za da demanda; a evoluo do finan-ciamento; o equilbrio entre o setorpblico e privado; a dinmi