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.. Não tendo sido extraídas «conclusões» dos três dias de trabalhos, nem por isso se pode dizer que importantes decisões deixaram de ser tomadas no Congresso. Estas são, em síntese, As moções aprovadas N o final do Coog,e= foram aprovadas por unanimi- dade as doze moções que a se- guir transcrevemos, salientan- do-se que as duas últimas o fo- ram também por aclamação. P ezar •Manifesta profundo pesar pelo falecimento do escritor, ensaísta e filólogo brasileiro · Aurélio Buarque de Holanda, cujo «Dicionário da Língua Portuguesa» tem constituído importante fonte de consulta e instrumento de trabalho para autores e estudiosos do idioma em que se exprimem literaria- mente .> 1 nquietação «Tendo tomado conhecimen- to da situação criada aos escri- tores portugueses pela recente legislação fiscal, partilham a sua profunda inquietação em face das respectivas disposições que lhes são aplicáveis, e que revelam um total desconheci- mento da especificidade que caracteriza a criação literária e artística e a natureza irregular e aleatória dos rendimentos que dela provêm, onerando-os injustamente e desmotivando- os para o trabalho criativo, o que não pode deixar de redun- dar em grave prejuízo para a produção cultural, pelo que re- comendam ao Governo Portu- guês revisão dessas disposições legislativas. > Felicitação «Felicita o governo brasileiro pela iniciativa da criação do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, com a par- ticipação activa e paritária dos sete países. Manifestam o desejo de que DIAS 2-4-8-10 e 14. ÁS 21.30 DIAS 5 e 12 ás 16.30 GAR O ópera de JOSÉ RAMÓN ENCINAR cenários, figurinos, luz e- encenação SIMON SUARÉZ COM RUY DE CARVALHO (Actor)- DOUGLAS NASRA WI (Tenor) - LUtS ÃLVAREZ (Baritono) - MIGUEL SOLA (Baixo) - GREGÓRIO POBLA- DOR (Baixo) - MIGUEL LóPEZ GALINDO (Baixo) e com os Actores HENRIQUETA MAYA - JULIE SER- GEANT - VICTOR RIBEIRO - CARWS . FONSECA - JOÃO DE CARVALHO GUIDA MARIA - RUY DE MATOS MARIO PEREIRA e a participação da Orquestra R.D.P. 10 d_L 7.3.89 essa instituição seja forum e meio de comunicação da cultu- ra de todos os nossos países, promovendo e apoiando inicia- tivas que tenham em vista asse- gurar o pronto conhecimento das obras literárias e outros meios de cultura e bem assim o diálogo e a circulação dos escri- tores no espaço da língua por- tuguesa. Desejam ainda que, na es- trutura da instituição, seja as- segurada aos escritores e outros agentes culturais dos sete paí- ses a necessária representativi- dade e participação.» Cursos «Considerando o ensino em nível superior de extrema im- portância para as crescentes di- · fusão e compreensão das nos- sas literaturas; Considerando que as princi- . pais universidades dos nossos países vêm mantendo, faz al- gum tempo, cursos de literatu- ras em língua portuguesa; A s intecmdeot~ faltas' de luz do último dia de traba- lhos do Congresso de Escritores Lusófonos não veio alterar substancialmente a ordem na- tural das coisas. A penumbra nunca perturbou conversas in- formais e este Congresso foi o exemplo de que, entre escrito- res, é mais apetecida a conver- · sa no bali que a discussão teóri- . ca . De facto, pode dizer-se que o · I Congresso de Escritores de . Língua Portuguesa (a que teria sido mais coerente chamar En- · contro) decorreu, sobretudo no bali da Fundação Calouste 1 Gulbenkian. Entre abraços de velhos amigos que se reencon- travam, conversas entre escri- tores que mutuamente se «co- nheciam, das páginas dos li- · vros escritos mas nunca ti- , nham tido a oportunidade de trocar duas palavras e piadas · acerca dos tempos de outrora - o Congresso foi uma enorme oportunidade de se estabelece- rem (ou reatarem) relações in- formais entre escritores. Instados a pronunciarem-se sobre os frutos colhidos nesta Considerando ta l exemplo merecedor não apenas de reci- procidade optativa, mas de ele- ger-se em positivo padrão ; Propomos que os escritores aqui reunidos aprovem a adop- ção de cursos das nossas litera- turas nos currículos superior e universitários regulares e, nesse intento, envidem esforços junto dos Ministérios da Educação e da Cultura de cada país no sen- tido de que se efective esta reso- lução do I Encontro de Escrito- res de Língua Portuguesa .> Fundo de compensação «Considerando que os Países · Africanos de Lingua Oficial Portuguesa enfrentam sérias dificuldades no domínio da edi- ção, e que impedem que os seus escritores sejam divulgados e conhecidos no exterior( .. . ) Tendo em conta o facto de que quando um escritor conse- gue publicar no estrangeiro a sua obra não chega a ser difun- dida no seu próprio país, devi- do à falta de divisas para aqui- sição da mesma; Propõe-se que seja criado um 'Fundo de Compensação' em moeda nacional de cada um dos países referidos, constituí- do pelo lucro das vendas dos livros editados no estrangeiro e que poderá vir a ser utilizado pelos editores para aquisições diversas em cada um dos paí- ses.> 1 senções aduaneiras «Considerando as dificulda- des de ordem aduaneira que se verificam na importação de li- vros de literatura entre os nos- sos países; Considerando que tal facto limita a interdifusão e conheci- mento recíproco de nossas obras, decidiu: Que cada uma das nossas as- sociações, solicite dos respecti- vos governos, instrumentos le- gais que estabeleçam isenções A celebracão e as veredas magna reunião de criadores de idioma comum, a maioria dos participantes respondia que o principal mérito desta realiza- ção foi. .. ter-se realizado. sete anos que a ideia an- dava em bolandas sem se lhe dar cumprimento por carências de ordem organizativa e finan- ceira. Quando, finalmente, se realizou, a participação - pelo menos por parte dos portugue- ses - ficou-se pelo meio-gás. A maior parte das mais impor- tantes vozes da literatura por- tuguesa de hoje não apresenta- ram comunicações. Ou, como aconteceu também nalguns ca- sos, pura e simplesmente, não apareceram. Cardoso Pires passou por lá, Agustina estava a trabalhar, Eugénio nunca vai a «essas coisas». Havia vozes críticas: o Con- gresso estava desorganizado, o ternário não era aliciante, a preparação do evento foi feita cem cima do joelho>. Críticas em conversas de bali que nunca tiveram expressão efectiva a não ser no momento em que, ainda no primeiro dia, uma Natália Correia agastada inter- pelou o poeta Egito Gonçalves, um dos membros da organiza- ção, para lhe dar conta .:_ na voz altissonante que se lhe co- nhece - do repúdio que lhe merecia o facto de o Ministério dos Negócios Estrangeiros ter apenas convidado os escritores estrangeiros para uma recep- ção no Palácio das Necessida- des. um vexame, mais um Últraje do poder aos escritores portugueses, - dizia a poetisa. Quanto ao too generalizado de crítica surda que se foi insta- lando - sobretudo entre os participantes portugueses - Egito Gonçalves diria mais tar- de: « Eu sei perfeitamente que escritores capazes de fazer um congresso perfeito. Eu até podia indicar nomes, podia fa- zer uma lista de pessoas que se- riam capazes de fazer um con- gresso perfeitamente perfeito, absolutamente perfeito. Só que por azar nosso esses escritores estavam todos muito ocupados neste momento. De forma que nós tivemos que fazer o con- gresso e... não somos perfei- tos). A ironia de Egito Gonçalves deixava também bem patente a ideia de que a organização se deu por satisfeita com o facto de ter levado a cabo um projec- to que parecia eternamente adiado. A escritora brasileira Ligya Fagundes Telles fez a síntese perfeita da opinião que a pouco aduaneiras relativamente à im- portação de obras de literatura de escritores, de língua portu- guesa ou obras nos seus países traduzidas para português. Enquanto tal não se concre- tizar, as nossas respectivas as- sociações, deverão tentar en- contr;μ- medidas práticas que possam minimizar a actual si- tuação.> Direitos de autor «Que as associações que re- presentam os escritores de cada um dos países envidem esforços no sentido da melhor defesa dos direitos de autor. Assim, será conveniente, nos Países de Língua Oficial Portu- guesa onde ainda não se tenha institucionalizado o direito de autor, que tal se verifique, bem como a necessária adesão a convenções internacionais em ordem a uma melhor protecção e defesa dos direitos de autor, e a promulgação de legislação e pouco se foi generalizando entre os presentes: que este congresso foi um artifício for- mal para que se realizassem contactos informais que todos parecem achar da maior im- portância: tEstamos perante uma verdadeira celebração da língua portuguesa. Celebração essa que implica uma celebra· ção também das veredas desta língua. As veredas são as várias - formas linguísticas dentro da própria lingua portuguesa. A língua é uma e os estilos são múltiplos. Mas é importante, então, o facto de estarmos aqui a glorificar a língua em que nos descobrimos e somos descober- tos. E também é importante no lado humano, nos contactos ... É o que fica, o lado humano, a nossa condição. Mais do que a teoria. Ora, teoria é teoria... somos geradores da palavra, nós, os escritores. Este é um congressodeescrltores.Osteô- rlcos depois que duvidem de nós.> O saldo que fica, é ineludí- vel, tem a sua vertente funda- mental nesses contactos huma- nos de que fala a escritora bra- sileira. E, também, na expe- riência acumulada por futuras realizações do género. Todos parecem desejá-las. C.V.M.

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Page 1: As moções aprovadashemerotecadigital.cm-lisboa.pt/... · «Os escritores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São To mé e Príncipe, participantes no I

..

Não tendo sido extraídas «conclusões» dos três dias de trabalhos, nem por isso se pode dizer que importantes decisões deixaram de ser tomadas no Congresso. Estas são, em síntese,

As moções aprovadas N o final do Coog,e= foram aprovadas por unanimi­dade as doze moções que a se­guir transcrevemos, salientan­do-se que as duas últimas o fo­ram também por aclamação.

P ezar •Manifesta profundo pesar

pelo falecimento do escritor, ensaísta e filólogo brasileiro · Aurélio Buarque de Holanda , cujo «Dicionário da Língua Portuguesa» tem constituído importante fonte de consulta e instrumento de trabalho para autores e estudiosos do idioma em que se exprimem literaria­mente.>

1 nquietação

«Tendo tomado conhecimen­to da situação criada aos escri-

tores portugueses pela recente legislação fiscal, partilham a sua profunda inquietação em face das respectivas disposições que lhes são aplicáveis, e que revelam um total desconheci­mento da especificidade que caracteriza a criação literária e artística e a natureza irregular e aleatória dos rendimentos que dela provêm, onerando-os injustamente e desmotivando­os para o trabalho criativo, o que não pode deixar de redun­dar em grave prejuízo para a produção cultural, pelo que re­comendam ao Governo Portu­guês revisão dessas disposições legislativas.>

Felicitação

«Felicita o governo brasileiro pela iniciativa da criação do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, com a par­ticipação activa e paritária dos sete países.

Manifestam o desejo de que

DIAS 2-4-8-10 e 14. ÁS 21.30 DIAS 5 e 12 ás 16.30

FÍGARO ópera de

JOSÉ RAMÓN ENCINAR cenários, figurinos, luz e-encenação

SIMON SUARÉZ

COM

RUY DE CARVALHO (Actor)­DOUGLAS NASRA WI (Tenor) - LUtS

ÃLVAREZ (Baritono) - MIGUEL SOLA (Baixo) - GREGÓRIO POBLA­

DOR (Baixo) - MIGUEL LóPEZ GALINDO (Baixo)

e com os Actores HENRIQUETA MAYA - JULIE SER­

GEANT - VICTOR RIBEIRO - CARWS . FONSECA - JOÃO DE CARVALHO

GUIDA MARIA - RUY DE MATOS MARIO PEREIRA

e a participação da Orquestra dà R.D.P.

10 d_L 7.3.89

essa instituição seja forum e meio de comunicação da cultu­ra de todos os nossos países, promovendo e apoiando inicia­tivas que tenham em vista asse­gurar o pronto conhecimento das obras literárias e outros meios de cultura e bem assim o diálogo e a circulação dos escri­tores no espaço da língua por­tuguesa.

Desejam ainda que , na es­trutura da instituição , seja as­segurada aos escritores e outros agentes culturais dos sete paí­ses a necessária representativi­dade e participação. »

Cursos

«Considerando o ensino em nível superior de extrema im­portância para as crescentes di- · fusão e compreensão das nos­sas literaturas;

Considerando que as princi­. pais universidades dos nossos países vêm mantendo, faz al­gum tempo, cursos de literatu­ras em língua portuguesa;

A s intecmdeot~ faltas' de luz do último dia de traba­lhos do Congresso de Escritores Lusófonos não veio alterar substancialmente a ordem na­tural das coisas. A penumbra nunca perturbou conversas in­formais e este Congresso foi o exemplo de que, entre escrito­res, é mais apetecida a conver- · sa no bali que a discussão teóri- . ca.

De facto, pode dizer-se que o · I Congresso de Escritores de . Língua Portuguesa (a que teria sido mais coerente chamar En- · contro) decorreu, sobretudo no bali da Fundação Calouste 1

Gulbenkian. Entre abraços de velhos amigos que se reencon­travam, conversas entre escri­tores que mutuamente se «co­nheciam, das páginas dos li- · vros já escritos mas nunca ti- , nham tido a oportunidade de trocar duas palavras e piadas · acerca dos tempos de outrora - o Congresso foi uma enorme oportunidade de se estabelece­rem (ou reatarem) relações in­formais entre escritores.

Instados a pronunciarem-se sobre os frutos colhidos nesta

Considerando tal exemplo merecedor não apenas de reci­procidade optativa, mas de ele­ger-se em positivo padrão ;

Propomos que os escritores aqui reunidos aprovem a adop­ção de cursos das nossas litera­turas nos currículos superior e universitários regulares e, nesse intento , envidem esforços junto dos Ministérios da Educação e da Cultura de cada país no sen­tido de que se efective esta reso­lução do I Encontro de Escrito­res de Língua Portuguesa .>

Fundo de compensação

«Considerando que os Países · Africanos de Lingua Oficial Portuguesa enfrentam sérias dificuldades no domínio da edi­ção, e que impedem que os seus escritores sejam divulgados e conhecidos no exterior( .. . )

Tendo em conta o facto de que quando um escritor conse­gue publicar no estrangeiro a sua obra não chega a ser difun-

dida no seu próprio país, devi­do à falta de divisas para aqui­sição da mesma;

Propõe-se que seja criado um 'Fundo de Compensação' em moeda nacional de cada um dos países referidos, constituí­do pelo lucro das vendas dos livros editados no estrangeiro e que poderá vir a ser utilizado pelos editores para aquisições diversas em cada um dos paí­ses.>

1 senções aduaneiras

«Considerando as dificulda­des de ordem aduaneira que se verificam na importação de li­vros de literatura entre os nos­sos países;

Considerando que tal facto limita a interdifusão e conheci­mento recíproco de nossas obras, decidiu:

Que cada uma das nossas as­sociações, solicite dos respecti­vos governos, instrumentos le­gais que estabeleçam isenções

A celebracão •

e as veredas magna reunião de criadores de idioma comum, a maioria dos participantes respondia que o principal mérito desta realiza­ção foi. .. ter-se realizado.

Há sete anos que a ideia an­dava em bolandas sem se lhe dar cumprimento por carências de ordem organizativa e finan­ceira. Quando, finalmente, se realizou, a participação - pelo menos por parte dos portugue­ses - ficou-se pelo meio-gás. A maior parte das mais impor­tantes vozes da literatura por­tuguesa de hoje não apresenta­ram comunicações. Ou, como aconteceu também nalguns ca­sos, pura e simplesmente, não apareceram. Cardoso Pires passou por lá, Agustina estava a trabalhar, Eugénio nunca vai a «essas coisas».

Havia vozes críticas: o Con­gresso estava desorganizado, o ternário não era aliciante, a preparação do evento foi feita cem cima do joelho>. Críticas em conversas de bali que nunca tiveram expressão efectiva a não ser no momento em que, ainda no primeiro dia, uma Natália Correia agastada inter­pelou o poeta Egito Gonçalves, um dos membros da organiza­ção, para lhe dar conta .:_ na voz altissonante que se lhe co-

nhece - do repúdio que lhe merecia o facto de o Ministério dos Negócios Estrangeiros ter apenas convidado os escritores estrangeiros para uma recep­ção no Palácio das Necessida­des. cÉ um vexame, mais um Últraje do poder aos escritores portugueses, - dizia a poetisa.

Quanto ao too generalizado de crítica surda que se foi insta­lando - sobretudo entre os participantes portugueses -Egito Gonçalves diria mais tar­de: «Eu sei perfeitamente que há escritores capazes de fazer um congresso perfeito. Eu até podia indicar nomes, podia fa­zer uma lista de pessoas que se­riam capazes de fazer um con­gresso perfeitamente perfeito, absolutamente perfeito. Só que por azar nosso esses escritores estavam todos muito ocupados neste momento. De forma que nós tivemos que fazer o con­gresso e... não somos perfei­tos).

A ironia de Egito Gonçalves deixava também bem patente a ideia de que a organização se deu por satisfeita com o facto de ter levado a cabo um projec­to que parecia eternamente adiado.

A escritora brasileira Ligya Fagundes Telles fez a síntese perfeita da opinião que a pouco

aduaneiras relativamente à im­portação de obras de literatura de escritores, de língua portu­guesa ou obras nos seus países traduzidas para português.

Enquanto tal não se concre­tizar, as nossas respectivas as­sociações, deverão tentar en­contr;µ- medidas práticas que possam minimizar a actual si­tuação.>

Direitos de autor

«Que as associações que re­presentam os escritores de cada um dos países envidem esforços no sentido da melhor defesa dos direitos de autor.

Assim, será conveniente, nos Países de Língua Oficial Portu­guesa onde ainda não se tenha institucionalizado o direito de autor, que tal se verifique, bem como a necessária adesão a convenções internacionais em ordem a uma melhor protecção e defesa dos direitos de autor, e a promulgação de legislação

e pouco se foi generalizando entre os presentes: que este congresso foi um artifício for­mal para que se realizassem contactos informais que todos parecem achar da maior im­portância: tEstamos perante uma verdadeira celebração da língua portuguesa. Celebração essa que implica uma celebra· ção também das veredas desta língua. As veredas são as várias -formas linguísticas dentro da própria lingua portuguesa. A língua é uma só e os estilos são múltiplos. Mas é importante, então, o facto de estarmos aqui a glorificar a língua em que nos descobrimos e somos descober­tos. E também é importante no lado humano, nos contactos ... É o que fica, o lado humano, a nossa condição. Mais do que a teoria. Ora, teoria é teoria ... somos geradores da palavra, nós, os escritores. Este é um congressodeescrltores.Osteô­rlcos depois que duvidem de nós.>

O saldo que fica, é ineludí­vel, tem a sua vertente funda­mental nesses contactos huma­nos de que fala a escritora bra­sileira. E, também, na expe­riência acumulada por futuras realizações do género. Todos parecem desejá-las.

C.V.M.

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adequada e a criação de orga­nismos para a sua efectiva ges­tão .

Solidariedade com Timor

Considerando que o direito de autodeterminação e inde­pendência dos povos, constitui uma das condições fundamen­tais da preservação, valoriza­ção e difusão da cultura e da criação literária; ( ... )

- Manüestar uma total soli­dariedade para com a luta dos escritores mauberes, em prol da sua total soberania bem co­_hlo duma cultura nacional in­dependente e da preservação e promoção da língua portugue­sa no interesse do desenvolvi­mento cultural dos povos.

- Condenar todos os actos que bloqueiam o livre desenvol­vimento da edificação de uma sociedade mais justa e equitati­va para todos.

e ontra o apartheid

«Considerando que a guerra racista sul-africana de agressão contra Angola e Moçambique representa um autêntico holo­causto e provoca a destruição massiva de escolas, a elimina­ção de professores e alunos, e consequentemente, afecta e perturba os centros difusores de língua portuguesa;( ... )

Exprimem a sua total solida­riedade com os povos e escrito­res irmãos de Angola e Moçam­bique;

Manifestam a sua disposi­ção, como intelectuais e criado­res, de contribuir para o desen­volvimento da cooperação entre os povos que falam a língua portuguesa. »

S alman Rushdie

Considerando que, como criador da e pela palavra, o es­critor necessita, de uma manei­ra inarredável porque co­natural à sua própria condição, quer de completa liberdade de espírito para produzir à medi­da das suas opções e do seu tempo, quer da efectiva possi­bilidade de veícular as suas obras sem constrangimentos de qualquer espécie;

Estando cientes, além do mais mercê de um passado re­cente comum, dos malefícios que sobre a actividade criativa,

lança esse sistemático exercício mutilador que é a censura;

Decidem: Reafirmar o seu intransigen­

te comprometimento na preser­vação dos valores da tolerância e liberdade e na criação de con­dições que cada vez mais propi­ciem ao escritor, em inteira li­berdade de opções e posiciona­mentos perante o mundo, des­de que estas não comprometam a dignidade do homem, dos Po­vos e os seus direitos funda­mentais.

Manifestar a sua indignação pela intolerável ameaça de as­sassínio do escritor Salman Rushdie, pelo que esses mes­mos factos significam, em vés­peras do século XX°!, de doloro­sa agressão, como tal sentida por todos os criadores.»

Agradecimento

«Os escritores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné­Bissau, Moçambique e São To­mé e Príncipe, participantes no I Congresso de Escritores de Língua Portuguesa, cientes das múltiplas dificuldades com que se defrontaram os colegas por­tugueses na preparação e reali­zação deste evento, quer indivi­dualmente, quer como mem­bros da Associação Portuguesa de Escritores e da Sociedade Portuguesa de Autores, sen­tem-se na obrigação de exaltar a capacidade, dedicação e espí­rito de solidariedade por si ma­nifestados, que propiciaram, a criação de um clima adequado à plena consecução dos fins a que o Congresso se propôs.»

11 Congresso no Brasil em 91

O I Congresso de Escritores de Língua Portuguesa decidiu:

1. Que os Congressos se rea­lizarão de 2 em 2 anos, rotati­vamente, nos Estados de língua portuguesa;

2. O II Congresso terá lugar em 1991 no Brasil, precedido por uma reunião preparatória em S. Tomé e Príncipe, em 1990;

3. O III Congresso terá lu­gar, em 1993, na República da Guiné-Bissau;

4. Ê criada uma Comissão de Seguimento constituída pelos sete países, que promoverá a aplicação das Resoluções do I Congresso e, em consulta com . as respectivas Associações, re­solverá as questões pertinen­tes.»

Na próxima edicão A intervenção ·de Óscar Lopes e mais ecos do Congresso

O (muito) positivo e o (pouco) negativo

11 A reafüação do I Congres­so de Escritores de Língua Por­tuguesa foi, qualquer que seja o balanço que se faça da sua or­ganização e do interesse dos seus trabalhos, um aconteci­mento muito importante e sig­nificativo - e não só para as li­teraturas dos países que nele estiveram representadas: será um lugar-comum dizê-lo, mas não se pode deixar de o fazer, sob pena de se deixar na som­bra ou no esquecimento o que antes de mais importa salien­tar. Como, embora muito me­nos relevante, não se pode dei­xar de assinalar o facto de o Congresso se ter efectuado na capital do país ex-colonizador dos países que se exprimem no idioma comum.

2. Com efeito, embora os es­critores portugueses sempre ti­vessem sido, na sua imensa maioria, como os artistas e in­telectuais em geral, antifascis­tas e anticolonialistas (designa­ções que, pelo simples facto de serem utilizadas, causam a al­guns, estranha «irritação», que vai muito para lá do explicável pelo uso excessivo, ou mesmo abusivo, que delas se fez no período «revolucionário» ... ); embora os escritores, como o povo português, tivessem sido vítimas do mesmo regime dita­torial que oprimiu os povos das colónias, e como os escritores dos novos países africanos de expressão oficial portuguesa ti­vessem sofrido, em maior ou menor grau, censura, persegui­ções, prisões, exílios; embora, em suma, sempre uns e outros tivessem sido companheiros no sofrimento, na luta e na espe­rança - a verdade é que foi preciso quase uma década e meia sobre o libertador 25 de Abril e as independências dos novos países africanos, para que os seus escritores se reunis­sem num Congresso, que só pe­cou por tardio. Os seus escrito­res e, claro, os do Brasil, «ir­mão» que vive mais longe, mas é igualmente querido e até está muito bem colocado para compreender e resolver certas coisas ...

Ora, isto significa que, por um lado, foi enfim possível ul­trapassar dificuldades e obstá­culos, designadamente de or­dem política - e com inelutá­vel repercussão na área dos apoios económicos, sem os quais é impensável uma organi­zação como esta - , que até agora haviam impedido a reali­zação do Congresso; e signifi­ca, por outro lado, que foi maior a premência deste en­contro fraterno, ou pelo menos

OPINIÃO JOSÉ CARLOS

DE VASCONCELOS

tendencialmente fraterno. En­contro que, mesmo limitado e padecendo de alguns «defei­tos», tenderá a dinamizar no­vas, mobilizadoras e congrega­doras acções e iniciativas, seja no âmbito exclusivo das rela­ções entre os escritores e suas associações representativas, se­ja mesmo ao nível institucional dos países e seus governos, no­meadamente no campo da língua.

3. O simples facto de se reali­zar o Congresso foi, pois, signi­ficativo e importante; como foi importante ainda, como pri­meiro, e decisivo passo para criar uma outra dinâmica no relacionamento entre todos os escritores que se exprimem em português e, até, alguns daque­les que os estudam e ajudam a tornar mais conhecidos. Além disso, a defesa do funda­mental património linguístico comum (chegados a este ponto, é costume referir um número de falantes que ninguém sabe ao certo quantos sejam, mas, em termos do ano 2000, se aponta para a casa dos 200 mi­lhões!); o debate dos problemas inerentes à circulação e difusão do livro nos sete países de idio­ma comum, visando superar as dificuldades até agora existen­tes , em especial nos países afri­canos (o que naturalmente pas­sa também pelo apoio dos go­vernos - que o possam dar -através da abertura das linhas de crédito); o debate ainda dos problemas específicos dos próprios escritores enquanto profissionais, ou enquanto de­sejando - muito legitimamen­te - sê-lo, para isso reivindi­cando as condições indispensá-

. veis; a reflexão sobre a inter­venção dos escritores no pro­cesso cultural e mesmo na vida cívica ou política dos seus paí­ses, em especial daqueles que atravessem situações mais difí­ceis ou mesmo de guerra, como Angola e Moçambique - eram (e foram), naturalmente, te­mas, com muito interesse e ac­tualidade, deste I Congresso e das suas conclusões.

4. Assim, estão de parabéns e merecem agradecimento todos

os que tornaram possível este I Congresso de Escritores de Língua Portuguesa, sete anos depois (sete!. .. ), da sua realiza­ção ter sido decidida.

Destaque para a SPA e a APE, que o organizaram, para os secretários de Estado da Cultura e da Cooperação, e a Fundação Calouste Gulben­kian, que o subsidiaram, para os elementos da comissão exe­cutiva que, sem pertencerem ao núcleo das «estrelas» das letras, foram, com muito trabalho, os seus principais obreiros .

Dito o que se deve salientar que houve, compreensivelmen­te, notórias deficiências organi­zativas, até em aspectos em que à primeira vista elas não se jus­tificariam (por exemplo: a falta de um quadro ou «placard» com a indicação do local e hora das comunicações - tema e autor -, que permitisse aos congressistas assistir aos que mais lhes interessassem), houve ausências lamentáveis, sobre­tudo no que toca à delegação brasileira e à de muitos escrito­res portugueses, que tinham obrigação (até moral) de parti­cipar, ou pelo menos estar, no Congresso, houve conclusões que poderiam ter sido formula­das e não foram , ou foram-no de forma menos elaborada do que se desejaria, ou não tive­ram qualquer suporte, como também seria de desejar, nos próprios trabalhos e debates do encontro.

Acresce que, enquanto pri­mavam pelo silêncio, ou, pior, pela ausência, muitos que de­veriam estar presentes e dar um contributo activo para o Con­gresso, houve intervenções de qualidade e interesse pelo me­nos discutíveis, de respeitáveis e simpáticas pessoas que de escritores têm apenas a vontade de o ser e algum opúsculo pu­blicado. Claro que seria indese­jável, ou inadmissível , impedir alguém de apresentar comuni­cações, e menos ainda com ba­se na apreciação da qualidade literária da sua obra - ou da falta dela ... Mas já nada impe­diria duas coisas , que será bom se concretizem no II Congres­so, a saber:

a) Que alguns escritores es­pecialmente representativos pe­la sua obra, pela sua interven­ção cultural ou cívica, sejam es­pecialmente convidados , ou pe­lo menos instados, a apresentar comunicações e participar mais activamente nos trabalhos;

b) Que haja uma comissão, constituída por «indiscutíveis» - e há-os... - que decida

· quais as comunicações que, pe­la qualidade e/ ou originalida­de, ou pelo que de concreto di­gam ou proponham sobre cer­tos temas específicos, devem ser lidas nas sessões de traba-

1 lho, com o subsequente debate sobre elas, e as que devem ape-

nas ser distribuídas pelos con­gressistas. Ê isto, de resto, que se passa na general idade dos

· Congressos científicos - e não há outro modo de dar eficácia a um Congresso. A não ser as­sim, o que acontece - e foi o que de facto aconteceu , muitas vezes , neste I Congresso - é haver mais gente fora do que dentro das salas em que as co­municações são apresentadas.

5. Acentue-se, porém, que o convívio amigável, a fecunda e informal troca de impressões, pontos de vista, «contactos», é um dos aspectos mais impor­tantes de um Congresso como o que agora se realizou em Lis­boa. Estes convívios e estes contactos são indispensáveis para um melhor conhecimento e relacionamento entre os escri­tores dos sete países lusófonos , em qualquer parte do mundo que eles se encontrem, escrito­res que em vários casos , como atrás salientei, são até velhos companheiros de lutas e de an ­seios.

E não oculto a minha espe­rança que o aprofundamento dos laços entre os criadores lite­rários dos «sete» contribua tam­bém para a maior aproxima­ção, que a todos os títulos se impõe, entre os seus países e povos. A grande comunidade dos países de língua portuguesa deve ser uma realidact'e viva e dinâmica - e para tanto os escritores têm o direito e o de­ver de dar um significativo contributo.

Até por isto - além da hos­pitalidade devida àqueles que nos visitaram - francamente não compreendo, e lamento , a ausência total , ou quase total , de muitos prestigiosos ou pres-

. tigiados escritores portugueses. Não acredito que todos tives­sem razões de ordem pessoal

· impossibilitá-los de estar pre­, sentes, e não admito que outras alegadas razões possam ser

. consideradas como boas para justificar tal ausência. Até do

1 simples ponto de vista da «hos-pitalidade» e da cordialidade devido a alguns dos escritores vindos de longe e que gosta­riam de os encontrar . ..

A criação literária, como to­da a criação, é um acto profun­damente individual e solitário. Mas os escritores - e os artis­tas, os intelectuais em geral - , enquanto tais, ou pelo menos enquanto cidadãos com espe­ciais responsabilidades, têm de ser gregários e solidários. De outro modo, além de pessoal­mente não se prestigiarem, so­cial e cívicamente não cum­prem as obrigações que tam­_bém têm perante a comunidade e o povo: e dão razão àqueles que dizem, de certos escritores, .que só lidos ...

7.3.89 dl 11

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