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AS METÁFORAS NO JORNALISMO CIENTÍFICO Análise das revistas Superinteressante e Galileu 19/08/2008 Carolina Gonçalves Pacheco* INTRODUÇÃO “A ciência e o jornalismo são as duas grandes forças do mundo moderno”. A afirmação do jornalista Manuel Calvo Hernando, reconhecido nome do jornalismo científico, denota a importância da divulgação científica na contemporaneidade. Existe de fato uma demanda mundial por informações de cunho científico, visto que é cada vez maior a velocidade com que se disseminam os avanços tecnocientíficos e a influência destes no cotidiano das pessoas, como afirma Dines:1 "As conquistas da ciência também ficaram mais disponíveis e acessíveis. Nossas vidas cotidianas estão impregnadas dos últimos avanços da tecnologia. Praticamente cada movimento de compra de produtos e serviços compreende a aquisição de uma nova tecnologia". As “maravilhas” da ciência, contudo também devem ser pensadas sob o ponto de vista crítico e racional. "As dúvidas e interrogações multiplicam-se a cada dia com velocidade semelhante à admiração e ao encanto que, ao mesmo tempo, a própria ciência desperta em todo cidadão". (CANDOTTI, 1990, p. 5). Como discutir o significado moral e ético da clonagem humana ou as repercussões na saúde do consumo de alimentos transgênicos, sem o intermédio do jornalismo? As inovações tecnológicas e as novas descobertas da ciência precisam ser trabalhadas pelo jornalismo, de acordo com seu papel social, para que todos possam entender suas implicações e compartilhar delas. Candotti (1990, p. 5) destaca: “A divulgação da ciência é hoje instrumento necessário para consolidar a democracia e evitar que o conhecimento seja sinônimo de poder e dominação”. No Brasil, o jornalismo científico tem crescido significativamente, nos últimos anos, fruto da consolidação da pesquisa nacional, que se ainda não atingiu o patamar desejado, já apresentou avanços. Inclusive uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup em 1987, encomendada pelo CNPq com o título O que o brasileiro pensa da Ciência e da Tecnologia?2 mostrou que aproximadamente 70% da população urbana brasileira tem interesse em ciência e tecnologia. Dessa forma, numa sociedade como a brasileira, em que o sistema escolar deixa em segundo plano o ensino das ciências em geral, a mídia e os meios de comunicação de massa atuam de maneira relevante no processo de popularização da ciência e na alfabetização científica. Um dos grandes desafios para quem escreve sobre ciência é como traduzir ciência para pessoas “comuns”, que se não são completamente leigas, ficam longe da posição de especialistas. Bueno3 explica: A decodificação do discurso científico pelo público leigo ainda é um obstáculo a ser vencido, particularmente nos países emergentes em que o analfabetismo científico se aprofunda, dada a velocidade com que novos fatos, conceitos e processos são trazidos à tona, notadamente em determinadas áreas, como a genética humana, a astrofísica, as ciências da computação, as telecomunicações e a segurança alimentar, para só citar os 5 exemplos mais contundentes. Tendo em vista que as informações e fatos científicos por envolverem certo grau de complexidade, requerem do redator científico a adoção de recursos que facilitem o

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AS METÁFORAS NO JORNALISMO CIENTÍFICO Análise das revistas Superinteressante e Galileu 19/08/2008 Carolina Gonçalves Pacheco* INTRODUÇÃO

“A ciência e o jornalismo são as duas grandes forças do mundo moderno”. A afirmação do jornalista Manuel Calvo Hernando, reconhecido nome do jornalismo científico, denota a importância da divulgação científica na contemporaneidade.

Existe de fato uma demanda mundial por informações de cunho científico, visto que é cada vez maior a velocidade com que se disseminam os avanços tecnocientíficos e a influência destes no cotidiano das pessoas, como afirma Dines:1 "As conquistas da ciência também ficaram mais disponíveis e acessíveis. Nossas vidas cotidianas estão impregnadas dos últimos avanços da tecnologia. Praticamente cada movimento de compra de produtos e serviços compreende a aquisição de uma nova tecnologia".

As “maravilhas” da ciência, contudo também devem ser pensadas sob o ponto de vista crítico e racional. "As dúvidas e interrogações multiplicam-se a cada dia com velocidade semelhante à admiração e ao encanto que, ao mesmo tempo, a própria ciência desperta em todo cidadão". (CANDOTTI, 1990, p. 5).

Como discutir o significado moral e ético da clonagem humana ou as repercussões na saúde do consumo de alimentos transgênicos, sem o intermédio do jornalismo? As inovações tecnológicas e as novas descobertas da ciência precisam ser trabalhadas pelo jornalismo, de acordo com seu papel social, para que todos possam entender suas implicações e compartilhar delas. Candotti (1990, p. 5) destaca: “A divulgação da ciência é hoje instrumento necessário para consolidar a democracia e evitar que o conhecimento seja sinônimo de poder e dominação”.

No Brasil, o jornalismo científico tem crescido significativamente, nos últimos anos, fruto da consolidação da pesquisa nacional, que se ainda não atingiu o patamar desejado, já apresentou avanços. Inclusive uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup em 1987, encomendada pelo CNPq com o título O que o brasileiro pensa da Ciência e da Tecnologia?2 mostrou que aproximadamente 70% da população urbana brasileira tem interesse em ciência e tecnologia. Dessa forma, numa sociedade como a brasileira, em que o sistema escolar deixa em segundo plano o ensino das ciências em geral, a mídia e os meios de comunicação de massa atuam de maneira relevante no processo de popularização da ciência e na alfabetização científica.

Um dos grandes desafios para quem escreve sobre ciência é como traduzir ciência para pessoas “comuns”, que se não são completamente leigas, ficam longe da posição de especialistas. Bueno3 explica:

A decodificação do discurso científico pelo público leigo ainda é um obstáculo a ser vencido, particularmente nos países emergentes em que o analfabetismo científico se aprofunda, dada a velocidade com que novos fatos, conceitos e processos são trazidos à tona, notadamente em determinadas áreas, como a genética humana, a astrofísica, as ciências da computação, as telecomunicações e a segurança alimentar, para só citar os 5 exemplos mais contundentes.

Tendo em vista que as informações e fatos científicos por envolverem certo grau

de complexidade, requerem do redator científico a adoção de recursos que facilitem o

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entendimento do público, estes usam da criatividade no sentido de descobrirem maneiras de proporcionar uma comunicação precisa e interessante, despertando a curiosidade e a atenção de um universo de leitores cada vez mais abrangentes.

Um dos valiosos instrumentos utilizados pelos jornalistas científicos é a metáfora. As metáforas dão espaço para o entendimento, excedendo o significado estritamente literal e favorecendo a compreensão, como destaca Lepecki:4

A metáfora faz parte da linguagem cotidiana de todos nós e sai-nos da boca sem darmos por ela. É um recurso bastante curioso, mesmo interessantíssimo, porque se pensarmos bem, quando metaforizamos é como se propuséssemos um absoluto contra-senso, porque dizemos que uma coisa é outra. Contudo, em vez de ficar absurdo, ilógico, incompreensível, o mais natural é que a metáfora expresse com perfeição o que queremos.

Reforçando a idéia do cientista Albert Einstein de que o mais surpreendente do

Universo é que ele é inteligível, as revistas de divulgação científica se propõem a levar seus leitores a compreenderem desde a estrutura de um microrganismo até a imensidão de um buraco negro. Faz-se necessário, portanto, perceber como o “mundo da ciência” aparentemente distante para a maioria, é traduzido em linguagem de fácil assimilação. A proposta deste trabalho de conclusão de curso é fazer uma análise da forma como o jornalismo científico (especificamente as revistas científicas Superinteressante e Galileu), seguindo o princípio básico do jornalismo, que é informar, consegue fornecer uma compreensão mais completa e realística dos fatos científicos através das metáforas.

Para abordagem da temática o ensaio está dividido em dois tópicos: o primeiro traz uma perspectiva geral do jornalismo, desde as primeiras manifestações da comunicação humana, passando pelo aparecimento do jornalismo especializado, o jornalismo científico até o surgimento das revistas especializadas em ciência no Brasil. Também é abordada a linguagem jornalística e as diferenças entre os discursos jornalístico e científico. O segundo tópico fala da importância das metáforas e seu papel na linguagem e são feitas análises de exemplos do uso das metáforas nas revistas Superinteressante e Galileu nos últimos cinco anos. Por fim são feitas considerações sobre o tema, contextualizando a importância da divulgação científica para o exercício da cidadania e como as metáforas funcionam em parceria com as revistas científicas.

1 NO CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO 1.1 “Do grunhido ao satélite”

“Fazer jornalismo científico é o privilégio de ser porta-voz da fronteira do conhecimento humano”. A declaração do jornalista freelancer Steve Mirsky em uma das reuniões promovidas pela Associação Nacional (americana) de Escritores de Ciência (NSWA), relatada por Fabíola Oliveira (2002, p. 11), mais do que admiração nos leva a refletir no quanto foi e é indispensável o exercício desta modalidade de jornalismo. As ciências caminham em várias direções e já há algum tempo o conhecimento científico deixou de ser alvo unicamente dos profissionais da área. Bueno5 afirma: "Este novo cenário evidencia, claramente, que a produção de ciência e tecnologia deixou, há muito, de ser preocupação exclusiva dos cientistas e que a sua divulgação deve estar respaldada em pressupostos e atributos que extrapolam a comunicação científica, e em particular o jornalismo científico".

Os redatores científicos precisam, segundo Warren Burkett, no livro Jornalismo Científico, usar instrumentos que possam auxiliar a retratar aquilo que é invisível ou incompreensível para um público não-cientista ou para um mais especializado em outra disciplina. Explica Burkett (1998, p. 09): "Como grande parte do mundo do cientista é pequena ou perigosa demais para ser sentida diretamente, ou tão grande que seu

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tamanho – como no mundo dos cosmologistas – não pode ser compreendido, quem escreve sobre ciência para o público em geral tenta explicá-la em termo de analogia e símiles".

A própria comunicação humana (objeto de vários estudos científicos) gera atenção e é explicada por Bordenáve (1985, p. 23):

Assim como cresce e se desenvolve uma grande árvore, a comunicação evoluiu de uma pequena semente – a associação inicial entre um signo e um objeto – para formar linguagens e inventar meios que vencessem o tempo e a distância, ramificando-se em sistemas e instituições até cobrir o mundo com seus ramos. E não contente em cobrir o mundo, a grande árvore já começou a lançar seus brotos à procura de estrelas.

O fato é que não se pode precisar exatamente o começo da comunicação humana.

A expressão “do grunhido ao satélite” usada por Juan Díaz Bordenáve, no livro O que é Comunicação, expressa a amplitude do estudo da comunicação, que nasceu nos primórdios do homem e o acompanha na sua evolução. O que parece estar claro é que a primeira forma organizada de comunicação foi a linguagem oral, acompanhada ou não da linguagem gestual. Pinturas nas paredes das cavernas, posteriormente, feitas pelo homem do período Paleolítico, a arte rupestre, datam da Idade da Pedra.

Desenhos primitivos, pintados por homens da era Paleolítica (entre 35.000 e 15.000 anos antes da era cristã), foram achados em cavernas como as de Altamira, Espanha, e Dordogne, França. Ali se observam cenas de caça envolvendo animais e pessoas. Não se sabe se o propósito destas figuras era mágico, estético ou simplesmente expressivo ou comunicativo (BORDENÁVE, 1985, p. 26).

Com o desenvolvimento crescente do Homo Sapiens, o volume de informações

aumentou e a maneira de repassá-la se aprimorou. “A necessidade de informações é um dos dados fundamentais de toda vida social” (ALBERT e TERROU, 1990, p. 03). O homem passa a ter consciência do espaço físico e de si mesmo. Começa a perceber a realidade simbolicamente, através dos signos. A linguagem, portanto, fundamenta-se na necessidade de mediação entre ele e seus semelhantes e ainda entre ele o ambiente.

Em civilizações anteriores à tipografia pode-se dizer que existiam correspondentes ao que conhecemos como jornalismo. Albert e Terrou (1990, p. 03) mencionam o papel desempenhado pelos contadores de histórias, desde os aedos gregos aos trovadores medievais, passando pelos feiticeiros africanos. Albert e Terrou (1990, p. 03) lembram: "A preocupação de conversar a narração dos grandes acontecimentos ou de descrever mundos estrangeiros, de Homero aos cronistas do final da Idade Média, de Heródoto a Marco Pólo, deu origem a obras que mutatis mutandis, se assemelham às nossas reportagens".

Os egípcios, com os hieróglifos (mistura entre a representação pictográfica e a pré-alfabética) inovaram. Através do papiro, as mensagens em vez de serem impressas em pedras e metais, ganharam mobilidade, modificando a forma de sociabilidade e a percepção, pela possibilidade técnica de transportar uma cultura através da remoção da mensagem. Um grande impulso foi dado com a fabricação do papel pelos chineses por volta do século VI a.C.

No século XV, a nova conjuntura social, econômica e intelectual do Ocidente tornou a população ávida por informações. O Renascimento, a Reforma Protestante, as descobertas da ciência, as guerras e tantos outros fatos geravam demanda de notícias. Porém somente em 1438, com a invenção da imprensa por Gutenberg, foi que a

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propagação das informações foi grandemente impulsionada. “Gutenberg permitiu a reprodução rápida de um mesmo texto e ofereceu à linguagem escrita as possibilidades de uma difusão que o manuscrito não tinha” (ALBERT e TERROU, 1990, p. 05).

Surgem na Europa, no final do século XV, as chamadas folhas volantes impressas. As gazetas, folhas de notícias que relatavam acontecimentos importantes da atualidade eram vendidas em livrarias ou por ambulantes. Os pasquins surgidos depois, falavam de acontecimentos sobrenaturais, crimes, catástrofes, etc. Já no século XVI, os libelos, folhas de caráter opinativo, em um primeiro momento falavam de polêmicas religiosas e depois políticas. Albert e Terrou (1990, p. 06) destacam: "Esses três tipos de folhas volantes ilustravam, pois, desde sua origem as três principais funções do jornalismo: a informação sobre os fatos da atualidade, o relato dos pequenos eventos do dia-a-dia, a expressão das opiniões".

Assim, da combinação destes três tipos de impressos, resultou no século XVII, um gênero intitulado jornalismo.

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1.2 “O papel do jornal”

A idéia da expressão “papel do jornal”, título de uma obra do jornalista Alberto Dines, faz referência à idéia da função do jornal, compactuada pela maioria da elite intelectual e social européia, que via o jornalismo como subliteratura, sem valor, em detrimento aos livros e brochuras. Isso porque a imprensa permanecia passiva, sem poder questionar. Diderot citado por Albert e Terrou afirma: "Todos esses papéis são o alimento dos ignorantes, o recurso dos que querem falar e julgar sem ler, o flagelo e o desgosto dos que trabalham. Nunca levaram um bom espírito a produzir uma boa linha, nem impediram um mau autor de fazer uma obra má". (ALBERT e TERROU, 1990, p.1 2).

O cenário, contudo, se modificou com a Revolução Francesa. A partir deste movimento revolucionário foi que o jornal pôde demonstrar sua real função social. Os fatos decorrentes da queda da Bastilha geravam curiosidade e interesse, aumentando o público leitor.

Foi preciso esperar a aceleração da marcha do mundo, e muito particularmente os períodos revolucionários, para que a importância dos acontecimentos que se precipitavam e a intensa curiosidade que a provocavam num público cada vez maior desse enfim à imprensa a possibilidade de conquistar, tanto na vida social como no jogo das forças políticas, seu lugar de primeiro plano (ALBERT e TERROU, 1990, p. 12).

À medida que os jornais instigavam o público a pensar, a estimular o seu senso

crítico, as autoridades não viam com bons olhos esta atuação. A censura começava então a impedir de alguma forma, o desenvolvimento dos impressos.

Um fator de grande relevância para a evolução do jornalismo foi a industrialização. A mecanização propiciou que o processo de impressão fosse mais rápido, dinâmico e barato. O público leitor foi tornando-se cada vez maior. Pode-se dizer que o século XIX foi um marco divisório para a imprensa mundial, já que nesse período ocorreram as grandes inovações do jornal.

Em cada nação o crescimento dos periódicos apresentava-se de forma distinta. Em terras norte-americanas, o progresso da imprensa levou a popularização do jornal sensacionalista, com violência nas primeiras páginas. Os jornais do país já eram bastante ilustrados, e daí aparece a seção de histórias em quadrinhos, um sucesso na época. Os jornais ingleses tinham variedade de assuntos, com espaços para os acontecimentos do dia, notícias sobre esportes, notícias de interesse feminino. Na França, os jornais tinham várias tendências, estilos e orientações. Jornais de esquerda, de direita, mas também jornais religiosos e monarquistas.

Na 2a Guerra Mundial, os jornais já disputavam a atenção do público com a televisão e com o rádio. Era necessário que se fizessem adaptações ao jornal impresso à nova situação. As campanhas publicitárias passaram a ganhar espaço nos periódicos impressos, como forma de manter o equilíbrio econômico das empresas. A imprensa passava, desde então, a assumir, cada vez mais uma postura empresarial para continuar existindo. 1.3 O jornalismo no Brasil

Enquanto na Europa e Estados Unidos o século XIX foi um período de grande efervescência do jornalismo, no Brasil só com a instalação da Corte Portuguesa em 1808, foi suspensa a proibição da impressão de livros e jornais. "O país vivia, até essa época, no total obscurantismo beletrista. A leitura e os estudos era privilégio dos filhos da nobreza, que podiam se dar ao luxo de estudar na Europa". (OLIVEIRA, 2002, p. 27).

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Vale lembrar que o estabelecimento de uma imprensa nacional foi dificultado por

quatro fatores: a escravidão, o alto índice de analfabetismo da população, o ruralismo e os empecilhos impostos pelo governo português. "O atraso da imprensa no Brasil, aliás, em última análise, tinha apenas uma explicação: ausência de capitalismo, ausência de burguesia. Só nos países em que o capitalismo se desenvolveu, a imprensa se desenvolveu". (SODRÉ, 1999, p. 28).

O primeiro número da Gazeta do Rio de Janeiro sai da Impressão Régia (casa editorial estatal, que mais tarde passa a se chamar Imprensa Nacional) no dia 10 de setembro de 1808. Nelson Werneck Sodré em História da Imprensa no Brasil, esclarece, que o jornal produzido pelo governo não tinha nada de atrativo para o público e não era esta mesmo a preocupação daqueles que o faziam.

1808 é também o ano de surgimento do Correio Braziliense, primeiro jornal independente do país, editado por Hipólito José da Costa sob os ares londrinos. Hipólito José da Costa citado por Fabíola Oliveira justifica: "Resolvi lançar esta publicação na capital inglesa dada a dificuldade de publicar obras periódicas no Brasil, já que pela censura prévia, já pelos perigos a que os redatores se exporiam, falando livremente das ações dos homens poderosos". (OLIVEIRA, 2002, p. 28).

Por volta de 1811 surge o A idade d’ouro, em Salvador, igualmente censurado. No ano seguinte, vem a público a primeira revista brasileira, As Variedades, publicada pelos maçons e com caráter meramente literário.

O príncipe regente Dom Pedro em 1821 abole a censura prévia a imprensa, com intenções de efetivar seus planos de independência do Brasil. Jornais como Reverbero Constitucional Fluminense e o Diário do Rio de Janeiro são lançados. O primeiro ganhou seu lugar na história como o primeiro diário político local e o segundo, como o primeiro a aceitar publicidade paga. Dois anos se passaram para que o já imperador Dom Pedro, colocasse fim ao liberalismo governamental. A primeira das muitas leis de imprensa foi decretada no ano de 1823.

A empresa jornalística, propriamente dita, só passou a existir no Brasil em 1890.

Por esta época, especialmente no Rio de Janeiro (centro de decisões e de movimento econômico) observam-se duas tendências no sentido de transformar a atividade jornalística em exploração comercial e industrial: de um lado, os jornais como a Gazeta de Notícias e o Jornal do Comércio, tradicionais folhas que vem do tempo do Império, modernizam-se (...) e passando a faturar, principalmente, a venda de espaço publicitário; de outro, surgem novos órgãos com o Jornal do Brasil e, pouco depois, o Correio da Manhã, já inteiramente estruturados como empresa e voltados, como qualquer negócio para o lucro como objetivo (MEDINA, 1988, p. 47).

O jornal noticioso logo toma forma, uma vez que, a ênfase recai sobre o que o

público quer e não sobre o que querem os que manipulam o jornal. Ganham corpo, a crônica esportiva, policial e social. O modelo norte-americano do lead (quem, onde, como, o quê, quando e porque) passa a ser largamente utilizado.

No governo de Getúlio Vargas é criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) como forma de sistematizar a estrutura de comunicação governamental e com a finalidade de cercear a liberdade de informação e expressão durante o Estado Novo (1937 – 1944).

Atualmente, o jornalismo brasileiro continua como a definição de Rossi (1986, p. 07) para o jornalismo, sua “fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos”.

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1.4 Jornalista: o especialista em generalidades?

Conforme ocorreram as mudanças no modo de produção jornalística a função do jornalismo foi sendo modificada. No momento que os jornais tinham um caráter político, o jornalista era opinativo, articulista e a informação visava conscientizar, doutrinar o público. Quando os jornais tornam-se empresas, a informação ganha a condição de bem público, presta um serviço à sociedade. Independentemente das mudanças ao longo do tempo, jornalismo sempre teve como meta atingir públicos amplos, reunindo as pessoas em torno de uma informação comum.

Com o desenvolvimento do jornalismo especializado, o público receptor passa a ser considerado de acordo com sua especificidade. A imagem do profissional associado a conhecimentos gerais básicos passa a não ser a única.

O jornalismo especializado além de promover o intercâmbio de informações e conhecimentos relativos à determinada atividade, contribui para o crescimento e o aprimoramento desta. Para cada tipo de jornalismo especializado, há uma linguagem mais ou menos apropriada, um conteúdo mais restrito e um público mais seleto. "O jornalismo especializa-se, porque busca aprofundar temas em separado e simultaneamente, atender a determinados públicos que, por necessidade ou interesse, procuram informações relativas à sua atividade, sua profissão, sua matéria de pesquisa e estudo ou mesmo seu lazer".6

No passado (jornalismo de opinião), eram mantidos nos quadros das redações, jornalistas especializados, que eram intelectuais, com a capacidade de discorrer com competência sobre os temas de seu domínio. Contudo, com a profissionalização cada vez maior dos jornalistas e com as evoluções da sociedade, a diversidade de assuntos de interesse social tornou-se tamanha, a ponto de não ser abordada com a profundidade necessária por um único profissional.

A dificuldade inicial é que também os jornalistas não podem ter uma carga tão universalizada de conhecimentos que lhes permita escrever, com a mesma facilidade, sobre medicina e política, energia nuclear e Afeganistão, Educação e Meio Ambiente. Há, é verdade, um crescente número de jornalistas especializados em diferentes temas (ROSSI, 1980, p. 36).

Mesmo que as empresas não consigam manter especialistas para todos os tópicos

que são notícias nos jornais, a especialização continua atualmente. Segundo Bucci (2000, p. 96), a especialização nos veículos jornalísticos vem mudando de perfil.

As grandes redações ainda contam com profissionais especializados em diferentes áreas, mas, mesmo esses, quando têm de checar um dado, precisam recorrer a ONG’s, a universidades, a pesquisadores de institutos ou laboratórios privados. Esse modelo traz pelo menos uma vantagem: o jornalista especializado já não é o comentarista que sabe das coisas; é antes de tudo um bom repórter especializado, com boas fontes alternativas, que sabe, isto sim, a quem perguntar.

Dentre as diversas especializações do jornalismo: econômico, cultural, esportivo,

político, o científico está entre um dos primeiros ramos da especialização a surgir.

1.5 Linguagem jornalística

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De acordo com Nilson Lage (1999, p. 35) o jornalismo processa informação em grande escala e para consumo imediato. E para isso precisa ter uma linguagem fácil, sem ser simplória e que atinja os mais diversos segmentos sociais para que seja de fato eficaz. "A situação corrente em jornalismo é a de um emissor falando a um grande número de receptores. Tais receptores formam um conjunto disperso e não-identificado, cujo conhecimento só é possível por meio de amostragem estatística". (LAGE, 1999, p. 40).

O jornalismo desempenha um papel social, e uma linguagem jornalística com características próprias, atua de maneira importante. "O jornalismo como segmento da comunicação de massa, exerce a função aparente de informar, explicar e orientar. As funções subjacentes são muitas, variadas, incluindo-se no rol a função econômica, a ideológica, a educativa, a social, entre outras". (LIMA, 2004, p. 11).

A linguagem jornalística deve ser clara e objetiva. Não é possível o estabelecimento de normas absolutamente rígidas devido a diversidade de temáticas com as quais o jornalismo se envolve.

O texto jornalístico procura conter informação conceitual, o que significa suprimir usos lingüísticos pobres de valores referenciais, como as frases feitas da linguagem cartorária. Sua descrição não pode se limitar ao fornecimento de fórmulas rígidas, porque elas não dão conta da variedade de situações encontradas no mundo objetivo e todas tendem a envelhecer rapidamente (LAGE, 1999, p. 36).

Como afirma Lage (1999, p. 39) a linguagem jornalística é referencial, ou seja,

“fala de algo no mundo, exterior ao emissor, ao receptor e ao processo de comunicação em si”. A referencialidade é uma marca da linguagem jornalística. "O domínio da referencialidade permite diferenciar a linguagem jornalística da linguagem didática, ainda quando esta se propõe a divulgação do conhecimento ou divulgação científica: nos textos didáticos, predomina a metalinguagem, isto é, a explicação ou definição de um item léxico por outro (...)". (LAGE, 1999, p. 39).

Mesmo com a referencialidade do jornalismo, as metáforas têm o seu lugar na linguagem jornalística, e desempenham uma função importante, sobretudo no jornalismo científico. "As metáforas da linguagem corrente, e as do jornalismo, correspondem freqüentemente a sublimações. A agressividade explícita na transfere-se para luta partidária, a batalha parlamentar, a campanha eleitoral. O impulso alimentar, ou de posse, motiva toda a retórica do consumo". (LAGE, 1999, p. 45).

2 JORNALISMO CIENTÍFICO: UM UNIVERSO EM EXPANSÃO 2.1 Jornalismo científico: conceito

O jornalista Aberto Dines ao definir o jornalismo científico, afirmou que ele é uma combinação de três elementos, “almanaque, bula de remédio e folhetim”. Longe de querer discordar da declaração de Dines,7 é importante que se defina mais precisamente o que é o jornalismo científico.

O jornalismo científico está relacionado à divulgação de ciência e tecnologia através dos meios de comunicação de acordo com os critérios e o sistema de produção jornalísticos.

O jornalismo científico, que deve ser em primeiro lugar jornalismo, depende estritamente de alguns parâmetros que tipificam o jornalismo, como a periodicidade, a atualidade e a difusão coletiva. O jornalismo, enquanto atividade profissional, modalidade do discurso e forma de produção tem

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características próprias, gêneros próprios e assim por diante.8

Deve-se atentar, pois, como se relacionam as duas partes essenciais do jornalismo

científico e que definem o conceito: o jornalismo e o científico. Freqüentemente, vemos nos meios de comunicação, a divulgação de materiais sobre ciência e tecnologia, que não podem ser consideradas como jornalismo científico, exatamente porque não são em princípio jornalismo. Nos jornais e revistas, estão incluídos os anúncios, e estas mensagens são publicidade. É importante uma diferenciação.

Divulgação científica e jornalismo científico não são a mesma coisa, embora estejam muito próximos. Ambos se destinam ao chamado público leigo, com a intenção de democratizar as informações (pesquisas, inovações, conceitos de ciência e tecnologia), mas a primeira não é jornalismo. É o caso, tanto dos fascículos como de uma série de palestras que traduz em linguagem adequada a ciência e tecnologia para o cidadão comum. Mais uma coisa para guardar: o jornalismo é um caso particular de divulgação científica: é uma forma de divulgação endereçada ao público leigo, mas que obedece ao padrão de produção jornalística. Mas nem toda a divulgação científica se confunde com jornalismo científico.9

Tem-se ainda uma outra modalidade de difusão de ciência e tecnologia chamada

de disseminação científica, que tem como público-alvo, os especialistas, os próprios pesquisadores e cientistas. Como ensaios, materiais apresentados em congressos, etc.

Portanto é preciso que fique esclarecido: jornalismo científico, divulgação científica e disseminação científica são conceitos diferentes, que expressam manifestações diferentes do amplo processo de difusão de informações sobre ciência e tecnologia.

O jornalismo científico abrange também as chamadas ciências humanas e não somente as exatas (Química, Física, etc.). Em função da especialização de algumas áreas, têm adquirido denominações particulares: jornalismo ambiental, jornalismo em agribusiness, jornalismo em saúde, jornalismo em informática, por exemplo. Mas todos remetem para o jornalismo científico, como o termo mais abrangente. 2.2 O nascimento do jornalismo científico

As origens do jornalismo científico remontam ao século XVI, quando a Igreja e o Estado procuravam censurar as atividades dos primeiros cientistas e estes encontravam-se clandestinamente para trocarem informações sobre suas descobertas. Desses encontros, que reuniam além dos cientistas, outros grupos de elite, como nobres, artistas e mercadores, nasceu a tradição de se ter uma comunicação aberta a respeito de temas científicos.

Há quem afirme que o surgimento da imprensa no século XV, além de ajudar a impulsionar a difusão da ciência, favoreceu ao surgimento do jornalismo científico no século XVII. "Os livros de história da ciência dão como certo que a difusão da impressão na Europa nessa época acelerou a criação de uma comunidade de cientistas, fazendo com que idéias e ilustrações científicas se tornassem disponíveis a um grande número de pessoas". (OLIVEIRA, 2002, p. 17).

Segundo Fabíola Oliveira (2002), enquanto em 1609, surgiam os primeiros jornais com periodicidade regular na Alemanha, como o Aviso, em Wolfenbüttel e o Relation em Estrasburgo, no ano seguinte, o astrônomo Galileu Galilei publica seu livro Mensageiro celeste, no qual relata em linguagem simplificada e acessível sua descoberta e observações feitas das três luas no planeta Júpiter. "Na obra O momento criativo (1992),

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o autor Joseph Schwartz relata que a “demonstração por observação direta que os corpos celestes podiam se mover ao redor de outros centros que não fossem a Terra era o assunto do momento nos salões da nobreza e nos bares dos peixeiros”. (OLIVEIRA, 2002, p. 18).

Já no século XX, as duas guerras mundiais, contribuíram para o avanço do jornalismo científico na Europa e Estados Unidos. A aproximação entre cientistas e jornalistas resultou em um aumento da cobertura, porque por ocasião das guerras se destacaram as ciências: novas armas, desenvolvimento da penicilina, possibilidade de novos transportes aéreos, entre outros.

Dines10 aponta a chegada do homem à Lua como um dos marcos do jornalismo científico. “A grande sensação foi a chegada do homem à Lua em 21 de julho de 1969, transmitido ao vivo pela TV, episódio eletrizante que inaugura a era da Ciência como Notícia Quotidiana”. O jornalista faz uma diferenciação da cobertura jornalística sobre ciência do passado e a atual: "O que diferencia a cobertura científica daqueles tempos da de hoje é que antes noticiavam-se preferencialmente os feitos espetaculares, a culminação de longos anos de investigação e pesquisa. Não se cobriam congressos com freqüência, muito menos as publicações científicas e acadêmicas.11 2.3 Jornalismo científico no Brasil

Para entender o desenvolvimento do jornalismo científico no Brasil é preciso que se relacione as origens do atraso científico do país ao processo de colonização experimentado, voltado muito mais para a exploração do que para a expansão. "A pesquisa científica no Brasil era incipiente até o século XIX e só começou a mostrar alguma força a partir do final desse século, quando a comunidade científica começou a organizar-se. (OLIVEIRA, 2002, p. 28).

Foram identificados pela jornalista Luisa Massarani da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) alguns antecedentes do jornalismo científico no Brasil, especialmente nas últimas décadas do século XIX. A Revista Brazileira (1857), a Revista do Rio de Janeiro (1876) e a Revista do Observatório (1886), publicada pelo Imperial Observatório do Rio de Janeiro. Também foi encontrado o primeiro livro brasileiro a refletir sobre a importância da divulgação da ciência, A vulgarização do saber, escrito por Miguel Ozório de Almeida e publicado em 1931.

No livro Os sertões, o jornalista, militar e engenheiro civil Euclides da Cunha, relata a Guerra de Canudos (1897), discutindo em vários momentos as variações de clima, a qualidade da terra, a vegetação, a água e minerais na região de Canudos. Publicada no início do século XX a obra pode ser considerada como uma das pioneiras na área de divulgação científica. Fabíola Oliveira reproduz no livro Jornalismo científico, um trecho de Os sertões:

Esta parte do sertão, na orla dos tabuleiros que se dilatam até Jeremoabo, diverge muito das que temos rapidamente bosquejado. É menos revolta e é mais árida. Rareiam os cerros de flancos abruptos e estiram-se chapadas grandes. O aspecto menos revolto da terra, porém, encobre empeços porventura mais sérios. O solo arenoso e chato, sem depressões em que se mantenham reagindo aos estios, as cacimbas salvadoras, é absolutamente estéril. E como as maiores chuvas ao caírem, longamente intervaladas, mal o embebem, prestes desaparecendo sorvidas pelos areais, cobre-o flora mais rarefeita, transmudando-se as caatingas em catanduvas (OLIVEIRA, 2002, p. 32).

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Oliveira (2002, p. 33) destaca que Euclides da Cunha é um dos precursores do jornalismo cientifico e ambiental, fazendo uso da informação científica para auxiliar na compreensão da realidade.

Somente a partir da década de 1940, a ciência passou a ganhar relevância por parte do governo e da sociedade em geral, influenciadas pelo término da Segunda Guerra Mundial. Pode-se destacar como fato marcante a criação em 1948, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entidade que congrega todas as sociedades científicas do Brasil. Em 1951, foi criado o Conselho Nacional de pesquisas (CNPq), primeiro esforço governamental para regulamentar a ciência e a tecnologia. Por três décadas, antes da criação do Ministério da Ciência e Tecnologia foi o CNPq, que regulamentou todas as ações estatais na área.

Durante o governo militar, o exercício do jornalismo científico no Brasil, foi como toda a atividade jornalística, colocada sob a intervenção da censura, que só permitia que se divulgasse com “ufanismo”, as grandes obras e projetos da época, como a rodovia Transamazônica, as hidrelétricas, as indústrias bélicas, e também o programa nuclear e o aeroespacial. Nem a sociedade, nem o Congresso puderam emitir opinião sobre as demais atividades desenvolvidas pelos Centros de Pesquisa, já que estavam mal informadas.

A década de 80 marca, segundo Isaltina Gomes (2001), como uma época de grande impulso dado pelo mercado editorial brasileiro ao jornalismo científico. "A tendência à abertura de espaços para a divulgação da ciência pôde ser verificada tanto no âmbito das revistas quanto da imprensa diária – quando grandes jornais do país, como a Folha de São Paulo, o Jornal do Brasil, o Estado de São Paulo e O Globo criaram seções específicas e até mesmo cadernos sobre o assunto". (GOMES, 2001, p. 98).

Não é possível falar de jornalismo científico no Brasil, sem mencionar o nome de José Reis. Um dos fundadores da SBPC, J. Reis, como assinava seus artigos, foi o introdutor do jornalismo científico na imprensa brasileira e “percebeu mais do que nenhum outro a potencialidade do jornalismo para disseminar idéias científicas e organizar uma resistência política, necessária a este projeto” (CAPOZOLLI).12 J. Reis foi bastante conhecido por sua coluna científica publicada semanalmente na Folha de São Paulo, desde 1947 até o fim de sua vida, em maio de 2002. 2.4 Discurso científico versus discurso jornalístico

São diferentes os métodos de pesquisa científica e do jornalismo científico. As

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formas de produção do cientista e do jornalista de fato, têm grandes diferenças de linguagem e finalidade. Oliveira (2002, p. 43) destaca:

Enquanto o cientista produz trabalhos dirigidos para um grupo de leitores, específico, restrito e especializado, o jornalista almeja atingir o grande público. A redação do texto científico segue normas rígidas de padronização e normatização universais, além de ser mais árida, desprovida de atrativos. A escrita jornalística deve ser coloquial, amena, atraente, objetiva e simples.

As relações entre cientistas e jornalistas muitas vezes é estremecida pelos

interesses e modos próprios da atividade de cada um.

Os primeiros vivem acusando os últimos de cometerem muitos erros. Como diz o ditado, não vou dourar a pílula. Jornalistas erram, principalmente quando têm que trabalhar contra o tempo – essa situação ganha contornos mais dramáticos no jornalismo diário, em que raramente, tem-se menos de uma hora para apurar e escrever uma reportagem sobre um assunto que mal ouviu falar. (...) Porém só os jornalistas erram? Sabemos que não (VIEIRA, 2001, p. 68).

O Manual do Periodismo Educativo y Científico,13 lançado pelo CIMPEC,14 entre

outras coisas destaca, a importância do redator científico ter grande capacidade de observação, sentido jornalístico e clareza de pensamento. O manual enfatiza as características que diferenciam os jornalistas e cientistas.

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Cientista Jornalista 1. É um redator ocasional. 1. É um redator permanente. 2. Escreve apenas quando necessário e pode ficar muito tempo sem redigir.

2. Escrever é o seu trabalho de todos os dias.

3. Tem um estilo polido, fiel, caprichado, embora alguns não o entendam.

3. Redige com facilidade e quer que todos os compreendam.

4. Não aceita limites para a extensão, organização, apresentação e estilo de seus trabalhos.

4. Deve seguir determinados estilos e adaptar-se às normas do jornal que lhe indica, inclusive, o espaço que dispõe.

5. Especializa-se em uma ciência e às vezes apenas em uma parte dela e tem escassos conhecimentos sobre comunicação.

5. Não é especializado em ciências, mas domina as técnicas da comunicação.

6. O cientista tende ao tecnicismo, o que pode tornar obscuro seu trabalho.

6. Interessa-lhe sobretudo, a clareza e o entendimento do que escreve.

7. Para o cientista, a ciência é seu trabalho.

7. Para o jornalista, a ciência é notícia.

8. É exato e rigoroso. 8. É descritivo e ameno. 9. Pode ser vítima de pressões.

9. Pode ser vítima da falsa ciência.

10. Suas virtudes são o rigor e a profundidade.

10. Suas virtudes são a rapidez e a verdade.

11. Há especialistas mesquinhos, sábios, incultos, rotineiros, fruto de uma formação incompleta e desumanizada.

11. Há jornalistas desavergonhados, despreocupados com a sua sociedade e que se deixam levar pelo oportunismo e pela ignorância.

Polêmicas à parte sobre a diferenciação feita pelo manual, o fato de ser distinto

não faz das duas áreas opostas. O jornalismo científico pode e deve encontrar meios de se aproximar da ciência, para que o esclarecimento ocorra da melhor forma e cative o público. Como destaca Burkett (1990, p. 06):

Portanto, a redação científica tende a ser dirigida para fora, para audiências além da estreita especialidade científica onde a informação se origina. O escritor da ciência torna-se parte de um sistema de educação e comunicação tão complexo como a ciência moderna e a sociedade mais ampla. Em seus alcances mais extremos, a redação científica ajuda a transpor a brecha entre cientistas e não-cientistas.

Em entrevista a Ubirajara Júnior, o jornalista espanhol Manuel Calvo Hernando

enfatiza como se dão as relações do jornalismo e da ciência.

E entre a ciência e jornalismo, há pontos de contato e pontos de não-contato. Entre os primeiros, estão

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os que se referem ao conhecimento, quer dizer, o pesquisador tem como obrigação descobrir fatos novos e o jornalista tem como obrigação colocar fatos à disposição do público. O que fazer sobre isso? Bom, é preciso resolver problemas de linguagem, de transcodificação.15

3 O JORNALISMO EM REVISTA

3.1 A revista no Brasil

Como já foi mencionado, a revista As Variedades (1812), foi a primeira publicação do gênero no Brasil, ainda que o rótulo só viesse a ser adotado em 1828, com o surgimento da Revista Semanaria dos Trabalhadores Legislativos da Câmara dos Senhores Deputados. Porém as revistas só ganham o público e o caráter atual, depois de muito tempo. Em A Revista no Brasil (2000) esclarece-se que as primeiras revistas do país eram publicações eruditas e não noticiosas, revistas voltadas para divulgação literária, entre outras.

Com o tempo as revistas foram tornando-se mais noticiosas, ainda que bastante primárias. A fotografia e a ilustração ganham espaço e permanecem. As coberturas feitas davam muita ênfase a fotografia como o que ocorreu na gripe espanhola no Rio de Janeiro em 1918, com pequenos textos-legendas. As pautas não tinham espaço para a imaginação, os jornalistas escreviam sobre o que ocorria na atualidade, conforme afirma a publicação A Revista no Brasil.

Segundo A Revista no Brasil na década de 30, o quadro modificou-se e as revistas a partir de fatos importantes para o nacionalismo brasileiro como a Revolução de 30 e a eleição de uma Miss Universo do país. A revista O Cruzeiro foi a primeira a dar espaço para a reportagem, diversos temas como esporte, política, artes e espetáculos, consumo, modos de vida, tudo que dizia respeito a realidade brasileira da época, passaram a figurar na página de várias publicações.

Entre 1950 e 1960, a imprensa se modernizou com a época de ouro da revista O Cruzeiro, que chegava a vender mais de um milhão de exemplares semanalmente e o lançamento de revistas como Realidade e que prestigiavam o fotojornalismo como Manchete.

A partir do crescente papel das revistas na sociedade brasileira, criou-se a necessidade de atender públicos cada vez mais especializados e diversificados. Como lembra A Revista no Brasil o fenômeno da segmentação formou públicos, como a família, o homem, o adolescente, que ganharam títulos específicos. Em alguns casos até o desdobramento de revistas, com ainda mais especificidade.

Conforme destacam Rokeach e Defleur (1997, p. 134), com o advento da televisão, as revistas de variedades em circulação, como Manchete, O Cruzeiro, diminuíram, em contrapartida aumentaram a quantidade de revistas especializadas. O que não quer dizer que as revistas semanais de variedades como Veja e Época, estejam em declínio.

Observamos atualmente publicações para o público feminino, como Cláudia, Nova e Manequim, das quais se originam títulos específicos como Cláudia Cozinha e Cláudia Decoração. Revistas falando da vida das celebridades que são sucesso de vendas, como Caras, Isto é Gente, Quem, Tititi, Contigo, entre outras. Revistas falando de esoterismo, como Planeta, Horóscopo. Até os donos de animais, não foram esquecidos, com revistas como Au! Cães e Focinho. Publicações voltadas para o público masculino (Playboy, Sexy), para os futuros papais e mamães (Pais e Filhos), para os homossexuais (G Magazine), enfim, para esportistas (Contra Relógio), para jornalistas (Imprensa), e muitos outros públicos. 3.2 Panorama das revistas científicas

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As revistas especializadas em ciência e tecnologia situam-se, de acordo com Isaltina Gomes (2001) dentro de uma tipologia e podem ser classificadas em: revistas de disseminação científica e revistas de divulgação científica.

Segundo a autora, mesmo tendo como objetivo principal a difusão da ciência, os dois modelos apresentam características diferentes. As revistas de disseminação científica “reproduzem o conhecimento com o intuito de gerar mais conhecimento, são produzidas por pesquisadores, dirigidas aos pares e, por isso mesmo, veiculam textos altamente especializados” (GOMES, 2001, p. 98). Este tipo de publicação comporta revistas científicas, periódicos especializados publicados por universidades, institutos de pesquisa e sociedades científicas. Já as revistas de divulgação científica veiculam textos com linguagem acessível a não-especialistas, e também dentro desse tipo há uma subdivisão. Como explica Gomes (2001, p. 99):

Quando a revista de divulgação científica reproduz o conhecimento apenas com o propósito de informar, tem como alvo um público não-especializado e publica textos produzidos exclusivamente por autores jornalistas é denominada revista jornalística especializada em ciência, a exemplo de Superinteressante e Galileu. Mas, quando a revista de divulgação científica veiculam textos de autores jornalistas e autores pesquisadores e tem como público-alvo especialistas e não-especialistas, como Ciência Hoje, não se pode falar de revistas jornalísticas. Trata-se de uma publicação de natureza híbrida (...).

3.3 As revistas científicas brasileiras

Alguns fatores influenciaram de forma direta no crescimento do jornalismo científico no Brasil. Acompanhando esse desenvolvimento, nasceram as revistas de ciência e tecnologia do Brasil.

Grandes eventos de repercussão nacional influenciaram esse boom do jornalismo científico no Brasil na década de 80, como a passagem do cometa Halley (1986), a descoberta da supernova de Shelton (1987), da supercondutividade, a anúncio não confirmado da fusão a frio, as viagens espaciais e as questões ambientais (OLIVEIRA, 2002, p. 38).

A pioneira Ciência Hoje, publicação da SBPC surgiu em julho de 1982 e tinha como

meta divulgar ciência à sociedade e teve uma grande aceitação do público inicialmente.

O primeiro número de CH, com 15 mil exemplares, precisou ser reeditado, porque as vendas nas bancas superaram as expectativas (...). Seis meses após o lançamento, a Ciência Hoje já tinha cerca de quatro mil assinantes, num período em que a SBPC tinha sete mil sócios e o Brasil, um total de 15 mil cientistas. Ainda no final de 1982, recém-lançada, a CH fatura uma menção honrosa do prêmio J. Reis, promovido pelo CNPq. No ano seguinte, é a vez de levar o prêmio propriamente dito (COSTA apud GOMES, 2001, p. 101).

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A revista Ciência Hoje desde seu lançamento foi subsidiada pelo governo (CNPq e Finep) através da venda de espaços publicitários, o que restringiram, conforme assinala Del Vechio apud Gomes (2001, p. 103) a procura de outros anunciantes de produtos na área de ciência e tecnologia. Tal quadro deixou a revista suscetível a crises econômicas.

A proposta inicial da revista de ser um elo de ligação entre a comunidade científica e a população, através de uma linguagem simples foi aos poucos dando lugar a uma linguagem técnica e ininteligível para a maioria.

Del Vechio também aponta a linguagem hermética como um dos fatores que têm impedido Ciência Hoje alcançar integralmente o objetivo da divulgação científica. Para ela a revista cada vez mais se distancia de seu objetivo, limitando-se a um público cada vez mais específico e cada vez mais especializado (GOMES, 2001, p. 106).

Em 1998, a direção da Ciência Hoje inaugurou um novo projeto gráfico, visando

ampliar o mercado e fazendo reformulações editoriais, que tornassem a linguagem mais simples.

Inicialmente encartada na Ciência Hoje, a Ciência Hoje das Crianças passou em 1990, a ser uma publicação independente, e sendo, de acordo com Bianca Encarnação (2001) a única publicação brasileira desta natureza destinada ao público infanto-juvenil.

A concepção da publicação partiu do pressuposto que meninos e meninas, com idade entre sete e 14 anos, podem ter interesse despertado para fatos de todas as áreas da ciência. Assim Ciência Hoje para Crianças firmou-se como uma publicação multidisciplinar, abordando ciências exatas, humanas e biológicas, dedicando especial atenção para a educação ambiental, e abarcando também temas relacionados à cultura (ENCARNAÇÃO, 2001, p. 110).

A revista Superinteressante surgiu em 1987, através de um acordo com a Editora

Abril e o escritório espanhol da empresa Gruner & Jhar, empresa responsável pelo projeto da revista Muy Interessante, lançada com sucesso na Alemanha, Espanha, França, México, Colômbia, Venezuela, Equador e Argentina. Carvalho apud Gomes (2001, p. 103) destaca que entre as características da Superinteressante estão o grande número de matérias internacionais e o uso de infografia (“ilustrações informativas utilizadas para facilitar e atrair a compreensão do leitor”).

Esta atitude de preferência ao que pode ser criado (o desenho) em detrimento da fotografia relaciona-se com o objetivo de superar o que é comum, usando tecnologia e criatividade. É raro encontrar-se um desenho simples, pois os infográficos de Superinteressante usam recursos de computação que possam proporcionar uma aparência mais próxima do real. O visual arejado é mais um atrativo para conseguir capturar o leitor jovem buscado pela revista (CARVALHO apud GOMES, 2001, p. 103).

A revista Superinteressante é considerada um dos grandes projetos editoriais das

últimas décadas no Brasil, com grandes tiragens. O que levou inclusive ao lançamento de vários títulos relacionados à publicação, como Vida Simples, Aventuras na História,

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Revista das Religiões, Mundo Estranho, Bichos!, além, de DVD’s, livros, coleção de CD’s com os últimos anos da revista, entre outros. O que comprova segundo Caparro apud Gomes (2001, p. 104) a existência de uma demanda significativa pela informação tratada em linguagem jornalística.

Em 1991 foi lançada a revista Globo Ciência. Como afirma Gomes (2001, p. 104) a revista tinha como proposta ser popular e prática, sem ser juvenil, como se propunha inicialmente a Superinteressante. O projeto da Globo Ciência era abordar todos os assuntos que estivessem relacionados à ciência e tecnologia, contudo as notícias a respeito de inovações que afetassem diretamente o cotidiano das pessoas tinham prioridade, com o intuito de causar proximidade das pessoas com a ciência. Gomes (2001, p. 104) destaca que apesar de ser uma publicação puramente nacional, a Globo Ciência firmou em seu início, convênio com duas revistas estrangeiras para ter o direito de reproduzir algumas de suas matérias, a norte-americana Popular Science e a francesa Science et Vie.

O sucesso do início não se sustentou, porque de acordo com Chaparro apud Gomes (2001, p. 104), a renda da classe média brasileira foi reduzida drasticamente, a revista não tinha uma linha editorial definida e não tinha bem estabelecido um público. Assim, em 1998, a Globo Ciência passou a se chamar Galileu, mudando o formato e projeto gráfico com um projeto mais parecido com a Superinteressante. Luiz Henrique Fruet, então diretor de redação da revista, destacou em março de 1999: "Por meio de conversas informais, e depois pesquisas com leitores, publicitários e anunciantes, chegamos à conclusão de que a palavra “ciência” no título assustava muitos leitores em potencial, que mesmo sem conhecer o conteúdo da revista, achavam que ela era dirigida a cientistas, ou a estudantes de física, ciências exatas (...)". (GOMES, 2001, p. 105).

Gomes (2001, p. 105) enfatiza que as modificações ocorridas não alteraram a proposta inicial da revista:

Apesar das alterações na “embalagem”, a proposta editorial de Galileu é basicamente a original de Globo Ciência, acrescida de uma maior freqüência de matérias de informática e comportamento. A diferença entre as duas revistas é basicamente de edição, com um visual mais aberto e mais ilustrações. Mudou a forma, mas o conteúdo é o mesmo. Apenas a linguagem visual sofreu alteração, o texto obedece ao mesmo modelo do início. As mudanças foram elaboradas com uma estratégia para elevar o nível de vendas.

Enquanto a edição americana da Scientific American está às vésperas de comemorar seu 160o aniversário, a edição brasileira completa em junho de 2004, dois anos de existência. Ulisses Capozzoli no editorial da revista de fevereiro de 2004, lembra que a edição americana surgiu com uma publicação voltada para a proteção de patentes e participou de forma ativa na chamada revolução científica nos Estados Unidos.

A edição brasileira não reproduz os assuntos de capa e os artigos da Scientific American americana. Ulisses Capozzoli justifica o fato no editorial. “Scientific American Brasil, evidentemente, tira partido dessa longa e bem-sucedida trajetória, mas as condições históricas da produção científica aqui são muito diferentes daquelas registradas nos Estados Unidos e em outros países onde a revista é editada”.

Segundo Ulisses Capozzoli, editor da Scientific American Brasil, a revista procura atender mais de perto o público brasileiro, resguardando a pesquisa nacional e as peculiaridades do público, sem deixar de lado as novidades tecnológicas de outros países. Afirma ele: “Por essas e outras razões os leitores brasileiros têm um perfil específico, da mesma forma que o público leitor de outras edições nacionais – caso da Itália, França, Polônia ou Japão. Esta é a principal razão para a edição brasileira destacar os assuntos de capa que estejam mais próximos da realidade nacional. É a razão, também, para publicarmos trabalhos desenvolvidos aqui”.

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4 JORNALISMO CIENTÍFICO E METÁFORAS: RETAS TANGENTES

É inegável o quanto a Ciência e seus avanços ganham espaço na mídia nos últimos tempos e das formas mais variadas. “O sonho da criação e a criação do sonho: a arte da ciência no tempo do impossível” foi o enredo da escola de samba Unidos da Tijuca no carnaval 2004, e que levou a escola a um inédito vice-campeonato. A maneira criativa e envolvente como a escola se apresentou na Marquês de Sapucai chamou a atenção do público e dos jurados para o tema. O que demonstra que a forma de se tratar de ciência para o grande público é fundamental para a sua popularização. O fato inclusive ganhou notoriedade internacional ao ser citado por uma das mais importantes revistas de divulgação científica do mundo, a revista Nature e que foi registrado pela seção Gente da revista Veja (edição 1843, 3 de março de 2004). “Olelê, olalá, olha o DNA. E assim sucedeu que, neste ano, o Carnaval foi parar nas páginas da revista Nature, “a Unidos da Tijuca celebrou as conquistas da ciência”, elogiou a veneranda publicação especializada (...).

O entendimento das informações científicas por parte do grande público, muitas vezes não ocorre de forma fácil e simplificada, principalmente no campo de determinadas ciências. Assim, a utilização de recursos para facilitar a compreensão são de fundamental importância para que o objetivo do jornalismo seja alcançado. E as metáforas desempenham bem esse papel. 4.1 O poder das metáforas

Desde que se têm registros, as metáforas sempre foram utilizadas pelo homem. A humanidade em sua fase oral, utilizava os contos, os adágios, as parábolas, as metáforas para ensinar às gerações mais jovens, perpetuando sua história e consolidando sua cultura. Jesus Cristo, o “mestre das metáforas”, já recorria a elas através de suas parábolas. "Em todas as culturas existe um tipo de metáfora singular nas mãos das pessoas mais simples: o provérbio, que, parafraseando uma bela metáfora da palavra lançada à mente, de Gianni Rodari, é como uma pedra jogada num lago, provocando ondas de superfície e profundidade". (NICOLAU, 1998, p. 97).

A própria constituição dos mitos, que são “narrativas de eventos que supostamente, aconteceram antes da história escrita”, (Galileu, edição 152, março de 2004) baseia-se em metáforas. “Por estarem pautados em metáforas e representações que são próprios aos povos que os criam, os mitos estão sempre presos à particularidades culturais que os produziram – mesmo que tratem de questões universais” (Galileu, edição 152, março de 2004). Os mitos normalmente explicam a origem do homem, morte, nascimento e tantas outras coisas relacionadas ao universo humano. O que não quer dizer que na atualidade não existam mitos. “Mesmo na cultura ocidental contemporânea, que valoriza a racionalidade, os mitos estão muito presentes. Não apenas como ilusões em que se acredita ou como heróis e heroínas a que e venera (por exemplo, na cultura pop), mas como conjuntos de justificativas éticas que dão identidade a um povo” (Galileu, edição 152, março de 2004).

Os gregos por conta da vigência da democracia e por isso tendo de expor suas idéias, foram os primeiros a mostrar interesse pela expressão verbal. Contudo a preocupação deles não residia no simples ato de falar e sim na forma de fazê-lo, buscando o convencimento da platéia e a elegância, a disciplina que tinha esta finalidade era a Retórica, que procurava a harmonia no falar e “fazê-lo de modo convincente e elegante, unindo arte e espírito, bem ao gosto da cultura clássica” (CITELLI, 1985, p. 7). Ao longo do tempo a retórica ganhou visões que deixavam de lado a busca pela harmonia e a composição do discurso, para valorizar o enfeite da palavra; atualmente os estudos ganharam novas perspectivas, trabalhando com figuras de linguagem e técnicas de argumentação.

Dentre os gregos, a manutenção do poder através da palavra era vista como grande sabedoria e ao mesmo tempo Ciência e Arte. Vários pensadores gregos dedicaram-se ao tema, todavia Aristóteles, com seus livros Arte Retórica I, II, III, é

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quem aprofunda o estudo do discurso. Para Aristóteles, a retórica é método verificativo de como se produz persuasão e não poderia estar no campo da ética, pois não se preocupa com o que está sendo dito, mas como está sendo dito e de forma eficiente. Em Arte Retórica é colocado um dos mecanismos mais eficientes e claros para o uso nos discursos persuasivos, que é a fixação da estrutura do texto em quatro instâncias relacionadas: exórdio, a introdução ao discurso, visando a fidelidade dos ouvintes; narração, o assunto em si, a argumentação; provas, elementos que sustentam a argumentação e peroração, a conclusão, última oportunidade para assegurar a persuasão.

O ato de persuadir trabalha com a verossimilhança, que nada mais é do que tornar verdadeiro algo a partir de sua lógica. Não quer dizer que a persuasão é apenas enganar, mas o resultado da forma como o discurso se organizou de modo a tornar-se verdadeiro para o receptor.

A Retórica codificou alguns raciocínios discursivos, são eles: o raciocínio apodítico possuindo a verdade inquestionável, utilizando o caráter imperativo, o raciocínio dialético, que cria no receptor a impressão de que existe uma abertura no discurso e o raciocínio retórico, que trabalha no convencimento racional e emotivo do receptor. As figuras de Retórica têm importante papel para prender a atenção do receptor nos argumentos usados no discurso, as mais freqüentes são a metáfora e a metonímia.

Diversas áreas do conhecimento humano, como a Psicologia, a Filosofia e as Artes têm nas metáforas fortes aliadas. Muitas vezes, a própria metáfora pode ser o tema como na música Metáfora de Gilberto Gil. “Deixe a meta do poeta / não discuta / Deixe a sua meta fora da disputa / Deixe-a simplesmente metáfora”.

A metáfora é um artifício legítimo, não apenas na literatura, mas também na ciência, na filosofia e no direito; é eficiente no elogio e na ofensa, na oração e na propaganda, na descrição e na prescrição. No geral não discordo de Max Black, Paul Henle, Nelson Goodman, Monroe Beardsley, e dos demais, em suas considerações sobre o que a metáfora realiza, exceto no que eu acredito que a metáfora realiza mais, e que aquilo que é adicional é diferente em espécie (DAVIDSON, 1992, p. 36).

O estudo de como agem as metáforas sempre foi uma preocupação dos

pesquisadores e pensadores. Como lembra Gardner (1999, p. 143):

A metáfora como figura de linguagem intrigou e estimulou estudiosos por milhares de anos. Aristóteles considerou a metáfora um sinal de genialidade, acreditando que o indivíduo que fazia conexões incomuns era uma pessoa com dons especiais. A partir dessa tradição antiga surgiu uma definição prática de metáfora: a capacidade de perceber uma semelhança entre elementos de dois domínios ou áreas de experiência diferentes e ligá-los em uma forma lingüística.

Suas qualidades ultrapassam os simples eufemismos, contribuindo para a

criatividade seja praticada eficientemente. Já que através do simbolismo, pratica-se um exercício de não-lógica, que desenvolve a competência criativa e favorece a capacidade de raciocinar de forma menos linear (pensamento divergente).

Ao romper com o referencial, imediatamente lógico e linear, a metáfora nos coloca noutra dimensão, como um descaminho que vai revelar um outro

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mundo, verdadeiramente cheio de significado, porque como diz Alfredo Bosi, a realidade da imagem está no ícone, mas a verdade da imagem está no símbolo verbal. E é, para ele, a palavra criativa que busca de fato alcançar o coração da figura no relâmpago do instante (NICOLAU, 1998, p. 98).

Mediante as metáforas é possível ter acesso a uma verdade não de modo parcial,

mas total. Ela estabelece uma relação de semelhança entre não-semelhantes, segundo Aristóteles. “Bem saber descobrir as metáforas significa bem se aperceber das semelhanças” (ARISTÓTELES apud BERNARDO).16

Carvalho17 explica como funcionam as metáforas: "As metáforas comunicam indiretamente. E é um processo de linguagem que consiste em fazer uma substituição analógica. Metáforas simples fazem simples comparações: “meter a mão em cumbuca, feio como o diabo, fazer das tripas coração”. Metáforas complexas são histórias com diversos níveis de significado".

Capra (2002, p. 77) fala da importância das metáforas para o pensamento

abstrato:

Esse processo de projeção metafórica é um dos elementos cruciais da formação do pensamento abstrato, e a descoberta de que a maior parte dos pensamentos humanos é metafórica foi outro avanço decisivo das ciências da cognição. As metáforas possibilitam que nossos conceitos corpóreos básicos sejam aplicados a domínios abstratos e teóricos.

Deve haver uma mesma relação entre os elementos da história e os elementos do

problema, a fim de que a metáfora proporcione a resposta do mesmo.

A intuição de que estamos diante de uma metáfora começa quando, ao fazer uma leitura imediata, nos deparamos com uma impertinência. Ou se atribui a um referente algo que não lhe diz respeito ou se classifica o referente numa classe a que não pertence. Constatada a impertinência, o receptor da mensagem vai aplicar à situação um algoritmo metafórico. Se a aplicação for plausível teremos a metáfora, caso contrário, um lapso, uma impropriedade ou outro fenômeno.18

De acordo com José Predebom, no livro Criatividade, as metáforas e outros

simbolismos, apesar de serem vulneráveis de certa forma à lógica, auxiliam grandemente na compreensão de significados, daí sua utilização no campo didático, “mais vale um exemplo que mil explicações”, afirma Predebon (1998, p. 51): "(...) a linguagem simbólica faz-nos utilizar os dois hemisférios cerebrais, o que facilita a recepção de significado. Além disso, ao atingir melhor as áreas emocionais, no caso o hemisfério direito, o não-verbal, o significado ganha consistência e amplitude". 4.2 Análises

Com freqüência as revistas Superinteressante e Galileu fazem uso das metáforas para tornar os assuntos tratados mais claros e até mais atraentes para os leitores. Reboul (1998) destaca o que Aristóteles falava das metáforas: "Deve ser clara, nova e

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agradável. Nova, porém clara e por isso mesmo agradável, como o enigma que se tem a alegria de desvendar. A meio caminho entre o enigma e o clichê, a figura de sentido desempenha seu papel retórico".

As metáforas aparecem de diferentes modos nas revistas, sejam através de comparações, histórias e analogias.

Na reportagem “Inquilinos do Corpo” (Superinteressante, edição 144, setembro de 1999), o próprio título já remete o leitor a pensar no uso da palavra “inquilino” para designar alguns dos seres existentes no corpo humano. Fica claro o sentido metafórico usado pelos autores, já que pela definição do Dicionário da Língua Portuguesa, inquilino quer dizer: “indivíduo residente em casa que tomou de aluguel”. No subtítulo, os repórteres sinalizam que a reportagem toda será permeada por metáforas. “Bilhões de seres fazem do organismo humano em gigantesco condomínio. Mesmo contra a vontade dos proprietários, entram, ficam à vontade e fazem de conta que a casa é deles”. O corpo humano é por meio da analogia, o condomínio onde se instalam os microorganismos e nós, seres humanos, os proprietários.

No decorrer da reportagem, vão sendo utilizadas metáforas, que além de fazer com que o público visualize melhor as afirmações, emprestam humor e prendem a atenção. As relações feitas são ricas e apropriadas, fazendo com que as metáforas funcionem.

Não é suficiente apenas juntar quaisquer dois elementos díspares. Quando T. S. Elliot comparou a tarde espalhada contra o céu a “um paciente anestesiado sobre uma mesa”, ele criou uma poderosa metáfora ligando dois elementos totalmente distintos. Contudo se ele tivesse escrito que as estrelas no céu eram o paciente prostrado, a metáfora teria falhado tristemente. Apenas no primeiro caso existe uma base convincente ligando os dois termos momentaneamente; no segundo caso, nenhuma semelhança notável pode ser discernida entre os dois elementos (GARDNER, 1999, p. 143).

Os componentes das metáforas precisam guardar uma relação que ofereça sentido

para quem lê. No caso da reportagem “Inquilinos do Corpo” a cada um dos microrganismos é oferecida uma condição e um lugar dentro do “condomínio”, que de fato guarda uma significação. “Um bom exemplo disso é o Staphylococcus aureus. Ele parece até gente boa. Mora na fachada do edifício em todos os andares aos bilhões. Passa o dia limpando a parede externa, a pele. Ajuda a deixa-la mais bonita,já que se alimenta das impurezas. Mas, se a resistência do corpo estiver em baixa e houver uma brecha, como um ferimento, ele se joga na corrente sangüínea”.

Em outro trecho os repórteres em uma linguagem coloquial afirmam. “Já com os detestáveis não há negócio. Esse inquilino é do tipo que estraga o lugar em que vive: quebra janelas, danifica o encanamento e comprometem as fundações. Quando se trata de vermes a situação fica ainda pior, já que eles podem literalmente se alimentar das paredes que os abrigam”.

Ao mencionar os microrganismos que apesar de causarem doenças, não ameaçam a vida humana, os autores da reportagem os chamam de “locatários razoáveis: bichos que incomodam, mas não derrubam o prédio”. Nesta condição se enquadram o piolho que “habita a cobertura”, a Cândida albicans, “que não tem nada de boazinha” e “mora principalmente na boca e na pele, nos andares mais altos e nos mais baixos do edifício”, a Propionibacterium acne, que por ser uma “locatária muito vaidosa (...) faz questão de se exibir em prédios jovens, recém-construídos, bem na fachada. Condomínios adultos também estão sujeitos a essa incômoda bactéria, que não causa dor, exceto a do constrangimento”, o vírus da herpes que “gosta muito daqueles que você mais ama” e que “depois de instalado, gosta de dá as caras quando o porteiro, ou melhor, as defesas

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do organismo, dormem em serviço. E demora muito a ir embora”, os Lactobacillus acidophillus, que “ajudam a evitar vazamentos no edifício, ou seja, a diarréia. Eles também moram em outros andares do prédio” e a Tunga penetrans que “causa grandes estragos no alicerce do edifício: os pés”.

Já os seres que ameaçam a saúde de forma séria são chamados de “turma da pesada: locatários que estragam o imóvel e não pagam aluguel”. Nela está “a oportunista Pseudomonas aeruginosa que gosta da garganta – o elevador do edifício”. Em relação ao Streptococcus pneumoniae são feitas duas metáforas, quando se diz que “essa bactéria detesta ficar sozinha e acaba encostando uma na outra, como vagões em um trem, formando esses colares” e quando se afirma que a bactéria “gosta muito de apartamentos bem ventilados”. Já a “vizinha inconveniente” Fasciola hepática “gosta de conhecer os vizinhos (...), quando seus ovos se abrem no organismo, faz questão de viajar pela corrente sangüínea... É o típico exemplar de inquilino importuno, sua presença no prédio faz o hospedeiro ficar fraco”. A Escherichia coli é “encontrada em qualquer parte do sistema digestivo, mas é mais comum nos esgotos do corpo, o intestino. E em edifícios mais novos, provoca diarréia”. O Trichinella spiralis “vai morar na sala de ginástica do prédio – ou seja, nos músculos. Apesar do atlético lugar em que moram, as fêmeas duram no máximo dezesseis semanas”.

A forma bem humorada de tratar um assunto sério, de certa forma prende a atenção do público leitor, sem ridicularizar e minimizar a importância do tema. As metáforas usadas pelos repórteres funcionaram bem.

Ainda no campo da biologia, um outro exemplo mostra como metáforas bem utilizadas envolvem o leitor. A reportagem “Tiro ao óvulo” (Superinteressante, edição 155, agosto de 2000) já em seu título desperta a curiosidade e leva o leitor a seguir adiante, o trocadilho (recurso retórico) com a expressão “tiro ao alvo” se dá apropriadamente. No subtítulo os repórteres metaforizam “A reprodução humana é uma aventura maior que você imagina. Conheça a operação de guerra que acontece no corpo de um homem na hora do prazer”. Daí em diante uma história é contada. Carvalho19 destaca: "Narrações, parábolas, histórias: são formas metafóricas mais completas e complexas. Para gerar mudanças no interlocutor a história há que possuir formas semelhantes à realidade vivida por ele".

Os órgãos e gametas envolvidos na reprodução humana tornam-se personagens da história (Coronel Limbo, General Hipocampo, Sargento Sperm, Gameta M-6, Gameta M-7) que trata o momento da fecundação e seus desdobramentos como uma operação de guerra. Aspectos do comportamento social, como a ingestão de álcool antes da relação sexual, a pintura labial marcante, o uso da camisinha, o vírus da AIDS (tratado como terrorista) são mencionados, gerando uma identificação do leitor com a história. O envolvimento ocorre de tal maneira que o leitor acompanha passo-a-passo o desenrolar dos fatos e torce que os personagens sejam bem sucedidos em sua missão (a fecundação). A fecundação descrita em livros didáticos de modo formal ganha contornos mais criativos e lúdicos.

A fecundação ocorre, em geral, no primeiro terço oviduto. Acredita-se que um óvulo mantém-se capaz de ser fecundado com sucesso nas primeiras horas após sua liberação pelo ovário. Ao encontrar o óvulo, os espermatozóides atravessam a camada de células foliculares que o envolve, atingindo a sua membrana. Um espermatozóide consegue então fecundar o óvulo, o que imediatamente a penetração de qualquer outro (AMABIS e MARTHO, 1990, p. 312).

A utilização da metáfora na ciência extrapola a intenção de se usar somente

comparações para simplificar.

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É certo que a metáfora se revela útil em diversas situações, ou porque encurta uma descrição, ou porque condensa ou sintetiza um pensamento. Mas a metáfora não é só analogia de significações, de objetos, de fenômenos, com a metáfora pretende-se ir mais longe: descrever e penetrar na realidade biológica, apreender-lhe o sentido profundo.20

Um dos campos científicos onde as metáforas aparecem freqüentemente nas

revistas Galileu e Superinteressante, é sem dúvida a astronomia. Talvez pela complexidade do tema, os jornalistas lançam mão de recursos, como as metáforas para atingir melhor o público. No subtítulo da reportagem Fora de Órbita (Superinteressante, edição 160, janeiro de 2001), são usadas metáforas “Gigantes de gelo, globos incandescentes, blocos de pedra, mundos sem sol... A descoberta de novos planetas sugere que, no início do nosso sistema solar, os planetas mudaram de posição como bolas de uma partida de bilhar”. Para explicar como se posicionaram os planetas nos sistemas solares, algo difícil de se imaginar, o repórter comparou o movimento com uma mesa de bilhar, um jogo bastante comum. “As descobertas sugerem que na fase inicial de todo o sistema solar prevalece o caos: os planetas em formação ricocheteiam, desencontram-se ou atraem-se. Até ocuparem, em milhões de anos, posições mais ou menos estáveis. Um movimento parecido com o de uma mesa de bilhar”. Em O Ataque das Estrelas Canibais (Galileu, edição 120, julho de 2001) as metáforas aparecem em vários trechos e de diferentes formas. “Comilança de planetas pode ser um fenômeno muito comum fora do Sistema Solar” é o subtítulo e usa uma linguagem coloquial, principalmente com o termo ‘comilança’, que não tem nada de científico. Para mencionar que o sistema solar em que vivemos está livre da ‘comilança de planetas’, afirma-se: “O nosso sistemas solar pode ser um oásis de tranqüilidade no Universo (...) É digamos, o paraíso espacial”. Em outro trecho ao explicar como ocorre o fenômeno as metáforas se fazem presentes. “Planetas descobertos nos últimos dez anos bem longe do Sistema Solar enfrentam tempos de turbulência. São muito grandes ou estão em órbitas instáveis. Não bastasse isso, exercem influência uns sobre os outros até se aproximar demais da estrela-mãe e serem engolidos. Constituem o prato principal no banquete que se poderia chamar de sistema de estrelas canibais. (...) O mesmo processo de ingestão pode ter ocorrido em outros sistemas”. O fenômeno da “comilança de planetas” volta a ser lembrado pela revista Galileu no ano seguinte. A reportagem “Em Busca de Outras Terras” (Galileu, edição 134, setembro de 2002) destaca que a existência de planetas extra-solares pode trazer a esperança da existência de vida fora da Terra. “Também causaram surpresa as observações da estrela HD 82943, que teria absorvido vários de seus satélites num legítimo caso de canibalismo planetário”. No título a palavra “terra” tem o sentido de lugar e também de planeta. Terra, já que buscam-se planetas habitados como a Terra. E essa busca como ressalta o texto “está chacoalhando os alicerces da ciência planetária”. Até o astrônomo Geoffrey Marcy, entrevistado sobre o tema conclui a reportagem com uma metáfora. “Deve haver bilhões de planetas onde a vida conseguiu florescer”.

Como texto de divulgação científica, as reportagens se propõem a informar os leitores e colocá-los a par das novas descobertas, para isso a linguagem utilizada traduz os artigos científicos para o público. A utilização de uma linguagem mais coloquial aproxima o leitor das informações, desmistificando o tema em questão.

Seguindo o modelo aristotélico, Fahnestock analisou as alterações que acontecem com a informação científica no curso de sua adaptação para a linguagem orientada a audiências não especializadas. Ela procurou mostrar que esse processo de acomodação da linguagem não é simplesmente uma transformação do jargão técnico para equivalentes não técnicos; trata-se de uma

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verdadeira mudança de discurso (MASSARANI e MOREIRA, 2001, p. 33).

Um exemplo de como o discurso científico ganha novos contornos nas matérias

jornalísticas é a reportagem “E se a vida pegou carona num meteoro?” (Galileu, edição 119, junho de 2001). Sem deixar de lado os aspectos técnicos, utiliza-se as metáforas desde o título. No decorrer do texto, trechos como “adeptos dessa idéia especulam que a vida não se originou aqui, mas foi ‘semeada’ por micróbios vindos do espaço, que pegaram carona num meteoro, numa cauda de cometa ou mesmo na poeira espacial” e “encontrou estruturas parecidas com aquelas vistas no meteorito ‘marciano’” demonstram a intenção de se facilitar a compreensão e até de descontrair o leitor para prender sua atenção. Em uma temática relacionada ao surgimento da vida na Terra, a reportagem “A receita da vida” (Galileu, edição 142, maio de 2003) aborda os 50 anos do experimento da “sopa” criadora dos primeiros seres vivos. O personagem bíblico Adão, primeiro humano de acordo com livro da Gênesis, empresta seu nome ao “micróbio Adão”, citado como o “ancestral de todas as formas de vida que já passaram pela Terra”. A mistura que provavelmente originou a vida é chamada de “caldeirão oceânico” e ganhou o apelido de “sopa primordial”. Na trilha da gastronomia, alguns estudos de acordo com a reportagem, levam a crer que ao invés de uma “sopa primordial” a vida pode ter tido origem na “pizza primordial”. “A resposta para isso é que a vida provavelmente originou-se numa superfície mineral, talvez dentro de pequenas fendas, e não ‘solta’ na sopa primordial”. Os aminoácidos, um dos “ingredientes da sopa” são comparados aos tijolos, os “tijolos” moleculares que compõem as proteínas dos seres vivos”. Em outras ocasiões os tijolos também são comparados a outros elementos. Na reportagem “Cérebros afinados” (Galileu, edição 136, novembro de 2002), eles explicam o papel formador da freqüência, da intensidade, da duração e do timbre dos sons. “Não é à toa que já acharam áreas específicas por onde passam dados de freqüência, intensidade, duração e timbre de tons. São esses os tijolos que constroem a melodia, a harmonia e o ritmo – a santíssima trindade da música”. À propósito, a religião cristã se faz presente novamente, com a relação feita com a santíssima trindade (pai, filho e espírito santo) bastante simbólica dentro do catolicismo.

Os pesquisadores e cientistas em seus artigos e em entrevistas também usam as metáforas para atingirem melhor a compreensão.

Os cientistas usam freqüentemente a metáfora no núcleo da argumentação de seus trabalhos. Esse uso pode proporcionar uma nova compreensão da natureza, procedimentos e resultados da ciência. (...) O papel central da metáfora na estruturação do pensamento de Darwin pode ser encontrado na trilha intelectual que o levou até a exposição amadurecida de sua narrativa. Metáforas centrais na Origem já estão presentes no seu diário de viagem à bordo do Beagle, nos seus Notebooks, nos Ensaios de 1842 e 1844, no longo manuscrito de 1856 – 1858 e na 1a edição da Origem das Espécies, cumprindo a missão de não só explicitar, esclarecer conceitos, como de tornar visíveis as relações conceituais, urdi-las numa rede argumentativa e prover sustentação à teoria.21

Na já citada “A receita da vida” o cientista Fernando Fontanari compara seu

trabalho ao de um detetive incumbido de solucionar um crime sem pistas. “O melhor que se pode fazer é propor cenários que poderiam ter ocorrido”, afirma ele. Em um trecho de “A memória e o caos digital” (Galileu, edição 130, maio de 2002) destaca-se “cientistas são unânimes ao associar a rapidez das informações geradas pelo mundo digital com a restrição de nosso ‘disco rígido’ natural”. O repórter exemplifica o processo a seu modo,

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“É como se nosso cérebro funcionasse como uma jarra cheia, cujo conteúdo começa a transbordar”. A linguagem da informática é utilizada novamente em “Mente que mata” (Superinteressante, edição 175, abril de 2002) por um especialista, “A violência é como uma espécie de arquivo de computador não-executável’, diz a antropóloga (Márcia Regina da Costa). Dependendo do estímulo, ele entra em ação e os resultados podem ser inesperados. Na mesma reportagem um outro especialista (o psicanalista William César Castilho) compara, “quanto mais execramos esses criminosos, mais nos sentimos diferentes deles, como um exorcista que, diante do demônio, fortalece sua fé”. Os autores do texto fazem referência aos desenhos animados para explicar a culpa, “a força resultante desse embate é a culpa – aquele anjinho dos desenhos animados dizendo, no pé do ouvido, que você deve se controlar”. Na reportagem “O Poder do Mito” (Galileu, edição 152, março de 2004), o teólogo Vitor Westhelle usa uma metáfora para que o leitor entenda a relação do mito e da religião, “para o teólogo, o mito é como um mapa em que está inscrito o território da religião, isto é, ele oferece os parâmetros dentro dos quais se articulam e se situam as opções religiosas”, diz ele: “Não se vive o mapa, vive-se o território. Mas é o mapa, real ou mental, que nos situa, nos dá a noção de onde estamos”.

Pequenas histórias no meio de uma reportagem exemplificando o tema funcionam bem, e inserem o leitor em um contexto. Como ocorre na reportagem “Nem tudo é relativo” (Superinteressante, edição 191, agosto de 2003). “Você está parado na plataforma de uma estação de metrô e vê uma composição se aproximar. Nela está um amigo seu. Ele está sentado junto a uma janela que pode ser reconhecida por meio de alguma marca. Como você descreveria o movimento daquela janela? Agora o tempo não pode ser ignorado. Um relógio é necessário. A descrição pode ser feita tabelando a distância dessa janela até você para cada sucessivo segundo de tempo fornecido pelo seu relógio. Essa descrição terá você como referência: o lugar onde você se encontra e o seu relógio. O fato é que, na descrição final, a distância da janela em relação a você diminuirá com o passar do tempo”. "O uso e o abuso da metalinguagem são excelente recurso para aproximar o público leigo das informações científicas. Quando as pessoas conseguem associar um princípio ou uma teoria científica a alguma coisa que lhes é familiar, fica muito mais fácil a compreensão do assunto, e a comunicação científica torna-se eficaz". (OLIVIERA, 2002, p. 44).

Dois elementos aparentemente distantes, ganham uma relação criativa e

explicativa a partir de sua junção por meio de metáforas.

Para criar-se uma boa metáfora que aponte a solução de um problema, argumentam O’Connor e Seymour, é preciso que a relação entre os elementos da história seja igual à relação entre os elementos do problema. Assim a metáfora vai repercutir no inconsciente e mobilizar os recursos que ali se encontram. A mente inconsciente e mobilizar os recursos que ali se encontram. A mente inconsciente capta a mensagem e começa a fazer as mudanças necessárias (NICOLAU, 1998, p. 100).

Na reportagem “A Física dança Tango” (Superinteressante, edição 197, fevereiro

de 2004), o jornalista começa com a descrição de um ambiente. “O foco de luz passeia entre as mesas imersas na penumbra, sublinhando o desenho hipnótico dos passos milimetricamente combinados de dois dançarinos. Cada movimento, por mais complicado que seja, começa e termina em sincronia exata com a do parceiro, os dois entrelaçados numa só coreografia”. Envolvendo o leitor, o trecho forma a imagem mental dos dançarinos de tango, para em seguida o autor dizer que não se trata de apresentação da tradicional dança argentina. “Pode parecer um show de tango, mas é de fato, a descrição de um fenômeno muito estranho da física – sem exagero, é o recordista absoluto na categoria das idéias incompreensíveis. É chamado de entrelaçamento porque seu efeito é

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casar dois a dois, átomos, elétrons ou moléculas, fazendo-os dançar com a mesma concatenação de um par de bailarinos no palco de um cabaré”. Como lembra o jornalista, o fenômeno é bastante complicado e relacioná-lo com uma modalidade de dança, de entretenimento, facilitou uma melhor compreensão. Com criatividade o autor associou a sensualidade do tango com a íntima relação das partículas, dando ao leitor a sensação de aproximação com o fenômeno. "Relacionada ou não a outras “figuras de linguagem”, especialmente à analogia, a metáfora, em seu papel explicativo, requer o uso da imaginação a serviço da razão ou do esforço exploratório da concepção que guia a elaboração da teoria. A metáfora é filha da reflexão sensibilizada na imaginação".22

Durante o texto, por várias vezes se faz referência a metáfora expressa no título “A física dança tango”. “Não demora muito, o tango atômico vai invadir lares e escritórios de todos os terráqueos na forma de tecnologias inéditas”.

Mas nem sempre ocorre o efeito esperado e críticas são feitas quanto ao uso das metáforas.

Ora, no que concerne a biologia, certos setores desta ciência assentam hoje numa retórica tão metaforizada que as suas relações com o real me parecem falseadas, com reflexos perigosos sobretudo em nível da sua integração na cultura e no ensino a todos os níveis. Artigos sérios em jornais sérios têm, por vezes, títulos bizarros, como por exemplo “Lagartos lésbicos”, como se pode ver num artigo editorial de apresentação a outro artigo sobre a origem do comportamento sexual (“Lesbian lizards”: in Psychoneuroendocrinology).23

O Jornalismo Científico, especificamente as revistas jornalísticas especializadas em

ciência, como Superinteressante e Galileu, encontram nas metáforas instrumentos poderosos para traduzir para o grande público “o complexo universo dos laboratórios”.

Em suma, a metáfora parece corresponder à necessidade que temos de vivenciar, simultaneamente, sentimentos de sinceridade e beleza, descoberta e revelação. E, se considerarmos o que diz Housman, o perfeito entendimento às vezes destrói o prazer, vamos descobrir que esse prazer é que, na verdade, dá sentido ao entendimento das coisas, mostrando-se como das fontes mais fecundas de criatividade (NICOLAU, 1998, p. 102).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Qual seria a função do jornalismo científico em um país como o nosso, onde a maioria da população luta diariamente para sobreviver, sem tempo nem formação para discutir temas aparentemente tão distantes de sua realidade?

A questão é que os assuntos relacionados à Ciência e Tecnologia não podem ser mais um fator de exclusão social. Sabemos que não é tarefa das mais fáceis, mostrar para a maioria a importância e a influência direta da ciência em suas vidas. Campanhas relativas ao meio ambiente, à saúde, à reciclagem, feitas constantemente pelas escolas e apoiadas pela mídia demonstram que, aos poucos, a Ciência desperta o interesse das pessoas. Sem dúvida, uma popularização ainda maior requer um esforço que só se dará a longo prazo.

A escola desempenha um papel de relevância neste processo, já que pode ser a primeira a “plantar a semente” da curiosidade e não se prender aos textos e figuras

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“quase irreais” dos livros didáticos, fazendo da Ciência hermética e ininteligível. A criatividade dos professores é fundamental.

Os cientistas também precisam do jornalismo científico para a divulgação de seus trabalhos, sem o que não conseguem subsídios para as pesquisas. O próprio Jornalismo Científico é diferente na atualidade, não tem a preocupação de relatar passo-a-passo os exaustivos trabalhos científicos, mas sim de mostrar o quanto a Ciência é útil para as pessoas, e o quanto elas podem participar de discussões éticas sobre a ciência e seus desdobramentos.

O surgimento de revistas jornalísticas especializadas em Ciência representa um ponto de partida. Contudo, como um assalariado, pode comprar uma revista que custa uma parte significativa daquilo que ganha? Aos poucos bibliotecas públicas dispõem destas revistas, uma conquista.

Dessa forma, com o crescente número de tiragens de revistas com Superinteressante e Galileu, as mesmas têm percebido o crescimento de seu público leitor, e procuram trazer uma linguagem mais acessível e próxima da realidade, até como forma de continuarem existindo. Além da linguagem, os temas das reportagens são escolhidos de forma a interessar e chamar a atenção dos mais diversos segmentos e idades.

Dentro da tônica das revistas de buscar uma linha editorial que conquiste o leitor, as metáforas, de acordo com o seu funcionamento e atuação já discutidos, favorecem o objetivo de esclarecer.

As metáforas fazem parte de nossa linguagem cotidiana, o que faz lembrar a afirmação do cineasta francês Jean Luc Godard de que “se não fossem as metáforas nós não voltaríamos para casa”. E a associação de algo tão peculiar na linguagem como as metáforas e um universo como o da ciência, pode trazer bons resultados.

De um modo geral os exemplos com metáforas colocados nas revistas conseguem, sem perder precisão, ajudar o público-leitor a vislumbrar um mundo bem maior e mais interessante do que aquele que costumeiramente mostrado. “O segredo de uma boa divulgação é equilibrar a verdade da Ciência com a compreensão do público”, afirmou Manuel Calvo Hernando em entrevista a Ubirajara Jr. Contar “boas histórias” acerca de um tema científico, pode ser, portanto, o grande diferencial entre uma reportagem mediana e uma de qualidade.

As metáforas aparecem em diversas áreas do conhecimento científico. Humanas, exatas, biológicas, lá estão elas a cumprir a sua missão de traduzir através de informações claras. E as metáforas auxiliam eficazmente nesse processo de compreensão, uma vez que seus conteúdos têm a possibilidade de converter-se em canais entre cientistas e leitores.

Continuar a exercer o jornalismo científico e buscar formas de torná-lo cada vez mais acessível e popular, através de linguagens próximas e estratégias adequadas, como as metáforas, deve ser um dos objetivos dos profissionais de comunicação. Auxiliar na construção da cidadania, tem que estar entre os compromissos do jornalista à maneira de um construtor de pontes, que consegue com seu trabalho interligar dois pontos, como o conhecimento científico e o entendimento do público, através de um meio sólido e seguro, como as metáforas. NOTAS 1 www.observatoriodaimprensa.com.br, Milagres, ilusões e besteirol científico, Alberto Dines, site consultado em 01/02/04. 2 GALLUP. O que o brasileiro pensa da ciência e da tecnologia. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins, 1987. 3 www.jornalismocientifico.com.br, Os novos desafios do Jornalismo Científico, Wilson da Costa Bueno, site consultado em 12/10/03. 4 www.terravista.pt/ancora/2254/metafora.htm, Isto e Aquilo, Maria Lúcia Lepecki, site consultado em 20/01/04.

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5 www.jornalismocientífico.com.br, Os novos desafios do Jornalismo Científico, Wilson da Costa Bueno, site consultado em 12/10/03). 6 www.jornalismoespecializado.com.br. Site consultado em 19/01/04. 7 www.observatoriodaimprensa.com.br, Milagres, ilusões e besteirol científico, Alberto Dines, site consultado em 01/02/04. 8 www.jornalismocientifico.com.br. Jornalismo científico, site consultado em 12/10/03. 9 www.jornalismocientifico.com.br. Os novos desafios do Jornalismo Científico, Wilson da Costa Bueno, site consultado em 12/10/03. 10 www.observatoriodaimprensa.com.br, Milagres, ilusões e besteirol científico, Alberto Dines, site consultado em 01/02/04. 11 www.observatoriodaimprensa.com.br. Milagres, ilusões e besteirol científico, Alberto Dines, site consultado em 01/02/04. 12 www.observatoriodaimprensa.com.br, Jornalismo científico e o legado de um mestre, Ulisses Capozolli, site consultado em 22/02/04. 13 CIMPEC, Manual de Periodismo Educativo y Científico (Bogotá, CIMPEC). 14 Centro Interamericano para la Produción de Material Educativo y Científico para la Prensa. 15 www.radiobras.com.br. Uma visão analítica do jornalismo científico, Ubirajara Jùnior, site consultado em 20/02/04. 16 www2.uerj.br/~labore/literatura. As certezas provisórias do homem – metáfora, Gustavo Bernardo, site consultado em 22/01/04. 17 www.metaforas.com.br. Mudanças com metáforas na educação, João Nicolau Carvalho, site consultado em 15/10/03. 18 sites.uol.com.br/radamesm/. Metáforas, site consultado em 22/03/04. 19 www.metaforas.com.br. Mudanças com metáforas na educação, João Nicolau Carvalho, site consultado em 15/10/03. 20 www.triplov.com/mesa/redonda/annacarolina/darwin_metaphor.html. O papel da metáfora no longo argumento da “Origem das Espécies”, Anna Carolina K. P. Regner, site consultado em 22/01/04. 21 www.triplov.com/mesa_redonda/anna_carolina/darwin_metaphor.html. O papel da metáfora no longo argumento da “Origem das Espécies”, Anna Carolina K. P. Regner, site consultado em 22/01/04. 22 www.triplov.com/mesa_redonda/anna_carolina/darwin_metaphor.html. O papel da metáfora no longo argumento da “Origem das Espécies Anna Carolina K. P. Regner, site consultado em 22/01/04. 23 www.triplov.com/sacarrao/metafora.html. O Abuso da Metáfora em Biologia e seus perigos. G. F. Sacarrão, site consultado em 22/01/04. REFERÊNCIAS ALBERT, P.; TERROU, F. História da imprensa. São Paulo: Martins Fontes, 1990, 121p. AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. Fundamentos da biologia moderna. São Paulo: Moderna, 1990, 428p. BALL-ROKEACH, Sandra; DEFLEUR, Melvin L. Teorias da comunicação de massa. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. BORDENÁVE, Juan E. Díaz. O que é comunicação. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1985.

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* Carolina Gonçalves Pacheco é graduada em Jornalismo e graduanda em Radialismo, no Curso de Comunicação Social da UFPB. A presente monografia foi orientada pela professor Marcos Nicolau.

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