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Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 AS IGREJAS MATRIZES NOVAS DE ITU E CAMPINAS – ESTUDO COMPARATIVO DOS PROCESSOS CONSTRUTIVOS E DAS RELAÇÕES COM O ESPAÇO URBANO Érica Fernandes Costa Faculdade de Arquitetura e Urbanismo CEATEC [email protected] Profa. Dra. Renata Baesso Pereira Grupo de Pesquisa: História das Cidades, Ocupação Ter- ritorial e Ideários Urbanos CEATEC - POSURB [email protected] Resumo: Esta pesquisa iniciou-se com o objetivo de elaborar um estudo comparativo dos processos construtivos e das relações com o espaço urbano entre a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelá- ria, de Itu e a Matriz de Nossa Senhora da Concei- ção, de Campinas. Em ambos os casos, o progresso material e a prosperidade econômica, decorrente da produção de açúcar, e autonomia da vilas se reflet- em nas obras das Matrizes, que se tornarão símbo- los significativos das elites locais devido a associ- ação que estes edifícios terão com os “tempos modernos”. Desta forma, esta pesquisa pretende compreender a relação destes edifícios com o espa- ço urbano e investigar a circulação dos saberes téc- nicos e artísticos envolvidos nos processos constru- tivos destas igrejas. Ao longo do tempo, ambos os edifícios passaram por transformações para adequá- los ao papel que tais núcleos urbanos assumiam, culminando com as intervenções de Ramos Azevedo e de Paula Souza. A investigação realizada para este estudo foi importante para compreender o amplo contexto em que se inserem as construções religio- sas do século XVIII e XIX. Palavras-chave: Igrejas matrizes, Itu, Campinas Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas – Arquitetura e Urbanismo – CNPq. 1. INTRODUÇÃO A presente pesquisa inscreve-se no âmbito da pes- quisa institucional A rede urbana da região de Cam- pinas-SP no período pré-industrial (1732-1930), de- senvolvida pela docente orientadora no Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da PUC de Campi- nas, e que tem por objetivo avançar nos estudos da história urbana da região de Campinas – SP, com- preendendo seus núcleos a partir da perspectiva de uma rede urbana hierarquizada, que considere os processos de formação dos municípios e suas trans- formações em um amplo arco temporal que se es- tende desde o período da abertura dos caminhos na busca por índios e metais preciosos, passando pelo ciclo da cana-de-açúcar, até o ciclo do café, definido portanto como período pré-industrial entre 1733, ano de delimitação da primeira sesmaria de Campinas, até 1930, quando a produção do café, que estrutura- va a economia da região, entra então em franca de- cadência. A delimitação espacial da pesquisa tem um caráter fluido, pois a cada ciclo econômico as relações entre estes núcleos urbanos se ampliam ou recuam em sentidos diversos do território paulista. Partindo do pressuposto de que a urbanização é um fenômeno que se produz em diversos níveis, a pes- quisa se desenvolveu em escalas distintas: uma pri- meira escala de análise é a investigação da conver- são do sertão em território a partir da instalação das estruturas do poder eclesiástico e do poder civil, bem como da análise dos desmembramentos territoriais, entendendo que a formação dos municípios constitui um parâmetro válido para avaliar o processo de ur- banização, pois quanto mais vasto é o território sob a jurisdição do município, menor é o estado de desen- volvimento urbano do território, e vice-versa. Uma outra dimensão da pesquisa é a análise de elemen- tos materiais do espaço intraurbano de alguns estu- dos de caso que são representativos do papel que estes núcleos urbanos desempenham nesta rede de cidades. 2. O ESPAÇO URBANO DE ITU Segundo Nardy Filho [1], no local da atual cidade de Itu existiu um aldeamento de índios que provavel- mente abandonaram suas terras quando bandeiristas atravessaram essa região. O campo deixado por es- ses índios tornou-se uma paragem, ou seja, ponto de descanso dos paulistas desbravadores. Tal paragem fazia parte da sesmaria de Domingos Fernandes e pertencia à Vila de Parnaíba. No ano de 1610, Do- mingos e seu genro, Christovam Diniz, vão “aos

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Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420

22 e 23 de setembro de 2015

AS IGREJAS MATRIZES NOVAS DE ITU E CAMPINAS – ESTUDO COMPARATIVO DOS PROCESSOS CONSTRUTIVOS E DAS

RELAÇÕES COM O ESPAÇO URBANO

Érica Fernandes Costa Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

CEATEC [email protected]

Profa. Dra. Renata Baesso Pereira Grupo de Pesquisa: História das Cidades, Ocupação Ter-

ritorial e Ideários Urbanos CEATEC - POSURB

[email protected] Resumo: Esta pesquisa iniciou-se com o objetivo de elaborar um estudo comparativo dos processos construtivos e das relações com o espaço urbano entre a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelá-ria, de Itu e a Matriz de Nossa Senhora da Concei-ção, de Campinas. Em ambos os casos, o progresso material e a prosperidade econômica, decorrente da produção de açúcar, e autonomia da vilas se reflet-em nas obras das Matrizes, que se tornarão símbo-los significativos das elites locais devido a associ-ação que estes edifícios terão com os “tempos modernos”. Desta forma, esta pesquisa pretende compreender a relação destes edifícios com o espa-ço urbano e investigar a circulação dos saberes téc-nicos e artísticos envolvidos nos processos constru-tivos destas igrejas. Ao longo do tempo, ambos os edifícios passaram por transformações para adequá-los ao papel que tais núcleos urbanos assumiam, culminando com as intervenções de Ramos Azevedo e de Paula Souza. A investigação realizada para este estudo foi importante para compreender o amplo contexto em que se inserem as construções religio-sas do século XVIII e XIX.

Palavras-chave: Igrejas matrizes, Itu, Campinas

Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas – Arquitetura e Urbanismo – CNPq.

1. INTRODUÇÃO A presente pesquisa inscreve-se no âmbito da pes-quisa institucional A rede urbana da região de Cam-pinas-SP no período pré-industrial (1732-1930), de-senvolvida pela docente orientadora no Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da PUC de Campi-nas, e que tem por objetivo avançar nos estudos da história urbana da região de Campinas – SP, com-preendendo seus núcleos a partir da perspectiva de uma rede urbana hierarquizada, que considere os processos de formação dos municípios e suas trans-

formações em um amplo arco temporal que se es-tende desde o período da abertura dos caminhos na busca por índios e metais preciosos, passando pelo ciclo da cana-de-açúcar, até o ciclo do café, definido portanto como período pré-industrial entre 1733, ano de delimitação da primeira sesmaria de Campinas, até 1930, quando a produção do café, que estrutura-va a economia da região, entra então em franca de-cadência. A delimitação espacial da pesquisa tem um caráter fluido, pois a cada ciclo econômico as relações entre estes núcleos urbanos se ampliam ou recuam em sentidos diversos do território paulista. Partindo do pressuposto de que a urbanização é um fenômeno que se produz em diversos níveis, a pes-quisa se desenvolveu em escalas distintas: uma pri-meira escala de análise é a investigação da conver-são do sertão em território a partir da instalação das estruturas do poder eclesiástico e do poder civil, bem como da análise dos desmembramentos territoriais, entendendo que a formação dos municípios constitui um parâmetro válido para avaliar o processo de ur-banização, pois quanto mais vasto é o território sob a jurisdição do município, menor é o estado de desen-volvimento urbano do território, e vice-versa. Uma outra dimensão da pesquisa é a análise de elemen-tos materiais do espaço intraurbano de alguns estu-dos de caso que são representativos do papel que estes núcleos urbanos desempenham nesta rede de cidades.

2. O ESPAÇO URBANO DE ITU Segundo Nardy Filho [1], no local da atual cidade de Itu existiu um aldeamento de índios que provavel-mente abandonaram suas terras quando bandeiristas atravessaram essa região. O campo deixado por es-ses índios tornou-se uma paragem, ou seja, ponto de descanso dos paulistas desbravadores. Tal paragem fazia parte da sesmaria de Domingos Fernandes e pertencia à Vila de Parnaíba. No ano de 1610, Do-mingos e seu genro, Christovam Diniz, vão “aos

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campos do Pirapitingui e no lugar denominado Itu-Guassu, (...)” levantam uma capela [1]. Em 1653, o povoado foi elevado a freguesia. Segundo Iara Sampaio [2], a ocupação do interior foi incentivada pela Coroa, e a formação de Itu segue o ideário português de se fazer cidade, com a separa-ção da parte alta da parte baixa da cidade. No ano de 1657, a freguesia foi elevada à categoria de Vila, desmembrando-se da Vila de Paraníba [1]. Em 1699 o Padre Bernardo de Quadros junto aos moradores de Itu “resolveram construir uma igreja maior e que melhor lhes servisse de Matriz” [1]. As obras da nova matriz se iniciaram somente em 1777 e foram financiadas pelo Padre João Leite Ferras, o mais próspero produtor de açúcar da vila. A obra da matriz coincidia com o período em que Itu era a prin-cipal vila produtora de açúcar, uma das mais ricas e populosas da Capitania de São Paulo.[3] A implantação da nova matriz de Itu seguia as dire-trizes estabelecidas nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. De acordo com essas nor-mas, para construção de uma capela o local de sua implantação deveria ser decente, alto, distante de lugares sujos, livre de umidade e com espaço ao redor para as manifestações religiosas [4]. Já no ano de 1780, a nova matriz foi inaugurada e a imagem de Nossa Senhora da Candelária translada-da da “matriz velha”, que passou a ter por orago o Senhor do Bom Jesus. Entre 1776 e 1802, a expansão da vila se dava no sentido da atual Rua Barão de Itaim, próxima à Ma-triz, e da rua paralela, Floriano Peixoto. Há, nessa área, ocorrência de reedificações, o que levou, se-gundo Toscano, a administração pública a dividir a Vila de Itu, com uma linha imaginária, em “vila nova” e “vila velha”, em 1829 [5].

Mapa 1: Localização da primeira matriz de Itu e a atual. Identificação do principal eixo urbano da vila e o senti-do de sua expansão segundo TOSCANO (1981). Fonte: Arquivo Condephaat Museu Republicano “Convenção de Itu”.

3. O ESPAÇO URBANO DE CAMPINAS Campinas se formou no lugar de uma paragem que ficava ao longo do caminho entre Jundiaí e Mogi-Mirim na rota que levava às minas de Goiás. Já em 1767, aparece no primeiro recenseamento, da Vila de Jundiaí, um núcleo populacional denominado bair-ro do Mato Grosso. A fundação de Campinas deve-se, principalmente, a Barreto Leme que “depois de setembro de 1772, fez doação de patrimônio. Neste se estabeleceu um tra-çado regular para o povoado de Campinas, desenho creditado ao Morgado de Mateus, então Governador da Capitania de São Paulo, que ordenava o tamanho das quadras e largura das ruas. [7]. Os moradores da região realizaram uma petição a fim de erguer uma capela na paragem de Campinas. O edifício seria provisório e foi construído em 1774, ano em que já foi instalada a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Gros-so. Serviu de “capela interina” por sete anos e locali-zava-se na atual Praça Antonio Pompeu [6]. A igreja matriz da freguesia, embora não estivesse concluída, foi inaugurada na data de 26 de julho de 1781. Trata-se a atual Basílica do Carmo. No ano de 1797, Campinas é desmembrada da Vila de Jundiaí sob o nome de Vila de São Carlos, seus limites, o rocio, foram traçados através de um conse-lho formado por homens bons. Nesse mesmo ano, esse mesmo conselho encaminhou um pedido à dio-cese para construir-se uma “matriz nova”. Os mes-mos homens bons nomearam Filipe Néri Teixeira como administrador das obras [8]. Segundo a pesquisadora Rodrigues, o local escolhi-do para construção desta nova igreja ficava a sudo-este da “matriz velha”. A “matriz nova” pode ser con-siderada fundamental no processo de transformação urbana de Campinas, pois sua construção deslocou o eixo do primeiro núcleo urbano em sua direção. Reafirmando a importância desse novo núcleo urba-no, tem-se a chegada da ferrovia, inaugurada em 1872. Na medida em que esse centro urbano se ampliava no sentido do primeiro para o segundo núcleo, surgia a necessidade de melhoramentos de infraestrutura. “Estas mudanças urbanas seriam necessárias para efetuar a ligação entre o antigo núcleo urbano ao redor da “matriz velha” e o que se “construía” em função da “matriz nova”” [8]. Por problemas técnico-construtivos, e administrati-vos, a “matriz nova” levou mais de 70 anos para ser construída, sendo solenemente inaugurada apenas

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em 8 de dezembro de 1883 sob o orago de Nossa Senhora da Conceição.

Mapa 2: Delimitação do Rocio baseada em PUPO (1969). Identificação dos fluxos anterior à construção da “matriz nova” e depois de sua inauguração segun-do RODRIGUES (2010). Fonte: Coleções Especiais Bi-blioteca Pública Municipal de Campinas. 4. INFLUÊNCIAS DO CICLO DO AÇÚCAR E DO CAFÉ Segundo Bittencourt, a implantação da igreja serve como um primeiro marco referencial para definir os limites dos primeiros núcleos citadinos. Com Itu e Campinas isso não foi diferente [9]. Os próprios moradores vão almejar templos maiores e melhores que as capelas primitivas. Assim são construídas a Matriz Nossa Senhora da Candelária, em Itu, e a Catedral Nossa Senhora da Conceição, em Campinas. O início da construção da primeira data de 1777, foi financiada pelo Padre João Leite Ferras e foi concluída em 1780. A Catedral, por sua vez, começou a ser construída no ano de 1807 e levou mais de 70 anos para ser concluída com o in-vestimento dos próprios moradores da região. Neste período ambas as vilas estavam inseridas na economia açucareira e faziam parte do quadrilátero do açúcar formado por Sorocaba, Piracicaba, Mogi Guaçu e Jundiaí. Foi a cultura da cana de açúcar que constituiu a riqueza de Itu. Porém, Por volta de 1836, Campinas atinge seu apogeu na produção açucareira e ultrapassou a produção de Itu. Nessa época o café já era cultivado em Campinas, logo em seguida vai ter nesta vila seu principal centro produ-tor [10].

Mapa 3: Quadrilátero do açúcar, formado pelas vilas de Sorocaba, Piracicaba, Mogi-Guaçu e Jundiaí: perímetro no qual estavam inscritos o termo da vila de Itu e a vila de Campinas, articuladas através de uma rede de ca-minhos secundários às estradas do Viamão e das Mi-nas dos Goyazes. É possível relacionar a monumentalidade que confi-gura ambas as matrizes novas, de Itu e Campinas, com a posição em que essas vilas ocupavam na economia da província de São Paulo. Ou seja, a prosperidade de Itu e Campinas na economia açuca-reira viabilizou o investimento de recursos na cons-trução dos monumentos que as representassem.

Mapa 4: Localização da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária e seu entorno. Fonte: Google Earth Pro.

Mapa 5: Localização da Catedral Metropolitana de Campinas Nossa Senhora da Conceição e seu entorno. Fonte: Google Earth Pro. No caso de Campinas, o local escolhido para a cons-trução da “matriz nova” incentivou o crescimento da

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cidade nesse sentido, logo, o sítio significava moder-nidade. Em Itu, por outro lado, a Matriz vai se locali-zar na porção da “Vila Nova”. Trata-se de uma região mais valorizada, porém, independente da divisão entre “vila velha” e “vila nova”, é muito claro o eixo monumental estabelecido, que vai do cruzeiro, á frente do Convento São Francisco, até o Convento do Carmo, passando pela “matriz velha” e pela “ma-triz nova”.

Figura 1: Desenho do Engenheiro militar José Custó-dio de Sá e Faria, que esteve de passagem por Itu no ano de 1774. Fonte: LOPES, 2009. P. 115.

5. O ESPAÇO ARQUITETÔNICO A técnica construtiva para ambas as igrejas segue o processo construtivo tradicional do período colonial brasileiro: a taipa de pilão. Nas reformas a solução, tanto para a Matriz de Itu, quanto para a Catedral de Campinas, foi o encamisamento com tijolos. A Matriz Nossa Senhora da Candelária apresenta as naves central e laterais e o altar mor numa planta retangular. As naves laterais são diferenciadas da central através da distinção de níveis, além da pre-sença de balaustradas. A igreja apresenta também coro acima do nartex e balcões ao longo das naves laterais. Em Campinas, a Catedral Nossa Senhora da Con-ceição, por sua vez, não apresenta naves laterais, sua planta segue as proporções de uma cruz latina e entre a nave central e o altar mor apresenta o tran-septo. Bem como a matriz de Itu, a Catedral apre-senta o nartex ou galilé, possui capelas laterais e balcões ao longo da nave. Também é possível ob-servar na igreja de Campinas os trabalhos de entalhe nos retábulos. Na Catedral o coro se dá em dois ní-veis.

Figura 2: Plantas Baixas e Fachadas atuais Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Conceição e Igreja Matriz Nossa Senhora Candelária. Fontes: RODRIGUES, 2010. P. 45; LOPES, 2009. P. 127 e Acer-vo de Projetos FAU-USP. No que diz respeito à solução de fachada é possível observar que as duas igrejas mantém diálogo com a linguagem clássica. Tanto para a Matriz de Itu quan-to para a Catedral de Campinas foi adotado um par-tido de torre única. Já com relação da sequência em que as ordens clássicas são aplicadas na fachada principal, obser-vam-se diferenças significativas. Na Catedral de Campinas pode-se dividir a fachada em três corpos, o primeiro, no nível térreo, apresenta elementos de Ordem Jônica, logo acima, o segundo corpo exibe a Ordem Coríntia. Por fim, o terceiro corpo tem ele-mentos de Ordem Compósita. A atual fachada da Matriz de Itu é resultado da inter-venção de Ramos de Azevedo na restauração desta igreja. Segundo o jornal “Imprensa Ytuana”, as obras do novo frontispício se iniciaram no dia 26 de de-zembro de 1887 com a implantação dos alicerces. Ramos adotou uma solução que não obedece estri-

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tamente os elementos das Ordens Clássicas pois apresenta um desenho eclético para esta fachada. No nível térreo foi adotada a Ordem Toscana, porém com elementos Dóricos. Já no segundo nível, foi uti-lizada a Ordem Coríntia, contudo, o fuste não apre-senta caneluras. No terceiro nível apresenta uma combinação de elementos da Ordem Jônica com a Ordem Toscana. Finalmente, o nível da torre apre-senta a Ordem Compósita. Portanto, Ramos de Aze-vedo optou por empregar elementos de Ordens dis-tintas para alcançar efeitos decorativos mais livres. Um dos administradores da obra da “matriz nova” de Campinas mais notável foi Sampaio Peixoto pois se dedicou especialmente à construção da fachada. Segundo Rodrigues, Sampaio Peixoto foi até o Rio de Janeiro de encontrar com profissionais que esta-vam alinhados aos tratados clássicos, os quais Sam-painho almejava utilizar para a concepção da “Matriz Nova”. Lá, o administrador solicita a Bethencourt da Silva um desenho para a fachada da matriz de Cam-pinas. Porém, conforme a Monografia da Catedral, Sampaio Peixoto teria contratado Manoel Cantarino para modificar tais desenhos e executar um novo projeto. Após adaptar o desenho, Cantarino teria se exonerado do cargo. Assim, foi sucedido pelo enge-nheiro Charles Romieu, que modificou mais uma vez o projeto original optando pela construção de uma única torre devido às condições técnicas [8]. A partir de 1870 o administrador das obras seria o Vigário, logo, o cargo não seria mais de Sampaio. No ano de 1871, realizou-se um concurso para as obras da fachada, cujo vencedor foi a firma de Vilaronga com um projeto de fachada em estilo gótico. Três anos depois a obra já se encontrava adiantada, po-rém começaram a aparecer fendas e por esse motivo obras foram paralisadas. Em 1876 o engenheiro ar-quiteto Cristoforo Bonini foi contratado e, a partir dis-so, as obras tomaram novo rumo. O engenheiro ar-quiteto teria que basear-se nos desenhos de Bethen-court, já modificados por Cantarino e/ou Romieu, e adequá-lo à nova realidade. Bonini mostrou sua ex-periência e competência até seu contrato expirar. Diante disto, Ramos de Azevedo foi provisoriamente contratado e, já em 1879, Bonini entregou o material das obras da matriz a ele. No mesmo ano, Ramos de Azevedo realizou um relatório de inspeção no qual descreve que o serviço de construção foi terminado por Bonini e a situação do revestimento. Como o último corpo apresenta soluções segundo Durand, Rodrigues acredita que é possível que as modificações tenham sido realizadas por Ramos de Azevedo.

Em Itu, a torre da matriz só foi construída cinquenta anos depois de sua inauguração, durante um grandi-osa intervenção. Dez anos mais tarde, a torre foi da-nificada, segundo Nardy Filho [1], o responsável por tais reparos, além de outras reformas, foi Francisco Mariano da Costa. Mais tarde, Padre Miguel entrou em contato com Ramos de Azevedo e Paula Souza. Já em 1887, apresenta os desenhos de Ramos de Azevedo em uma reunião com os paroquianos. Para este projeto Ramos de Azevedo decide adotar a mesma solução utilizada em campinas: revestir a taipa com tijolos.

Figura 3: Fachada original da Igreja Matriz Nossa Se-nhora da Candelária e fachada pós intervenção de Ra-mos de Azevedo. Fonte: LOPES, 2009. P. 127. A fachada proposta por Ramos de Azevedo só foi inaugurada depois da Proclamação da República. O novo frontispício estava claramente relacionado a um novo tempo. Para Lopes, a nova fachada tem como um de seus aspectos mais significativos sua racional composição, visto que Ramos de Azevedo fez uso de um arranjo formado pela permutação de módulos, técnica fundamentada em Durand. A fim de alcançar a racionalidade e praticidade do projeto, o engenhei-ro arquiteto se afasta da técnica da taipa e cria uma fachada simétrica e proporcional [3].

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados obtidos foram alcançados graças à pesquisa em fontes bibliográficas, apresentadas no plano de trabalho, e de outras encontradas ao longo deste estudo. O levantamento e análise de cartogra-fia histórica, plantas antigas das cidades em questão e imagens de satélite atuais também foram funda-mentais. Dessa maneira, foi possível produzir a comparação entre as igrejas matrizes de Itu e de

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Campinas, destacando algumas diferenças e seme-lhanças. A pesquisa findou-se sem que fosse possível encon-trar o projeto original de Ramos de Azevedo para a matriz de Itu. No entanto, compreendeu-se o tama-nho da intervenção do engenheiro arquiteto obser-vando os desenhos que Maurício Lopes apresentou em sua dissertação de mestrado [3]. Esta pesquisa é significativa para o avanço dos es-tudos da história urbana da região de Campinas, pois, desperta algumas discussões importantes para a compreensão da formação e expansão das vilas no interior paulista. Por exemplo, a questão de que Itu foi fundada pouco mais de cem anos antes da insta-lação do primeiro povoamento em Campinas do Ma-to Grosso, dessa forma, Itu pôde consolidar-se como Vila enquanto Campinas era apenas um bairro rural pertencente à Jundiaí, e, por consolidação, entende-se que Itu vai produzir fontes de subsistência e entrar para o cenário econômico da Capitania de São Paulo muito antes de Campinas e, portanto, atinge seu au-ge enquanto Campinas dá seus primeiros passos. Entretanto, devido um descompasso, talvez por Itu perder territórios significativos que pertenciam ao seu termo, Campinas ultrapassa Itu e se torna uma das vilas mais importantes produtoras de açúcar. Através da investigação realizada para esta pesqui-sa, foi possível observar que a economia açucareira esteve fortemente ligada à construção de edifícios que representassem as elites, senhores de engenho. No caso de Campinas, a construção como um todo, desde o seu início, foi motivada pelos próprios lati-fundiários do açúcar, que almejavam afirmar a nova ordem política e econômica decorrente da elevação da freguesia à vila. Já em Itu, a construção da “ma-triz nova” é anterior à primeira data em que são con-tabilizados os primeiros engenhos da vila, portanto, apenas a fachada realizada por Ramos de Azevedo é que mais estará relacionada à prosperidade eco-nômica da vila. Vale lembrar que a intervenção de Ramos na fachada de Itu foi posterior à sua passa-gem por Campinas, e aqui é possível levantar a hipó-tese de que, no momento em que o escritório de Ramos de Azevedo é contratado para propor um desenho à nova fachada da Matriz de Itu, a Matriz de Campinas era um exemplo, e, o engenheiro arquiteto que a concluiu, reconhecido por seu trabalho.

AGRADECIMENTOS Agradecemos ao CNPq pela Bolsa de Iniciação Cien-tífica.

REFERÊNCIAS [1] NARDY FILHO, Francisco. A Cidade de Itu. 4

vols; São Paulo: Escola Profissionais Salesianas, 1928, 1930, 1950 e 1951.

[2] SAMPAIO, Iara Fioravante. Formação da Rede Urbana e Fundação de Cidades na Região de Itu – 1796 a 1830. Dissertação de Mestrado. PUC-Campinas, 2014.

[3] LOPES, Mauricio M. As faces da moderni-dade: Arquitetura religiosa nas reformas urbanas de Itu (1873-1916). Dissertação de Mestrado. São Paulo: FAU –USP, 2009.

[4] DERNTL, Maria Fernanda. Método e arte: ur-banização e formação territorial na capitania de São Paulo, 1765-1811. São Paulo: Alameda, 2013.

[5] TOSCANO, João Walter. Itu / Centro histórico: estudos para preservação. 1981. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Univer-sidade de São Paulo, São Paulo, 1981.

[6] PUPO, Celso Maria de Mello. Campinas, seu berço e juventude. Academia Campinense de Letras, Campinas, 1969.

[7] BADARÓ, Ricardo S. C. Campinas, o despon-tar da modernidade. Campinas: UNICAMP/ CMU, 1996.

[8] RODRIGUES, Ana Aparecida V. Campinas Clássica: A Catedral Nossa Senhora da Conceição e o Engendramento de uma Arqui-tetura Monumental Clássica Urbana no Brasil (1807-1883). Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filoso-fia e Ciências Humanas da Universidade Esta-dual de Campinas. Campinas: UNICAMP, 2010.

[9] BITTENCOURT, Luiz Cláudio. Riscando a Ci-dade: cartografia histórica e desenho urbano em Campinas. Centro de Memória da UNICAMP.

[10] PETRONE, M. Thereza Schorer. A lavoura ca-navieira em São Paulo: expansão e declinio (1765-1851). São Paulo, SP: DIFEL, 1968.