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FELIPE LETNAR GUSTAVO BARBOSA IVO
AS FALHAS NA COMUNICAÇÃO AERONAUTICA QUE AFETAM A OPERAÇÃO E SEGURANÇA DE VÔO
Universidade Tuiuti do Paraná – Faculdade de Ciências Aeronáuticas Curitiba - Paraná
2008
FELIPE LETNAR GUSTAVO BARBOSA IVO
AS FALHAS NA COMUNICAÇÃO AERONAUTICA QUE AFETAM A OPERAÇÃO E SEGURANÇA DE VÔO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Superior de Tecnologia de Pilotagem Profissional de Aeronaves, da Universidade Tuiuti do Paraná – Faculdade de Ciências Aeronáuticas, como parte das exigências para obtenção do título de Tecnólogo em Pilotagem Profissional de Aeronaves. Orientador: João Carlos Mattioda
Universidade Tuiuti do Paraná – Faculdade de Ciências Aeronáuticas Curitiba - Paraná
2008
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TERMO DE APROVAÇÃO
Felipe Letnar e Gustavo Barbosa Ivo
As Falhas na Comunicação Aeronáutica que afetam a operação e a segurança
de vôo
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção
do Título de Tecnólogo em Tecnologia em Pilotagem Profissional de Aeronaves da
Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, 06 de dezembro de 2008.
_________________________________
Curso Superior em Tecnologia em Pilotagem Profissional de Aeronaves
João Carlos Mattioda
Faculdade de Ciências Aeronáuticas
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador: _______________________________
Prof. Mattioda
Universidade Tuiuti do Paraná
Faculdade de Ciências Aeronáuticas
3
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao professor João Carlos Mattioda, nosso orientador pela
preciosa colaboração dada a este trabalho, a todos os professores da Faculdade de
Ciências Aeronáuticas, aos pilotos e controladores que contribuíram para o
enriquecimento de informações e experiências e principalmente aos nossos pais,
pelo grande apoio que nos foi dado durante todo o curso e confecção deste trabalho
e a Camila, minha namorada, pela paciência e apoio.
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SUMÁRIO
1. AGRADECIMENTOS...............................................................................................4
2. SUMÁRIO ................................................................................................................5
3. LISTA DE ABREVIATURAS.....................................................................................7
4. RESUMO..................................................................................................................9
5. ABSTRACT............................................................................................................10
6. INTRODUÇÃO.......................................................................................................11
7. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................13
7.1. IMPORTÂNCIA DA FRASEOLOGIA NAS COMUNICAÇÕES
AERONÁUTICAS.......................................................................................................14
7.1.1. Disciplina de vôo para aqueles que se cuidam.....................................19
7.2. UTILIZAÇÃO DE CORTESIAS NA FRASEOLOGIA AÉREA..............................20
7.3. O USO DA LÍNGUA INGLESA NAS TELECOMUNICAÇÕES
AERONÁUTICAS.......................................................................................................26
7.4. O USO INCORRETO DOS MODAIS NA FRASEOLOGIA DE TRÁFEGO
AÉREO.......................................................................................................................31
7.4.1. Estudo dos modais................................................................................32
7.4.2. Ocorrências e análises..........................................................................32
7.4.3. Qual a fraseologia adequada neste caso..............................................36
7.4.4. Análise do artigo de Daniel Celso Calazans..........................................38
5
7.5. INTERFERENCIAS ELETROMAGNÉTICAS......................................................39
7.5.1. A indisponibilidade de comunicação rádio entre controladores de
tráfego aéreo e pilotos, devido a interferências eletromagnéticas.............................39
7.6. PADRÕES DE RADIOTELEFONIA AÉREA.......................................................44
7.6.1. Exemplos...............................................................................................44
7.7. ENTREVISTAS – PILOTO E CONTROLADOR..................................................50
7.7.1. Pilotos....................................................................................................50
7.7.2. Controladores........................................................................................57
7.7.3. Analise das entrevistas..........................................................................61
8. RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................63
9. CONCLUSÕES......................................................................................................64
10. RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS.......................................65
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................66
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3. LISTA DE ABREVIATURAS
ICAO/OACI: International Civil Aviation Organization ou Organização de Aviação
Civil Internacional
ATS: Air Traffic Service (Serviço de Tráfego Aéreo)
IFR: Instrument Flight Rules (Regras de Vôo por Instrumentos)
VFR: Visual Flight Rules (Regras de Vôo Visuais)
ROTAER: Manual Auxiliar de Rotas Aéreas
AIP: Aeronautical Information Publication (Publicação de Informações Aeronauticas)
FIR: Flight Information Region (Região de Informação de vôo)
ITA: Infração de Trafego Aéreo
CBA: Código Brasileiro de Aeronáutica
ACFT: Aircraft (Aeronave)
CTRL: Controller (Controlador)
ATC: Air Traffic Control (Controle de Trafego Aéreo)
FL: Flight Level (Nível de vôo)
APACTA: Associação Dos Profissionais de Controle de Trafego Aéreo
SBDA: Sociedade Brasileira de Direito Aeroespacial
TWR: Torre de Controle
APP: Controle de Aproximação
ACC: Centro de Controle de Área
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MHz: Mega Hertz
DECEA: Departamento de Controle do Espaço Aéreo
EUA: Estados Unidos da América
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4. RESUMO
É de conhecimento que o ramo da comunicação aeronáutica, bem como a
utilização correta da fraseologia aérea é de fundamental importância para a
segurança da aviação. Por se tratar de um ramo muito amplo, que compreende boa
parte da operação, possui vários fatores afetam seu funcionamento, podendo causar
de simples mal entendidos até acidentes catastróficos. Como conseqüência, faz-se
necessário um intenso estudo e treinamento sobre tais fatores, para a maximização
da segurança no setor de comunicação. Tal estudo deve-se basear, inicialmente,
nos pontos onde as falhas estão ocorrendo, posteriormente identificando os agentes
e o motivo pelo qual ocorre o erro, propiciando o devido treinamento e consciência
para que recursos sejam utilizados com a finalidade de evitar, ao máximo, qualquer
desacerto.
Palavras-chaves: Comunicação, padronização, treinamento, estudo, falha.
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5. ABSTRACT
It is everyone’s knowledge that the aeronautical communication field and the
correct use of phraseology are very important for the flight safety. Once it is such a
big branch, which involves a big part of the operation; it has a lot of factors that can
affect its activity that can come from small misunderstandings to big accidents. As a
consequence, it is necessary an intensive study and training among this factors, for
the improvement of safety on the communication sector. Such study should firstly
work on where the misunderstanding or failure is happening, secondly identifying
who is causing those failures and why is this failure occurring, providing the correct
training, so that the recourses can be used with the objective of prevent any mistake.
Key-words: Communication, patronization, training, research, failure.
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6. INTRODUÇÃO
Com fundamental importância no contexto atual, a aviação vem a cada dia
mais evoluindo e ultrapassando suas próprias fronteiras. Contudo, em tal
desenvolvimento deve-se considerar e respeitar quando o assunto é segurança. Um
ramo do fator operacional, que é diretamente afetado e necessita de grande
atenção, é o setor de comunicação.
As informações e instruções transmitidas via rádios nas comunicações
aeronáuticas são de vital importância para uma operação eficiente e segura das
aeronaves. A fraseologia padrão tem por objetivo promover uma comunicação de
forma rápida, clara e concisa. Se constante atenção for dada ao seu uso correto, em
muito diminuem as possibilidades de mal entendidos entre controladores e pilotos,
fator esse que, através de vários exemplos já ocorridos responsável por criar
confusão e contribuir para situações as quais induzem a acidentes e incidentes.
Importante lembrar também que deve ser usada uma linguagem adequada não só
na comunicação entre controladores e pilotos, bem como entre os próprios pilotos e
controladores, para que não ocorra erro na coordenação entre eles.
O estudo que abrange esta área vai de encontro direto à prioridade máxima
de toda a operação aeronáutica, a segurança. É de fundamental importância o
conhecimento de todos os elos envolvidos na atividade, com o objetivo final de
adquirir cada vez mais credibilidade e segurança para o setor. A partir desse estudo
será possível apresentar os principais pontos a serem melhorados e os que devem
ser mantidos na operação.
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O objetivo central de todo o estudo é apresentar os problemas que vem
acontecendo e afetando a segurança, para possibilitar a definição e padronização do
setor de forma a priorizar a segurança das operações, com análises e propostas de
melhorias em setores específicos.
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7. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As obras estudadas para a realização deste trabalho apresentam em sua
maioria a idéia principal de prevenção, ou seja, de segurança do vôo. Dentre todo o
material analisado foi possível perceber que existe uma grande relação entre o
estudo da comunicação aeronáutica, a fraseologia em si, e o propósito desde
trabalho. Aquilo que será apresentado neste estudo tem como base de suas idéias
as obras estudadas anteriormente para que assim fosse possível identificar os erros
presentes na fraseologia aérea e quais poderiam ser as possíveis propostas de
solução para esse problema.
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7.1. A IMPORTÂNCIA DA FRASEOLOGIA NAS COMUNICAÇÕES
AERONÁUTICAS
Para muitas pessoas, algumas ligadas profissionalmente à aviação, o tipo
especial de terminologia usado para comunicações entre aeronaves e órgãos de
controle de tráfego aéreo representa apenas uma maneira de se expressar
pretensiosa e por vezes cômica. Ou talvez lhe admitam uma vaga utilidade baseada
somente na seriedade com que devem ser tratados tais assuntos. ‘’ Uma questão de
tradição’’ – dizem outros. Porém experientes pilotos e controladores de tráfego aéreo
conhecem a importância de se evitar expressões ambíguas ou incompletas, ser
claro, preciso e, ao mesmo tempo, falar o mínimo. Esta é a finalidade do que se
chama em aviação e, particularmente em tráfego aéreo, ‘’fraseologia padrão’’. Sua
utilização correta pode evitar desde as interpretações falsas causadas por
expressões de uso pessoal ou regional até as grandes dificuldades advindas de
diferença completa de idiomas. Sua ausência ou mau emprego podem causar tantos
danos quanto uma má pilotagem ou os erros de navegação, a exemplo do que
ocorreu no fatídico acidente de Tenerife, onde o mau uso da fraseologia padrão foi
um dos principais fatores contribuintes para o acidente.
A padronização dos procedimentos de comunicação foi estabelecida para
assegurar a clareza das mensagens, a fraseologia que sai do padrão proposto pela
ICAO e outros órgãos reguladores da aviação civil pode levar a suposições falsas,
enganos e até mesmo colisões no ar ou em solo, onde novamente podemos usar o
acidente de Tenerife como exemplo.
Abaixo podemos apresentar alguns itens que são importantes para o melhor
uso da fraseologia padrão:
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Fiscalize sua linguagem - As palavras e frases-padrão foram escolhidas
para diminuir a possibilidade de mal-entendido. Uma breve recapitulação do manual
de fraseologia poderá auxiliar tanto o piloto como o controlador a incrementar seus
conhecimentos quanto à fraseologia padrão, estudar e usar os manuais é de grande
importância para os dois lados, assim ambos poderão compartilhar da mesma
linguagem.
Observe seu hábito - Ouvir a freqüência antes de se pronunciar na mesma,
não é apenas um ato de mera cortesia, é também o meio mais rápido de receber
suas instruções. Se você interrompe uma transmissão, ela tem que ser repetida
desde o começo e você terá que esperar ainda mais pela sua vez. A partir disso, é
importante lembrar então o que exatamente será dito ao controlador ou ao piloto,
para que assim a transmissão seja curta, clara e objetiva.
Quem, onde, o que? - Seja breve sem prejudicar a clareza. Em uma
chamada inicial, por exemplo, no solo ou no ar, o controlador quer saber logo a
matricula da aeronave, a posição da mesma e quais são as intenções. Se estas
informações são passadas prontamente, o controlador estará apto a fornecer sua
autorização sem mais delongas. Por outro lado, se você diz somente por exemplo:
“Solo Galeão, Cessna PT-ABC’’ uma outra chamada será necessária antes que se
possa iniciar a mensagem que realmente interessa.
Prepare-se para o imprevisto – Na medida em que a constância dos vôos
realizados aumenta, em algum momento haverá algum tipo de falha de
comunicação, o transmissor ou receptor ficará inoperante, ou talvez ambos. Seu
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procedimento dependerá muito das circunstâncias. Se você dispõe de transponder
deverá efetuar o seguinte procedimento: selecione 7600 (código indiscreto para
falha de comunicações). Se o receptor estiver funcionando, sintonize a freqüência
mais lógica, de preferência uma na qual já foi estabelecido contato anteriormente.
Se ainda não houve contato com algum órgão ATS (Air Traffic Service (Services), e
está próximo do destino, ouça o controle de aproximação ou a torre. O controle de
tráfego aéreo supõe que você fará o mais lógico.
Se estiver com pane de recepção deverá tomar todas as decisões de acordo
com as condições de vôo. Se estiver IFR deverá primeiramente alocar o código 7600
no transponder da aeronave para que seja possível que o controle identifique que a
aeronave esta com falha de comunicação e para posteriores ações consultar o
ROTAER para localizar o aeródromo mais próximo para um possível pouso e
consultar o AIP para demais procedimentos. Se estiver VFR poderá prosseguir para
um aeroporto desprovido de controle. Se não ouvir a torre, tente entrar em contato
com o centro de controle de área da FIR (Flight Information Region) em que esta
voando ou caso negativo, sintonize a freqüência 121,50. Se a perda de
comunicações ocorreu após você haver estabelecido contato com algum órgão de
controle, observe se a torre lhe envia algum sinal luminoso. Entretanto, as situações
de emergência são diferentes e muitas vezes nenhuma regra pode ajudar. Tente
fazer o mais lógico e seguro.
“Ciente”, quem está ciente? – Ciente não significa nada para o controlador,
exceto para indicar que alguém ouviu a mensagem. Se o controle lhe reportou
tráfego, diga-lhe se você tem o tráfego à vista ou se está tentando avistá-lo e onde,
e se não avistar o tráfego reportado, informe que esta ciente da informação passada
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pelo controle, mas que no entanto não esta visual com o mesmo. Cotejar pode
parecer algo infantil, mas evita erros. Outro hábito que é bastante acompanhado nas
comunicações aeronáuticas, é o cotejamento apenas da última ou das últimas duas
letras da matrícula da aeronave, isso igualmente não significa muito ao controlador
ou a outras aeronaves na mesma freqüência. Isso somente informa que a aeronave
recebeu alguma informação dita na freqüência, o que não assegura que foi recebida
de forma correta, ou seja, há a possibilidade do controle ter passado uma
determinada informação de trafego ou até mesmo uma autorização para a aeronave
em questão, e tal aeronave ter entendido-a de forma parcial ou errada. Por isso,
como dito anteriormente, uma mensagem, independente do seu grau de importância
deve ser cotejada e confirmada.
Confesse sua “ignorância” - Se você está vendo o tráfego na direção
reportada, mas não sabe como é um Bonanza, por exemplo, diga ao controlador o
que você está vendo. Pode haver outro tráfego nas vizinhanças que não aparece na
tela do radar, a vaidade pode ser perigosa nessas situações. Perdeu-se o tráfego de
vista, reporte imediatamente ao controlador. Nunca pressuponha que a aeronave
pousou ou se afastou, pois ela pode se encontrar em uma posição onde você não a
possa ver e, talvez, ela também não o passa ver. Finalmente, se você for novato em
tráfego denso, e se sentir aflito com tantas aeronaves a sua volta, peça auxílio.
Identifique-se sempre - Adote o hábito de começar cada transmissão com
seu indicativo de chamada completo, se houver aeronave nas proximidades com
indicativo parecido. Coteje as instruções do controlador para confirmar quem está
fazendo, e o que está fazendo. Os controladores também são humanos e
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ocasionalmente cometem enganos. Repetir as instruções juntamente com a sua
identificação torna remota essa possibilidade de erro por parte do controlador ou do
próprio piloto.
Diga tudo de uma única vez - Normalmente você pode poupar o tempo
fornecendo suas intenções e/ou solicitações na chamada inicial. Obviamente, se sua
informação é longa e complicada, você irá primeiro se certificar de que alguém está
lhe ouvindo. Porém muitas mensagens aparentemente longas podem ser muito
abreviadas se for retirado o supérfluo.
No solo – Em grandes aeroportos e de muito movimento você pode
simplificar as instruções de táxi dizendo ao controle onde você está. Não
simplesmente no estacionamento, porque o estacionamento pode ser muito grande.
Honestidade – Nunca altere a localização ou altitude quando reportar sua
posição. Dizer que está ‘’na vertical de Colombo’’ quando na realidade está a duas
milhas distante, na tentativa de ser um dos primeiros na seqüência de pouso não é
mais um costume tão comum como acontecia antes do radar, mas ainda acontece
ocasionalmente e ainda é perigoso. Também é perigoso dizer que está a 3.000 mil
pés, quando inquirido pelo controlador, ao invés de admitir que houve uma descida
involuntária para 2.600 mil pés. Em uma localidade sem radar, ou com aeronave
sem transponder, o controle de tráfego aéreo precisa depender de sua palavra para
certas informações, e só a honestidade poderá livrá-lo de um conflito em caso de
separação reduzida com outra aeronave. Sabemos que a fraseologia padrão às
vezes precisa ser um pouco modificada para atender a casos especiais como
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acidentes, seqüestros e outras emergências. O essencial, porém, é que se
mantenha uma terminologia sucinta, a mais aproximada do padrão.
7.1.1. Disciplina de vôo para aqueles que se cuidam
A época dos acidentes causados pela violação voluntária das regras de vôo
está quase chegando ao fim. Aqueles dentre nós que insistem em agir de tal
maneira que possam vir a produzir acidentes desse tipo, são logo revelados em
investigação de acidentes aeronáuticos.
Existe uma quebra de disciplina de vôo que é quase tão fatal quanto à
mostrada acima. Entretanto, ela é mais difícil de ser descoberta porque não parece
tão perigosa no momento da ocorrência. Vamos ver um exemplo prático de um
pequeno contorno de regras e ver o que acontece.
Em instrução o aluno reparou que o seu instrutor reportou cruzando 10.000
pés quando cruzava 9.000 pés a fim de apressar a liberação para um nível mais alto.
Mais tarde em outra subida, o aluno acusou cruzando 10.000 pés quando a
aeronave ainda cruzava 7.000 pés. Se este procedimento não tivesse sido checado
pelo instrutor, o resultado teria sido no final, uma colisão no ar com uma aeronave,
que a despeito da última mensagem, estava iniciando uma descida a partir de 9.000
pés liberada pelo controlador, que concluiu não haver problema, pois as duas
aeronaves já tinham separação em altitude. A atitude de contornar as regras é, sem
dúvida, a semente que germinará para produzir a violação voluntária das regras de
vôo.
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7.2. UTILIZAÇÃO DE CORTESIAS NA FRASEOLOGIA AÉREA
A utilização de cortesias tais como “bom dia’’, ‘’boa tarde’’, ‘’feliz natal’’ dentre
outras, são muito utilizadas no Brasil e no mundo afora. Contudo, de acordo com o
item 15.3.3 da ICA 100 12 o qual diz: “Em todas as comunicações, deverá ser
observada, a todo o momento, a maior disciplina, utilizando-se a fraseologia
adequada, evitando-se a transmissão de mensagens diferentes das especificadas,
tais como: bom dia, boa viagem, feliz Natal, etc.” Com isso vemos que faz parte do
regulamento aeronáutico que se deve evitar ao máximo o uso de, como dito acima,
cortesias.
“Item 15.3.8: não devem ser utilizadas palavras que sejam vazias de significado.”
Segundo Daniel Celso Calazans, surge uma dúvida, pois a rigor a
fraseologia do Brasil não proíbe tais expressões, apenas afirma que devem ser
evitadas. Se quisesse proibi-las mais enfaticamente, deveria utilizar regras tais
como: "são proibidas as expressões..." ou "é vedado o uso das seguintes
expressões...". Desta forma, as dúvidas seriam dirimidas.
Um dos mais conceituados manuais de fraseologia aérea, AIRSPEAK -
RADIOTELEPHONY COMMUNICATION FOR PILOTS, diz o seguinte em relação a
esta dúvida:
Greetings: Greetings like ‘good morning’, ‘good afternoon’ in the first call, and ‘good
bye’ at the end of an exchange are very commonly used. They do not appear in
official phraseologies, but ‘good morning’, ‘good afternoon’, or ‘good evening’
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replaces ‘how do you read?’ at initial contact; and ‘good bye’ replaces ‘over’ or ‘over
and out’. The greetings are a little of human exchange, and quite often the speaker
will translate them into the language of the receiver (‘bonjour’) to a French person,
‘buenos dias’ to a Spaniard, etc.
Simplificando, apesar de não aparecerem oficialmente em manuais de
fraseologia, tais saudações são aceitas, visto que estas substituem outras para
confirmar a clareza de recebimento de mensagens ou até mesmo o final de uma
transmissão.
Ainda segundo Calazans, que tem vasta experiência como professor,
um questionamento freqüente é o que acontece no caso de um
acidente que responsabilize o controlador de tráfego ou o piloto, até mesmo
penalmente, pela utilização de uma fraseologia não padrão.
‘’Em termos penais, só haverá responsabilidade se o uso destas expressões
concorrerem para um incidente ou acidente, caso contrário não há como
cogitar responsabilidade penal. Ou seja, a utilização da expressão deve estar dentro
da linha de desdobramento. Tem que ter nexo causal entre a instrução emitida e o
resultado, isto é, a utilização da expressão deve ser o fator determinante para o
incidente ou acidente. Se a utilização da expressão não contribuiu para a causa dos
mesmos, não há porque falar em responsabilidade penal. Sinceramente, não
consigo vislumbrar, em termos práticos, como um “BOM DIA” pode provocar um
acidente. Nos meus vinte anos como controlador de tráfego aéreo, não pude ver
nenhum caso deste tipo. Não estou contra a proibição, querem proibir; que se
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proíba. Mas, se se quiser fundamentar a proibição, então que, no mínimo, haja
lógica.
No entanto, há expressões ou palavras que contribuem para um mal
entendido, podendo provocar acidentes. Estas expressões devem, sim, ser
afastadas do uso cotidiano. Uma delas que ocorre como certa freqüência é a ‘OK’,
que tem sido utilizada indiscriminadamente como sinônimo da palavra ‘roger’
(ciente). Algumas vezes é empregada erroneamente em resposta a uma solicitação
de um cotejamento, isto é, ‘readback’. ’’
Em análise, um caso que a fraseologia aérea contribuiu para a ocorrência de um
acidente:
Aconteceu em Tenerife, em março de 1977, quando um B747 da Pan Am
estava taxiando pela pista enquanto outro B747 da KLM já estava alinhado na
mesma pista, só aguardando uma autorização da Torre de Controle para iniciar a
decolagem.
Analisemos a fraseologia que antecedeu a colisão entre as duas aeronaves:
- KLM: “ We are now at takeoff”.
Quando a aeronave da KLM transmitiu esta mensagem, o controlador de
tráfego aéreo entendeu que a aeronave estava pronta para decolar, quando, na
realidade, o piloto quis dizer que já estava iniciando a sua decolagem. Em posse
desta informação e, sabendo que havia outra aeronave taxiando na mesma pista
em sentido contrário, o controlador emitiu a seguinte mensagem para a aeronave
da KLM:
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- TWR: “OK… standby for takeoff I will call you.”
Aguarde para a decolagem e eu te chamarei. Houve também uma breve
pausa por parte do controlador após a palavra “OK”, o que contribuiu
consideravelmente para o acidente.
Quando o piloto da Pan Am ouviu a conversação entre o controlador e o
piloto da KLM, ficou preocupadíssimo e, alarmado com a situação, emitiu a
seguinte mensagem:
- Pan Am : “We are still taxiing down the runway!”
Ao transmitir esta mensagem, o piloto da Pan Am falou no mesmo momento
em que controlador instruiu o Boeing da KLM para esperar para decolar. Ao falar ao
mesmo tempo, o piloto da Pan Am e o controlador provocaram uma transmissão
sobremodulada. Desta forma, o piloto da KLM só ouviu parte da mensagem do
controlador de tráfego. Ouviu apenas o “OK....”, pois o resto da mensagem “...
standby for takeoff I wil, call you.” não conseguiu entender, devido à pausa do
controlador e a sobremodulação.
Desta forma, o piloto da KLM teve a seguinte interpretação das mensagens:
- KLM: “We are at takeoff.”
- TWR: “OK.”
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Assim, o piloto da KLM interpretou o “OK” como uma autorização para decolar
e na rolagem colidiu com o outro B747 provocando o maior acidente aeronáutico da
história, matando 583 pessoas.
Podemos então entender como uma palavra não padronizada pode interferir
na comunicação, devendo desta forma ser proibida, vetada não apenas evitada, por
ser uma palavra de vão significado. Neste caso, podemos cogitar responsabilidade
penal tanto para piloto como para o controlador de tráfego aéreo.
No contexto atual, muitas recomendações não explicam seu objetivo
definitivo. Ou seja, deve-se explicar por que o uso de determinadas expressões
devem ser evitadas, evidenciando as conseqüências que essas podem vir a trazer
para a segurança da operação. Há uma grande dúvida a respeito da legalidade do
uso de certas expressões na fonia. Um fator que tem contribuído muito para esta
dúvida está relacionado ao fato de os aeronautas, principalmente os estrangeiros,
utilizarem-nas com muita freqüência.
Há dois argumentos para se acreditar que elas não são proibidas:
- A rigor, a nossa fraseologia não as proíbe. Se teve por objetivo proibir, não utilizou
a melhor técnica de redação para tal.
- Não se ouve falar que um piloto tenha sido punido por ter cumprimentado na fonia.
(ITA – Infração de Tráfego Aéreo)
Se por outro lado é realmente proibido o uso de certas palavras, há de ser
considerado e cumprido o que estipula o nosso Código Brasileiro de Aeronáutica a
respeito da fraseologia padrão:
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Artigo 299: Será aplicada multa de até 1.000 (um mil valores de referência),
ou suspensão ou cassação de qualquer certificado da matrícula, habilitação,
concessão, autorização, permissão ou homologação expedidos segundo as regras
deste Código, nos seguintes casos:
Artigo 302. A multa será aplicada pela prática das seguintes infrações:
II – Infrações aplicáveis a aeronautas e aeroviários ou operadores de aeronaves:
t) operar aeronave deixando de manter fraseologia padrão nas comunicações
radiotelefônicas.
Ou seja, a cada ‘’bom dia’’ que os pilotos saúdam, estão arriscando tomar
uma punição de 1.000 (um mil) reais.
Calazans ainda levanta outro ponto polêmico: ‘’ O que é fraseologia padrão? ‘’
Segundo ele, se a saudação na fonia foge do padrão, o que fazer com toda a
aviação que invariavelmente utiliza estas expressões? Vamos cumprir ao que está
estabelecido no CBA e zelar para que a nossa lei seja cumprida à risca e
conseqüentemente promover punição para todos os pilotos que fogem do padrão?
Ou deixaremos como está permitindo que o uso e a prática possam revogar uma
norma? Norma sem sanção é norma morta. Se não há sanção, ou se esta não é
cumprida, podemos sim, afirmar que a prática, o uso e o costume revogam a norma
escrita.
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7.3. O USO DA LÍNGUA INGLESA NAS TELECOMUNICAÇÕES AERONÁUTICAS
Comunicações radiotelefônicas entre pilotos de aeronaves, controladores de
tráfego aéreo e operadores de estações aeronáuticas requerem o uso das
fraseologias padronizadas e exigem facilidade para alcançar entendimento mútuo
através do uso de habilidades lingüísticas apropriadas. Tendo em vista alcançar
maior segurança na aviação civil, a Organização de Aviação Civil Internacional
(OACI), em seu Anexo 1, dita normas e requisitos com relação à proficiência
lingüística de pilotos, controladores e operadores.
Desde o ano de 1951 foi determinado pela ICAO (Iternational Civil Aviation
Organization) que o inglês seria a língua usada internacionalmente nas
telecomunicações aeronáuticas quando o piloto, controlador ou operador de estação
rádio não tivesse como língua pátria o próprio inglês. No momento em que se
determinou o inglês como “língua padrão” foi necessário que a ICAO publicasse
documentos que efetivamente padronizassem a fraseologia na língua inglesa, os
DOC 9432, 8400, 4444 e Anexo 10, fazem parte desse processo de padronização
proposto pela ICAO aos países signatários. Destes três documentos, o que mais
auxilia nessa padronização é o: DOC 9432 Manual de Radiotelefonia da ICAO, o
qual foi feito para que possa ser compreendido o contexto no qual certas frases e
palavras são usadas, e a maioria dos exemplos de radiotelefonia em inglês deste
manual são ligados a situações típicas do meio aeronáutico usando lugares e
matriculas fictícias apenas para exemplificar as situações.
A fraseologia padrão proposta pela ICAO foi desenvolvida para prover uma
comunicação entre piloto e controlador mais eficiente, clara, concisa e não ambígua,
para isso é importante ter atenção ao correto uso da fraseologia ICAO,
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principalmente quando feita em inglês por pilotos ou controladores não falantes
nativos da língua inglesa, que a não proficiência na língua e o sotaque são fatores
de grande influência para o entendimento errado do que foi transmitido.
Podemos então presumir que todos aqueles que fazem parte do meio
aeronáutico mundial devem ser proficientes na língua inglesa para que se adéqüe ao
padrão proposto pela ICAO, no entanto devemos salientar que a proficiência na
língua inglesa é algo praticamente utópico para todos os países signatários,
excluindo logicamente aqueles que adotam a língua inglesa como língua pátria.
Para que seja compreendido a continuação deste tópico é importante relatar
que existem seis diferentes níveis de avaliação da ICAO com relação à proficiência
em inglês:
Nível 1: pré-elementar
Nível 2: Elementar
Nível 3: Pré-operacional
Nível 4: Operacional
Nível 5: Avançado
Nível 6: Expert
O nível quatro será o nível mínimo aceito para que o piloto ou controlador
possa ter um certificado de proficiência na língua inglesa.
Agora que já entendemos os níveis de qualificação para língua inglesa,
vemos que o nível aceitável não é muito elevado e que no teste que é feito pela
ICAO não podemos seguramente afirmar que mesmo um controlador ou piloto atinja
o nível seis, ele ou ela será proficiente na língua inglês, pois uma vez que o
candidato ao certificado de proficiência não é falante nativo da língua, dificilmente,
independente do tempo de estudo que o mesmo teve, terá total fluência e
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proficiência na língua. Imaginamos que na nossa própria língua pátria não é possível
adquirir total proficiência, que dirá em um segundo idioma, lembrando que se
atingido o nível seis, não é mais necessário que se realize provas de proficiência na
língua inglesa, o que pode ser um grave erro, pois, a manutenção do conhecimento
adquirido deve ser feita periodicamente, principalmente quando se tratando de uma
atividade vital na aviação, que é a comunicação. Podemos, no entanto afirmar que
aquele que possui habilidade suficiente para atingir o nível quatro ou mais, é
habilitado para trabalhar como piloto ou controlador de trafego aéreo fazendo uso da
língua inglesa, o que é notoriamente diferente de ser totalmente proficiente na língua
inglesa.
Pelo que foi exposto acima, podemos identificar que há um esforço por parte
da OACI em busca da padronização da fraseologia aérea, no entanto, ao menos no
Brasil, esse esforço para a padronização vem se mostrando com um crescimento
bastante lento, principalmente quando falamos de comunicação aeronáutica em
inglês. Essa falta de investimento nessa área pode contribuir negativamente para a
segurança de vôo, notando que muitos incidentes e até mesmo acidentes tiveram
como grande fator contribuinte o uso da fraseologia não padrão, sendo esse um dos
maiores problemas inerente a comunicação por voz. O uso não padrão da
fraseologia em inglês pode ser identificado em praticamente todas as fases do vôo,
sendo algumas delas muito mais criticas do que outras, como por exemplo, no
momento do taxi, decolagem/subida e aproximação/pouso, onde o nível de atenção
tem que ser elevado e a clareza das mensagens deve ser máxima.
Para exemplificar essas situações, abaixo temos algumas situações onde
foram identificadas falhas no uso da fraseologia em inglês. Estes exemplos devem
28
servir como forma de reafirmar que o uso incorreto da fraseologia pode levar a um
grande mal entendido e ocasionalmente a um acidente ou incidente.
• Primeiro exemplo, decolagem/subida:
A aeronave contata o controle de partida ao cruzarmos aproximadamente
6500 pés em subida. A resposta do controlador foi:
CTRL: “Roger, maintain 2-3-0”.
ACFT: “Roger, 2-3-0”.
Neste ponto, o nível de vôo 230 foi selecionado. E foi neste ponto que o controlador
disse que tinha designado 8000 pés. O comandante replicou que tinha sido
designado o nível 230. A resposta do controlador foi:
CTRL: “I said two hundred thirty knots, sir”
Estes números podem indicar proa, altitude ou velocidade, supõe-se que deveriam
usar a palavra "speed" ou "knots" na clearance. Entretanto, uma vez mais, o
tripulante deveria ter feito um esclarecimento antes de ocorrer o desvio de altitude.
• Segundo exemplo, aproximação/pouso:
Ao atingir a aproximação final para a pista 22L do aeroporto de New York com
menos e 7000 libras de combustível a aeronave chama a torre. A aeronave a nossa
frente não tinha abandonado a pista a tempo, então uma arremetida foi executada.
O Comandante solicitou ao co-piloto para declarar "minimum fuel", assim feito pelo
mesmo. O controle então nos perguntou quanto combustível ainda tínhamos. O
29
Comandante disse "We need to be on the ground in ten minutes". Eu repeti isto
para o Controle:
ACFT: “We need to be on the ground in ten minutes”.
CTRL: “Understand you have ten minutes fuel remaining".
ACFT: "Negative".
Aparentemente, o Controlador tinha declarado uma emergência e acionou os
bombeiros de qualquer forma. Após o acidente da Avianca em Long Island, NY, a
suscetibilidade do ATC a resposta de falta de combustível foi justificadamente
intensificada. A tripulação poderia ter minorado isto. O interesse do controlador por
precisamente conduzir sua situação. Eles, pilotos, deveriam ter dito, por exemplo:
"... we would like to be on the ground in about ten minutes – just so we do not
get too far into our fuel reserves".
A partir do que já foi dito anteriormente e dos exemplos colocados a cima, fica
evidente que o mau uso da fonia padrão na comunicação aeronáutica pode causar
confusão nas mensagens e, portanto levar a um possível incidente ou acidente. Isso
é muito observado quando o inglês é usado na comunicação entre pilotos e
controladores em que algum deles não é falante nativo da língua inglesa o que torna
a troca de mensagens mais delicada pois ambos, controlador e piloto devem usar a
fraseologia padrão, a qual nem sempre é lembrada por todos, mas que deve sempre
ser estudada, difundida e usada pelos órgãos de controle, pilotos e agencias
reguladoras da aviação civil.
30
7.4. O USO INCORRETO DOS MODAIS NA FRASEOLOGIA DE TRÁFEGO
AÉREO
A partir do que pode ser observado em um artigo desenvolvido por Daniel
Celso Calazans foi possível identificar como o uso inadequado dos verbos modais
na fraseologia de tráfego aéreo tem provocado inúmeros acidentes ocasionando
grandes transtornos ao serviço de tráfego aéreo, colocando aeronaves em risco de
colisão e, às vezes causando até mesmo acidentes aéreos, além de uma breve
analise sobre o assunto também encontramos alguns exemplos colocados pelo autor
como interessantes para identificar de que forma podem afetar a comunicação
aeronáutica.
O presente artigo resulta de uma experiência de D. Calazans de quase vinte
anos como professor de fraseologia de tráfego aéreo, controlador de tráfego aéreo e
piloto comercial. Os casos apresentados são todos verídicos coletados através de
relatos de controladores de vôo com experiência média de 20 anos.
Em visita aos órgãos de controle de Nova York, Daniel teve a oportunidade de
conversar com controladores de vôo do Aeroporto Internacional J. F. Kennedy, como
também do controle de aproximação e centro de controle foi constatado que o
assunto é mais comum do que se imagina. Além disso como professor do Instituto
de Proteção ao Vôo, Calazans teve a oportunidade de ministrar aulas de fraseologia
de tráfego aéreo para estrangeiros de vários países da América Latina.
Durante as aulas, principalmente para os controladores que realizavam curso
de operação radar, surgiram inúmeras dúvidas de como empregar os verbos modais
na fraseologia.
31
7.4.1. Estudo dos modais
O estudo dos verbos modais é extenso e complexo. Há livros específicos que
tratam somente deste assunto. Em sua essência, os modais, são verbos auxiliares
que modificam outros verbos.Podem expressar: possibilidades, hipóteses,
autorização, conselho, proibição, sugestão, etc.
Embora nos manuais de tráfego aéreo não esteja previsto o uso dos modais,
nem sua vedação, recomenda-se evitar sua utilização em face dos conflitos que
podem daí advir do uso dos mesmos.
7.4.2. Ocorrências e análises
Abaixo será possível observar alguns exemplos de ocorrências nas quais, o
uso incorreto ou então o entendimento equivocado dos mesmos, esta visível.
Nesses exemplos também é feita a análise dos equívocos ocorridos na ocorrência:
Ocorrência:
Ao consultar o site de RUBENS P. A. encontramos um interessante incidente
que envolve o mau uso do MODAL. “Durante um vôo nivelado no FL 230 um co-
piloto, que estava pilotando no momento, solicitou ao ATC autorização para subir
para o FL 310. O controlador respondeu ‘FL 310 is the wrong altitude for your
direction of flight; I can give you 290...’O co-piloto respondeu, ‘Roger, cleared to 290,
leaving 230’.O controlador não contestou o cotejamento.Quando a aeronave atingiu
24000 pés, o controlador interrogou a altitude da aeronave e disse: ‘I did not clear
you to climb, descend immediately to FL 230.You have a traffic at eleven o’clock 15
32
or 30 miles’.O piloto tinha entendido, eu posso lhe dar o FL 290 como significando
você esta autorizado as subir para o FL 290’’.
Análise dos equívocos:
Ao receber a mensagem ‘’I can give you FL 290...’’, o piloto entendeu que
estava autorizado a mudar de nível, pois o MODAL CAN, expressa também
autorização. Uma das primeiras perguntas que aprendemos em inglês é:
Can I come in teacher?
Yes, you can.
Na realidade o controlador não teve a intenção de emitir uma autorização,
mas informar que o FL 290 estava disponível, e que o piloto poderia ter mudado,
desde que solicitasse. O controlador poderia ter sido mais preciso se dissesse:
“According to your direction, FL310 is incorrect; we have 290 available, advise
intention”. Além do emprego ambíguo do “can”, o fato de o controlador não contestar
o cotejamento concorreu para o incidente.
A partir do demonstrado acima podemos concluir que: Cotejamento não contestado
é aceito como correto.
Ocorrência:
Piloto: “Can I descend to FL220...?”
Controlador: “Yes, you can…’’
Momentos depois o controlador foi surpreendido com a aeronave cruzando o
FL 230, em risco de colisão com outra aeronave que mantinha o mesmo nível.
Análise dos equívocos:
33
Questionado, o controlador afirmou que ao dizer “Yes, you can”, sua intenção
foi informar que o nível solicitado estava disponível e que a aeronave seria
autorizada a mudar de nível, mas não naquele momento. O controlador de vôo
poderia ser mais conciso dizendo:
“Stand by for further clearances”. Ao receber esta mensagem o piloto deveria
aguardar uma autorização para mudar de nível. O piloto incorreu também em erro ao
abandonar seu nível de vôo sem autorização para tal. O piloto teria sido mais preciso
se tivesse dito:
Piloto: “Request descend to FL220”’’
Controlador: “Negative, FL220 is occupied”.
Ocorrência:
Um controlador, necessitando que a aeronave fizesse uma decolagem
imediata transmitiu a seguinte instrução:
“You must take-off immediately”
Não há necessidade alguma de inserir o modal must para enfatizar uma
instrução.Usando o imperativo já é o suficiente. Outro caso, mais impressionante
ainda, apresentado por outro controlador na mesma aula, ocorreu quando desejando
fazer com que a aeronave mantivesse a posição disse:
“You mustn’t take-off”
Análise dos equívocos:
Neste caso a instrução emitida não teve nada a ver com a idéia proposta.Pois
é, o must na negativa quer dizer proibição. Isto mesmo, ao transmitir esta instrução.
O controlador proibiu a aeronave de decolar. “Você está proibido de decolar’’. Esta
instrução causou um grande transtorno ao controlador de vôo, pois o piloto, que não
34
era brasileiro, quis saber, em inglês, porque estava proibido de decolar daquele
aeroporto.
Outro erro na transmissão desta instrução esta relacionado com a pronuncia,
pois o controlador ao emitir a mensagem pronunciou “MUST’NT”, sendo que a
correta pronuncia /musnt/. Ou seja, não se pronuncia o primeiro “T”.Pode
representar em principio pouca coisa, mas erro de pronuncia pode equivocar a
compreensão.E acidentes, com vitimas fatais, já aconteceram por conta disto. Evita-
se usar instruções negativas, o piloto pode entendê-la positivamente, contrariando o
sentido da mensagem. Substitua por outras instruções tais como: “Maintain position”,
“Cancel take-off”
Modais: Seu uso incorreto pode mudar completamente o serviço prestado e a
intenção da mensagem.
Pode parecer estranho, mas já aconteceu de controladores de vôo mudarem
completamente o serviço prestado, sem dar conta disto, assumindo
responsabilidades que não eram devidas.
Ocorrência:
Um controlador pretendendo prover uma separação segura entre duas
aeronaves, disse a uma delas: “You should descend to FL230”. Após alguns
minutos, a aeronave estava mantendo o nível de vôo inicial conflitando com outra
aeronave. UFA! Quase bateu, disse o controlador.
Análise do equivoco:
A intenção do controlador de vôo era transmitir a seguinte idéia: “Você deve
descer para o nível 230”. Para o controlador de vôo a aeronave deveria, isto é, tinha
35
o dever de descer, pois estava em risco de colisão com outra. Ora, se quisesse
transmitir esta mensagem bastaria ter dito:
“Descend to FL230” o “should”, em inglês tem outra conotação, é usado como
conselho, como sugestão. Foi exatamente isto que o piloto entendeu. Interpretou
que não tinha a obrigação de descer, entendeu que estava a seu critério descer ou
não. Decidiu por manter-se nivelado. Só que o serviço que estava sendo prestado
era o de controle, e não o de informação de vôo, ou o de assessoramento, em que o
piloto poderá receber sugestões e optar por elas. No serviço de controle, o piloto não
tem escolha, tem que obedecer ao que o controlador instrui. Ao usar “should”, o
controlador de vôo, desqualificou o serviço de controle, para o de assessoramento.
Já numa outra ocorrência, o controlador de vôo que estava prestando o
Serviço de Assessoramento, presenciou uma situação de iminente perigo e instruiu a
aeronave: “You must turn right immediately, heading 220”. O controlador não deveria
ter emitido ordem alguma, pois não estava controlando.Mas o controlador entendeu
que a aeronave DEVERIA curvar imediatamente, caso contrario, teria colidido.Mas
ao ter emitido esta instrução, o controlador assumiu uma responsabilidade que não
lhe pertencia.Desqualificou o Serviço de Assessoramento para o de Serviço de
Controle.
7.4.3. Qual a fraseologia adequada neste caso?
A regulamentação pátria instrui que em caso de Serviço de Assessoramento,
o controlador de vôo deve usar as seguintes expressões: sugere ou assessora:
Responsabilidade penal do controlador de vôo.
36
Um assunto que vem sendo discutido e estudado em nosso país, versa sobre
a responsabilidade penal do piloto ou do controlador de vôo, em caso de acidente
ou, ate mesmo, de incidente. Embora seja um assunto pouco discutido no Brasil, não
e em muitos países. A finalidade de se apurar a responsabilidade penal, e que dela
decorre a responsabilidade civil, ou seja, a obrigação de se indenizar pelas perdas e
danos. Embora o assunto seja extenso e também complexo, podemos baseados nos
casos já citados ter uma leve noção da matéria. No primeiro caso, comprovada a
culpa do controlador de vôo pela falha na comunicação, seria passivo de um
processo criminal em que responderia por crime culposo, podendo ter sua pena a
agravada por inobservância de regras técnicas de profissão, não teve a intenção de
causar o acidente, mas deu causa a ele. Comprovada a culpa do controlador, a
União, seria objetivamente responsabilizada pela indenização por perda e danos. Já
no segundo caso, comprovada a culpa do piloto, em caso de acidente, este seria
responsabilizado penalmente, e a empresa seria responsabilizada por perdas e
danos.
Este artigo teve a colaboração da Prof.ª MARINA RENATA MENEZES
DANIEL CELSO CALAZANS é Controlador de vôo em São Paulo, Piloto Comercial,
Bacharel em Direito, Pós-graduado em Direito Aeronáutico, Membro-Conselheiro da
APACTA-SP – Associação dos Profissionais de Controle de Trafego Aéreo de São
Paulo, e Membro da SBDA – Sociedade Brasileira de Direito Aeroespacial.
37
7.4.4. Análise do artigo de Daniel Celso Calazans
A partir do artigo que foi exposto acima, foi possível identificar que o uso
correto das palavras, mas especificamente dos verbos modais é muito importante na
fraseologia aérea, pois estes podem ter duplo significado em uma só frase, o que
não é desejado quando se tratando de comunicação aeronáutica. Nesse tipo de
comunicação se presa pela precisão e clareza das mensagens; por isso se faz
necessário o uso correto dos modais ou até mesmo evitá-los para assim também
evitar falhas na comunicação e o cotejamento das mensagens transmitidas pelo
controle de tráfego aéreo ou pelo piloto, para que mais uma vez se evite o
entendimento errado das transmissões. A língua inglesa difere-se bastante em
relação à portuguesa no que tange aos verbos, de tal forma que, um brasileiro
falando em inglês pode cometer o grande equivoco de ‘’aportuguesar’’ a língua
inglesa. Tal atitude pode contribuir claramente para um mau entendimento de uma
informação, visto que esta pode tomar um significado totalmente diferente e
conseqüentemente criar uma situação potencial para causar um acidente
aeronáutico.
38
7.5. INTERFERENCIAS ELETROMAGNÉTICAS
7.5.1. A indisponibilidade de comunicação rádio entre controladores de tráfego
aéreo e pilotos, devido a interferências eletromagnéticas
Sabemos que para que a malha de rotas aéreas possa ser usada de forma
adequada por todas as aeronaves, principalmente aquelas que voam de acordo com
as regras de vôo por instrumentos, é necessário que exista um determinado espaço
aéreo e que este seja controlado. Isso nos diz que o Controle de Tráfego Aéreo faz
parte da atividade de Controle do Espaço Aéreo, e aqui devemos entender que,
portanto existe um serviço (separação, vigilância, informação de vôo, alerta, etc.) a
ser prestado por um determinado órgão de controle. A partir disso, podemos então
assumir que a interação entre controladores e pilotos é necessária para que se
realizem trocas de mensagens (solicitações e concessões de autorizações) que
viabilizam o controle do uso do espaço aéreo. A troca de informações (mensagens)
entre o órgão ATS (Air Traffic Service) e os pilotos é feita por canais de rádio e são
indispensáveis em todas as fases do vôo desde o momento em que a aeronave
pede autorização para seu vôo até o corte dos motores. No entanto, é importante
lembrar, que nem todos os aeródromos são dotados de um órgão de controle de
tráfego aéreo, logo nesse caso, além de não ser necessária a comunicação bilateral
com o órgão de controle, tal comunicação é inviável uma vez que inexistente em tais
aeródromos.
Uma vez que um determinado aeródromo controlado se encontra em uma
determinada área de controle de aproximação (por exemplo: Aeroporto Afonso
Pena, TMA (Área de Controle Terminal) Curitiba), será necessário que qualquer
39
aeronave que pretenda ingressar ou sair desse aeródromo devera estabelecer
comunicação bilateral tanto com o APP (Controle de Aproximação) como com a
TWR (Torre de Controle), uma vez que uma TMA é uma área onde há uma
confluência de rotas ATS e nas imediações de um ou mais aeródromos, portanto
uma área onde o fluxo de aeronaves é maior, conseqüentemente a separação entre
elas será menor, mas segura, uma vez que todas estejam em contato com o órgão
de controle, logo estão sofrendo um serviço de controle, no caso como a TMA
Curitiba é de Classe C sofrem um serviço de separação.
Para que exista essa comunicação entre pilotos e controladores é necessário
que o canal de comunicação rádio apresente quatro parâmetros básicos: Existência
de uma freqüência com uma determinada potência (alcance) para que essa possa
ser identificada tanto pelo receptor como pelo transmissor. Em um mesmo órgão
de controle podem existir diversos setores, e para cada setor existem freqüências
especificas, as quais devem ser divulgadas a todos aeronavegantes e a escolha
desses canais deve levar em consideração diversos fatores - freqüências existentes,
alocações adjacentes, separações geográficas, disponibilidade de infra-estrutura,
dentre alguns outros os quais não vem ao caso enumerar neste trabalho.
Mesmo com tantas exigências para que uma aeronave e um órgão de
controle possam manter comunicação via rádio, ainda existem muitos casos de
baixa qualidade da comunicação ou até mesmo falha, mesmo com todos os
equipamentos em funcionamento. Esse tipo de interferência é causada pelos
emissores de energia em freqüências próximas às da faixa do Serviço Móvel
Aeronáutico, ou seja, emissoras do Serviço de Radiodifusão, também conhecidas
como rádios comunitárias (87 a 108 MHz, faixa anterior à do Serviço de
Radionavegação Aeronáutica e ao Serviço Móvel Aeronáutico – 108 a 137 MHz).
40
Tais rádios comunitárias utilizam freqüências em faixas muito próximas das
utilizadas na comunicação aeronáutica, isso se faz acontecer pelo fato dessas rádios
utilizarem potências muito elevadas, equipamentos com filtragem deficiente ou até
mesmo operar em freqüências não autorizadas, o que infelizmente vem acontecendo
com certa freqüência, principalmente nos grandes centros populacionais. Esse
Serviço de Radiodifusão Comunitária deve ser operado em baixa potência e com
cobertura restrita ao bairro ou vila em que esta sediada, e caso não seja possível o
uso dos canais permitidos, será adotado o seguinte critério da Resolução Nº060, de
24 de setembro de 1998, da Agência Nacional de Telecomunicações, destacando-se
o fato dessas freqüências não poderem interferir de maneira alguma os canais dos
Serviços de Radionavegação Aeronáutica e Móvel Aeronáutico:
“Parágrafo Único. A indicação do canal alternativo ficará condicionada ao
atendimento dos critérios estabelecidos para proteção dos canais de Freqüência
Modulada, de Televisão e de Retransmissão de Televisão em VHF, integrantes de
plano básico de distribuição de canais, bem como daqueles localizados em Zona de
Coordenação de país limítrofe que mantenha acordo ou convênio com o Brasil, e
ainda, os canais dos Serviços de Radionavegação Aeronáutica e Móvel Aeronáutico
41
Fig. 1 – Neste gráfico é possível identificar a ocupação do Espectro Eletromagnético
no Aeroporto Santos-Dumont no Rio de Janeiro, o gráfico também representa a
saturação na faixas das rádios, entre 87 e 108 MHz. (figura retirada da revista
AEROESPAÇO, número 26. Mais detalhes nas referencias bibliográficas).
Outro fator recente que também, assim como o Serviço de Radiodifusão
Comunitária afeta as comunicações aeronáuticas, é a utilização de telefones sem fio
de longo alcance operando em freqüências do Serviço Móvel Aeronáutico. Já foram
relatados diversos casos de interferência na comunicação entre controlador e piloto
em que se ouvia conversações telefônicas. Segundo um estudo feito pela Agencia
Nacional de telecomunicações, alguns telefones sem fio tem alcance de até 50
quilômetros, são equipamentos fabricados para operarem em freqüências do Serviço
Móvel Aeronáutico e que a grande maioria destes aparelhos eram adquiridos em
países que fazem fronteira com o sul do Brasil (Paraguai, Argentina e Uruguai). Isso
resultou em sérios problemas de indisponibilidade de comunicação, por conta das
interferências eletromagnéticas das populares rádios piratas e telefones sem fio de
longo alcance.
42
Portanto a partir de tudo que foi dito acima, foi possível entender que apesar
de todos os cuidados, requisitos e exigências que são tomados pela autoridade
aeronáutica, pelo DECEA e todos os outros reguladores da aviação civil, ainda
existem fatores externos, que não estão ligados diretamente a aviação e
telecomunicação aeronáutica, os quais podem prejudicar muito a comunicação entre
controlador e piloto, e conseqüentemente prejudicar a segurança de vôo. É
necessário que exista um cuidado muito grande por parte tanto dos pilotos quanto
dos controladores em uma situação de falha de comunicação que pode vir a ocorrer
por conta de rádios piratas ou telefones sem fio de longo alcance, por exemplo;
nessas situações ambos devem saber qual o procedimento que deve ser feito para
manter a segurança da aeronave em que o piloto esta voando e também das outras
que estão no mesmo espaço aéreo controlado.
43
7.6. PADRÕES DA RADIOTELEFONIA AÉREA
Erros na comunicação são um dos maiores fatores contribuintes para
acidentes, principalmente, incursões de pista e níveis conflitantes. Tendo como
objetivo principal o melhoramento da segurança de vôo a partir do uso da
fraseologia padrão, as diversas agências reguladoras da aviação civil emitem
documentos com exemplos de fraseologia padrão e também exemplos de palavras,
termos e frases que não tem seu uso recomendado, e algumas vezes proibido.
Nesta parte do estudo pretendemos mostrar alguns exemplos de fraseologia padrão
tanto na língua portuguesa como inglesa; claramente será muito difícil conseguir
abordar todas as situações do vôo, no entanto serão listadas algumas delas
considerando uma situação hipotética de vôo entendendo que pode haver muitas
outras possibilidades e o exemplo sendo o esperado.
* Os textos em azul representam o piloto e os em preto o controle.
7.6.1. Exemplos
• Taxi:
O uso da comunicação padrão entre piloto e controlador nessa fase do vôo é
crucial, principalmente para evitar que a aeronave ingresse ou atravesse a pista em
uso sem autorização da torre ou controle de solo, podendo assim causar um
incursão de pista.
Português:
Solo Galeão, TBA 420, solicita instruções de táxi.
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TBA 420, autorizado táxi para o ponto de espera da pista 10, via taxiway “G”,
via primeira interseção à direita / via pista em uso / siga Boeing 737 à sua frente /
mantenha posição fora da pista 02 / reporte para cruzamento da pista 02 / taxie em
frente / taxie com cautela próximo do ponto de espera chame Torre em 118.1.
TBA 420, autorizado táxi para o ponto de espera da pista 10, via taxiway “G”/
via primeira interseção à direita / via pista em uso / seguindo o Boeing 737 à nossa
frente / manter posição fora da pista 02 / reportará para cruzamento da pista 02 /
taxie em frente / taxie com cautela.
Inglês:
Galeão Ground, TBA 420, request taxi instructions.
TBA 420, approved taxi to holding point, runway 10, via taxiway “G” / take first
intersection right / via runway in use / follow Boeing 737 ahead of you / hold short of
runway 02 / report for crossing runway 02 / taxi straight ahead / taxi with caution.,
approaching holding point contact Tower 118.1.
TBA 420, approved taxi to holding point, runway10, via taxiway “G” / take first
intersection right / via runway in use / follow Boeing 737 ahead of us / hold short of
runway 02 / report for crossing runway 02 / taxi straight ahead / taxi with caution.
• Decolagem e pós decolagem:
Nesta situação é muito importante a fraseologia padrão para que se confirme
a pista para decolagem, a EFETIVA autorização para decolagem, a saída a ser
cumprida pela aeronave e a freqüência correta do controle de aproximação.
Português:
Torre Rio, VSP 190, ponto de espera pista 17, pronto para decolar.
45
VSP 190 autorizado alinhar e decolar, vento 095 graus /10kt.
Decolagem autorizada, VSP 190.
... Após decolagem:
VSP 190, decolado aos 26, chame o Controle Rio, 119.0.
Controle Rio, 119.0, VSP 190.
Inglês:
Metro Tower, Big Jet 345, approaching holding point C1.
Big Jet 345, Metro Tower, line up runway 27.
Lining up runway 27, Big Jet 345.
Big Jet 345, runway 27, cleared for take-off wind 090 degrees 14 knots .
Cleared for take-off, Big Jet 345.
… Após decolagem:
Big Jet 345, airborne at 10, contact Metro Radar 124.6.
Contact Metro Radar on 124.6, Big Jet 345.
• Vôo em rota:
Português:
GOL 1735, voe na proa 330, suba para o FL100, sem restrições.
Proa 330, subir para FL100, sem restrições, GOL 1735.
GOL 1735, voe direto NIBGA, suba para o nível 360.
Direto NIBGA, subir para nível 360.
GOL 1735, chame Centro Curitiba, 125.4.
Centro Curitiba 125.4, GOL 1735.
Centro Curitiba, GOL 1735, cruzando FL240 para o FL360, direto NIBGA.
46
GOL 1735, Centro Curitiba, direto ASONO.
Direto ASONO, GOL 1735.
Inglês:
Big Jet 345, fly heading 260 (degrees), climb to FL 100, no speed restrictions.
Fly heading 260 (degrees), climb to FL 100, no speed restrictions, Big Jet 345.
Big Jet 345, fly direct BONNY, climb to FL 360.
Direct BONNY, climb to FL 360, Big Jet 345.
Big Jet 345, contact Northern Control, 132.6.
Contact Northern Control, 132.6, Big Jet 345.
Northern Control, Big Jet 345, passing FL240 climbing to FL 360, direct
BONNY.
Big Jet 345, Northern Control, fly direct CLYDE.
Direct CLYDE, Big Jet 345.
• Aproximação e pouso:
Português:
Controle Curitiba, VRG 2161, informação P, em descida para o FL100.
VRG 2161, Controle Curitiba, desça para o FL070.
Descendo para o FL 070, VRG 2161.
VRG 2161, voe na proa de GISA desça para 6000 pés, QNH 1020.
Proa de GISA, descendo para 6000 pés, QNH1020, VRG 2161.
VRG 2161, voe na proa 180 para seqüenciamento do ILS para a pista 15,
mantenha 6000 pés.
47
Mantendo 6000 pés, proa 200 para o ILS da pista 15, VRG 2161.
VRG 2161, desça para 4500 pés, proa 180 para interceptar localizador,
reporte estabilizado.
Descendo para 4500 pés, proa 180, reportará estabilizado, VRG 2161.
Estabilizou no ILS, VRG 2161.
VRG 2161, reduza velocidade cheque trem, chame torre, 118.15.
Cheque trem chama torre, 118.15, VRG 2161.
Torre Curitiba, VRG 2161 na final pista 15.
VRG 2161, complete aproximação.
VRG 2161, pouso autorizado, pista 15, vento 160 graus / 10 knots.
Pouso autorizado, VRG 2161.
Inglês:
Metro Approach, Big Jet 345, Boeing 737 with information P, Holding
MAYFIELD descending FL 80.
Big Jet 345, Metro Approach, now information Q, new QNH 998.
QNH 998, Big Jet 345.
Big Jet 345, leave MAYFIELD, heading 120 descend to 6000 feet, QNH 998,
speed 210 knots.
Heading 120, descend to 6000 feet, QNH 998, speed 210 knots, Big Jet 345.
Big Jet 345, turn right heading 180, speed 180 knots, vectoring ILS runway 27
Right.
Right heading 180, speed 180 knots, Big Jet 345.
Big Jet 345, turn right heading 240, descend to 3000 feet, report established
localizer runway 27 Right.
48
Right heading 240, descend to 3000 feet, report established localizer runway
27 Right, Big Jet 345.
Big Jet 345, established localizer.
Big Jet 345, cleared ILS approach runway 27 Right.
Cleared ILS approach runway 27 right, Big Jet 345.
Metro Tower, Big Jet 345, final runway 27 Right.
Big Jet 345, continue approach.
Continue approach, Big Jet 345.
Big Jet 345, cleared to land, runway 27 Right, wind 270 degrees ten knots.
Cleared to land runway 27 Right, Big Jet 345.
Mais uma vez é importante frisar que sempre que a fraseologia padrão é
utilizada de maneira correta, as operações são realizadas de forma segura e
eficiente. Nestes exemplos colocados acima, foi possível identificar algumas
situações em que existe um grande volume de tráfego, ou seja, zonas de tráfego de
aeródromo ou áreas de controle terminal, portanto o uso da comunicação entre o
piloto e o controlador é também intenso para que o controlador possa efetuar a
separação segura entre todas as aeronaves no setor. Sempre relembrando que o
objetivo é melhorar a segurança de vôo pela constante busca do elevado padrão na
fraseologia aérea.
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7.7. ENTREVISTAS – PILOTO E CONTROLADOR
Nesta etapa do trabalho serão apresentadas algumas entrevistas
(questionários) feitos tanto para pilotos como controladores que tinha como objetivo
colher informações advindas dos dois lados da comunicação aeronáutica, para que
fosse possível analisar, a partir das respostas dos entrevistados, quais os pontos
que cada um considera como importante no estudo das falhas na comunicação
aeronáutica que podem afetar a operação e segurança de vôo. Foram feitas cinco
questões comuns a todos os entrevistados para que possibilitasse a identificação
dos diferentes pontos de vista dos mesmos.
7.7.1. Pilotos
Nome: Daniel Molina
Idade: 46
Cargo: Piloto de Linha Aérea Internacional
Experiência: 30 anos na atividade aérea – 27 anos como piloto profissional.
1- Qual a importância do bom uso da fraseologia aérea na segurança de
vôo? O padrão passado tanto aos controladores quanto aos pilotos é seguido
de forma correta?
Num meio tão dinâmico como é a aviação, seria impensável organizar tantas
variáveis sem que houvesse um parâmetro de orientação. E os procedimentos de
rádio-comunicação, em todas as suas modalidades - desde o uso tradicional do
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rádio VHF, passando pelas freqüentes transmissões incompreensíveis via HF, até
chegar no estágio atual de troca de dados via data link – obrigam seguir uma linha
de conduta e que ela seja abrangente, conseqüentemente, a segurança de vôo
sente os efeitos dessa uniformidade de comunicação via fraseologia específica. No
entanto, mesmo com a evolução, aperfeiçoamento, treinamento e vigilância nesse
conjunto de procedimentos, ainda é possível notar algumas deficiências crônicas
que persistem e que afetam o aspecto operacional, que em boa parte são causadas
pela visível insuficiência em alguns países de infra-estrutura e equipamentos
adequados. Outro aspecto importante e que deveria receber maiores cuidados pelas
autoridades aeronáuticas, principalmente com o aumento de tráfego aéreo em certos
lugares, é a diferença de uso de unidades de medidas, como aquelas para controle
de velocidade e altitude. No caso da China e Rússia, esses dois países optam pela
utilização de controle de altitude e nível de vôo em metros, ao invés de pés, que é o
parâmetro amplamente empregado em boa parte do mundo.
2- Desde que usada da forma correta e padrão, a fraseologia inibe
qualquer problema em relação às comunicações, ou seria impossível devido a
outros fatores indiretos, como por exemplo, pronúncia e sotaque?
Na minha percepção, noto que há uma boa tentativa de padronização, mas
isso ainda não tem sido suficiente, por inúmeras razões, e a principal, é que
situações imprevistas acontecem e a improvisação às vezes é o único recurso
existente. Sendo mais realista na análise, vejo o que é tangível é imaginar uma linha
central (que poderíamos chamá-la de padrão) e uma margem paralela aceitável de
tolerância que serve de referência e eventual limite. E o interessante é que um dos
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maiores problemas nessa área ainda reside no processo elementar de comunicação,
que é aquele entre o emissor da mensagem e o receptor. A razão é fácil de
descobrir, e fazendo um teste simples dentro do nosso próprio país, ao pegarmos
duas pessoas – por exemplo, uma que foi criada no sul e a outra no norte -
notaremos em dado momento durante uma conversa, mesmo que informal, que um
dos dois (ou até mesmo os dois) pedirá para que o outro repita uma palavra ou que
seja feito um maior esclarecimento a respeito do que o outro interlocutor está
querendo dizer numa frase.
Se transportarmos essa situação para a atividade aérea - mesmo quando o
sistema possui uma suposta facilidade, que é um caminho com muitas frases e
palavras que guiam o processo de comunicação -, uma situação semelhante
também ocorre, da presença, mesmo que parcialmente, de falta completa de
compreensão, e muitas vezes esse entendimento da mensagem, e
conseqüentemente a ação correta aplicável a operação pretendida, não é
conseguida, e não raramente é necessário repetir mais de uma vez ou, em casos
mais críticos, uma ação imprópria, por erro na recepção e interpretação, é
executada. Vejo que a origem de tudo isso é motivada por diversas razões, como a
pronúncia e o sotaque, como foi colocado na questão, mas que de qualquer forma
não são os únicos fatores. Vale acrescentar que no cenário aeronáutico, como
comentei na pergunta anterior, tudo é muito dinâmico e não é anormal ver as
circunstâncias se alterarem muito rapidamente, com margens pequenas ou
inexistentes para erros, e como não há a possibilidade de usar alguns recursos
facilitadores que ajudariam no processo de assimilação da comunicação,
principalmente porque as duas ou mais pessoas que dependem nessa rede de troca
de informações estão em ambientes distintos, é imprescindível para que a
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segurança de vôo não seja afetada, que haja como ponto de partida muita clareza e
objetividade nas comunicações, que são influenciadas em boa parte pelo uso de
equipamentos adequados para transmissão e recepção, preocupação quanto ao que
será dito, e de que forma isso será feito, inclusive o correto "timing", e, obviamente,
uma boa noção das regras aplicadas e que são encontradas nos manuais
pertinentes. Se adicionarmos outros itens que de certa forma contribuem mesmo que
indiretamente, como a pressão pelo cumprimento dos horários, o stress e o cansaço,
é fácil constatar que muitas coisas que fazem parte do ambiente operacional
contribuem, mesmo que imperceptivelmente, de forma positiva ou negativa nesse
contexto, que vai muito além do simples processo de falar, ouvir e entender.
3- Você acha que o inglês envolvido nas operações de hoje em dia estão
em bom nível, de tal forma que não afetam a segurança de vôo?
Aprender uma nova língua demanda tempo e somente o convívio constante
num ambiente propício é capaz de criar um aspecto muito importante, que não se
resume ao ato de se comunicar fluentemente: a criação dos bons hábitos
necessários na expressão oral. Não é fácil - principalmente para aqueles que
possuem uma cultura muito diferente da que conhecemos no ocidente – achar que
de uma hora para outra alguém conseguirá, mesmo com muito esforço, dominar
todas as possíveis condições que compõe o padrão na atividade aérea e externar
tudo isso de uma forma clara, e muito menos pensar que ao desviarmos da
normalidade, às vezes não por vontade própria, mas por necessidade, como numa
emergência, haverá uma segurança plena na troca de mensagens entre os
participantes diretos e indiretos nesse suposto cenário. É importante observar que
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mesmo aqueles que têm a língua inglesa como nativa cometem erros absurdos
nesse processo. Outro aspecto importante que deve ser observado é que muitos
países ainda insistem manter a sua língua oficial, que não é obviamente o inglês,
como meio de comunicação, principalmente em áreas com grande fluxo de tráfego
aéreo internacional, como no Brasil nas suas grandes e importantes áreas terminais.
No meu modo de ver, isso extrapola consideravelmente a margem de desvio
permitida e que foi citada anteriormente.
4- Você já vivenciou alguma situação em que, o mau uso da fraseologia,
ou mau entendimento da mesma, ocasionou ou quase um acidente/incidente?
Sim, no caso, incidentes, e em dois tipos de condições: onde todos os
envolvidos falavam a mesma língua nativa (no Brasil), e em circunstâncias onde o
inglês era o meio comum para troca de mensagens, mas nem todos os participantes
dessa comunicação tinham o domínio completo dessa língua. Mas isso, no final, não
é nada surpreendente ou, digamos, alarmante, mas requer um nível de atenção e de
cuidado. Tenho visto outros casos de pequenos incidentes na comunicação, mas
estão limitados a pequenas ocorrências sem maiores conseqüências.
5- Qual seria a forma mais adequada e eficaz para chegar e manter um
bom nível na fraseologia aérea, tanto em português, como no inglês?
Investimento, treinamento, qualidade da mão de obra, desafogar o volume de
tráfego em certas áreas, equipamentos, etc. Em resumo, uma lista infindável, porém,
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tudo esbarra num item imutável, que sempre estará por trás de tudo e que acaba
sendo o elo mais fraco de uma suposta corrente inquebrável: o ser humano.
Nome: Marcelo José Guerra Leone
Idade: 33
Cargo: Co-piloto
Experiência: B727, MD11, B737, Vôos domésticos no Brasil, Internacional (empresa
Brasileira e Saudita)
1- Qual a importância do bom uso da fraseologia aérea na segurança de
vôo? O padrão passado tanto aos controladores quanto aos pilotos é seguido
de forma correta?
O bom uso, ou seja, o uso seguindo as normas e padrões adotados, tanto nas
comunicações aeronáuticas, assim como em qualquer outra área da aviação é
importante para trazer mais segurança à atividade e assim reduzir ao máximo a
possibilidade de acidentes/incidentes.
A grande maioria dos pilotos/controladores no Brasil usam a fraseologia
padrão, porem alguns não a seguem de forma correta 100% das vezes que se
comunicam. Se utilizarem da linguagem coloquial para se comunicar, porém não é
sempre que isso acontece. Nos EUA alguns controladores utilizam gírias e
expressões a que eles estão acostumados e isso às vezes pode dificultar o
entendimento por parte das aeronaves estrangeiras.
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2- Desde que usada da forma correta e padrão, a fraseologia inibe
qualquer problema em relação às comunicações, ou seria impossível devido a
outros fatores indiretos, como por exemplo, pronuncia e sotaque?
Sim, se usada de forma correta as possibilidades de erro podem ser
reduzidas. A pronuncia e o sotaque são problemas mais difíceis de resolver. (Por
exemplo, na Arábia Saudita foi praticamente impossível no meu primeiro vôo
conseguir entender o que o controlador estava falando. Somente com o tempo que
eu consegui me acostumar com o sotaque e a pronúncia deles).
3- Você acha que o inglês envolvido nas operações de hoje em dia estão
em bom nível, de tal forma que não afetam a segurança de vôo?
Não. O Inglês tanto dos pilotos quanto dos controladores não estão em um
nível ótimo. Não acredito que afete a segurança do vôo nas operações normais.
Porém como tudo na aviação, pressupõe-se a perfeição, devemos então sempre
buscar uma melhora nos níveis de inglês.
4-Você já vivenciou alguma situação em que, o mau uso da fraseologia,
ou mau entendimento da mesma, ocasionou ou quase um acidente/incidente?
Não.
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5- Qual seria a forma mais adequada e eficaz para chegar e manter um
bom nível na fraseologia aérea, tanto em português, como no inglês?
Para manter o bom nível na fraseologia padrão em português basta somente
a conscientização daqueles que insistem em usar a linguagem coloquial em algum
momento. Mais rigor na punição ou nas advertências no caso do uso da fraseologia
não-padrão. A fraseologia em português é muito simples pois não tem a barreira da
língua. Já a fraseologia em inglês deve ser mais treinada, assim como a língua
inglesa de uma forma geral (não só a linguagem aeronáutica). Então a forma mais
adequada é mais treinamento e mais verificações de proficiência.
7.7.2. Controladores
Nome: Michelle dos Santos Sousa
Idade: 22
Cargo: 3º sargento
Experiência: Operadora radar e não-radar, capacitada nos órgãos de TWR, APP e
ACC.
1- Qual a importância do bom uso da fraseologia aérea na segurança de
vôo? O padrão passado tanto aos controladores quanto aos pilotos é seguido
de forma correta?
Entendo que o bom uso da fraseologia não significa utilizá-la de forma a não
ter outros recursos de lingüística quando uma situação exigir além do previsto nos
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regulamentos, o que afeta e muito a segurança de vôo, muitas vezes o controlador
não consegue transpor mensagens fundamentais dentro da fraseologia prescrita.
2- Desde que usada da forma correta e padrão, a fraseologia inibe
qualquer problema em relação às comunicações, ou seria impossível devido a
outros fatores indiretos, como por exemplo, pronuncia e sotaque?
Quanto ao sotaque descarto qualquer possibilidade, já quanto a pronuncia a
problemática está na língua inglesa. Também cabe ressaltar que só a fraseologia
não inibe todos os problemas de comunicação, necessita-se de boas freqüências e
rádios.
3-Você acha que o inglês envolvido nas operações de hoje em dia estão
em bom nível, de tal forma que não afetam a segurança de vôo?
Penso que atualmente está bem melhor, mas ainda temos uma grande
dificuldade principalmente entre os controladores. Não há como pensar em
comunicação deficiente e segurança juntos.
4- Você já vivenciou alguma situação em que, o mau uso da fraseologia,
ou mau entendimento da mesma, ocasionou ou quase um acidente/incidente?
Pelo mau uso da fraseologia não, mas sim pela precariedade das freqüências
e também por cause de aeronaves com matriculas semelhantes, tendo em vista que
o não entendimento nas comunicações não significa mau uso.
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5- Qual seria a forma mais adequada e eficaz para chegar e manter um
bom nível na fraseologia aérea, tanto em português, como no inglês?
Cursos de reciclagem para controladores e pilotos, pois devido à rotina de
trabalho não é possível à atualização de informações sobre regras novas ou que
cairão em desuso. Quanto ao inglês, acredito que é necessária dedicação e
empenho pessoal, pois só o estudo dos regulamentos não basta.
Nome: Não foi autorizado o uso do nome do entrevistado para o trabalho
Idade: 42 anos
Cargo: Supervisor
Experiência: Controlador de TWR, APP radar e ACC
1- Qual a importância do bom uso da fraseologia aérea na segurança de
vôo? O padrão passado tanto aos controladores quanto aos pilotos é seguido
de forma correta?
É essencial o cuidado no uso da fonia aeronáutica. O mau uso gera
equívocos que podem ser fatais. Percebe-se que há um padrão conhecido e
passado. Porém, caso não haja conscientização ocorrem desvios.
2- Desde que usada da forma correta e padrão, a fraseologia inibe
qualquer problema em relação às comunicações, ou seria impossível devido a
outros fatores indiretos, como por exemplo, pronuncia e sotaque?
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O cuidado com a fraseologia diminui a possibilidade de problemas de
entendimento na comunicação piloto/controlador, porém como não é ingrediente
único relacionado a essa comunicação, ainda haverá a possibilidade de enganos.
3- Você acha que o inglês envolvido nas operações de hoje em dia estão
em bom nível, de tal forma que não afetam a segurança de vôo?
Com certeza poderia ser melhor.
4- Você já vivenciou alguma situação em que, o mau uso da fraseologia,
ou mau entendimento da mesma, ocasionou ou quase um acidente/incidente?
Já.
5- Qual seria a forma mais adequada e eficaz para chegar e manter um
bom nível na fraseologia aérea, tanto em português, como no inglês?
Treinamento constante associado à vigilância contínua dos participantes
(piloto e controlador).
7.7.3. Análise das entrevistas
Nas respostas que tivemos acima, foi possível concluir que existem diferentes
pontos de vista com relação ao problema que temos na comunicação entre Piloto e
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Controlador. Já numa primeira análise vimos que pilotos e controladores vêem a
fraseologia padrão de forma um pouco diferente, onde ao mesmo tempo em que se
prega o uso apenas da fraseologia padrão sem o uso de outros métodos lingüísticos
para a comunicação, temos também a defesa de que se necessário em um
determinada situação não existe problema em usar a fraseologia não-padrão para
transmissão da mensagem radiotelefônica.
No entanto, algo que é do pensamento de todos é que além de ser necessário
o uso da fraseologia padrão, também se faz importante o uso de equipamentos
adequados, ou seja, freqüências livres de interferências, rádios adequados para a
atividade, e assim por diante. Além disso observamos que sotaque e pronuncia são
fatores que são muito difíceis de se esgotar, ou seja, dificilmente não teremos
problemas com relação a sotaque e pronuncia, uma vez que isso pode ser percebido
no momento em que se faz o uso de uma língua estrangeira. Também é do
entendimento de todos que o inglês utilizado hoje na aviação, considerando o inglês
como uma segunda língua, como o nosso caso no Brasil, ainda não esta em seu
melhor nível, apesar de ter melhorado muito nos últimos anos, ainda há muito que
melhorar neste quesito.
Por fim, também foi possível identificar que para que se possa melhorar e
manter um bom nível da fraseologia aérea, primeiro é necessário investimento tanto
para pilotos como controladores, que são os agentes diretos da comunicação,
treinamento também de ambas as partes e principalmente a dedicação e empenho
pessoal para aprimorar a fraseologia usada como estar sempre ciente das
atualizações dos regulamentos de tráfego aéreo.
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8. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tudo que é bem treinado e praticado obtém maior êxito nos resultados finais.
Esta máxima cabe perfeitamente a Comunicação Aeronáutica. Mesmo chegando à
conclusão que, de alguma forma é praticamente impossível padronizar totalmente a
maneira com a qual controladores e pilotos se comunicam levando em conta todos
os fatores mencionados neste trabalho, sabe-se que se a devida atenção for dada a
este setor, as melhorias serão evidentes. Torna-se necessário uma forte atuação
dos órgãos competentes junto aos cursos e escolas formadores dos agentes da
comunicação aeronáutica, o que não existe hoje, devendo exigir um trabalho focado,
atualizado e eficaz no treinamento em relação à comunicação e fraseologia área,
evitando vícios e negligências que comumente constatamos no dia-a-dia. Como
previamente mencionado, alguns dos aspectos que afetam diretamente
comunicação como, por exemplo, o sotaque e a pronuncia são imutáveis, ou seja, é
da particularidade de cada um e praticamente impossível reverter algo deste gênero.
Contudo, com a evolução da tecnologia a comunicação aérea está apresentando
certa tendência a se tornar totalmente digital, com o uso do datalink, um sistema
onde a comunicação fica totalmente concentrada em mensagens digitadas, vários
problemas que afetam a comunicação hoje em dia, seriam evitados, não excluindo a
possibilidade de aparecerem novos desacertos que afetem este tipo de
comunicação.
Em tese, tudo que foi observado e estudado tende a requerer um trabalho
forte e árduo no treinamento e conscientização da importância de uma boa
comunicação para a segurança de vôo e eficiência da atividade aérea.
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9. CONCLUSÃO
A partir do estudo realizado, pode-se concluir que mesmo com todo o esforço
feito pelos órgãos competentes para solucionar o problema, é praticamente
impossível obter segurança total no que faz referência às comunicações
aeronáuticas. Primeiramente, pela falta de interesse, treinamento e estudo de alguns
agentes da comunicação. Além disso, a maneira com que pilotos e controladores se
comunicam, são afetadas pela individualidade de cada um, isto que, em suma torna-
se literalmente irreversível. Tom de voz, pronúncia e sotaque são heranças
imutáveis, mesmo com treinamento intenso, tornando-se ainda um agravante
quando consideramos uma língua estrangeira. Contudo, o treinamento e a
consciência tornam-se eficiente para padronizar a fraseologia aérea e contribuir para
reciclagem de normas e métodos utilizados. Apesar de parecer algo simples, possui
uma dimensão muito grande e diminui drasticamente as chances de erro na
comunicação aeronáutica entre pilotos e controladores.
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10. RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Recomenda-se utilizar o maior número de relatos de pessoas que estão
diretamente envolvidas no setor, buscando diferentes pontos de vista em relação ao
problema apresentado. Além disso, buscar uma gama maior de informações
referentes a diferentes países, que possuem outros métodos e normas para a
atividade.
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11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OLIVEIRA, Eduardo Silvério de. Um controlador de tráfego aéreo brasileiro
deve ser proficiente (fluente) em inglês? Aeroespaço Notícias, Rio de Janeiro, Ano 1,
n. 4, p. 10-11, out. 2004.
NUNES, Waldir Galluzzi. Interferência das Rádios Piratas. Aeroespaço
Noticias, Rio de Janeiro, Ano 4, n. 26, p. 23-25, ago. 2007.
ICA 100-12, (DECEA) Regras do Ar e Serviços de Tráfego Aéreo (em vigor
desde 20 jun 1999; até a emenda (AMD6) de 25 dez 2003.
DOC 9432, (ICAO) Manual of Radiotelephony (Manual de Radiotelefonia),
quarta edição, 2007.
DOC 4444, (ICAO) Air Traffic Management (Gerenciamento de Tráfego
Aéreo), décima quinta edição, 2007.
P. A., Rubens, Say what? Non-Standard Phraseology Incidents. Disponível
em: http://parupri.sites.uol.com.br/FRASNP1.htm
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CALAZANS, Daniel Celso; MENEZES, Mariana Renata. O uso incorreto dos
modais na fraseologia de tráfego aéreo. Disponível em:
www.abcta.org.br/artigos/PDF/FRASEOLOGIA2.pdf.
ICAO. All Clear? The path to clear communication – ICAO Standard
Phraseology – A quick reference guide for Commercial Air Transport Pilots.
EUROCONTROL
CBAER, Código Brasileiro de Aeronáutica, Lei n. 7565 de 1986.
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