as fake news e a crise da credibilidade … · felipe m. de aguiar² nadia couto³ resumo: com o...

25
1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Jornalismo da Faculdade Satc, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. NOV 2017 2 Acadêmico de Jornalismo da Faculdade Satc. E-mail: [email protected] 3 Professora orientadora. Faculdade Satc. E-mail: [email protected] AS FAKE NEWS E A CRISE DA CREDIBILIDADE JORNALÍSTICA: UM ESTUDO DE CASO¹ Felipe M. de Aguiar² Nadia Couto³ RESUMO: Com o progresso da internet o cenário do jornalismo vem passando por profundas transforma- ções. As redes sociais como ferramenta de informação, junto com a criação de notícias pelos usuários de internet, deram abertura para a difusão de fake news, ou notícias falsas. Esses fa- tos acabam por abalar a credibilidade jornalística na rede. O objetivo geral desta pesquisa é analisar como uma fake news interferiu na credibilidade da produção jornalística da matéria intitulada “Moradores de rua em São Paulo são acordados com jatos de água fria”, da repór- ter Camila Olivo, pela Central Brasileira de Notícias (CBN). Para tanto, realizou-se pesquisa bibliográfica e a análise da matéria citada, com a repercussão no site Jornalivre. Concluiu-se que as fake news interferem na credibilidade do jornalismo e necessitam ter mais relevância no meio acadêmico. PALAVRAS-CHAVE: Fake news; Credibilidade; Jornalismo. 1 INTRODUÇÃO O jornalismo sofreu grandes alterações ao longo dos anos com o progresso das mídias, mas atualmente com a internet ele passa por uma nova fase. O desenvolvimento nas redes sociais está ligado intimamente à evolução da web. Para Recuero (2009), com o aumen- to de usuários em redes sociais, surgem novos desafios para jornalistas e portais de notícias no ambiente online. Porém, diferente do que acontecia nas mídias tradicionais, uma das caracte- rísticas que chama atenção para o tema é a criação de conteúdo pelos próprios usuários de redes sociais, além da interatividade entre o jornalista e os usuários. Com isso, a internet virou um ambiente próprio para a difusão de fake news, ou seja, notícias falsas que se espalham por toda a rede, gerando dúvidas sobre a veracidade de fatos e colocando em risco a credibilidade jornalística. Diante desse quadro, apresenta-se como problemática dessa pesquisa: como as fa- ke news atuaram no processo de produção jornalística em uma matéria publicada pela Central Brasileira de Notícias (CBN), no dia 19 de julho de 2017, pela repórter Camila Olivo? O obje- tivo geral deste trabalho é analisar como uma fake news interferiu na credibilidade da produ-

Upload: lamphuc

Post on 09-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Jornalismo da Faculdade Satc, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. NOV 2017

2 Acadêmico de Jornalismo da Faculdade Satc. E-mail: [email protected]

3 Professora orientadora. Faculdade Satc. E-mail: [email protected]

AS FAKE NEWS E A CRISE DA CREDIBILIDADE JORNALÍSTICA: UM ESTUDO DE CASO¹

Felipe M. de Aguiar²

Nadia Couto³

RESUMO:

Com o progresso da internet o cenário do jornalismo vem passando por profundas transforma-ções. As redes sociais como ferramenta de informação, junto com a criação de notícias pelos usuários de internet, deram abertura para a difusão de fake news, ou notícias falsas. Esses fa-tos acabam por abalar a credibilidade jornalística na rede. O objetivo geral desta pesquisa é analisar como uma fake news interferiu na credibilidade da produção jornalística da matéria intitulada “Moradores de rua em São Paulo são acordados com jatos de água fria”, da repór-ter Camila Olivo, pela Central Brasileira de Notícias (CBN). Para tanto, realizou-se pesquisa bibliográfica e a análise da matéria citada, com a repercussão no site Jornalivre. Concluiu-se que as fake news interferem na credibilidade do jornalismo e necessitam ter mais relevância no meio acadêmico.

PALAVRAS-CHAVE: Fake news; Credibilidade; Jornalismo.

1 INTRODUÇÃO

O jornalismo sofreu grandes alterações ao longo dos anos com o progresso das

mídias, mas atualmente com a internet ele passa por uma nova fase. O desenvolvimento nas

redes sociais está ligado intimamente à evolução da web. Para Recuero (2009), com o aumen-

to de usuários em redes sociais, surgem novos desafios para jornalistas e portais de notícias no

ambiente online. Porém, diferente do que acontecia nas mídias tradicionais, uma das caracte-

rísticas que chama atenção para o tema é a criação de conteúdo pelos próprios usuários de

redes sociais, além da interatividade entre o jornalista e os usuários.

Com isso, a internet virou um ambiente próprio para a difusão de fake news, ou

seja, notícias falsas que se espalham por toda a rede, gerando dúvidas sobre a veracidade de

fatos e colocando em risco a credibilidade jornalística.

Diante desse quadro, apresenta-se como problemática dessa pesquisa: como as fa-

ke news atuaram no processo de produção jornalística em uma matéria publicada pela Central

Brasileira de Notícias (CBN), no dia 19 de julho de 2017, pela repórter Camila Olivo? O obje-

tivo geral deste trabalho é analisar como uma fake news interferiu na credibilidade da produ-

2

ção jornalística da matéria intitulada Moradores de rua em São Paulo são acordados com

jatos de água fria. Para tanto, tem-se como objetivos específicos: compreender o que é fake

news, entender o que é pós-verdade e analisar a matéria intitulada Moradores de rua em São

Paulo são acordados com jatos de água fria.

A pesquisa se justifica, uma vez que pode contribuir para o entendimento sobre a

perda de credibilidade jornalística na internet, além do grande número de fake news difundi-

das nas redes sociais e seus impactos na difusão de informação por portais de notícias, assunto

tão presente na atualidade.

Existem várias formas de classificar esta pesquisa. Do ponto de vista de sua natu-

reza, a pesquisa é básica, pois busca na análise da matéria Moradores de rua em São Paulo

são acordados com jatos de água fria gerar novos conhecimentos para os avanços científicos

voltados para fake news. Além disso, no tocante à forma de abordagem do problema, o estudo

é qualitativo, pois a interpretação dos fatos é o foco principal.

Por proporcionar mais familiaridade com o problema das fake news e da credibili-

dade jornalística, envolvendo pesquisa bibliográfica, do ponto de vista de seus objetivos este

trabalho é exploratório. Já com relação aos procedimentos técnicos, a pesquisa é bibliográfica,

pois analisa material publicado pela CBN para sua elaboração, além de ser um estudo de caso,

porque busca entender o porquê do problema da credibilidade em relação às fake news no

jornalismo, com um exemplo específico.

2 A MUDANÇA NA PRODUÇÃO DE CONTEÚDO JORNALÍSTICO

A evolução do jornalismo está diretamente ligada ao desenvolvimento dos meios

de comunicação, pois é por meio destes que a interação se torna possível. A produção jorna-

lística foi difundida, inicialmente, por meio de jornais impressos que entregavam aos leitores

notícias do dia anterior, todos os dias pela manhã. Entretanto, tal meio possibilitava pouca

interatividade, pois esta se limitava às cartas enviadas às redações. Para Mielniczuk (2012),

com o surgimento dos meios de comunicação de massa, como o rádio e a televisão, a divulga-

ção de notícias passou a ser instantânea, à medida que os fatos aconteciam, e possibilitou uma

maior interatividade entre o interlocutor e o destinatário da informação veiculada, por meio de

entrevistas ao vivo e ligações para estações de rádio.

O progresso dos meios de transporte exerceu importante papel na ampliação das

entregas de jornais impressos, processo parecido com aquele reproduzido com o advento do

3

rádio e da televisão. De acordo com Canavilhas (2003, p. 23), “graças aos avanços técnicos na

distribuição do sinal, estes meios conseguiram a cobertura total dos respectivos países por via

hertziana e, mais recentemente, uma dimensão global graças aos satélites”.

A mudança no jornalismo está intimamente ligada à expansão do webjornalismo,

pois a evolução dos meios de comunicação social está relacionada ao desenvolvimento de

novas tecnologias, devido ao maior poder de alcance e distribuição que tais meios proporcio-

nam. Assim como ocorreu com os meios de comunicação tradicionais, o webjornalismo tam-

bém sofreu influências do rápido desenvolvimento dos meios tecnológicos. Alguns dos gran-

des nomes de jornais limitavam-se a apresentar apenas cópias da edição impressa na forma

digital, seguidos pela transcrição de notícias de rádio e televisão para o meio online. Pouco

tempo depois, o webjornalismo passou a titularizar espaços exclusivos, com informações for-

matadas para a divulgação em plataformas digitais (CANAVILHAS, 2005)

O webjornalismo apresenta características específicas, das quais Bardoel e Deuze

(2001) destacam como principais: a interatividade, a customização de conteúdo, a hipertextua-

lidade e a multimidialidade. De igual modo, Palacios (1999) cita a multimidialida-

de/convergência, a interatividade, a hipertextualidade, a personalização e a memória como

atributos definidores do webjornalismo.

Essas características têm modificado a forma como se produz o jornalismo, bem

como o papel do jornalista nas redações, e permite que essas transformações sejam visualiza-

das em todas as etapas de formação da notícia. Para Mendes (2006, p. 38), a evolução do jor-

nalismo é um processo inacabado, pois:

[...] a introdução de novos meios e novas tecnologias nas redações é um processo em evolução, assim como a história da raça humana. Trata-se de um projeto interminá-vel, mas que, por ora, provoca profundas alterações no âmbito profissional, seja na busca da pauta, seja na apuração e/ou na produção da matéria.

A versatilidade de trabalhar além de textos, mas com fotos, áudios e vídeo, são fa-

tores que definem o jornalista multimídia e marcam essa nova etapa dos profissionais da área.

De acordo com Lasica (1997), a internet revolucionou a profissão do jornalista, assim como a

televisão mudou todo o modus operandi vigente nas redações de jornal impresso, motivo pelo

qual as técnicas de escrita passam a ser questionadas. Nesse sentido, Canavilhas (2005, p. 23)

observa que “usar a técnica da pirâmide invertida na web é cercear o webjornalismo de uma

das suas potencialidades mais interessantes: a adopção de uma arquitectura noticiosa aberta e

de livre navegação”, assim, o desafio enfrentado pelo novo jornalismo é o de se reinventar.

4

Mesmo com as grandes transformações da comunicação, a função dos jornalistas

em sua essência permanece a mesma, por isso o papel do novo jornalista tem fundamental

importância na criação, apuração e checagem de dados gerados pela internet. Para Gradim

(2005, p.5),

[...] fazer da sua actividade profissional seleccionar, verificar, e transmitir informa-ção com imparcialidade e veracidade, permanece idêntico relativamente aos core du-ties (deveres principais) do jornalismo. Mesmo que os meios à disposição tenham definitivamente mudado, e o modo de apresentação dos conteúdos – os tradicionais géneros jornalísticos – estejam eles próprios em mutação.

Ainda que com as transformações causadas pelas evoluções tecnológicas, o jorna-

lismo mantém, na sua essência, a sua principal função, a de informar. Contudo, em um ambi-

ente com um intenso fluxo de dados diariamente, tanto o público quanto o jornalista estão

sujeitos a se deparar com notícias falsas, razão pela qual a checagem de informações é carac-

terística importante do novo jornalismo. Conforme Millison (1999), filtrar e editar uma in-

formação de confiança é muito importante na internet, pois qualquer pessoa pode tornar uma

publicação importante.

A interatividade, por sua vez, desponta como característica marcante do novo jor-

nalismo, uma vez que a internet trouxe expressiva e importante mudança na relação jornalista-

leitor, que pode ser visualizada no diálogo entre a imprensa e o público. Para Canavilhas

(2005), interagir com os produtores de notícia é uma das características mais marcantes para

explorar no webjornalismo.

2.1 REDES SOCIAIS

As redes sociais possuem grande importância no atual âmbito jornalístico, pelo

que se faz necessário caracterizar a referida plataforma multimídia. A definição defendida por

Recuero (2009, p. 4) propõe que

[...] rede social é gente, é interação, é troca social. É um grupo de pessoas, compre-endido através de uma metáfora de estrutura, a estrutura de rede. Os nós da rede re-presentam cada indivíduo e suas conexões, os laços sociais que compõem os grupos. Esses laços são ampliados, complexificados e modificados a cada nova pessoa que conhecemos e interagimos.

As representações de cada indivíduo normalmente são personalizadas, podendo

definir-se como um perfil na página facebook, no instagram ou no twitter, dentre outras redes

5

sociais em uso na contemporaneidade. Segundo Recuero (2009), as conexões feitas em cada

uma dessas plataformas digitais representam a formação de redes sociais.

As características de interatividade e conexão das redes sociais podem transformar

a rotina jornalística, uma vez que referidas plataformas digitais formam canais em que é posí-

vel a distribuição instantânea de informações. Neste sentido, Canavilhas (2008, p. 03) dispõe

que

[...] também no campo da distribuição de notícias se registram alterações, com blo-gues e redes sociais transformados em verdadeiros canais de distribuição instantâ-nea. Para além dos próprios media utilizarem estes canais, os leitores chamaram a si esta actividade, funcionando como uma espécie de novos gatekeepers que comentam e seleccionam as notícias mais interessantes para os seus amigos (Facebook) ou se-guidores (Twitter).

A possibilidade de qualquer pessoa publicar informações na internet é um desafio

para o novo jornalismo, principalmente em sites de interação social como o facebook. Dentro

dessa perspectiva, segundo Recuero (2009), os jornalistas “vão atuar com um duplo papel

informativo: como fontes, como filtros ou como espaço de reverberação das informações”.

Para entender o trabalho jornalístico nas redes sociais é preciso observar uma dife-

rença entre o profissional da comunicação e usuários de redes sociais. Neste sentido, Recuero

(2009) afirma que

enquanto as informações difundidas pelas redes sociais não precisam, necessaria-mente, ter um valor-notícia ou um compromisso social, como teoricamente, as jorna-lísticas (ou aquelas produzidas pelos veículos) precisam. Uma informação que circu-la em uma rede social, por exemplo, pode ter um forte caráter social.

Os números de usuários de redes sociais com Facebook e Twitter crescem a cada

dia. De acordo com o fundador do Facebook, Mark Zuckenberg, a rede social já conta com 1

bilhão de contas. Um estudo da Retrevo (2010) aponta que 48% dos norte americanos checam

ou atualizam seu Facebook ou Twitter antes de dormir. De todos os entrevistados, 42% afir-

maram que checar as redes sociais é a primeira coisa que fazem ao acordar.

Por isso é comum circular entre usuários informações que não são necessariamen-

te voltadas para o âmbito jornalístico, e que podem tratar de dados inverídicos, como a produ-

ção e difusão em larga escala de notícias falsas, abalando a credibilidade do jornalismo, que

vem diminuindo com as novas formas de informar.

6

3 FAKE NEWS, CREDIBILIDADE JORNALÍSTICA E PÓS-VERDADE

Como visto, a internet é um ambiente que muda a forma do fazer jornalístico. De-

vido a sua relação de conexão e possibilidade de qualquer pessoa publicar na rede, o jornalista

está sendo transformado por esse meio. Como foi afirmado por Recuero (2009) neste trabalho,

o profissional de comunicação deixa de ser um gatekeeper e passa a ser um gatewatching na

internet e nas redes sociais.

Mas assim como os meios de comunicação tradicionais, a internet também está

sujeita a notícias falsas. De acordo com Souza (2017, p.01):

Ao longo de sua história, o jornalismo sempre conviveu em menor ou maior grau com notícias falsas. Boatos publicados sem apuração, notícias pagas para favorecer alguém, notícias simplesmente inventadas em veículos sensacionalistas – tudo isso não vem de hoje e foi algo com que a imprensa sempre buscou lidar. No entanto, com a internet, a proliferação das notícias falsas aumentou exponencialmente. Um fenômeno que vem pondo em risco a própria profissão de jornalista, que vê agora, em plena era digital, sua credibilidade novamente em jogo.

Ainda segundo o autor, notícias falsas são publicadas todos os dias na internet e

servem aos mais variados motivos. Seja para desacreditar um adversário político, como no

caso da campanha americana, seja para garantir um maior número de visualizações às posta-

gens e assim atrair mais publicidade aos sites que as fazem circular, dentre outros motivos.

De acordo com Souza (2017), o Dicionário Oxford elegeu o termo pós-verdade

como a expressão do ano. O conceito de pós-verdade sempre existiu, porém, ganhou força no

ano de 2016 no contexto do referendo da União Europeia no Reino Unido e nas eleições pre-

sidenciais dos Estados Unidos, em razão da expressiva quantidade de notícias falsas envol-

vendo esses dois eventos.

De acordo com a pesquisa Social Media and Fake News in the 2016 Election, de-

senvolvida nos Estados Unidos, em janeiro de 2017, por Hunt Allcott e Matthew Gentzkow,

nas eleições de 2016 o número de fake news em favor do candidato Donald Trump chegou a

115 histórias publicadas na rede social facebook, compartilhadas cerca de 30 milhões de ve-

zes, enquanto 41 notícias falsas foram publicadas em prol de sua opositora Hillary Clinton,

atingindo a marca de 7,6 milhões de compartilhamentos. De acordo com Allcott e Gentzkow

(2017), uma das fake news que mais chamou a atenção se refere à notícia do Papa Francisco

apoiar a candidatura de Donald Trump nas eleições.

O surgimento da pós-verdade está interligado com a própria evolução humana.

Para Keys (2016), assim que os humanos começaram a ter palavras para falar eles falaram

7

palavras que não eram verdades. Mesmo que muitas sociedades aceitem a honestidade como a

melhor política social, na era da pós-verdade mentir, em geral, tem se tornado uma transgres-

são com impunidade. Ainda para o autor, a desonestidade tem se tornado o novo normal, po-

rém, com essa aceitação da mentira como algo comum, desenvolvem-se jeitos ingênuos de

nos desligar da ética.

A pós-verdade pode não ter relação direta com a mentira, mas sim ser uma criação

que busca confundir a realidade. Zarzalejos (2017, p. 08) afirma que a pós-verdade não é um

sinônimo de mentira, “consiste na relativização da verdade, na banalização da objetividade

dos dados e na supremacia do discurso emocional”. Ainda segundo o autor (2017), a confusão

criada pela pós-verdade no uso de manobras conspiratórias hostilizando grupos sociais, ou

criando receio sobre estes, remontam à antiguidade, mas foi no século XX que causaram os

piores desastres contra a humanidade: o nazismo e o stalinismo.

Contudo, a pós-verdade não é vista apenas no âmbito da política, e pode estar pre-

sente em outros campos de estudo. Conforme Zarzalejos (2017, p. 11),

É feita também, de forma perigosa e arbitrária, no âmbito da publicidade e no campo empresarial. A comunicação de grandes empresas – especialmente dos setores estra-tégicos como o da energia e o financeiro – deve rever seus protocolos de atuação: sua comunicação não deve consistir apenas – quiçá, principalmente – em transmitir conhecimentos, mas em desarmar mentiras, versões alternativas, rumores e, em al-gumas ocasiões, falsidades abertas. A política e os negócios perderam – na realida-de, toda a sociedade perdeu – um mecanismo de defesa diante da pós-verdade: a in-termediação jornalística.

No jornalismo, a pós-verdade pode ser tratada como uma operação para desacredi-

tar a imprensa, evitando que evidências sejam expostas. Mesmo que busque sempre informar

de variadas formas, nem sempre o jornalismo foi a mais pura verdade. Deveria ser acrescido à

definição de jornalismo o fato de ser uma atividade praticada por seres humanos suscetíveis a

diferentes interpretações da realidade. Muitas vezes, a pós-verdade é artifício para acobertar

uma verdade inconveniente, como tirar a credibilidade do jornalismo (PALMA, 2017).

Mas para alguns autores o atual cenário jornalístico na era da pós-verdade pode

ser visto como ameaça e oportunidade. Medeiros (2017) menciona que com todos produzindo

conteúdo e compartilhando nas redes sociais num primeiro momento o jornalismo perde for-

ças, pois ler na íntegra uma postagem, verificar a credibilidade da fonte e questionar dados

são comportamentos ignorados pelos usuários.

Porém, com tantas informações na rede, o exercício de checagem de dados poderá

transformar o jornalista como fonte principal de informação confiável. Nesse sentido, o autor

8

Medeiros (2017, p. 25) afirma que “o desafio determinante é a capacidade do jornalismo de

enfraquecer os construtores interessados em meias-verdades ou falsidades inteiras”. Ou seja, é

necessário estar à frente dos produtores de falsas verdades, o que pode significar investimen-

to, inovação e equipes estruturadas.

Nas redes sociais, o anonimato tem se tornado um aliado dos geradores de fake

news, como explana Medeiros (2017, p. 25):

Existem atores ávidos para estimular crenças radicais, cultivar preconceitos e posi-ções extremas que são abraçadas com fervor, principalmente nas redes, onde os ha-

ters, trollers, portais fakes ou páginas especializadas em boatos, se proliferam. Sem falar que muitos ainda gozam do anonimato.

Em meio ao cenário atual do jornalismo estão as fake news ou notícias falsas, di-

fundidas nas redes sociais. Talvez antigamente pudessem ser chamadas de rumores, sátiras e

até mesmo propagandas, as fake news têm forte impacto pela grande divulgação e por encon-

trarem receptores aptos a aceitarem sem contestar a informação. Estas notícias falsas ganham

credibilidade e força dependendo daqueles que as propagam e sua influência na rede (QUI-

RÓS, 2017).

Assim como a internet pode ser um meio de reinvenção jornalística, ela pode a-

presentar um lado diferente. Para Souza (2017, p. 02), “num ambiente de crise da imprensa

como negócio e também dos veículos de comunicação como grandes formadores de opinião

junto às massas, as notícias falsas encontraram na web um território livre para se manifestar”.

Além disso, as fake news não estão só ligadas à problemática do jornalismo e dos

meios de comunicação. Sua capacidade de interferir na vida das pessoas, propagando falsas

verdades, também pode ferir os direitos fundamentais da intimidade e da honra. Conforme

Pina (2017, p.13), “em termos legais, o problema das fake news se dá quando ocorre um con-

flito de direitos. Tais conflitos são produzidos entre a informação transmitida e os direitos

fundamentais das pessoas afetadas por dita informação, principalmente a honra e a intimida-

de”. Nesse sentido, notícias falsas podem ferir os direitos fundamentais dos indivíduos, àa

medida que a propagação de inverdades em grande escala possui repercussões na honra, ima-

gem e intimidade daqueles que são alvos delas.

Já para o cenário do jornalismo, as fake news estão ligadas diretamente com a cre-

dibilidade depositada pelos usuários nos canais de informação, quanto à veracidade dos fatos

apresentados. De acordo com Redondo (2017), “a credibilidade dos meios de comunicação

está menor do que nunca e chegou-se a escrever seu obituário diante da pujança das redes

9

sociais”. Em um estudo realizado pelos jornalistas Craig Silverman e Jeremy Singer-Vine

sobre a credibilidade das fake news, pelo site Buzzfeed, em 2016, acerca da eleição de Donald

Trump, os repórteres constataram que 23% dos 3015 entrevistados utilizavam o Facebook

como fonte principal de informação, e, destes, 83% consideraram fake news como notícias

precisas.

Katherine Viner (2016), em uma de suas reflexões no jornal The Guardian, ao pu-

blicar o artigo How technology disrupted the truth em julho de 2016, afirma que a transição

do jornalismo para as mídias digitais acarretou a aceitação das mentiras e de rumores informa-

tivos, uma vez que a tecnologia transformou o jornalismo.

Recuperar essa credibilidade perdida devido às redes sociais é tarefa árdua e deve

estar entre os principais assuntos debatidos pelo atual jornalismo. De acordo com Zarzalejos

(2017, p. 11),

a nova comunicação e o novo jornalismo devem concentrar-se, de agora em diante, não tanto em contar – isto já o fazem os cidadãos, por conta própria, por meio do enorme cardápio de tecnologias digitais à sua disposição – mas em verificar, em rea-lizar o fact-checking de maneira sistemática, por meio de muitas plataformas que já existem.

O conceito de credibilidade da informação é amplo e complexo de definição. Para

Serra (2006), há de se procurar na codificação da retórica de Aristoteles, depois utilizada pela

tradição greco-latina, o sentido de credibilidade, ou seja, a ethos do orador, que é vista como

um fator fundamental para persuasão.

No dicionário há algumas definições dessa palavra. Segundo Dicio (2017) “Parti-

cularidade, idiossincrasia ou qualidade do que é crível”, “Pouco Usual. Caraterística de quem

consegue ou conquista a confiança de alguém - que possui crédito”.

Porém, é necessário entender o que significa credibilidade, tanto no jornalismo

quanto nos meios de comunicação. Segundo Serra (2006, p. 02), os princípios que orientam a

seleção da informação pelos receptores são a pertinência e a credibilidade. Como o autor ex-

plica, “se não for considerada pertinente, uma informação, por mais credível que ela seja ao

não conquistar a atenção dos seus eventuais receptores, está condenada a uma não existência

de facto”. Ainda para o autor, a informação se não for considerada credível, mesmo sendo

muito pertinente, acaba por ser anulada pelos seus receptores.

Além disso, no jornalismo, é preciso levar em consideração que o debate sobre a

credibilidade não é um fato recente, pois é um assunto recorrente em estudos, desde as mídias

10

tradicionais. Para Bucci (2000), a credibilidade é muito importante para o jornalismo, sendo

ela quem certifica a profissão, assim como legitima os meios de comunicação.

Ainda que busquem constantemente a credibilidade com o seu interlocutor, os

meios de comunicação precisam se reinventar na web. De acordo com Castilho (2005, p. 2),

O modelo atual de certificação de veracidade já não funciona mais. O problema é causado pela falta de controles mais rígidos na produção das notícias, enquanto os blogueiros e pesquisadores de novas mídias acreditam que a questão é mais comple-xa, pois, segundo eles, estaria havendo uma substituição de padrões de credibilidade fixados por grupos restritos de pessoas, em benefício de percepções coletivas.

Os meios de comunicação online ainda passam por um processo de adaptação.

Conforme Serra (2006, p.03), “a web passa agora por um processo de ‘credibilização do seu

dispositivo’, etapa da qual o jornalismo online depende para se firmar com consistência no

horizonte do receptor”.

Para alguns autores, como Lisboa, a confiabilidade é exigida em todo tipo de in-

formação. Para Lisboa (2012, p. 03), “as exigências que fazemos ao jornalismo e o modo co-

mo julgamos sua credibilidade, são em grande medida as exigências e maneiras pela qual atri-

buímos confiabilidade a qualquer tipo de fonte de informação com quem travamos contato”.

As fake news na internet, além de tirar a credibilidade do jornalismo, ainda são um

fator que abre precedentes para discursos de ódio na rede. Para Amaral e Coimbra (2015), as

características da rede, como o anonimato, geram mudanças na forma de sociabilidade entre

os indivíduos e a propagação de discurso de ódio e violência simbólica tende a ser intensa na

internet, pois as barreiras de interação sociais são reduzidas nesse ambiente.

Os indivíduos que utilizam de violência e discurso de ódio nas redes sociais tam-

bém são conhecidos como haters – odiadores. Segundo Amaral e Coimbra (2015, p. 295), “O

termo hater (em português, odiador) como gíria da internet é originário do hip hop norte-

americano, e está relacionado à expressão “Haters Gonna Hate” (Odiadores vão odiar)”.

Os haters, nas redes sociais, são pessoas que violam as regras de convivência so-

cial e civil com o objetivo de chamar a atenção. Conforme Amaral e Coimbra (2015, p. 300),

[...] se refere às pessoas que expressam ódio nos espaços de interação e conversação. São sujeitos que não estão abertos ao debate/diálogo construtivo, eles fazem apenas críticas negativas ao Outro, não respeitando a opinião divergente. O hater quer ser temido e ouvido, e com o surgimento dos sites de redes sociais, ele ganhou voz e vi-sibilidade, devido às características da rede.

11

Em seu artigo Mídia e a ascensão conservadora, Carla Luciana Souza da Silva faz

uma relação entre o uso do discurso de ódio e os novos movimentos de direita no Brasil. Con-

forme Silva (2017, p. 179):

Não é à toa que esses movimentos de direita se colocam como novos. Não querem, em linhas gerais, ser identificados com elementos negativados como a Ditadura. En-tretanto, não tem qualquer problema em divulgar cartazes de manifestantes que pe-dem e insistem com a volta de uma ditadura por meio de uma intervenção militar constitucional ou outras coisas do gênero. Senhoras portando cartazes perguntando por que não mataram todos em 1964? aparecem nos meios de divulgação dessa nova direita que reproduz exatamente o discurso do ódio.

Entre os sites citados em sua pesquisa está o Jornalivre, jornalismo em prol da li-

berdade, objeto deste estudo. Para Silva (2017), esse meio é utilizado para atacar tudo que

eles consideram de esquerda, defendendo alguns políticos, entre eles João Dória Júnior.

Estes novos movimentos de direita apostam na internet para divulgar suas ideolo-

gias, em algumas matérias atacam até a direita tradicional. De acordo com Silva (2017), até as

mídias tradicionalmente conservadoras sofrem ataques desse novo movimento de direita, pois

quando lhes convém classificam essas mídias como esquerdistas, utilizando da sustentação

que a internet lhes dá para divulgar ideias.

A divulgação desse material é feita na internet por meio de sites de redes sociais.

Segundo Silva (2017, p. 179),

Esses textos por sua vez são retransmitidos em redes sociais diversas, desde o Face-book, o Twitter, o WhatsApp, e assim por diante. Mas o que é retransmitido não é a tese ou pesquisa original que deu origem à polêmica, e sim esses textos desqualifi-cadores considerados pelos seus autores (que usam uma linguagem de jogos de vi-deogames) como desintegradores dos seus adversários.

Ainda para Silva (2017), os autores dessas postagens fazem qualquer fato render,

retroalimentando o site em virtude dos mesmos discursos ideológicos e das mesmas ideias.

4 ANÁLISE DOS DADOS

A partir da fundamentação teórica, este artigo pretende analisar e discutir a reper-

cussão da notícia Moradores de rua em São Paulo são acordados com jatos de água fria, de

Camila Olivo, publicada no dia 19 de julho de 2017, pela Central Brasileira de Notícias

(CBN), assim como analisar o vídeo postado no perfil de João Dória Jr., na rede social Face-

book, sobre a matéria e observar o uso de uma fake news produzida pelo Jornalivre.

12

Para melhor compreensão deste estudo, a análise foi separada em três partes. A

primeira é voltada para uma descrição de todo o caso, já a segunda inclui sua repercussão. A

terceira engloba a parte de análise, com base teórica, do problema apresentado.

4.1 A REPORTAGEM SOBRE OS MORADORES DE RUA

A notícia Moradores de rua em São Paulo são acordados com jatos de água fria,

de Camila Olivo, publicada no dia 19 de julho de 2017, às 11h40, no portal da Central Brasi-

leira de Notícias (CBN), pertencente ao Sistema Globo de Rádio, que foi ao ar pelo programa

CBN São Paulo, com Fabíola Cidral, trata de um fato ocorrido na Praça da Sé em São Paulo

onde moradores de rua tiveram seus pertences molhados por jatos de água lançados por agen-

tes públicos da Prefeitura de São Paulo, na gestão do atual Prefeito João Dória do PSDB

(CBN, 2017).

Figura 1: Reportagem da repórter Camila Olivo para a Rádio CBN sobre moradores de rua

Fonte: CBN (Central Brasileira de Notícias) CBN São Paulo com Fabíola Cidral: http://cbn.globoradio.globo.com/programas/cbn-sao-paulo/2017/07/19/MORADORES-DE-RUA-EM-SAO-

PAULO-SAO-ACORDADOS-COM-JATOS-DE-AGUA-FRIA.htm

O conteúdo de web conta com 1.285 caracteres e traz como conteúdo de web rá-

dio a reportagem de rádio, com duração de quatro minutos e 55 segundos, que foi ao ar pela

CBN no dia 19 de julho de 2017. Além disso, é utilizada uma foto creditada pela CBN com a

legenda Moradores de rua reclamam da abordagem dos funcionários, onde é possível visua-

lizar uma pessoa, possível morador de rua, deitada e enrolada em um cobertor, com marcas de

13

água ao seu redor. O fato de conter matéria de rádio, hipertexto e imagem é uma das caracte-

rísticas do webjornalismo (PALACIOS, 1999).

Com uma narrativa típica de reportagem diária, observa-se o uso do lead na maté-

ria apontando os principais fatos envolvendo a notícia. Com o lead Moradores de rua da re-

gião da Sé, em São Paulo, reclamam que funcionários que fazem a limpeza de praças e vias

públicas jogam água em locais próximos de onde grupos de pessoas dormem. Apesar do frio,

a reportagem da CBN identificou esta prática na manhã desta quarta-feira, é possível identi-

ficar as principais informações da matéria como: Quem? Moradores de rua. O quê? Recla-

mam que funcionários que fazem a limpeza de praças e vias públicas jogam água em locais

próximos de onde grupos de pessoas dormem. Onde? Na região da Sé, São Paulo. Quando?

Na manhã da quarta-feira, 19 de julho de 2017.

Não há registro de interatividade na página onde se encontra a matéria, pois ela

não dispõe de espaço para comentários. Publicada no Facebook da CBN, a notícia conta com

421 comentários e 2,4 mil curtidas, entre elas, 1 mil reações de raiva e 698 curtidas. O teor

polêmico da matéria provocou uma divisão entre os leitores.

O comentário mais respondido pelos usuários culpa os moradores de rua por dor-

mirem na Praça da Sé: “Essa é para os alienados de plantão. Tem os albergues da prefeitura

e eles não procuram. Inclusive essa semana foi inaugurado mais um albergue onde lá eles

tem chuveiros quentes, lavanderia, comida e até um canil para os animais dos moradores de

rua. Mesmo assim só tinha a metade do alojamento ocupada. Que Deus tenha essa alma con-

fortável agora. Mas não podemos jamais, em hipótese alguma, culpar a prefeitura. Cada um

tem seu livre arbítrio para escolher o que quer pra sua vida e ele escolheu a dele. De não ir

para o albergue, porque lá tem normas e regras” (sic).

Outro comentário defende que os direitos humanos não são prioridade na gestão

de João Dória Jr., além disso, há muitos comentários acusando a CBN de reprodução de maté-

ria falsa. A maioria dos comentários são negativos e alguns de caráter ofensivo.

Em relação ao texto, a linguagem utilizada segue o padrão de notícias diárias, com

certa objetividade, como pode ser visto no subtítulo Apesar do clima na cidade nesta madru-

gada, que chegou a 8º, as pessoas que dormem em vias públicas e praças reclamam do tra-

tamento de agentes públicos. A prefeitura de São Paulo informa que foram distribuídos edre-

dons para proteger do frio. Em nenhuma parte do texto é possível identificar parcialidade da

repórter Camila Olivo em relação à gestão de João Dória. Os dados apresentados pela jorna-

lista possuem apenas caráter informativo.

14

Com relação às fontes utilizadas na matéria de rádio, a repórter entrevista dois

moradores de rua, que não quiseram se identificar, e também o prefeito regional da Sé, Edu-

ardo Odloak. Um dos moradores de rua afirma: “Não dá nem tempo de levantar. Quando eles

chegam, molham as coisas. Meu cobertor ficou encharcado. Sempre que isso acontece, a gen-

te perde tudo”. Ademais, na própria matéria, o outro morador de rua afirma que a ação ocorre

com frequência, principalmente na madrugada. “Tem 4h30 da manhã muitas vezes, eles che-

gam aqui também e tá nem ai ó. Nossa, um frio danado desse ai, só Deus na causa mesmo”.

Já Eduardo Odloak afirma na reportagem que “vai apurar o procedimento e que a orientação

é para que as equipes sempre abordem os moradores de rua antes de começar a limpeza”.

Outras informações também citadas pela jornalista são voltadas para a reclamação

dos moradores em situação de rua sobre os albergues e os alojamentos disponibilizados pela

Prefeitura de São Paulo. Onde, segundo a repórter, os moradores de rua contam que as vans

que transportam eles para os abrigos dispõem de poucas vagas. Camila Olivo também afirma

que os moradores de rua reclamam dos horários dos abrigos da Prefeitura, onde às 6 horas da

manhã é preciso que eles abandonem o local, pois é feita a limpeza. Nesse ponto Camila ob-

serva, “e é realmente muito frio, agora no inverno, pra acordar às 6h da manhã”.

Na matéria que foi ao ar pela rádio CBN, a jornalista cita que o atendimento e-

mergencial da Prefeitura de São Paulo na Praça Princesa Isabel ficou superlotado no dia ante-

rior devido ao frio, o qual contava com apenas 80 vagas. Segundo Camila, as vagas desse a-

brigo são normalmente divididas entre 60 para homens e 20 para mulheres, porém, segundo

informações do coordenador do local, no dia 18 de julho de 2017, foi preciso improvisar para

atender mais moradores de rua que precisavam de auxílio. Assim, o local atendeu 134 pesso-

as, 54 a mais do que costuma receber.

Outra informação descrita na matéria é sobre a tenda do projeto Redenção, locali-

zada na Praça Júlio Prestes, até então conhecida como Cracolândia. De acordo com a repórter,

cerca de 100 pessoas dormiram de maneira improvisada nesse ambiente, pois não é um espaço

pra dormir, uma vez que é local de encaminhamento para redes de internação. Camila conti-

nua a matéria observando que a temperatura mínima do dia foi de 7 graus centígrados, mas

com sensação térmica de 7 graus negativos. De acordo com Gradim (2005), verificar e trans-

mitir informação com imparcialidade e veracidade é a principal função do jornalismo, mesmo

que os meios estejam em constante transformação.

A repórter também fala de uma ação da Prefeitura de São Paulo, anunciada por

João Dória Jr, visando distribuir cobertores a moradores em situação de rua e que no dia ante-

15

rior teria distribuído 1000 cobertores. Ela finaliza a matéria falando sobre o centro de atendi-

mento de Aricanduva, na Zona Leste, que foi inaugurado na segunda-feira da semana da re-

portagem, 17 de julho de 2017, e permanecia fechado, embora a prefeitura tenha afirmado que

o espaço já estava funcionando e que, inclusive, recebeu moradores de rua na noite anterior.

4.2 A REPERCUSSÃO DA NOTÍCIA

Dada a proporção das afirmações na notícia Moradores de rua em São Paulo são

acordados com jatos de água fria, citada anteriormente, o prefeito João Dória Jr. lançou um

vídeo de esclarecimento sobre o assunto. A publicação foi ao ar pelo perfil do prefeito na rede

social Facebook, com a seguinte descrição na postagem. “Boa noite, pessoal. Compartilho

este vídeo para esclarecer as matérias deturpadas divulgadas hoje por alguns veículos, que

relatam uma atitude desumana com pessoas em situação de rua, algo que não ocorreu. Tra-

balhamos por uma SP mais fraterna e humana! #AceleraSP #JoãoTrabalhador #SPmaisHu-

mana”.

No vídeo, aparecem o prefeito João Dória Jr. e o prefeito regional da Sé, Eduardo

Odloak. O conteúdo do vídeo fala sobre o episódio ocorrido e afirma que a matéria deturpou

os fatos. João Dória começa o vídeo falando sobre a forma como a matéria foi feita: “Eu não

estou acusando a jornalista da rádio CBN, mas a informação foi difundida de maneira equi-

vocada”.

Ele segue o vídeo explicando sobre o trabalho das equipes de limpeza da Praça da

Sé, declarando que a limpeza da praça é feita em todas as manhãs, bem como em toda a área

central da cidade. João Dória continua: “Hoje por uma circunstância, em dois movimentos,

molharam alguns cobertores das pessoas em situação de rua. Jamais nenhum profissional,

sendo da prefeitura ou terceirizado jogou jatos d’agua nas pessoas. Essa é uma mentira e é

impressionante como uma mentira é reproduzida várias vezes cinco, seis, sete, oito, nove ve-

zes”.

Ainda, falando sobre a matéria, o prefeito questiona sobre o funcionamento do

jornalismo, afirmando que quando algum canal reproduz uma mentira, todos os outros tam-

bém o fazem. Posteriormente, ele assevera que “Não houve nenhum esguicho de água em

nenhum morador de rua na cidade de São Paulo”.

Seguindo a sua declaração, João Dória Jr. esclarece que “os cobertores que foram

molhados hoje pela manhã, quatro ou cinco, já foram repostos com cobertores novos para

16

estas pessoas”. O vídeo segue com explicações sobre as ações tomadas pelo prefeito, no intui-

to de melhorar as atividades assistencialistas na cidade de São Paulo. Por fim, ele finaliza o

vídeo com um pedido: “Gaste pelo menos dois minutos para checar se aquela informação é

verdadeira ou não, antes de difundir uma mentira como essa. Fica aqui registrado também o

nosso protesto”.

Após a postagem deste vídeo, o site Jornalivre compartilhou o conteúdo divulgado

pelas redes sociais de João Dória Jr, em uma publicação com a data de 20 de julho de 2017.

Figura 2: Postagem sobre Fake news, Jornalivre

Fonte: Jornalivre: https://jornalivre.com/2017/07/20/doria-desmascara-fake-news-da-cbn-sobre-jatos-dagua-jogados-em-moradores-de-rua/

O site Jornalivre, jornalismo em prol da liberdade, é um site considerado de ex-

trema direita que defende políticos com as mesmas ideologias, entre eles João Dória Jr., retro-

alimentando as postagens e fazendo render fatos que utilizam de suas mesmas ideias (SILVA,

2017).

O título João Dória desmascara “fake news” da CBN sobre ‘jatos d’água joga-

dos em moradores de rua abre a postagem de poucas linhas: “A rádio CBN, conhecida por ter

um posicionamento ultra-esquerdista, vem divulgando falsas informações contra a gestão

Doria há um bom tempo. Desta vez, para tentar atingir a imagem do prefeito paulistano, a

rádio informou – ou desinformou – que a prefeitura havia usado jatos d’água contra morado-

17

res de rua. O prefeito, por sua vez, usou as redes sociais para desmentir mais esta notícia

falsa”. A publicação conta, até o momento, com sete comentários de leitores pró João Dória.

Ademais, em outra postagem do Jornalivre sobre o assunto, publicada no mesmo

dia na sessão de opinião, com o título “Jornalista da CBN que mentiu sobre gestão Doria

utilizar jatos de água para acordar mendigos é militante de extrema-esquerda”, o Jornalivre

ataca diretamente a repórter Camila Olivo, tanto seu lado profissional como pessoal.

Figura 3: Postagem sobre Camila Olivo, no Jornalivre

Fonte: Jornalivre: https://jornalivre.com/2017/07/20/jornalista-da-cbn-que-mentiu-sobre-gestao-doria-utilizar-jatos-de-agua-para-acordar-mendigos-e-militante-de-extrema-esquerda/

A postagem começa falando sobre a reportagem da CBN ser falsa. No primeiro

parágrafo a afirmação é feita utilizando o nome do prefeito regional da Sé. “No entanto era

tudo mentira, conforme apurado pelo prefeito regional da Sé, Eduardo Odloack”. O segundo

parágrafo traz acusações contra a jornalista Camila Olivo. De acordo com o Jornalivre, “quem

criou a farsa que ganhou as manchetes dos principais jornais, revistas e portais de ontem pra

hoje foi a jornalista Camila Olivo. Assim como outros jornalistas da grande mídia, Camila

faz parte da classe dos extremistas de esquerda que simulam isenção, evitando se associar ao

petismo e outras variantes do pensamento socialista”.

A publicação do Jornalivre também acusa Camila de difundir informações como

se fossem imparciais com intuito de confundir o público. São utilizadas postagens em redes

sociais da repórter para intitular sua orientação política. “No caso de Camila, embora não

seja assídua nas redes sociais, a jornalista deixou transparecer sua orientação política em

publicações apoiando o “Fora Temer” e apoiando os protestos violentos promovidos pela

extrema-esquerda em 2013. Em uma das publicações ela se mostra indignada pelo fato do

18

prefeito petista Fernando Haddad ter acionado o apoio da Polícia Militar para conter a onda

de vandalismo e violência dos Black blocs”.

A publicação conta ainda com imagens contendo prints de postagens em redes so-

ciais de Camila Olivo, com data de junho de 2013, onde ela manifesta sua opinião sobre acon-

tecimentos como apoio a então presidenta Dilma. A postagem conta com 180 comentários na

própria página do Jornalivre, além de 10 mil compartilhamentos no Facebook. Entre a descri-

ção das postagens e os compartilhamentos, muitos usuários ofendem diretamente a repórter

Camila Olivo, inclusive, um dos usuários escreveu: “Infelizmente a mídia vive de mentiras. As

verdades são escondidas, sem moral, sem ética essa jornalista mentirosa quantas mentiras

ela já deve ter passado. Canalha”.

Diante destes acontecimentos, a jornalista Camila Olivo deletou sua conta do twit-

ter. A Abraji e o Sindicato do Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo lançaram nota

de repúdio às perseguições ocorridas contra a repórter.

4.3 ANÁLISE DO CASO

A matéria de Camila Olivo é apenas um dos exemplos que acontecem todos os di-

as na internet. De acordo com Souza (2017), a internet é um ambiente onde o anonimato e as

fake news são predominantes. O caso de Camila Olivo chama atenção por ter se desenrolado

nas redes sociais, pois em sua origem a matéria destinava-se ao rádio, sendo transformada,

posteriormente, para a plataforma web.

Apesar do título “Moradores de rua em São Paulo são acordados com jatos de

água fria” chamar a atenção, a reportagem não afirma em momento algum que pessoas foram

acordadas com jatos de água jogados diretamente em suas direções. Ela fala que funcionários

da limpeza, terceirizados pela Prefeitura de São Paulo, estariam lavando o ambiente da praça

da Sé sem se preocupar em molhar os pertences dos moradores de rua que ali estavam. Mas

essa informação é contestada pelo Jornalivre. Isso mostra como os portais de notícia sofrem

com a perda de credibilidade. Segundo Serra (2006), o jornalismo na web ainda não se firmou

com credibilidade total, sendo assim, depende do receptor para se afirmar como verdade.

Destaca-se que a matéria tem caráter informativo social, pois há mais informações

sobre outros fatos ocorridos com os moradores de rua, como a superlotação de abrigos e o não

funcionamento de um abrigo recém-inaugurado. Recuero (2009) afirma que as informações

19

jornalísticas necessitam ter um compromisso social, além de valor notícia, diferente do que

ocorre nas redes sociais.

Não há na matéria ataques ou críticas à forma de administração do prefeito João

Dória Jr., apenas uma descrição sobre fatos ocorridos, que os moradores de rua disseram re-

correntes. Segundo Gradim (2007), o trabalho do repórter na internet não mudou, o modo de

apresentar os fatos é idêntico aos tradicionais.

Camila Olivo utiliza como fontes os moradores de rua, para afirmar o ocorrido,

além de citar o prefeito regional da Sé, Eduardo Odloack, na matéria postada na web como

referência oficial. É possível observar um cuidado da repórter para a construção da notícia não

ter caráter político e sim informativo.

Rebatendo o trabalho da repórter, o prefeito de São Paulo lançou o vídeo em suas

redes sociais acusando Camila Olivo de ter “deturpado os fatos”, tirando a credibilidade da

repórter e, consequentemente, do trabalho desenvolvido pela CBN em matérias jornalísticas.

De acordo com Palma (2007), o uso da pós-verdade tem como objetivo acobertar uma verda-

de, assim como tirar a credibilidade do trabalho jornalístico.

No referido vídeo, João Dória Jr. concorda que os jatos de água realmente atingi-

ram moradores de rua em um primeiro momento. Como ele mesmo disse, “os cobertores que

foram molhados hoje pela manhã, quatro ou cinco, já foram repostos com cobertores novos

para estas pessoas”. É importante observar que em seu vídeo nas redes sociais o prefeito cri-

tica apenas a repórter Camila Olivo e a CBN, contudo, no mesmo dia a Folha de São Paulo

noticiou o mesmo fato sobre os jatos de água.

É possível fazer uma relação com pós-verdade nas declarações de João Dória Jr,

quando ele afirma que a repórter estaria equivocada sobre o caso. Para Zarzalejos (2017) a

pós-verdade não é uma mentira, mas uma contestação relativa da verdade, utilizando de dis-

curso emocional para banalizar os fatos.

Na matéria assinada por Guilherme Seto e Giba Bergamim Jr. Na Folha de São

Paulo, é afirmado que a ação de limpeza da gestão João Dória é alvo de críticas de moradores

de rua. Uma das fontes da Folha de São Paulo é o morador de rua Alyson Almeida, que afir-

ma dormir na Praça da Sé há quatro anos. Ele conta: “Jogaram água logo cedo e voou vapor

de água sobre todas as barracas. Estava muito frio. Fizeram a gente desmontar as barracas.

Não temos mais paz pra ficar aqui. O que eles querem fazer é ocultar a gente da sociedade”.

A mesma matéria da Folha de São Paulo ainda relembra que as reclamações, em

relação ao tratamento dado pelos agentes da Prefeitura de São Paulo aos moradores de rua,

20

geraram polêmica na gestão anterior do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Com o título

“Morador de rua reclama de jato de água da gestão Doria em frio recorde”, a matéria foi pu-

blicada pela Folha de São Paulo no dia 19 de julho de 2017, às 21h51.

É possível identificar no vídeo do prefeito João Dória Jr. um discurso utilizado

que busca tirar a credibilidade da matéria da repórter Camila Olivo. Conforme Serra (2017), a

credibilidade está ligada à pertinência, se a informação não conquistar o interlocutor ela não

será validada por ele.

Na publicação do Jornalivre, intitulada “Jornalista da CBN que mentiu sobre ges-

tão Doria utilizar jatos de água para acordar mendigos é militante de extrema-esquerda”, o

objetivo é tirar a credibilidade da repórter através do uso de fake news. Segundo Medeiros

(2017), na internet existem pessoas aptas a divulgar crenças radicais, preconceitos e posicio-

namentos extremos, pois é um ambiente propício para proliferar informações falsas.

O objetivo da postagem do Jornalivre não está ligado ao fato dos jatos de água te-

rem ocorrido, mas sim em acusar a repórter, afirmando que Camila Olivo faz parte “da classe

dos extremistas de esquerda que simulam isenção, evitando se associar ao petismo e outras

variantes do pensamento socialista”. Essa é uma forma de ataque comum a esses sites, como

confirma Silva (2017), as publicações do Jornalivre atacam tudo que consideram de esquerda,

nunca rebatendo os argumentos, mas sim acusando de esquerdista quem se opuser às ideolo-

gias deles.

Além disso, utilizam das postagens pessoais em redes sociais de Camila Olivo pa-

ra interligá-la a movimentos de esquerda, como é visto na frase “a jornalista deixou transpa-

recer sua orientação política em publicações apoiando o ‘Fora Temer’”. Na publicação há

prints de algumas das manifestações da repórter em seu perfil na rede social twitter.

Na postagem do Jornalivre são vistas frases como: “No entanto era tudo menti-

ra”, e “Quem criou a farsa que ganhou as manchetes dos principais jornais”, que visam

desqualificar a matéria feita pela repórter da CBN. É possível entender dessas afirmações um

esforço para tirar a credibilidade da matéria sobre os jatos de água.

Assim, como demonstrado na fundamentação teórica, o objetivo de desmerecer a

repórter Camila Olivo classifica a postagem do Jornalivre sobre a repórter da CBN como fake

news, ao contrário do que o Jornalivre afirmou no título de uma das publicações. Segundo

Souza (2017), a crise nos veículos de comunicação abriu espaço para a criação de notícias

falsas, principalmente na internet.

21

Com a repercussão da notícia, é possível observar que muitos comentários na pos-

tagem do Jornalivre não observam a veracidade dos fatos, apenas assimilam o que a postagem

afirma. Conforme Quirós (2017), as fake news só existem, pois existe um público que adquire

informação sem antes contestar a verdade, além disso, esse conteúdo tem maior, ou menor

valor, dependendo da influência de quem o divulga.

Tanto na publicação do Jornalivre quanto nos comentários é possível fazer uma

relação com os haters. Para Amaral e Coimbra (2015), essas pessoas não querem diálogo, mas

apenas atacar deliberadamente as pessoas que discordam delas, utilizando de discurso de ódio.

Essa relação com os haters é possível porque os ataques ocorreram no ambiente online. Como

afirmam Amaral e Coimbra (2015), as características da rede são propícias para os haters,

principalmente os sites de redes sociais.

Com a repercussão da polêmica gerada em torno da matéria, Camila Olivo excluiu

sua conta na rede social twitter, local em que os integrantes do Jornalivre pegaram suas in-

formações pessoas para difundir sua suposta orientação política. Essa é uma característica das

fake news, como afirma Pina (2017), a notícia falsa não é só uma discussão ideológica, mas

com caráter de influenciar na sua vida e ferir os seus direitos fundamentais da intimidade e da

honra.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo central deste artigo foi avaliar de que forma as chamadas fake news in-

terferem no processo de produção jornalística, utilizando-se para essa análise a matéria publi-

cada pela CBN (Central Brasileira de Notícias) no dia 19 de julho de 2017, pela repórter Ca-

mila Olivo.

Segundo a fundamentação, foi possível compreender a evolução do jornalismo

desde seu surgimento até os dias atuais e como os processos de produção e difusão de notícias

se modificaram ao longo dos anos, aliados ao desenvolvimento tecnológico e de novos meios

de comunicação, bem como investigar o que são as fake news, dando ênfase no modo como

elas são criadas e difundidas na internet. Assim, atingiu-se o objetivo geral do trabalho, ligan-

do a matéria do Jornalivre aos estudos de fake news, o qual demonstrou como podem afetar o

trabalho jornalístico na distribuição de informação e a credibilidade jornalística.

22

Como um dos resultados foi possível entender o que são as fake news. De acordo

com Quirós (2017), as notícias falsas ganham credibilidade conforme os receptores estão ap-

tos a considerá-las, além de depender da influência exercida pelos que a propagam.

As vantagens e desvantagens da grande interação proporcionada pelo webjorna-

lismo entre os emissores e destinatários da notícia são patentes em plataformas multimídias

como as redes sociais, que permitem a rápida difusão de informações, inclusive das chamadas

fake news, objeto central deste estudo.

Com o excesso de dados e informações bombardeando usuários todos os dias, uti-

lizar das oportunidades geradas pela digitalização das mídias para recuperar a credibilidade

jornalística é de suma importância. Para tal, deve haver uma participação massiva dos interes-

sados na busca pela verdade, além da luta contra manipulação, para assim garantir o futuro

jornalístico democrático em toda a rede.

É possível compreender a importância do termo pós-verdade no jornalismo e nas

redes sociais. Para Zarzalejos (2017), a pós-verdade é uma manobra utilizada para criar recei-

os sobre a veracidade de informações, sendo muitas vezes usada através de manobras conspi-

ratórias.

Como resultados apresentados, verificou-se que as fake news, em sua essência,

são notícias falsas criadas e difundidas por vários motivos, incluindo questões de cunho soci-

al, político, difamatório, dentre outros. Neste estud, observou-se o uso de uma fake news de

caráter político, que teve como principal objetivo tirar a credibilidade jornalística da matéria

analisada, através de ataques pessoais e a propagação de informações falsas.

Contudo, notou-se que a discussão sobre as fake news é recente, havendo pouco

debate sobre o tema, embora elas sejam uma das principais causas de diminuição da credibili-

dade jornalística e sejam amplamente transmitidas nas redes sociais, servindo, inclusive, a

interesses políticos, como no caso analisado.

Compreender o significado de fake news é de suma importância tanto para o jor-

nalismo como para o público. Sendo assim, são necessários mais estudos envolvendo fake

news, principalmente no que tange à identificação de sites que divulgam e difundem essas

falsas verdades. Também podem ser abordadas formas de enfrentamento do meio jornalístico

a esta questão tão relevante denominada fake news.

23

REFERÊNCIAS

ALLCOTT, Hunt; GENTZKOW, Matthew. Social Media and Fake news in the 2016 Elec-tion. 2017. Disponível em: < http://www.saladeprensa.org/art253.htm > Acesso em: 25 ago. 2017.

AMARAL, Adriana; COIMBRA, Michele. Expressões de ódio nos sites de redes sociais: o universo dos haters no caso #eunãomereçoserestuprada. Contemporânea | comunicação e cul-tura. 2015.

BARBOSA, Susana. Jornalismo Digital da Terceira Geração. Portugal: Universidade Fe-deral da Bahia, 2005.

BARDOEL, Jo & DEUZE, Mark. Network Journalism: Converging Competences of Media Professionals and Professionalism. Australian Journalism Review, v. 23, n. 2, p. 91-103, 2001.

BUCCI, Eugenio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Cia das Letras, 2000.

CANAVILHAS. João. Jornalismo Digital da Terceira Geração. Portugal: Universidade Federal da Bahia, 2005.

CANAVILHAS, João. Webnotícia: Propuesta de Modelo Periodístico para la WWW. Cole-ção Estudos em Comunicação. 2008. Disponível em: < http://www.labcom-ifp.ubi.pt/livro/49>. Acesso em: 23 ago. 2017.

CASTILHO, Carlos. A objetividade e a autoria compartilhada. Disponível em: <http://observatoriodaimprensa.com.br/e-noticias/a-objetividade-e-a-autoria-compartilhada/.> Acessoem: 20 ago. 2017

CBN (Central Brasileira de Notícias) CBN São Paulo com Fabíola Cidral. Disponível em: http://cbn.globoradio.globo.com/programas/cbn-sao-paulo/2017/07/19/MORADORES-DE-RUA-EM-SAO-PAULO-SAO-ACORDADOS-COM-JATOS-DE-AGUA-FRIA.htm. Acesso em: 21 ago. 2017.

DICIO. Dicionário Online de Português: definições e significados de mais de 400 mil pala-vras. Todas as palavras de A a Z. 2017. Disponível em: https://www.dicio.com.br/ Acesso em: 26 ago. 2017

24

EDO, Concha. Las ediciones digitales de la prensa: los colunistas y la interactividad con los lectores. Sala de Prensa. 2000. Disponível em: < http://www.saladeprensa.org/art165.htm >. Acesso em: 21 ago. 2017.

GRADIM, Anabela. Jornalismo Digital da Terceira Geração. Portugal: Universidade Fede-ral da Bahia, 2005.

KEYS, Ralph. The Post-Truth Era: Dishonesty and Deception in Contemporary Life.

JORNALIVRE: Disponível em: https://jornalivre.com/2017/07/20/jornalista-da-cbn-que-mentiu-sobre-gestao-doria-utilizar-jatos-de-agua-para-acordar-mendigos-e-militante-de-extrema-esquerda/. Acesso em: 21 ago. 2017.

LASICA, J. D. So you want to be an online journalist? American Journalism Review. 1997.

Disponível em: < http://ajr.newslink.org/ajrjd23.html>. Acesso em: 21 ago. 2017.

MEDEIROS, Armando. A era da pós verdade: realidade versus percepcção. Uno, São Paulo, v. 27, n. 1, p.17-19, mar. 2017. Disponível em: <http://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf>. Acesso em: 05 set. 2017.

MENDES, Bruno Calixto. A introdução de novas tecnologias e a relação jornalismo e so-ciedade. Monografia (Bacharelado em Jornalismo). Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, 2006. Disponível em: < http://www.ufjf.br/facom/files/2013/04/BCalixto.pdf >. Acesso em: 25 ago. 2017.

MILLISON, Doug. The journalist of tomorrow. Speakout.com. 1999. Disponível em: < http://speakout.com/cgi-bin/udt/speakout&story.id=4171>. Acesso em: 23 ago. 2017.

MIELNICZUK, Luciana. Jornalismo na Web: uma contribuição para o estudo do formato da notícia na escrita hypertextual. 2012. Disponível em: < http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/6057> Acesso em: 20 out. 2017.

PALACIOS, Marcos. O que há de (realmente) novo no Jornalismo Online? Conferência proferida por ocasião do concurso público para Professor Titular na FACOM/UFBA, Salva-dor, Bahia, em 21.09.1999.

PALMA, Adalberto. A era da pós verdade: realidade versus percepcção. Uno, São Paulo, v. 27, n. 1, p.17-19, mar. 2017. Disponível em: <http://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf>. Acesso em: 05 set. 2017.

PINA, Carolina. A era da pós verdade: realidade versus percepcção. Uno, São Paulo, v. 27, n. 1, p.17-19, mar. 2017. Disponível em: <http://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf>. Acesso em: 05 set. 2017.

25

QUIRÓS, Eduardo A. A era da pós verdade: realidade versus percepcção. Uno, São Paulo, v. 27, n. 1, p.17-19, mar. 2017. Disponível em: <http://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf>. Acesso em: 05 set. 2017.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet, Difusão de Informação e Jornalismo: E-lementos para Discussão. 2009. Disponível em: <http://www.raquelrecuero.com/artigos/artigoredesjornalismorecuero.pdf > Acesso em: 20 ago. 2017.

REDONDO, Myriam. A era da pós verdade: realidade versus percepcção. Uno, São Paulo, v. 27, n. 1, p.17-19, mar. 2017. Disponível em: <http://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf>. Acesso em: 05 set. 2017.

RETREVO. Is Social Media a New Addiction?. 2010. Disponível em: < http://www.retrevo.com/content/?q=blog/2010/03/social-media-new-addiction%3F>. Acesso em: 02 set. 2017.

SERRA, Paulo. Web e credibilidade: O caso dos blogs. Disponível em: < http://chile.unisinos.br/pag/serra-paulo-web-credibilidade-blogs.pdf> Acesso em: 20 ago. 2017.

SILVA, Carla Luciana Souza da. Mídia e ascensão conservadora. 2017. Disponível em: http://www.periodicos.ufes.br/argumentum/article/download/15922/11906. Acesso em: 26 ago. 2017.

SOUZA, Rogério Martins de. Investigando as fake news: análise das agências fiscalizadoras de notícias falsas no Brasil. 2017. Disponível em: < http://portalintercom.org.br/anais/sudeste2017/resumos/R58-0343-1.pdf> Acesso em: 02 set. 2017.

VINER, Katharine. How technology disrupted the truth, The Guardian, 12 de julho de 2016. Disponível em: https://www.theguardian.com/media/2016/jul/12/how-technology-disrupted-the-truth. Acesso em: 05 set. 2017.

ZAMORA, Lizy Navarro. Los periódicos on line: sus características, sus periodistas y sus lectores. Sala de Prensa. 2001. Disponível em: < http://www.saladeprensa.org/art253.htm > Acesso em: 25 ago. 2017.

ZARZALEJOS, José Antonio. A era da pós verdade: realidade versus percepcção. Uno, São Paulo, v. 27, n. 1, p.17-19, mar. 2017. Disponível em: <http://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf>. Acesso em: 05 set. 2017.