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F N: Rosa C. M. do Nascimento UNICAP : 10.25768/20.01.005 Índice Introdução ............... 1 1 As eleições nos EUA ........ 2 2 Liberdade de imprensa X direito de privacidade ........... 7 3 Soluções com ética, bom senso e educação digital .......... 11 4 A checagem de informações .... 12 Referências Bibliográficas ....... 14 Introdução A eleições presidenciais brasileiras de 2018 estão sendo consideradas por analistas políticos como as mais incertas e imprevisíveis, desde o fim da ditadura mi- litar e a redemocratização. Além do acir- ramento da intolerância e da polarização política, da profusão de pré-candidatos e das dúvidas que pairam sobre a candida- tura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado em segunda instância no âmbito da Operação Lava Jato. Mas, um ingrediente deve complicar a disputa elei- toral: a difusão pela internet de notícias falsas, mas que aparentam ser verdadeiras, conhecidas como fake News. As fake News contribuem para corroer fake News. a credibilidade da grande im- prensa, interferem no direito da população à informação e fragilizam a democracia. A preocupação com o dessas informações fraudulentas sobre o pleito de outubro de 2018 foi explicitada no fim de 2017 pelo en- tão presidente do Tribunal Superior Eleito- ral (), Gilmar Mendes. Ele revelou o temor de que em uma campanha de quarenta dias, a divulgação de fatos inverídicos não tenha tempo de ser bem avaliada pelos eleitores. E também fa- lou da dificuldade de detectar e depois re- tirar a notícia falsa das redes sociais, pois muitas vezes essas notícias são divulgadas por sites sediados no exterior, ou seja, fora da jurisdição da Justiça Eleitoral brasileira. A veiculação deliberada de boatos, mentiras e desinformação no mundo polí- tico e, especialmente, durante campanhas eleitorais não é exatamente uma novidade no Brasil e no mundo. A manipulação de informações sempre existiu na história e © 2020, Rosa C. M. do Nascimento. © 2020, Universidade da Beira Interior. O conteúdo deste artigo está protegido por Lei. Qual- quer forma de reprodução, distribuição, comunicação pública ou transformação da totalidade ou de parte desta obra carece de expressa autorização do editor e do(s) seu(s) autor(es). O artigo, bem como a auto- rização de publicação das imagens, são da exclusiva responsabilidade do(s) autor(es).

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Fake News: como resgatar a credibilidade e aimportância das mídias digitais?

Rosa C. M. do Nascimento

UNICAP

doi: 10.25768/20.01.005

Índice

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . 11 As eleições nos EUA . . . . . . . . 22 Liberdade de imprensa X direito

de privacidade . . . . . . . . . . . 73 Soluções com ética, bom senso e

educação digital . . . . . . . . . . 114 A checagem de informações . . . . 12Referências Bibliográficas . . . . . . . 14

Introdução

As eleições presidenciais brasileiras de2018 estão sendo consideradas por

analistas políticos como as mais incertas eimprevisíveis, desde o fim da ditadura mi-litar e a redemocratização. Além do acir-ramento da intolerância e da polarizaçãopolítica, da profusão de pré-candidatos edas dúvidas que pairam sobre a candida-tura do ex-presidente Luiz Inácio Lula daSilva, condenado em segunda instância noâmbito da Operação Lava Jato. Mas, umingrediente deve complicar a disputa elei-toral: a difusão pela internet de notícias

falsas, mas que aparentam ser verdadeiras,conhecidas como fake News.

As fake News contribuem para corroerfake News. a credibilidade da grande im-prensa, interferem no direito da populaçãoà informação e fragilizam a democracia.A preocupação com o dessas informaçõesfraudulentas sobre o pleito de outubro de2018 foi explicitada no fim de 2017 pelo en-tão presidente do Tribunal Superior Eleito-ral (tse), Gilmar Mendes.

Ele revelou o temor de que em umacampanha de quarenta dias, a divulgaçãode fatos inverídicos não tenha tempo de serbem avaliada pelos eleitores. E também fa-lou da dificuldade de detectar e depois re-tirar a notícia falsa das redes sociais, poismuitas vezes essas notícias são divulgadaspor sites sediados no exterior, ou seja, forada jurisdição da Justiça Eleitoral brasileira.

A veiculação deliberada de boatos,mentiras e desinformação no mundo polí-tico e, especialmente, durante campanhaseleitorais não é exatamente uma novidadeno Brasil e no mundo. A manipulação deinformações sempre existiu na história e

© 2020, Rosa C. M. do Nascimento.© 2020, Universidade da Beira Interior.O conteúdo deste artigo está protegido por Lei. Qual-quer forma de reprodução, distribuição, comunicaçãopública ou transformação da totalidade ou de parte

desta obra carece de expressa autorização do editore do(s) seu(s) autor(es). O artigo, bem como a auto-rização de publicação das imagens, são da exclusivaresponsabilidade do(s) autor(es).

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tem sido uma arma usada por políticos epoderosos para tirar vantagem, inflar candi-daturas, prejudicar e difamar adversários.

Atualmente, na era da conectividade eda massificação da internet, o fato novo éa velocidade de propagação das fake News,que empregam como plataforma principal-mente as redes sociais, entre elas, o Fa-cebook, que tem mais de dois bilhões deusuários no mundo e 100 milhões no Brasil,além do Twitter e os aplicativos de mensa-gens, como o WhatsApp, que pertence aoFacebook, e os sites de notícias falsas. A es-cala em que as informações inventadas sãoproduzidas no meio digital, o alcance ge-

ográfico atingido por elas e a rapidez comque chegam aos internautas acabam por co-locar em dúvida todas as demais notícias,mesmo as que são apuradas seriamente. Oresultado é um cidadão confuso, que já nãoconsegue discernir entre o que é verdade eo que é mentira.

Por isso, antes de compartilhar qual-quer conteúdo, é importante conhecer aprocedência da informação e ficar atento seela tem mesmo fundamento. Para fugir dosboatos, o Conselho Nacional de Justiça di-vulgou na sua página do Facebook algumasdicas importantes.

Checar a veracidade das informações é a regra de ouro. O internauta deve evitar com-partilhar informações que não têm fonte. O correto seria buscar o histórico do autororiginal daquele texto. A data em que a notícia foi escrita também deve ser observada.Muitos assuntos velhos costumam ser compartilhados como se fossem atuais. Adjetivoem excesso é outro sinal de uma suposta notícia falsa. Se a informação interessa, entãoé bom desconfiar e procurar outra fonte de informação. Se está na dúvida, o ideal é nãolevar adiante aquela possível ‘fake news’. (O Globo, 2018).

1 As eleições nos EUA

Em um clássico sobre eleições no Brasil, ocientista político Antônio Lavareda fala so-bre escolhas, processos e estratégias de co-municação e análises de pesquisas. No ca-pítulo dois do livro “Emoções Ocultas e Es-tratégias Eleitorais”, ele fala que a vitóriados underdogs, candidatos que a um ano dopleito são vencedores improváveis, geram

campanhas eleitorais brilhantes. Diante dasdificuldades a criatividade parece aflorar.

Lavareda (2009) cita três exemplos: avitória de Fernando Collor na primeira elei-ção após a redemocratização do Brasil; a deGilberto Kassab para prefeito de São Pauloem 2008 e a de Barack Obama para presi-dente dos Estados Unidos no mesmo ano.E como analisamos o Facebook, vamos nosconcentrar em Obama.

Um senador de primeiro mandato, sem experiência no Executivo, de uma etnia mino-ritária e historicamente discriminada, com sobrenome muçulmano, sem o apoio inicialdas principais lideranças do seu partido, enfrenta uma corrida de obstáculos. Primeiro,desafia nas primárias a mulher do ex-presidente vivo mais popular do país. Vence-a,para em seguida derrotar na eleição geral o mais simbólico e respeitado herói de guerrada nação. Sua campanha deslocou paradigmas. Através de um colossal esforço de mo-bilização de novos eleitores, mudou a aritmética geracional dos votantes; construiu umabase extensiva para seu financiamento; inovou nos canais de participação; articulou demodo original o trabalho nas diferentes mídias. Uma retórica forte, magnética, masequilibrada, sem perder o foco nos debates, neutralizou a radicalização dos adversáriose também de ex-aliados. Ganhou a eleição e galvanizou o público de todo o mundo, quefez dele, como as pesquisas internacionais mostraram, o primeiro presidente ‘global’.(Lavareda, 2009)

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Fake News: como resgatar a credibilidade e a importância das mídias digitais?

Embora o emprego maciço da expres-são fake News seja recente, sua origemremonta ao final do século xix. Deacordo com o dicionário de língua inglesaMerriam-Webster, o termo entrou para ouso geral a partir da década de 1890. Suapopularização, no entanto, ocorreu durantea campanha presidencial norte-americanade 2016.

Segundo o Google Trends, ferramentado Google que mostra os termos mais po-pulares buscados no site num determinadoperíodo, a expressão se generalizou em no-vembro daquele ano, ao término de umaacirrada disputa travada entre o republi-cano Donald Trump e a democrata HillaryClinton.

Um mês após ser derrotada por Trumpnas urnas, Clinton fez um discurso denun-ciando “a epidemia de notícias falsas, mali-ciosas e de propaganda enganosa que inun-dou as redes sociais no último ano”. E con-cluiu: “Agora está claro que as fake Newspodem ter consequências reais”.

Ao longo da campanha eleitoral, os in-ternautas norte-americanos foram bombar-deados por conteúdo fraudulento. Hillaryfoi acusada de chefiar uma rede de pedofi-lia sediada em uma pizzaria de Washingtone de vender armas para o Estado Islâmico.Enquanto Trump foi acusado de ter rece-bido o apoio do Papa Francisco. Ambos osfatos eram mentiras.

Uma análise feita pelo site de notíciasBuzzFeed News, com base em 40 notíciasdivulgadas nos últimos três meses da cam-panha americana revelou que as 20 informa-ções fraudulentas veiculadas no Facebooktiveram um alcance maior do que as 20 his-tórias verídicas publicadas por órgãos dagrande imprensa, como os jornais The NewYork Times, Washington Post e a emissorade tv nbc News.

O maior beneficiado pela corrente dedesinformação foi Trump: das duas deze-nas de notícias falsas analisadas, apenas

três não eram positivas ao então candidatorepublicano.

Investigações conduzidas pelo Con-gresso dos Estados Unidos e serviços deinteligência do governo apontam que o re-sultado do pleito sofreu influências das fakeNews. Operadores russos, alguns deles li-gados ao Kremlin, a sede do poder russo,usaram a internet para favorecer Trump.

Segundo a denúncia, perfis falsos e in-formações inventadas prejudiciais à candi-data democrata e favoráveis ao republicanoforam veiculadas por agentes de Moscou noFacebook, Twitter, Youtube, Gmail e redede publicidade DoubleClick, as três últimasplataformas pertencem ao Google.

Foi verificado que vários sites de notí-cias falsas que inundaram as eleições dosEstados Unidos foram criados na Macedô-nia, um pequeno país do leste europeu, queaté 1991 fazia parte da Iugoslávia. Jovensmacedônios moradores da cidade de Velesdecidiram veicular histórias sensacionalis-tas, plagiadas de sites norte-americanos dedireita, na rede mundial de computadorespara ganhar dinheiro com publicidade.

Depois de tomar posse, o próprioTrump, numa tentativa de virar o jogo, pas-sou a evocar com frequência a expressãofake News para se referir a notícias desfa-voráveis a ele e, assim, desacreditar seusadversários. O presidente norte-americanorecorre constantemente ao jargão a fim defragilizar a credibilidade de grandes órgãosde imprensa que escrutinam com rigor asações de seu governo. É uma estratégiapara criar ainda mais confusão na OpiniãoPública.

As fake News também interferiram nacampanha do Brexit, o referendo realizadono Reino Unido emmeados de 2016 sobre asaída do país do bloco da União Europeia.Divulgou-se à época que a permanência nobloco custava 470 milhões de dólares porsemana ao país, o que era falso.

Um caso parecido ocorreu nas eleiçõespresidenciais francesas de 2017, quando um

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site falso imitando o belga LeSoir publi-cou que o então candidato centrista, Em-manuel Macron, vencedor do pleito, era fi-

nanciado pela Arábia Saudita. A mentiragerou quase 10 mil curtidas, compartilha-mentos e comentários no Facebook.

Do último trimestre do ano passado até o momento, as páginas brasileiras de notíciasfalsas e sensacionalistas ganharam engajamento no Facebook, e o jornalismo profissionalapresentou queda. É o que mostra análise feita pela Folha com base em 21 páginas quepostam fake News e 51 de jornalismo profissional. A taxa média de interações no primeirogrupo aumentou 61,6% entre outubro do ano passado e janeiro deste ano. Já o segundogrupo viu queda de 17% no mesmo período. (Portinari; Hernandes, 2018)

O Brasil, nas eleições de 2014, utilizourobôs programados para replicar conteúdoenganoso ou para se passarem por huma-nos corresponderam a mais de 10% das dis-cussões políticas no Twitter, segundo o es-tudo “Robôs, Redes Sociais e Política noBrasil”, divulgado pela Diretoria de Aná-lises Políticas Públicas da Fundação Getú-lio Vargas. Robôs são softwares que agemde forma autônoma na internet, simulandocomportamento humano e enviando men-sagens por meio de perfis genéricos ou fal-sos.

O documento apontou que durante osprotestos pelo impeachment da presidenteDilma Rousse�, do pt, em 2016, as intera-ções causadas por robôs digitais represen-taram mais de 20% do debate entre apoia-dores do mandatário. A Fundação GetúlioVargas mostrou também que perto de 20%das interações no debate entre os seguido-res do candidato derrotado Aécio Neves, dopsdb, no segundo turno do pleito de 2014foram motivados por robôs.

Outro levantamento de autoria do Gru-po de Pesquisa em Políticas Públicas parao Acesso à Informação da Universidade de

São Paulo revelou que cerca de 12 milhõesde pessoas difundem notícias falsas sobrepolítica no país. O dado resulta do moni-toramento de 500 páginas digitais de con-teúdo político inverídico apenas em junhode 2017.

Esses números se relacionam com a pre-ocupação crescente entre os brasileiros coma circulação de propaganda enganosa e no-tícias falsas na internet. Uma pesquisa di-vulgada em setembro de 2017 pela bbcWorld Service mostrou que 92% dos entre-vistados no país disseram ter algum nívelde preocupação se o que estão lendo na in-ternet é ou não é verdadeiro.

A campanha do Tribunal Superior Elei-toral para combater as notícias falsas, deacordo com o presidente do tse, ministroLuiz Fux, será com o apoio dos veículos deimprensa confiáveis. “A imprensa brasileiraserá a nossa parceira, nossa fonte primáriaem uma das nossas maiores preocupaçõesque é o combate às fake News”. E disse tam-bém que o Ministério Público e a Polícia Fe-deral passarão a integrar o Conselho Con-sultivo montado no tse para estudar solu-ções para o tema.

O conselho atuará dentro do tse com estudos de inteligência para se antecipar à dissemi-nação de conteúdo indevido por meio de robôs, por exemplo. No entanto, o presidentereafirmou que a imprensa será a principal aliada para aferir a veracidade daquilo queestá sendo noticiado. (tse, 2018)

E o combate as notícias falsas tambémestá nas redes sociais do Tribunais Regio-nais Eleitorais com postagens no Facebooke Instagram dos órgãos com dicas para

os eleitores como procurar a fonte, checarquem publicou, pesquisar outra fonte, con-ferir a data, ler a matéria inteira e se nãotiver certeza, não repassar a informação. E

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com frases “Não acredite em tudo o quevocê vê na internet e nas redes sociais”.

A propagação maciça de informaçõesfalsas na internet pôs pressão sobre as plata-formas digitais, que, após certa resistência,passaram a adotar providências para coibira prática de fake News. Assim, Google e Fa-cebook anunciaram que trabalhariam com

grupos de checagem de notícias para ates-tar a veracidade de seu conteúdo.

Denominada cross-check, essa iniciativaestá sendo adotada em caráter experimen-tal pelo Facebook nos Estados Unidos emparceria com a International Fact-CheckingNetwork, uma rede global de checadores daqual faz parte a agência brasileira Lupa.

A Lupa ocupa um lugar de grande importância ao ajudar a população a se informar comclareza e credibilidade. A primeira agência de fact-checking do país “ajuda a desmasca-rar notícias e interlocutores tendenciosos, valorizando as informações bem embasadas eajudando as pessoas na conscientização e na tomada de decisão política”. [...] O estudosobre os “Espaços de Mudança” foi divulgado junto com o ranking das marcas mais va-liosas do Brasil. A ideia da Interbrand neste ano era apresentar, além das empresas comgrande valor financeiro, as marcas que movimentam o país por conta de seu propósitosocial ou econômico. Ao todo, 42 marcas foram incluídas, em nove segmentos. No deinformação, foram apenas três; Lupa, Nexo e Volt. (Folha de São Paulo, 2017)

Em outra medida em prol da transpa-rência, o Facebook passou a permitir queseus usuários classifiquem as fontes de notí-cias que considerammais confiáveis. Mas, aação mais radical veio em janeiro deste ano,quando a empresa decidiu que o feed decada internauta passaria a priorizar postsde amigos e familiares em detrimento daspáginas de notícias jornalísticas e de em-presas.

A medida adotada para coibir a circu-lação de notícias falsas, tem recebido críti-

cas. Isso porque, na tentativa de combateras fake News e privilegiar o conteúdo quetenha destaque na interação entre usuários,corre-se o risco de reduzir também a circu-lação de material jornalístico de qualidadeproduzido pelos veículos de mídia confiá-veis.

Para um país como o Brasil, que tem noFacebook uma das suas principais fontes denotícias, essa mudança irá gerar um grandeimpacto.

A três meses do primeiro turno e com a corrida presidencial ainda marcada por incer-tezas, a televisão deve continuar sendo o canal com maior poder de influência sobre aescolha dos brasileiros. Segundo pesquisa realizada pelo Ipespe entre 2 e 4 de julho, asétima da série encomendada pela xp Investimentos, 35% dos eleitores dizem que estamídia tradicional terá papel fundamental no processo decisório do voto. A internet e asredes sociais, por outro lado, foram apontadas como principais influenciadores na esco-lha dos candidatos por 20% dos entrevistados, contra 10% representados por familiarese amigos. Apenas 2% mencionaram os jornais, mesmo percentual indicado para o rádio.(Mortari, 2018)

Um dos grandes sites de críticas e aná-lises sobre a imprensa, o Observatório da

Imprensa, também expôs a opinião sobreessas fake News e as eleições 2018.

A eleição de 2018 está batendo na porta. E as fábricas de fake News já estão sendoazeitadas e ajustadas para denegrir reputações e/ou beneficiar candidatos, na certeza daimpunidade. Donald Trump venceu a eleição norte-americana com apoio dessa arma

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infame, uma espécie de crack, subproduto da cocaína. As fake News são um subprodutotorpe da “cybersociedade”. E o pior é que, apesar da preocupação do tse, ninguémtem uma fórmula capaz de combater eficazmente essa praga nua eleição. Um grupo quedeseje destruir um candidato no Brasil pode ir ali no Uruguai, registrar um domínio emoutro continente, hospedar um site de fake News num país como a França, pagar comum cartão de crédito internacional desses que se compram ali na esquina e não exigem aidentificação do portador. O conteúdo será distribuído por perfis falsos em redes comoo Face ou o Instagram, já dentro do Brasil. (Cunha, 2018)

A Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014,denominada como o Marco Civil da In-ternet foi assinada pela presidente DilmaRousse� e criada para estabelecer princí-pios, garantias, direitos e deveres para ouso da internet no Brasil. O primeiro capí-tulo dessa lei trata das diretrizes desse usono campo da União, Estados, Distrito Fede-ral e dos Municípios. Conforme é resumidono artigo 6º: “Na interpretação desta Lei se-rão levados em conta, além dos fundamen-tos, princípios e objetivos previstos, a natu-reza da internet, seus usos e costumes parti-culares e sua importância para a promoçãodo desenvolvimento humano, econômico,social e cultural”.

O segundo capítulo do Marco Civil daInternet fala sobre os direitos e garantiasdos usuários, ou seja, a inviolabilidade daintimidade e da vida privada, das comuni-cações privadas armazenadas, como é des-crito no artigo 8º, “A garantia do direito àprivacidade e à liberdade de expressão nascomunicações é condição para o pleno exer-cício do direito de acesso à internet”.

O terceiro capítulo trata da provisão de

conexão e de aplicações de internet, ouseja, explica os direitos e deveres da trans-missão de forma igualitária para quaisquerpacotes de dados, sem distinção por con-teúdo, origem e destino, serviço, terminalou aplicação. O quarto capítulo é sobre aatuação do poder público como descreve oartigo 28, “O Estado deve, periodicamente,formular e fomentar estudos, bem como fi-xar metas, estratégias, planos e cronogra-mas, referentes ao uso e desenvolvimentoda internet no país”.

O último capítulo do Marco Civil da In-ternet fala sobre as disposições finais, noqual inclui o parágrafo único que mencionaa importância das boas práticas para a in-clusão digital de crianças e adolescentes.

O Google também estabeleceu uma par-ceria com a Internacional Fact-CheckingNetwork para remover de seus resultadosnotícias que publiquem dados errados oufalsificados. Há um ano, a gigante de bus-cas implantou no Brasil um selo de verifica-ção de fatos para combater conteúdos en-ganosos.

Depois de ter sido testado nos eua e Reino Unido, o Google lançou o sistema global-mente, incluindo todas as notícias dentro do sistema Google News em várias línguas.A verificação de dados online funciona da seguinte maneira: depois de realizar umapesquisa no Google, o usuário encontrará uma avaliação das informações feitas por jor-nalistas ou organizações especializadas. Assim, o usuário poderá verificar se a históriaé verdadeira, falsa, provável, plausível ou implausível. O Google salientou que a verifi-cação das informações é realizada por empresas de fora do motor de busca, portanto,um único artigo pode ter diferentes avaliações. Mais de 115 organizações já aderiram àproposta. A empresa alegou que, se um usuário ou uma organização não concordar coma análise de um material divulgado pode entrar em contato com a fonte que classificouo fato como falso ou verdadeiro. Ao usar o sistema de forma injusta, o Google pode

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tomar medidas contra a organização que viole as regras, e até mesmo vetar o sistema.(Mundo, 2017)

2 Liberdade de imprensa X direitode privacidade

Foi preciso muito tempo para o Direito evo-luir. Mas, o tempo da imprensa foca noagora. Esse tempo minúsculo é intolerante,arrogante e generalista. Ser maduro é per-ceber a responsabilidade e a medida dotempo para cada decisão tomada. Decisõesque afetam o destino de milhões de seres

humanos merecem um tempo de tolerância,generosidade e equidade.

As fake news não se preocupam com averdade, mas apenas com quão rápida umainformação pode chegar ao maior númerode pessoas possível. Medidas legais sempreforam tomadas contra difamação, calúnia einjúria, que são crimes contra a honra des-critos no código penal brasileiro e são nega-ções dessas verdades que o direito precisoude tanto tempo para garantir.

Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime. Pena –detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhefato ofensivo à sua reputação. Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. Art.140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro. Pena – detenção, de uma seis meses, ou multa. (Ventura, 2014).

Atualmente, tramita na Câmara dos De-putados o projeto de lei 5276/2016, discu-tido desde 2010 e enviado pelo governo fe-deral ainda na gestão Dilma Rousse�. O

projeto define como objetivo “proteger osdireitos fundamentais de liberdade e de pri-vacidade e o livre desenvolvimento da per-sonalidade da pessoa individual”.

O pl 5276 estabelece hipóteses mais definidas, bem como garantias ao dono dos dadospessoais. Ele estabelece que o legítimo interesse deve se dar em uma situação concreta,contemplar as expectativas do titular e se ater ao estritamente necessário para a fina-lidade pretendida. Outra exigência é que este tipo de processamento seja transparentee que a empresa permita o direito do titular de, a qualquer momento, se opor ao usodesses dados. O órgão responsável pela regulação pode solicitar do responsável quenesses casos seja produzido um relatório de impactos à privacidade. (Valente, 2018)

O projeto de lei 6.812/2017 caracterizacomo crime divulgar ou compartilhar infor-mações falsas ou incompleta na internet emdetrimento de pessoa física ou jurídica. Jáa pl 7.604/2017 prevê a responsabilizaçãode provedores de conteúdo nas redes soci-ais em caso de divulgação de notícias fal-sas, ilegais ou prejudicialmente incomple-tas. Caso a plataforma não retire o con-teúdo enganoso do ar em 24 horas, a multaseria de 50 milhões. Os dois projetos aindaestão em discussão no Parlamento.

Especialistas concordam que deve ha-ver alguma regulamentação sobre o tema,

mas alertam que sob o argumento de com-bater o fenômeno os governos não devempromover a censura na rede. Organizaçõesde defesa dos direitos de usuários na inter-net avaliam que os projetos em tramitaçãono Congresso trazem riscos à liberdade deexpressão.

No fim de 2017, o Congresso aprovouuma minirreforma eleitoral e uma das suasemendas previa a possibilidade de políticospedirem a identificação de autores de con-teúdo postados na internet e a posterior re-moção desses em caso de discurso de ódio,disseminação de informações falsas e ofen-

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sas. Depois que diversas entidades ligadasà imprensa divulgaram uma nota conjuntaclassificando a emenda de ‘censura’, ela foivetada pelo presidente da República, Mi-chel Temer.

Paralelamente o Tribunal Superior E-leitoral anunciou uma força-tarefa em con-junto com o Exército, a Agência Brasileirade Inteligência e a Polícia Federal com oobjetivo de combater as fake News durante

o processo eleitoral de 2018. Por meio doCentro de Defesa Cibernética do Exército,o Ministério da Defesa deve auxiliar o TSEa monitorar a ação de organizações e decriminosos no ciberespaço. Com toda essamobilização, a expectativa é minimizar osefeitos das fake News na mais imprevisíveldisputa eleitoral realizada nos últimos anosno Brasil.

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Durante as eleições de 2016, com a mi-nirreforma eleitoral (Lei 13. 165, de 29 desetembro de 2015) passou a ser permitidoo recurso de propaganda na Internet, desdeque gratuita e publicada em site oficial docandidato, do partido ou da coligação, hos-pedados no Brasil ou em blogs e redes so-

ciais. Era proibido custear a propagandanesse veículo, inclusive, com “impulsiona-mento” de publicações em redes sociais oucom anúncios patrocinados nos buscado-res.

A partir das eleições de 2018, está li-berado no Brasil o chamado “impulsiona-

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mento de conteúdo”, que ocorre quandoum candidato, um partido político, em-presa ou indivíduo qualquer paga para umapostagem propagar nas redes sociais, prin-cipalmente no Facebook. Este é um dospontos que constam da reforma eleitoralaprovada pelo Congresso Nacional e san-cionada pelo presidente Michel Temer emoutubro de 2017.

A promoção de conteúdo político viapagamento era proibida no Facebook e nainternet de forma geral. Críticos da me-dida afirmam que sua aprovação foi umavitória do poder econômico, pois quem ti-ver mais recursos conseguirá veicular maispropaganda nas redes sociais, atingindo umnúmero maior de pessoas.

O tse autorizou a propaganda eleitoral na internet, o que inclui pagar para exibir anún-cios eleitorais ou impulsionar publicações em plataformas como o Facebook, Instagram,YouTube e o Twitter. O tribunal também permite que campanhas usem sites, e-mails,blogs e aplicativos de mensagem instantânea, a partir de 16 de agosto. Somente candi-datos, partidos e coligações poderão panfletar nas redes, fornecendo dados sobre suaidentidade eletrônica à Justiça Eleitoral. (Pessoa, 2018)

O Comitê Gestor da Internet do tsee as principais plataformas digitais, Face-book, Google, Twitter e WhatsApp discu-tem três pontos que causam preocupação:a forma de garantir a transparência no fi-nanciamento das campanhas, já que o im-

pulsionamento de conteúdo foi liberado; ocombate à disseminação de fake News e aagilidade no cumprimento de ordens judici-ais para remover conteúdos irregulares doar. A Força Tarefa do TSE de acordo como Ministro da Defesa, Raul Jungmann.

É da maior importância essa questão dos crimes cibernéticos relativos a eleição e resul-tados eleitorais. Nosso papel, por meio do Centro de Defesa Cibernética do Exército,com o apoio da Polícia Federal, da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e de outrosórgãos, é apoiar o tse, porque o tribunal não tem pessoal para cuidar de tudo isso.( Justiça Eleitoral, 2017)

3 Soluções com ética, bom senso eeducação digital

Ainda que transitasse com naturalidadepor diversos temas, o filósofo francês Mi-chel Foucault (1926-1984) tornou-se reco-nhecido por lançar um olhar mais agudosobre as teorias do poder. O autor analisao exercício efetivo do poder a partir das re-lações que ele cria e coloca em marcha. Opoder é visto como tecnologia de controledetalhado do corpo, dos gestos, das atitu-des, dos comportamentos e dos hábitos dosindivíduos.

Foucault, em sua obra Vigiar e Punir(1975), nos mostra que o domínio no qualse exerce o poder não é somente a lei, mas,sobretudo, a norma. Ou seja, no ensino, nasaúde ou no exército, o que se busca é a“normatização” para poder regular a vidade indivíduos, de seus gestos e de suas ati-vidades.

Para explicar a disciplina e a vigilânciano mundo contemporâneo, Foucault cita oclássico exemplo do “panóptico”, que sig-nifica, literalmente, “vê-se tudo”, uma pri-são idealizada pelo filosofo inglês JeremyBentham.

O panóptico é, na sua forma geral, um edifício estruturado de forma a ter um pontode observação central, como a torre do relógio no centro da prisão, salas ou espaçosem torno deste ponto central; ele é estruturado de tal forma que é possível tudo ao

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Rosa C. M. do Nascimento

mesmo tempo ser observado a partir do ponto central. Foucault usa principalmente oexemplo da prisão, onde o guarda pode vigiar os presos atrás de venezianas; enquantoos presos nunca podem realmente ter certeza se há alguém lá a observá-los ou não. Masos princípios arquitetônicos do panóptico também são usados em escolas, hospitais elocais de trabalho – e todos para o mesmo efeito. (Universo da Filosofia, 2017).

No Encontro de Partidos Políticos e Socie-dade realizado pelo Tribunal Regional Elei-toral de Pernambuco no dia 18 de julho foidiscutido sobre como o Tribunal irá fisca-

lizar as fake News na eleição de 2018 e oassessor da corregedoria, Orson Lemos ci-tou exemplos de figuras públicas que foramvítimas dessas ferramentas digitais.

Justiça nega pedido de Aécio Neves para bloquear buscas na internet. Aécio foi pedirpara o Google parar de associar Aécio pó – Aécio cocaína. Ele perdeu porque o Googleassocia o que foi publicado em jornal, o que foi notícia. Portanto, você Aécio quertirar da busca, vá pedir ao jornal que tire da internet. Se algum jornal publicar algumanotícia contra seu candidato que não seja positiva, você vai cair no mesmo problemadele. Se sair uma notícia, ela está na rede, o Google já ganhou e guardou isso aí, ele nãoé obrigado a tirar da busca. Então, quem associar o candidato X a Lava-Jato porquesaiu uma notícia, cabe ao advogado assim que sair o primeiro jornal já pedir ao jornalpublicar outra matéria, se for inverídico, já retificar, já buscar para ele publicar isso maisde uma vez, para poder ganhar d a pesquisa do negativo. O Google ele não olha blogs,ele só olha sites, e os jornais publicam em sites. [...] O Facebook tinha a página Eu Odeioo Rubinho Barrichelo, que só falava mal de Rubinho. Então, ele entrou com o processopara tirar e o juiz deu a liminar, ‘Facebook tire’, e o que aconteceu, ‘Barrichelo apagaque eu faço outra’. Qual foi a mensagem, eu posso ter dez liminares, ele está enxugandogelo, porque ele vai lá e consegue colocar outra [página]. Não consegui descobrir direitoa pessoa, o perfil é falso, o endereço é falso. Então, Barrichelo desistiu e preferiu deixarpara lá do que tentar combater uma página que não tem muitos seguidores. E muitaspessoas nem sabem que Rubinho tinha essa página e que tentou tirar, porque ele ficoucalado, pois viu que as vezes não é melhor chamar tanta atenção com algo negativo.(Tre-Pe, 2018)

4 A checagem de informações

Para criar cenários irreais com influência di-reta no processo eleitoral, em alguns casos,são utilizados mecanismos como inteligên-cia artificial e Big Data. A emergência dochamado Big Data, gigantescas bases de da-dos em formatos comunicáveis e acessíveis(como o imenso arquivo da Agência Naci-

onal de Segurança dos eua, nsa, em Blu�-dale, Utah) resultou no reforço dos serviçosde inteligência depois do ataque de 11 desetembro de 2001 em Nova York.

O problema não está nas tecnologias,não são elas as vilãs, como explica o enge-nheiro de software e inovação, Silvio Meira,pelo contrário, a tecnologia pode sim aju-dar a democracia.

A democracia pode ser ajudada pela tecnologia se usarmos ela para mediar as interaçõeshumanas. Nós estamos fazendo isso em larga escala nas redes sociais, e tecnologia é bomlembrar ela não tem nem moral nem caráter nem um propósito específico da tecnologia.Nós humanos damos o propósito. A tecnologia não é negativa nem para um lado nempara o outro. Nós damos à tecnologia a função e o propósito que nós bem entendemos.Então, na mesma medida que nunca se escreveu tanto em público, simplesmente porque

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Fake News: como resgatar a credibilidade e a importância das mídias digitais?

saímos do impresso restrito e escasso para as redes, onde todo mundo se expressa, masao mesmo tempo que nunca se escreveu tanto em público nunca se disse tanta coisa quenão tem a menor sustentação. Então, criou-se um amplo espectro de contribuições aodiscurso ou ao debate, uma boa parte do qual sem fundamento. (Lavareda apud Meira,2017)

A criação de notícias falsas para preju-dicar e atacar adversários em disputas po-líticas não é algo novo. Mas, com a inter-net, essas informações foram potencializa-

das, pois são transmitidas de maneira maisrápida, fácil e barata, de acordo com a pro-fessora norte-americana, Beth Knobel.

Fake News ou apenas opinião é barato e fácil. As notícias falsas estão ficando mais sofis-ticadas e difíceis de identificar. Estão evoluindo rápido. Talvez precisemos nas escolase universidades educar as pessoas a consumirem mídia. Para que possam olhar umanotícia e pensar “Talvez isso seja falso. Talvez eu deva checar isso.” E não simplesmenteacreditar em tudo que veem. [...]. Antes nos preocupávamos com notícias falsas sobre ce-lebridades. Atualmente, é mais complicado, criam notícias falsas por motivos políticos.(Globo News apud Knobel, 2017)

As fake News ou notícias falsas, mashá ainda quem prefira logo o termo men-tiras, não surgiram recentemente, mas foinos eua que esse fenômeno ganhou força.A Internet e as redes sociais vêm ampli-ando seu poder de destruição. Os pro-dutores e disseminadores de notícias fal-sas aumentaram, e como consequência, os

consumidores também. Com isso, a che-cagem de informações apresentadas comofato tem se tornado uma ferramenta fun-damental, e agências especializadas nesseserviço tem se tornado cada vez mais rele-vante, segundo afirma o editor da agênciaFull Fact, Joseph O’Leary.

As pessoas têm uma demanda por notícias confiáveis quando há informações com ruídosou um debate político. A ideia é uma organização que aponte onde achar a informaçãoque você precisa. (Globo News apud O’Leary, 2017)

Em uma entrevista realizada pela Agên-cia Brasil (2017), o Facebook falou sobreseu papel nessa disseminação de notíciasfalsas. “Todos temos a responsabilidade decombater a desinformação. Temos atuali-zado nossos sistemas. Recentemente, fize-mos uma atualização no feed de notícias,além de uma campanha de marketing comdicas para auxiliar as pessoas a identifica-rem notícias falsas”.

E sobre medidas de transparência paraos anúncios publicitários, o Facebookafirma que irá “aumentar a transparênciados anúncios políticos em todo o mundo,e recentemente anunciamos medidas con-cretas para dar mais informação às pessoas

sobre os anúncios que elas veem”. Além daexclusão de contas falsas e o destaque paraconteúdos patrocinados.

O Facebook também ressaltou que nãovende nenhum dado das pessoas, “Temospolíticas de dados claras que dizem quetudo o que uma pessoa pública no Facebooké de propriedade dela”.

E adota medidas para evitar a criaçãode curtidas, “A compra e venda de curtidasou seguidores são atividades fraudulentase, portanto, não são permitidas na plata-forma. ” O Facebook também declarou quequando atividades fraudulentas são detec-tadas na rede, as contas associadas são re-movidas.

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Rosa C. M. do Nascimento

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