as etapas da construÇÃo do projeto de pesquisa

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AS ETAPAS DA CONSTRUO DO PROJETO DE PESQUISA

Pedro Campos So Gonalo 2004

2

NDICE PRIMEIRAS PALAVRAS.............................................. 2 OBJETIVOS ............................................................... 7 JUSTIFICATIVAS ...................................................... 8 O QUADRO TERICO ................................................ 13 FORMULANDO AS HIPTESES .................................. 17 METODOLOGIA E FONTES OU: O PROBLEMA E O

MTODO ...................................................................... 19 MEDINDO O TEMPO ................................................. 23 POR FIM, A INTRODUO ........................................ 24 A BIBLIOGRAFIA COMO OBRA ABERTA .................... 27

PRIMEIRAS PALAVRAS Sempre, em algum momento, nos deparamos com a emergncia de estruturar um projeto de pesquisa, e passamos por toda uma srie de dificuldades que isto envolve. A

estruturao de um projeto deve obedecer a alguns aspectos formais, no que diz respeito coerncia e viabilidade do que se

3 prope fazer na pesquisa. Co ntudo, a criatividade do autor que vai faz-lo diferente de todos os outros projetos; mais ou menos intrincado ou complexo; por fim, criar o projeto. Este um ato pessoal e intransfervel feliz ou infelizmente,

atribuio nica e exclusiva do prpri o autor.

Devemos ter sempre na lembrana o fato de que um projeto , antes de qualquer coisa, uma proposta de pesquisa. Promete-se algo que ainda no foi feito, mas que ser realizado. E exatamente nas lides da pesquisa que muitas vezes podemos ser levados a desistir e a abandonar o caminho at ento

percorrido. O que o presente texto pretende , justamente, ser um guia prtico e bsico para a elaborao deste projeto de pesquisa, tendo em mente tambm as etapas da prpria pesquisa em si, tendo sempre em mente as experincias vividas ao longo da minha prpria a trajetria de de pesquisador quem e orientador a dor da

justamente

experincia

compartilha

elaborao das etapas do projeto de pesquisa, e da realizao da prpria visto que um projeto se faz com trabalho, sacrifcio, pesquisa e um pouco de inveno e criatividade, dependendo a de cada autor a quantidade e a ordem de entrada dos elementos citados.

4 Contudo, como alguma linearidade aqui

pretendida, devemos ento comear o texto exatamente pel a parte pela qual comea uma pesquisa: a busca do que pesquisar. Pesquisa um misto de paixo e inspirao. Da

paixo, comear o interesse, que acabar guiando a escolha do que pesquisar. Uma vez j tendo delineado o objeto de

pesquisas, chegada a hora de question-lo. No adianta nada, o tema apenas pelo tema. Ele s ser alguma coisa, e a pesquisa s ser uma pesquisa, a partir da hora em que houver uma dvida, uma questo a ser feita. E isto muito importante, porque a pesquisa em si a resposta de sta questo que faremos ao nosso objeto. A questo , nada mais nada menos, do que a expresso e manifestao de nossa curiosidade e dvida. Estudar, por exemplo, a Inquisio por si s no nada alm de um objeto descarnado, e no deixar de s -lo, enquanto a Inquisio no for questionada e alimentada por esta centelha de dvida. A autpsia descarnada do objeto por si s nada mais do que mera dissecao descritiva. Palavras ao vento. Em nada contribuem, nada acrescentam e, dependendo de quem pesquisa, nada tem de prazeroso.

Uma

vez

escolhido

o

tema,

chegada

a

hora

de

problematiza-lo. O que eu quero saber com ele? Tomemos, por

5 exemplo, a ocupao romana em Portugal. Uma primeira leitura aos manuais de histria daquele pas nos mostra que a presena romana naquela regio data do sculo IV a.C. Isto apenas um dado estanque, visto que os romanos estavam presentes em

praticamente todos os lugares do mundo conhecido no sculo IV a.C. O imprio se estendia pela Europa, frica, e Oriente

prximo. Dentro da Europa, os romanos estiveram em todos os cantos possveis. Cabe, ento, uma primeira pergunta, j que temos duas delimitaes: a temtica, que a presena dos

romanos em Portugal, e a cronolgica, que data do sculo IV antes de Cristo. Eis aqui a delimitao cronolgica e

temtica, onde tambm o objeto delineado geograficamente. Os romanos ocuparam a Pennsula Ibrica, qual batizaram de

Ibria.

Geograficamente,

Portugal

um

ponto

menor

da

Pennsula. Ento, porque os romanos l estiveram, se aquele pequeno pedao de terra era ocupado por tribos brbaras, como os lusitanos? A pesquisa, a princpio, se restringe temtica, cronolgica e geograficamente: presena dos romanos em

Portugal no sculo IV antes de Cristo. A investigao comea a ficar mais sofisticada e complexa, na medida em que possveis questes podem surgir quando confrontamos o tema, e que

serviro para nortear, doravante, todas as nossas investigaes e pesquisas. A fim de dar maior coerncia ao projeto, necessrio que todas as questes a serem respondidas pela pesquisa sejam

6 apresentadas, quer apaream elas na forma de questes diretas, ou ainda de sub-questes a ela ligadas. Assim sendo, uma linha de questionamento e raciocnio pode ser exemplificada da

seguinte forma: Porque motivo, com um imprio to amplo e que mantinha suas legies ocupadas, os romanos foram ocupar justamente Portugal, rea geograficamente perifrica da Pennsula

Ibrica, e mais perifrica ainda dentro do contexto maior do Imprio? Uma vez que os romanos l chegaram, como se deu a

ocupao? Esta ocupao foi pacfica? Qual foi o grau de resistncia dos habitantes de Portugal face ocupao romana? Tendo em vista que a ocupao romana em Portugal foi um fato, quais os motivos que levaram permanncia dos

romanos na regio? Estrategicamente, num plano mais amplo no interior do Imprio, qual seria a importncia daquela ponta de terra?

Fora estas delimitaes e questionamentos bsicos, um projeto de pesquisa ainda traz, dentro de si, diversas outras partes e aspectos formais que devem ser contemplados, e cuja

7 construo e elaborao comearemos a ver, ponto por ponto, a partir de agora.

OBJETIVOS Assentar os objetivos bsicos do projeto ,

certamente, o ponto de partida dos trabalhos. Uma vez em que o tema de estudos j foi escolhido e delimitado, chegada a hora de pass-lo para o texto corrido e problematiz -lo. Num primeiro momento, e mesmo como forma de sistematizar o texto que escrito, est a prpria apresentao do tema, do objeto em si. Aps um breve histrico introdutrio, chega-se na hora de falar mais a mido sobre o tema escolhido; algo parecido como, aps dissertar ligeiramente sobre a

expanso e abrangncia do imprio romano, falar da presena deles na Pennsula Ibrica, e estreitar ainda mais o foco

n a r r a t i v o p a r a P o r t u g a l 1. A s s i m s e n d o , j s a b e m o s q u e o p r o j e t o visa estudar a presena romana em Portugal. Mas sob que

aspectos? Os romanos implantavam sua civilizao por onde quer que fossem, buscavam sempre criar uma nova Roma em escala reduzida, na medida em que iam avanando. Levavam consigo, atrs das hostes legionrias, sua lngua, cultura e

1

Vale a pena lembrar que este ligeiro contexto, por sua vez, vai variar de autor para autor, e de seu envolvimento com o tema escolhido.

8 religio, e todo um estilo de vida. Ento, teremos por nossa vez delimitado e a pesquisa, tanto tematicamente, ento quanto a

cronolgica

geograficamente.

Cabe,

comea r

problematizar o objeto, com perguntas feitas objetivamente questes hipteses, estas as que quais sero sero respondidas, confirmadas mais ou adiante, pelas de

reestruturadas

acordo com o andamento da pesquisa. H que se lembrar que no se deve perder de vista, de maneira alguma, tais questes, com a penalidade de se perder mesmo o norte da pesquisa. Em suma: ao fim das contas, estes objetivos visam tanto apresentar o objeto de pesquisa, mais uma vez (aps a introduo), quanto assentar os objetivos e problemas a que a mesma pretende do resolver. As etapas da seguintes, e tanto da da

elaborao

projeto

quanto

resoluo

andamento

pesquisa, so todas decorrentes deste primeiro momento.

JUSTIFICATIVAS Justificar um projeto , em sua forma mais bruta e simples, arrazoar um pouco sobre suas excelncias e novidades; tentar convencer a um investidor o porque vlido investir nessa pesquisa. Ou, ento, arrazoar sobre o porque uma bolsa de estudos totalmente vlida e no ser gasta em vo.

9 Podem existir diversos tipos de justificativa. A

primeira a ser dada diz respeito ao ineditismo do tema, ou de sua abordagem. Apesar de muitas pessoas haverem estudado o Imprio Romano, ningum o faz sob este prisma. A Histria est sempre em constante evoluo e cresci mento, e um estudo sempre uma contribuio a uma discusso maior, sempre mais um enfoque a ser dado num debate. As pretenses de genialidade devem ser evitadas, porque tudo aquilo que for prometido no projeto dever ser cumprido mais adiante. Uma pesso a que vai revolucionar o mtodo ou a historiografia no diz que ir faz lo. Ela simplesmente cumpre suas propostas; o pioneirismo e a revoluo sero decorrncia a ser atestada pela posteridade do debate. Por mais que gostemos de ns mesmos e de nossas pesquisas, este um momento em que devemos ter o realismo suficiente para notar que no somos gnios, mas sim que

estamos dando nossa contribuio para o conhecimento. Existem, ento, diversos tipos de justificativas que podem ser dadas, quando da chegada deste momento da

elaborao do projeto de pesquisa. Uma delas a da prpria abordagem do tema.

Voltando ao nosso projeto escolhido para exemplo, equivale a dizer que, por esta mais opo que pelo o Imprio estudo da Romano j tenha romana sido em

estudado,

ocupao

Portugal indita pelo simples fato de que foi pouco ou nada

10 estudada, ou ento porque justamente estes poucos estudos foram feitos h muito tempo (afirmar que logo aps a sada das legies seria uma piada de muito mau gosto), e que portanto esta pesquisa tem a novidade da abordagem da insero de Portugal dentro de um contexto maior do Imprio romano.

Sabemos que, apesar de Portugal no ser, como Espanha, to perto da Glia, e tambm de ser distante de Roma, deve haver algum motivo que tenha levado as legies a ocupar aquele

pedao to pequeno de terra uma ilao a respeito disso, obrigatoriamente, dever aparecer nas hipteses. Uma outra justificativa perfeitamente plausvel a descoberta de um novo tipo de fonte e documentao, ou mesmo um tratamento diferente documentao disponvel. Por menos que existam registros sobre a presena romana em Portugal, podemos ter dado a sorte de haver descoberto um cronista (no caso, o hipottico Joaquinus Manuelicum). Primeiro lusitano convertido ao cristianismo e, portanto, o primeiro a falar Ai Jesus por aquelas plagas, Manuelicum viveu em Portugal no sculo I da nossa era. Chegou por l a tempo de acompanhar a retirada das legies romanas, e deixou uma crnica da vida no extremo ocidente da Pennsula Ibrica, em documentos inditos que at ento ningum havia utilizado, porque fomos os

primeiros a ach-los num arquivo obscuro, ou mesmo numa biblioteca escura e empoeirada de um mosteiro. Neste caso, a

11 utilizao, pela primeira vez, de uma fonte indita, que ser apresentada comunidade historiogrfica, fala por si s. O projeto, ento, se justifica pela introduo de Joaquinus

Manuelicum no meio acadmico para que a posteridade possa ser beneficiada com esta fonte indita, apresentada pelo nosso estudo. Ainda na linha das justificativas, de todo legtima a utilizao de um mais arrazoado prtica da que permita que entender a

aplicabilidade

pesquisa

desenvolvemos.

Estudar a ocupao romana em Portugal, ao invs de ser um passatempo para historiadores desocupados, ou mesmo para

admiradores de Joaquinus Manuelicum interessados na aventura que descobrir um documento indito, pode tambm

perfeitamente servir para entendermos a forma como o Brasil pode funcionar os hoje. romanos, ali sua Isto ao devido seguinte Portugal, cadeia levaram de e

raciocnio: implantaram

ocuparem e

por

cultura

sociedade.

Assim

sendo,

embora a civilizao portuguesa no seja uma cpia fiel da romana, herdou muito destes antecessores outras sociedades do mundo ocidental como diversas e, por sua vez,

transplantou seus valores e cultura para o Brasil, quando da colonizao. Joaquinus Ento, ainda que pode indiretamente, servir, o estudo de para

Manuelicum

plenamente,

entendermos um pouco o modo como o Brasil de hoje funciona.

12 Construir o pacote de justificativas , portanto, uma tarefa bastante trabalhosa e complicada; devemos,

obviamente enaltecer a pesquisa, puxando pelo seu ineditismo se no de tema e fontes, ao menos pela abordagem e nova leitura que oferece a temticas e documentaes j antes visitadas ou utilizadas. Um mergulho profundo na egolatria, porm, pode no ser bom para a viabilidade do projeto: tudo aquilo que

prometido, em qualquer parte do projeto, dever ser cumprido pela pesquisa e pelo texto a ela associ ado. Justificar um projeto, alm de incens-lo um pouco, tambm exibir um arrazoado prtico sobre como ele vivel e exeqvel. Ou seja: tentar convencer a algum ou a uma agncia de fomento sobre as vantagens e benefcios de banc -lo e arcar com as despesas de pesquisa. Neste momento de justificativas, se encerra uma das maiores dificuldades para a elaborao de um projeto: chegada a hora em que este projeto precisa provar sua viabilidade, aplicabilidade simples, o e utilidade est aqui prtica. uma Apesar de aparentemente fulcral que

que

problemtica

acompanha os historiadores h tempos, e com a qual sempre nos deparamos: para que serve a histria? Qual a serventia e

utilidade prtica de se estudar o passado? O que faz com que isso no seja um passatempo, um hobby de pessoas endinheiradas e ociosas? Justificar um projeto , tambm, defender e justificar

13 a prpria essncia do fazer histria, justificar tambm o porque de sermos historiadores e continuar sendo.

O QUADRO TERICO Uma vez que a parte de assentamento e delineamento do projeto j foi concluda, restam ainda outros caminhos no menos espinhosos e trabalhosos para serem trilhados. As coisas comeam a parecer complicadas, quando chegamos ao ponto em que temos que construir um quadro

terico. Muitos dos problemas que nos afligem, no poucas vezes, vm do fato de desconhecermos a verdadeira natureza deste tipo de quadro que, em verdade, to simples e fcil de ser compreendida.

O grande problema reside no fato de que existe uma idia comum exagerada, infelizmente de que o quadro terico deve ser construdo como se fosse uma tapearia ou um monstro de Frankenstein metodolgico, com diversas pinceladas e f r a g m e n t o s d e v r i o s a u t o r e s e c o r r e n t e s h i s t o r i o g r f i c a s 2.

2

Cabe, aqui, um aviso aos navegantes: em qualquer avaliao de projetos e quadros tericos, no contada a quantidade de livros, autores e correntes citadas principalmente nesta parte. Muitas notas de p de

14 Ledo engano; na verdade, a coisa muito mais simples. Como forma de comear o quadro, devemos ter em mente que ele ser composto por todos aqueles autores e conceitos que nos

norteiam o pensamento e, espera -se, continuaro a faz-lo ao longo da pesquisa. No que as discusses historiogrficas no sejam bem vindas; muito antes pelo contrrio, elas s

enriquecem a insero da pesquisa a ser feita num debate maior, no mbito historiogrfico, alm de mostrar aos avaliadores a seriedade do trabalho que se apresenta. No fundo, e em primeira instncia, o quadro terico um atestado de terica filiao e historiogrfica j que muito e, da

subseqentemente,

metodolgica,

discusso neste ponto levantada estar de volta, tambm, no item relativo a metodologias e fontes. Como forma de

alinhavar as idias, de bom tom organizar, antes da redao do quadro, um roteiro com os principais autores e seus conceitos, nos quais as investigaes vm se inspirando e que,

provavelmente, continuaro a servir de molde. No se trata to somente de dizer que tal ou qual conceito ser utilizado porque parece ser mais operacional, ou mesmo de mais fcil

entendimento, embora ainda existam pessoas que acham que devem coloc-lo pelo simples fato de que a linguagem empolada

pgina e livros citados nem sempre so o indicador mais confivel de criatividade e coerncia.

15 na qual ele est escrito indica que tal conceito deve ser muito bom e sofisticado (o que, em boa parte das vezes, serve para mascarar o desentendimento ou um escasso entendimento que o autor possui a respeito dele) ou mesmo porque era o nico disponvel, no momento. H que se ter em conta demonstrar a relao e aplicabilidade de conceitos e correntes de pensamento pesquisa que propomos. Isto feito, j fica demonstrada a operacionalidade dos conceitos para as lides da pesquisa, assim como a insero num debate terico mais amplo tambm j fica assentada. Tanto faz o tipo de tratamento que daremos a

Joaquinus Manuelicum: ele deve estar cristalino e explicitado. A ttulo de exemplo: Todorov uma discusso alteridade inspirada e nos de estudos de

Tzvetan

sobre

encontro

diferentes

povos, atravs da conquista da Amrica, pode ser perfeitamente aplicada para o estudo da crnica de um lusitanum que vivenciou experincias com uma alteridade dominante no caso, os

ocupadores romanos. No que a ocupao espanhola na Amrica e as navegaes romana renascentistas da Pennsula sejam a mesma mas a coisa que a do

ocupao

Ibrica,

utilizao

discurso e do tipo de fontes se torna plenamente factvel, na medida em que trataremos, no caso, de costumes dife rentes entre invasores e invadidos, assim como tambm fez Todorov para estudar a conquista da Amrica. a Por forma outro como lado,

interessante

tambm

observarmos

nosso

16 inspirador conduziu suas anlises e investigaes, e que tipo de documentao utilizou, para que possamos saber que tipo de caminho trilharemos para o princpio de nossa pesquisa o que no descarta a algo possibilidade completamente bastante de, no futuro, a nossa esse podermos tipo de no

acrescentar investigao,

novo da

dependendo

habili dade

manejo de fontes, e tambm do engenho e arte que teremos em interpret-las e perceber nelas coisas novas que, por exemplo, teriam passado insuspeitadas aos olhos de Todorov quando

estudava Cortez e seus desafetos amerndios. Tal procedimento de dissecao de conceitos, e

insero de autores e correntes historiogrficas ao longo da pesquisa deve ser feito com cada um dos matrizes tericos inspiradores. Ainda que o projeto proponha uma abordagem historiogrfica e conceitual nova, ou diferente de tudo aquilo que se fez antes, as antigas linhas devem ser explicitadas e apresentadas, de maneira que o que nosso projeto prope de novidade permanea ainda mais evidenciado. Ao fim e cabo, tais coisas servem cada vez mais para reforar os argumentos de justificativa do projeto, ao passo em que servem e ajudam ao pesquisador no sentido de mant -lo sempre orientado e guiado no sentido daquilo que ele realmente quer conseguir com a pesquisa, e o modo pelo qual alcanar seus objetivos.

17 FORMULANDO AS HIPTESES Um projeto no nunca um fruto total da imaginao e fantasia de seu autor. A criatividade um elemento importante na gestao do projeto, mas o resultado final, ou seja, o projeto em si, fruto tambm ele de um processo prvio de pesquisa. E, uma vez que temos delineados e delimitados todos os terrenos por onde pretendemos transitar em nossa investigao,

chegado o momento de apresentarmos as hipteses. Estas so afirmaes claras e diretas, concludentes, a respeito das

questes apresentadas antes. Nossa s hipteses so as respostas a estes questionamentos, da tendo que ser taxativas e afirmativas. Por outro lado, a hiptese no uma verdade

absoluta. Ela apenas uma hiptese, algo que pode vir a ser comprovado, refutado ou mesmo aprimorado. Neste momen to, o projeto ainda uma obra aberta, e s mesmo o tempo e a evoluo das pesquisas podero trazer as certezas que buscamos. Assim como os questionamentos que antes foram

traados, as hipteses tambm podem seguir a uma hierarquia; em primeiro lugar, a hiptese principal, isto , aquela que vai responder de maneira fulcral e categrica principal questo proposta no projeto. A esta hiptese, que pretende responder principal questo de nosso projeto, podem ser adicionadas

vrias outras cada uma delas, a fim de manter a coerncia da

18 estruturao do projeto, respondendo a cada uma das

perguntas secundrias que foram antes formuladas. Voltemos ao caso do estudo de Joaquinus

Manuelicum. Se prosseguirmos com a mesma linha de raciocnio, as hipteses a serem formuladas poderiam ser as seguintes, a saber: A ocupao da Pennsula Ibrica representava, para muito alm de qualquer devaneio expansionista do Imprio romano, a continuao das ferrenhas e sangrentas guerras por

Cartago, tendo em vista que diversos ca rtagineses migraram para aquele ponto da Pennsula, escapando s legies. Deste modo, a Pennsula permaneceu sendo ainda um ponto de mnima importncia dentro do panorama poltico mais amplo do Imprio. Tendo em vista estes dados, a regio da Pennsula tev e sua importncia demarcada pelo fato de poder se tornar o teatro de operaes continuadas das guerras contra Cartago. Deste modo, o Extremo da Pennsula continuou a ter

importncia reduzida. Deste modo, a ocupao se deu de forma relativamente pacfica, visto que a opresso das

legies que buscavam soldados catargineses desestimulavam qualquer ensaio ou tentativa de resistncia por parte dos habitantes locais.

19 Por fim, muito alm de um projeto cultural e colonizador, no havia a inteno de transformar P ortugal numa extenso do Imprio, mas sim de aproveitar o territrio e a facilidade de um inimigo prximo, dando assim continuidade ao

aperfeioamento das legies em tcnicas de batalha. Em vista do que foi assentado at agora, notamos que a herana romana em Portugal se deu graas ao perodo de permanncia das legies no tendo sido, portanto, nem os hbitos refinados e culturais, e tampouco os mais aguerridos que foram herdados, e sim a estrutura de ocupao rpida, brutal e superficial, que posterior mente, nos sculos

seguintes, Portugal veio a utilizar quando da ocupao de terras descobertas no alm-mar.

METODOLOGIA E FONTES ou: O Problema e o Mtodo

Aps as partes mais pesadas e trabalhosas da redao do projeto, que so respectivamente a estrut urao do quadro terico e a delineao das hipteses, a construo do projeto chega a uma parte menos pesada.

20 No que a elaborao do enfoque metodolgico e documental exija pouco do pesquisador; muito pelo contrrio, o nvel de exigncia e coerncia c ontinua sendo o mesmo. Porm, o trabalho se faz de forma mais aliviada justamente porque neste momento, dada a hora de se explicitar a respeito de como a documentao disponvel ser tratada. Num primeiro momento, necessrio que tenhamos disposio uma tipologia do nosso corpus documental. No

necessariamente a anlise das fontes em si mas, num primeiro momento, a tipologia destas. necessrio que os avaliadores tenham cincia de que no estamos voando s cegas em cus desconhecidos, numa noite de te mpestade forte. necessrio, primeiramente, demonstrar conhecimento da documentao a ser pesquisada. Embora ela ainda no tenha sido dissecada e analisada, sabemos do que se trata; em suma, sabemos por que caminho estamos trilhando. necessrio, ento, fazer esta tipologia descritiva e minuciosa das fontes: do que se tratam, em que tipo de material se apresenta, e mesmo qual a sua acessibilidade, disponibilidade e estado de conservao. Destarte, da torna -se como necessrio as fontes que se

demonstremos

conhecimento

forma

apresentam, e mesmo do acesso que teremos a elas. No adianta de nada mencionar apenas que ser trabalhada a crnica de Joaquinus Manuelicum, quando apenas esta informao soa

21 totalmente vaga e imprecisa. Autor obscuro no mundo luso romano, Joaquinus no teve, em momento algum, uma edio impressa de seus escritos; o nico pergaminho existente est nos arquivos secretos do Vaticano, e ainda assim se encontra em precrio estado de conservao. Isto feito, necessrio que se proponha o tratamento documental. Tal parte est intimamente ligada ao nosso quadro terico, na medida em que j nos filiamos, espera -se, a

correntes historiogrficas e metodolgicas quando o elaboramos. O prximo passo , ento, sermos objetivos e bastante precisos e especficos quanto ao tratamento que daremos s fontes. Caso optemos, por algum motivo, por um tratamento serial e

quantitativo, necessrio que descrevamos e relatemos como esta quantificao ser feita at porque, a discusso sobre quantificao j deve ter sido levantada anteriormente, quando da elaborao do quadro terico. Ainda no est sendo realizada nenhuma pesquisa: o que fazemos, ainda aqui, uma carta de intenes detalhada e minuciosa a respeito da documentao disponvel e levantada. Neste ponto, necessrio explicitar, nos mnimos detalhes e mincias, os mtodos que utilizaremos. bvio que uma leitura qualitativa e interpretativa da documentao estar sempre sujeita s caractersticas pessoais do pesquisador.

22 Porm, caso optemos por seguir alguma corrente metodolgica como a histria serial ou a demografia

histrica, por exemplo deveremos, a sim, explicitar qual ser a utilidade e a aplicabilidade assim das tcnicas pesquisa mostrar que como

planejamos

fazer,

como

deveremos

operacionalizaremos e relacionaremos o mtodo e nossas fontes. No devemos nunca deixar de ter em mente o maior detalhismo possvel quando tratamos e do nosso p r o j e t o 3. como O ato de para

demonstrarmos

exata

detalhadamente

faremos

extrair dados e detalhes de nossas fontes um importantssimo aspecto da honestidade acadmica. A trilhando, cada etapa que mais a e construo mais do projeto vai para

encontramos

oportunidades

demonstrar a coerncia deste, alm de nossa prpria coerncia como pesquisadores. Se, na hora de delimitarmos objeto e tema, questionamos e apresentamos tais questes de forma pontual, estas devero ser todas elas, tambm pontualmente, respondidas pelas hipteses. Uma vez que, num determinado momento da elaborao do projeto, explicitamos no ssa filiao

3

Um exerccio de imaginao que de excelente valia, neste aspecto, imaginar em mente que o leitor qualquer que seja ele um leito, e pouco ou nada conhece a respeito do objeto que estamos propondo estudar. Tendo isso em mente, deveremos ser o mais explcitos, detalhistas e de fcil entendimento possvel; ser de texto fluente e de fcil entendimento no significa, por outro lado, insultar a inteligncia do leitor/avaliador, tratando-o como se ele tivesse algum tipo de inferioridade mental. O que se pede, no mais das vezes, coerncia, fluidez e clareza de texto e linguagem.

23 terico/metodolgica, teremos aqui a oportunidade de

assentar como esta afiliao funcionar, em termos prticos.

MEDINDO O TEMPO

J chegando s partes finais de nosso projeto, nos deparamos com um aspecto prtico da vida de pesquisador: como lidaremos com tempo e prazos. De todas as promessas e propostas que fizemos, uma das mais complicadas darmos a ns mesmos os prazos nos quais as cumpriremos. Devemos

elaborar um calendrio de pesquisa, no qual assentamos prazos para a realizao deste projeto: neles devem estar os meses necessrios para a finalizao da pesquisa arquivstica de

levantamento de fontes e bibliografia, acompanhado dos prazos para a pesquisa arquivstica em si: leitura e fichamento de

fontes, assim como o tratamento e processamento dos dados levantados. Posteriormente, os prazos necessrios para redao e confeco do texto final. Devemos nos lembrar de que, se estamos apresentando uma proposta de trabalho que almeja uma bolsa, o patrocinador exigir relatrios de atividade s, nos quais podem checar se estamos cumprindo as promessas feitas durante

24 o processo de elaborao do projeto. Mas a redao de um relatrio de pesquisa j uma outra histria...

POR FIM, A INTRODUO

E

assim,

depois

de

tanto

trabalho,

chegamos

introduo. ltima parte do projeto a ser escrita, a introduo a carta de intenes que o autor apresenta. Nela, o objeto de pesquisa e assenta todas as propostas e promessas do projeto e da pesquisa se encontram sintetizadas e sistematizadas. Por isto mesmo, ela deve ser a ltima parte a ser escrita; isto,

exatamente por estarmos j com todas as idias ordenadas, e todas as diretrizes bastante de pesquisa j traadas. justamente promessa Visto na de uma

perspectiva quando j

indelicada, qualquer

introduo, e

cumprimos

organizacional

estilstica ao longo do texto do projeto, que estas devem ser feitas afinal de contas, cumprimos primeiro para depois

prometermos tudo aquilo j antes realizado. Ento, devemos ter em vista que a introduo, alm de introduzir realmente o leitor no universo da pesquisa que pretendemos realizar, deve tambm torn -lo amplamente

familiarizado com nosso objeto e seus detalhes, a fim de que as

25 propostas a serem feitas acabem por soar plenamente factveis e verossmeis. Assim histrica e que necessria ao uma ampla o

contextualizao

geogrfica,

apresentarmos

tema e objeto de pesquisa, bem como o tipo de documentao a s e r u t i l i z a d a n o d e s e n v o l v i m e n t o d a p e s q u i s a 4. T e m o s q u e t e r sempre em mente que a introduo, apesar deste peq ueno estudo histrico pesquisa, contextualizador, e nem no se trata da resoluo para da

propriamente

momento

anlise

documental e interpretao de fontes; muito menos ainda espao para apresentao serial de grficos e tabelas, ou mesmo para a redao da entre monografia outras final em si. A facilitar o finalidade trabalho da do

introduo,

coisas,

pesquisador, na hora de redigir o resto do projeto, e do leitor avaliador, que poder assim, atravs dela, ter uma noo do que o espera adiante, e dos caminhos que a pesquisa se prope trilhar: o ineditismo e genialidade dela mesma podem ser

assentados nestes primeiros pargrafos introdutrios e, por isto mesmo deveras marcantes, que nortearo a leitura do avaliador a partir da. e Muito da contextualizao, e mesmo das da delimitao terico -

cronolgica

temtica,

afiliaes

metodolgicas do pesquisador acabaro por se explicitar nesta introduo e sero retomados e aprimorados nos itens que lheO que no significa que a introduo j seja, de antemo, a apresentao do corpo da monografia a ser escrita. Ela apenas uma introduo, meramente uma apresentao.

4

26 dizem respeito, o e a saber as delimitaes e a cronolgicas Os e

temticas, detalhes,

quadro as

terico e

metodologia. mais

maiores e

perguntas

indagaes

direcionadas

incisivas aparecero no decorrer do processo, cada uma no item que lhe corresponde, conforme j tivemos oportunidade de

esmiuar antes. Em resumo, a introduo vem a ser a apresentao do prprio corpus do projeto, em linhas amplas o que no quer dizer que, nela, todas as hipteses, cronologias, bibliografia e demais segredos do projeto venham a ser revelados, pois tudo dever vir ao seu tempo. atravs de seu texto e do seu

encadeamento de idias que o leitor ser convencido e seduzido a respeito da originalidade e viabilidade da pesquisa.

Obviamente, tudo isto estar presente mais adiante, nos itens que lhes forem caractersticos, mas ser guia do pelo impacto da introduo que o leitor far a leitura e avaliao do resto do projeto. Por fim, tambm, uma coisa deve ser ressaltada, mais uma vez: no devemos perder de mente, em momento algum, a coerncia inerente ao projeto e pesquisa proposta. T udo aquilo que estiver contido na introduo, todas as propostas e sinais de filiaes tericas e de trabalho, devero ser explicitados mais adiante, com todos os detalhes e termos tcnicos, nos itens que lhes forem correspondentes. A introduo , por si, a

apresentao do prprio projeto, suas dificuldades, qualidades e

27 inovaes, na forma de um texto que seja, ao mesmo tempo, alinhavado em fluncia e coerncia tornando assim a leitura fcil de ser entendida, e tambm sedutora no que tange

prpria arte e engenho no encadear as idias em forma de texto. S depois de passada esta etapa, chegamos a um momento final, onde todos os trabalhos sero encerrados: a normatizao e elaborao da bibliografia e o arrolamento das fontes.

A BIBLIOGRAFIA COMO OBRA ABERTA

Geralmente a primeira parte a ser observada por um avaliador, a Bibliografia merece um cuidado todo especial. De modo a poupar precioso tempo, de grande utilidade e validez que ela esteja sempre em construo, sendo montada desde os primeiros passos do projeto. A bem da verdade, a bibliografia uma espcie de obra em aberto, a ser expandida e acrescentada

28 sempre que novos livros e fontes virem a surgir. , por seu turno, a parte mais presa a normas tcnicas de citao e

paramentao bibliogrfica, s quais no devemos fugir. Nela, sero listados todos os livros e fontes que possuam pertinncia quanto ao projeto, ao tema e pesquisa proposta. Tambm ela deve ser guiada pela coerncia; quando no incio de nossas carreiras de pesquisador e mesmo crendo estar alegrando nossos orientadores ao mostrar servio, corremos o risco de ceder tentao de bibliografias imensas, faranicas. Nelas, acabamos arrolando mesmo diversas obras que lemos em algum perodo remoto da vida, ou que no tenham pert inncia alguma com a pesquisa, apenas porque fomos seduzidos pelo ttulo e estamos encantados pela idia de fazer uma bibliografia que seja, no mnimo, duas ou quatro vezes maior do que todo o corpo textual do projeto, quebrando assim com a coerncia deste. Para evitar perigo to medonho, sugiro que o autor v construindo, como j assinalei antes, sua bibliografia aos

poucos, passo a passo, arrolando os livros e artigos na medida em que estes forem surgindo. Para as pessoas que se iludem em se importar com tamanho de bibliografia, este s vai ser notado, de maneira definitiva, na medida em que ela vai crescendo, ou quando finalmente dermos o trabalho de elaborao do projeto por encerrado. Porm, um alerta deve ser dado aos

29 pesquisadores: a bibliografia, como qualquer outra parte de um projeto de pesquisa, regida por uma coerncia nica, que lhe toda peculiar. Assim como o projeto dividido em partes

especficas de maneira a sistematiz -lo, tambm o deve ser a bibliografia. Uma bibliografia segmentada e organizada torna-se algo muito mais sofisticado e requintado, ultrapassando a mera relao de livros que alegamos ter lido ou que juramos faz -lo ao longo da pesquisa. Segmentar e compartimentar a bibliografia uma forma bem mais eficaz de torn -la inteligvel para o avaliador e crtico, e mais funcional para quando for necessrio recorrer a ela em termos de trabalho. Comear classificao das a fontes bibliografia documentais pelo j arrolamento um indcio e de

organizao. As fontes podem ser divididas de acordo com a documentao que ser utilizada na pesquisa: cada item desta parte da bibliografia ser organizado de acordo com o tipo de documentao que utilizaremos: as fontes manuscritas e

iconogrficas, assim como os registros de histria oral no aplicveis ao caso do estudo de Joaquinus Manuelicum devem tambm possveis. estar arroladas com a maior com mincia fontes de detalhes

Quando

trabalhamos

manuscritas,

especialmente no caso de elas se localizarem em arquivos de difcil acesso, como por exemplo, arquivos diocesanos em outras

30 cidades, ou mesmo arquivos de grande porte como a Torre do Tombo, convm arrolar as fontes manuscritas por suas

instituies de origem, seguidas pelos cdigos de acesso isto, alm da fidedignidade para com o trabalh o de levantamento documental j realizado, tambm um gesto de honestidade para com o leitor, oferecendo-lhe a oportunidade e meios de conferir at que ponto nossas informaes so exatas. Uma vez tendo divididas passar a e compartimentadas segunda etapa as de nossas nossa fontes, poder emos ainda

uma

bibliografia,

concernente s fontes primrias: chegada a hora da arrolao das fontes impressas. Para as fontes impressas no se torna necessrio

dividi-las por meio dos arquivos e bibliotecas de onde retira mos a documentao. Isto se deve pelo simples fato de que o livro, graas aos processos de impresso, teve maiores oportunidades de divulgao o que torna possvel ao pesquisador encontrar diversos exemplares da mesma obra pulverizados ao largo de diversas instituies de pesquisa. Neste ponto, uma vez que no se torna necessria a descrio dos arquivos e locais onde

encontramos este tipo de fontes, de todo imprescindvel que sejamos o mais acurados possveis face aos detalhes da edio, tais como a cidade de edio, o editor, a data, e a edio se estamos lidando com uma primeira edio original, ou com

alguma outra reimpresso ou reedio, que venha acrescida de

31 comentrios e textos inditos do autor, por exemplo. Cabe, nesta momento, arrolar obras que possam mesmo servir de

acessrio para criarmos melhor as contextualizaes de nossas pesquisas, tais como relatos outros contemporneos, e mesmo estudos escritos na poca em que nossa pesquisa est delimitada depois de cumprida esta etapa de arrolame nto de fontes primrias, que abrimos na bibliografia uma entrada

referente s obras de apoio. Instrumentos auxiliares pesquisa, as obras de apoio consistem em enciclopdias, dicionrios de poca, e mesmo listas de documentao e fontes isto

depender do tema pesquisado e da documentao e instrumental disponveis dicionrios, para e ele. Algo uma como antigas erudita gramticas que seja e de

mesmo

enciclopdia

constante uso se tornam necessrios neste item. Devemos, aqui, relacionar os instrumentos verd adeiramente de consulta,

indicadores de onde conseguimos nossas informaes e mesmo referenciais onde outros pesquisadores possam se valer de

apoio, quando da realizao de pesquisas posteriores.

Finda

esta

etapa

instrumental

da

bibliografia,

chegada a hora de construir a bibliografia em si: o arrolamento de livros e artigos que possuem pertinncia e utilidade para nossa pesquisa. Esta listagem das fontes secundrias que

32 constituir a bibliografia stritu sensu, onde feita a relao de todos os textos teis e pertinentes para a investigao proposta. No devemos nunca deixar de ter em mente que qualquer tipo de citao bibliogrfica e organizao de bibliografias deve seguir as regras da ABNT, de maneira a torn -las padronizadas e de dar uma coerncia final ao trabalho. Por fim, torna -se algo

semelhante generosidade do pesquisador, que franqueia ao leitor, com fidedignidade e riqueza de detalhes, o acesso aos seus arquivos mais recnditos de pesquisa, e tambm se trata da abertura de possibilidades para crticas construtivas, pois

sempre surgir algum com um livro novo e til para indicar, que porventura no foi levantado ou mesmo se esqueceu de arrolar na bibliografia. Em sendo o primeiro caso, mister do pesquisador tratar de procurar o acesso e a leitura deste livro novo, e adicion-lo bibliografia, que sempre permanecer

como uma obra aberta, mesmo numa reviso que acabe por escoimar elementos novos que uma inteis, mais ou mesmo para ou adicionar olhar dados externo

viso

experiente

um

ofereceu. O bom pesquisador deve ter a sabedoria e a humildade de re conhecer que palpites e sugestes so bem vindos, ainda que primeira vista paream desconexos e sem o mnimo

sentido.

33 Depois de tudo que j foi dito e discutido, a

elaborao de um projeto de pesquisa ainda pode permanecer um abismo insondvel e um mistrio insolvel. No foi afirmado, em momento algum, que elaborar um projeto de pesquisa uma tarefa rasteira e fcil, dessas das quais nos desincumbimos com o mesmo esforo que fazemos ao acende r ou apagar uma

lmpada, por exemplo. Muito antes pelo contrrio, continua sendo andar num campo minado, e no deixou de ser uma tarefa trabalhosa e complicada. Contudo, ela se torna mais fcil na medida em que entramos numa simbiose tal com nosso projeto, que ele passa a fazer parte mais integrante de nossa existncia. No somos dominados por nossa pesquisa e tampouco seria saudvel se isso acontecesse, mas a proximidade e constncia devero nos propiciar um grau de intimidade bastante intenso, a ponto de sobre nossa pesquisa falarmos com a mesma fluncia e desembarao com que falamos de coisas que so ligadas nossa rotina e existncia, e mesmo das pessoas que so mais prximas a ns. Quando um pesquisador chega a este comprometimento que, para uma pessoa no envolvida com isso, ou no sabedora das lides da pesquisa, beira a inconvenincia sinal de que no h mais nada a temer; nem mesmo uma bateria de questes feitas por uma banca de examinadores: o projeto j entrou em ns, e muito sabemos sobre nossa pesquisa. Ela no nos domina, e nem tampouco a dominamos; apenas sabemos muito sobre ela.