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AS DROGAS E A JUVENTUDE: PERSPECTIVAS E CONCEPÇÕES

Diomara de LimaOrientadora:Profª. Drª. Araci Asinelli da Luz

RESUMOEstudos realizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (2004) afirmam que o

consumo de drogas vem aumentando relativamente entre jovens e adolescentes. Nota-se

que a porta de entrada para as drogas são as drogas lícitas (álcool, tabaco,

medicamentos estimulantes, etc.), sendo que por meio delas o caminho para as drogas

ilícitas (maconha, cocaína, crack, etc.) fica mais curto. Acredita-se que a mídia, a estrutura

familiar e o ambiente escolar influenciam positiva ou negativamente esta decisão na vida

dos jovens. O presente trabalho buscou apresentar por meio de discussões as questões

pertinentes sobre a temática para que os jovens tivessem o conhecimento sobre o

assunto e fossem capazes de realizar uma reflexão crítica acerca das drogas. Concluí-se

que uma boa estrutura familiar, políticas públicas, trabalhos contínuos da escola e a

utilização da mídia de forma consciente poderiam contribuir positivamente para a

prevenção intencional do uso de drogas por parte do grupo estudado.

Palavras-chave: adolescência; drogas; prevenção; escola.

1.0 INTRODUÇÃOA questão do abuso de drogas na atualidade corresponde a um problema

abrangente, a nível mundial, envolvendo diversas instâncias, uma vez que este não diz

respeito apenas ao usuário de drogas, caracterizando-se, portanto, como um grave

problema social e de saúde pública. Neste sentido, poucos fenômenos sociais acarretam

mais custos com justiça e saúde, dificuldades familiares e notícias na mídia do que o

consumo de álcool e drogas.

Desta maneira, a droga é buscada, muitas vezes, como uma fonte de prazer e de

satisfação momentânea ou como uma forma de esquecer as dificuldades da vida.

Entretanto, com o tempo, muitas pessoas continuam a consumi-la com a finalidade de

evitar os efeitos desagradáveis provocados pela ausência de seu uso.

É prioritário que a instituição escolar e seus profissionais visualizem a educação

buscando muito mais que apenas a transmissão dos saberes institucionalizados. Em

Moran (2005) fica claro que a função social da escola é organizar os processos de

aprendizagem dos estudantes, de forma que eles desenvolvam as competências

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necessárias para serem cidadãos plenos e para que possam contribuir na melhoraria da

sociedade. Tendo em vista que educar é muito mais que informar, há que se estar atento

a todos os aspectos do ser humano.

É preciso um olhar atencioso para a parte afetiva e social da criança e do jovem.

Entende-se que este olhar atencioso não deve ser desviado quando se trata de um

problema sério que afeta a escola e o seu entorno que é o uso de drogas pelos

estudantes. A escola além de caracterizar um espaço para o desenvolvimento educativo,

deve objetivar a qualidade de vida e de saúde do indivíduo. Deste modo, a instituição tem

a obrigação e a responsabilidade de realizar atividades relacionadas à prevenção ao uso

de drogas alertando o educando sobre as consequências negativas deste uso.

Para que se possa compreender a relação da juventude e as drogas no contexto

social contemporâneo necessita-se levar em consideração esta fase da vida pelas quais

todos passam. Em meio às crises do mundo, do caos instalado na sociedade, das

corrupções, das agressões, da crise de valores na política, encontra-se alguém que tem

coragem de enfrentar tudo de peito aberto: o jovem.

O que oferecer a uma pessoa antenada com as mudanças no mundo, com

objetivos próprios, com ideias próprias, que muitas vezes os adultos, irremediavelmente,

não querem ou não conseguem entender ou aceitar?

Para iniciar a reflexão acerca do envolvimento do jovem com as drogas e seus

fatores de risco, Soldera et al. (2004, p. 278) asseguram que:

Em vista disso, o conhecimento preciso de fatores associados ao uso de drogas em jovens no país é de grande relevância, pois permitiria intervenções sobre comportamentos e fatores de risco com vistas a inibir o possível progresso de um uso pesado de drogas lícitas e ilícitas, vício progressivamente deletério para o jovem.

É alarmante como a utilização de drogas ilícitas tem atingido as pessoas na

sociedade atual. Sem barreiras sociais elas atingem jovens, idosos, crianças, pobres e

ricos, sem distinção. Como uma tempestade, as drogas acabam com a vida das pessoas,

destroem famílias, relacionamentos, prejudicam a saúde e perspectivas de vida.

Para Jacob (2008, p. 1) muitas são as inquietações e desafios inerentes à questão

da qualidade de vida, tanto para os pais desses jovens, quanto para os profissionais

responsáveis pela saúde e o bem-estar dos mesmos.

Uma das grandes preocupações dos pais hoje em dia é a possibilidade de

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seus filhos um dia se envolverem com drogas. Nós, profissionais da saúde, também estamos bastante preocupados com o que está acontecendo com nossos jovens e adolescentes hoje em dia: o índice de jovens envolvidos de forma séria com drogas está cada vez maior, e acontecendo cada vez mais cedo em suas vidas. Como todos sabem, não temos mais como fechá-los numa redoma e evitar que tenham contato com alguma delas em alguma época de suas vidinhas. Na verdade, esse primeiro contato normalmente começa dentro de suas próprias casas, com o álcool ou o cigarro, que hipocritamente não são vistos pela sociedade como drogas.

Cada vez mais estudiosos estão despertando o seu interesse por estratégias

preventivas ao uso de drogas, baseadas em um enfoque psicossocial, o que se confirma

nas publicações envolvendo o assunto no meio científico. Nessa perspectiva, percebe-se

que as mais atualizadas abordam o desenvolvimento de habilidades sociais e, mais

especificamente, de habilidades de recusa às drogas, como uma das formas de

prevenção.

Lörh (2001, p.4) faz apontamentos sobre a questão, afirmando que:

Uma intervenção preventiva deve facilitar a aprendizagem de novas habilidades sociais e prevenir a redução de comportamentos inadequados. Isso pode auxiliar as crianças a buscarem desde cedo maneiras mais assertivas de relacionamento com seus pares, o que os tornará adultos que saberão lidar melhor com as dificuldades que surgirem na vida.

Portanto, programas preventivos devem “focalizar o desenvolvimento da

assertividade, bem como da empatia e da solução de problemas, visando aumentar as

competências sociais dos jovens e adolescentes para saber enfrentar situações futuras

que não estejam sobre seu controle” (Lörh, 2001, p.5).

As pesquisas têm trazido dados preocupantes sobre o aumento do uso de drogas

entre os adolescentes e reforça a necessidade de aprofundar a investigação nessa área.

Inúmeros estudos vão ao encontro do que já se observa na prática clínica, em que muitas

vezes os adolescentes dependentes de drogas podem apresentar déficits em habilidades

sociais, não conseguindo recusar a oferta de drogas para serem aceitos no grupo de

iguais.

O uso de drogas, por diferentes aspectos, é apontado por instituições e grupos

sociais como um grave problema de saúde pública.

Assim, o uso de drogas não é mais do que uma das conseqüências da alienação histórico-social, política e econômica, através da qual se manifesta a dramática dissociação em que vivemos. Ela é um sintoma da

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crise que atravessamos decorrente de uma gama de fatores incluídos na dimensão familiar, social e individual, bem como das rápidas e consistentes mudanças no modo de organização das sociedades industrializadas (KALINA et al., 1999, p.10).

Estas transformações levaram a um sistema de vida racional, materialista e

normatizador, no qual o consumo de drogas assume a forma de evasão, de contestação

e/ou transgressão.

Tendo em vista estes apontamentos, busca-se neste estudo refletir conceitos e

concepções referentes às drogas, à questão familiar, a influência dos grupos de amizade

e o papel da instituição escolar no que diz respeito à informação e prevenção do uso de

drogas na adolescência/juventude. Para tanto, este trabalho buscou discutir estas

perspectivas com um grupo de estudantes de uma escola pública estadual, situada na

cidade de Curitiba/Paraná. Os objetivos estão baseados na possibilidade de exposição e

reflexão crítica do tema abordado de forma amena e eficiente.

2.0 METODOLOGIAO presente trabalho iniciou sua abordagem com os estudantes do Ensino

Fundamental do oitavo ano (7ª série) de um Colégio Estadual localizado na cidade de

Curitiba/PR por meio da apresentação do projeto a eles e da entrega do pedido de

autorização aos pais e/ou responsáveis (ANEXO I). Os encontros tinham a duração de

cinquenta minutos, sendo este o padrão na escola. O retorno das autorizações foi em

torno de 90%. Muitos alunos alegaram esquecimento em entregar o pedido de

autorização para os pais. Como a escola tem a política de não retirar alunos da sala de

aula e em virtude da escola estar passando por um momento de falta de professores , as

intervenções foram feitas com todos os alunos.

Em seguida, foi entregue um questionário a cada estudante, o referido questionário

foi utilizado como metodologia para se obter o diagnóstico sobre o conhecimento dos

alunos em relação às drogas.

No segundo dia de trabalho foi realizada uma dinâmica em grupo que consistia em

fazer um círculo, aonde, ao som de uma música, os alunos iam obedecendo a alguns co-

mandos do professor enquanto passava um prato com balas coloridas que o aluno pode-

ria escolher entre pegar uma ou não e, ao mesmo tempo, obedecer ao comando dado

pelo professor. O objetivo da dinâmica era mostrar que muitas vezes o adolescente se

deixa levar pelas situações do momento sem parar para pensar no que vai ingerir.

De todos apenas um aluno não colocou a bala na boca. Quando foi questionado a

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respeito ele respondeu que não sabia o que poderia ter na bala. A partir deste ponto foi

feita uma discussão em relação a ficar atento a tudo o que é oferecido a eles dentro e fora

da escola.

Em outro momento foi realizada uma palestra do Programa Educacional de

Resistência às Drogas (PROERD), ministrada pelo Cabo Silveira. Ele iniciou a palestra

falando sobre a adolescência, em seguida foi apresentado um vídeo sobre o crack,

mostrando o antes e o depois de um usuário. Apresentou o que são drogas e o que elas

provocam, o motivo pelo qual as pessoas procuram as drogas, quais são os tipos de

drogas e finalizou com uma mensagem aos alunos e um vídeo de uma mãe que perdeu o

filho para as drogas.

O encontro seguinte consistiu na apresentação e discussão do vídeo “Seja forte: se

cair levante” ligada à palestra do PROERD, conduzida pelo Cabo Silveira.

Nos dois encontros subsequentes os educandos realizaram a confecção de

cartazes, cujos temas foram escolhidos por eles entre família, amigos, vida, drogas. Após

a confecção dos cartazes eles foram expostos nos corredores da escola para apreciação

da comunidade escolar.

No sétimo dia de intervenção ocorreu a leitura de textos relacionados a esta

temática seguida de reflexão e discussão.

No dia do encerramento, os estudantes foram convidados a refletir sobre a música

“O que é o que é”, interpretada pelo cantor e compositor Gonzaguinha, e em seguida

foram convidados a expor suas reflexões para o grande grupo.

Ao final das discussões e reflexões foi possível perceber que os estudantes já

percebiam a questão dos perigos da droga de outra maneira. Em conversas espontâneas

eles relatavam que os esclarecimentos feitos durante o processo foram adequados e

esclarecedores. Acredita-se que o processo ainda deveria continuar e acompanhar os

alunos até o final do 2º grau.

3.0 REVISÃO DE LITERATURA A relação com a família, a pressão do grupo de amigos, o desempenho acadêmico

e a ligação com a escola, a inserção e incorporação de valores comunitários, a

capacidade de decodificação de mensagens provenientes da mídia, além de aspectos

individuais como auto-estima, capacidade de resolução de problemas e expectativas

funcionais com relação ao uso de álcool e outras drogas são aspectos fundamentais para

a compreensão do desenvolvimento de comportamentos prejudiciais à saúde entre os

jovens. Portanto, ao se pensar em ações relacionadas ao consumo de drogas, a família

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deve ser considerada. Reforçar seus vínculos e contribuir para que os pais adotem

posturas mais benéficas para com os filhos, a partir de práticas mais positivas de

socialização, podem produzir resultados mais eficazes. A compreensão do papel destas

práticas pode contribuir para que pais estejam mais conscientes do seu papel na

consolidação de crenças, valores e atitudes contrárias a comportamentos prejudiciais à

saúde e ao desenvolvimento mental de seus filhos.

Persistem as associações entre diversas características familiares e uso de drogas.

A família desempenha importante papel como agente socializador na vida do indivíduo e,

por essa razão, tem sido alvo de interesse nos estudos que investigam fatores associados

ao uso de drogas entre adolescentes.

Os adolescentes que consomem drogas demonstram que diversos aspectos do

universo familiar podem atuar como fatores que propiciam o envolvimento dos

adolescentes com substâncias químicas, enquanto existem aspectos deste mesmo

contexto que podem funcionar como fatores preventivos. Schenker e Minayo (2003)

acrescentam mais conceitos sobre a questão familiar relacionada ao consumo de drogas:

No caso do domínio familiar, aspectos como fortes vínculos familiares, a qualidade dos mesmos, o relacionamento positivo, o estabelecimento de regras e limites claros e coerentes, o monitoramento e a supervisão, o apoio, a negociação e a comunicação, convencionalismo e equilíbrio são considerados como fatores que protegem o adolescente do uso de drogas.(p.710)

Deste modo, quanto mais fortes forem os laços entre o jovem e sua família, menor

será, por exemplo, a influência do grupo de usuários sobre o indivíduo.

Observa-se, na sociedade contemporânea, que um dos principais motivos de

violência na escola e seu entorno está relacionado ao uso e tráfico de drogas. Esta

realidade torna a escola um espaço vulnerável e consequentemente acaba facilitando o

envolvimento dos estudantes com o uso e o tráfico de drogas dentro e nos arredores da

escola. A Universidade de Brasília – UnB adverte em um de seus textos que:

O uso de drogas tem se revelado como um importante problema de saúde pública com enorme repercussão social e econômica para a sociedade contemporânea. Não obstante os esforços do poder público e da sociedade civil na busca de alternativas, o aumento do consumo e a precocidade com que os jovens vem experimentando vários tipos de drogas, alertam os especialistas em uma direção comum: é preciso prevenir (BRASIL, 2006, p.158).

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Esta questão tem preocupado pais e educadores. Assim, a escola por sua função

educacional de socialização dos indivíduos tem sido convocada para intervir nesta

situação. Ainda sobre este aspecto, Ribeiro (2005, p. 12) afirma a necessidade de a

escola “desenvolver uma proposta pedagógica de intervenção, coerente com os anseios

dos jovens, vulneráveis ao uso de drogas”.

Esse pressuposto também se evidencia com a inferência de que:

Já vimos que as tensões existentes na escola não impedem de emergir de forças de luta e resistência pelo restabelecimento da cidadania. E, nós trabalhadores desse contexto, estamos cotidianamente atuando, de uma forma ou de outra, nesse cenário dinâmico. Entretanto, essa atuação se dá, muitas vezes, de maneira imprevisível e de forma intuitiva. Precisamos pensar em construir práticas intencionalmente planejadas na direção de uma transformação pautada em ações competentes e consciente. (BRASIL, 2006, p. 49)

Desta forma, compreende-se que a escola tem a condição e pode intervir com

ações que favoreçam a construção de projetos de vida. A instituição pode ajudar

interferindo pontualmente no que está ao seu alcance criando espaços de participação,

realização e criação. Segundo a UnB (BRASIL,2006, p. 56), cabe à escola oferecer

situações instigantes como parte de seu processo educativo que correspondam às

necessidades e motivações de seus estudantes adolescentes.

3.1 CONCEPÇÃO DE PREVENÇÃO NA ESCOLA

Muito se tem falado no papel da escola, seja como agente transformador, seja

como lócus propiciador do ambiente que exacerba as condições para o uso de drogas. No

entanto, mesmo no âmbito educacional, existem fatores específicos que predispõem os

adolescentes ao uso de drogas, como por exemplo, a falta de motivação para os estudos,

o absenteísmo e o mau desempenho escolar, a insuficiência no aproveitamento e a falta

de compromisso com o sentido da educação, a intensa vontade de ser independente,

combinada com o pouco interesse de investir na realização pessoal, a busca de novidade

a qualquer preço e a baixa oposição a situações perigosas, a rebeldia constante

associada à dependência a recompensas (KANDEL et al., 1978).

A respeito desta questão Asinelli-Luz (2000, p. 39) afirma que “a escola brasileira,

de um modo geral, tem atuado de forma inadequada frente aos problemas sociais que

dizem respeito à vida dos estudantes, em especial às questões de sexualidade, consumo

de drogas e violência”. Para a autora, ainda faz-se necessário que o diálogo entre a

escola e o estudante seja realizado de forma contínua e dialética.

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Vale ressaltar que a forma de abordagem do tema pode tornar-se mais eficaz

quando o trabalho de prevenção acontece “em um clima tranquilo, sem acusações ou

preconceitos, pautando-se no diálogo e na reflexão sobre o significado do uso da droga,

as consequências que ela provoca e a possibilidade da adoção de comportamentos

favoráveis a uma vida saudável”. (BRASIL, 2006, p. 96)

Neste sentido, a escola deve atuar de forma consciente, crítica e participativa,

visando e estimulando mudanças neste quadro caótico. Longenecker (1998) esclarece

que o trabalho de prevenção tem por objetivo fazer o jovem refletir de forma crítica sobre

sua vida, as suas aspirações, suas escolhas, seus objetivos. Nesta linha de pensamento

Costa (2009, p. 4) afirma que o

trabalho preventivo nada tem a ver com proibições e sim, com pensamentos e reflexões positivas que venham a influenciar no comportamento do aprendente, levando-o a pensar diferente sobre suas escolhas no sentido de melhorar sua maneira de viver.

Vários estudos concluem que o uso das drogas sempre estiveram presentes no

contexto histórico e cultural dos povos. Ribeiro (2005, p. 4) afirma que “a questão da

adequação ou inadequação do uso das drogas está relacionada aos motivos, à

quantidade e aos contextos sociais, tendo claro que vários fatores podem contribuir para

que esse uso se transforme ou não em abuso ou dependência para algumas pessoas”.

Ribeiro (2005, p. 5) ainda afirma que “a dependência pode ser designada como um

agrupamento de sintomas cognitivos comportamentais e fisiológicos indicando que a

pessoa utiliza a substância apesar de problemas significativos relacionados a ela”. Bucher

(1993, p. 29), esclarece, ainda, que o uso de drogas “não é uma fuga ou incapacidade de

comunicação com os demais, simplesmente não há lugar para a comunicação devido à

colaboração nefasta de fatores conjunturais”.

Geralmente quando se escreve sobre a questão do uso de drogas na escola corre-

se alguns riscos no que diz respeito a ser considerados conservadores ou liberais. Este é

um fator importante para a compreensão da problemática do uso de drogas na escola. Os

programas de prevenção tem por prioridade a abstinência do uso de drogas. Desta

maneira, este tipo de “campanha” pretende que os jovens nunca experimentem qualquer

tipo de droga, tanto lícita quanto ilícita. Então fica mais fácil entender porque professores

e educadores trabalham com este tipo de abordagem. No entanto, pesquisas realizadas

nos últimos anos indicam que os projetos que tem por prioridade a abstinência do uso de

drogas não estão conseguindo fazer com que isto aconteça. É válida nossa reflexão sobre

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os motivos destes problemas e os possíveis caminhos metodológicos que se deve tomar

para reverter esta situação.

Deve-se considerar que o trabalho de prevenção ao uso de drogas deve estar

embasado no conhecimento científico. Deste modo, as informações devem ser divulgadas

de forma clara e corretas, diminuindo o preconceito existente nesta questão. Outro

aspecto a considerar é que só o repasse de informações para o jovem não é suficiente.

Um trabalho preventivo deve objetivar fazer com que o jovem pense e reflita de

maneira crítica sobre sua vida, suas escolhas, seus desejos, suas frustrações e seu

futuro. Sendo assim, o trabalho preventivo ao uso de drogas deve romper com o

paradigma da mera proibição. Deve-se preparar o jovem para suas futuras decisões de

maneira integral.

Sabe-se que não existe uma forma única de realizar o trabalho preventivo. Desta

forma, podem-se elaborar várias atividades que contribuam para a reflexão efetiva do

jovem e seu crescimento pessoal e crítico.

Diversos estudos, nacionais e internacionais, indicam que os programas voltados

para a prevenção contra o abuso de drogas devem abordar a dimensão socioeconômica e

política deste fenômeno, assim como as representações e práticas da população relativas

aos diversos aspectos desse tema. Apoiados na contextualização histórica do fenômeno

das drogas, tais análises assinalam o fracasso das políticas de prevenção centradas

apenas na repressão e a necessidade de se propor visões alternativas.

3.2 AS DROGAS E SUA CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS EFEITOS NO SISTEMA

NERVOSO CENTRAL

Primeiramente é importante repensar alguns conceitos que podem dar suporte para

esclarecer certos enganos. A palavra droga, no sentido científico do termo, designa

também todo e qualquer medicamento. São muitas as definições de droga encontradas

na literatura. Entretanto, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga

corresponde a qualquer entidade química ou mistura de entidades que podem alterar a

função biológica e, possivelmente, sua estrutura.

Desta forma, entende-se que quando se fala em drogas, faz-se referência às

drogas ilícitas e às drogas lícitas, conforme apresentada por Costa (2009, p. 5) quando o

autor especifica o conceito utilizado pela Organização Mundial de Saúde:

Quando falamos em drogas, estamos falando das drogas ilícitas (as proibídas) como a maconha, o lança-perfume, a cocaína e o crack, entre outras; e as lícitas (liberadas), como o álcool, o tabaco, a cafeína, os

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remédios anti-depressivos, anabolizantes, entre outros.

Tendo em vista o pressuposto desenvolvido no subitem anterior, achou-se

relevante caracterizar os tipos de drogas e seus efeitos. Em documento da UNB (BRASIL,

2006, p. 6) consta uma classificação de interesse didático, que reproduzimos abaixo,

tendo como base os efeitos das drogas no sistema nervoso central (SNC):

- DEPRESSORAS da atividade mental (álcool, barbitúricos, solvente ou inalantes)

que provocam uma diminuição da atividade motora, da reatividade a dor e a ansiedade, é

comum um efeito euforizante inicial e posteriormente um aumento da sonolência.

- ESTIMULANTES da atividade mental (anfetaminas, cocaína, entre outras)

provocam um estado de alerta exagerado, insônia e aceleração dos processos psíquicos.

No caso da cocaína, muitas vezes o vício começa por outras drogas como o álcool, os

inalantes ou a maconha. Mas, se faz necessário explicitar que isto não é uma regra,

também podendo acontecer de a pessoa fazer uso dessas drogas e não progredir para

nenhuma outra substância, como, também, iniciar o vício com a cocaína.

- PERTURBADORAS da atividade mental (maconha, alucinógenos, LSD, entre

outras) demonstrando que estas drogas provocam alterações no funcionamento cerebral,

com destaque para os delírios e alucinações. Alguns efeitos psíquicos são bem visíveis

nos usuários destas drogas. Percebe-se uma perturbação na capacidade de calcular o

tempo e o espaço, bem como perda da memória e da atenção.

Esses efeitos acima citados podem ser agudos (ocorrem durante o uso da

substância) ou crônicos (ocorrem mesmo algum tempo depois da utilização da

substância, geralmente após o seu uso). Os efeitos das drogas são classificados em

somáticos (substâncias que tem sua ação sobre o organismo) e psíquicos (as drogas

provocam alterações no estado da mente do usuário). Os usuários procuram, de modo

geral, utilizar drogas que causem efeitos psíquicos, por suas sensações ligadas ao prazer

no início do processo de uso de drogas.

Entre as drogas contemporâneas, o crack exige maior preocupação da sociedade,

de pais e professores, pelo seu grande poder de destruição entre os jovens. Verificou-se

em Delazeri (2010, p. 1) dados que comprovam esta afirmação:

A partir de meados dos anos 90 o crack surgiu na cidade de São Paulo, de uma forma lenta, mas estável, expandiu-se para o interior do estado e mais recentemente nos últimos 10 anos expandiu-se para todo o país. O crack nada mais é do que a cocaína que pode ser fumada, tornando-a muito mais poderosa na criação de dependência e de uma série de problemas, em especial a violência. Todas as cidades onde o crack apareceu relatam um

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aumento de vários tipos de crimes. A primeira vítima da violência relacionada ao crack é a própria família do usuário, pois é muito comum que comecem a roubar objetos diversos de suas próprias casas, como aparelhos de som, televisões, botijões de gás, etc. para venderem e sustentarem o consumo. Esgotada essa fonte partem para crimes aquisitivos como roubo de carros, assaltos, etc.

A dependência de drogas é considerada pela Organização Mundial da Saúde

(OMS) como uma doença que requer cuidados específicos. Como qualquer outra doença,

ela pode ser tratada e controlada, devendo ser encarada, simultaneamente, como uma

doença médica crônica e um problema social.

Entretanto, há resistência, tanto por parte dos próprios dependentes quanto por

parte dos familiares, em aceitar que o consumo de drogas é uma doença. De acordo com

a OMS, a dependência de drogas corresponde a um estado mental, e muitas vezes,

físico, que resulta da interação entre um organismo vivo e uma droga. Caracteriza-se por

comportamento que sempre inclui uma compulsão de tomar a droga para experimentar

seu efeito psíquico e evitar o desconforto provocado por sua ausência.

Entretanto, ainda que, muitas vezes, as campanhas de prevenção na mídia e em

outros meios de divulgação priorizem o combate ao uso de drogas ilícitas, é o uso das

chamadas drogas lícitas que estão predominando entre os adolescentes.

3.3 O USO DE DROGAS ENTRE ADOLESCENTES E JOVENS

A adolescência é um período de transição entre a infância e a vida adulta

caracterizado pela necessidade de integração social, busca da autoafirmação e da

independência individual, além da consolidação da identidade sexual e emoções

conflitantes (SILVA; MATTOS, 2004). Pode ser considerada como uma etapa do

desenvolvimento humano que envolve inúmeras adaptações e mudanças nas

capacidades e habilidades pessoais.

Por estar em um momento de maior vulnerabilidade, no qual podem estar

presentes sentimentos de insegurança e desamparo frente às mudanças físicas e

psicológicas próprias desta etapa do ciclo vital, o adolescente ainda não desenvolveu de

forma adequada algumas habilidades e demonstra a constante necessidade de testar sua

possibilidade de ser adulto. Em busca de poder e controle sobre si mesmo, adquirir

autonomia e diferenciar-se de seus pais, alguns jovens escolhem usar drogas, geralmente

iniciando com cigarros, álcool, maconha, o que pode levar, consequentemente, ao uso de

múltiplas drogas ilícitas.

De acordo com Graña Gómez (2001, p. 10), os fatores de risco e proteção para o

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consumo de drogas em adolescentes “incluem fatores psicológicos e influências do grupo

de pares. Levando em consideração tais aspectos, é necessário que os jovens aprendam

a manejar suas características de caráter psicológico que os exponham a uma situação

de risco, potencializando aquelas que possam protegê-los frente ao início do consumo de

substâncias químicas”.

Numa perspectiva do desenvolvimento da saúde mental, os programas preventivos

focalizam-se no treinamento assertivo e nas estratégias de comunicação para o rechaço e

a negociação frente às drogas, em combinação com habilidades para solução de

problemas e tomada de decisões.

O lado negativo do desejo juvenil de obter prazer com o uso de drogas é o risco

que ele corre de se tornar dependente e comprometer a realização de tarefas normais do

desenvolvimento, o cumprimento dos papéis sociais esperados, a aquisição de

habilidades essenciais, a realização de um sentido de adequação e competência e a

preparação apropriada para a transição ao próximo estágio na trajetória da vida: o adulto

jovem. O termo comportamento de risco se refere às ameaças ao desenvolvimento bem-

sucedido do adolescente. Uma preocupação básica da educação para a saúde seria,

pois, discutir com os adolescentes os riscos associados aos comportamentos nos quais

se engajam (JESSOR, 1991, p. 5), mas tendo o cuidado de não desconhecer o lado

prazeroso desse engajamento.

Sabe-se que existem diversos fatores que influenciam os jovens ao uso de drogas

lícitas ou ilícitas. Uma que se pode considerar é o poder da mídia. Conhece-se sua força

perante a sociedade e que influencia de forma significativa a maneira como se pode

compreender um problema. No que se refere às drogas, a mídia apresenta a questão de

maneira alarmista e sensacionalista. É fácil de se perceber que casos isolados de uso de

drogas são destacados e por outro lado pouco se discute sobre a questão do uso e abuso

de álcool na adolescência. Refletindo sobre esta questão pode-se perceber que este fato

ocorre devido aos interesses econômicos ligados a esta questão. O prejuízo econômico

seria considerável caso a temática do consumo de álcool fosse amplamente discutida e

divulgada.

Como o consumo de drogas (tanto lícitas quanto ilícitas) entre os adolescentes tem

crescido assustadoramente é necessário ressaltar um aspecto importante relacionado a

este consumo: o estímulo dado pela sociedade às drogas consideradas “oficiais” (como o

álcool e o tabaco), ou seja, as drogas que são aceitas pela sociedade, que são de uso

lícito. Os meios de comunicação tendem a veicular o consumo dessas drogas associadas

com beleza, sedução do sexo oposto, sucesso profissional e riqueza, entre outras coisas.

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E o adolescente, em busca de valores para construir sua própria identidade, torna-se alvo

fácil da mídia e da sociedade. Entretanto, estas drogas, como qualquer outra, causam

danos diversos ao indivíduo, quando consumidas em excesso.

Acerca desta questão Asinelli-Luz (2000, p. 43) afirma que a questão socialmente

construída revela os problemas vividos nos dias de hoje. Para ela:

Em nossa cultura há uma permissividade marcante em relação ao consumo de drogas legalizadas (álcool, tabaco e medicamentos) e, mesmo neste contexto, poucas são as ações preventivas eficazes, restringindo-se, em sua maioria, ao cumprimento de leis de venda e consumo, procurando coibir o abuso, não havendo nenhum “discurso” convincente para que os usuários abandonem o seu uso. Porém, com relação às drogas ilegais, há um discurso fortemente repressor e moralista, que não visualiza os múltiplos fatores mobilizadores dos indivíduos para o seu consumo, investindo-se em estratégias ineficazes de convencimento, como se fosse possível criar uma sociedade livre de drogas.

A utilização de álcool e tabaco, segundo Kalina et al. (1999, p. 9), é encarada

naturalmente por muitas pessoas em nossa sociedade, passando a fazer parte de seus

hábitos diários, conduta que legitima a toxicomania e a dependência das drogas. Assim,

muitas vezes, o consumo desse tipo de droga começa na própria família, na qual há o

consumo constante de álcool e tabaco. Além disso, os pais foram ensinados que, a

qualquer sinal de dor física ou psíquica, os mesmos devem recorrer a algum tipo de

substância química para aliviá-lo.

Tal fato pode indicar porque os adolescentes, quando vivenciam tensões, passam a

buscar algo que alivie seu sofrimento. Esse algo, muitas vezes, podem ser as drogas.

Assim, muitas famílias, mesmo sem ter a intenção, assumem um modelo de

comportamento permissivo no que diz respeito às drogas, as quais passam a ser

empregadas, nos mais variados momentos, como a fonte certa para a solução imediata

de angústias e de problemas.

A adolescência representa um período do desenvolvimento importante para a

consolidação de valores. Além da família, os pares passam a exercer uma influência

importante. Em publicação do Centro Brasileiro de Informações Sobre Álcool e Outras

Drogas - CEBRID (2010, p. 4), verifica-se que este é um contexto de “maior autonomia,

liberdade para novas experiências, busca por novidades, curiosidade e adesão ao grupo

de amigos” o que propicia o acesso e uso de algumas substâncias.

Conforme Delazeri (2010, p. 3), o álcool é uma das principais drogas em abuso

entre os jovens. Sua pesquisa comprova que um em cada sete adolescentes,

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configurando um percentual de 16%, acaba abusando do álcool. O autor coloca que

tornou-se hábito entre os adolescentes o consumo abusivo de álcool nos finais de

semana, o que os torna mais propensos a acidentes, a uma gravidez não planejada, bem

como, torna-se maior o risco do adolescente incorrer no uso de drogas ilícitas.

Conforme pesquisa efetuada pelo CEBRID com 5.226 estudantes de escolas da

rede particular do município de São Paulo, sendo 2.691 do Ensino Médio e 2.535 do

Ensino Fundamental, constatou-se, baseado em questionários internacionais de

autoaplicação, que “39,6% dos estudantes” já consumiram “alguma bebida alcoólica,

10,2% tabaco (cigarro), 3,7% inalante(s), 3,8% maconha, 3,7% tranqüilizantes

(benzodiazepínicos), 1,7% estimulantes tipo anfetamina(s), 0,9% ecstasy, 0,9% cocaína e

0,1% crack” (2010, p. 1).Ainda com relação ao consumo de bebidas alcoólicas, a pesquisa salientou que no

padrão “binge” (5 doses na mesma ocasião) o que equivale à embriaguez, configurou-se

um comportamento de maior risco em uso. Na referida pesquisa, constatou-se essa

prática em 1/3 dos alunos do Ensino Médio.

Nos dados demonstrados, depreende-se que a violência escolar, configurada no

uso e tráfico de drogas e no consumo de bebidas alcoólicas, vem acompanhada de outros

fatores. O problema na escola é reflexo de uma sociedade desestabilizada, da violência

familiar, da violência social, do descaso das autoridades, da ausência de políticas públicas

de prevenção eficazes, entre outros.

Nesse sentido, justifica-se a necessidade de um trabalho aprofundado por parte da

escola, tendo em vista que a instituição tem a possibilidade de manter um contato mais

próximo com o educando. No que diz respeito aos educadores, se faz necessária a

realização de ações para entender e tentar controlar as consequências de um problema

tão nefasto.

4.0 CONSIDERAÇÕES FINAISFica evidente que as drogas estão presentes na sociedade, em diversas culturas,

atingindo principalmente a população jovem. Antigamente o uso das drogas era parte da

manifestação de alguns grupos rebeldes, hoje já não existe mais fronteira social, familiar

ou econômica, pois elas avassalam famílias, destroem lares, dominam e atravessam os

muros da escola, antes território intocável.

Assim, fica caracterizada a necessidade de a escola desenvolver mecanismos de

prevenção a este problema, focando a prevenção por meio da atenção ao jovem e

valorizando-o como ser humano. Isto se confirma com a afirmação de Egypto (2002, p.

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226) ao dizer que:

...a escola, por sua vez, precisa efetivar projetos pedagógicos sistemáticos e continuados, baseado na reflexão, no debate dos temas da sexualidade, das drogas e de todos os outros aspectos da cidadania adolescente. Problematizar as questões polêmicas, dar voz e vez ao jovem, informar e fazer pensar, criando condições de participação social, são contribuições fundamentais que a escola pode dar.

Entretanto, ainda se pode perceber que muitos são os embates e ações

necessárias para o efetivo cumprimento das medidas de combate às drogas. Desta

maneira, Costa (2009, p. 6) enfatiza que:

...as dificuldades no trabalho do ensinante, diante de todas essas discussões, são evidentes os receios em lidar com a prevenção ao uso e abuso das drogas na escola. Estes receios compreendem desde a questão prática de não saber de fato como trabalhar estes entraves com os aprendentes, até o medo de sofrer alguma forma de violência, como por exemplo, receber alguma ameaça de algum traficante.

Entretanto, apesar das dificuldades enfrentadas pelo profissional da educação,

comprova-se através deste referencial teórico que também é responsabilidade do

educador preparar o jovem para enfrentar o mundo e os seus desafios. Educar é antes de

tudo promover a busca do jovem por sua identidade e sua subjetividade, promovendo

uma educação integral cognitiva e emocional.

Constata-se que, apenas campanhas massivas não conseguem modificar o

comportamento das pessoas. Verificam-se melhores resultados com trabalhos educativos

mais próximos do adolescente e seu entorno social, pela facilidade de acesso a outros

ângulos da mesma questão.

Nesse contexto, fica claro que o jovem não deve ter tão somente uma visão das

drogas e do perigo que elas representam, mas de apoio, estrutura e consciência para não

cair sob seu domínio.

No que tange o uso das drogas, Figueiredo (1997, p. 1) esclarece que “o educador

representa-se como um profissional que pode oferecer informação segura sobre o tema

ao adolescente”. Entretanto, o autor reforça a ideia de que ele, o educador, “deve mostrar-

se afeito à integração com profissionais de outras áreas no trabalho de prevenção ao uso

de drogas”, tendo em vista a complexidade do tema e de sua abrangência.

No Brasil, os esforços dirigidos para o entendimento dos aspectos psicossociais

envolvidos no abuso de álcool e outras drogas entre os jovens poderão contribuir para o

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fortalecimento de políticas de saúde e educação que pretendam concorrer para a

promoção de uma vida mais saudável entre adolescentes e pais, bem como ampliar os

conhecimentos de diferentes profissionais que lidam, cotidianamente, com os desafios

impostos pela questão das drogas em nossa sociedade.

A problemática das drogas é bastante complexa, com imensa gama de fatores

intervenientes. Os estudos lançam luzes na compreensão desse caminho, contribuindo

para o avanço do conhecimento dessa realidade.

A imagem do usuário de drogas como alguém incapaz de funcionar

adequadamente dentro da sociedade reflete, na realidade, o estágio final do problema,

sendo difícil o reconhecimento em estágios iniciais. A identificação de sinais precoces de

comportamento de dependência é altamente necessária para que a família e o setor

escola e saúde possam tomar providências com maiores chances de sucesso. Tem-se a

questão se a ausência à escola seria uma consequência do uso de drogas ou marcaria

um comportamento de dificuldade em outras áreas, que incluiria ou culminaria com o uso

de drogas. Independentemente do que tenha acontecido antes, no entanto, o

absenteísmo atual à escola é um marcador de necessidade de intervenção. Dada a

contemporaneidade desse fator, deve ser o indicador mais útil para a detecção e

intervenção precoces em problemas de vida ou comportamentais entre escolares.

A problemática do abuso de substâncias químicas é um tema muito discutido em

nossa sociedade, principalmente, no que se refere ao consumo destas por adolescentes.

Tal questão tem gerado preocupações tanto nos pais quanto nos professores e

pesquisadores. Estes últimos, por meio de estudos variados, buscam compreender

melhor a questão das drogas em si e o processo de envolvimento dos jovens com estas,

com a finalidade de traçar estratégias preventivas.

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