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AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS EVOLUÇÃO POLÍTICO- CONSTITUCIONAL DO BRASIL ESDRAS BOCCATO Mestre em Direito do Estado – USP Procurador da Fazenda Nacional

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AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

EVOLUÇÃO POLÍTICO-CONSTITUCIONAL DO

BRASIL

ESDRAS BOCCATOMestre em Direito do Estado – USPProcurador da Fazenda Nacional

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1. FASE COLONIAL• 1.1. Formação da colônia brasileiraA colonização do Brasil teve início com o sistema

das capitanias hereditárias, mediante o qual porções do território brasileiro foram doadas a particulares que ti-vessem interesses e condições de povoa-las. Deste modo, desde o começo da formação do Brasil é pos-sível perceber que o povoamento no território se deu de maneira descentralizada e dispersa, pois cada um dos donatários das capitanias dispunha de poderes praticamente absolutos.

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1. FASE COLONIAL• 1.1. Formação da colônia brasileiraApesar das tentativas de centralização do poder na

colônia ocorridas com a instituição do sistema de governadores-gerais (Tomé de Souza) em 1549 e com a divisão da colônia em “Estado do Brasil” e “Estado do Maranhão”, ainda assim se observa a existência de capitanias efetivamente autônomas e desligadas de um efetivo poder central. Em verdade, durante o período colonial, o que se verificou foi a dispersão de poder político e a formação de centros locais de poderes.

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2. FASE MONÁRQUICA• 2.1. Vésperas da IndependênciaA fase monárquica no Brasil iniciou-se com a vinda

de Dom João VI e a corte portuguesa à então colônia sul-americana, o que ensejou a elevação do Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarve e a consequente abertura dos portos às nações amigas. Contudo, toda a organização administrativa que se firmou com a chegada da família real portuguesa efetivamente não foi capaz de influenciar o interior do país em que, há três séculos, vivia-se com a frag-mentação do poder.

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2. FASE MONÁRQUICA• 2.2. Independência do BrasilCom a independência do Brasil proclamada por Dom

Pedro I, a problemática a ser resolvida passou a ser a questão da unidade nacional. Para assegurá-la, era necessária a instituição de um poder centralizador capaz de inibir os poderes locais e regionais então dominantes no interior do Brasil. Contudo, ao mesmo tempo, os ideais do constitucionalismo influenciavam sobremaneira a introdução de (novas) Constituições escritas, os quais eram totalmente avessos a formas absolutistas de poder.

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2. FASE MONÁRQUICA• 2.3. Assembleia constituinte de 1823Convocada por Dom Pedro I antes mesmo da procla-

mação formal da independência do Brasil (meados de junho de 1822), a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil instalou-se em maio de 1823 mediante discurso de D. Pedro I, no qual se auto denominou “Imperador Constitucional” e “Defensor Perpétuo do Brasil” e em que alertou: “espero que a Constituição que façais, mereça a minha imperial aceitação”. Antes, no ato de sua coroação como imperador, D. Pedro I já havia dito: “Juro defender a Constituição que está para ser feita, se for digna do Brasil e de mim”.

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2. FASE MONÁRQUICA• 2.3. Assembleia constituinte de 1823Desde o início, observa-se que à Assembleia Constituin-

te não foram assegurados poderes de instituir Constitui-ção nos moldes do liberalismo e do constitucionalismo. Por isso é que PAULO BONAVIDES afirma que “uma Cons-tituinte à semelhança daquela que Sieyès teorizou para a França do século revolucionário não existiu nem poderia existir no Brasil de D. João VI e Pedro I” (BONA-VIDES, Paulo, História constitucional do Brasil, 3ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991, p. 38). Por diversas razões que historica-mente foram levantadas, a Assembleia Constituinte foi dissolvida por D. Pedro I mediante decreto, pouco após, outorgou a Constituição de 1824.

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2. FASE MONÁRQUICA• 2.4. Constituição do Império do Brasil (1824)

A Constituição Política do Império do Brasil foi elabora-da por um Conselho de Estado e outorgada pelo Imperador Dom Pedro I em 23 de março de 1824. Em verdade, “tudo terminou como D. Pedro I queria: uma Constituição outorgada; liberal em matéria de direitos individuais, mas centralizadora e autoritária na soma dos poderes que concedia ao monarca constitucio-nal” (BONAVIDES, Paulo, História constitucional do Brasil, 3ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991, p. 80).

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2. FASE MONÁRQUICA• 2.4. Constituição do Império do Brasil (1824)Na Constituição Imperial de 1824, adotou-se o sistema de

separação de poderes preconizado por Benjamim Constant, no qual se contempla a instituição de um Poder Moderador. Sendo exercido privativamente pelo Impera-dor (art. 98), era considerado a chave da organização política, pois “age sobre o Poder Legislativo pelo direito de dissolução da Câmara, pelo direito de adiamento e de convocação, pelo direito de escolha, na lista tríplice, dos senadores. Ele atua sobre o Poder Judiciário pelo direito de suspender os magistrados. Ele influi sobre o Poder Executivo pelo direito de escolher livremente seus ministros de Estados e livremente demiti-los” (SILVA, José Afonso, Curso de direito constitucional positivo, 25ª ed., São Paulo, Malheiros, 2005, p. 76).

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2. FASE MONÁRQUICA• 2.4. Constituição do Império do Brasil (1824)

Ideologicamente, a Constituição do Império (1824) é híbrida, porque assume feições liberais e absolutistas . Ao mesmo tempo que nela são estabelecidos direitos individuais aos cidadãos (liberalismo), também são previstos instrumentos de concentração de poder nas mãos de um único governante (absolutismo). Por isso há quem afirme que “o Poder Moderador da Carta do Império é literalmente a constitucionalização do absolutismo, se isto fora possível”. (BONAVIDES, Paulo, História constitucional do Brasil, 3ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991, p. 96)

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2. FASE MONÁRQUICA• 2.4. Constituição do Império do Brasil (1824)

De maneira original, a Constituição do Império instituiu a possibilidade de ser modificada tanto por trâmites legislativos especiais como ordinários, a depender da matéria envolvida. Por isto, é considerada semi-rígida, pois somente prevê procedimento especial de revisão da Constituição para normas materialmente constitu-cionais, conforme disposto no art. 178:

Art. 178. E' só Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que não é Constitucional, póde ser alterado sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinarias.

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2. FASE MONÁRQUICA• 2.4. Constituição do Império do Brasil (1824)

Por outro lado, nela também se observa uma sensibili-dade precursora para os problemas sociais, pois no rol de direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros se previram direitos fundamentais de feições sociais. Nela são garantidos os “socorros públicos” (inciso XXXI), a “instrução primária e gratuita a todos os cidadãos” (inciso XXXII) e “universidades” (inciso XXXIII). Daí ser possível afirmar que a Constituição Imperial apresenta três dimensões, pois contêm elementos voltados ao passado (absolutismo), presente (liberalismo) e futuro (socialismo).

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3. FASE REPUBLICANA• 3.1. Queda do Império e suas razõesA Constituição Imperial de 1824 foi de maior vigência

na história brasileira. Apesar disto, a centralização de poder nela prevista com o Poder Moderador causou sérias insatisfações em diversos setores da sociedade (Igreja, militares, fazendeiros e, principalmente, nas elites regionais). Por isso que, até mesmo antes de o ideal republicano, a principal reforma postulada ante o Império era o da criação do federalismo, ainda que mantida a monarquia. Isto porque “a realidade dos poderes locais, sedimentada durante a colônia, ainda permanecia regurgitante sob o peso da monarquia centralizante” (SILVA, José Afonso,..., p. 76).

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3. FASE REPUBLICANA• 3.2. Os primeiros passos para a Constituição

Justamente por não ter sido capaz de promover as mudanças requeridas é que a monarquia é derruba-da pelos militares, instaurando-se república federativa através do Governo Provisório sob a presidência do Marechal Deodoro da Fonseca, regido pelo Decreto nº. 1, de 15 de novembro de 1889, que assim dispôs:Art. 1º. Fica proclamada provisoriamente e decretada como a forma de governo da Nação Brasileira – a República Federativa.Art. 2º. As Províncias do Brasil, reunidas pelo laço da Federação, ficam constituindo os Estados Unidos do Brasil.

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3. FASE REPUBLICANA• 3.2. Os primeiros passos para a Constituição

Até a promulgação da Constituição, diversos outros atos foram editados, produzindo uma “Constituição de bolso, emergencial, para reger o País, evitar o caos e decretar as bases fundamentais da organização política imediatamente estabelecida” (BONAVIDES, Paulo,..., p. 210). Exemplo disto foi o Decreto nº. 6, de 19 de novembro de 1889, que instituiu o voto universal, ao estabelecer que por todos os cidadãos brasileiros que soubessem ler e escrever seriam considerados eleitores. Com o Decreto nº. 29, foi instituída Comissão Especial para a elaboração do Anteprojeto da nova Constituição.

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3. FASE REPUBLICANA• 3.2. Os primeiros passos para a Constituição

Contudo, com o Decreto nº. 510, de 22 de junho de 1890, o Governo Provisório publicou a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, para que fosse objeto de deliberação pelo Congresso Nacional, reunido com caráter de Assembleia Constituinte. Contudo, já no preâmbulo foi estabelecido que, apesar de estar submetida à representação do país, desde já os pontos da Constituição ali traçados entravam em vigor. Do mesmo modo, nele já se previa a eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República.

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3. FASE REPUBLICANA• 3.2. Os primeiros passos para a Constituição

Por causa desta natureza atípica do Decreto nº. 510, afirma PAULO BONAVIDES que “não era um mero projeto de Constituição, mas uma Constituição mesma, segundo a linguagem oficial, a que se publicava, e como tinha vigência parcial e temporária, não deixou de ser uma outorga, portanto, a segunda na história das nossas Constituições e a primeira no ciclo republicano das ditaduras que decretariam Cartas Constitucionais de cima para baixo, à revelia da representação constituinte” (BONAVIDES, Paulo,..., p. 215)

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3. FASE REPUBLICANA• 3.2. Os primeiros passos para a Constituição

De qualquer modo, quanto aos trabalhos desen-volvidos, “as alterações sofridas pelo projeto do Governo Provisória na Assembleia Constituinte foram relativamente irrelevantes e, seguramente, em escas-so número” (FRANCO, Afonso Arinos de Melo, Curso de direito constitucional brasileiro, Rio de Janeiro, Forense, 1960, p. 130). Isto porque, conforme assinala JOSÉ AFONSO DA SILVA, a competência da Assembleia Constituinte foi limitada, sendo-lhe proibida a discussão de dois pontos pací-ficos: a República e a federação” (SILVA, José Afonso,..., p. 78).

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3. FASE REPUBLICANA• 3.3. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1891)

As marcas características da Constituição da República foram, além da forma republicana de governo e fede-rativa de Estado, a adoção do presidencialismo, da tripartição de poderes e a criação das cláusulas pétreas (art. 90, § 4º). Quanto ao modelo federal, aos Estados foi assegurada apenas a competência residual para tratar de assuntos que não lhes sejam vedados pela Constituição de 1889. Tal técnica assemelha-se a da 10ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos da América (1787): “Os poderes não delegados aos Estados Unidos pela Constituição, nem por ela negados aos Estados, são reservados aos Estados ou ao povo”. Adotava-se o chamado federalismo dual.

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3. FASE REPUBLICANA• 3.4. República VelhaContudo, não tardou para que a Constituição fosse

descumprida. Já em 1891, Deodoro da Fonseca dissol-ve o Congresso Nacional por ter rejeitado seu veto ao projeto de lei que definia os crimes de responsa-bilidade. Logo após, renuncia à Presidência. Seu suces-sor, Floriano Peixoto, inicia o exercício do poder desti-tuindo os governadores dos Estados, deflagrando o início de uma guerra civil. A estabilidade política só ad-viria com Prudente de Moraes. Com ele, tem início o regime oligárquico de poder, desdobrado na “política dos governadores”, apoiada pelo coronelismo.

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3. FASE REPUBLICANA• 3.4. República Velha“O sistema constitucional implantado enfraquecera o

poder central e reacendera os poderes regionais e locais... O governo federal não seria capaz de suster-se, se não se escorasse nos poderes esta-duais” (SILVA, José Afonso,..., p. 80). Por isso, “o princípio federativo tornou-se na verdade a lei do mais forte, a lei dos clãs” (BONAVIDES, Paulo,..., p. 254). Isto, ao longo dos anos, gerará grande insatisfação e instabilidade. Ademais, a crise da cafeicultura, os movimentos sindicais e o surgimento de novas demandas sociais culminaram na Revolução de 30.

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3. FASE REPUBLICANA• 3.5. Revolução de 30 e a nova Constituição

Com o golpe de Estado promovido pela Aliança Liberal e capitaneada por Getúlio Vargas, mais uma vez se instala um Governo Provisório. O principal mote da Revolução foi a restauração da República e o fim das fraudes eleitorais. Contudo, ao se instalar no poder, Vargas edita o Decreto nº. 19.398, de 11 de novembro de 1930. Nele, previa-se a dissolução do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas, a exclusão da apreciação judicial dos atos do Governo Provisório, e a manutenção provisória da Constituição Federal sujeita a modificações por atos do Governo Provisório.

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3. FASE REPUBLICANA• 3.5. Revolução de 30 e a nova Constituição

Esta foi uma das razões da Revolução Paulista de 1932, cujo objetivo era exigir a efetiva retomada do regime republicano mediante a promulgação de uma nova Constituição. Desconfiava-se de que Getúlio Vargas tinha intenções continuístas. Apesar de reprimida, foi organizada nova Assembleia Constituinte, mais uma vez tendo de apreciar um anteprojeto de Constituição realizado pelo Governo Provisório. Como fruto desta Constituinte, foi promulgada a Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1934, a de duração mais efêmera no Brasil.

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3. FASE REPUBLICANA• 3.6. Constituição Federal de 1934A Constituição Federal de 1934 apresentou fortes

traços de um Estado Social. Assuntos até então não tratados na Constituição anterior ganham capítulos próprios: o Da ordem econômica e social, onde foram previstos direitos aos trabalhadores e a possibilidade de a União intervir na economia; o Da Família, onde se previa que o casamento era indissolúvel; o Da Educação e Cultura, onde se previa que a educação é direito de todos. Além disto, o direito de propriedade passa a ter de ser exercido conforme o interesse social e coletivo, surgindo a desapropriação. Nos direitos políticos, foi admitido o voto feminino, agora constitucionalizado.

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4. FASE DO ESTADO NOVO• 4.1. Surgimento do Estado NovoÀs vésperas das eleições a ocorrer em janeiro de

1938 (art. 52, CF/34) da qual não poderia participar Getúlio Vargas (§ 1º, art. 52), o governo denuncia a existência de um suposto plano comunista para a assunção no poder (Plano Cohen). Somando este fato à Intentona Comunista (1935) promovida sem sucesso pelo capitão Luiz Carlos Prestes, e a diversas instabilidades políticas da época, Getúlio Vargas aplica novo golpe de estado como “imperativo de salvação nacional”, e instaura uma ditadura, sob a justificativa de que “sob as instituições anteriores, não dispunha, o Estado de meios normais de preservação e defesa da paz, da segurança e do bem-estar do povo” (Preâmbulo).

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4. FASE DO ESTADO NOVO• 4.2. “Constituição Polaca” Assim, inaugura-se o Estado Novo (inspirado na

ditadura de Salazar), com a extinção dos partidos políticos, com o fechamento do Congresso Nacional e com a outorga, pelo então Presidente da República, da Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937, maliciosamente conhecida como “A Polaca” por ter sido influenciada pela Constituição da Polônia. Tudo porque “a geração autoritária se reunia em torno de um princípio básico: a organização, naquele momento da história brasileira, e que era considerada mais importante e mais urgente que a participação” (BONAVIDES, Paulo,..., p. 332).

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4. FASE DO ESTADO NOVO• 4.2. “Constituição Polaca” A Constituição de 1937 estabelece um Poder

Executivo extremamente fortalecido e centralizador das decisões políticas nacionais. Ao Presidente da República cabia expedir decretos-leis (art. 74, “b”); decretar estado de emergência e de guerra em caso de perturbações internas e perturbação da paz pública (art. 74, “m”); dissolver a Câmara dos Deputados durante o estado de emergência; prorrogar, adiar e convocar o Parlamento (art. 74, “d”). No caso de estado de emergência ou de guerra, os atos praticados não poderiam ser apreciados pelo Poder Judiciário (art. 170).

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4. FASE DO ESTADO NOVO• 4.2. “Constituição Polaca” Apesar de assegurar enorme concentração de poder

nas mãos do Presidente da República, ainda assim nem a própria Constituição de 1937 foi observada, sem maior constrangimento. Na verdade, a CF/37 “foi o biombo de uma ditadura que sequer tinha preocupações com os disfarces” (BONAVIDES, Paulo,..., p. 333), pois “muitos de seus dispositivos permaneceram letra morta” (SILVA, José Afonso,..., p. 83). Exemplo disto é que o plebiscito para a aprovação da Constituição de 1937 (art. 187) nunca chegou a ser marcado, apesar de ter de ser realizado no prazo de 6 anos do período presidencial (art. 80 c/c art. 175).

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4. FASE DO ESTADO NOVO• 4.2. “Constituição Polaca” Apesar de assegurar enorme concentração de poder

nas mãos do Presidente da República, ainda assim nem a própria Constituição de 1937 foi observada, sem maior constrangimento. Na verdade, a CF/37 “foi o biombo de uma ditadura que sequer tinha preocupações com os disfarces” (BONAVIDES, Paulo,..., p. 333), pois “muitos de seus dispositivos permaneceram letra morta” (SILVA, José Afonso,..., p. 83). Exemplo disto é que o plebiscito para a aprovação da Constituição de 1937 (art. 187) nunca chegou a ser marcado, apesar de ter de ser realizado no prazo de 6 anos do período presidencial (art. 80 c/c art. 175).

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5. FASE DA NOVA REPUBLICA

• 5.1. Fim do regime ditatorial de Getúlio Vargas

A vitória dos aliados contra os regimes nazifascistas foi determinante para a derrocada da ditadura de Vargas. A Carta de 1937, com ideologia fortemente autoritária, torna-se incompatível com a pressão popular para a redemocratização do país e, por isso, obsoleta. Nem mesmo a convocação de eleições diretas por Getúlio Vargas mediante a Lei Constitucional nº. 9/1945 impediu a queda do então ditador pelos militares, receosos de que novo golpe seria tentado. Com a deposição, a Presidência foi provisoriamente exercida pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro José Linhares.

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5. FASE DA NOVA REPUBLICA

• 5.2. Assembleia Constituinte Após a queda, o Presidente Ministro José Linhares edita

a Lei Constitucional nº. 15/1945 a estabelecer que o Congresso Nacional a ser eleito teria a prerrogativa de elaborar e promulgar, com poderes ilimitados, a nova Constituição. Eleito para Presidente o General Eurico Gaspar Dutra, instala-se a Assembleia Constituinte que, pela primeira vez, não parte de um anteprojeto. Nela estavam presentes as mais diversas correntes políticas, inclusive a comunista com a eleição de 5 deputados e 1 senador (PCB). O predomínio, porém, foi da corrente conservadora (em geral, proprietários de terras).

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5. FASE DA NOVA REPUBLICA

• 5.3. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1946

Tendo como inspiração as Constituições de 1891 e 1934, é promulgada a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Nela, restauram-se os valores democráticos, com a devolução das prerrogativas do Poder Legislativo, eleitos por voto direto. As eleições presidenciais também voltam a ser diretas (art. 81), para Presidente e Vice-Presidente, porém feitas em um único turno e separadamente (antes da EC nº. 09/64). Além disto, nele se observa uma tentativa de conciliação entre as liberdades públicas (ex.: inafastabilidade do Poder Judiciário) e os direitos sociais (ex.: direitos trabalhistas, como o de greve – art.158).

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5. FASE DA NOVA REPUBLICA

• 5.4. Instabilidades políticasApesar de ter sido vigente por mais de 20 anos, durante a

Constituição de 1946 houve diversas crises políticas e conflitos institucionais, a começar da eleição de Getúlio Vargas e seu programa socioeconômico, seguida do impedimento de que o Vice-Presidente Café Filho retornasse à Presidência, passando-se pela renúncia de Jânio Quadros e culminada na deposição de João Goulart pelo Movimento Militar. Explicações possíveis: “a ditadura do Estado Novo criou o mito de que as conquistas, como a legislação, por exemplo, não significam conquistas, mas dádivas do poder e do seu chefe” e a “convicção de que a sociedade era incapaz de realizar as transformações necessárias, principalmente porque submetida ao jogo de ambições de políticos despreparados para compreender, interpretar e promover o interesse público” (BONAVIDES, Paulo,..., pp. 410-411).

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6. FASE DA DITADURA MILITAR

• 6.1. Golpe militar de 1964João Goulart (PTB), Vice-Presidente democraticamente

(re)eleito, estando em viagem à China comunista, torna-se Presidente com a renúncia de Jânio Quadros em 1961. No entanto, considerado sucessor de Getúlio Vargas e defensor da reforma agrária e urbana, Jango só assume a Presidência após a instalação do parlamentarismo. Em 1963, realiza-se plebiscito, pelo qual é restabelecido o sistema presidencialista. Assim, Jango inicia políticas de redistribuição de rendas, de estatização de empresas, de reforma agrária e de intervenção na economia. Por serem vistas como implantação do comunismos, Jango é deposto do poder pelos militares.

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6. FASE DA DITADURA MILITAR

• 6.2. Ato Institucional nº. 01/64Com a tomada do poder pelos militares, é editado o

Ato Institucional nº. 01/64 pela Junta Militar, dirigido à nação brasileira, em que eram explicadas as razões do golpe, chamada de Revolução. Nele, é dito que os chefes da revolução tem o “apoio inequívoco da Nação, repre-sentam o povo e em seu exercem o Poder Constituinte”, que estão a editar o Ato para “assegurar ao novo governo a ser instituído, os meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil”, uma vez que “os processos constitucionais não funcionaram para destituir o governo, que deliberada-mente se disputa a bolchevizar o País”, sendo necessário para “drenar o bolsão comunista”.

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6. FASE DA DITADURA MILITAR

• 6.3. Ato Institucional nº. 02/65Humberto de Alencar Castelo Branco é eleito

Presidente da República pelo Congresso Nacional, convertido em Colégio Eleitoral (art. 2º). Apesar de ter sido formalmente mantida a vigência da Constituição Federal de 1946, o período é marcado pela edição de diversos atos, com base no Ato Institucional nº. 02/65 que permite que se baixem decretos-leis sobre segurança nacional. Aliás, chama a atenção que, nos motivos expostos no AI 2/95, é dito que a Revolução tem adotados tais providências para “colocar o povo na prática e na disciplina do exercício democrático”.

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6. FASE DA DITADURA MILITAR

• 6.4. Constituição Federal de 1967Pelo Ato Institucional nº. 04/66, o Congresso Nacional é

convocado para reunir-se e votar, em 40 dias, o projeto de Constituição apresentado pelo Presidente Castelo Branco. Com a promulgação de uma Constituição ao Brasil, objetivava-se atenuar o caráter de golpe de Estado da Revolução ante a comunidade internacional. Assim, viabilizada através da cassação de mandatos de parlamentares oposicionistas, é aprovada a Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, mediante um Poder Constituinte Congressual (BONAVIDES, Paulo,..., p. 432).

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6. FASE DA DITADURA MILITAR

• 6.4. Constituição Federal de 1967Por ter sido “promulgada”, por prever direitos e

garantias individuais, e por estabelecer que “todo poder emana do povo e em seu nome é exercido” (art. 1º, § 1º), a Constituição de 1967 é considerada semi-autoritária. Chama a atenção que, desde logo, o direito à liberdade de expressão é condicionado a não propagandear a “subversão da ordem” (art. 150, § 8º). No entanto, além de ser dissociada da realidade, também tem duração efêmera, pois já no ano seguinte passa a concorrer com o Ato Institucional nº. 05/68 e é totalmente alterada pela Emenda Constitucional nº. 01/69.

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6. FASE DA DITADURA MILITAR

• 6.5. Ato Institucional nº 05/1968Mais uma vez reafirmando que o propósito da Revolução

foi o de “assegurar autêntica ordem democrática, ba-seada... no combate à subversão e às ideologias com-trárias às tradições de nosso povo”, e declarando que “os instrumentos jurídicos, que a Revolução vitoriosa outorgou à Nação para sua defesa... estão servindo de meios para combatê-la e destruí-la”, o então Presidente Costa e Silva edita o Ato Institucional nº. 05/68. Nele, assegurava-se a prerrogativa de o Presidente decretar o recesso do Poder Legislativo, suspender direitos políticos de quaisquer cidadãos, cassar mandatos eletivos. Do mesmo modo, suspende-se a garantia do habeas corpus para crimes políticos e excluem-se da apreciação judicial os atos praticados de acordo com o AI 5.

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6. FASE DA DITADURA MILITAR

• 6.7. Sistema eleitoralA redação original da Constituição Federal de 1967 já

estabelecia que o Presidente da República seria eleito indiretamente, mediante voto de um Colégio Eleitoral, composto dos membros do Congresso Nacional e de delegados indicados pelas Assembleias Legislativas. Com a EC nº. 01/69, também as eleições para Governadores do Estados passaram a ser indiretas (art. 189 e art. 13, § 2º com redação pela EC nº. 08/77). Além disto, os Prefeitos das capitais de cada um dos Estados eram nomeados pelos respectivos Governadores, com prévia aprovação da Assembleia Legislativa (art. 15, § 1º).

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6. FASE DA DITADURA MILITAR

• 6.7. Sistema eleitoralEm 1977, Ernesto Geisel, então Presidente da

República edita o chamado “Pacote de Abril”, isto é, um conjunto de atos legislativos a tratar das eleições de 1978. Iniciado pela decretação do recesso do Congresso Nacional feito pelo Ato Complementar nº. 102/77 (art. 182 c/c art. 2º, AI 5/68), dele seguiram-se alguns decretos-leis e a EC nº. 08/77, mediante a qual foram instituídos os senadores biônicos, os quais seriam eleitos pelo voto indireto do colégio eleitoral formado para eleição de Governadores (art. 41, § 2º).

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7. FASE DA REDEMOCRATIZAÇÃO

• 7.1. Início da abertura do regime militarA partir da década de 80, inicia-se um processo

gradual de reabertura democrática no cenário político do Brasil. Através da EC nº. 15/80, as eleições para Governadores e Senadores voltam a ser feitas mediante voto direto e secreto. Além disto, ganha força o movimento chamado “Diretas Já”, cujo objetivo era a implantação imediata da eleição direta para Presidente da República. Porém, a Proposta de Emenda Constitucional nº. 5 foi rejeitada pela Câmara dos Deputados, por não atingir o quórum necessário em razão do não-comparecimento de muitos deputados federais no dia da votação.

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7. FASE DA REDEMOCRATIZAÇÃO

• 7.1. Início da abertura do regime militarApesar disto, o Colégio Eleitoral escolheu para

Presidente da República o candidato Tancredo Neves, primeiro civil eleito para a Presidência depois do golpe de 64. É por isto que se diz que “o Colégio Eleitoral, repudiado pelas oposições, condenado pela opinião pública, acabou sendo o instrumento com o qual as forças democráticas do País alcançaram a fase concreta da transição, formalizando legislativamente a transposição do perío-do” (BONAVIDES, Paulo,..., p. 446). Com o falecimento de Tancredo, assume o então Vice-Presidente José Sarney, o qual enviou ao Congresso a proposta de convocação de uma Assembleia Constituinte.

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7. FASE DA REDEMOCRATIZAÇÃO

• 7.2. Constituinte de 1987Assim, através da Emenda Constitucional nº. 26/1985, os

deputados federais e senadores foram convocado a reunir-se, unicameralmente, em Assembleia Nacional Constituinte livre e soberana (art. 1º), a partir de 1º de fevereiro de 1987 para, mediante a votação por maioria absoluta e em dois turnos de discussão, promulgar a nova Constituição (art. 3º). Contudo, mais uma vez, não havia anteprojeto de Constituição, motivo pelo qual foram instituídas 8 comissões temáticas, convergindo para a Comissão de Sistematização. Nelas, inúmeras sugestões e emendas foram trazidas, manifestando um pluralismo extremamente fragmentário.

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7. FASE DA REDEMOCRATIZAÇÃO

• 7.2. Constituinte de 1987Findo os trabalhos das comissões, formatou-se o

primeiro texto a servir de base para a Constituinte, composto de 501 artigos. Após recebidas mais de mil emendas, entre rejeitadas e aprovadas, surge o projeto de Constituição. Durante os debates, uma composição suprapartidária conhecida como “Centrão” surge com o objetivo de alterar o caráter progressista o projeto de Constituição assumira. Além disto, o Presidente da República faz advertência pública às “minorias radicais”, alertando em rede nacional que o texto constitucional a ser aprovado tornaria o país ingovernável, e produziria enorme defict previdenciário.

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7. FASE DA REDEMOCRATIZAÇÃO

• 7.2. Constituinte de 1987Por causa da atuação do “Centrão” e da influência do

Poder Executivo, retira-se do projeto de Constituição a previsão do sistema parlamentarista, aprovando-se em seu lugar o presidencialismo. De toda sorte, com grande esforço de Ulisses Guimarães, Presidente da Assembleia, o projeto de Constituição é aprovado em primeiro turno com 408 votos. Em segundo turno, o projeto recebeu 474 votos a favor, e 15 contra, todos de parlamentares vinculados ao Partido dos Trabalhadores, por considerar o texto aprovado “elitista e conservador” no conjunto. Assim, em 5 de outubro de 1988, a nova Constituição da República Federativa do Brasil é promulgada.