artigo neuro

Upload: robson-dias

Post on 10-Mar-2016

214 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

NEURO

TRANSCRIPT

  • UM OLHAR SOBRE O AUTISMO E SUA ESPECIFICAO

    Marinho, Eliane A. R. - ICEET [email protected]

    Merkle, Vnia Lucia B. ICEET [email protected]

    rea Temtica: Diversidade e Incluso Agencia financiadora: No contou com financiamento

    Resumo

    Descrito no inicio por pesquisadores, como Kanner como organizao em torno do distrbio central que inadaptido das crianas em estabelecer relaes normais com as pessoas e em reagir normalmente s situaes desde o incio da vida, assim era visto o autista. Caracterizado por Kanner tornou-se um dos desvios comportamentais mais estudado, debatido, podendo-se identificar a diferena do comportamento esquizofrnico e do autismo, sendo que mesmo na atualidade sua descrio clnica utilizada da mesma forma, intitulada de Distrbios do Contato Afetivo Sndrome nica. Com causas ainda desconhecidas, pesquisadores dividem-se em duas grandes correntes de teorias que se opem: a psicogentica e a biolgica, aquela como defensora de que a criana autista era normal no momento do nascimento e que fatores familiares adversos, no decorrer de seu desenvolvimento, desencadearam um quadro autista, e esta afirma que as causas do autismo podem ter haver com alteraes neuroanatmicas, devido a altas taxas de testosterona a que os autistas foram expostos no perodo pr-natal, sendo este o motivo de os autistas apresentarem um funcionamento cerebral essencialmente sistematizante. Classificado e denominado por pesquisadores, detentores de trs grupos de perturbaes que se manifestam em trs reas de domnio: a rea social, a da linguagem e comunicao e a do pensamento e comportamento, sendo que os comprometimentos que apareciam nestas reas no ocorrem ao acaso, porm apresentavam-se juntos embora com intensidade e qualidade variada; a estas trs reas de comportamento, denominou-se trade do comportamento autista. Baseados nestas informaes, atualmente so trs os mtodos de aprendizagem destinados a crianas autistas: ABA anlise aplicada do comportamento; PECS sistema de comunicao atravs de trocas de figuras e TEACCH programa de aprendizado individualizado, mtodos pedaggicos nos quais abordaremos no artigo que segue.

    Palavra-Chave: Autismo. Comunicao. Socializao.

    Introduo

  • 6085

    Vivemos em uma sociedade com padres pr-estabelecidos, onde qualquer um que esteja fora deles, de primeira instancia excludo. Esse um paradigma que ns, educadores, estamos quebrando. Embora ainda haja resistncias ainda por parte de alguns educadores. Esta a sociedade que uma criana, com necessidades especiais, bem como sua famlia, se depara ao buscar apoio especial no campo da educao. Diante desta realidade, a importncia de abordar a respeito do autismo, para que se possa alcanar um melhor entendimento a respeito. Sendo assim, fundamental conhecer as especificidades do transtorno para melhor interveno educacional. Tendo como objetivo geral conhecer as especificidades do autismo, bem como suas intervenes pedaggicas. Especificamente objetivando conhecer o percurso histrico sobre o autismo, bem como compreender como realizado o diagnstico autstico, para assim podermos citar mtodos educacionais direcionados aos alunos com autismo. Para o desenvolvimento desta pesquisa optou-se por uma metodologia de pesquisa que contemple uma abordagem qualitativa, de cunho bibliogrfico, por meio de leituras e anlise das mesmas, buscando esclarecer e analisar as especificidades do transtorno autismo em sua conjuntura histrica, atual e os meios de aprendizagem direcionados aos alunos autistas. O procedimento metodolgico da pesquisa no que se refere problemtica levantada, em saber quais as especificaes e intervenes pedaggicas utilizadas com o autista, sero realizadas mediante fundamentao terica. Compostas principalmente as obras de Cludio Roberto Baptista, doutor em educao, Cleonice Bosa doutora em psicologia, que desenvolve pesquisa em educao especial com estudos desenvolvidos sobre transtornos do desenvolvimento, entre outros.

    Considerado um dos desvios comportamental mais estudado e debatido, o autismo tem ainda suas causas desconhecidas, levando pesquisadores a se posicionarem em dois grandes segmentos de teorias que se opem: a psicogentica e a biolgica. Independente da viso que se tenha a respeito do autismo, pois no h como separar o desenvolvimento cognitivo, do afetivo e sua essncia biolgica, torna-se fundamental que se apresentem de maneira ntida, as formas de abordagens educativas crianas autistas , considerando entretanto a trade, que so os trs grades grupos de perturbaes e os mtodos de interveno de aprendizagem, aqui abordados como: ABA (Anlise Aplicada do Comportamento); PECS (Sistema de Comunicao atravs de figuras) e TEACCH (Programa de Aprendizado Individualizado).

    Fundamentao Terica

  • 6086

    A definio do Autismo teve incio na primeira descrio dada por Leo Kanner, em 1943, no artigo intitulado: Distrbios Autsticos do Contato Afetivo (Autistic disturbances of affective contact), na revsta Nervous Children, nmero 2, pginas 217-250. Nessa primeira publicao, Kanner (1943) ressalta que o sintoma fundamental, o isolamento autstico, estava presente na criana desde o incio da vida sugerindo que se tratava ento de um distrbio inato. Nela, descreveu os casos de onze crianas que tinham em comum um isolamento extremo desde o incio da vida e um anseio obsessivo pela preservao da rotina, denominando-as de "autistas".

    Segundo Bosa (2002), so chamadas Autistas as crianas que tem inadaptao para estabelecer relaes normais com o outro, um atraso na aquisio da linguagem e, quando ela se desenvolve, uma incapacitao de lhe dar um valor de comunicao. Essas crianas apresentam igualmente esteretipos gestuais, uma necessidade de manter imutvel seu ambiente material, ainda que dem provas de uma memria freqentemente notvel. Contrastando com este quadro, elas tm, a julgar por seu aspecto exterior, um rosto inteligente e uma aparncia fsica normal. A autora ainda aponta a grande originalidade de Kanner, que foi a de individualizar, em um grupo de crianas que lhe foram encaminhadas, seja por debilidade mental ou esquizofrenia, uma sndrome nova reunindo sinais clnicos especficos, formando um quadro clnico totalmente parte e diferenciado das sndromes psiquitricas pr-existentes.

    A descrio de Kanner organizava-se em torno do distrbio central que a inaptido das crianas em estabelecer relaes normais com as pessoas e em reagir normalmente s situaes desde o incio da vida. Para descrev-lo escolhe o termo Autismo, que j existia, segundo Bosa:

    Esse termo na verdade, deriva do grego (autos = si mesmo + ismo = disposio/orientao) e foi tomado emprestado de Bleuler (o qual, por sua vez, subtraiu o eros da expresso autoerotismus, cunhada por Ellis, para descrever os sintomas fundamentais da esquizofrenia.(BOSA,2002,p.26)

    Kanner mostrava a importncia que queria atribuir noo de afastamento social. Infelizmente, o conceito de autismo atribudo a Bleuler foi a fonte de confuso, como o fez notar Rutter (1979): segundo o conceito de Bleuler, o Autismo nos esquizofrnicos se refere a um retraimento ativo de imaginrio. Na realidade sugere, primeiramente, um retraimento

  • 6087

    fora das relaes sociais enquanto Kanner descreve uma incapacidade de desenvolver o relacionamento social; em segundo lugar, ele implica uma vida imaginria rica, enquanto que as observaes de Kanner sugerem uma falta de imaginao; em terceiro lugar, ele postula uma ligao com a esquizofrenia dos adultos. So esses conflitos que explicam o fato de os psiquiatras terem algumas vezes, utilizado de forma permutvel os diagnsticos de esquizofrenia infantil, psicose infantil e de Autismo.

    O autismo em 1943, caracterizado por Leo Kanner tornou-se um dos desvios comportamentais mais estudados, debatidos e disputados, que teve o mrito de identificar a diferena do comportamento esquizofrnico e do autismo. At hoje, sua descrio clnica utilizada da mesma forma, que foi chamado de Distrbios Autsticos do Contato Afetivo Sndrome nica.

    Porm em no mesmo ano de 1943 Asperger props um estudo com definies similares de Kanner, onde propunha uma abordagem autstica. Em 1983, as Sndromes de Asperger fora reconhecida e deixou de ser considerado autismo, a Associao Americana de Psiquiatria criara o termo Distrbio Abrangente do desenvolvimento e em 1987, desta forma o Autismo deixa de ser uma psicose infantil.

    As causas do Autismo ainda so desconhecidas, consistindo o problema da etiologia, sendo um tema base de intensas pesquisas de conceituados estudiosos na rea. Segundo Bosa e Callis (2000) apontam que h dois grandes blocos de teorias que se opem, sendo essas as teorias psicogenticas e biolgicas.

    De acordo com Klin (2006), a teoria psicogentica apresentava-se como defensora que a criana autista era normal no momento do nascimento, mas devido fatores familiares adversos no decorrer do seu desenvolvimento desencadeou um quadro autista. Os sintomas eram considerados secundrios, atribuveis, portanto, as condutas parentais imprprio. Essa teoria deu inicio a pesquisas reagrupadas em quatro eixos, sendo esses o stress precoce, as patologias psiquitricas parentais, quociente de inteligncia e classe social dos pais, e por ultimo a interao pais e filhos. Com base nas informaes, Leboyer, chega determinada observao: [...] as teorias psicogencas no parecem explicar a patologia do autismo. No podemos aceitar o modelo segundo o qual pais normais (com freqncia calorosos e afetuosos) seriam responsveis por graves distrbios de seus filhos, enquanto seus irmos so normais.(LEBOYER,2005,p.49)

  • 6088

    Quanto abordagem biolgica Assumpo e Pimentel (2000) afirmam que as causas do autismo so desconhecidas, porm varias doenas neurolgicas e/ou genticas foram apresentadas como sintomas do autismo. Problemas cromossmicos, gnicos, metablicos e mesmo doenas transmitidas/adquiridas durante a gestao, durante ou aps o parto, podem estar associados diretamente ao autismo. Leboyer menciona que:

    [...] A lista de situaes patolgicas muito extensa e inclui fatores pr, peri e neonatais, infeces virais neonatais, doenas metablicas, doenas neurolgicas e doenas hereditrias. Apesar da ausncia aparente de ligao entre elas, um ponto comum s rene: todas as patologias so suscetveis de induzir uma disfuno cerebral que interfere no desenvolvimento do sistema nervoso central.(LEBOYER,2005,p.60).

    Tamanaha, Perissinoto e Chiari (2008) indicam que pesquisas recentes sugerem que o autismo pode ter haver com alteraes neuroanatmicas, considerado este extramente masculino. Tal fato ocorreria devido s altas taxas de testosterona a que os autistas seriam expostos no perodo pr-natal, sendo assim o motivo de responderem processo de socializao de maneira indutiva e sistemtica, (2008, p. 3) desde modo, os autores defenderam a idia de que sujeitos autistas apresentam um funcionamento cerebral essencialmente sistematizante.

    Mello (2001) esclarece que existem vrios princpios de diagnsticos utilizados para classificao do autismo. Os mais utilizados so o Manual de Diagnstico e de Estatstica de Doenas Mentais da Academia Americana de Psiquiatria, DSM IV, e a Classificao Internacional de Doenas da Organizao Mundial de Sade, o CID 10, publicado pela Organizao Mundial de Sade, sendo que, o diagnstico deve ser feito por profissional especializado, os quais podem ser um mdico neuropediatra ou um psiquiatra especializado no assunto autismo.

    Na dcima reviso da Classificao Internacional de Doenas CID 10 o autismo considerado um transtorno do desenvolvimento, assim se apresenta e caracterizam-se de acordo com Tamanaha, Perissinoto e Chiari:

    [...] os Transtornos Globais do Desenvolvimento foram classificados como um grupo de alteraes, caracterizadas por alteraes qualitativas da interao social e modalidades de comunicao, e por um repertrio de interesses e atividades restrito e estereotipado. Essas anomalias qualitativas constituem uma caracterstica global do funcionamento do indivduo. (TAMANAHA, PERISSINOTO E CHIARI, 2008, p.4):

  • 6089

    Assumpo e Pimentel (2000) destacam que a questo do diagnstico passa a ser mais complexa na medida em que consideramos as chamadas sndromes de Asperger, que so inseridas dentro do Continuo Autstico. Os respectivos autores afirmam: O diagnostico diferencial dos quadros autstico inclui outros distrbios invasivos do desenvolvimento, como a sndrome de Asperger, a sndrome de Rett, transtornos desintegrativos e os quadros no especificados. Esse diagnostico diferencial uma das grandes dificuldades do clinico. (ASSUMPO E PIMENTEL, 2000, p.38).

    O fato que no h como separar o desenvolvimento cognitivo do afetivo e sua essncia biolgica, sendo assim, independente da viso etiolgica e diagnostica que se tenha a respeito do autismo de fundamental importncia que se tenha claro a forma de abordagem educativa essas crianas, levando em considerao a trade e os mtodos de interveno de aprendizagem como afirmam Baptista e Bosa:

    [...] A concluso que emerge dessa reflexo que existe um comprometimento precoce que afeta o desenvolvimento como um processo e, conseqentemente, a personalidade (por meio da interao entre o self e as experincias como o ambiente, que possibilita o desenvolvimento das noes de si, do outro e do mundo ao seu redor), seja a sndrome do autismo classificada como psicose ou como transtorno d desenvolvimento. Na verdade, existe a falta de um modelo terico suficientemente abrangente para dar conta das diferenas entre duas formas de classificao. [...] O que vale a pensa ressaltar que seja qual for o sistema de classificao ou a abordagem terica adotada, a noo de que crianas com autismo apresentam dficits no relacionamento interpessoal, na linguagem / comunicao, na capacidade simblica e, ainda, comportamento estereotipado (atentando-se para as diferenas individuais), no tem sido desafiada. (BAPTISTA E BOSA,2002, p.30):

    Segundo Lorna Wing (1979) as pessoas autistas possuem trs grandes grupos de perturbaes, as quais se manifestam em trs diferentes reas de domnio, vindo a prejudic-las. So elas: a rea Social, a da Linguagem e Comunicao e a do Comportamento e Pensamento. No entanto Baptista e Bosa (2002, p.34,) ressaltam que apesar de Lorna Wing, distingui a trade no so separveis como leva a crer o termo trade, a expresso resultou de mensuraes estatsticas, demonstrando que os comprometimentos que apareciam nessas reas no ocorriam ao acaso; apresentavam-se juntos, embora com intensidade e qualidades variadas..

    Na rea Social a pessoa tem dificuldade de relacionamento, pois no conseguem interagir para compreender as regras sociais. possvel destacar algumas caractersticas da

  • 6090

    pessoa autista relacionadas a essa rea como: no se relacionar com contato visual, expresses faciais, relao com os pares, primar pela rotina, sendo que a criana autista pode tanto isolar-se como tambm interagir de forma estranha aos padres habituais. A inabilidade no relacionamento interpessoal chamou a ateno de Kanner (1943, p. 244, in: Baptista e Bossa, 2002, p.23- 24) levando-o a afirmar que h nelas a necessidade poderosa de no serem perturbadas. Tudo o que trazido para a criana do exterior, tudo o que altera o seu meio externo ou interno representa uma intruso assustadora. No entanto estudos recentes comprovam, segundo Trevarthen (1996, in: Baptista e Bossa, 2002, p.34), nem todos os autistas mostram averso ao toque ou isolamento, alguns ao contrrio, podem buscar o contato fsico, inclusive de uma forma intensa, quando no pegajosa, segundo pais e professores.

    Este campo estaria relacionado dificuldade do autista de entender o que os outros pensam, sentem e reagem, pois sua capacidade de compartilhar sentimentos comprometida, haveria uma enorme dificuldade em discriminar pessoas e entender o ponto de vista alheio, compreendendo que as outras pessoas apresentam sentimentos, idias e pensamentos diferentes. Baptista e Bosa, afirmam que:

    Muitas vezes ausncia de respostas das crianas deve-se a falta de compreenso do que esta sendo exigido e no de uma atitude de isolamento e recusa proposital. A continua falta de compreenso do que se passa ao redor, aliada escassa oportunidade de interagir com crianas normais que conduziria ao isolamento, criando, assim, um circulo vicioso. (BAPTISTA E BOSA ,2002, p.32),

    A rea de Comunicao e Linguagem, o autista tanto na linguagem verbal como na linguagem no verbal, apresenta uma forma deficiente e bem diferente dos padres habituais, pois possuem uma linguagem repetitiva e estereotipada, no conseguindo iniciar e manter uma conversa. Caracterizado com ecolalia, segundo Lamnica (1992) cerca de setenta e cinco por cento das crianas autistas que falam, apresentam ecolalia. A ecolalia se apresenta de dois tipos: a ecolalia imediata e a mediata.

    Na ecolalia imediata, a criana autista repete quase que imediatamente aquilo que acabara de escutar aps a verbalizao de outra pessoa, Lamnica (1992, p.3) afirma ser indicio de falha da criana em compreender a fala do outro, como se a criana quisesse voltar s verbalizaes para compreender seu contedo. A ecolalia mediata, a criana demora certo tempo para repetir o que escutou. Segundo Fay (1980, in: Lamnica, 1992, p.4), a ecolalia

  • 6091

    poderia representar a inteno da criana autista em manter certa interao social em faces as falhas para compreender uma mensagem. Desta forma a ecolalia seria um esforo do autista para participar da interao social, levando em considerao seu repertorio verbal ser limitado.

    O autista apresenta problemas de comunicao, pois no conseguem entender quando pequenas, a real funo da linguagem, conseqentemente falhando ao usarem a linguagem para se comunicarem, apesar disso conseguem pronunciar algumas palavras, enquanto as que no verbalizam, compreendem algumas palavras faladas pelos outros, porm somente palavras como substantivos e verbos. A esse fato Gillberg define que:

    Estudos epidemiolgicos tem apontado que 70% dos indivduos com autismo apresentam deficincia mental. Somente 30% apresentam um perfil cognitivo caracterizado por uma discrepncia entre as reas verbal e no-verbal em testes padronizados. Nesses indivduos, geralmente no se identificam problemas na rea no-verbal (ex.: habilidades visuomotoras), podendo esta inclusive estar acima do esperado para a idade cronolgica.(GILLBERG,1990, in: Baptista e Bossa, 2002, p.32)

    Estima-se que cerca de cinqenta por cento dos autistas no desenvolvem a linguagem durante toda a vida. Podemos ento observar que a comunicao da criana autista caracterizado por falta de verbalizao ou por ecolalia, sendo, segundo Lamnica (1992) raro encontrar autistas que falam normalmente. O que preconiza os cinemas, divulgando a noo de que indivduos com autismo apresentam talentos especiais, de modo que Pring, Hermelin, Buhler e Walker afirmam:

    Na verdade, tais habilidades esto presentes em menos de 10% dos indivduos diagnosticados como apresentando autismo e tem sido explicadas pela combinao de comportamentos obsessivos e interesses sociais limitados ou, ainda, pela tendncia em processar informaes do ambiente de forma especifica e no global .(PRING, HERMELIN, BUHLER E WALKER,1997, in: Baptista e Bosa 2002, p.32)

    A rea do Comportamento e Pensamento a terceira rea afetada, sendo que ela caracterizada pela rigidez do comportamento e do pensamento, e tambm a precria imaginao. Destaca-se tambm o comportamento ritualista e muitas vezes obsessivo, a ausncia dos jogos de faz de conta, pois no percebem o objeto inteiro, mas s uma parte, um

  • 6092

    detalhe, e no entendem para que serve o brinquedo, o atraso intelectual e a dependncia de rotinas. Um dos grandes problemas que pais e educadores encontram encontrar estratgias para remediar o atraso no desenvolvimento social do autista, que consequentemente trs prejuzos no relacionamento com outras pessoas e nas habilidades de comunicao. A essas caractersticas observadas por Kanner, segundo os autores citados acima, representam o embrio das noes contemporneas de que o senso de previsibilidade e controle sobre as situaes facilita a adaptao e a aprendizagem de indivduos com autismo e tem implicaes para interveno. Surgindo assim, os mtodos de aprendizagem hoje conhecidos.

    Sendo assim, Identificar o que devemos ensinar a uma criana autista passa a ser fundamental, pois as mesmas no se ajustam as formas habituais de avaliao. Sendo assim pontuaremos os principais tipos de interveno educacional como: ABA; PECS; TEACCH.

    De acordo com Mello (2001) ABA, Analise aplicada do comportamento, um tratamento comportamental indutivo, tem por objetivo ensinar a criana habilidades, por etapas, que ela no possui. Cada habilidade ensinada, em geral, em plano individual, de maneira associada a uma indicao ou instruo, levando a criana autista a trabalhar de forma positiva. De acordo com a autora citada acima (2001, p.21), o mtodo ABA recebe como critica a de supostamente robotizar as crianas, o que nos parece correto, j que a idia interferir precocemente o maximo possvel, para promover o desenvolvimento da criana, de forma que ela pode ser maximamente independente o mais cedo possvel. A esse mtodo junta -se o uso funcional de figuras de comunicao, conhecido como PECS.

    O mtodo PECS, Sistema de comunicao atravs da troca de figuras, foi desenvolvido com o intuito de ajudar crianas e adultos autistas e com outros distrbios de desenvolvimento a adquirir capacidade de comunicao. Mtodo considerado simples e de baixo custo, e quando bem implantado apresenta resultados inquestionveis na comunicao atravs de cartes em crianas que no falam, e na organizao da linguagem verbal para as crianas que falam, mas que precisam organizar a linguagem.

    Outro mtodo utilizado TEACCH, tratamento e educao para crianas autistas e com distrbios da comunicao, segundo Cornelsen (2007), trata-se de uma interveno bastante utilizado em todo o mundo, utiliza uma avaliao chamada PEP-R (perfil psicoeducacional revisado) para avaliar a criana, caracterizado como um programa de aprendizado individualizado. Como afirmam Gomes e Silva:

  • 6093

    Neste mtodo a programao individual de cada aluno uma das ferramentas essenciais, pois possibilita o entendimento do que est ocorrendo, propicia confiana e segurana. As dificuldades de generalizao indicam a necessidade de rotina clara e previsvel. Indica visualmente ao estudante quais tarefas sero realizadas, alm de instrumento de apoio para ensinar o que vem antes, o que acontece depois, proporcionando o planejamento de aes e seu encadeamento numa seqncia de trabalhos.(GOMES E SILVA ,2007, p.3)

    Babtista e Bosa (2002) so incisivos ao afirmar que as formas como os autistas comunicam suas necessidades no imediatamente compreendida, se adotarmos um sistema de comunicao convencional. Assim uma escuta atenta e sem preconceitos permite-nos entender o esforo que as crianas autistas desprendem para se fazer entender, lanam mo de ferramentas que as ajudam a serem compreendidas.

    Observa-se o interesse dos mtodos educacionais em desenvolver a socializao e sobre tudo a linguagem em crianas autistas, sendo a linguagem uma habilidade social, a criana autista tornando-se mais socivel, pode, provavelmente, desenvolvem uma linguagem melhor, assim como se d em crianas como desenvolvimento normal, a linguagem, tambm em crianas autistas, se daria atravs do intercambio verbal no contexto social. Todavia, afirma Lamnica (1992, p. 5) por causa de sua desvantagem nas habilidades sociais, necessrio proporcionar perodos de interao nos quais devam ser envidados esforos especiais para favorecer a reciprocidade da criana autista, facilitando, assim, a comunicao social. Assim o ensino da linguagem, aos autistas, deve ser desenvolvido em ambientes naturais da criana, pois o mesmo facilita uma rotina na qual eles respondem melhor aos estmulos.

    Nilsson (2004, p.52-53) diferencia o aprendizado de uma criana autista e a no autista em uma viso cognitiva. O autista apresenta um pensamento literal concreto, visual, fragmentado. Ocorre um tipo de estmulo sensorial por vez, enquanto que em uma criana no autista ocorre a coordenao de todas as modalidades sensoriais. Pessoas com autismo pensam de sua prpria maneira associativa, e isto torna difcil de manter uma conversao, mesmo quando eles tm a habilidade de usar a linguagem. Assim os mtodos educacionais citados acima, ABA, PECS, TEACCH, de cunho visual de fundamental importncia para a aprendizagem do autista, j que para o mesmo o pensamento fragmentado, e pautado na previsibilidade. Usar o lado visual como dispositivo de substituio oferecer pessoa com autismo informao facilmente compreensvel sobre o que ele far em que ordem se dar o que vem depois de uma atividade ser terminada e onde as vrias atividades devero ocorrer.

  • 6094

    Levando sempre em considerao as diferenas entre os educandos e suas particularidades podendo estar sendo feito adaptaes de acordo com a realidade diagnostica de cada criana e suas especificaes. Neste sentido Nilsson defende que:

    [...] ao usar a idia de um programa dirio visual individual, faz-la conter somente atividades enfadonhas que os alunos j conhecem, sempre apresentadas na mesma ordem. Assim a idia perde sua funo para a pessoa envolvida. Temos de pensar no que poderia interessante para ele, de forma que os contedos do dia sejam um acordo entre as coisas que julgamos que ele precisa fazer e coisas que ele prefere fazer. (NILSSON ,2004, p. 57)

    Para a psicloga Nunes (2004) o autista insere-se em um grupo de linguagem alternativa, pois poucos desenvolvem a linguagem verbal adequadamente, como notamos em nossos estudos. O objetivo da linguagem alternativa proporcionar, para o autista, meios no s de expresso como tambm de compreenso da linguagem oral.

    Desta forma Amy (2001) afirma a importncia de uma educao voltada para a percepo, na imitao e na motricidade, que so ferramentas indispensveis a comunicao. Onde somente um mtodo no o bastante, mas sim a mistura entre eles, poder adaptar ao que necessrio no tempo certo e saber que assim poderemos estar contribuindo com o desenvolvimento da criana autista, objetivo maior para a socializao. No entanto h de ser prudente quanto aos resultados, que no so a nosso tempo como aponta a autora citada (2001, p.19), esperana e decepo so partes permanentes de um trabalho cujos os resultados se medem ao microscpio, em que a noo de tempo se congela em um universo esttico e fechado, e em que, dia aps dia, o mesmo cerimonial se repete com seus rituais e suas estereotipias. Portanto, as vrias fontes de pesquisa sobre o autismo e suas peculiaridades, passam a ser inesgotvel bem como inspirao para novas investigaes que apontem melhores recursos e aplicaes, para que se possa chegar ao objetivo maior de socializao.

    Consideraes finais

    Independente de sua classificao psicogentica ou biolgica notrio que a criana autista apresenta dficits na rea social, na linguagem e comunicao e no comportamento e pensamento.

  • 6095

    Baseados nestas reas que apresentam dficits e no direito da criana autista a uma educao que respeite e considere suas limitaes, que atravs de estudos e pesquisas surgem novos mtodos de interveno de aprendizagem que atendem as crianas autistas. evidente que tais mtodos de interveno no solucionam os dficits, mas vem para somar com todos os trabalhos j desenvolvidos nesta rea, visando melhora da qualidade de vida da criana autista.

    Consideramos o autismo como sendo uma sndrome intrigante, porque nos desafia quanto ao conhecimento sobre a natureza humana. Pesquisar o autismo recusar uma s forma de ver o mundo, aquela que nos foi mostrada desde a infncia. pensar de varias maneiras a compreenso da vida e seus limites, se assim houver, no perdendo a tica e compromisso de educadores que somos, mas quebrando paradigmas pr-estabelecidos, passando a ver o outro com tamanha capacidade emptica.

    REFERNCIAS

    AMY, Marie Dominique. Enfrentando o autismo: a criana autista seus pais e a relao teraputica. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001.

    ASSUMPO, Francisco B.; PIMENTEL, Ana Cristina M. Autismo infantil. Ver. Brs. Psiquiar, 2000. Disponvel em:< www.scielo.br/pdf/rbp/v22s2/3795.pdf>. Acesso em: 11/11/2008.

    BAPTISTA, Cludio Roberto; BOSA Cleonice; e colobaradores. Autismo e educao: reflexes e propostas de interveno. Porto Alegre, Artmed, 2002.

    BOSA, Cleonice; CALLIAS, Maria. Autismo: breve reviso de diferentes abordagens. Psicol. Reflex. Crit. V. 13 n. 1 Porto Alegre, 2000. Disponvel em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010279722000000100017&script=sci_abstract&tlng=pt> Acesso em:09/11/2008.

    CORNELSEN, Sandra. Uma criana autista e sua trajetria na incluso escolar por meio da psicomotricidade relacional. Universidade federal do Paran, 2007 Curitiba.

    GOMES, Alice Neves, SILVA, Claudete Barbosa da. Software Educativo para Crianas Autistas de Nvel Severo. In: 4 Congresso Internacional de Pesquisas em Design, 2007, Rio de Janeiro. Disponvel em: < www.anpedesign.org.br/artigos> acesso em: 22 de dezembro de 2008.

    KLIN, Ami. Autismo e sndrome de Asperger: uma viso geral. Rev. Bras. Psiquiatr.So Paulo, 2006. Disponvel em: . Acesso em: 01 mar. 2009.

  • 6096

    LAMNICA, Dionsia Aparecida Cusin. Utilizao de variaes da tcnica do ensino incidental para promover o desenvolvimento da comunicao oral de uma criana diagnosticada autista. Bauru, USC, 1992. (Cadernos de divulgao cultural)

    LEBOYER, Marion. Autismo infantil: fatos e modelos. 5 ed. Campinas, SP, Papirus, 2005.

    MELLO, Ana Maria S. Ros. Autismo: guia prtico. 2 ed. So Paulo, Corde,2001.

    NILSSON, Inger. Introduo a educao especial para pessoas com transtornos de espectro autstico e dificuldades semelhantes de aprendizagem. Em PDF.Congresso Nacional sobre a Sndrome de Autismo 2004. Disponvel em < http://www.ama.org.br/download/Autismo-IntrodEducEspecial.pdf> Acesso em: 23 mar. 2009.

    NUNES, Leila Regina DOliveira de Paula. Linguagem e comunicao alternativa: uma introduo. In: Favorecendo o desenvolvimento da comunicao em crianas e jovens com necessidades educacionais especiais. Rio de Janeiro, Dunya, 2004.

    TAMANAHA, Ana Carina; Perissinoto,Jacy; Chiari, Brasilia Maria. Uma breve reviso histrica sobre a construo dos conceitos do Autismo Infantil e da sndrome de Asperger. Rev. soc. bras. fonoaudiol. V.13 n.3 So Paulo 2008. Disponvel em: .Acesso em: 09/11/2008.

    http://www.appda-lisboa.org.pt/federacao/autismo.php, acesso em 06/01/2009 http://www.ama.org.br/html/apre_arti.php?cod=6, acesso em 06/01/2009 http://maoamigaong.trix.net/tid.htm, acesso em 06/01/2009.