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    Comunicacin e Cidadana(2006) 1

    PAULAMELANIROCHA

    Mulher jornalistaRelaes familiares e profissionais

    Woman journalistProfessional and family relations

    Resumo:Este artigo compara o perfil da mulher jornalista residente na capitalcom a do interior do estado de So Paulo, no Brasil. A metodologia apresentadados quantitativos e anlise interpretativa qualitativa da amostragem. Ao todoso 17 mulheres, sendo 8 do interior e 9 da capital, com e sem filhos,pertencentes a diferentes geraes, casadas, separadas e solteiras. Foramanalisados os seguintes aspectos: mercado de trabalho feminino na capital e nointerior; relaes profissionais; condies que estabeleceram para administrar otrabalho e as obrigaes do lar; e relaes privadas. A insero dessas mulheresno mercado de trabalho foi classificada em trs tipos: carreiras que seguem omodelo feminino; carreiras que seguem o modelo masculino; novos campos deatuao. A pesquisa conclui que no interior as mulheres dedicam-se mais famlia, o mercado de trabalho mais tradicional que na capital e tem um maiorpreconceito em relao profissional mulher.

    Palabras-clave: relao familiar-profissional; qualidade de vida; feminismo;gnero; jornalismo.

    Abstract: This paper compares and analyzes the profile of women journalistswho live in the capital and interior of So Paulo State, Brazil. Design:Quantitative data and qualitative-interpretative analysis of the sample. Sample:17 women, 8 of whom came from the interior and 9 from the state capital; withor without children; from different generations; married, divorced or single.Findings: the female labor market in the capital and interior; professional

    relations; conditions established for managing work and household tasks; andprivate relations. We classified these womens insertion in the labor market inthree types: careers that follow the female model; careers that follow the malemodel; new activity areas. Implications: In the interior, women are morededicated to the family, the labor market is more traditional than in the capitaland there exists greater prejudice against female professionals.

    Keywords:professional-family relations; quality of life; feminism, gender,journalism.

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    2 Paula Melani Rocha, Mulher jornalista

    INTRODUO

    O nmero de mulheres no mercado de trabalho em jornalismo, no

    Brasil, aumenta a cada ano. Em 2003, o mercado nacional empregava14.328 homens jornalistas e 14.154 mulheres, respectivamente 50,3%contra 49,7%. H dez anos a proporo era de 59,9% de homens e 40,1%de mulheres. No estado de So Paulo, as mulheres j so maioria, elasocupam 52,3% das vagas e os homens esto com 47,7% dos postos detrabalho. A feminizao da carreira est relacionada ao processo deprofissionalizao da mesma. No campo cientfico tambm vemaumentando o nmero de pesquisas sobre gnero. (RAIS - Relao Anualde Informaes Sociais, do Ministrio do Trabalho)

    Dentro da reflexo Comunicao e Gnero, proposta neste I Foro

    Internacional, este artigo apresenta a discusso do trabalho emprico datese de doutorado defendida no Departamento de Cincias Sociais daUniversidade Federal de So Carlos. (Rocha, 2004) A pesquisa aborda amulher no jornalismo no Estado de So Paulo no perodo de 1986 a 2001,mais especificamente o perfil das profissionais que residem na capital eo das jornalistas que atuam em uma cidade do interior do estado,Ribeiro Preto. A proposta analisar como a mulher jornalistaadministra suas relaes profissionais e familiares frente s extensasjornadas de trabalhos e competitividade do mercado. Se h ou nodiferenas entre o cenrio da capital e o de uma cidade do interior.

    Procurou-se responder as seguintes questes: as caractersticas domovimento de feminizao das profisses englobam todos os setores domercado de trabalho ou ocorre apenas em campos especficos? Quais asmotivaes que determinam a escolha profissional de uma mulher? Quala relao entre o mercado de trabalho e as relaes com os paresprofissionais? Como as mulheres administram as relaes profissionais efamiliares? Como estruturam as relaes privadas e a opo por ter ouno filhos? Essas questes sintetizam aspectos da atividade profissionalda mulher, no caso jornalista, e sua finalidade de vida, parte integrantede suas condies de sade fsica e mental.

    OINGRESSO DE MULHERES E APROFISSIONALIZAO DA CARREIRA

    A carreira de jornalismo registrou um aumento na feminizao apso seu processo de profissionalizao iniciado no sculo passado, maisespecificamente, a partir do final da dcada de 30, com a criao dasassociaes e sindicatos, passando pelo surgimento dos cursos decredenciamento, exigncia do diploma para o exerccio da profisso,diviso por editorias nas redaes at as inovaes tecnolgicas. O

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    Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de So Paulo foi criadoem 1937. Entre os jornalistas atuantes na dcada de 30 destaca-se aprimeira mulher reprter no pas, Margarida Izar:

    ...antes de Margarida, mulher em redao trabalhava mais emculinria, suplemento feminino, sociais, os chamados assuntos de camae mesa. Ela, no. Era reprter de geral, de pegar pauta de manh esair, com fotgrafo ou sem, para abrir caminho e conseguir manchete.Competente, responsvel, meiga e suave, Margarida enfrentavaqualquer assunto, buscava o furo, a exclusividade. Tinha tambm umforte sentimento de solidariedade e um gosto pela participaopoltica, no lado do mais fraco, claro (Ribeiro, 1998:40).

    A licena para a Escola Superior de Jornalismo saiu em setembro de1939 e foi concedida pelo Conselho Nacional de Educao. Ela seriasediada no Rio de Janeiro, mas nunca chegou a funcionar. O primeirocurso superior de jornalismo de 1947, da Fundao Casper Lbero. AEscola de Comunicao e Arte (ECA) da Universidade de So Paulo (USP)foi criada em 1966, em So Paulo. Em 17 de outubro de 1969, foiaprovado o Decreto-Lei 972, com alteraes posteriores regulamentandoa profisso e consagrando a exigncia de curso superior de jornalismopara o exerccio da profisso.

    Enquanto em 1939 apenas 2,8% dos jornalistas na capital erammulheres, em 1950 esse nmero aumentou para 7%. Chegou a 10% em

    1970, 40,2% em 1980 e atingiu a maioria em 1990. Em 1995, as mulheresj constituam a maioria na capital: 64,8% contra 35,2% de homens. Noentanto, o nmero registrado pelo Ministrio do Trabalho nocorresponde ao nmero de profissionais atuando no mercado (Ribeiro,1998).

    Na dcada de 80 aumentou a remunerao salarial e foram criadaseditorias, acarretando maior especializao do profissional por reas eexigncia de um profissional com maior conhecimento de todo oconjunto de uma redao. Em seguida, houve tambm mudanastecnolgicas, como a introduo dos computadores nas redaes, o

    surgimento do jornalismo on-linee da televiso na internet. Todas essastransformaes vm alterando o perfil do profissional, alm depropiciarem a insero de mulheres nas redaes. Mas o processo deprofissionalizao no est sedimentado, quando se compara comcarreiras como medicina e direito.

    A profissionalizao e sua especializao esto interligadas aoprocesso histrico, s mudanas polticas, sociais e econmicas. Ahistria das profisses tem seu marco no industrialismo capitalista dosculo XIX, quando aumentou a competitividade no campo de trabalho.As ocupaes comearam a buscar um lugar seguro na economia e a

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    disputa levou criao de associaes e instituies prprias. Surgiramas associaes, os credenciamentos, a licena, o registro e os cursossuperiores. So esses fatores que elevaram o status de algumas

    ocupaes para a esfera da profisso (Freidson, 1994).Em 1986, as mulheres jornalistas representavam 36% do quadro de

    profissionais do pas. Em 1996, a proporo era de quatro profissionaisdo sexo feminino para cada grupo de 10 profissionais. (RAIS - RelaoAnual de Informaes Sociais, do Ministrio do Trabalho) No entanto,dentro da carreira, ainda h diferenas entre os gneros com relao aopiso salarial, jornada de trabalho, s funes e aos veculos decomunicao. Os cargos administrativos so ocupados, em sua maioria,por profissionais masculinos. A mulher jornalista ainda permanece maistempo ocupando o mesmo cargo em comparao ao profissional do sexo

    masculino.O aumento da participao feminina no jornalismo deve-se

    primeiramente por no ser uma profisso consolidada, ou seja, no temo mesmo poder, autonomia, controle de mercado e produo de saberda medicina e do direito. A feminizao ainda ocorre em maior nmeroem reas menos prestigiadas ou mais recentes, sendo menor nos setorestradicionais como rdio e jornal impresso. As mulheres estoconcentradas em: revista, setores extra-redao (assessorias deimprensa, universidades), televiso e agncias de notcias. A maioriados cargos de chefia ainda ocupado por homens. O nmero de

    mulheres que ingressam nas faculdades superior ao de homens, elascorrespondem a 67% dos estudantes de graduao, mas o nmero demulheres atuando no mercado no acompanha essa proporo. A mulhercom curso superior recebe o equivalente ao profissional do sexomasculino que possui o segundo grau. Em 2000, a mulher jornalista noBrasil ganhava 5,09% a menos que o homem. (SantAnna & Nardelli,2002). O que mostra uma discriminao menor do que em profissesconsolidadas.

    METODOLOGIA

    Trata-se de uma anlise qualitativa de entrevistas fundamentada nosreferenciais tericos de Bourdieu (1989,1999) e Giddens (1991, 1993),contrastando com o olhar de Hochschild (1997, 2003) sobre as relaesde gnero e das autoras Lauretis (1994) e Scott (1990) que constroem ognero como categoria. Bourdieu, na perspectiva da representaosimblica, enfatiza a discusso sobre dominao masculina. O autormostra que, apesar das mudanas emergentes na sociedade ocidentalcontempornea e das conquistas femininas nos campos profissional,econmico, poltico e social, ainda prevalece a dominao masculina.

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    Giddens utiliza a perspectiva da estruturao e defende que estocorrendo uma mudana nas relaes entre os gneros e a mulher vemconquistando um espao maior na sociedade. Hochschild estuda as

    relaes entre os gneros na sociedade capitalista do sculo XX, maisespecificamente as relaes entre emoo, gnero, famlia, capitalismoe globalizao, e mostra que h um mix de cdigos culturais presentesna sociedade. Para a autora h uma convivncia das duas culturaspropostas por Bourdieu e por Giddens, a qual d uma flexibilidade mulher para definir a situao e agir segundo esse agrupamento nosespaos pblico e privado, combinando essas influncias e atribuindosentido s suas experincias.

    Na busca do entendimento das motivaes das profissionaisjornalistas nas suas trajetrias no mercado de trabalho e nas suas

    relaes profissionais e familiares, realizou-se uma anlise comparativaentre os modelos tericos destes trs autores. Procurou-se confrontar asargumentaes de Bourdieu, Giddens e Hochschild, e verificar se h ouno a predominncia de alguma dessas argumentaes nos depoimentosdas profissionais entrevistadas. Para isso, criou-se uma tipologia queclassifica as mulheres entrevistadas em trs linhas de atuaesdiferentes dentro da carreira: o tipo 1 refere-se s profissionais queseguem a viso dominante sobre as reas femininas; no tipo 2, estoaquelas que seguem a viso dominante sobre as especializaesmasculinas; e o tipo 3 corresponde s profissionais que ingressaram em

    um novo campo pouco explorado no jornalismo at final da dcada de80, como por exemplo, jornalismo ambiental, cientfico, organizaesno governamentais e empresas de consultoria.

    CAPITAL VERSUS INTERIOR

    O estado de So Paulo foi o espao geogrfico escolhido para estudoem funo do desenvolvimento econmico, industrial, cultural e, emespecial, em comunicao e servios. Segundo dados fornecidos peloSindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de So Paulo, a maior

    concentrao de jornalistas (incluindo homens e mulheres) nesseestado, correspondendo a 28,48% (7.692) do pas, alm das mulheres jserem maioria nos postos de trabalho em jornalismo (52,3%).

    Comparar a capital com o interior, Ribeiro Preto, uma cidade com505 mil habitantes (dado do censo do IBGE de 2000), foi uma opometodolgica, visando a obter informaes de duas realidades que, porhiptese, retratam condies profissionais diferentes para a mulher.Ribeiro Preto-SP abriga uma diversidade de veculos de comunicao:possui correspondentes de dois jornais nacionais, sete emissoras deteleviso, quatro jornais locais, trs revistas, quatro emissoras de rdio

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    freqncia AM que transmitem programas jornalsticos, alm deassessorias de imprensa e correspondentes de agncias de notcia. uma cidade que ocupa papel de destaque na economia agro-industrial

    do estado. Possui seis universidades e faculdades, sendo uma pblicaestadual e cinco particulares. Nessas, quatro possuem cursos deComunicao Social, sendo trs especficos em jornalismo. Contudo,ainda um municpio relativamente com perfil de interior, distanteaproximadamente 320 quilmetros da capital.

    So Paulo a capital do estado de So Paulo, a maior cidadebrasileira e do hemisfrio sul, com uma populao de 10.434.252habitantes (dados do IBGE referente ao censo de 2000). consideradaplo cultural e a cidade mais rica do pas, no entanto, abriga umadiversidade econmica e de classes sociais. A capital sedia 159

    instituies de ensino privadas e pblicas, sendo 35 com habilitao emjornalismo, entre elas est a USP, maior univerrsidade pblica do Brasile a primeira faculdade de jornalismo, a Fundao Casper Libero (dadosfornecidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais,Ministrio da Educao). A cidade comporta as maiores emissoras deteleviso, rdios, jornais impressos e revistas.

    Delimitado o espao geogrfico, passou-se explorao do campoatravs de uma pesquisa nos documentos do Sindicato dos JornalistasProfissionais no Estado de So Paulo. A anlise revelou que o mercadode trabalho est subdividido em cinco grandes reas: jornais impressos,

    revistas, agncias de notcias, emissoras de rdio e de televiso esetores extra-redao (assessorias de imprensa, universidades entreoutros).

    H diversificao na participao feminina nos diferentes setores dojornalismo. Nas revistas, a mulher maioria, compondo 53,40% domercado. Nas agncias de notcias, as jornalistas mulheres representam48,05%. Nos jornais, elas so minoria, correspondem a 40,73%. Nasemissoras de rdio e televiso, as profissionais mulheres ocupamrespectivamente 34,47% e 48,32% do mercado. Nos setores extra-redao, as mulheres so 50,35%, sendo maioria por uma pequena

    vantagem (Relatrio Tcnico do Sindicato dos Jornalistas Profissionaisdo Estado de So Paulo referente ao ano de 2001). A tendncia amulher ocupar postos novos, que ainda no esto dominados pelomercado masculino.

    A jornada de trabalho, de acordo com Decreto-Lei 910 de 30 denovembro de 1938, de cinco horas, tanto de dia como de noite, e maisduas horas contratuais, com uma folga semanal. Mas na prtica,dependendo do campo de atuao, a durao da jornada oscila entresete horas e meia (sendo meia hora de refeio) a doze horas dirias.

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    Veculos como jornais dirios e revistas semanais com coberturanacional exigem mais do profissional. Agncias de notcias e assessoriasde imprensa, em geral, conseguem manter a jornada dentro do limite

    legal. Nas emissoras de rdio e televiso, a jornada de trabalhodepende da funo do profissional e do porte da empresa decomunicao, mas em mdia segue as sete horas e meia previstas, comuma folga semanal. Outra diferena diz respeito ao porte da cidade.Normalmente, o trabalho na capital mais exaustivo, por ser um centropopulacional, econmico e poltico. As diferentes caractersticas entre amaior cidade da Amrica do Sul e uma cidade do interior, no casoRibeiro Preto, interferem nas atividades dirias do profissional.

    UNIVERSO DA PESQUISA

    :MULHERES JORNALISTAS

    As fontes primrias so as entrevistas com 17 mulheres jornalistas,

    sendo oito de Ribeiro Preto e nove da capital. So mulheres brancas,com e sem filhos, casadas judicialmente, com unies estveis esolteiras, pertencentes ao estrato social mdio e de geraes distintas,entre 23 e 54 anos. A seleo das entrevistadas partiu da segmentaodo mercado de trabalho nas cinco reas estabelecidas pelo Sindicato eincluiu tambm jornalistas que optaram por outra carreira. Asentrevistas foram realizadas no prprio local de trabalho dasentrevistadas ou em suas casas, de acordo com suas escolhas,determinadas por limitaes de tempo e disponibilidade. Todas asentrevistas foram gravadas e transcritas. Utilizaram-se duas tcnicas:histria de vida pessoal e profissional e entrevista aberta. Seguiu-se omesmo roteiro aplicado s profissionais jornalistas residentes na capitale no interior. Levaram-se em conta as exigncias formais sobrepesquisas que envolvem seres humanos, obtendo o consentimento dosparticipantes aps esclarecer os objetivos e mtodos da pesquisa ecomprometeu-se em manter em sigilo suas identidades.

    Apresentou-se o perfil das entrevistadas de acordo com as seguintescaractersticas: idade, estado civil, escolaridade, nmero de filhos, seexerce a profisso de jornalismo e cidade onde reside. Adotou-se comoreferencial para a classificao em tipos, as caractersticas dasprofissionais no mercado de trabalho. A despeito desta classificao, vlido ressaltar que cada tipo formado por sujeitos mltiplos, comsubjetividades diferentes, afastando-nos de modelos rgidos. A tipologiareflete a complexidade das relaes. Gnero e profisso so duascategorias relevantes na anlise dos discursos das entrevistadas, pois,fazem parte de suas trajetrias, escolhas pessoais e profissionais.

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    Entre as 8 entrevistadas de Ribeiro Preto, trs trabalham em umaemissora de televiso, trs em assessoria de imprensa, uma em revista euma no seguiu a carreira de jornalismo. Foram entrevistadas 9

    jornalistas da capital: duas trabalham em jornal impresso, duas ememissoras de televiso, duas em revistas, duas trabalham comojornalistas para Organizaes No Governamentais ONGs, e uma noseguiu a carreira de jornalismo.

    ANLISE DAS ENTREVISTAS

    Na anlise do campo emprico, ao comparar o mercado e o perfil dasprofissionais da capital e do interior, constatou-se que das 17entrevistadas, seis se encaixaram no tipo 1, seis se encaixam no tipo 2 e

    cinco entrevistadas no tipo 3. Embora classificasse a tipologia de acordocom o mercado de trabalho em modelo feminino (tipo 1), modelomasculino (tipo 2) e profissionais que inovaram em novas reas nocampo da profisso (tipo 3), deparou-se com uma diversidade mesmodentro das tipologias. O tipo 1 priorizou a famlia profisso,aproximando-se de reas de trabalho mais afins. As entrevistadas dessatipologia seguiram carreiras dentro ou fora do jornalismo, destacando asreas de cultura, comportamento, educao e msica, todas ligadas produo simblica do universo das artes. A vocao foi construda aposteriori. So mulheres que adequaram suas carreiras profissionais s

    suas escolhas pessoais, entre essas esto casamento e filhos.As seis entrevistadas do tipo 1 trabalham fora, so independentesfinanceiramente e duas das trs separadas, que tm filhos aindadependentes, so as responsveis pelo sustento da casa. A maioria dasentrevistadas do tipo 1 pertence a geraes mais velhas, sendo uma dasexplicaes da identificao do mercado de trabalho com reasconsideradas mais femininas. Por outro lado, elas mudaram suas vidas,todas tm emprego, as mais velhas desempenham cargos de chefia, soreconhecidas profissionalmente e independentes financeiramente. Noambiente pblico referente profisso, as entrevistadas atuam em

    reas consideradas femininas, no entanto, no ambiente privado, a casa,elas assumiram a postura masculina, combinando os dois cdigosculturais propostos no modelo de Hochschild, o tradicional e o moderno,adequando-os ao modelo emocional que tm de si e s interaes quevivem.

    As quatro entrevistadas que casaram e tiveram filhos priorizaram nosseus momentos de escolha entre profisso e vida pessoal, a segunda.Optaram por casar e ter filhos e seguirem os maridos. As mulheres dotipo 1 continuam acumulando as tarefas do lar, agregando mais essajornada, aproximando-se da discusso proposta por Hochschild sobre a

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    terceira jornada de trabalho exercida pela mulher. Nas obrigaes doespao privado, as entrevistadas dessa tipologia contaram com a ajudade empregadas domsticas ou de familiares. Grande parte do avano

    profissional das mulheres pertencentes ao estrato social mdio no Brasildeve-se ao trabalho das mulheres mais pobres que trabalham comoempregadas domsticas, garantindo a ordem domstica e permitindo asada da mulher em melhores condies profissionais para o espaopblico. Os companheiros no participaram das divises de tarefas decasa e da criao dos filhos de forma igualitria. Eles ajudaram eprincipalmente no atrapalharam, mas o funcionamento da estruturaficou nas mos das entrevistadas. As justificativas apresentadas foram:falta de dinheiro por parte do companheiro, falta de tempo devido aotrabalho ou atribuir isso mulher mesmo, "j que ela quis ir trabalhar

    fora".O tipo 2 tem maior concentrao em geraes mais novas,

    comparado com o tipo 1. A maioria das profissionais dessa classificaocumpre jornada mais extensa, em mdia dez horas diria, com plantesnos finais de semana e feriados. Diferem do tipo 1, elas cobrem assuntosgerais, desde economia passando por poltica e guerra at cincia etecnologia. O tipo 2 tambm se aproxima do modelo proposto porHochschild. A divergncia em relao ao tipo 1, que as entrevistadasdo tipo 2 combinam os dois cdigos de forma diferente dasentrevistadas do primeiro tipo. As profissionais do tipo 2 priorizam a

    carreira profissional. Elas adequaram as relaes pessoais, aorganizao da casa e o cuidar dos filhos s suas jornadas de trabalho.Dividem as obrigaes com filhos, mes, maridos, empregadas einstituies. Ao contrrio das entrevistadas do tipo 1, as do tipo 2procuram enquadrar a situao com menor "sentimento de culpa" nosseus discursos por se dedicarem profisso. Elas tratam esse assuntocomo uma escolha natural na modernidade, o que demandou muitotrabalho emocional, em parte ele herdado de geraes anteriores.

    De forma diferente do tipo 1, no tipo 2 menor o nmero deentrevistadas com filhos, so duas com filhos e 4 sem filhos. Antes as

    mulheres dedicavam uma maior quantidade de tempo maternidade,tempo esse imposto pela cultura tradicional de que a mulher deveriaficar em casa cuidando dos filhos. No cuidar dos filhos, o tipo 1apresenta mais afinidades com o conceito tradicional e o tipo 2 tendepara o moderno caloroso (Hochschild, 2003). Nos dois casos as mestrabalham fora, a diferena que enquanto no primeiro, a me divide oseu tempo entre a carreira e as obrigaes da casa e do cuidar do filho,no segundo, a me dedica-se tempo integral profisso e tentacompartilhar e dividir as responsabilidades dos filhos com instituies eparentes. Ela no se sente culpada pela sua ausncia. No primeiro

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    modelo, no entanto, a me perde no investimento profissional porparticipar mais das obrigaes da casa e do cuidar dos filhos, evitandose ausentar durante tempo integral. O tipo 1, composto por

    entrevistadas pertencentes a uma faixa etria mais velha que asentrevistadas do tipo 2, foi a primeira gerao a realizar o trabalhoemocional de administrar a carreira com os cuidados da casa e do filho,proporcionando mais facilidades para a gerao que a sucedeu, aquirepresentada pelo tipo 2.

    Embora o tipo 2 possa lembrar a ruptura com a tradio proposta naviso de Giddens, ele aproxima-se do modelo proposto por Hochschild,por explicar melhor a diversidade encontrada na atuao destasprofissionais. So mulheres que disputam um mercado de trabalho deforma semelhante aos profissionais homens, cumprindo extensas

    jornadas de trabalho e ocupando cargos que exigem uma maiordedicao do profissional. Elas conseguiram ocupar o espao pblicocombinando os dois cdigos propostos pela autora, mas em vez dademocratizao do espao privado avanar para o pblico, o que severifica, principalmente, a expanso da lgica do capitalismo e dasempresas na vida da casa.

    Todas as entrevistadas do tipo 2 que possuem marido ou filhos,diferentemente das do tipo 1, adequaram as obrigaes familiares aohorrio de trabalho e no o contrrio. Como mostra Scott (1990) paraentender as relaes de gnero necessrio acabar com a fixidez de

    uma representao binria do gnero e construir uma anlise que incluatambm noes de poltica, instituies e organizao social, bem comoos smbolos, os conceitos normativos e a identidade de cada sujeito. Arelao de poder entre os gneros no fixa; o poder circula em umasociedade, mesmo de forma desigual.

    As entrevistadas do tipo 3, que ingressaram em um novo campo dojornalismo, inovaram na carreira como uma extenso das suas vidaspessoais e abriram mo da famlia. Elas atuam no campo profissionalcom caractersticas do modelo proposto por Hochschild (2003), ummixing entre os dois cdigos, o tradicional e o moderno, segundo o olhar

    da discusso terica proposta nessa pesquisa. As entrevistadasespecializaram-se nas reas direcionadas ao meio ambiente,inseminao artificial, automobilismo e feminismo. As motivaes queas levaram a fazer jornalismo esto prximas do modelo feminino, gostopela escrita, pela msica e pela cultura, no entanto, tambm forammotivadas pelos movimentos polticos, sociais e ambientais earriscaram-se em reas novas, at ento pouco exploradas pelomercado. Transformaram o exerccio da profisso em um instrumentode luta dos ideais que acreditam, especializando-se em suas reas de

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    atuao. Elas conseguiram acumular capital cultural e social namilitncia ou em outras atividades e transferi-los como saberprofissional para o campo do jornalismo. No self (Hochschild, 2003),

    esse processo realiza-se atravs do trabalho das emoes e dacombinao dos cdigos culturais, a partir da mudana na forma comoessas mulheres definiam a situao e enquadravam as atividades quefaziam.

    Todas as entrevistadas do tipo 3 conseguiram um reconhecimento euma satisfao pessoal na rea que atuam a partir dos recursos queacumularam em outros campos. A capacidade de fazer a ponte entre omundo dos jornalistas e o das feministas, dos ecologistas, dosautomobilistas, dos cientistas transformou-se em recurso social e emsaber especializado. Essas habilidades sociais alavancaram a insero

    das entrevistadas nos novos segmentos de mercado do jornalismo,superando as barreiras e as dificuldades anteriores que enfrentarampara pertencer ao mundo dos jornalistas. Atravs do trabalho dasemoes e da mudana na definio da situao, essas mulheresconseguiram transformar experincias percebidas como desvio, emconsagrao nas novas reas surgidas no jornalismo.

    Apenas uma entrevistada do tipo 3 optou pela maternidade, mas elareside no interior e a cidade menor oferece facilidades. Seus paismoram com ela e com as duas filhas. Hochschild mostra que astransformaes do sculo passado, xodo rural, surgimento das

    indstrias e das cidades, modificaram o modo de vida tanto do homemquanto da mulher. As mudanas do ambiente pblico foramtransportadas para o ambiente familiar. As mulheres saram de casapara trabalhar fora, alterando as relaes familiares. Para a autora,nessa sociedade capitalista contempornea convivem na cultura cdigosde gnero tradicionais e modernos. A mulher, atravs do trabalho dasemoes, procura se adaptar nos espaos pblico e privado, de acordocom a atribuio de sentimento que do atravs da definio dasituao.

    A profissional jornalista tem todos os direitos determinados pelas

    Constituies de 1967 e 1988 (aposentadoria aos 30 anos de servio comsalrio integral; proibio de discriminao por gnero, inclusive adiferena salarial; proibio de trabalho insalubre; e garantia deestabilidade a gestantes) incluindo licena maternidade e auxliocreche. O problema que a jornada dessa profisso inclui feriados efinais de semanas exigindo uma dedicao maior da profissional dentroda empresa e conseqentemente, um perodo de ausncia da mulher nolar.

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    Na anlise dos discursos das entrevistadas do tipo 1 sobre o mercadode trabalho, piso salarial, relao com os pares profissionais e chefia,verificou-se que elas j vivenciaram discriminao por serem mulheres,

    sempre quando trabalhavam em Ribeiro Preto. As profissionais queingressaram h mais tempo na carreira, por encontrarem nas redaespredomnio dos homens, sentiam-se tratadas de forma diferente, commais "carinho". Embora o tom tenha sido fraternal, revela umadiferenciao no tratamento pelo fato de serem mulheres.

    Em junho de 2001, a Federao Internacional dos Jornalistas - FIJ e aUNESCO realizaram, na Coria do Sul, a I Conferncia Mundial deMulheres Jornalistas. Os anais deste evento demonstraram que ajornalista mulher sofre discriminaes quanto ao contedo dasreportagens. Temas mais complexos ou que causam mais impacto na

    opinio pblica so atribudos aos jornalistas do sexo masculino. Outroaspecto registrado foi a esttica, principalmente quando o referencial a televiso. Mulheres negras, gordas ou tidas como feias encontram maisdificuldades de ingressarem no mercado de trabalho como reprteresem emissoras de televiso. (SantAnna & Nardelli, 2002)

    As respostas das entrevistadas classificadas no tipo 2 sobre asrelaes com os pares profissionais e chefias mudam de acordo com area de atuao de cada uma. Aquelas que trabalham em veculos decomunicao que dependem do trabalho de equipe, como emissoras deteleviso ou de rdio, ou esto empregadas em grandes empresas de

    comunicao em So Paulo, nas quais h uma maior competitividade,informaram que existem problemas com os pares profissionais sejameles homens ou mulheres. Quando indagadas sobre as relaes com oschefes, todas as entrevistadas que atuam em redaes no interiordisseram que j se sentiram discriminadas. As entrevistadas, em geral,reclamam da alta competitividade profissional entre os colegas. Ojornalismo uma profisso que est vulnervel lgica do mercadocapitalista. Possui um ritmo de trabalho extremamente acelerado,sujeito ao controle de tempo da linha de produo e distribuio, almda urgncia de chegar mais rpido ao consumidor. O que a carreira de

    jornalismo no oferece uma maior segurana no emprego,independente do gnero do profissional. Quanto ao trabalho na capital,as entrevistadas informaram que consideram o mercado profissionalmelhor e, embora a mdia da jornada de trabalho seja de dez horas,elas no vem isso como algo ruim ou como um empecilho para a vidapessoal. Ao contrrio, os discursos mostram que elas administram otempo.

    As entrevistadas do tipo 3, de forma semelhante s do tipo 2,priorizaram o trabalho, no entanto, segundo os depoimentos das

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    primeiras, no trabalho das emoes que fizeram, julgam que abrirammo da vida pessoal, mas por uma opo pessoal e no "profissional".A qualificao profissional exigiu um investimento maior e uma maior

    dedicao. Para as entrevistadas do tipo 3, a satisfao profissional um complemento da satisfao pessoal, h uma congruncia entre essasduas esferas.

    Todas as entrevistadas do tipo 3 afirmam que o melhor mercado detrabalho na rea de jornalismo a capital, por isso quatro das cinco queformam a amostragem esto atuando em So Paulo, mas todasconcordam que a vida na capital estressante. O estresse evidencia atripla jornada de trabalho e requer a administrao das emoes paraalcanar o patamar esperado. Essa definio da situao exige muitotrabalho emocional para dar conta de preencher o modelo ideal de si.

    Outra caracterstica que predomina no tipo 3, que das cincoentrevistadas apenas uma casada e no tem filho. A vida pessoal delasfoge do modelo tradicional feminino de casar e cuidar dos filhos, masmesmo assim precisam lidar com uma jornada extra em termos detrabalho emocional estressante que se distancia do estilo de vidasonhado.

    A viso do tipo 3 referente a relaes com os pares profissionais e achefia bem ecltica. Todas falaram que h diferenas nas relaesimpostas pela chefia, de forma geral, mas o que mais chamou atenofoi a resposta de duas entrevistadas sobre a chefia exercida por umamulher. Elas disseram que a mulher acaba assumindo uma postura maissevera e at "desumana". Outra constatao que os cargos de chefiaso ocupados por homens, em sua maioria. O discurso revelou anecessidade do chefe incorporar um estilo masculino para exercer opoder. preciso masculinizar a funo de comando para ser respeitado.A falta de poder, na forma como a mulher vista, exige dela o uso demais fora para alcanar o mesmo resultado do homem para impor-se.Falta mais autoridade legtima, da o uso excessivo do mando. O custoem termos de trabalho emocional para ela tambm maior do que parao homem. Quando a mulher assume a chefia ela precisa incorporar o

    papel do homem, para ser respeitada pelos seus subalternos.A discriminao de gnero, no trabalho, no o aspecto que mais

    angustia e exige administrao das emoes estressantes. Osdepoimentos revelam que as combinaes dos cdigos culturaisdisponveis permitem que essas profissionais se realizem como mulherescom carreiras. Os aspectos mais conflitivos so o ritmo e acompetitividade inerentes atividade, marcados pela lgica daconcorrncia e da linha de produo capitalista, criando condies detrabalho que fazem com que as profissionais se sintam mquinas

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    desumanizando homens e mulheres. Esse o trabalho emocional maisdesgastante.

    Todas as 17 entrevistadas, independente da tipologia, disseram queenfrentaram muito pouco preconceito dos entrevistados pelo fato deserem mulheres e deve-se credibilidade dos veculos para os quais asentrevistadas trabalham. Isso surgiu quando a jornalista era muito novaou se vestia de forma diferenciada. Todos os veculos abordados nessapesquisa so conhecidos pelo pblico em geral. O poder miditicotambm envolve os jornalistas que trabalham nos veculos decomunicao, afastando a discriminao por parte do entrevistado emrelao ao gnero. O preconceito recai sobre a empresa ou noticirio eno sobre o profissional. Quando indagadas se preferem trabalhar comprofissionais homens ou mulheres tambm surgiram diferentes tipos de

    respostas, independente da tipologia. As afinidades esto, em suamaioria, relacionadas ao tipo do trabalho e no ao gnero.

    CONCLUSO

    Na classificao das tipologias, partiu-se das caractersticas domercado de trabalho, estabelecendo trs tipos: modelo feminino;modelo masculino; e reas que inovaram. Ao realizar as anlises docampo emprico deparou-se com uma diversidade de modelos de gnerodentro das tipologias, atuando de formas diferentes nos ambientes

    pblico e privado. Essa diversidade afastou as anlises sobre dominaomasculina propostas por Bourdieu e por Giddens. O modelo proposto porHochschild identifica um mix cultural com a convivncia de modelostradicionais e modernos na cultura contempornea permitindo smulheres comporem esses cdigos de gnero diversos nos ambientespblico e privado, adequando-os ao ideal emocional que tm de si e sinteraes que vivem. A viso da autora explica melhor os diferentesmodelos de gneros que se encontrou na pesquisa, afastando de umaanlise mecnica e reducionista.

    A anlise dos depoimentos mostrou que a discriminao contra o

    gnero feminino no mercado de trabalho do jornalismo ocorre maisvisivelmente no interior, por ser mais tradicional. As profissionais dacapital no se depararam com esse problema. No entanto, a altacompetitividade na profisso e as extensas jornadas de trabalhoapareceram em todos os discursos. O campo jornalstico est cada vezmais sujeito s exigncias do mercado em atrair mais leitores eanunciantes para vender mais jornal, exigindo uma maior produtividadedos profissionais. Por outro lado, como o processo de profissionalizaodessa carreira foi tardio, as garantias do profissionalismo esto menossedimentadas.

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    O interessante que das oito entrevistadas que residem no interior,quatro se enquadram no tipo 1, trs no tipo 2 e apenas uma no tipo 3.Das nove entrevistadas que residem na capital, apenas duas se

    enquadram no tipo 1, trs se encaixam no tipo 2 e quatro se encaixamno tipo 3. O mercado da capital ainda mais propcio para profissionaisqualificadas e dispostas a ingressarem em novos campos, enquanto omercado do interior mais tradicional.

    Nas relaes pessoais e familiares, das oito que residem no interior,quatro so separadas, duas solteiras e duas casadas. Cinco delas tmfilhos. Das nove que residem na capital, quatro so solteiras, trsseparadas, duas casadas e apenas duas entrevistadas tm filhos, umaest classificada no tipo 1 e a outra encaixa-se no tipo 2. O nmero dejornalistas solteiras e separadas maior que o nmero das entrevistadas

    casadas, das 17 entrevistadas seis so solteiras, sete so separadas equatro esto casadas. H uma maior concentrao de profissionais comfilhos classificadas no tipo 1. Nos tipos 2 e 3 uma minoria tem filhos,sendo que nesse ltimo tipo, apenas a jornalista que mora em RibeiroPreto tem filhos. No interior, o nmero de entrevistadas com filhos maior que na capital. Isso revela que ainda h uma dificuldade emconciliar trabalho, filhos e morar em So Paulo. A capital oferece ummercado mais frtil de opes de trabalho em jornalismo, por outrolado, afasta a possibilidade da maternidade. Os fatores analisados estointimamente relacionados qualidade de vida das entrevistadas, pois

    refletem uma preocupao com a modificao e a intensificao doscomponentes da vida, por exemplo, ambiente social, fsico e moral bemcomo suas interaes entre o profissional e a famlia.

    vlido ressaltar que as entrevistadas pertencem a geraesdiferentes, sofreram influncias diversificadas dos avs, pais, colegas,companheiros, filhos e vivenciaram de forma diferenciada o contextohistrico. As das geraes de 40 e 50 sofreram maior influncia daditadura brasileira, dos movimentos sociais e feministas. As dasgeraes mais novas usufruram maior liberdade de escolhas e opespessoais e profissionais. Todas essas caractersticas fazem parte da

    formao de cada jornalista e influenciam na maneira pela qual elasadministram o trabalho das emoes, combinando os cdigos culturais,para realizarem suas interaes com os ambientes pblico e privado.

    REFERNCIAS

    Becker, H. (1993). Mtodos de pesquisa em cincias sociais. So Paulo: Hucitec.Bourdieu, Pierre (1999).A dominao masculina. Rio de Janeiro: Betrand.Bourdieu, Pierre (1989). O poder simblico. Lisboa: Difel.

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    Paula Melani Rocha Professora e Coordenadora do curso de Jornalismoda UniCOC, Ribeiro Preto (So Paulo, Brasil). Mestre e Doutora emSociologia, pela Universidade Federal de So Carlos (UFSCAR). Ps-graduao em Jornalismo em Harvard (Estados Unidos). Formada emJornalismo pela Faculdade Csper Lbero e em Cincias Sociais pelaUniversidade de So Paulo. E-mail: [email protected].

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