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Briguenta, eu? Nao, os outros e que brigam comigo...

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"Com quem eu não briguei ainda? Preciso pensar...” E Adriana Carvalho, 46 anos, jornalista tida como briguenta, arrelienta, esquentada, fuçadeira, complicada, metida e outras considerações de maior ou menor porte (alguns até enormes demais...), solta aquele riso escrachado, do tamanho do mundo, que ela costuma mostrar quando realmente está contente... Ela para e conclui: “Por incrível que pareça eu nunca briguei com ninguém. Ou já? Nem lembro. Na verdade teria bastante gente com quem eu gostaria de brigar.” E aí ela já não sorri mais.

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“Briguenta, eu? Nao, osoutros e que brigam comigo...”

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Com quem eu não briguei ainda? Preciso pensar...” E Adriana Carva-lho, 46 anos, jornalista tida como briguenta, arrelienta, esquentada,

fuçadeira, complicada, metida e outras consi-derações de maior ou menor porte (alguns até enormes demais...), solta aquele riso escracha-do, do tamanho do mundo, que ela costuma mostrar quando realmente está contente...

Ela para e conclui: “Por incrível que pareça eu nunca briguei com ninguém. Ou já? Nem lembro. Na verdade teria bastante gente com quem eu gos-taria de brigar.” E aí ela já não sorri mais. Fala sério para acentuar que tem pessoas, muitas pessoas das quais é amiga, que ela admira, mas, na realidade fica distante por divergências políticas. “Divergências são rotina na minha vida. Brigar, brigar mesmo não cheguei a brigar com todo esse monte de pessoas que vocês vivem dizendo...” E, no entanto, Adriana olha com aquele olhar que deixa dúvidas no ar.

Ela não esconde que já brigou mais seriamente com umas dez, talvez vinte pessoas... “Mas, veja bem, insisto em dizer que não se tratou de briga, apenas divergências. Corrijo: pode sim até ter havido algum momento mais crítico, inclusive de violência física. Teve até um caso específico de uma pessoa que en-viava comentários maldosos afirmando que eu ga-nhava dinheiro de determinadas pessoas para falar coisas que eventualmente interessariam para essa pessoa. Tudo muito na linha da fofoca. Dizia que eu ganhava dinheiro até para colocar gasolina no carro para fazer reportagens que eventualmente interes-sariam a alguém. E mais: que eu havia ganhado não sei quantos reais para falar mal não sei de quem e por aí foi. Essa pessoa provocou, provocou até o li-

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mite quando me encontrou na rua e me chamou publicamente de jornalista vendida. Aí eu briguei e briguei mesmo, de verdade. Fora essa briga, que foi briga mesmo, desforço físico como se diz por aí, nunca tive nada”, sustenta Adriana. E dispara: “Já passei da fase de ter encrencas.”

Adriana vê tudo isso como consequência da vida de qualquer jornalista. “Só posso dizer uma coisa: depois de tudo o que eu já pesquisei, fui atrás e es-crevi, os processos judiciais que sofri são mínimos. Quase nada”, garante. “Quem vê pensa que estou toda hora no fórum respondendo processos. Nada disso. Tive alguns processos, sim, mas quase nunca ou nunca mesmo aconteceu nada porque os juízes perceberam que não havia crime, ou não havia des-respeito à lei. Ou então, tudo o que eu disse ou es-crevi estava dentro da legalidade. Faltavam provas, faltavam testemunhas, ou a própria vítima deixava de comparecer em juízo. E assim o processo ruía.”

Ela não esconde que já teve uma condenação. “Por danos morais, acredita? Parece até engraçado falar isso. Deu-se quando fiz uma reportagem sobre ca-chorros que estavam relegados ao abandono, sofren-do maus tratos. Jogados em um terreno, passavam fome, magros, esquálidos, quase mortos. Comprei ração e joguei pelo muro. Nem foi uma grande re-portagem, foi mais uma notinha acompanhada de fotos dos animais. O juiz entendeu que eu não tinha agido direito. Não por dar a notícia, mas entenden-do que antes de dar a notícia eu deveria ter falado com a dona dos cães, que no momento não estava lá. O juiz disse que eu deveria ter esperado que ela vol-tasse. Fui condenada a pagar dez salários mínimos.”

E não demorou para confessar: “Não paguei ainda. Na verdade e falando sério, eu não tenho dinheiro.

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Até já mandaram bloquear o saldo da minha conta, outra bobagem, pois eu nem tenho dinheiro na con-ta. Pior ainda, minha conta está sempre negativa.” Adriana sorri e acrescenta: “Ainda bem que nos-sa justiça é lenta. E para piorar, ou melhorar, logo depois veio a interdição do Fórum da cidade. Tudo conspirou a meu favor...”, brinca.

Voltando no tempo lembra que seu primeiro em-prego foi no extinto Jornal de Atibaia, o JA. “Na ver-dade sempre quis fazer isso, trabalhar em jornal. Ainda na quinta série, quando estudava na Escola Estadual José Alvim fui entrevistar o então prefeito Takao Ono para um jornalzinho que a gente estava fazendo na escola. Fui lá toda feliz.”

Aprovada em três concursos públicos ingressou na Prefeitura, mas só trabalhou dois anos e meio. “Não nasci para ficar aturando chefetes que vivem passando por cima das pessoas. Medíocres que só atrapalham e não ajudam em nada. Entrei no JA para escrever a coluna social do jornal. Mas foi tudo muito rápido, logo o jornal fechou. Ingressei no Jor-nal Imprensa Livre, tentei cursar faculdade de Jor-nalismo em São Paulo e não conclui. Era muito gas-to ir e voltar todo dia para São Paulo. Deu em nada.”

De novo no jornal Imprensa Livre optou por fazer cobertura de assuntos policiais. “Naquele tempo ti-nha muita coisa. Polícia rendia muita notícia. Hoje não, depender de polícia para fazer jornal morre de fome. Ruim para a Imprensa, melhor para a comuni-dade saber que o índice de criminalidade na cidade caiu bastante. Especialmente levando-se em conta que a população cresceu muito”, explica.

Apaixonada pelo que faz, guarda matérias desde quando começou. “Tive e tenho o prazer de conhe-cer todos os policiais da cidade. Fiquei amiga de to-

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dos eles e essa amizade permite que a gente tenha um maior nível de informações. Não só aqui na cida-de como em toda a região”, explica.

A chacina da Boa Vista foi o grande caso que ela co-briu. “Fiquei três dias sem dormir. Conseguimos fo-tos exclusivas, o jornal Imprensa Livre fez até uma edição extra, abordando o caso. Foi um sucesso, vi-bramos muito...”

Adriana conta um caso que mexeu muito com sua sensibilidade. “Eu estava fazendo uma entrevista com um delegado quando ele foi chamado ao telefo-ne. Enquanto ele falava, o outro telefone tocou. Era uma pessoa desesperada, um policial de outra cida-de do interior de São Paulo informando que naquele momento estava em andamento um caso de seques-tro aqui em Atibaia. Enquanto o delegado continu-ava falando ao telefone eu anotei o endereço onde supostamente estaria ocorrendo o caso. Quando já tinha todas as informações em mãos eu pedi um minuto ao delegado e passei a informação para ele. Imediatamente acionamos a PM que correu para o local. Quando a polícia chegou o sequestrador esta-va se preparando para fugir levando a família. Ele havia enrolado pai, mãe e dois filhos em um tapete. Já tinha jogado querosene no tapete e iria tocar fogo na família. Por sorte a PM agiu rápido entrou no car-ro, desarmou o bandido e salvou a família.”

Adriana se mostra chocada ao lembrar e contar o episódio. “Nunca mais vou esquecer. Aquilo me marcou e me deu muito orgulho, pois fui além do jornalismo usando o meu passado como senha para salvar uma família.” Ela não esconde: “Eu me orgu-lho em ser jornalista. E por viver momentos como esse.” Seus olhos brilham como nunca.

Nos últimos tempos Adriana optou pela internet

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criando seu próprio veículo. O Atibaia News era uma franquia. “Concluí que estava pagando caro para manter um nome e decidi criar o meu próprio jornal. Afinal a credibilidade, a audiência vem do jornalista que elabora o jornal. Eu pagava a franquia e algumas contas. Tinha que fazer trabalhos de as-sessoria para melhorar um pouco.”

Adriana deixa claro que não gosta de misturar o seu trabalho como jornalista com o trabalho de uma vendedora de espaços em seu jornal. “Isso me atra-palha, me confunde. Parece que a gente está venden-do opinião...” Sorrindo lança a grande e verdadeira máxima: “O bom jornalista nunca fica rico...” E ri. “Não posso dizer que sou boa jornalista, garanto e faço questão de prezar que sou séria. Isso eu garan-to mesmo. Ninguém pode dizer que pagou isso ou aquilo para que eu escrevesse isso ou aquilo e isso já basta para mim, saber que nunca ninguém pagou as minhas contas...”

Ela também não gosta quando alguém sugere coi-sas como: “A Adriana é perigosa.” “Eu nunca puxei o tapete de ninguém, nunca agi pelas costas”, procla-ma. Sabe que tem alguns inimigos, “em compensação tenho amigos em vários lugares. Inclusive pessoas que pertencem a grupos políticos diversos daqueles com os quais tenho ligações mais fortes. Tem muita gente que eu gosto nos outros lados. Meus amigos de verdade sabem disso. Só tem medo de mim quem não me conhece e só pensa bobagens”, desabafa.

“Eu costumo pesquisar minhas informações até o fim. Só trabalho com fontes confiáveis. Cito fatos e cito fontes. Isso, claro, se as fontes quiserem ou pu-derem ser citadas e me liberarem.”

Adriana está lançando seu novo site, o DriCarva-lho (dricarvalho.com.br). “Custa dez vezes menos.

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Sim, meu sonho sempre foi ficar rica, mas já vi que isso não vai dar certo”, ri. “Não nasci rica, não casei com alguém rico, meu filho Pedro Gabriel está cur-sando o último ano do ensino médio e quer estudar publicidade, cinema, coisas do ramo. Acho bom.”

Sua luta é contra notícias inverídicas. “Nesses tem-pos de internet fica difícil trabalhar. O problema da internet é que pessoas irresponsáveis intervém no processo e divulgam notícias inverídicas. Dia des-ses alguém me passou a informação do roubo de um carro com um criança dentro. Mandaram até a foto do carro, com placas e tudo. Fui confirmar e era tudo mentira. Imediatamente coloquei essa informação para tudo quanto é canal mais próximo e alertei: não divulguem pois é mentira. Realmente o roubo ha-via acontecido, mas no Rio de Janeiro e já há algum tempo. Alguém, mais ordinário resolveu colocar na internet com ares de verdade. Foi uma brincadeira de amigos. Coisa de imbecil.”

Adriana se queixa do jornalismo atual. “Os jorna-listas de hoje já não apuram mais nada”, afirma. Ou-tra queixa? Assessoria. “É bom ser assessor político, ganha-se um bom salário, mas é frustrante. Enfim, a política me incomoda...”, diz. “Continuo acredi-tando na internet, no meu trabalho, continuo com a mesma garra, com a mesma vontade. Não existe nada como escrever e ler. O que a gente escreve fica gravado. Minha vida é a comunicação, não sei fazer outra coisa, não vou fugir disso.”

E Adriana volta a trabalhar no seu site com cari-nho redobrado. Alguém mais quer brigar com ela? ■