artigo cerrado

22
1 Universidade de São Paulo, Departamento de Botânica, Laboratório de Sistemática Vegetal, São Paulo, SP, Brasil 2 Autor para correspondência: [email protected] Fisionomia e composição da vegetação florestal na Serra do Cipó, MG, Brasil RESUMO (Fisionomia e composição da vegetação florestal na Serra do Cipó, MG, Brasil). A flora da Serra do Cipó tem sido extensamente pesquisada, especialmente a partir do início do projeto “Flora da Serra do Cipó”, coordenada pelo Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo. Entretanto, até o momento as coletas concentraram-se à oeste da Serra. Os objetivos deste trabalho são discutir os padrões de fitofisionomia e composição da flora arbórea da Serra do Cipó, analisar a contribuição da flora da porção leste ao corpo de conhecimento florístico da Serra do Cipó e discutir a classificação da porção leste com relação aos domínios fitogeográficos da Mata Atlântica e do Cerrado. Foram computadas as espécies levantadas por um estudo anterior na porção leste da Serra, bem como aquelas levantadas pelo projeto “Flora da Serra do Cipó”, predominantemente à oeste da Serra. Foram encontradas 530 espécies arbó- reas, sendo 88 espécies em comum, 250 espécies exclusivas do oeste e 192 espécies exclusivas do leste. Os resultados mostram a heterogeneidade florística das florestas da Serra do Cipó, que é correlacionada com sua heterogeneidade ambiental, principalmente a litologia e a altitude. A porção leste da Serra do Cipó, incluída no domínio da Mata Atlântica, apresenta transições relativamente abruptas para o campo rupestre, muitas vezes intermeadas por candeais. Palavras-chave: Cadeia do Espinhaço, fitogeografia, florística, Mata Atlântica Matheus Fortes Santos 1,2 , Herbert Serafim 1 e Paulo Takeo Sano 1 ABSTRACT (Physiognomy and composition of the forest vegetation in the Serra do Cipó, MG, Brazil). e flora of the Serra do Cipó has been extensively studied, especially since the start of the “Flora da Serra do Cipó” project, coordinated by the Departamento de Botânica of the Universidade de São Paulo. However, until now collections have been concentrated in the western part of this region. e goals of this work were to discuss the phytophysiognomy and composition patterns of the arboreal flora of the Serra do Cipó, analyze the contribution of the flora of the eastern portion of the Serra do Cipó to the entire flora of this region and to discuss the classification of the eastern portion in regards to the Atlantic Forest and Cerrado phytogeographical domains. e species found by a previous study in the eastern portion of the Serra were analyzed, as well as those surveyed by the project “Flora da Serra do Cipó,” which are predomi- nantly from the western part of this region. Five hundred and thirty arboreal species were encountered, 88 common in both regions, 250 exclusive to the western part and 192 exclusive to the eastern part. Results revealed the floristic heterogeneity of forests in the Serra do Cipó, which is correlated to its disparate environment and is mainly related to its lithology and elevation. e eastern portion of the Serra do Cipó, which is part of the Atlantic Forest domain, presents a relatively abrupt transition to campo rupestre, and is oſten intermingled with candeais. Key words: Atlantic Forest, Espinhaço Range, floristic, phytogeography Recebido em 11/04/2011. Aceito em 14/09/2011 Acta Botanica Brasilica 25(4): 793-814. 2011. Introdução A Cadeia do Espinhaço tem atraído, desde o século XIX, a atenção de muitos naturalistas e, desde então, vários estu- dos sobre sua flora foram publicados, majoritariamente na segunda metade do século XX (Giulietti et al. 1987). Entre esses trabalhos, destacam-se os projetos desenvolvidos na Serra do Cipó (Giulietti et al. 1987), Grão-Mogol (Pirani et al. 2003), estes na porção mineira do Espinhaço, Mucugê (Harley & Simmons 1986), Pico das Almas (Stannard 1995) e Catolés (Zappi et al. 2003), estes na porção baiana da Cadeia do Espinhaço. Na Serra do Cipó, entre os trabalhos pioneiros estão os efetuados por Silveira (1908), citando aspectos geológicos, hidrográficos e vegetacionais, e por Magalhães (1954), fornecendo uma lista com 234 espécies de angiospermas

Upload: leticia

Post on 06-Nov-2015

39 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Artigo Cerrad

TRANSCRIPT

  • 1 Universidade de So Paulo, Departamento de Botnica, Laboratrio de Sistemtica Vegetal, So Paulo, SP, Brasil2 Autor para correspondncia: [email protected]

    Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil

    RESUMO(Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil). A fl ora da Serra do Cip tem sido extensamente pesquisada, especialmente a partir do incio do projeto Flora da Serra do Cip, coordenada pelo Departamento de Botnica da Universidade de So Paulo. Entretanto, at o momento as coletas concentraram-se oeste da Serra. Os objetivos deste trabalho so discutir os padres de fi tofi sionomia e composio da fl ora arbrea da Serra do Cip, analisar a contribuio da fl ora da poro leste ao corpo de conhecimento fl orstico da Serra do Cip e discutir a classifi cao da poro leste com relao aos domnios fi togeogrfi cos da Mata Atlntica e do Cerrado. Foram computadas as espcies levantadas por um estudo anterior na poro leste da Serra, bem como aquelas levantadas pelo projeto Flora da Serra do Cip, predominantemente oeste da Serra. Foram encontradas 530 espcies arb-reas, sendo 88 espcies em comum, 250 espcies exclusivas do oeste e 192 espcies exclusivas do leste. Os resultados mostram a heterogeneidade fl orstica das fl orestas da Serra do Cip, que correlacionada com sua heterogeneidade ambiental, principalmente a litologia e a altitude. A poro leste da Serra do Cip, includa no domnio da Mata Atlntica, apresenta transies relativamente abruptas para o campo rupestre, muitas vezes intermeadas por candeais.

    Palavras-chave: Cadeia do Espinhao, fi togeografi a, fl orstica, Mata Atlntica

    Matheus Fortes Santos1,2, Herbert Serafi m1 e Paulo Takeo Sano1

    ABSTRACT(Physiognomy and composition of the forest vegetation in the Serra do Cip, MG, Brazil). Th e fl ora of the Serra do Cip has been extensively studied, especially since the start of the Flora da Serra do Cip project, coordinated by the Departamento de Botnica of the Universidade de So Paulo. However, until now collections have been concentrated in the western part of this region. Th e goals of this work were to discuss the phytophysiognomy and composition patterns of the arboreal fl ora of the Serra do Cip, analyze the contribution of the fl ora of the eastern portion of the Serra do Cip to the entire fl ora of this region and to discuss the classifi cation of the eastern portion in regards to the Atlantic Forest and Cerrado phytogeographical domains. Th e species found by a previous study in the eastern portion of the Serra were analyzed, as well as those surveyed by the project Flora da Serra do Cip, which are predomi-nantly from the western part of this region. Five hundred and thirty arboreal species were encountered, 88 common in both regions, 250 exclusive to the western part and 192 exclusive to the eastern part. Results revealed the fl oristic heterogeneity of forests in the Serra do Cip, which is correlated to its disparate environment and is mainly related to its lithology and elevation. Th e eastern portion of the Serra do Cip, which is part of the Atlantic Forest domain, presents a relatively abrupt transition to campo rupestre, and is oft en intermingled with candeais.

    Key words: Atlantic Forest, Espinhao Range, fl oristic, phytogeography

    Recebido em 11/04/2011. Aceito em 14/09/2011

    Acta Botanica Brasilica 25(4): 793-814. 2011.

    IntroduoA Cadeia do Espinhao tem atrado, desde o sculo XIX,

    a ateno de muitos naturalistas e, desde ento, vrios estu-dos sobre sua fl ora foram publicados, majoritariamente na segunda metade do sculo XX (Giulietti et al. 1987). Entre esses trabalhos, destacam-se os projetos desenvolvidos na Serra do Cip (Giulietti et al. 1987), Gro-Mogol (Pirani et

    al. 2003), estes na poro mineira do Espinhao, Mucug (Harley & Simmons 1986), Pico das Almas (Stannard 1995) e Catols (Zappi et al. 2003), estes na poro baiana da Cadeia do Espinhao.

    Na Serra do Cip, entre os trabalhos pioneiros esto os efetuados por Silveira (1908), citando aspectos geolgicos, hidrogrfi cos e vegetacionais, e por Magalhes (1954), fornecendo uma lista com 234 espcies de angiospermas

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Matheus Fortes Santos, Herbert Serafi m e Paulo Takeo Sano

    794

    da regio. Em 1972, o pesquisador Aylthon Brando Joly planejou e iniciou o projeto de levantamento da fl ora local (projeto Flora da Serra do Cip), com a participao de pesquisadores de diversas instituies nacionais e interna-cionais. Tais esforos resultaram em um grande nmero de publicaes na rea da botnica, principalmente tratamen-tos taxonmicos para diversos grupos vegetais, publicados no Boletim de Botnica da Universidade de So Paulo.

    A regio, assim como toda Cadeia do Espinhao, reco-nhecida pela grande biodiversidade e endemismos (Giulietti et al. 1987; Giulietti & Pirani 1988; Harley 1995; Pirani et al. 2003). Na listagem de espcies apresentada por Giulietti et al. (1987), contavam-se ca. 1590 espcies de plantas vas-culares, das quais muitas eram citadas como endmicas do Espinhao ou mesmo da Serra do Cip. Confrontando a lista de Giulietti et al. (1987) com monografi as mais recentes para a Serra do Cip, observa-se um acrscimo substancial no nmero de espcies em vrias famlias (Rapini et al. 2008).

    Entretanto, pelo fato de as coletas na Serra do Cip te-rem se concentrado na poro oeste, a vegetao ao leste da Serra ainda bastante desconhecida, havendo pouqussimas coletas na regio (Giulietti et al. 1987; Madeira et al. 2008; Ribeiro et al. 2009). Entre as famlias j inventariadas para a Serra do Cip, o que se observa que os materiais examina-dos no provm da rea leste, denotando a falta de estudos de sua composio fl orstica (Madeira et al. 2008; Ribeiro et al. 2009). Tal fato certamente representa uma grande lacuna nos conhecimentos fl orsticos sobre a regio, pois, apesar de a Serra do Cip ser extensamente pesquisada, faltam informaes bsicas sobre grande parte de sua vegetao.

    Em vista de tal desconhecimento, a direo do Parque Nacional da Serra do Cip orientou esforos com relao pesquisa na poro leste da Serra, buscando, inclusive, gerar dados robustos para classifi car adequadamente sua vegetao em relao aos domnios fi togeogrfi cos da Mata Atlntica e do Cerrado. O levantamento fl orstico arbreo feito por Santos (2009), em uma rea da poro leste da Serra do Cip (Fig. 1, Fig. 2A, Fig. 2B), est includo dentro desses esforos, inclusive com parte dos dados incorporada ao plano de manejo do Parque.

    Diante desse cenrio, este trabalho tem como objetivos: 1) discutir padres de fi tofi sionomia e composio da fl ora arbrea na Serra do Cip em suas pores leste e oeste; 2) analisar a contribuio da fl ora arbrea da poro leste ao conhecimento fl orstico da Serra do Cip; 3) somar dados discusso da classifi cao da poro leste com relao aos domnios fi togeogrfi cos da Mata Atlntica e do Cerrado.

    Material e mtodosO conceito de Serra do Cip

    Tradicionalmente, a poro leste no era reconhecida como parte dessa Serra. Segundo Giulietti et al. (1987), a Serra do Cip delimitada pelo rio Cip e seus afl uentes do

    leste, especialmente o Rio Parana, compreendendo assim as reas montanhosas situadas entre as Serras das Bandei-rinhas (municpio de Santana do Riacho), ao sul, e as serras prximas de Gouveia, ao norte. Inclusive, no planejamento apresentado por Giulietti et al. (1987), as coletas do projeto Flora da Serra do Cip foram direcionadas poro mais ao sul, no municpio de Santana do Riacho (1912-19 20S e 4330-43 40W), onde a estrada Belo Horizonte Conceio do Mato Dentro (MG-10) atravessa essa Serra.

    Neste trabalho, foi adotada uma delimitao mais abran-gente da Serra do Cip, incluindo tambm sua face leste, para incrementar o conhecimento fl orstico sobre toda a regio, discutindo os novos dados e suas implicaes. Dessa forma, a Serra do Cip aqui defi nida como a rea abrangida por toda regio do Parque Nacional da Serra do Cip (31.632 ha) e da rea de Proteo Ambiental Morro da Pedreira (100107 ha), incluindo as pores elevadas de altitudes entre 800-1550 m dos municpios de Itamb do Mato Dentro, Jaboticatubas, Morro do Pilar, Santana do Riacho, Nova Unio, Itabira, Ta-quaruu de Minas e Conceio do Mato Dentro (seguindo Gontijo 1993; Madeira et al. 2008; Ribeiro et al. 2009) (Fig. 1). Gontijo (1993), estudando a geomorfologia da Serra do Cip, aborda uma extenso semelhante defi nio citada e, apesar de no defi nir estritamente os limites da Serra, trata toda ela como uma unidade. A defi nio mostra-se satisfa-tria e mais precisa do ponto de vista geomorfolgico e, por isso, adotada neste trabalho.

    Aspectos naturais

    A Cadeia do Espinhao Meridional (Saadi 1995), onde est localizada a Serra do Cip, edifi cada principalmente em litologias do Supergrupo Espinhao, que apresenta predominncia de rochas quartzticas em sua composio (Almeida-Abreu 1995; Saadi 1995). Devido constituio essencialmente quartztica, de alta resistncia aos processos erosivos, o Espinhao Meridional permanece como um dos mais antigos divisores de guas da plataforma brasileira (Gontijo 1993), separando os afl uentes da margem direita do Rio So Francisco das bacias que irrigam o leste mineiro, como a bacia do Rio Doce (Saadi 1995).

    Os solos desenvolvidos sobre os quartzitos da Serra do Cip, de maneira geral, so rasos, arenosos, pobres em nutrientes e com baixa capacidade de reteno de gua, encontrando-se como uma camada de pavimento dendrtico com cascalhos angulosos, entremeados por areia branca (Gontijo 1993; Silva 2005). Nas reas em que se encontram outros grupos litolgicos, cujas caractersticas favoream o intemperismo, so encontrados pacotes espessos de Latos-solos Amarelo, Vermelho e Vermelho-Amarelo e tambm Cambissolos (Gontijo 1993; Ribeiro et al. 2009).

    O clima em toda Serra do Cip do tipo Cwb de Kppen (1948), com veres muito chuvosos e invernos secos, precipitao concentrada entre novembro e maro e mdia anual de 1500 mm, havendo, porm, uma variao com relao s vertentes leste e oeste, j que nebulosidade

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil

    795

    quase constante prevalece nas vertentes orientais, enquanto as vertentes ocidentais enfrentam at sete meses de seca. (Ribeiro et al. 2009). Nas partes mais elevadas da Serra a umidade tambm maior, pois o relevo favorece a formao de baixos estratos, nuvens, garoas e neblinas durante quase todo o ano (Gontijo 1993).

    O Espinhao Meridional apresenta-se como um limite, relativamente abrupto, entre o domnio da Mata Atlntica e o domnio do Cerrado e, consequentemente, as elevaes da Serra do Cip tambm fazem a delimitao entre estes dois domnios fi togeogrfi cos (IBGE 1993; Scolforo & Carvalho

    2006; Ribeiro et al. 2009; veja tambm a discusso). Assim, a regio marcada por um grande contraste de fi tofi sio-nomias de leste para oeste, acentuada pela variedade de condies fi siogrfi cas (Giulietti et al. 1987). Nas pores elevadas, sobre rochas quartzticas, predominam os Campos Rupestres, ocorrendo em geral acima de 900 m de altitude, apresentando um estrato herbceo contnuo, caracterizado por espcies de Poaceae, Cyperaceae, Eriocaulaceae e Xyri-daceae, entre outros grupos (Giulietti et al. 1987) (Fig. 2B, Fig. 2C). oeste, em altitudes mais baixas (800-1000 m), ocorrem manchas de Cerrado (Giulietti et al. 1987) que,

    Figura 1. Localizao aproximada da Serra do Cip, que corresponde rea em cinza nos municpios de Itamb do Mato Dentro (I), Jaboticatubas (II), Morro do Pilar (III), Santana do Riacho (IV), Nova Unio (V), Itabira (VI), Taquaruu de Minas (VII) e Conceio do Mato Dentro (VIII). O local estudado por Santos (2009) na poro leste da Serra marcado por um tringulo. A regio na poro oeste da Serra onde foi realizada a maior parte das coletas botnicas destacada pela linha quadriculada.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Matheus Fortes Santos, Herbert Serafi m e Paulo Takeo Sano

    796

    do Cip, foi computada a fl ora arbrea total levantada por Santos (2009), considerada a representao da fl ora arbrea da poro leste da Serra do Cip, e a fl ora arbrea levantada at o momento pelo projeto Flora da Serra do Cip, coor-denado pelo Departamento de Botnica da Uiversidade de So Paulo, considerada a representao da fl ora arbrea da poro oeste da Serra do Cip.

    Santos (2009) efetuou o levantamento da fl ora arbrea da regio conhecida como Cabea de Boi (municpio de Itamb do Mato Dentro) pelo mtodo de ponto-quadrante (Cottam & Curtis 1956) em dois fragmentos (com 400 indivduos amostrados em cada um) e por coletas assiste-mticas por toda rea (que conta com ca. de 800 ha). No total, o estudo de Santos (2009) amostrou 282 espcies e mais de 1000 indivduos.

    As coletas do projeto Flora da Serra do Cip foram efe-tuadas predominantemente oeste da Serra, na regio onde a estrada MG-10 a atravessa (Giulietti et al. 1987; Madeira et al. 2008). Tais dados foram obtidos por meio dos tratamentos

    aps o fi m das elevaes da Serra, torna-se a fi tofi sionomia predominante (Fig. 2D).

    Nas reas quartzticas, a ocorrncia de fl orestas restrita s matas riprias, no entorno dos cursos dgua, ou aos ca-pes (fl oresta estacional semidecidual alto-montana, sensu Veloso et al. 1991, modifi cado por Oliveira-Filho & Fontes 2000), localizados entre o reverso e o contato de escarpas, onde o declive suave e as rampas de colvio propiciam solos mais profundos e com maior disponibilidade hdrica (Rizzi-ni 1979; Giulietti et al. 1987; Gontijo, com. pess. in Campos 1995) (Fig. 2C). Alm disso, ocorrem reas fl orestais onde afl oram outras litologias (e.g., embasamento cristalino) cujas caractersticas permitem o desenvolvimento de solos mais profundos e possibilitam o estabelecimento de uma vegeta-o fl orestal extensa (Almeida-Abreu et al. 2005) (Fig. 2A).

    Metodologia

    Para discutir os padres da fl ora arbrea e verifi car a contribuio da fl ora do leste no mbito da Flora da Serra

    Figura 2. Paisagens e fi tofi sionomias na Serra do Cip. A. rea de estudo leste da Serra do Cip vista a partir do alto da escarpa. Note em cinza os afl oramentos quartzticos. reas fl orestais (ntegras ou desmatadas) ocorrem sobre outras litologias. B. Candeal na parte alta da encosta da rea leste da Serra do Cip. No alto, a paisagem composta predominantemente pelo campo rupestre, que segue continuamente at o oeste da Serra do Cip. Nas partes baixas, a paisagem dominada por fl orestas ou reas desmatadas. C. Campo rupestre permeado por reas fl orestais (capes) no alto da Serra do Cip. D. Vegetao de Cerrado oeste da Serra do Cip. Ao fundo, as elevaes quartzticas onde so encontrados os campos rupestres (Fotos: M.F. Santos).

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil

    797

    fl orsticos j realizados (85 famlias j publicadas no Boletim de Botnica da Universidade de So Paulo), monografi as no-publicadas (Shimizu 2009; Borges 2010; Mello-Silva, dados inditos) e, para famlias sem tratamento fl orstico, pela listagem de espcies de Giulietti et al. (1987). At o momento, foram registradas neste projeto ca. 163 famlias (das quais ca. 65 apresentam espcies arbreas), ca. de 2000 espcies (das quais ca. de 330 arbreas) e mais de 14000 espcimes cole-tados. Esses nmeros referentes s amostragens nas pores leste e oeste demonstram a robustez dos levantamentos feitos e a consequente efetividade da comparao.

    Com base nesses dados, foram discriminados os txons arbreos em comum e os exclusivos das pores leste e oeste. Foram includas como arbreas as espcies citadas por Oliveira-Filho (2006) no levantamento da fl ora arbrea nativa de Minas Gerais. As delimitaes de famlia adotadas seguiram a proposta do APG II (2003) para Angiospermas e Smith et al. (2006) para Pteridfi tas. Os binmios utilizados para as espcies foram baseados em Oliveira-Filho (2006), exceto quando confl itantes com revises recentes (a partir de 2006) ou com o parecer dos especialistas consultados.

    Dados de habitat e distribuio, referentes apenas ao estado de Minas Gerais, foram extrados de Oliveira-Filho (2006), de revises taxonmicas recentes e dos levantamen-tos fl orsticos realizados para a fl ora da Serra do Cip. Tais dados registram a ocorrncia das espcies em fi tofi siono-mias fl orestais (fl oresta ombrfi la densa, fl oresta ombrfi la mista, fl oresta estacional semidecidual, fl oresta estacional decidual, fl oresta de galeria) e fi tofi sionomias abertas (Cer-rado e campo rupestre). Para verifi car a distribuio destas espcies por fi tofi sionomia e assegurar que a comparao entre espcies arbreas estava sendo feita exclusivamente para espcies florestais, foram contabilizadas, para as pores leste e oeste, as espcies exclusivas de formaes fl orestais, exclusivas de formaes abertas e comuns a ambas fi tofi sionomias. importante ressaltar que a fi tofi sionomia onde a espcie ocorre independente do domnio fi toge-ogrfi co onde ela ocorre (e.g., espcie que ocorre em uma fi tosionomia fl orestal no Cerrado, um domnio savnico). Os conceitos de fi tofi sionomia (ou formao vegetal) e do-mnio fi togeogrfi co utilizados neste estudo seguem aqueles apresentados por Coutinho (2006).

    Alm da utilizao do levantamento fl orstico de Santos (2009) para a classifi cao da poro leste com relao aos domnios da Mata Atlntica e Cerrado, foram utilizadas ob-servaes de campo como critrio auxiliar, principalmente verifi cando a extenso e conexo das reas fl orestais da regio.

    Resultados e discussoComposio fl orstica geral

    Um total de 530 espcies arbreas foi registrado, at o momento, para a Serra do Cip. Esse nmero representa a soma das espcies referidas para a poro oeste e para

    poro leste da Serra (Tab. 1). Deste total, h 88 espcies em comum (16,6%), 250 exclusivas da poro oeste (47,2%) e 192 exclusivas da poro leste (36,2%) (Tab. 2).

    Dentre as espcies em comum, 50 espcies so exclusivas de formaes fl orestais (56,8%), nenhuma exclusiva de formaes abertas (ie., Cerrado e campo rupestre) e 38 so comuns para ambas fi tofi sionomias (43,2%) (Tab. 3). Dentre as espcies exclusivas da poro oeste, 110 so exclusivas de formaes fl orestais (44%), 14 so exclusivas de formaes abertas (5,6%) e 126 so comuns para ambas fi tofi sionomias (50,4%) (Tab. 3). Dentre as espcies exclusivas da poro leste, 162 so exclusivas de formaes fl orestais (84,3%), nenhuma exclusiva de formaes abertas e 30 so comuns para ambas fi tofi sionomias (15,8%) (Tab. 3).

    Caractersticas da vegetao fl orestal leste da Serra do Cip

    A classifi cao das formaes vegetais na poro leste da Serra do Cip vem sendo aprimorada, j que estudos anteriores baseados em sensoriamento remoto citavam esta rea como inclusa no domnio do Cerrado (IBGE 1993; Scolforo & Carvalho 2006). Ribeiro et al. (2009) afi rmam que tal classifi cao errnea, devido a problemas metodo-lgicos e que os novos dados mostram que a rea deve ser vista como parte do domnio da Mata Atlntica, sugerindo o divisor das bacias do Rio Doce e Rio So Francisco como o divisor destes domnios (Mata Atlntica e Cerrado).

    Com relao fi tofi sionomia, de fato, as observaes de campo sobre a extenso das fl orestas leste mostram a continuidade desta rea com o domnio da Mata Atlntica. Isto porque no se trata de uma poro fl orestal inclusa em uma formao savnica ou campestre (e.g., Floresta de Galeria, Capo), mas de uma formao fl orestal extensa. Observando a feio geomorfolgica da regio, nota-se que h pores restritas de afl oramentos quartzticos, onde predomina o campo rupestre, envoltas por extensas reas fl orestais ntegras ou desmatadas, em solos derivados de outra litologia (Fig. 2A). Como j afi rmaram outros autores para reas leste da Cadeia do Espinhao como um todo (Campos 1926; Spix & Martius apud Guimares 1991), as fl orestas do leste da Serra do Cip eram, no passado, con-tnuas com as fl orestas da bacia do Rio Doce at a costa.

    Com relao composio, alm da grande afi nidade fl orstica com outros levantamentos fl orsticos no domnio da Mata Atlntica (Santos et al., no prelo), h o predom-nio de espcies exclusivamente fl orestais (Tab. 3), muitas delas endmicas da Mata Atlntica. Entre as endmicas, podem ser citadas: Carpotroche brasiliensis (Achariaceae), Trattinnickia ferruginea (Burseraceae), Maytenus brasi-liensis (Celastraceae), Tovomita leucantha (Clusiaceae), Cryptocarya mandioccana (Lauraceae), Ocotea beyrichii (Lauraceae), Pseudopiptadenia leptostachya (Legumi-nosae), Eriotheca macrophylla (Malvaceae), Miconia budlejoides (Melastomataceae), Campomanesia laurifolia (Myrtaceae), Eugenia nutans (Myrtaceae), Tetrastylidium grandifolium (Olacaceae), Psychotria nuda (Rubiaceae)

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Matheus Fortes Santos, Herbert Serafi m e Paulo Takeo Sano

    798

    Tabela 1. Lista geral das espcies arbreas encontradas at o momento na Serra do Cip. So indicadas: ocorrncia (leste x oeste) e distribuio em formaes vege-tais. Legenda: W=ocorre na poro oeste da Serra do Cip, E=ocorre na poro leste da Serra do Cip. FOD=Floresta Ombrfi la Densa, FOM=Floresta Ombrfi la Mista, FES=Floresta Estacional Semidecidual, FG=Floresta de Galeria, FED=Floresta Estacional Decidual, CER=Cerrado, CR=Campo Rupestre.

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    ACHARIACEAECarpotroche brasiliensis (Raddi) Endl. X X

    ANACARDIACEAEAstronium fraxinifolium Schott ex Spreng. X X X X XLithraea molleoides (Vell.) Engl. X X X X X XTapirira guianensis Aubl. X X X X X X XTapirira obtusa (Benth.) J.D.Mitch. X X X X XTh yrsodium spruceanum Salzm. ex Benth. X X

    ANNONACEAEAnnona cacans Warm. X X X X XAnnona crassifl ora Mart. X X X XAnnona laurifolia (Schltdl.) H.Rainer X X X XAnnona sylvatica A.St.-Hil. X X X X XDuguetia lanceolata A.St.-Hil. X X X XGuatteria pohliana Schltdl. X X XGuatteria rupestris Mello-Silva & Pirani X XGuatteria sellowiana Schltdl. X X X X X XGuatteria villosissima A.St.-Hil. X X X XXylopia aromatica (Lam.) Mart. X X X X XXylopia brasiliensis Spreng. X X X XXylopia emarginata Mart. X X X XXylopia sericea A.St.-Hil. X X X X X X

    APOCYNACEAEAspidosperma australe Mll.Arg. X X X X XAspidosperma cylindrocarpon Mll.Arg. X X X X XAspidosperma spruceanum Benth. ex Mll.Arg. X X X XAspidosperma subincanum Mart. ex A.DC. X X X X XAspidosperma tomentosum Mart. X XHancornia speciosa Gomes X X X XHimatanthus bracteatus (A.DC.) Woodson X XHimatanthus obovatus (Mll.Arg.) Woodson X X XTabernaemontana hystrix (Steud.) A.DC. X X X

    AQUIFOLIACEAEIlex affi nis Gardner X X X X X XIlex conocarpa Reissek X X X X X X XIlex dumosa Reissek X X X X XIlex lundii Warm. X XIlex paraguariensis A.St.-Hil. X X X XIlex pseudobuxus Reissek X XIlex theezans Mart. ex Reissek X X X X

    ARALIACEAEDendropanax cuneatus (DC.) Decne. & Planch. X X X X XScheffl era calva (Cham.) Frodin & Fiaschi X X X X XScheffl era glaziovii (Taub.) Frodin & Fiaschi X XScheffl era macrocarpa (Cham. & Schltdl.) Frodin X X X X XScheffl era morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin X X XScheffl era aff . varisiana Frodin X XScheffl era vinosa (Cham. & Schltdl.) Frodin & Fiaschi X X X X

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil

    799

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    ARECACEAEAcrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. X X X X XAttalea oleifera Barb.Rodr. X XGeonoma brevispatha Barb.Rodr. X XGeonoma schottiana Mart. X X XSyagrus fl exuosa (Mart.) Becc. X X X XSyagrus glaucescens Glaz. ex Becc. X X XSyagrus romanzoffi ana (Cham.) Glassman X X X X

    ASTERACEAEBaccharis oblongifolia (Ruiz & Pav.) Pers. X X X X XChromolaena laevigata (Lam.) R.M.King & H.Rob. X XDasyphyllum brasiliense (Spreng.) Cabrera X X X X X XEremanthus crotonoides (DC.) Sch.Bip. X X X XEremanthus eleagnus (Mart. ex DC.) Sch.Bip. X X XEremanthus erythropappus (DC.) MacLeish X X X X X X XEremanthus glomerulatus Less. X X X XEremanthus incanus (Less.) Less. X X X X X X XEremanthus polycephalus (DC.) MacLeish X X XGochnatia hatschbachii Cabrera X X XGochnatia paniculata (Less.) Cabrera X X X X XGochnatia sp. X XHeterocondylus vauthierianus (DC.) R.M.King & H.Rob. X X XMoquinia racemosa (Spreng.) DC. X X XPiptocarpha macropoda Baker X X X X XStifft ia parvifl ora D.Don. X X XSymphyopappus compressus (Gardner) B.L.Rob. X X XVernonanthura diff usa (Less.) H.Rob. X X X X XWunderlichia mirabilis Riedel ex Baker X X X

    BIGNONIACEAECybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. X X X X X XHandroanthus albus (Cham.) Mattos X X X XHandroanthus ochraceus (Cham.) Mattos X X X X X XHandroanthus vellosoi (Toledo) Mattos X X X XJacaranda caroba (Vell.) A.DC. X X X XJacaranda macrantha Cham. X X X XSparattosperma leucanthum (Vell.) K.Schum. X XTabebuia aurea (Manso) Benth. & Hook.f. ex S.Moore X XTabebuia obtusifolia (Cham.) Bureau X XZeyheria montana Mart. X XZeyheria tuberculosa (Vell.) Bureau X X X X X

    BORAGINACEAECordia sellowiana Cham. X X X X X

    BURSERACEAEProtium brasiliense (Spreng.) Engl. X X XProtium heptaphyllum (Aubl.) Marchand X X X X X XProtium spruceanum (Benth.) Engl. X X X X XTrattinnickia ferruginea Kuhlm. X X

    CACTACEAEPilosocereus fl occosus (Backeb. & Voll) Byles & G.D.Rowley X X X

    Tabela 1. Continuao.

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Matheus Fortes Santos, Herbert Serafi m e Paulo Takeo Sano

    800

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    CANNABACEAECeltis iguanaea (Jacq.) Sarg. X X X XTrema micrantha (L.) Blume X X X X X X

    CARDIOPTERIDACEAECitronella paniculata (Mart.) R.A.Howard X X X X

    CARICACEAEJacaratia heptaphylla (Vell.) A.DC. X X

    CARYOCARACEAECaryocar brasiliense Cambess. X X X X

    CELASTRACEAECheiloclinium cognatum (Miers.) A.C.Sm. X X X X XMaytenus brasiliensis Mart. X XMaytenus cf. communis Reissek X X XMaytenus robusta Reissek X X X X X XMaytenus salicifolia Reissek X X X XPeritassa fl avifl ora A.C.Sm. X X XPlenckia populnea Reissek X X X X XSalacia elliptica (Mart. ex Schult.) G.Don X X X X X

    CHLORANTHACEAEHedyosmum brasiliense Miq. X X X X X

    CHRYSOBALANACEAECouepia grandifl ora (Mart. & Zucc.) Benth. ex Hook.f. X X XHirtella glandulosa Spreng. X X X X XHirtella gracilipes (Hook.f.) Prance X X X X XHirtella hebeclada Moric. ex DC. X X XLicania cf. belemii Prance X XLicania hoehnei Pilg. X XLicania kunthiana Hook.f. X X XLicania octandra (Hoff manns. ex Roem. & Schult.) Kuntze X X X X

    CLETHRACEAEClethra scabra Pers. X X X X X X X

    CLUSIACEAECalophyllum brasiliense Cambess. X X X XClusia criuva Cambess. X X X X XKielmeyera coriacea Mart. & Zucc. X X X X XKielmeyera grandifl ora (Wawra) Saddi X XKielmeyera lathrophyton Saddi X X XKielmeyera petiolaris Mart. X X X X XTovomita leucantha (Schltdl.) Cham. & Triana X XTovomitopsis paniculata (Spreng.) Planch. & Triana X X

    COMBRETACEAEBuchenavia hoehneana N.F.Mattos X X X X XBuchenavia tetraphylla (Aubl.) R.A.Howard X X X XTerminalia argentea (Cambess.) Mart. X X X X XTerminalia glabrescens Mart. X X X X X X

    CONNARACEAERourea induta Planch. X X X

    CUNONIACEAELamanonia ternata Vell. X X X X X XWeinmannia discolor Gardner X X X X

    Tabela 1. Continuao.

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil

    801

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    CYATHEACEAECyathea corcovadensis (Raddi) Domin X X X X XCyathea delgadii Sternb. X X X X X XCyathea phalerata Mart. X X X XCyathea villosa Willd. X X X XSphaeropteris gardneri (Hook.) Tryon X X X X

    DILLENIACEAEDavilla elliptica A.St.-Hil. X X

    EBENACEAEDiospyros hispida A.DC. X X X X X

    ELAEOCARPACEAESloanea guianensis (Aubl.) Benth. X X X XSloanea obtusifolia (Moric.) K.Schum. X X

    ERICACEAEAgarista eucalyptoides (Cham. & Schltdl.) G.Don X X X X XAgarista oleifolia (Cham.) G.Don X X X X XGaylussacia brasiliensis (Spreng.) Mart. X X X X

    ERYTHROXYLACEAEErythroxylum daphnites Mart. X X X X XErythroxylum deciduum A.St.-Hil. X X X X X X XErythroxylum gonoclados (Mart.) O.E.Schulz X X X XErythroxylum pelleterianum A.St.-Hil. X X XErythroxylum suberosum A.St.-Hil. X XErythroxylum subrotundum A.St.-Hil. X X XErythroxylum tortuosum Mart. X XErythroxylum vaccinifolium Mart. X X X X

    EUPHORBIACEAEAlchornea glandulosa Poepp. & Endl. X X X X XAlchornea triplinervia (Spreng.) Mll.Arg. X X X X X XAparisthmium cordatum (Juss.) Baill. X X XCroton fl oribundus Spreng. X X X X X XCroton lagoensis Mll.Arg. X XCroton urucurana Baill. X X X XCroton verrucosus Radcl.-Sm. & Govaerts X X X XGymnanthes klotzschiana Mll.Arg. X X X XMabea fi stulifera Mart. X X XMaprounea guianensis Aubl. X X X X XPera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. X X X X X X XSapium glandulosum (L.) Morong X X X X X X X X

    HUMIRIACEAEHumiria balsamifera Aubl. X X XHumiriastrum glaziovii (Urb.) Cuatrec. X X XVantanea obovata (Nees & Mart.) Benth. X X X

    HYPERICACEAEVismia brasiliensis Choisy X X X X

    LACISTEMATACEAELacistema pubescens Mart. X X

    LAMIACEAEAegiphila lhotskiana Cham. X X X XAegiphila obducta Vell. X X X X

    Tabela 1. Continuao.

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Matheus Fortes Santos, Herbert Serafi m e Paulo Takeo Sano

    802

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    Aegiphila sellowiana Cham. X X X X X X X XHyptidendron asperrimum (Epling) Harley X X X XVitex polygama Cham. X X X X X X XVitex sellowiana Cham. X X X

    LAURACEAEAiouea saligna Meisn. X X X XAniba sp. 1 X XAniba sp. 2 X XBeilschmiedia sp. X XCryptocarya mandioccana Meisn. X X XEndlicheria glomerata Mez X X XEndlicheria paniculata (Spreng.) J.F.Macbr. X X X X X X XLicaria guianensis Aubl. X XNectandra nitidula Nees X X X XNectandra oppositifolia Nees X X X X XNectandra reticulata (Ruiz & Pav.) Mez X X X XOcotea aciphylla (Nees) Mez X X X X X XOcotea adenotrachelium (Nees) Mez X XOcotea beyrichii (Nees) Mez X XOcotea bicolor Vattimo-Gil X X X X XOcotea corymbosa (Meisn.) Mez X X X X X X XOcotea divaricata (Nees) Mez X XOcotea indecora (Schott) Mez X X X XOcotea lancifolia (Schott) Mez X X XOcotea odorifera (Vell.) Rohwer X X X XOcotea pomaderroides (Meisn.) Mez X X X X X XOcotea pulchella Mart. X X X X X XOcotea spixiana (Nees) Mez X X X XOcotea tristis (Nees) Mez X X XOcotea velloziana (Meisn.) Mez X X X X XOcotea sp. 1 X X XOcotea sp. 2 X XOcotea sp. 3 X XPersea aff . venosa Nees X XPersea aurata Miq. X X XPersea rufotomentosa Nees & Mart. ex Nees X XRhodostemonodaphne macrocalyx (Meisn.) Rohwer ex Madrin X X X

    LECYTHIDACEAELecythis lanceolata Poir. X X XLecythis pisonis Cambess. X X

    LEGUMINOSAE-CAESALPINIOIDEAEApuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. X X X X XBauhinia longifolia (Bong.) D.Dietr. X X XBauhinia rufa (Bong.) Steud. X X X X XCassia ferruginea (Schrad.) Schrad. ex DC. X X X X XCopaifera langsdorffi i Desf. X X X X X X XCopaifera trapezifolia Hayne X X XHymenaea courbaril L. X X X X XHymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne X X X X XMelanoxylon brauna Schott X X

    Tabela 1. Continuao.

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil

    803

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    Senna corifolia (Benth.) H.S.Irwin & Barneby X XSenna macranthera (Collad.) H.S.Irwin & Barneby X X X X X X XSenna multijuga (Rich.) H.S.Irwin & Barneby X X X X XSenna reniformis (G.Don) H.S.Irwin & Barneby X X XSenna rugosa (G.Don) H.S.Irwin & Barneby X X XTachigali aurea Tul. X X X X XTachigali paratyensis (Vell.) H.C.Lima X XTachigali rugosa (Mart. ex Benth.) Zarucchi & Pipoly X X X X XTachigali subvelutina (Benth.) Oliveira-Filho X X X

    LEGUMINOSAE-MIMOSOIDEAEAbarema langsdorffi i (Benth.) Barneby & J.W.Grimes X XAbarema obovata (Benth.) Barneby & J.W.Grimes X XAnadenanthera colubrina (Vell.) Brenan X X X X X X X XCalliandra asplenioides (Nees) Renvoize X X XCalliandra selloi (Spreng.) J.F.Macbr. X X X XEnterolobium gummiferum (Mart.) J.F.Macbr. X X X XInga cylindrica (Vell.) Mart. X X XInga edulis Mart. X X XInga sessilis (Vell.) Mart. X X X XInga striata Benth. X X X X XInga subnuda Salzm. ex Benth. X X XInga vera Willd. X X X X XInga vulpina Mart. ex Benth. X X X XLeucochloron incuriale (Vell.) Barneby & J.W.Grimes X X X X X XMimosa claussenii Benth. X XMimosa setosa Benth. X XPiptadenia adiantoides (Spreng.) J.F.Macbr. X XPiptadenia gonoacantha (Mart.) J.F.Macbr. X X X X X X XPiptadenia paniculata Benth. X XPlathymenia reticulata Benth. X X X X X XPseudopiptadenia contorta (DC.) G.P.Lewis & M.P.Lima X XPseudopiptadenia leptostachya (Benth.) Rausch. X XSenegalia polyphylla (DC.) Britton & Rose X X X X X X XSenegalia tenuifolia (L.) Britton & Rose X X X XStryphnodendron adstringens (Mart.) Cov. X X X X XStryphnodendron polyphyllum Mart. X X X

    LEGUMINOSAE-PAPILIONOIDEAEAcosmium dasycarpum (Vogel) Yakovlev X X X X XAndira fraxinifolia Benth. X X X X XAndira ormosioides Benth. X XBowdichia virgilioides Kunth X X X X X XDalbergia cf. brasiliensis Vogel X XDalbergia foliolosa Benth. X X X X XDalbergia miscolobium Benth. X X X X XDalbergia nigra (Vell.) Allemo ex Benth. X XHymenolobium janeirense Kuhlm. X XMachaerium brasiliense Vogel X X X X XMachaerium hirtum (Vell.) Stellfeld X X X X X X XMachaerium nyctitans (Vell.) Benth. X X X X X XMachaerium opacum Vogel X X X X X

    Tabela 1. Continuao.

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Matheus Fortes Santos, Herbert Serafi m e Paulo Takeo Sano

    804

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    Machaerium ruddianum C.V.Mend.F. & A.M.G.Azevedo X X XMyrocarpus frondosus Allemo X XOrmosia arborea (Vell.) Harms X X XPlatycyamus regnellii Benth. X X X X X XPlatymiscium fl oribundum Vogel X X XPlatypodium elegans Vogel X X X X X XPterocarpus rohri Vahl X X XSwartzia acutifolia Vogel X XSwartzia apetala Raddi X X XSwartzia macrostachya Benth. X X X X XSwartzia pilulifera Benth. X X X

    LOGANIACEAEAntonia ovata Pohl X X X XStrychnos bicolor Progel X X XStrychnos gardneri A.DC. X X

    LYTHRACEAELafoensia vandelliana Cham. & Schltdl. X X X X X X X

    MAGNOLIACEAEMagnolia ovata (A.St.-Hil.) Spreng. X X X X X

    MALPIGHIACEAEByrsonima coccolobifolia Kunth X X XByrsonima cydoniifolia A.Juss. X X X X XByrsonima intermedia A.Juss. X X X X XByrsonima sericea DC. X X X X XByrsonima variabilis A.Juss. X X X X X XByrsonima verbascifolia (L.) DC. X X XHeteropterys byrsonimifolia A.Juss. X X X X X X

    MALVACEAEApeiba tibourbou Aubl. X X X X XEriotheca candolleana (K.Schum.) A.Robyns X X X XEriotheca macrophylla (K.Schum.) A.Robyns X XGuazuma ulmifolia Lam. X X X X XHelicteres brevispira A.St.-Hil. X X X X XLuehea grandifl ora Mart. & Zucc. X X X X XPavonia malvaviscoides A.St.-Hil. X X XPseudobombax grandifl orum (Cav.) A.Robyns X X X X XPseudobombax longifl orum (Mart. & Zucc.) A.Robyns X X X X X

    MELASTOMATACEAELeandra aurea (Cham.) Cogn. X X X XLeandra glazioviana Cogn. X X XLeandra lancifolia Cogn. X X XLeandra scabra DC. X X XMiconia albicans (Sw.) Triana X X X X X XMiconia brunnea Mart. X X X XMiconia buddlejoides Triana X XMiconia chamissois Naudin X X X X XMiconia chartacea Triana X X X X XMiconia cinerascens Miq. X X X XMiconia cinnamomifolia (DC.) Naudin X X X X XMiconia corallina Spring X X X X

    Tabela 1. Continuao.

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil

    805

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    Miconia cyathanthera Triana X X XMiconia dodecandra (Desr.) Cogn. X X XMiconia elegans Cogn. X X XMiconia lepidota Schrank & Mart. ex DC. X XMiconia pepericarpa DC. X X XMiconia prasina (Sw.) DC. X XMiconia pusillifl ora (DC.) Triana X X X XMiconia pyrifolia Naudin X XMiconia rubiginosa (Bonpl.) DC. X X XMiconia stenostachya DC. X X X X XMiconia theaezans (Bonpl.) Cogn. X X X X XMouriri glazioviana Cogn. X X XTibouchina candolleana (Mart. ex DC.) Cogn. X X X XTibouchina canescens (D.Don) Cogn. X X XTibouchina estrellensis (Raddi) Cogn. X X X XTrembleya parvifl ora (D.Don) Cogn. X X X X X X

    MELIACEAECabralea canjerana (Vell.) Mart. X X X X X XCedrela fi ssilis Vell. X X X X X X XGuarea kunthiana A.Juss. X X X X X XGuarea macrophylla Vahl X X X X XTrichilia catigua A.Juss. X X X XTrichilia claussenii C.DC. X X X XTrichilia emarginata (Turcz.) C.DC. X X X X XTrichilia hirta L. X X X X

    MONIMIACEAEMacropeplus aff . ligustrinus (Tul.) Perkins X XMollinedia argyrogyna Perkins X X X XMollinedia aff . trifl ora (Spreng.) Tul. X X X X

    MORACEAEBrosimum gaudichaudii Trcul X X X X XBrosimum guianense (Aubl.) Huber X XFicus calyptroceras (Miq.) Miq. X X X XFicus gomelleira Kunth & Bouch X X XFicus obtusifolia (Miq.) Miq. X X X X XFicus obtusiuscula (Miq.) Miq. X X X X XFicus pertusa L.f. X X X XHelicostylis tomentosa (Poepp. & Endl.) Rusby X XMaclura tinctoria (L.) Steud. X X X X XPseudolmedia laevigata Trcul X X XSorocea guilleminiana Gaudich. X X X X

    MYRISTICACEAEVirola bicuhyba (Schott) Warb. X X X X

    MYRSINACEAECybianthus glaber A.DC. X X X XMyrsine coriacea (Sw.) Roem. & Schult. X X X X X X X XMyrsine gardneriana A.DC. X X X XMyrsine guianensis (Aubl.) Kuntze X X X XMyrsine umbellata Mart. X X X X X X X X

    Tabela 1. Continuao.

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Matheus Fortes Santos, Herbert Serafi m e Paulo Takeo Sano

    806

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    MYRTACEAEBlepharocalyx salicifolius (Kunth) O.Berg X X X X X XCalyptranthes clusiifolia O.Berg X X X X XCalyptranthes grammica (Spreng.) D.Legrand X X XCalyptranthes grandifolia O.Berg X X XCampomanesia laurifolia Gardner X X XCampomanesia xanthocarpa O.Berg X X X XCampomanesia sp. X XEugenia brasiliensis Lam. X X X XEugenia candolleana DC. X XEugenia fl orida DC. X X X X X X XEugenia hiemalis Cambess. X X X XEugenia involucrata DC. X X X X X XEugenia laruotteana Cambess. X X XEugenia nutans O.Berg X X XEugenia punicifolia (Kunth) DC. X X X X X X XEugenia strictissima Govaerts X XEugenia aff . tenuipedunculata Kiaersk. X XEugenia widgrenii Sonder ex O.Berg X XMarlierea clausseniana (O.Berg) Kiaersk. X X X XMarlierea excoriata Mart. X X XMarlierea obscura O.Berg X X XMarlierea sp. X XMyrceugenia alpigena (DC.) Landrum X X X XMyrceugenia pilotantha (Kiaersk.) Landrum X X X XMyrcia amazonica DC. X X XMyrcia eriocalyx DC. X X X X XMyrcia eriopus DC. X X X XMyrcia guianensis (Aubl.) DC. X X X X X X X X XMyrcia hebepetala DC. X X X XMyrcia laruotteana Cambess. X X X X XMyrcia mischophylla Kiaersk. X X XMyrcia multifl ora (Lam.) DC. X X X X XMyrcia mutabilis (O.Berg) N.Silveira X X X XMyrcia nobilis O.Berg X X XMyrcia obovata (O.Berg) Nied. X X X XMyrcia splendens (Sw.) DC. X X X X X X X XMyrcia tomentosa (Aubl.) DC. X X X X X X X XMyrcia venulosa DC. X X X X XMyrciaria cuspidata O.Berg X X XMyrciaria fl oribunda (H.West ex Willd.) O.Berg X X X X X XMyrciaria glandulifl ora (Kiaersk.) Mattos & D.Legrand X X X XMyrciaria glomerata O. Berg X XMyrciaria pilosa Sobral & Couto X XMyrciaria tenella (DC.) O.Berg X X X XPimenta pseudocaryophyllus (Gomes) Landrum X X X X XPlinia caulifl ora (Mart.) Kausel X X XPlinia rivularis (Cambess.) Rotman X XPsidium rufum DC. X X X X X X XSiphoneugena densifl ora O.Berg X X X X X X X

    Tabela 1. Continuao.

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil

    807

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    Siphoneugena widgreniana O.Berg X X X X XSyzygium jambos (L.) Alston X X X X

    NYCTAGINACEAEGuapira areolata (Heimerl) Lundell X X X XGuapira gracilifl ora (Schmidt) Lundell X X X X XGuapira hirsuta (Choisy) Lundell X X XGuapira noxia (Netto) Lundell X X X X XGuapira opposita (Vell.) Reitz X X X X X XGuapira tomentosa (Casar.) Lundell X XNeea theifera Oerst. X X X

    OCHNACEAEOuratea fl oribunda Engl. X X X XOuratea parvifl ora (DC.) Baill. X X XOuratea semiserrata (Mart. & Nees) Engl. X X X X X

    OLACACEAETetrastylidium grandifolium (Baill.) Sleumer X X

    OLEACEAEChionanthus sp. X

    OPILIACEAEAgonandra brasiliensis Miers ex Benth. & Hook. X X X X

    PENTAPHYLACACEAETernstroemia alnifolia Wawra X X XTernstroemia carnosa Cambess. X X X

    PHYLLANTHACEAEHieronyma alchorneoides Allemo X X X X XHieronyma oblonga (Tul.) Mll.Arg. X XRicheria grandis Vahl X X X X

    PICRAMNIACEAEPicramnia glazioviana Engl. X X X XPicramnia sellowii Planch. X X X X

    PIPERACEAEPiper cernuum Vell. X X X X

    PODOCARPACEAEPodocarpus lambertii Klotzsch ex Endl. X X X XPodocarpus sellowii Klotzsch ex Endl. X X X X X

    POLYGONACEAECoccoloba brasiliensis Nees & Mart. X X X X XCoccoloba salicifolia Wedd. X X

    PROTEACEAEEuplassa inaequalis (Pohl) Engl. X X XEuplassa incana (Klotzsch) I.M.Johnst. X XEuplassa legalis (Vell.) I.M.Johnst. X X XRoupala brasiliensis Klotzsch X X X X X X XRoupala montana Aubl. X X X X X X XRoupala rhombifolia Mart. ex Meisn. X X X X

    RHAMNACEAERhamnidium elaeocarpum Reissek X X X X X

    ROSACEAEPrunus myrtifolia (L.) Urb. X X X X X X X X

    Tabela 1. Continuao.

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Matheus Fortes Santos, Herbert Serafi m e Paulo Takeo Sano

    808

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    RUBIACEAEAmaioua intermedia Mart. ex Schult. & Schult.f. X X X X X XBathysa australis (A.St.-Hil.) Benth. & Hook.f. X X X X X XBathysa cuspidata (A.St.-Hil.) Hook.f. X XBathysa nicholsonii K.Schum. X XCordiera concolor (Cham.) Kuntze X X X X X XCordiera elliptica (Cham.) Kuntze X X X X X X XCordiera sessilis (Vell.) Kuntze X X X X XCoussarea congestifl ora Mll.Arg. X XFaramea hyacinthina Mart. X XFerdinandusa sp. X XGenipa americana L. X X X X XGuettarda viburnoides Cham. & Schltdl. X X X X X XHillia parasitica Jacq. X X XMargaritopsis cephalantha (Mll.Arg.) C.M.Taylor X XPalicourea rigida Kunth X XPosoqueria latifolia (Rudge) Roem. & Schult. X X X XPsychotria capitata Ruiz & Pav. X XPsychotria carthagenensis Jacq. X X X XPsychotria nuda (Cham. & Schltdl.) Wawra X XPsychotria pallens Gardner X XPsychotria vellosiana Benth. X X X X XRemijia ferruginea DC. X XRudgea sessilis (Vell.) Mll.Arg. X X X X

    RUTACEAEDictyoloma vandellianum A.Juss. X X X XEsenbeckia febrifuga (A.St.-Hil.) A.Juss. ex Mart. X X X XEsenbeckia grandifl ora Mart. X X X XGalipea jasminifl ora (A.St.-Hil.) Engl. X X X XHortia brasiliana Vand. X XMetrodorea nigra A.St.-Hil. X XZanthoxylum rhoifolium Lam. X X X X X X X X

    SABIACEAEMeliosma sinuata Urb. X X X

    SALICACEAECasearia arborea (Rich.) Urb. X X X X X XCasearia decandra Jacq. X X X X X XCasearia eichleriana Sleumer X X XCasearia obliqua Spreng. X X X X X XCasearia selloana Eichl. X XCasearia sylvestris Sw. X X X X X X X XCasearia ulmifolia Vahl X X X X

    SAPINDACEAEAllophylus petiolulatus Radlk. X X X X X X XAllophylus racemosus Sw. X X X X XCupania ludowigii Sommer & Ferrucci X X XCupania moraesiana Guarim X X XCupania platycarpa Radlk. X X XCupania vernalis Cambess. X X X X X XMatayba elaeagnoides Radlk. X X X X

    Tabela 1. Continuao.

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil

    809

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    Matayba intermedia Radlk. X X XMatayba mollis Radlk. X XToulicia laevigata Radlk. X X X X X

    SAPOTACEAEChrysophyllum marginatum (Hook. & Arn.) Radlk. X X X X X X XMicropholis gardneriana (A.DC.) Pierre X X X X X XMicropholis gnaphaloclados (Mart.) Pierre X X XPouteria ramifl ora (Mart.) Radlk. X X X X XPouteria torta (Mart.) Radlk. X X X X X X

    SIMAROUBACEAESimarouba amara Aubl. X X

    SIPARUNACEAESiparuna cf. brasiliensis (Spreng.) A.DC. X X X XSiparuna guianensis Aubl. X X X X X X XSiparuna reginae (Tul.) A.DC. X X

    SOLANACEAEBrunfelsia brasiliensis (Spreng.) L.B.Sm. & Downs X X XSolanum cinnamomeum Sendtn. X X X XSolanum sp. X

    STYRACACEAEStyrax camporum Pohl X X X XStyrax ferrugineus Nees & Mart. X X X XStyrax maninul B.Walln. X X X XStyrax martii Seub. X X XStyrax pedicellatus (Perkins) B.Walln. X X XStyrax rotundatus (Perkins) P.W.Fritsch X X X X

    SYMPLOCACEAESymplocos celastrinea Mart. ex Miq. X X X XSymplocos glaberrina Gontsch. X XSymplocos lanceolata (Mart.) A.DC. X X X X XSymplocos nitens Benth. X X X X XSymplocos pubescens Klotzsch ex Benth. X X X

    THEACEAELaplacea fruticosa (Schrad.) Kobuski X X X X XLaplacea tomentosa (Mart. & Zucc.) G.Don X X X X

    URTICACEAEBoehmeria caudata Sw. X X XCecropia hololeuca Miq. X X X XCecropia pachystachya Trcul X X X X X X XCoussapoa microcarpa (Schott) Rizzini X X X XPourouma guianensis Aubl. X XUrera baccifera (L.) Gaudich. ex Wedd. X X X X

    VELLOZIACEAEVellozia gigantea N.L.Menezes & Mello-Silva X X X

    VERBENACEAEAloysia virgata (Ruiz & Pav.) A.Juss. X X X X

    VOCHYSIACEAECallisthene erythroclada Warm. X X XCallisthene major Mart. X X X X XCallisthene microphylla Warm. X X

    Tabela 1. Continuao.

    Continua.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Matheus Fortes Santos, Herbert Serafi m e Paulo Takeo Sano

    810

    ESPCIES W E FOD FOM FES FG FED CER CR

    Callisthene minor Mart. X X XQualea cordata (Mart.) Spreng. X X X X X XQualea glaziovii Warm. X XQualea grandifl ora Mart. X X X X XQualea multifl ora Mart. X X X X XQualea parvifl ora Mart. X X X XSalvertia convallariodora A.St.-Hil. X XVochysia acuminata Bong. X X X XVochysia dasyantha Warm. X X XVochysia elliptica Mart. X X X X XVochysia emarginata Vahl X X XVochysia rectifl ora Warm. X XVochysia rufa Mart. X X XVochysia schwackeana Warm. X X X XVochysia thyrsoidea Pohl X X X X XVochysia tucanorum Mart. X X X X X X X

    WINTERACEAEDrimys brasiliensis Miers X X X X X

    Tabela 1. Continuao.

    Tabela 2. Nmero (n) e porcentagem (%) de espcies arbreas em comum e exclusivas nas pores leste e oeste da Serra do Cip.

    Espcies exclusivasEspcies em comum

    TotalPoro oeste Poro leste

    (n) (%) (n) (%) (n) (%)

    Total de espcies 250 47,2 192 36,2 88 16,6 530

    Tabela 3. Nmero (n) e porcentagem (%) de espcies arbreas por fi tofi sionomias (formaes fl orestais e formaes abertas) nas pores leste e oeste da Serra do Cip.

    Espcies exclusivasEspcies em comum

    Poro oeste Poro leste

    (n) (%) (n) (%) (n) (%)

    Formaes abertas 14 5,6 0 0 0 0

    Formaes fl orestais 110 44 162 84,3 50 56,8

    Comum s duas fi tofi sionomias 126 50,4 30 15,8 38 43,2

    e Vochysia schwackeana (Vochysiaceae) (Oliveira-Filho 2006; Stehmann et al. 2009). Em contrapartida, ainda assim poderia-se esperar certa similaridade fl orstica entre esta rea e as reas fl orestais no campo rupestre oeste da Serra, devido proximidade geogrfi ca entre ambas. Porm, h um grande nmero de espcies arbreas levantadas na poro leste da Serra do Cip ainda no representadas nos tratamentos fl orsticos j realizados, que representam majoritariamente a fl ora da poro oeste da Serra (Tab. 2). Como ser discutido com mais detalhes adiante na seo relativa poro oeste, as causas para tal heterogeneidade

    podem ser o solo mais profundo e frtil, a menor altitude e a maior umidade da regio leste.

    Dentre espcies comuns a reas de menor altitude e clima mais mido encontradas, temos: Th yrsodium spruce-anum (Anacardiaceae), Trattinnickia ferruginea, Tovomita leucantha, Sloanea obtusifolia (Elaeocarpaceae), Lecythis pisonis (Lecythidaceae), Melanoxylon brauna (Legumino-sae), Inga edulis (Leguminosae), Pseudopiptadenia contorta (Leguminosae), Swartzia acutifolia (Leguminosae), Eriothe-ca macrophylla, Helycostyles tomentosa (Moraceae), Tetras-tylidium grandifolium e Pourouma guianensis (Urticaceae)

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil

    811

    (Berg 1972; Sleumer 1984; Daly 1999; Oliveira-Filho & Fon-tes 2000; Oliveira-Filho 2006). O fato de se constituir como uma rea extensa de mata provavelmente infl uencia tambm na diferena fl orstica desta rea em relao s fl orestas no oeste da serra, que esto inseridas em reas campestres, por exemplo propiciando a ocorrncia de espcies tpicas de ambientes sombreados (ao menos em algum estgio de seu desenvolvimento). Nos capes essa ocorrncia difi cultada devido grande penetrao de luz em seu interior.

    Assim, os dados de composio e fi tofi sionomia deste trabalho corroboram a incluso da rea no domnio da Mata Atlntica, como proposto por Ribeiro et al. (2009), e sugerem a necessidade de mais estudos leste de outras regies do Espinhao (e.g., Planalto de Diamantina e a de-presso de Couto Magalhes) para que sejam aprimorados a delimitao e o conhecimento das reas de contato entre os domnios do Cerrado e da Mata Atlntica na Cadeia do Espinhao. O grande nmero de espcies inditas para a Serra do Cip ressalta a heterogeneidade fl orsitica de suas fl orestas e a importncia de mais estudos nas reas leste.

    Caractersticas da vegetao fl orestal oeste da Serra do Cip

    O campo rupestre tem semelhana fl orstica e fi sion-mica com a vegetao de Cerrado (Giulietti & Pirani 1988). Desta maneira, a vegetao fl orestal no campo rupestre, quase totalmente restrita s matas riprias e os capes - locais em que as condies ambientais permitem o seu desenvolvimento, pode ser vista como semelhante s matas de galeria em reas de Cerrado, j que so formaes com fi sionomia fl orestal inclusas em uma fi sionomia predomi-nantemente campestre/savnica.

    Alm da bvia semelhana fi sionmica, diversos autores tem enfatizado a semelhana fl orstica entre reas fl orestais inseridas em fi tofi sionomias abertas com reas predominen-temente fl orestais, similaridade muitas vezes diretamente relacionada proximidade geogrfi ca. As matas de galeria da poro central e sul do Cerrado so consideradas por Oliveira-Filho & Ratter (1995) como expanses fl orsticas das fl orestas da provncia paranaense. Oliveira-Filho et al. (1994) afi rmam que as Matas de Galeria da Bacia do Rio Grande tm grande afi nidade com as matas situadas na parte alta desta bacia, in-clusas no domnio da Mata Atlntica, sendo um canal por meio do qual a fi sionomia fl orestal penetra no domnio do Cerrado. Meguro et al. (1996b) sugerem que os componentes das matas riprias e capes que ocupam o campo rupestre provm de fl orestas submontanas e montanas prximas. Rizzini (1979) considerava as reas fl orestais nos campos rupestres como expanses mediterrneas da Mata Atlntica.

    Os dados aqui levantados para a Serra do Cip mostram que a vegetao arbrea fl orestal em suas reas campestres na poro oeste, a despeito da semelhana fi tofi sionmica, no apresenta grande similaridade com o domnio fl orestal adjacente. Neste caso, o levantamento realizado em uma rea fl orestal extensa, inclusa no domnio da Mata Atlntica (poro leste da Serra), aponta um grande nmero de esp-

    cies arbreas que no ocorrem oeste, assim como diversas espcies nas fl orestas da poro oeste, inseridas no campo rupestre, no ocorrem leste (Tab. 1, 2). importante destacar que a grande maioria das espcies amostradas na poro oeste so exclusivamente fl orestais ou habitam tanto formaes abertas quanto fl orestais, o que enfatiza que as diferenas entre as reas leste e oeste se devem especifi ca-mente s caractersticas de suas reas fl orestais (Tab. 3).

    Portanto, a afi nidade fl orstica entre pores fl orestais inseridas em fi tofi sionomias abertas e reas prximas in-seridas no domnio da Mata Atlntica no ocorre na Serra do Cip, pelo menos no como padro. Giulietti & Pirani (1988) citaram o conjunto relevo/solo/clima como os fatores determinantes da fl ora tpica do campo rupestre. poss-vel que tais fatores atuem na diferenciao na sua poro fl orestal em relao s reas adjacentes. As evidncias para tanto so:

    a) Maior altitude no campo rupestreDiversos autores tm destacado o papel da altitude na

    similaridade fl orstica entre formaes fl orestais (Oliveira-Filho et al. 1994; Torres et al. 1997; Ivanauskas et al. 2000; Van den Berg & Oliveira-Filho 2000). Na Serra do Cip, onde a altitude no campo rupestre varia de 900 a 1697 m (Giulietti et al. 1987; Gontijo 1993), as fl orestas situam-se muitas vezes acima de 1100 m, sendo caracterizadas como fl orestas alto-montanas (sensu Oliveira-Filho & Fontes 2000). Entre algumas espcies caractersticas de fl orestas de altitude encontradas na poro oeste esto: Scheffl era calva (Araliaceae), Hedyosmum brasiliense (Chlorantha-ceae), Clethra scabra (Clethraceae), Weinmannia discolor (Cunoniaceae), Miconia pepericarpa, Trembleya parvifl ora (Melastomataceae), Myrcia laruottena (Myrtaceae), Sipho-neugena widgreniana (Myrtaceae), Ouratea semiserrata (Ochnaceae), Picramnia glazioviana (Picramniaceae), Podo-carpus spp. (Podocarpaceae), Laplacea fruticosa (Th eaceae), Drymis brasiliensis (Winteraceae) (Giulietti & Pirani 1988; Oliveira-Filho & Fontes 2000) (Tab. 1).

    b) Clima mais secoA Cadeia do Espinhao atua como barreira umidade

    vinda do oceano, o que torna a poro leste mais mida, com nebulosidade mesmo nos perodos secos, inclusive com a ocorrncia de chuviscos, denunciando um carter orogrfi co do clima na regio. J a poro oeste encontra-se na sombra das chuvas, apresentando maior perodo de seca e temperaturas mais altas (Neves et al. 2005; Ribeiro et al. 2009). Tal gradiente climtico pode proporcionar diferenas entre a composio fl orstica leste e oeste da Serra. Nesse contexto, talvez capes de mata a leste da Serra, sobre os quais ainda no h estudos concludos, possam apresentar maiores similaridades fl orsticas com a rea deste estudo. Nota-se, porm, que a diminuio da umidade provavel-mente gradual no alto da Serra, dado que, em sua poro oeste, ainda so encontradas espcies tpicas de fl orestas

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Matheus Fortes Santos, Herbert Serafi m e Paulo Takeo Sano

    812

    ombrfi las. Entre elas: Ilex dumosa (Aquifoliaceae), Citro-nella paniculata (Cardiopteridaceae), Weinmannia discolor (Cunoniaceae), Bathysa nicholsonii (Rubiaceae) (Oliveira-Filho & Fontes 2000) (Tab. 1). Assim, o efeito na umidade possivelmente s seja pronunciado nas pores mais baixas a oeste, j nas reas de Cerrado.

    c) Solo restritoA litologia quartztica bastante resistente ao intempe-

    rismo, de maneira que o solo oriundo deste tipo de rocha , em geral, raso, arenoso, pobre em nutrientes e com baixa capacidade de reteno de gua (Ferri 1980; Rodrigues et al. 1989; Silva 2005). Assim, as formaes fl orestais, cujas espcies arbreas geralmente necessitam de solo com maior profundidade, umidade e nutrientes, apenas se estabelecem em locais restritos, onde encontram tais caractersticas em proporo adequada como, por exemplo, margens de cursos dgua e no reverso e contato de escarpas (Giulietti et al. 1987; Campos 1995). Certamente algumas espcies que necessitam de solo mais profundo e/ou mais rico acabam no ocorrendo nestas formaes, ou ocorrem apenas raramente. Na Serra do Cip, regio onde predominam os quartzitos (Almeida-Abreu 1995; Saadi 1995), tais espcies ocorrero mais comumente em reas onde afl oram litologias que permitam o desenvolvi-mento de solos mais profundos, como ocorre na poro leste da Serra, devido a falhas nas camadas de rochas quartzticas. Outro fator pedolgico a limitada capacidade de expanso que a litologia quartztica impe aos solos e, consequente-mente, s matas. O tamanho pequeno dessas matas faz com que a penetrao de luz seja pronunciada, favorecendo o estabelecimento de espcies helifi tas. Campos (1995) cita que a semelhana fl orstica encontrada entre os capes da Serra do Cip poderia estar relacionada ao tamanho da borda e consequente infl uncia da luz.

    Desta maneira, vemos que, na Serra do Cip, a diferen-a fl orstica da vegetao fl orestal no campo rupestre em relao ao domnio fl orestal adjacente est ligada principal-mente maior altitude e s diferenas litolgicas.

    Ectonos

    Como foi visto anteriormente, alm da transio para o Cerrado e a Caatinga (Giulietti & Pirani 1988), o campo rupestre apresenta transio para a Mata Atlntica (Ribeiro et al. 2009). Neste seo, os ectonos entre as duas formaes so discutidos de maneira preliminar, tomando como base apenas observaes de campo.

    Os ectonos entre fi tofi sionomias fl orestais e fi tofi sio-nomias abertas tem sido discutidos principalmente para fl orestas deciduais e semideciduais e Cerrados do centro, oeste, leste e nordeste brasileiro. A transio entre essas duas formaes remete principalmente s condies do solo, com as fl orestas ocorrendo em solos mais frteis e o Cerrado em solos distrfi cos, enquanto uma vegetao transicional chamada fcie mesotrfi ca cerrado ocorre em solos com fertilidade intermediria (Ratter et al. 1978; Ratter

    1992; Durigan & Ratter 2006). O fogo, ou a ausncia dele, tambm pode atuar na dinmica da transio entre fl orestas e Cerrados (Ferri 1980; Oliveira-Filho & Fluminhan-Filho 1999; Durigan & Ratter 2006).

    Com base nas observaes de campo feitas na rea leste da Serra, onde o contato da vegetao fl orestal se d, como foi dito, com outra fi tofi sionomia aberta (o campo rupestre), nota-se que uma escarpa constituda por rochas quartzticas marca o fi m das reas fl orestais e o incio de uma extensa rea de campo rupestre (Fig. 2C), contnua at a poro oeste da Serra do Cip, j no domnio do Cer-rado. Nas partes baixas, devido aos diversos afl oramentos da litologia quartztica, cria-se um mosaico entre o campo rupestre, habitando os solos quartzticos, e as fl orestas, a fi tofi sionomia predominante, ocorrendo sob outros tipos de solo, derivados de outra litologia, provavelmente diques de rochas bsicas (Almeida-Abreu, com. pess.) (Fig. 2A). Desta maneira, o solo tambm est relacionado transio entre a Mata Atlntica e o campo rupestre. Como grande parte da regio sofre grande perturbao antrpica, no foi possvel fazer um estudo acurado a respeito dos contatos entre as reas fl orestais e campestres. Entretanto, com base nas afi rmaes de Campos (1995) e Meguro et al. (1996a) de que, no campo rupestre, a delimitao entre fl orestas (matas riprias e capes) e campo abrupta, pode-se inferir padro semelhante para reas fl orestais e campestres na poro leste da Serra do Cip.

    No foram vistas evidncias de Cerrado como vegeta-o transicional na regio, o que ressaltado pela inexis-tncia de espcies tpicas de Cerrado. Por outro lado, os candeais tm sido sugeridos como reas transicionais entre fl orestas e formaes abertas (particularmente o Campo de Altitude), onde o solo se torna mais raso, limitando o desen-volvimento da fl oresta (Oliveira-Filho & Fluminhan-Filho 1999). Na regio, os candeais, formados por Eremanthus incanus (Asteraceae), ocorrem na poro alta da escarpa e parecem realmente estar relacionados transio fl oresta-campo (neste caso, campo rupestre) (Fig. 2B). Alm disso, ocorrem nos afl oramentos rochosos nas pores mais baixas da escarpa, sugerindo estar relacionados tambm pertur-bao antrpica e baixa fertilidade do solo (Scolforo et al. 2002; Perez et al. 2004).

    Com relao ao papel do fogo nesta transio, apesar de os moradores relatarem que a regio foi continuamente exposta a queimadas, isto parece no ter causado uma regresso da rea fl orestal (Oliveira-Filho & Fluminhan-Filho 1999), mas apenas favorecido a colonizao de alguns terrenos pela pteridfi ta Pteridium aquilinum (L.) Kuhn (Dennstaedtiaceae), espcie comumente encontrada em antigas reas fl orestais sujeitas a corte raso e fogo (Veloso et al. 1991; Ribeiro et al. 2009). Assim, pela somatria destas observaes, pode-se supor uma transio relativamente abrupta tanto fl oristicamente quanto fi sionomicamente, incluindo a ocorrncia de candeais como rea de transio Mata Atlntica-campo rupestre.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Fisionomia e composio da vegetao fl orestal na Serra do Cip, MG, Brasil

    813

    ConclusesOs dados obtidos e discutidos nesse trabalho mostram

    que a composio fl orstica de reas fl orestais ao longo da Serra do Cip bastante heterognea e, como ocorre ao longo de toda Cadeia do Espinhao, tal complexidade refl exo da variedade de climas, relevos, litologias e solos encontrados nesta formao geolgica (AbSaber 1971; Giulietti & Pirani 1988; Saadi 1995; Almeida-Abreu & Renger 2002; Silva 2005). As novas ocorrncias registradas na poro leste da Serra do Cip mostram a efetividade de, em estudos locais, ampliar as reas abordadas para ampliar o conhecimento da fl ora regional.

    A identifi cao da poro leste da Serra do Cip como parte do domnio da Mata Atlntica traz consequncias bastante signifi cativas para os estudos na regio. Uma delas o reconhecimento da rea como sendo uma zona de contato entre dois dos principais domnios fi togeogrfi cos existentes no pas (Cerrado e Mata Atlntica), zona esta que ocorre, singularmente, em uma rea de altitude, com presena de Campos Rupestres. Tais caractersticas conferem excepcio-nalidade paisagem e sua constituio, apontando para a necessidade de estudos ainda mais intensos e extensos bem como para medidas imediatas de conservao voltadas especifi camente para estes locais.

    AgradecimentosOs autores agradecem aos funcionrios do Parque

    Nacional da Serra do Cip por todo apoio na realizao do trabalho; ao professor Pedro A. Almeida-Abreu pelas informaes sobre a geologia da poro leste da Serra do Cip; a todos que auxiliaram durante os trabalhos de campo; CAPES pela bolsa concedida aos dois primeiros autores; ao CNPq pela bolsa concedida ao terceiro autor.

    Referncias bibliogrfi casAbSaber, A.N. 1971. A organizao natural das paisagens Inter e Subtropicais

    do Brasil. In: III Simpsio Sobre o Cerrado. So Paulo, Edusp. Almeida-Abreu, P.A.; Fraga, L.M.S. & Neves, S. C. 2005. Geologia. Pp.

    17-44. In: Silva, A.C.; Pedreira, L.C.V.S. & Almeida-Abreu, P.A. (Eds.). Serra do Espinhao Meridional: paisagens e ambientes. Belo Horizonte, O Lutador.

    Almeida-Abreu, P.A. & Renger, F.E. 2002. Serra do Espinhao meridional: um orgeno de coliso do mesoproterozico. Revista Brasileira de Geocincias 32(1): 1-14.

    Almeida-Abreu, P.A. 1995. O Supergrupo Espinhao da Serra do Espinhao Meridional (Minas Gerais): o rift e, a bacia e o orgeno. Geonomos 3: 1-18.

    Berg, C. C. 1972. OlmedieaeBrosimeae (Moraceae). Flora Neotropica Monograph 7: 1-228.

    Borges, L.M. 2010. Mimosoideae na Serra do Cip, Minas Gerais e anlise da variabilidade morfolgica de Mimosa macedoana Burkart. Dissertao de Mestrado, Botnica, Universidade de So Paulo, So Paulo

    Campos, G. 1926. Mappa fl orestal do Brasil. Ministrio da Agricultura, indstria e comrcio (Servio de Informaes). Rio de Janeiro, Typ. do Servio de Informaes.

    Campos, M.T.V.A. 1995. Composio fl orstica e aspectos da estrutura e da dinmica de trs capes na Serra do Cip, Minas Gerais, Brasil. Dissertao de Mestrado, Botnica. Universidade de So Paulo, So Paulo.

    Cottam, G. & Curtis, J.T. 1956. Th e use of distance measures in phytoso-ciological sampling. Ecology 37: 451-460.

    Coutinho, L.M. 2006. O conceito de Bioma. Acta Botanica Brasilica 20(1): 13-24.

    Daly, D.C. 1999. Notes on Trattinickia, including a synopsis in eastern Brazils Atlantic forest complex. Studies in neotropical Burseraceae IX. Kew Bulletin 54(1): 129-137.

    Durigan, G. & Ratter, J.A. 2006. Successional changes in Cerrado and Cerrado/forest ecotonal vegetation in western So Paulo State, Brazil, 1962-2000. Edinburgh Journal of Botany 63(1): 119-130.

    Ferri, M.G. 1980. Vegetao Brasileira. So Paulo, EDUSP.Giulietti, A.M.; Menezes, N.L.; Pirani, J.R.; Meguro, M. & Wanderley,

    M.G.L. 1987. Flora da Serra do Cip, Minas Gerais: Caracterizao e lista de espcies. Boletim de Botnica da Universidade de So Paulo 9: 1-159.

    Giulietti, A.M. & Pirani, J.R. 1988. Patterns of geographic distribution of some plant species from the Espinhao Range, Minas Gerais and Bahia. Pp. 39-69. In: Vanzolini, P.F. & Heyer, W.R. (Eds.). Proceedings of a workshop on neotropical distribution patterns, 1987. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Cincias.

    Gontijo, A.H.F. 1993. O relevo da Serra do Cip, Minas Gerais Espinhao Meridional. Dissertao de Mestrado, Geografia, Universidade de So Paulo, So Paulo.

    Guimares, C.M. 1991. A ocupao histrica da regio de Santana do Riacho. Arquivos do Museu de Histria Natural 23: 13-32.

    Harley, R.M. & Simmons, N.A. 1986. Florula of Mucug, Chapada Diamantina, Bahia, Brazil. Kew, Royal Botanic Gardens.

    Harley, R.M. 1995. Introduo. Pp. 1-40. In: Stannard, B.L. (Ed.). Flora of the Pico das Almas, Chapada Diamantina, Bahia, Brazil. Kew, Royal Botanic Gardens.

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatstica. 1993. Mapa de vegetao do Brasil. Escala 1:1000000. Rio de Janeiro, IBGE.

    Ivanauskas, N.M.; Monteiro, R. & Rodrigues, R.R. 2000. Similaridade fl orstica entre reas de fl oresta atlntica no estado de So Paulo. Brazilian Journal of Ecology 1/2: 71-81.

    Koppen, W. 1948. Climatologia con un estudio de los climas de la tierra. Mexico, Fondo de Cultura Economica.

    Madeira, J.A.; Ribeiro, K.T.; Oliveira, M.J.R.; Nascimento, J.S. & Paiva, C.L. 2008. Distribuio espacial do esforo de pesquisa biolgica na Serra do Cip, Minas Gerais: subsdios ao manejo das unidades de conservao da regio. Megadiversidade 4(1-2): 255-269.

    Magalhes, G.M. 1956. Caractersticas de alguns tipos fl orsticos de Minas Gerais II. Revista Brasileira de Biologia 1:76-92.

    Meguro, M.; Pirani, J.R.; Mello-Silva, R. & Giulietti, A.M. 1996a. Estabelecimento de matas riprias e capes nos ecossistemas campestres da Cadeia do Espinhao, Minas Gerais. Boletim de Botnica da Universidade de So Paulo 15: 1-11.

    Meguro, M.; Pirani, J.R.; Mello-Silva, R. & Giulietti, A.M. 1996b. Caracterizao fl orstica e estrutural de matas riprias e capes de altitude da Serra do Cip, Minas Gerais. Boletim de Botnica da Universidade de So Paulo 15: 13-29.

    Neves, S.; Almeida-Abreu, P.A. & Fraga, L.M.S. 2005. Fisiografi a. Pp. 45-58. In: Silva, A.C. Pedreira, L.C.V.S. & Almeida-Abreu, P.A. (Eds.). Serra do Espinhao Meridional: paisagens e ambientes. Belo Horizonte, O Lutador.

    Oliveira-Filho, A.T. & Fontes, M.A.L. 2000. Patterns of fl oristic diff erenta-tion among Atlantic forests in Southeastern Brazil and the infl uence of climate. Biotropica 32(4b): 793-810.

    Oliveira-Filho, A.T. & Fluminham-Filho, M. 1999. Ecologia da vegetao do parque fl orestal Quedas do Rio Bonito. Cerne 5(2): 51-64.

    Oliveira-Filho, A.T. & Ratter. J.A. 1995. A study of the origin of central Brazilian forests by the analysis of the plant species distribution pat-terns. Edinburgh Journal of Botany 52(2): 141-194.

    Oliveira-Filho, A.T. 2006. Catlogo das rvores nativas de Minas Gerais: mapeamento e inventrio da fl ora nativa e dos refl orestamentos de Minas Gerais. Lavras, UFLA.

  • Acta bot. bras. 25(4): 793-814. 2011.

    Matheus Fortes Santos, Herbert Serafi m e Paulo Takeo Sano

    814

    Verso eletrnica do artigo em www.scielo.br/abb e http://www.botanica.org.br/acta/ojs

    Oliveira-Filho, A.T.; Vilela, E.A.; Gavilanes, M.L. & Carvalho, D.A. 1994. Comparison of the Woody fl ora and soils of six montane semi-decid-uous Forest in southern Minas Gerais, Brazil. Edinburgh Journal of Botany 51(3): 355-389.

    Perez, J.F.M.; Scolforo, J.R.S.; Oliveira, A.D.; Mello, J.M.; Borges, L.F.R. & Camolesi, J.F. 2004. Sistema de manejo para a candeia Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish a opo do sistema de corte seletivo. Cerne 10(2): 257-273.

    Pirani, J.R.; Mello-Silva, R., Giulietti, A. M. 2003. Flora de Gro-Mogol, Minas Gerais, Brasil. Boletim de Botnica da Universidade de So Paulo 21(1): 1-24.

    Ratter, J.A. 1992. Transitions between Cerrado and forest vegetation in Brazil. Pp. 417430. In: Furley, P.A. Proctor, J. & Ratter, J.A. (Eds.). Nature and Dynamics of ForestSavanna Boundaries. London, Chapman & Hall.

    Ratter, J.A.; Askew, G.P.; Montgomery, R.F. & Giff ord, D.R. 1978. Observa-tions on forests of some mesotrophic soils in Central Brazil. Revista Brasileira de Botnica 1: 4758.

    Rapini, A.; Ribeiro, P.L.; Lambert, S. & Pirani, J.R. 2008. A fl ora dos campos rupestres da Cadeia do Espinhao. Megadiversidade 4(1/2): 15-23.

    Ribeiro, K.T.; Nascimento, J.S.; Madeira, J.A. & Ribeiro, L.C. 2009. Aferio dos limites da Mata Atlntica na Serra do Cip, MG, Brasil, visando maior compreenso e proteo de um mosaico vegetacional fortemente ameaado. Natureza & Conservao 7(1): 30-48.

    Rizzini, C.T. 1979. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecolgicos, sociolgicos e fl orsticos. Rio de Janeiro, mbito Cultural Edies Ltda.

    Rodrigues, R.R.; Morellato, L.P.C.; Joly, C.A. & Leito-Filho, H.F. 1989. Estudo fl orstico e fi tossociolgico em um gradiente altitudinal de mata estacional mesfi la semidecdua, na Serra do Japi, Jundia, SP. Revista Brasileira de Botnica 12: 71-84.

    Saadi, A. 1995. A geomorfologia da Serra do Espinhao em Minas Gerais e de suas margens. Geonomos 3(1): 41-63.

    Santos, M.F. 2009. Anlise fl orstica em fl oresta estacional semidecidual na encosta leste da Serra do Cip, MG. Dissertao de Mestrado, Botnica, Universidade de So Paulo, So Paulo.

    Scolforo, J.R. & Carvalho, L.M.T. (Eds.). 2006. Mapeamento e inventrio da fl ora nativa e dos refl orestamentos de Minas Gerais. Lavras, UFLA.

    Scolforo, J.R; Oliveira, A.D.; Davide, A.C.; Mello, J.M. & Acerbi Junior, F.W. 2002. Manejo sustentado da Candeia (Eremanthus erythropappus (DC.) McLeisch e Eremanthus incanus (Less.) Less.). Lavras, UFLA.

    Shimizu, G.H. 2009. Vochysiaceae na Serra do Cip, Minas Gerais. Dissertao de Mestrado, Botnica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

    Silva. A.C. 2005. Solos. Pp. 59-78. In: Silva, A.C.; Pedreira, L.C.V.S. & Almeida-Abreu, P.A. (Eds.). Serra do Espinhao Meridional: paisagens e ambientes. Belo Horizonte, O Lutador.

    Silveira, A.A. 1908. Flora e Serras Mineiras. Belo Horizonte, Imprensa Offi cial.

    Sleumer, H. 1984. Olacaceae. Flora Neotropica Monograph 38: 1-159.Smith, A.R.; Pryer, K.M.; Schuettpelz, E.; Korall, P.; Schneider, H. & Wolf,

    P.G. 2006. A classifi cation for extant ferns. Taxon 55(3): 705-731.Stannard, B.L. (Ed.). 1995. Flora of the Pico das Almas, Chapada

    Diamantina, Bahia, Brazil. Kew, Royal Botanic Gardens.Stehmann, J.R.; Forzza, R.C.; Salino, A.; Sobral, M.; Costa, D.P. & Kamino,

    L.H.Y. 2009. Plantas da Floresta Atlntica. Rio de Janeiro, Jardim Botnico do Rio de Janeiro.

    Torres, R.B.; Martins, F.R. & Kinoshita, L.S. 1997. Climate, soil and tree fl ora relationships in forests in the state of So Paulo, southeastern Brasil. Revista Brasileira de Botnica 20(1): 41-49.

    Van Den Berg. E. & Oliveira-Filho, A.T. 2000. Composio fl orstica e estrutura fitossociolgica de uma floresta ripria em Itutinga, Minas Gerais, e comparao com outras reas. Revista Brasileira de Botnica 23(3): 231-253.

    Veloso, H.P.; Rangel Filho, A.L.R. & Lima, J.C.A. 1991. Classifi cao da vegetao brasileira adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro, FIBGE.

    Zappi, D.C.; Lucas, E.; Stannard, B.L.; Lughadha, E.N.; Pirani, J.R.; Queiroz, L.P.; Atkins, S.; Hind, D.J.N.; Giulietti, A.M.; Harley, R.M. & Carvalho, A.M. 2003. Lista das Plantas Vasculares de Catols, Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Boletim de Botnica da Universidade de So Paulo 21(2): 345-398.