cerrado final ok

37
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - UFSCar Campus Sorocaba Curso de Licenciatura em GEOGRAFIA CERRADO ALUNOS: Edineuza Oliveira SIlva Everton Ricardo Jampietri Leme Julio César Souza Godinho Roberto Carlos Comitre Thiago Queiroz Ambrosio Sorocaba - SP Data: 23/11/2011

Upload: beto-comitre

Post on 21-Jul-2015

45 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS - UFSCar Campus Sorocaba Curso de Licenciatura em GEOGRAFIA

CERRADO

ALUNOS: Edineuza Oliveira SIlva Everton Ricardo Jampietri Leme Julio Csar Souza Godinho Roberto Carlos Comitre Thiago Queiroz Ambrosio

Sorocaba - SPData: 23/11/2011

SUMRIO1 O CERRADO UM BIOMA? O QUE BIOMA.................................................4 2 O QUE CERRADO..........................................................................................5 2.1 Vegetao...................................................................................................7 2.1.1 Formaes Florestais............................................................................10 2.1.2 Foramaes Tpicas de Cerrado (Savnicas).......................................14 2.1.3 Formaes Campestres........................................................................18 2.2 Relevo.......................................................................................................20 2.3 Solo...........................................................................................................24 2.4 Clima.........................................................................................................26 2.5 Hidrografia................................................................................................29 3 O FOGO NO CERRADO...................................................................................20 3.1 Temperatura do Ar e do Solo..................................................................32 3.2 Transferncia de Nutrientes....................................................................32 3.3 Fisionomia e Estrutura da Vegetao.....................................................33 3.4 Rebrotamento e a Florao.....................................................................34 3.5 Disperso de Sementes e a Germinao................................................35 3.6 Efeitos do Fogo Sobre a Fauna ..............................................................35 3.7 Manejo do Fogo........................................................................................36 Bibliogafia...........................................................................................................37

CERRADO

1 O CERRADO UM BIOMA? O QUE BIOMAEm um dicionrio de Ecologia (Oxford 2004, p. 56), encontramos a seguinte definio: Uma subdiviso biolgica que reflete o carter fisionmico e ecolgico da vegetao. Biomas so as maiores comunidades biticas e geogrficas que so convenientes de serem reconhecidas. Eles correspondem, grosso modo, s regies climticas, ainda que outros controles ambientais sejam algumas vezes importantes. Eles so equivalentes ao conceito de principais formaes vegetais na Ecologia Vegetal, mas so definidos em termos de todos os organismos vivos e de suas interaes com o meio (e no apenas com o tipo de vegetao dominante). Tipicamente, biomas distintos so reconhecidos para todas as principais regies climticas no mundo, enfatizando as adaptaes dos organismos aos seus ambientes, e.g., bioma das florestas tropicais pluviais, bioma dos desertos, bioma das tundras. Batalha (2011) revendo uma srie de definies do conceito de bioma, chegou a algumas concluses: 1) o conceito de bioma fisionmico, isto , leva-se em conta a aparncia geral da vegetao, resultante do predomnio de certas formas de vida; 2) o conceito de bioma funcional, isto , levam-se em conta aspectos como os ritmos de crescimento e reproduo; 3) o conceito de bioma no florstico, isto , a afinidade taxonmica das espcies que aparecem em vrias unidades de um mesmo bioma irrelevante; 4) o conceito de bioma delimitado pela vegetao, mas engloba alm dela, toda a demais biota; 5) o conceito de bioma aplicvel Terra como um todo e no a esta ou quela regio.

2 O QUE O CERRADOQuanto conceituao, o termo Cerrado uma palavra de origem espanhola que significa fechado. Esse termo tenta traduzir a caracterstica geral da vegetao arbustivo-erbcia densa que ocorre nessa formao. Contudo, a falta de uma homogeneidade na sua paisagem e de terminologias vem gerando discusses e dificuldades na definio de conceitos. Batalha (2011) ressalta que dentro de um domnio fitogeogrfico, isto , uma rea do espao geogrfico, com dimenses subcontinentais, em que predominam caractersticas morfoclimticas semelhantes e um certo tipo de vegetao, h vrios tipos vegetacionais. Assim, dentro do domnio do Cerrado, alm do cerrado como tipo vegetacional dominante, h outros tipos vegetacionais, como a floresta ripcola, o campo rupcola, a floresta estacional semidecdua, a floresta estacional decdua, o campo mido, entre outros. Justamente por sua variao fisionmica, indo do campo limpo (bioma dos campos tropicais), passando pelas fisionomias intermedirias (bioma das savanas) e chegando ao cerrado (bioma das florestas estacionais), o cerrado sensu lato no pode ser considerado um nico bioma, mas sim um complexo de biomas, mais especificamente trs. O Professor Altair Sales Barbosa, professor e pesquisador do Instituto do Trpico Submido da Universidade Catlica de Gois diz que o cerrado no apresenta uma unidade zoogeogrfica pelo simples fato de no apresentar essa caracterstica, e tampouco pode ser considerada uma unidade fitogeogrfica, pois no se trata de uma rea uniforme em termos de paisagem vegetal. O mais correto seria correlacionar os diversos fatores que compem a sua biocenose e defin-lo como um Sistema Biogeogrfico que pode ser entendido como sendo composto por diversos subsistemas intimamente interatuantes. Desta forma, para este autor, o Sistema Biogeogrfico dos Cerrados, no pode ser tomado como uma unidade homognea, pois ostenta no seu domnio, uma srie de biomas, ambientes diversificados entre si, pelo carter fisionmico e pela composio vegetal e animal. Esses biomas constituem os seus subsistemas e sua compreenso fundamental para entender o sistema como um todo e o carter da biodiversidade que o ostenta.

Este

susbsistema,

se

compe

de

seis

subsistemas

interatuantes

assim

denominados: Subsistema dos Campos; Subsistemas do Cerrado; Subsistemas do Cerrado; Subsistemas das Matas; Susbsistemas das Matas Ciliares, e Susbsistemas das Veredas e Ambientes Alagados. Segundo Ferreira, o Bioma Cerrado ocupava aproximadamente 22% do territrio brasileiro, abrangendo cerca de dois milhes de km, distribuindo-se por mais de dez Estados Brasileiros: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondnia, Gois, Tocantins, Minas Gerais, Bahia, Maranho, Piau, So Paulo e o Distrito Federal, bem como reas remanescentes nos Estados do Par, Roraima e Amap. Esse bioma compreende reas entre os paralelos 3 e 24 de latitude Sul e entre 41 e 63 de longitude Oeste, situando-se na poro central do continente SulAmericano. Foi o segundo maior bioma do pas, s perdendo para a Floresta Amaznica, servindo de interconexo com outros biomas nacionais e sua rea de ocorrncia constitui-se no divisor de guas brasileiro, uma vez que as principais bacias hidrogrficas tm seus nascedouros nessa regio. Hoje, os processos de ocupao antrpica praticamente degradaram esse bioma. Alguns cientistas mais cticos afirmam que restam, aproximadamente, 8% do Cerrado, outros mais otimistas afirmam que restam cerca de 20%. As atividades agro-pastoris e a urbanizao do campo praticamente extinguiram o Bioma Cerrado da paisagem do Brasil. Restam apenas poucas reas disjuntas, fragmentos de um sistema biogeogrfico que no mais consegue aglutinar ambincia para a sobrevivncia da maioria das espcies vegetais e, principalmente, animais que necessitam de grandes reas contguas mais preservadas para constiturem seus territrios. A produo desse espao decorre dos processos esmagadores do capitalismo, com suas estruturas polticas corruptas, corruptveis e subservientes, em detrimento de uma legislao mais subserviente ainda ao sistema vigente. Essa degradao do Cerrado, decorrente da antropizao, tambm afeta a dinmica hdrica nacional, uma vez que as principais bacias hidrogrficas do Brasil tm suas nascentes na regio do Planalto Central, reas j bastante degradadas, comprometidas quanto ao aspecto biogeogrfico, conseqentemente, refletindo na quantidade e qualidade da gua fluida das entranhas do bioma Cerrado. Devido a sua vasta extenso territorial, posio geogrfica, heterogeneidade vegetal e por ser cortado pelas trs maiores bacias hidrogrficas da Amrica do Sul,

Amaznica,

Platina

e

Sanfranciscana,

o

Cerrado

destaca-se

pela

sua

biodiversidade. Por estar nessa posio central no Brasil, essa posio estratgica facilita o intercmbio florstico e faunstico entre os domnios biogeogrficos brasileiros, formando corredores de migrao importantes.

2.1 Vegetao No site do Departamento de Ecologia do Instituto de Biocincias da USP (ECO BIO), o professor Coutinho relata que a vegetao do Bioma do Cerrado, considerado aqui em seu "sensu lato", no possui uma fisionomia nica em toda a sua extenso. Muito ao contrrio, ela bastante diversificada, apresentando desde formas campestres bem abertas, como os campos limpos de cerrado, at formas relativamente densas, florestais, como os cerrades. Entre estes dois extremos fisionmicos, vamos encontrar toda uma gama de formas intermedirias, com fisionomia de savana, s vezes de carrasco, como os campos sujos, os campos cerrados, os cerrados "sensu stricto" (s.s.). Assim, na natureza o Bioma do Cerrado apresenta-se como um mosaico de formas fisionmicas, ora manifestando-se como campo sujo, ora como cerrado, ora como campo cerrado, ora como cerrado s.s. ou campo limpo. Quando percorremos reas de cerrado, em poucos km podemos encontrar todas estas diferentes fisionomias. Este mosaico determinado pelo mosaico de manchas de solo pouco mais pobres ou pouco menos pobres, pela irregularidade dos regimes e caractersticas das queimadas de cada local (freqncia, poca, intensidade) e pela ao humana. Assim, embora o Bioma do Cerrado distribua-se predominantemente em reas de clima tropical sazonal, os fatores que a limitam a vegetao so outros: a fertilidade do solo e o fogo. O clmax climtico do Domnio do Cerrado no o Cerrado, por estranho que possa parecer, mas sim a Mata Mesfila de Interflvio, sempre verde, que hoje s existe em pequenos relictos, sobre solos frteis tipo terra roxa legtima. As diferentes formas de Cerrado so, portanto, pedoclmaces ou piroclmaces, dependendo de ser o solo ou o fogo o seu fator limitante. Claro que certas formas abertas de cerrado devem esta sua fisionomia s derrubadas feitas pelo homem para a obteno de lenha ou carvo.

De um modo geral, podemos distingir dois estratos na vegetao dos Cerrados: o estrato lenhoso, constitudo por rvores e arbustos, e o estrato herbceo, formado por ervas e subarbustos. Ambos so curiosamente helifilos. Ao contrrio do caso de uma floresta, o estrato herbceo aqu no formado por espcies de sombra, umbrfilas, dependentes do estrato lenhoso. O sombreamento lhe faz mal, prejudica seu crescimento e desenvolvimento. O adensamento da vegetao lenhosa acaba por eliminar em grande parte o estrato herbceo. Por assim dizer, estes dois estratos se antagonizam. Por esta razo entendemos que as formas intermedirias de Cerrado - campo sujo, campo cerrado e cerrado s.s. representem verdadeiros ectonos, onde a vegetao herbcea/subarbustiva e a vegetao arbrea/arbustiva esto em intensa competio, procurando, cada qual, ocupar aquele espao de forma independente, individual. Aqueles dois estratos no comporiam comunidades harmoniosas e integradas, como nas florestas, mas representariam duas comunidades antagnicas, concorrentes. Tudo aquilo que beneficiar a uma delas, prejudicar, indiretamente, outra e vice-versa. Elas diferem entre si no s pelo seu espectro biolgico, mas tambm pelas suas floras, pela profundidade de suas razes e forma de explorao do solo, pelo seu comportamento em relao seca, ao fogo, etc., enfim, por toda a sua ecologia. Toda a gama de formas fisionmicas intermedirias parece-nos expressar exatamente o balano atual da concorrncia entre aqueles dois estratos. Troncos e ramos tortuosos, sber espsso, macrofilia e esclerofilia so caractersticas da vegetao arbrea e arbustiva, que de pronto impressionam o observador. O sistema subterrneo, dotado de longas razes pivotantes, permite a estas plantas atingir 10, 15 ou mais metros de profundidade, abastecendo-se de gua em camadas permanentemente midas do solo, at mesmo na poca seca. J a vegetao herbcea e subarbustiva, formada tambm por espcies predominantemente perenes, possui rgos subterrneos de resistncia, como bulbos, xilopdios, sboles, etc., que lhes garantem sobreviver seca e ao fogo. Suas razes so geralmente superficiais, indo at pouco mais de 30 cm. Os ramos areos so anuais, secando e morrendo durante a estao seca. Formam-se, ento 4, 5, 6 ou mais toneladas de palha por ha/ano, um combustvel que facilmente se inflama, favorecendo assim a ocorrncia e a propagao das queimadas nos Cerrados. Neste estrato as folhas so geralmente micrfilas e seu escleromorfismo menos acentuado.

Modelo de classificao da vegetaao do cerrado desenvolvido por Ribeiro e Walter (1998)

Ferreira em sua tese, relata que a vegetao do Cerrado na realidade uma adaptao s caractersticas do solo. Apresentam como resposta a profundidade do solo e a presena de gua em suas camadas mais profundas, rvores e arbustos com complexos e profundos sistemas de razes, tal fato lhes permite, mesmo durante a estao seca, obter o suprimento de gua necessrio para a sobrevivncia, para que se protejam das queimadas e possam depois rebrotar. Apesar do bioma Cerrado hoje ser considerado um bioma com identidade prpria, do ponto de vista fisionmico, existe discordncia entre vrios estudiosos a respeito de classificao para os tipos vegetacionais do Cerrado. Mas o modelo de classificao da vegetao do Cerrado muito utilizado atualmente em vrias pesquisas tem sido o desenvolvido por Ribeiro e Walter (1998), neste modelo de classificao da vegetao do Cerrado, proposto diviso de onze tipos

fitofisionomicos (este onze tipos podem ser ainda divididos em subtipos), compreendidos em trs formaes vegetacionais, Forestal (Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerrado), Savnicas (Cerrado sentido restrito, Parque de Cerrado, Palmeiral e Vereda) e Campestre (Campo Sujo, Campo Rupestre e Campo Limpo). Devido a este processo de ocupao no Brasil, cerca de 80% do Cerrado j foi modificado pelo homem por causa da expanso agropecuria, a urbanizao e da construo de estradas. Aproximadamente 40% do Cerrado conservam, parcialmente, suas caractersticas iniciais e os outros 40% j as perderam totalmente, mas so somente 19,15%, que ainda possui a vegetao original, em bom estado de conservao e, apenas 0,85% do Cerrado encontra-se oficialmente em unidades de conservao.

2.1.1 Formaes Florestais As formaes florestais do Cerrado englobam os tipos de vegetao com predominncia de espcies arbreas e formao de dossel. a) Mata Ciliar entende-se como sendo a vegetao florestal que acompanha os rios de mdio e grande porte da regio do Cerrado, em que a vegetao arbrea no forma galerias. Em geral, essa Mata relativamente estreita em ambas as margens, dificilmente ultrapassando os cem metros de largura em cada margem. Geralmente, esse tipo de formao ocorre sobre terrenos acidentados, podendo haver transio nem sempre evidente para outras fisionomias florestais como a Mata Seca e o Cerrado. As rvores, predominantemente eretas, variam em altura de vinte a vinte e cinco metros, com alguns poucos indivduos emergentes alcanando trinta metros ou mais. As espcies tpicas so predominantemente caduciflias, com algumas sempre-verdes, conferindo Mata Ciliar um aspecto semidecduo. Prximo dos leitos dos rios, em locais sujeitos s enchentes, pode haver o predomnio de espcies arbreas e gramneas de grande porte. Nos locais onde pequenos afluentes desguam no rio principal, a flora tpica de Mata Ciliar pode misturar-se

flora da Mata de Galeria, fazendo com que a delimitao fisionmica seja dificultada entre ambas.

Mata Ciliar

b) Mata de Galeria entende-se como sendo a vegetao florestal que acompanha os rios de pequeno porte e crregos dos planaltos do Brasil Central, formando corredores fechados (galerias) sobre o curso dgua. Localizam-se nos fundos de vales ou nas cabeceiras de drenagem onde os cursos dgua ainda no escavaram um canal definitivo. Sua fisionomia pereniflia, no apresentando caduciflia durante a estao seca. Quase sempre circundada por faixas de vegetao no florestal em ambas as margens e, em geral, ocorre uma transio brusca com Formaes Tpicas de Cerrado e Campestres. A transio quase imperceptvel quando ocorre com Matas Ciliares, Matas Secas ou mesmo Cerrades. Possui estrato arbreo variando entre vinte e trinta metros, com uma superposio de copas que fornecem cobertura arbrea de 85% (mdia). No seu interior a umidade relativa alta, mesmo na poca mais seca do ano. De acordo com a composio florstica e caractersticas ambientais, como topografia e variao da altura do lenol fretico ao longo do ano, a Mata de Galeria pode ser de dois subtipos: Mata de Galeria no-Inundvel representa a vegetao florestal que acompanha um curso dgua, onde o lenol fretico no est prximo ou sobre a superfcie do terreno na maior parte dos trechos o ano todo, mesmo na estao

chuvosa. Apresenta trechos longos com topografia acidentada, sendo poucos os locais planos. Possui solos bem drenados e uma linha de drenagem (leito do crrego) definida. Mata de Galeria Inundvel - representa a vegetao florestal que acompanha um curso de gua, onde o lenol fretico est prximo ou sobre a superfcie do terreno na maior parte dos trechos durante o ano todo, mesmo na estao seca. Apresenta trechos longos com topografia bastante plana, sendo poucos os locais acidentados. Possui drenagem deficiente e linha de drenagem (leito do crrego) muitas vezes pouco definida e sujeita a modificaes. Algumas espcies podem ser encontradas tanto na Mata de Galeria noInundvel quanto na Inundvel.

Mata Galeria

c) Mata Seca so as formaes florestais caracterizadas por diversos nveis de caduciflia durante a estao seca, dependentes das condies qumicas, fsicas e, principalmente, da profundidade do solo. A Mata Seca no possui associao com cursos de gua, ocorrendo nos interflvios em solos geralmente mais ricos em nutrientes. Em funo do tipo de solo, da composio florstica e, em conseqncia, da caducifolhice no perodo seco, a Mata Seca pode ser de trs subtipos: Mata Seca Sempre-Verde, Mata Seca Semidecdua a mais comum e Mata Seca Decdua. Em todos esses subtipos a queda de folhas contribui para o aumento da matria orgnica no solo, mesmo na Mata Seca Sempre-Verde.

A altura mdia do estrato arbreo varia entre quinze e vinte e cinco metros, com a grande maioria das rvores eretas, com alguns indivduos emergentes. Na poca chuvosa as copas tocam-se fornecendo uma cobertura arbrea de 70 a 95%, enquanto que na poca seca a cobertura pode ser inferior a 50%, especialmente na Mata Decdua, na qual predominam espcies caduciflias. O dossel fechado na poca chuvosa desfavorece a presena de muitas plantas arbustivas, enquanto a diminuio da cobertura na poca seca no possibilita a presena de muitas espcies epfitas, podendo ocorrer espcies de Orchidaceae.

Mata Seca

d) Cerrado uma formao florestal com aspectos xeromrficos, caracterizado pela presena de espcies que ocorrem no Cerrado sentido restrito e tambm por espcies de mata. Do ponto de vista fisionmico uma floresta, mas floristicamente mais similar a um Cerrado. Apresenta dossel predominantemente contnuo e cobertura arbrea que pode oscilar em torno dos 70%, com altura mdia do estrato arbreo variando entre oito e quinze metros, propiciando condies de luminosidade que favorecem a formao de estratos arbustivo e herbceo diferenciados, com espcies de epfitas reduzidas.

Em funo da fertilidade do solo, o Cerrado pode ser classificado como Cerrado Distrfico (solos pobres) ou Cerrado Mesotrfico (solos mais ricos), cada qual possuindo espcies caractersticas adaptadas a esses ambientes edficos.

Cerrado

2.1.2 Formaes Tpicas de Cerrado (Savnicas) As Formaes Tpicas de Cerrado englobam quatro tipos fisionmicos, que podem apresentar subdivises segundo a densidade arbreo-arbustiva ou em funo do ambiente em que se encontram. a) Cerrado sentido restrito caracteriza-se pela presena de rvores baixas,inclinadas, tortuosas, com ramificaes irregulares e retorcidas, geralmente com evidncias de queimadas. Os arbustos e subarbustos encontram-se espalhados, com algumas espcies apresentando rgos subterrneos perenes (xilopdios), que permitem a rebrota aps queima ou corte. Na poca chuvosa os estratos subarbustivo e herbceo tornam- se exuberantes devido ao seu rpido crescimento. Os troncos das espcies lenhosas em geral possuem cascas com cortia grossa, fendida ou sulcada, e as gemas apiciais de muitas espcies so protegidas por densa pilosidade. As folhas em geral so rgidas e coriceas. Fatores como pH, condies edficas, alumnio, fertilidade, condies hdricas, profundidade, queimadas e aes antrpicas podem influenciar na

densidade arbrea do Cerrado sentido restrito, refletindo na sua composio florstica e estrutura. Decorrente dessa complexidade, pode-se perceber subdivises fisionmicas distintas no Cerrado sentido restrito: Cerrado Denso, Cerrado Tpico, Cerrado Ralo e Cerrado Rupestre. O Cerrado Denso um subtipo de vegetao predominantemente arbreo, com cobertura de 50% a 70% e altura mdia de cinco a oito metros. Representa a forma mais densa e alta de Cerrado sentido restrito. Os estratos arbustivo e herbceo so mais ralos, provavelmente devido ao sombreamento resultante da maior densidade de rvores. O Cerrado Tpico um subtipo de vegetao predominantemente arbreo-arbustiva, com cobertura arbrea variando de 20% a 50% e altura mdia de trs a seis metros. J o Cerrado Ralo um subtipo de vegetao arbreo-arbustiva, com cobertura arbreavariando entre 5% a 20% e altura mdia de dois a trs metros. Representa a forma mais baixa e menos densa de Cerrado sentido restrito. E o Cerrado Rupestre um subtipo de vegetao arbreo-arbustiva que ocorre em ambientes rupestres. Possui cobertura arbrea varivel entre 5% a 20% e altura mdia de dois a quatro metros, com estrato arbustivo-herbceo tambm destacado. Pode ocorrer em trechos contnuos, mas geralmente aparece em mosaicos, inserido em outros tipos de vegetao.Cerrado Sentido Restrito

b) Parque de Cerrado uma formao tpica de Cerrado caracterizada pela presena de rvores agrupadas em pequenas elevaes do terreno, algumas vezes imperceptveis,conhecidas como murundus ou monches. As rvores possuem altura mdia de trs a seis metros e formam uma cobertura arbrea varivel de 5% a 20%.

Parque de Cerrado

c) Palmeiral uma formao tpica de Cerrado caracterizada pela presena marcante de uma nica espcie de palmeira arbrea. Nessa fitofisionomia praticamente no existem rvores dicotiledneas, embora essas possam ocorrer com freqncia baixa. No bioma Cerrado podem ser encontrados diferentes subtipos de palmeirais, que variam sua estrutura de acordo com a espcie dominante. Geralmente, os Palmeirais do Cerrado so encontrados em terrenos bem drenados, embora possam ser encontrados em solos mal drenados, onde pode haver a formao de galerias acompanhando as linhas de drenagem. Palmeirais em solos bem drenados so encontrados nos interflvios.

Palmeiral

d) Vereda a fitofisionomia com palmeira arbrea Mauritia flexuosa ou Mauritia vinifera emergente, em meio a agrupamentos mais ou menos densos de espcies arbustivo-herbceas. As Veredas so circundadas por Campo Limpo, geralmente mido, e os buritis no formam dossel como ocorre no Buritizal, caracterizando-se por altura mdia de doze a quinze metros e a cobertura varia de 5% a 10%. Geralmente ocupam os vales ou reas planas acompanhando linhas de drenagem mal definidas, em geral sem murundus. Tambm so comuns numa posio intermediria do terreno, prximas s nascentes dos cursos dgua ou na borda de Matas de Galeria.

Vereda

2.1.3 Formaes Campestres As Formaes Campestres do Cerrado englobam trs tipos fitofisionmicos principais: o Campo Sujo, o Campo Rupestre e o Campo Limpo. a) Campo Sujo um tipo fisionmico exclusivamente herbceo-arbustivo, com arbustos e subarbustos esparsos cujas plantas, muitas vezes, so constitudas por indivduos menos desenvolvidos das espcies do Cerrado sentido restrito. O Campo Sujo pode apresentar trs subtipos fisionmicos distintos. Na presena de um lenol fretico profundo, ocorre o Campo Sujo Seco; na presena do lenol fretico alto, ocorre o Campo Sujo mido e, quando na rea ocorrem microrelevos mais elevados, tipo murundus, ocorre o Campo Sujo com Murundus.

Campo Sujo

b) Campo Rupestre um tipo fitofisionmico predominantemente herbceo arbustivo, com presena eventual de arvoretas pouco desenvolvidas de at dois metros de altura. Abrange um complexo de vegetao que agrupa paisagens em microrelevos com espcies tpicas, ocupando trechos de afloramentos rochosos. Ocorre, geralmente, em altitudes superiores a 900 metros, em reas onde ocorrem ventos constantes com dias quentes e noites frias.

Campo Rupestre

c) Campo Limpo uma fitofisionomia predominantemente herbcea, com raros arbustos e ausncia completa de rvores. Pode ser encontrado em diversas posies topogrficas, com diferentes variaes no grau de umidade, profundidade e fertilidade do solo. Contudo, encontrado com mais freqncia nas encostas, nas chapadas, nos olhos dgua, circundando as Veredas e na borda das Matas de Galeria. O Campo Limpo apresenta variaes dependentes de particularidades ambientais, determinadas pela umidade do solo e topografia. Na presena de um lenol fretico profundo ocorre o Campo Limpo seco; na presena de lenol fretico alto, ocorre o Campo Limpo mido e, quando aparecem os murundus, tem-se o Campo Limpo com Murundus, cada qual com sua fitofisionomia especfica.

Campo Limpo

2.2 Relevo O territrio brasileiro possui uma grande variedade das principais paisagens e ecologias do Mundo Tropical, por ser um territrio de grande magnitude espacial. Para efetiva anlise dessas variadas paisagens e ecologias o autor ABSABER denomina-as como domnios morfoclimticos e fitogeogrficos caracterizando-os como um conjunto espacial de grandeza territorial de cerca de centenas de milhares a milhes de Km2, onde haja a integrao entre os tipos de solos, formas de vegetao e condies climtico-hidrolgicas, ocorrendo em uma rea principal, de certa dimenso e arranjo, em que as condies fisiolgicas e biogrficas formam um complexo homogneo e extensivo, essa rea denominada rea core, traduzindo para, rea nuclear. Entre uma rea nuclear e outros domnios vizinhos, existe sempre um interespao de transio de contato, interferindo nos componentes de vegetao, nos tipos de solo e sua forma de distribuio, e at nas feies de detalhes do relevo regional, ou seja, apresenta formas distintas de solo, relevo e vegetao. Desta forma, para o autor, as formas de relevo do Cerrado em sua rea corese definem nos Domnios dos Chapades Recobertos por Cerrados e Penetrados por Florestas-Galeria. Entretanto, mesmo que definido seu domnio,

no possvel uma limitao cartogrfica linear, devido a cada domnio possuir (como j dito acima) sua rea core e faixas ou zonas de transio, onde se interpenetram, se diferenciam ou se misturam - em mosaico complexo componentes de duas ou mesmo das trs reas em contato. de todo oportuno frisar que somente as reas core tm individualizao prpria pela presena de um ecossistema predominante, porm mais nico, apresentando feies geomrficas originais, como tambm reas passveis de ser tomadas, sem nenhuma dvida, como reas "clmax", do ponto de vista rigorosamente fitogeogrfico (pg. 28). Isto se d, devido existncia de fatores locais de exceo, de ordem litolgica, hidrolgica, topogrfica e paleobotnica. Como exemplos: "capes" florestais da rea dos cerrados, "brejos" florestais da rea das caatingas, manchas de cerrados relictos no interior das caatingas e matas, manchas de caatingas em compartimentos de reas de matas. Por isso, encontramos ambientes de cerrados em diferentes tipos de relevo, como nos planaltos tropicais interiorizados da poro centro-oeste do pas, mares de morros florestados, depresses intermontanas colinosas semi-ridas, depresses intermontanas norte-orientais do Planalto Brasileiro, chapades centrais e em compartimentos mais baixos do relevo do Brasil Central. Os chapades ocupando a rea central do Brasil recobertos por cerrados, com florestas de galeria constituem dois tipos de ecossistemas no meio de um espao fsico e bitico de grandes propores, com cerca de 1,7 a 1,9 milho km2 de extenso. O carter longitudinal juntamente com a interiorizao das matas atlnticas impossibilitou a distribuio do cerrado no sentido leste-oeste marcada para o seu domnio. Devido a esse fator, este domnio tem sua rea core presente nessa regio. Cerrados e cerrades se repetem por toda a parte, no interior e nas margens da rea nuclear dos domnios morfoclimticos regionais. um relevo montono, pois se trata do domnio morfoclimtico brasileiro onde ocorre a maior acissividade, extensividade e homogeneidade relativa de formas topogrficas planlticas do Brasil intertropical. Ainda que, em conjunto, chapades sedimentares e chapades de estrutura complexa e de velhos terrenos tenham o mesmo comportamento na estruturao de paisagens fsicas e ecolgicas no domnio dos cerrados, j nos detalhes as feies morfoclimticas so muito mais diversificadas fato bem testemunhado pelo carter compsito dos padres de drenagem das sub-bacias hidrogrficas. No caso do domnio dos cerrados no h

um subdomnio de formas peculiares do terreno sedimentar em oposio aos terrenos cristalinos. No Brasil Central, os altos chapades destitudos de cangas e dominados por gnaisses e rochas metamrficas heterogneas tm a tendncia a uma larga e bem marcada convexizao. Quartzitos e xistos resistentes apresentam perfis irregulares de vertentes, com setores semi-escarpados ravinados. Cerrados e cerrades de maior biomassa recobriam os setores de convexizao mais bem marcada, enquanto que os setores quartzticos possuam coberturas herbceas ralas, pontilhadas por raquticas espcies dos cerrados. A regio central dos cerrados ocupa, predominantemente, macios planaltos de estrutura complexa, dotados de superfcies aplainadas de cimeira, alm de um conjunto significativo de planaltos sedimentares compartimentados, formando o grande Planalto Central , situados a nveis de altitude que variam de 300 a 1 700 m. As formas de terreno so, em sua maioria, similares tanto nas reas de solos cristalinos aplainados como nas reas sedimentares mais elevadas, transformadas em planaltos tpicos. Onde ocorrem bancadas de laterita, na cimeira dos plats, aparecem os mais degradados fcies naturais de cerrados: campos pontilhados de arboretas ans. Cabe lembrar, que est rea representa a metade da rea total do gigantesco conjunto de terras altas, de mediana altitude (600 a 1100 m), designado por Planalto Brasileiro. Comparado com as acidentadas e corrugadas terras do Sudeste e Leste do pas, o Planalto Central efetivamente pode ser considerado uma vasta rea de chapades, revestidos por cerrados e penetrados por florestas-galeria. Um "mar de chapades" com cerrados, interpenetrado por florestas galerias, opondo-se a um "mar de morros" originalmente florestado. O prprio Nordeste Seco, com suas largas depresses interplanlticas e intermontanas - dominados por caatingas e drenagens intermitentes -, muito mais compartimentado que o elevado e relativamente contnuo conjunto de terras altas do Brasil Central. Nesse sentido, uma diferena essencial marca esses dois domnios morfoclimticos e fitogeogrficos. Em sua rea nuclear os cerrados ocupam os interflvios de um extensssimo planalto. No domnio das caatingas, a rea nuclear situa-se predominantemente nas depresses interplanlticas, em posio totalmente oposta dos cerrados. No domnio dos cerrados e cerrades, predominam interflvios e vertentes suaves dos diferentes tipos de planaltos regionais. Faixas de campos limpos ou

campestres sublinham as reas de cristas quartzticas e xistos aplainados e mal pedogenetizados dos bordos de chapades onde nascem bacias de captao de pequenas torrentes dotadas de forte capacidade de dissecao (centro-sul de Gois). As verdadeiras florestas de galeria, algumas vezes, ocupam apenas os diques marginais do centro das plancies de inundao, em forma de corredor contnuo de matas; outras vezes, quando o fundo aluvial mais homogneo e alongado, ocupam toda a sua calha, sob a forma de serpenteantes corredores florestais (matas de pindaba). Nos casos em que predominam sedimentos arenosos nos bordos das plancies de inundao formam-se corredores herbceos (veredas) nos seus dois bordos que so feitos por florestas de galeria estendem-se continuamente pelo setor aluvial central das plancies. No se pode falar em um nico cerrado: existem veredas, reas alagadas, imensas campinas e matas fechadas. A expanso da cobertura vegetal da rea nuclear dos cerrados se deu da cobertura vegetal dos altiplanos para algumas depresses Interplanlticas existentes no centro ou na periferia do antigo grande refgio dos cerrados do Brasil Central. Muitas de tais depresses, at h poucos milnios, foram mais secas do que atualmente, ainda que um pouco menos quentes (13 mil a 18 mil anos A.P.). E, como se ver, tais setores interplanlticos foram exatamente aqueles que tiveram maior sensibilidade relativa s variaes climticas do Quaternrio, ao longo de todo o Planalto Brasileiro (Ab'Sber, 1964, 1965). S recentemente - nos ltimos dez milnios serviram de reas para 'expanso e coalescncia dos cerrados (e cerrades), localizados anteriormente apenas nas cimeiras dos chapades centrais. Desses refgios localizados nas cimeiras dos planaltos centrais partiram biomassas sob forma de manchas de leo, povoando as depresses interplanlticas at ento secas situadas ao norte de Gois, no Maranho-Piau, no Pediplano Cuiabano, no mdio vale superior do So Francisco, e por parte no Paran, na depresso perifrica paulista e nas colinas campestres de Roraima e do Amap. Mais recentemente, dos cerrados de cimeiras e dos cerrados interplanlticos se expandiram cerrados e campestres para as depresses aluviais e em parte elicas dos Llanos do Orinoco (Morales) e regies similares, postadas na costa ou em compartimentos interiores da metade norte da Amrica do Sul. Houve uma gerao arcaica de cerrados que deve ter remontado a alguma poca do Tercirio e que depois recuou para refgios intermedirios medida que se abriram

e se expandiram as depresses interplanlticas. Estas, por sua vez, receberiam uma segunda gerao de cerrados vindos dos refgios de cimeira, a qual disputou espao com as caatingas e floras secas por ocasio das flutuaes climticas do Pleistoceno. E, por fim, quando os climas midos passaram a predominar e as caatingas se circunscreveram praticamente ao Nordeste semi-rido atual, algumas biomassas de cerrado se deslocaram para o noroeste da Amrica do Sul, ocupando espaos dos campos de dunas" e aluvies grosseiros, herdados do mximo da semiaridez quaternria antiga (Pleistoceno J'erminal), na depresso do Orinoco (Morales). Esta, a terceira e mais recente vaga de cerrados, reexpandida a partir dos refgios existentes em colinas de depresses interplanlticas e intermontanas (Amap, Gr-Sabana). O Planalto Central tem o seu corpo territorial bsico centrado em trs unidades geomorfolgico-estruturais de grande extenso: o setor norte dos planaltos sedimentares (e/ou baslticos) da bacia do Paran, desfeitos em um relevo de cu estas concntricas de frente externa, com altitudes que variam entre 300 e 1100 m; o altiplano de rochas antigas e estruturas dobradas do centro de Gois (altiplano de Braslia), talvez remontantes ao Tercirio, em termos de idade geomorfolgica; e os planaltos sedimentares cretcicos da bacia do Urucuia, situados a noroeste de Minas Gerais e a oeste da Bahia, ladeados por duas depresses perifricas, do mdio vale do So Francisco e depresso perifrica do Paran. E, por fim, setores descontnuos de depresses interplanlticas que circundam as terras altas sedimentares ou cristalinas, por todos os quadrantes, menos o sul e o sudoeste, na direo do Paran, do Paraguai e da Argentina. De certa forma, essa rede de depresses interplanlticas, situadas a leste, nordeste, norte, noroeste e oeste do Planalto Central, que salienta o espao geogrfico principal do domnio dos cerrados em sua rea nuclear. Os cerrados que ocupam depresses interplanlticas mais quente, ainda que sob efeito da sazonalidade, ali se instalaram recentemente, nos ltimos milnios.

2.3 Solo Os latossolos predominam no Cerrado Brasileiro, estando presentes em 46% da rea do bioma. Estes tipos de solo se caracterizam, principalmente, pela baixa

fertilidade e alta acidez. Por outro lado, trata-se de solos antigos, profundos, com tima drenagem e que se assentam em relevos planos ou levemente ondulados. Pelo Sistema Brasileiro de Classificao de Solos (Embrapa, 1999), os Latossolos esto includos no grupo dos laterticos. No cerrado brasileoro so encontrados principalmente Latossolo Vermelho-Amarelo e Latossolo Vermelho, seguidos de Neossolos Quartzarnicos (textura areia ou areia franca), Argissolos e outras classes de solos em menores propores, merecendo nota os Plintossolos e os solos de caractersticas hidromrficas, como os Gleissolos. Reatto et al. (1998) estabeleceram relaes entre a cor, que reflete a drenagem, o contedo de matria orgnica, a forma e o contedo de xidos de ferro do solo, alm da textura, com os tipos fisionmicos do Cerrado. Estes autores indicaram a ocorrncia de Mata Seca e Cerrado nos solos derivados de rochas ricas em minerais ferromagnesianos (ferro e magnsio) como basalto, diabsio, gabro e granulitos ortoderivados. Solos originados de rochas arenticas e quartzticas so geralmente muito pobres em macro e micronutrientes e em matria orgnica. Quanto s condies fsicas, so porosos e de estrutura solta, susceptveis eroso hdrica e elica, principalmente quando destitudos de vegetao. Grande parte do Cerrado est recoberta por crostas ferruginosas, laterticas, que em mistura com material quartztico formam solos arenoargilosos, muito pobres em nutrientes e com altos teores de xidos de ferro. Fitofisionomias variando desde Campo at Mata Seca podem ocorrer em solos derivados da mistura de rochas ricas e pobres. Sobre rochas calcrias, pouco resistentes ao intemperismo, desenvolvem-se solos com teores mais elevados de bases trocveis, como o clcio e magnsio, associados vegetao de Mata Seca Decdua. Mas, se esses solos calcrios ocorrerem em posies mais aplainadas da paisagem, sendo muito intemperizados, profundos e de baixa fertilidade (bases como o clcio e magnsio foram perdidas atravs de lixiviao), a vegetao encontrada o Cerrado sentido restrito (ou stricto sensu). Embora at a dcada de 1970 o solo do Cerrado tenha sido considerado praticamente imprprio para o cultivo agrcola, foram principalmente as caractersticas deste solo que, com o avano tecnolgico, possibilitaram a expanso agrcola na regio abrangida por este bioma. Primeiramente, possvel corrigir a acidez e a baixa fertilidade com o uso adequado de corretivos e de fertilizantes. Alm disso, por serem bem drenados, resistentes compactao e se assentarem

em relevos planos, estes solos permitem o uso intensivo da mecanizao (Cunha, 1994; Abelson & Rowe,1987).

2.4 Clima O clima um fator de elevada importncia dentro do domnio morfoclimtico do cerrado, sendo que uma das teses de formao desse domnio se remete ao clima. A teoria climtica teve o seu primeiro defensor em Warming, que considerava a existncia de uma prolongada estao seca como fator mais importante para a existncia dos cerrados. O fato, porm, de coexistirem sob o mesmo clima diferentes formas de cerrado fez com que o prprio Warming admitisse que essa formao, aparentemente, resultava de uma escassez de gua aliada a condies especiais de solo. O cerrado se localiza entre 5 e 20 de latitude Sul e de 45 a 60 de longitude Oeste, ocupando uma grande poro do territrio nacional. A dinmica atmosfrica tem grande relevncia sobre o clima do cerrado, ocorrendo a atuao dos centros de ao positivos, que ocorrem sob a forma de massas de ar de origem martima que se deslocam pelo continente, avanando ou recuando, e sob a influncia dos centros de ao negativos, de origem continental. Como centros positivos podemos destacar os centros de alta presso do Atlntico Norte, do Atlntico Sul, do Pacfico e das altas presses polares; os de ao negativos so as depresses Amaznica e do Chaco. O centro de alta presso do Atlntico Sul caracteriza-se pela grande quantidade de umidade transportada do oceano ao interior dessa regio. Atua tambm em conjuntos os sistemas originados do Norte e do Oeste, como a Alta da Bolvia, resultando em uma faixa continua de nebulosidade e determinando o regime de chuva na rea do cerrado. A massa equatorial continental (quente e mida) atua durante a primavera e o vero em decorrncia do recuo da massa polar atlntica, gerando a ocorrncia de chuva convectiva de vero. Os veranicos, que so perodos de estiagem dentro da estao chuvosa, recebem influncia da massa tropical continental que quente e seca.

Nebulosidade causada pela Zona de Convergncia do Atlntico Sul

Massas de ar que influenciam no clima do Brasil

O clima predominante o Tropical Sazonal, que caracterizado por duas estaes bem definidas, uma quente e mida e outra fria e seca. A temperatura mdia anual fica em torno de 22-23C, sendo que as mdias mensais apresentam pequena estacionalidade. As mximas absolutas mensais no variam muito ao longo dos meses do ano, mas podem chegar a mais de 40C. J as mnimas absolutas

mensais variam bastante, atingindo valores prximos de zero, nos meses de maio, junho e julho. A ocorrncia de geadas no domnio do cerrado no fato incomum, elas prejudicam bastante as plantas, matando suas folhas, que logo secam e caem aumentando assim o risco de incndios. No perodo de seca comum ocorrerem nevoeiros nas manhs, o que faz com que grande quantidade de gua se acumule nas plantas e o solo fique mido. J no fim do dia comum o ar ficar muito seco. Em geral, a precipitao mdia anual fica entre 1200 e 1800 mm. Ao contrrio da temperatura, a precipitao mdia mensal apresenta uma grande estacionalidade, concentrando-se nos meses de primavera e vero, que a estao chuvosa. No perodo de maio a setembro os ndices pluviomtricos mensais reduzem-se bastante, podendo chegar a zero.

Climograma caracterstico do Cerrado

No cerrado no h em geral a ocorrncia de ventos fortes e constantes, porm em agosto costumam acontecer algumas ventanias que acabam levantando cinzas de queimadas e fazendo com que o fogo, comum nessa poca, se propague. tambm neste perodo que a radiao solar, que normalmente bem elevada ao longo do ano, costuma diminuir devido a abundncia de nvoa seca produzida pelos incndios e queimadas.

Os incndios costumam ocorrer com maior freqncia no perodo do outono e inverno, j que alm desses ventos fortes nessa poca quase no h chuvas e o ar fica muito seco. Porm nos perodos chuvosos tambm podem acontecer queimadas quando ocorrem os veranicos, ou seja, perodos de estiagem dentro da estao chuvosa.

2.5 Hidrografia O cerrado o segundo maior bioma brasileiro (com cerca de 204 milhes de hectares, ocupando aproximadamente 24% do territrio nacional) em sua maior parte localizada na regio do Planalto Central Brasileiro, que compreende pelas regies de altitudes mais altas na regio central do pais alm do tipo de solo arenoso que no absorve muita gua. Desse modo, a regio do bioma cerrado tem papel fundamental na distribuio dos recursos hdricos das regies do Brasil e do continente Sulamericano sendo o local de origem de grandes bacias hidrogrficas, graas ao fenmeno denominado efeito guarda-chuva (vide o mapa).

Contribuio do Bioma Cerrado para a hidrogrfia brasileira

Como podemos verificar na tabela acima, o bioma cerrado tem crucial importncia nas bacias hidrogrficas sendo responsvel por 8 das 12 regies hdricas do Brasil segundo CNRH (Conselho Nacional de Recursos Hdricos), fundamental principalmente nas regies hidrogrficas do Paraguai (136%), Parnaba (106%), So Francisco (94%), Tocantins-Araguaia (62%), destaca-se no caso do Paraguai que altamente dependente dos recursos hdricos do Pantanal Brasileiro, sua contribuio hdrica superior a 36%, a vazo do Pantanal desgua no Rio Paraguai. As vazes do cerrado variam de acordo com as regies de acordo com o clima e biomas, exemplo: mais prximo da Amaznia chove mais, mais prximo da caatinga chove menos, alm da sazonalidade na distribuio temporal em algumas pocas do ano, de setembro/outubro at Maro/abril um perodo chuvoso o restante do ano o perodo onde praticamente no chove (seca).

3 O FOGO NO CERRADOEm sua tese, Walter (2006) realata que a vegetao do Cerrado est adaptada ao fogo e que incndios tm ocorrido na regio com histrica freqncia e mesmo eventos severos de fogo, durante vrios anos, no chegam a destruir esta vegetao. H registros de fogo no Cerrado desde o final do Pleistoceno, h 32.400 AP. Para que o fogo possa exercer efeitos significativos sobre as fisionomias do

Cerrado, Eiten (1972) sugeriu que seria necessria a ocorrncia de eventos dirios, sucessivamente, durante 1 a 2 anos. Eventos de fogo e registros de incndios so comuns na maioria das savanas do mundo, chegando-se a imputar savanas como resultantes diretas do fogo. Em resumo, pode-se afirmar que o fogo influencia a distribuio e a composio florstica das savanas, afetando a estrutura dos trechos de vegetao, agindo positivamente sobre grupos de espcies adaptadas e negativamente nas espcies no adaptadas a ele. Alm disso, eventos de fogo afetam a ciclagem de nutrientes, com conseqncias sobre a flora. Segundo Klink e Machado (2005), o uso do fogo para a abertura de reas virgens e para estimular o rebrotamento das pastagens tambm prejudicial, embora o Cerrado seja um ecossistema adaptado ao fogo. Estudos experimentais na escala ecossistmica e modelos de simulao ecolgica demonstraram que mudanas na cobertura vegetal alteram a hidrologia e afetam a dinmica e os estoques de carbono no ecossistema. A eliminao total pelo fogo pode tambm causar degradao da biota nativa pois, devido ao acmulo de material combustvel (biomassa vegetal seca) e baixa umidade da poca seca, uma eventual queimada nessas condies tende a gerar temperaturas extremamente altas que so prejudiciais flora e fauna do solo. O fogo geralmente usado para limpar terrenos. Pesquisas estimaram que 67% da rea queimada no Brasil em 2000 estavam no Cerrado. Queimadas freqentes afetam negativamente o estabelecimento de rvores e arbustos, alm de liberar para a atmosfera dixido de carbono (CO2) e outros gases causadores do efeito estufa. Simulaes que modelaram a converso do Cerrado natural em pastagem plantadas mostraram que a precipitao pode ser reduzida em pelo menos 10%, os veranicos podem se tornar mais freqentes e a temperatura mdia do ar superficial pode aumentar em 0,5oC, com grandes implicaes para a agricultura. Estudos de campo demonstraram que a habilidade das rvores e arbustos do Cerrado em tamponar, durante a estao seca, a gua armazenada no solo pode ser crtica para a manuteno do ciclo hdrico. Alguns cenrios de mudanas climticas predizem diminuies na distribuio de muitas espcies arbreas do Cerrado em mais de 50%. Estes mesmos autores citam um trabalho de Costa et al. (2003) que relatam que em 1998, 49% da bacia do rio Tocantins tinha sido convertida em reas de

plantio e pastagens, aumentando a descarga do rio em 24%. Desmatamentos amplos e ilegais das matas de galeria reduzem os suprimentos de gua doce para reas urbanas. Segundo o professor Leopoldo M. Coutinho, num texto publicado no site do Departamento de Ecologia do Instituto de Biocicias da USP, o fogo um fator de extraordinria importncia para o Bioma Cerrado. Segundo o professor, o fogo exerce interferncia em alguns aspectos que veremos a seguir.

3.1 Temperatura do Ar e do Solo Um dos efeitos mais imediatos de uma queimada a elevao da temperatura local, seja do ar, seja do solo. Os poucos dados de que dispomos mostram que a temperatura do ar na chama pode atingir 800C ou mais. Todavia, esta elevao de curta durao; o fogo passa rapidamente. No solo a elevao tambm momentnea, porm bem menos intensa. Dentro do solo, a 1, 2, 5 cm de profundidade, a temperatura pode elevar-se apenas em alguns poucos graus. Uma pequena camada de terra suficiente para isolar termicamente todos os sistemas subterrneos que se encontram sob ela, fazendo com que mal percebam o fogaru que lhes passa por cima. Graas a isto, estas estruturas conseguem sobreviver e rebrotar poucos dias depois, como se nada houvesse acontecido. Estes rgos subterrneos perenes funcionam, assim, como rgos de resistncia ao fogo.

3.2 Transferncia de Nutrientes Outro efeito do fogo, de grande importncia ecolgica para os Cerrados, a acelerao da remineralizao da biomassa e a transferncia dos nutrientes minerais nela existentes para a superfcie do solo, sob a forma de cinzas. Desta forma, nutrientes que estavam imobilizados na palha seca e morta, inteis portanto, so devolvidos rapidamente ao solo e colocados disposio das razes. Existem hoje indicaes de que estes nutrientes, uma vez na superfcie do solo, no so profundamente lixiviados pela gua das chuvas, mas, ao contrrio, seriam rpida e avidamente reabsorvidos pelos sistemas radiculares mais superficiais,

principalmente do estrato herbceo. De certa forma, o fogo transferiria nutrientes do estrato lenhoso para o herbceo, beneficiando a este ltimo. Todavia, durante uma queimada nem todos os nutrientes vo obrigatoriamente para a superfcie do solo, sob a forma de cinzas. Grande parte deles perdida para a atmosfera como fumaa. Cerca de 95% do Nitrognio presente na fitomassa combustvel volatilizam-se, retornando atmosfera como gs. A metade dos outros nutrientes, como fsforo, potssio, clcio, magnsio e enxfre entra em suspenso no ar sob a forma de micropartculas de cinza, constituindo a parte visvel da fumaa. Assim, a grande perda de nutrientes provocada pelo fogo reside nesta forma de transferncia para a atmosfera e no na lixiviao dentro do solo, como se imaginava. A nvoa seca que escurece os cus do Brasil Central na poca das queimadas (julho, agosto) uma demonstrao visvel dessa enorme perda de nutrientes. Felizmente, estes nutrientes em suspenso na atmosfera acabam por retornar ao solo, seja por gravidade, seja por arraste pelas gotas de chuva.

3.3 Fisionomia e Estrutura da Vegetao Dentre os efeitos biticos do fogo no cerrado, um dos mais notveis a sua ao transformadora da fisionomia e da estrutura da vegetao. Como a vegetao lenhosa, embora tolerante, bem mais sensvel ao do fogo, queimadas freqentes acabam por reduzir substancialmente a manuteno e a renovao das rvores e arbustos, diminuindo progressivamente sua densidade. Em conseqncia, cerrades acabam por abrir sua fisionomia, transformando-se em campos cerrados, campos sujos ou at campos limpos. Assim, como o fogo freqentemente abre a vegetao lenhosa, a proteo contra ele permite o inverso, isto , campos sujos, por exemplo, podem transformar-se em cerrades depois de algumas dcadas. Se em um Parque Nacional, quizermos manter a maior biodiversidade, em termos de fisionomia e de riqueza em espcies, diferentes regimes de queimadas deveriam ser utilizados como forma de manejo, em distintas parcelas. Caracterstica sempre ressaltada para as rvores do Cerrado a acentuada tortuosidade de seus troncos e ramos. Em muitos casos este fato pode ser considerado como um efeito do fogo no crescimento dos caules, impedindo-os de se tornarem retilneos, monopodiais. Pelas mortes de sucessivas gemas terminais e

brotamento de gemas laterais, o caule acaba tomando uma aparncia tortuosa, simpodial. Quando as queimadas so muito freqentes, a parte area da rvore pode no conseguir desenvolver-se normalmente e ento o indivduo torna-se ano. A espessa camada de sber que envolve troncos e galhos no Cerrado outra caracterstica do estrato arbreo/arbustivo interpretada como uma adaptao ao fogo. Agindo como isolante trmico, o sber impediria que as altas temperaturas das labaredas atingissem os tecidos vivos mais internos dos caules. Esta proteo todavia, nem sempre deve ser muito eficaz, uma vez que este estrato da vegetao mais suceptvel ao destruidora do fogo no Cerrado.

3.4 Rebrotamento e a Florao impressionante a rapidez e o vigor com que as plantas do Cerrado emitem novos brotos logo aps a queimada. Bastam poucas semanas para que o verde reaparea e substitua o tom cinza deixado pelo fogo. No estrato herbceo/subarbustivo, bastam alguns dias para que seus rgos subterrneos recomecem a brotar. Curiosamente, muitas de suas espcies iniciam o rebrotamento com a produo de flores. Pouco tempo aps a passagem do fogo, o Cerrado transforma-se num verdadeiro jardim, onde as diferentes espcies vo florescendo em seqncia. Este estmulo ou induo floral no necessariamente provocado pela elevao da temperatura, como se poderia esperar. Em muitos casos a eliminao total das partes areas das plantas que as faz florescer. Alm de estimular ou induzir a florao, o fogo sincroniza este processo em todos os indivduos da populao, facilitando assim, a polinizao cruzada. Se no houver queima, ou as plantas no florescem ou o fazem com muito menor intensidade e de forma no sincronizada. H espcies, todavia, que se comportam de maneira bastante diversa. o caso do capim-flecha (Tristachya leiostachya), que domina de forma absoluta o estrato herbceo/subarbustivo dos cerrados do Parque Nacional das Emas. Esta espcie floresce e frutifica durante o perodo primavera/vero. Entretanto, se o cerrado queimado, ela quase no produz inflorescncias na primavera/vero subseqente. Somente no segundo perodo de florao, isto , um ano depois, que ela ir florescer de forma intensa. Este comportamento faz com que a fitomassa seca cresa enormemente 2-3 anos aps a passagem do fogo,

aumentando em muito o risco de um novo incndio. Isto talvez explique a periodicidade com que se observam os grandes incndios daquele Parque (1985, 1988, 1991, 1994).

3.5 Disperso de Sementes e a Germinao A anemocoria uma caracterstica de grande parte das espcies do Cerrado. Ao eliminar a palha seca que se acumula sobre o solo, o fogo ajuda a propagao dessas espcies, pois, remove a macega que impede ou embaraa o deslocamento das sementes. Isto particularmente evidente para aquelas espcies do estrato herbceo/subarbustivo, cujos frutos desenvolvem-se bem prximo superfcie do solo. A prpria germinao das sementes pode ser facilitada pelo fogo. H espcies em que a testa das sementes impermevel gua. A brusca e rpida elevao da temperatura em uma queimada pode provocar o aparecimento de fissuras na casca da semente e assim torn-la permevel, favorecendo sua germinao. A vegetao dos Cerrados , pois, constituida por espcies pirofticas, isto , adaptadas a uma condio ambiental que inclui a presena do fogo. Elas conviveram com ele durante a sua evoluo, sendo selecionadas por este fator. Muitas delas chegam a exigir a ocorrncia de queimadas peridicas para a sua sobrevivncia e reproduo. O fogo as revigora e aumenta seu poder competitivo. claro que as vrias formas de cerrado no tm as mesmas exigncias. O cerrado, floresta de tipo tropical estacional, menos tolerante s queimadas. Assim, se quizermos preserv-lo no devemos usar o fogo. J um campo limpo ou um campo sujo podem necessitar das queimadas para sua estabilizao e conservao.

3.6 Efeitos do Fogo Sobre a Fauna So insuficientes as pesquisas do efeito do fogo sobre a fauna dos Cerrados. O nmero de vertebrados de maior porte encontrados mortos logo aps as queimadas acidentais parece variar muito. Aps o desastroso incndio do Parque

Nacional das Emas de 1988, noticiou-se apenas a morte de uma tamandu-bandeira junto com seu filhote. J em outros incndios a que se submeteu aquele mesmo parque, o nmero de animais mortos pelo fogo parece ter sido bem maior. A fauna de vertebrados de pequeno e mdio porte, muito mais numerosa, refugia-se em buracos existentes no solo, escapando assim ao fogo. O que parece certo que os incndios, onde o fogo avana fora de qualquer controle, so muito mais danosos para a fauna do que queimadas prescritas, feitas em pequenas reas e sob um rigoroso controle. Mas, o fogo no deve ser considerado sempre um desastre para a fauna. Ele tambm pode proporcionar-lhe certos benefcios. Aps uma queimada, os insetos polinvoros e nectarvoros beneficiam-se da resposta floral das plantas, nas quais encontram grande disponibilidade de plen e nctar. Algum tempo depois, essas flores produziro frutos e sementes, que alimentaro outros animais. O prprio rebrotamento vegetativo de grande importncia para aqueles que se alimentam de folhas e brotos tenros, como o veado-campeiro, a ema, etc. Por isto, a densidade destes animais torna-se maior nas reas queimadas, que funcionam para eles como um osis em plena estao seca.

3.7 Manejo do Fogo Por estes motivos, o manejo adequado do fogo em nossas reservas de cerrado pode constituir-se em eficiente meio para a preservao da flora e da fauna. Queimadas em rodzio, em parcelas pequenas e com regimes prprios, reduziriam os riscos de grandes incndios acidentais, permitiriam s plantas completar seus ciclos biolgicos, acelerariam a ciclagem dos nutrientes minerais e aumentariam a produtividade dos ecossistemas, alm de suprir os animais com alimentos durante os difceis meses de seca. A mortalidade tambm se reduziria, uma vez que os animais disporiam de reas no queimadas, onde poderiam se refugiar.

BIBLIOGRFIAABSABER, Aziz N. Os domnios de natureza no Brasil: potencialidades paisagsticas. 4a Ed. So Paulo: Ateli Editorial, 2007. FERREIRA, Idelvone M. Bioma Cerrado: Um estudo das paisagens do cerrado. Disponvel em: < http://www4.fct.unesp.br/ceget/paisagens.pdf > KLINK, Carlos A.; MACHADO Ricardo B. A conservao do cerrado brasileiro. Megadiversidade, Belo Horizonte: vol.1, n.1, p. 147 155, Julho 2005. BORGES, Viviane C.; ALMEIDA, Maria, G. A BIODIVERSIDADE DO CERRADO BRASILEIRO: OS (AS) RAIZEIROS (AS) DE GOIS/GO. Disponvel em: < www.geo.ufv.br/simposio/simposio/trabalhos/comunicacao_coordenada/012.pdf > BARBOSA, Altair S. Biodiversidade e Pluralidade: Cerrado. Disponvel em: < http://www2.ucg.br/flash/CerradoA.html > Departamento de Ecologia USP. Cerrado. Disponvel em:

< http://ecologia.ib.usp.br/cerrado/ > BATALHA, Marco A. O cerrado no um bioma. Biota Neotrop. Jan 2001, vol. 11, n.1. Disponvel em: < http://www.biotaneotropica.org.br/v11n1/pt/abstract?article+bn0XX11012011 > LIMA, Jorge E. F. W.; SILVA, Euzbio M. Anlise da situao dos recursos hdricos do cerrado com base na importncia econmica e socioambiental de suas guas. II Simpsio Internacional Savanas Tropicais. Braslia, DF. Outubro, 2008. Sites consultados: < http://www.embrapa.br/ > Acesso em: 10 Nov. 2011. < http://www.inpe.br/ > Acesso em 16 Nov. 2011 < http://www.cptec.inpe.br/ > Acesso em 17 Nov. 2011