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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” ARTETERAPIA NA EDUCAÇÃO POR: VÂNIA OLIVEIRA SANTOS ORIENTADORA: PROF ª MARIA ESTHER DE ARAÚJO Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

ARTETERAPIA NA EDUCAÇÃO

POR: VÂNIA OLIVEIRA SANTOS

ORIENTADORA: PROF ª MARIA ESTHER DE ARAÚJO

Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

ARTETERAPIA NA EDUCAÇÃO

VÂNIA OLIVEIRA SANTOS

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Especialista em Arteterapia na Saúde e

Educação.

Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2003

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Agradeço a Deus e a todos que

buscam e reinventam um mundo

mais justo e humano.

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“A arte é a expressão mais pura que há

para a demonstração do inconsciente de

cada um. É liberdade de expressão, é

sensibilidade, criatividade, é vida.”

Yung, 1920

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RESUMO

Este trabalho é um levantamento de dados bibliográficos sobre a importância da evolução humanística, na educação através da arteterapia. Pois é cruel o contexto atual da nossa sociedade, distante e abandonada dos conceitos éticos e morais. Tão necessários na vida coletiva, mas tão perdidos na falsa “cidadania”. Onde, o tempo todo, papéis sociais são invertidos. Em muitos casos, vivemos uma educação utópica, cujo o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende; cuja a família e a escola simulam estarem educando o indivíduo e tentam, ainda, passar suas responsabilidades uma para outra. A questão principal deste processo é ter amor para educar, seja em casa ou na escola. A partir dessas relações afetivas entre família, aluno, escola e comunidade, este estudo apresenta a necessidade de união entre todos esses segmentos, sensibilizados através de expressões artísticas/terapêuticas, a repensar e melhorar a sua auto-estima e sua qualidade de vida.

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SUMÁRIO

RESUMO ...................................................................................................... 4

INTRODUÇÃO .............................................................................................. 6

1. EDUCAÇÃO E CIDADANIA .................................................................... 9

2. O PAPEL DA FAMÍLIA NO PROCESSO ESCOLAR DE SEUS

FILHOS .......................................................................................................... 11

3. EDUCAÇÃO ESCOLAR .......................................................................... 14

3.1 O Processo do Aluno ............................................................................. 14

3.2 O Professor ............................................................................................ 17

3.3 Relação Professor-Aluno ...................................................................... 19

3.4 O Papel Social da Escola e Comunidade............................................. 24

3.5 A Arte na Educação ............................................................................... 26

3.6 A Arteterapia na Educação ................................................................... 31

CONCLUSÃO ............................................................................................... 36

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 38

ANEXOS ........................................................................................................ 42

Anexo 1 ......................................................................................................... 43

Anexo 2 ......................................................................................................... 44

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INTRODUÇÃO

A arte faz parte da história da humanidade, desde o início dos

tempos até a atualidade.

Desde a civilização greco-romana faz-se uso terapêutico da arte.

Porém, a arteterapia só passou a ser considerada profissão no século XX.

Na século XIX, alguns psiquiatras europeus demonstraram interesse

pela produção artística que os pacientes realizavam em oficinas de terapia

ocupacional.

No Brasil, a psiquiatra Nise da Silveira fundou o Museu do

Inconsciente, sendo pioneiro do trabalho arteterapêutico, no Hospital Pedro II.

Conseguindo resultados significativos no quadro de recuperação dos clientes.

A arteterapia segue princípios básicos de análise de imagens,

segundo a estrutura da personalidade que Jung provou existir.

O arteterapeuta conduz o indivíduo ao processo de criação e

entendimento de sua obra. Para que através desta o cliente sinta-se melhor

consigo mesmo e com o mundo.

Hoje em dia a arteterapia, não é desenvolvida apenas em hospitais,

mas em qualquer instituição que visa resgatar a qualidade de vida do indivíduo.

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Como uma das principais instituições de formação e resgate deste

indivíduo, com certeza, a escola e o seu processo de ensino-aprendizagem

merecem destaque e ao mesmo tempo questionamentos.

Considerando o atual processo de educação, vemos que esse não

deve ser restrito apenas a conteúdos, no espaço da sala de aula. A sociedade

mudou e novos, mas nem sempre satisfatórios, paradigmas surgiram. Isso

exige que a escola, pais e alunos trabalhem em conjunto. Por isso, esta

pesquisa será realizada através de estudos bibliográficos, tendo como meta

organizar informações e dados que conduza o leitor ao resgate do humanismo

na educação através da arteterapia.

Sabendo-se da problemática social que a maior parte do povo

brasileiro vivencia, observar-se que existe todo um sistema contrário aos

princípios educacionais. Estabelece-se o desequilíbrio e falta de discernimento

entre o certo e o errado, ou seja, a plena inversão dos papéis e valores sociais.

Espera-se que a família dê a primeira e contínua base da educação,

no entanto isso não acontece, pois a desestrutura familiar é evidente. Há com

freqüência, a transferência do papel da família para a escola, passando o

indivíduo a ter essa instituição como pai e mãe. Assim, existe a perda de

vínculos familiares referentes a sua identidade, e perda de limites e da sua

afetividade, que são fundamentos da formação de um adulto mais saudável. A

partir desta desestrutura familiar o homem, em sua maioria, perde a auto-

estima e o humanismo, tornando-se vulnerável à autodestruição.

Entretanto, pode-se amenizar esta situação caótica não só, com

uma linguagem retórica, mas sim em aplicar os conhecimentos e benefícios da

arteterapia no ambiente escolar, estimulando o ajuste social e a descoberta do

auto-conhecimento, na tentativa de resgatar o equilíbrio e os essenciais valores

humanos, elevando a auto-estima do cidadão, com teorias e práticas de

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expressões artísticas, melhorando sensivelmente a sua qualidade de vida

dentro da sociedade.

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1. EDUCAÇÃO E CIDADANIA

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a educação está na

pauta das discussões mundiais. Em diferentes lugares do mundo discute-se

cada vez mais o papel essencial que ela desempenha no desenvolvimento das

pessoas e das sociedades.

Documentos de órgãos internacionais apresentam reflexões sobre a

educação e fazem uma análise prospectiva em que destacam alguns aspectos:

(1) Neste final de milênio, os dividendos das importantes

descobertas e dos progressos científicos da humanidade convivem com

desencadeamento e desesperança, alimentados por problemas que vão do

aumento do desemprego e do fenômeno da exclusão, inclusive nos países

ricos, à manutenção dos níveis de desigualdade de desenvolvimento nos

diferentes países. O aumento das interdependências entre nações e regiões

contribuiu para colocar o foco nos diferentes desequilíbrios, entre ricos e

pobres como também entre “incluídos” e “excluídos” socialmente, no interior de

cada país;

(2) Com extensão dos meios de informação e de comunicação

evidenciaram-se também modos de vida e de consumo de uma parcela dos

habitantes do planeta em contraposição a situações de miséria extrema;

(3) Embora parte da humanidade esteja mais consciente das

ameaças que pesam sobre o ambiente natural e da utilização irracional dos

recursos naturais, que conduz a uma degradação acelerada do meio ambiente

que atinge a todos, ainda não há meios eficientes para solucionar esses

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problemas, além disso, há a crença de que o crescimento econômico possa

beneficiar a todos, permitindo conciliar progresso material e eqüidade, o

respeito da condição humana e o respeito à natureza, nem sempre exercido;

(4) Com o fim da guerra fria, vislumbrou-se a possibilidade de um

mundo pacificado. No entanto, as tensões continuam a explodir entre nações,

grupos étnicos ou a propósito de injustiças acumuladas nos planos econômicos

e social;

(5) Num contexto mundial, marcado pela interdependência crescente

entre os povos, pressupõe-se que é preciso que todos aprendam a viver juntos

no planeta. Mas como faze-lo se os povos não foram capazes ainda de viver

em suas comunidades naturais de pertinência: nação, região, cidade, bairro,

participando da vida em comunidade.

No Brasil também houve grandes avanços tecnológicos, porém o

descaso com a cultura e a educação consegue superar outros países que

encontram-se em estágio equivalente ao nosso país. Embora a “modernização”

do Brasil tenha acontecido de forma tão rápida, pela importação de bens de

alta tecnologia, o lado humano do país encontra-se em degradação, com

situações conflitantes de miséria e violência. Entretanto, a Lei Federal n.º 9394,

de 20/12/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, conhecida como

Lei Darcy Ribeiro, estabelece que:

“[..] a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (PCN, 1998, p. 15).

Apesar da existência de tantos problemas e incertezas sociais, a

política de educação não pode deixar de lutar pelo exercício da cidadania.

Afinal de contas, o ser humano tem que ter o direito e o dever de viver com

dignidade. Não adianta investir apenas na tecnologia, é necessário mais

investimento na área humana, principalmente na educação.

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2. O PAPEL DA FAMÍLIA NO PROCESSO ESCOLAR DE SEUS FILHOS

Com o processo de globalização estabelecendo-se em todo o

planeta, surge no século XXI um novo modelo familiar, onde cada vez mais,

encontramos pais que deixam a total responsabilidade da educação de seus

filhos com a escola. Isso ocorre, como já percebemos, devido ao mundo atual,

“moderno”, em que mães e pais precisam trabalhar fora para sustento da

família, esquecendo que eles também fazem parte da formação das crianças.

Na educação doméstica encontramos também a discordância entre

os pais. Às vezes separados, com outra família, não percebem o quanto a falta

de homogeneidade traz problemas aos seus filhos.

Precisamos entrar em sintonia onde pai, mãe e escola trabalhem em

conjunto para que a criança seja beneficiada. O compromisso deve ser de

todos. Pai e mãe estabelecerão os padrões que envolverão a educação da

criança. Quando surgem problemas, todos deverão assumir a mesma postura

diante da situação. Assim, a criança não se sentirá perdida. Os pais que

necessitam de ajuda e reconhecem suas falhas estarão dispostos a melhorar a

relação com os filhos, criando vínculos com a escola, quando pedem auxílio,

podendo utilizar os mesmos princípios básicos e éticos também em casa.

Deixando de lado as dificuldades encontradas, os pais devem saber

da importância de sua participação nas reuniões, festas, associação de pais,

não só como convidados, mas criando uma relação afetiva com a escola, e

estará fazendo direta e indiretamente que seus filhos tenham um melhor

desempenho escolar.

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Outro fato importante é o bom relacionamento que deve ser mantido

entre os pais e os amigos de turma de seus filhos, propiciando um certo

controle sobre o comportamento desses.

Os pais devem educar seus filhos mostrando a importância dos

direitos e deveres. Fazendo com que os mesmos tenham responsabilidade e

consciência das suas atitudes. Pois educar não é só presentear com objetos

caros e desejados no aniversário ou no Natal. Ou simplesmente dando-lhe

apenas um prato de comida e uma cama para dormir e às vezes, nem isso.

Na verdade, a família representa algo muito precioso, muito sagrado,

pois aquilo que ela oferece à criança, refletirá em toda a sua vida. Nas suas

atitudes do dia a dia, sendo positivo ou negativo, ela mostrará de alguma forma

o resultado da sua educação familiar.

Assim, nota-se, claramente, o benefício que uma família estruturada

traz a uma criança. Favorecendo sempre o seu processo de ensino-

aprendizagem.

Infelizmente, em muitos casos, as crianças, principalmente, as mais

carentes, encontram na escola, não só a única alimentação, mas a principal

referência humana, onde alguns, depositam admiração e muito amor pelo

professor, como se este fosse seus verdadeiros pais. Outros, apesar da

carência familiar, ser semelhante, não reagem amorosamente, e é aí que os

professores encontram os maiores problemas: de revolta, agressividade e até

sérios vícios e ameaças. Para que tal processo seja desarticulado, os pais

devem estimular seus filhos com elogios, fazendo com que sintam-se

valorizados através de seus esforços e não dizendo ao filho quando tira uma

boa nota: “Não fez mais que a sua obrigação”. Esse é um dos motivos através

do qual muitos filhos sentem-se desestimulados.

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Verifica-se, portanto, que devemos estar voltados para uma

educação emocional e de responsabilidade de todos: pais, alunos, escola e

comunidade, favorecendo, assim, um melhor aprendizado para esse indivíduo.

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3. EDUCAÇÃO ESCOLAR

Há algo de novo acontecendo nas escolas. Em cada escola, em cada sala de aula o encontro cotidiano entre professores, alunos, idéias, sonhos e acontecimentos sempre resulta em alguma coisa nova. Terão todos consciência disto? Todo professor identifica em seus alunos e em si próprio as mudanças que neles ocorrem no dia a dia, durante uma conversa, na leitura de um texto, no desafio de resolver um problema? Ainda uma questão: o currículo que é oficializado nas escolas, aquele que está escrito, cujas metas e objetivos foram determinados há muito tempo, tem permitido a ampla circulação, apropriação e troca de saberes do mundo de hoje? Nem sempre. Muitas vezes isto só acontece porque existe um outro currículo “não oficializado”, que se realiza através do não previsto, das situações que “correm por fora” dos planos e que são geradas nas relações que se instalam na sala de aula. Quer a instituição tome conhecimento disto ou não, quer se aprove isto ou não, a vida não fica do lado de fora. Ela entra na escola sem pedir licença, sem perguntar se, no currículo, a sua vaga foi garantida” (SECRETARIA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO, 1996, p. 105).

3.1 O Processo do Aluno

Hoje em dia, muitas escolas ainda promovem um processo de

ensino-aprendizagem com pensamentos limitadores e ultrapassados.

Continuam com o comodismo e a inércia da educação bancária que, segundo

Paulo Freire, pauta-se na transferência de conteúdos, o acúmulo de

conhecimentos, sem preocupação com a cidadania. O aluno é mantido como

ouvinte, escuta calado, copia, decora e responde exatamente o conteúdo

exposto pelo professor, com todos os pontos e vírgulas, sem fazer qualquer

questionamento. O educador coloca-se num elevado patamar como sujeito da

educação e o aluno como mero objeto.

Entre diversos temas, o ato de decorar é uma problemática contínua,

discutida, no ensino e aprendizagem. Segundo Içami Tiba (1998), quando o

aluno não aprende, mas decora a matéria, ocorre a chamada “indigestão de

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aprendizagem”, isto é, o aluno estuda para tirar, na prova, uma nota que irá

promovê-lo, para logo depois descartar tudo que decorou, pois a

aprendizagem, nesse caso, não foi digerida e assimilada. Considerando, ainda,

o que diz Içami Tiba (1998), é necessário desenvolver a fome do saber,

despertando os conhecimentos de todas as matérias para serem ensinadas e

saboreadas através de um resgate do prazer de aprender associando sempre o

conteúdo ao meio social e a realidade do aluno, fazendo com que o mesmo

fique mais próximo das informações integradas, com questionamentos sociais

e humanitários.

Uma análise do professor Vasco Pedro Moretto, diretor pedagógico

da AEUDF (Associação Educacional da Universidade do Distrito Federal), leva

à interpretação sobre Philippe Perrenoud de que competência e a capacidade

do sujeito pode mobilizar recursos visando abordar uma situação complexa.

Neste conceito temos três aspectos importantes: O primeiro é ver a

competência como uma capacidade do sujeito “de ser capaz de ser”; O

segundo é ligado ao verbo mobilizar, que significa movimentar com força

interior, o que é diferente de apenas deslocar. O terceiro está ligado à palavra

recursos: a competência exige mais do que apenas recursos de cognição, isto

é, do conhecimento intelectual.

O conceito de competência está ligado a abordar e resolver

situações complexas. Vendo por este aspecto, são cinco os resultados que o

sujeito precisa desenvolver na abordagem de uma situação complexa.

Dependendo da situação, um recurso pode ser mais exigido que o outro, e a

falta de um deles pode bloquear os outros.

O primeiro recurso está ligado aos conteúdos específicos onde o

sujeito tem que ter conhecimento específico para resolver uma situação

complexa.

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O segundo é o de habilidades e procedimentos. É o “saber fazer”

algo específico. Está sempre associado à uma ação, ou física ou mental,

indicadora de uma capacidade adquirida.

O terceiro é o da linguagem, onde o sujeito deve conhecer a

linguagem específica para resolver uma situação complexa.

O quarto é de valores culturais. São os elementos que estabelecem

o contexto cultural da situação. Precisam estar disponíveis para serem

mobilizados ao abordar a situação complexa.

O quinto é muito importante, é o da administração das emoções.

Esse recurso deve estar sempre disponível para ser mobilizado diante de

qualquer situação mais ou menos complexa. O fator controle emocional é muito

evidenciado em sala de aula e na vida do aluno. Temos entre vários exemplos,

o do aluno que estuda, é dedicado, e na hora da avaliação não consegue

utilizar o seu potencial.

Através da análise do professor Vasco Pedro Moretto, sobre as

competências do sujeito, vemos que o aluno decora a matéria, em vez de

aprendê-la porque ainda não tem os cinco recursos desenvolvidos, tendo um

ou outro recurso em maior evidência, mas não há um equilíbrio entre eles.

Percebe-se que vários motivos levam alunos a optarem por decorar

a matéria. A avaliação contínua e cumulativa é uma amostra de que nenhuma

avaliação deve ser decidida no bimestre, trimestre ou semestre, mas deve

resultar de um acompanhamento diário, negociado, transparente, entre

professor e aluno. Que seja constatada no processo de avaliação e não

retenção de conhecimento, mas que a avaliação seja apenas um

acompanhamento e registro do desenvolvimento, sem o objetivo de promover

ou reprovar.

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A avaliação deve estar submetida aos objetivos de formar cidadãos,

levando o educando ao desenvolvimento da capacidade de aprendizagem.

Tendo em vista a aquisição de conhecimento, habilidades e a formação de

atividades e valores que vão levar o aluno a autoconfiança e

consequentemente a não só estudar, apenas, em véspera de prova.

Outro motivo que leva os alunos a decorarem é não terem o hábito

de pensar e sentir sobre o que estão aprendendo. E os professores, também,

não os levam a questionar. Com a ansiedade de cumprirem o planejamento;

têm pouco tempo para o diálogo com os alunos, e não são levados a refletir

sobre o tema estudado e as aulas, portanto, não são fixadas.

Se aprender é compreender, assimilar, transformar em

conhecimento, o decorar é incompatível com a sabedoria.

Para que o aluno não decore a matéria é preciso deixá-lo sentir e

pensar. O professor deve perseverar nesta prática, sempre estimulando e

aguçando a capacidade criativa de seus alunos.

Sem dúvida, no exercício do magistério, se formos perseverantes e

ensinarmos com amor, veremos desabrochar o grande objetivo do ensino-

aprendizagem que é formar pessoas cidadãs.

3.2 O Professor

O professor é o principal mediador entre os alunos e a sociedade.

Sua responsabilidade é preparar o aluno para tornar-se cidadão ativo e

participante na classe, na família, no trabalho e na vida cultural e política.

Ensinar é dividir o que sabe. Os objetivos pedagógicos devem levar o aluno a

tornar-se autônomo e criativo num processo de construção do conhecimento.

Porém o professor e seus métodos podem tolir a autonomia do aluno e seu

potencial criador. Cabe ao professor atuar junto ao seu aluno de uma maneira

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auxiliar, sugerindo, estimulando, cooperando e não decidindo por ele. Assim

como incutindo nele o espírito de equipe e capacidade de troca com diferentes

indivíduos.

“Servir, ao invés de ajudar, é, de certa forma lesar o indivíduo na sua

conquista pelo desenvolvimento” (Maria Montessori).

O novo paradigma educacional do mundo globalizado propõe o

construtivismo sociocultural e transcendente para repensar-se a educação.

Concebe-se o sujeito e o objeto de conhecimento como organismos vivos e,

interativos. Considera-se a necessidade de diálogo do indivíduo consigo e com

os outros, estabelecendo-se relações em que os valores de troca definam-se

como informações, conhecimentos e criatividade.

Diante deste novo paradigma o professor deve formar um indivíduo

menos egoísta, resgatando o ser humano como um todo, deixando de ser

apenas um transmissor de conhecimento para dar lugar à figura do mediador.

O professor não é a única nem a mais importante fonte de conhecimento. Não

há verdades absolutas a serem comunicadas. Será uma vivência única para

cada indivíduo.

Um professor que atue na escola proposta por Jung (apud FARANI,

[s.d.]) precisa ser muito mais que um profissional transmissor de certos

conteúdos. Ele deve ser uma personalidade capaz de educar pelo seu

exemplo. O professor deve ser inesquecível, respeitar seus alunos e suas

características individuais e socioculturais. Usar a prática de vida em sua

aprendizagem e desenvolvimento, levando em conta o nível de conhecimento e

experiências já vividas com afetividade e empatia. Ele deve ajudar seu aluno a

resgatar valores espirituais, reeducando-o no sentido de manifestar amor. Com

uma educação emocional, ensina o conhecimento que inclua a fantasia,

sonhos, linguagem corporal e comunica as emoções de maneira saudável.

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Toda aula deve ser uma novidade. A participação do aluno deve fazer parte

dos conhecimentos teóricos, despertando o desejo pelo prazer de aprender.

Sendo humano e profissional, o professor vai formar e informar

afetivamente. É necessário que ele liberte o conhecimento e o ser humano que

há no seu interior, tendo assim condições de desenvolver no aluno uma

educação libertadora, fazendo-o interagir e transcender todo o seu

conhecimento.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a escola deve estar

atenta ao aluno, estimulando o convívio para melhor aprendizagem. O

professor deverá incentivar a solução de conflitos através do diálogo, dando

oportunidade aos alunos expressarem-se e ouvirem uns aos outros, ajudando e

sendo ajudado. Assim, desenvolvendo a ética e a pluralidade cultural, ele

estará atuando na realidade socioambiental e automaticamente percebendo-se

enquanto ser humano e fortalecendo a saúde individual e coletiva.

Tendo em vista tudo que foi pesquisado neste capítulo, é válido

observar o grau de importância de um verdadeiro professor. Quando Albert

Camus, ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1957, com “O Primeiro

Homem” (Ver anexo 1), relata a valorização e o agradecimento da dedicação

de seu professor chamado Monsier Germain.

3.3 Relação Professor-Aluno

A harmonia entre professor e aluno é fundamental para alcançar os

objetivos do processo de ensino e aprendizagem. A transmissão e assimilação

dos conhecimentos, hábitos e habilidades devem estar embasadas não só no

que diz respeito a informar conteúdos, mas principalmente às relações

pessoais entre professor e aluno.

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Historicamente o professor, como detentor de um inegável poder,

aprendeu a responsabilizar só seus alunos pelo fracasso do processo de

ensino e aprendizagem. Quando o aluno não aprende a culpa é dele, nunca do

professor que é autoridade em sua matéria. Os educadores, de um modo geral,

aceitam a idéia que a responsabilidade é da turma, e nunca do professor.

O trabalho docente deve ter tarefas cognoscitivas colocadas pelo

professor. Objetivos, temas de estudo e as tarefas devem ser postas de forma

compreensível e clara, onde haja entendimento entre professor e aluno, não

apenas transmitir uma informação, ou fazer perguntas, mas também ouvir os

alunos. As respostas e as opiniões dos alunos mostram como eles estão

reagindo à atuação do professor, e as dificuldades que encontram.

Neste contexto visualiza-se o bom professor, aquele que orienta,

ajuda, e é gestor da aprendizagem. Para que o ensino e aprendizagem

aconteça, o docente deve saber manejar os recursos da linguagem, dando

ênfase ao uso correto da Língua Portuguesa, não prejudicando assim a

aprendizagem do aluno.

Paulo Freire concebe a educação como reflexão sobre a realidade

existencial. O aluno deve articular suas experiências com essa realidade nas

causas mais profundas dos acontecimento vividos, procurando ensinar sempre

os fatos particulares na globalidade, as ocorrências e situações. A

aprendizagem equivale a uma reeleitura do mundo. Paulo Freire parte da visão

de um mundo em aberto, isto é, a ser transformado em diversas direções.

Onde professor e aluno são sujeitos atuantes. Estabelecem um diálogo em que

há conscientização, há igualdade e onde todos procuram pensar e agir

criticamente, sempre de uma realidade concreta.

Deve haver vínculos afetivos entre professor e alunos, devendo-se

combinar severidade e respeito. A autoridade que o professor exerce em sala

de aula deve ser como um estímulo e ajuda para o desenvolvimento da

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independência dos alunos. Estabelecendo objetivos sociais e pedagógicos,

selecionando e organizando os conteúdos, ele deve orientar os alunos para

que respondam como sujeitos ativos e independentes.

No relacionamento professor e aluno deve existir como fundamento

básico muito diálogo, amor e respeito mútuo.

O professor deve mostrar-se humano, ocupando o lugar, também de

pessoa comum que aproxima-se do outro a fim de trocar experiências através,

não só de uma diversidade de conteúdos e idéias planejados, mas também da

afetividade. O professor tem que ser generoso e humilde, mas tem que impor

respeito, ter domínio de seu conteúdo e da turma. Na relação professor e aluno

é necessário hierarquia sim, mesmo porque é preciso clareza entre liberdade

pedagógica e incompetência. Na realidade esta relação está sufocada por um

contexto social contrário aos princípios educacionais.

Desde a família, que nos primeiros anos da criança, não promove

nela afetividade e os fundamentos éticos e morais, até os meios de

comunicação que através do acelerado desenvolvimento tecnológico, que na

maioria das vezes passa informações sem a preocupação de formar o cidadão,

atrapalha em muitos momentos as relações humanas, os modos de conhecer

das crianças e também os modos de ensinar.

Exercendo o papel de mediador entre o aluno e a sociedade, o

professor deve respeitar sua individualidade e liberdade. A sua autoridade deve

manifestar-se no domínio da matéria que ensina, e dos métodos de ensino, no

tato em lidar com a classe e com as diferenças individuais, na capacidade de

controlar e avaliar o trabalho com os alunos e o trabalho docente.

Há a necessidade da busca de melhoria na relação professor aluno

para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, buscando

recolocar e enfrentar dimensões da vida como a emoção, o afeto e a

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imaginação. Isso não é novidade, pois essas questões já foram pesquisadas

por diversos estudiosos da educação como Platão, Piaget, Herbert Read, Jung,

Vygotsky, Paulo Freire e outros.

Questões relacionadas ao currículo tornam-se extremamente

difíceis, da mesma forma que as questões relacionadas à avaliação e às

dimensões não apenas cognitivas, mas éticas e estéticas do conhecimento da

vida. Essas não são questões novas, mas o modo como elas são formuladas

teoricamente estão relacionadas às condições concretas da vida. O problema é

quando a teoria e os resultados de pesquisa viram métodos de relação e

ensino, ainda por cima, são tomados como verdade absoluta. Ao invés de

servirem de instrumentos ao professor para a compreensão do processo de

aprendizagem e de novos questionamentos no processo de construção, de

conhecimento, viram uma prisão; para classificar as crianças que na sua

diversidade e nas suas particularidades não se encaixam nas caixinhas de

teoria.

Cada professor deve saber como seus alunos pensam, sentem, se

desenvolvem, aprendem, como constituem conceitos e conhecimentos sobre

si, sobre o outro e sobre o mundo.

Juntos, professor e aluno, sendo conscientes da importância do

processo de educação reconhecem a riqueza do encontro das diferenças de

valores, de história, de vida, de desejos, etc., que caracterizam os conflitos que

devem gerar aprendizagem, criatividade, respeito, autocrítica e auto-estima

para uma ampla formação do cidadão.

Um grande exemplo de iniciativa e realização no relacionamento

professor aluno encontramos com a professora Márcia Regina Brandão, que foi

indicada para ser professora de uma turma de primeira série do Ensino

Fundamental em lnhoaíba, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

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Com uma turma onde todos tinham defasagem de idade/série,

repetência e alguns casos com reconhecida baixa auto-estima. Em Janeiro de

1992, Márcia descobriu que só criatividade não bastaria para estimular seus

alunos, era preciso, na verdade, uma mudança de postura diante da turma.

Márcia, em busca das respostas para suas perguntas, releu alguns

livros dos grandes pensadores da educação. Cada aluno tinha um interesse

diferente e estava em estágios diferentes de desenvolvimento. Lendo Piaget e

Vygotsky, Márcia entendeu a importância de exigir coisas diferentes de cada

aluno e que deveria respeitar o ritmo de aprendizagem deles.

A experiência de Márcia mostra que teoria e prática têm que se

encontrar para que cada uma dê significado a outra. E que, as experiências

dos professores, associadas aos conhecimentos de variadas teorias, precisam

ser ressignificadas em sala de aula, para se entender melhor os sucessos e

fracassos do grupo e de cada um.

Na prática, Márcia ampliou a sala de aula para outros espaços. Com

a técnica de aulas-passeio, criada pelo educador francês Célestin Freinet, com

o apoio das famílias e da direção. No início, os alunos adoraram, só queriam

brincar. Depois eles começaram a ficar incomodados.

Um mês depois, os alunos voltaram para a sala de aula e a

professora começou a incentivá-los. Márcia incentivava a criança que queria

falar o que sabia, estimulava os outros a entenderem, questionarem e criava o

sentimento de solidariedade e o ambiente estimulador para a constituição de

conhecimentos, conceitos e valores. A dedicação de Márcia teve resultados.

Dos 25 alunos, 24 foram aprovados.

A partir do momento em que o professor começa a estudar ele

percebe que uma única teoria é insuficiente para construir um projeto político-

pedagógico que dê conta de toda diversidade que existe em sala de aula.

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3.4 O Papel Social da Escola e Comunidade

A necessidade de um Projeto Politico Pedagógico na escola

antecede a qualquer imposição política ou legal, pois enquanto educadores e

membros de urna instituição devemos ter claro o horizonte a que pretendemos

chegar com os nossos alunos da comunidade e com a sociedade.

As mudanças na educação não podem vir só de cima para baixo. Se

a escola é o futuro da sociedade e conseqüência dos saberes construídos

socialmente, culturalmente e subjetivamente pelas pessoas que estão fora e

dentro da escola. Alunos, professores e comunidades não podem figurar

apenas nos papéis e sim nas propostas de reformulação do pensar a educação

e a escola

É responsabilidade do ensino dar condições aos alunos de continuar

estudando e aprendendo durante a vida, passando valores e convicções

democráticas tais como: respeito pelos companheiros, solidariedade,

capacidade de participação, crença nas transformações da sociedade,

coerência entre palavras e ações e o sentimento de coletividade onde todos se

preocupam com o bem estar de cada um, e cada um se preocupa com o bem

estar de todos.

Os objetivos, conteúdos e métodos da escola devem corresponder

ás exigências econômicas, sociais e políticas de cada época.

Todos serão sujeitos do processo ensino-aprendizagem. Eles terão

que se conhecer, cuidadosamente, respeitando e preservando o espaço e a

individualidade do outro.

O professor deve assumir o papel de facilitador, garantindo a

unidade didática do ensino-aprendizagem: planejando e dirigindo o processo

educacional, tendo em vista estimular e suscitar a atividade própria de seus

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alunos. Ele deve aumentar e despertar a curiosidade, os questionamentos de

textos e contextos na história da vida humana, sendo afetivo, generoso,

humilde, mas sempre impondo respeito e limites, fazendo o aluno transcender

o conteúdo através de uma flexibilidade de paradigmas.

O educador deve exercer um papel social e humanista,

complementando a educação familiar. Pois não se resolve os problemas da

sociedade transferindo a paternidade para a escola.

Segundo José Carlos Libâneo, a escola não é um lar. Entretanto

muitos deturpam a função do professor, achando que este deve ser a “babá” do

educando, quando no entanto a base da educação tem que vir de casa.

Infelizmente já foi presenciado em mais de uma escola o total

abandono das crianças por parte dos pais (deixando as mesmas até

pernoitarem na escola). Achando-se no direito de chegar na metade do dia

seguinte, nervosos e arrogantes e ainda desacatando a instituição escolar,

omitindo-se por completo dos seus deveres de pais. Alguns casos são

encaminhados ao Conselho Tutelar, mas poucos são solucionados.

A realidade mais cruel é que o professor está tão sozinho e tão sem

apoio quanto as crianças.

E necessário que a família assuma o seu papel de responsável pela

educação de casa para que o professor possa ter meios de desenvolver o seu

papel de verdadeiro facilitador, e não de único responsável do processo

ensino-aprendizagem

Todo professor deve despertar no aluno a vontade de aprender,

conduzindo o processo da educação com humanismo, pois querendo ou não

ele é um formador de idéias, tornando-se diversas vezes modelos para os

alunos.

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E verdade também que nem todos os professores têm consciência

da força que possuem através do papel de educador, de transformador e de

líder democrático. Tanto é que nota-se com clareza os choques e a desunião

desses enquanto classe profissional (ver anexo 2).

Por outro lado o aluno, a cada dia que passa, fica mais esperto e

percebe tudo que ocorre dentro e fora da escola, ele só precisa de orientação

familiar e escolar. O mesmo necessita ter o prazer de aprender, ter que

desenvolver seu papel de forma disciplinada e consciente dos seus estudos,

não só para passar de uma série a outra, mas para ampliar seus horizontes

para a vida. Para isso, tanto o aluno, a família, quanto o professor têm que

assumir e reivindicar não só os seus direitos, mas devem também avaliar e

exercer melhor os seus deveres para desempenhar mais humanamente os

seus papéis de cidadãos comprometidos com a paz social. A partir deste

contexto observa-se o quanto é importante a discussão e união entre o

professor, aluno, família e comunidade para estruturar um verdadeiro Projeto

Político Pedagógico essencial em qualquer instituição escolar, resgatando

valores primordiais da sociedade.

3.5 A Arte na Educação

A arte sempre será a grande linguagem natural do homem para

realizar, espontaneamente, sua natureza criativa e espiritual. Linguagem essa,

que busca a expressão e a comunicação de sua realidade e dos seus

principais valores de vida. É nesses valores que a arte atua na educação

promovendo o desenvolvimento de um cidadão criativo, que seja capaz de

adaptar-se as diversas situações sociais, históricas, culturais, emocionais,

ambientais e profissionais. Situando-o no tempo e no espaço, para que ele

perceba o valor da sua identidade individual e coletiva.

Desde o início da humanidade a arte sempre esteve presente em

todas as manifestações culturais. O homem desde a pré-história até a

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contemporaneidade utiliza a arte para expressar suas emoções, seus valores e

sua sociedade.

A aprendizagem e o ensino da arte sempre existiram e se

transformaram, ao longo da história de acordo com normas e valores

estabelecidos, em diferentes ambientes culturais.

No século XX, a arte, como a educação, a estética, a cultura e

outros, também acompanhou as mudanças, fundamentou-se nas

transformações que ocorreram.

Segundo os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), “as

pesquisas desenvolvidas a partir do início do século XX, em vários campos das

ciências humanas trouxeram dados importantes sobre o desenvolvimento da

criança e do adolescente, sobre o processo criador, sobre a arte de outras

culturas. Na confluência da antropologia, da filosofia, da psicologia, da

psicanálise, da crítica da arte, da psicopedagogia e das tendências estéticas da

modernidade, surgiram autores que formularam os princípios inovadores para o

ensino de linguagens artísticas. Esses princípios influenciaram o que se

chamou “Movimento da Educação por Meio da Arte”. Fundamentado

principalmente nas idéias do filósofo inglês Herbert Read, esse movimento teve

como manifestação mais conhecida a tendência da livre expressão que, ao

mesmo tempo, foi largamente influenciada pelo trabalho inovador de Viktor

Lowenfeld, divulgado no final da década de 40. Viktor Lowenfeld, entre outros,

acreditava que a potencialidade criadora se desenvolveria naturalmente em

estágios sucessivos desde que se oferecessem condições adequadas para que

a criança pudesse expressar-se livremente”. Tais princípios reconheciam a arte

da criança como manifestação espontânea e auto-expressiva: valorizam a livre

expressão e a sensibilização para a experimentação artística como orientações

que visavam ao desenvolvimento do potencial criador, ou seja, eram propostas

centradas na questão do desenvolvimento do aluno. É importante salientar que

tais orientações trouxeram uma contribuição inegável para a valorização da

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produção criadora da criança e do jovem, o que não ocorria na escola

tradicional. Mas aos poucos esse pensamento revolucionário, a necessidade e

a capacidade de expressão artística foram deturpados, importando-se “mais

com o processo criador e não com o produto realizado”. Esse e outros

processos eram aplicados mecanicamente nas escolas, deformando e

simplificando a idéia original, o que resultou no “deixa fazer”, ou seja, o aluno

passa a fazer qualquer coisa, sem a intervenção do professor. Qualquer coisa

que se fizesse, virava arte, o que provocou o descrédito e a desvalorização da

Educação Artística e dos profissionais da mesma. Não só por parte das

instituições, como também dos próprios alunos. Rotulando até mesmo, a

matéria de Artes como “pejorativa” e “menos importante”.

O professor de Arte, tornava-se cada vez mais irrelevante e passivo.

A ele não cabia ensinar nada e a arte considerada adulta, deveria ser mantida

fora das escolas, pois não poderia influenciar a arte ingênua e espontânea das

crianças. Esse princípio da livre expressão espalhou-se pelas escolas. O

objetivo principal era facilitar o desenvolvimento criador. Porém, esse princípio,

provocou resultados indiscriminados de idéias vagas e imprecisas,

descaracterizando a função da educação artística.

No início da década de 60, houve um novo pensamento sobre o

ensino de arte nos centros norte-americanos e europeus, questionando a idéia

do desenvolvimento espontâneo na expressão artística, procurando definir

nova tendência com o objetivo de resgatar a importância das artes no conteúdo

curricular. Houve um duplo movimento por um lado, a reorientação da livre

expressão; por outro, a investigação da natureza da arte como forma de

conhecimento. Questionando continuamente a aprendizagem artística como

conseqüência natural apenas do processo de desenvolvimento humano.

No começo da década de 70, E. B. Feldman, Thomas Munro e Elliot

Eisner, ancorados em John Dewey, trataram das mudanças conceituais do

ensino da arte, nos Estados Unidos. Afirmam que o desenvolvimento artístico é

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resultado de formas complexas de aprendizagem e que, portanto, não ocorre

automaticamente à medida que a criança cresce; é tarefa do professor

propiciar essa aprendizagem por meio de instrução. Segundo esses autores, as

habilidades artísticas se desenvolvem pelas questões que se apresentam no

decorrer de suas experiências de buscar meios para transformar idéias,

sentimentos e imagens em um objeto material. Tal experiência pode ser

orientada pelo professor e nisso consiste sua contribuição para a educação no

campo da arte.

No Brasil, em meados do século XIX, já havia referências a matérias

de caráter artístico introduzidos na educação escolar pública brasileira.

Nas primeiras décadas do século XX, o ensino de Arte é identificado pela visão humanista e cientificista que demarcou as tendências pedagógicas da escola tradicional e nova. Embora ambas se contraponham em proposição, métodos e entendimento dos papéis do professor e do aluno, as influências que exerceram nas ações escolares de arte foram tão marcantes que ainda hoje permanecem mescladas na prática de professores de artes (PCN, 1998, p. 21).

Mesmo porque, é necessário desenvolver, uma educação artística,

atrelada as necessidades sociais, ou seja, valorizar sempre o humanismo, sem

esquecer que vivemos numa era cientificista.

Ainda na primeira metade do século XX, o ensino da arte enfatizava

o domínio técnico, mais centrado nas técnicas e na figura do professor. Era

uma educação artística limitada a reprodução de modelos, imitando padrões

estéticos determinados, sem pretensões criativas, presos aos estereótipos

definidos pelos próprios professores.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998),

[...] entre os anos 20 e 70, muitas escolas brasileiras viveram também outras experiências no âmbito do ensino e aprendizagem de Arte, fortemente sustentadas pela estética modernista e com base nas tendências pedagógicas e psicológicas que marcaram o período. Contribuíram para essas influências os estudos de psicologia cognitiva, psicanálise, gestalt, bem como os movimentos filosóficos que embasaram

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os princípios da Escola Nova. O ensino de arte volta-se para o desenvolvimento natural do aluno, centrado no respeito às suas necessidades e aspirações, valorizando suas formas de expressão e de compreensão do mundo. As práticas pedagógicas, diretivas, com ênfase na repetição de modelos e no professor, são revistas, deslocando-se a ênfase para os processos de desenvolvimento do aluno e sua criação. No período que vai dos anos 20 ao dias de hoje, faixa de tempo concomitante àquela em que se assistiu a várias tentativas de trabalhar a arte fora das escolas, tais como os Conservatórios Musicais, Dramáticos, as Escolas de Música, as Escolinhas de Artes, vive-se o crescimento de movimentos culturais, anunciando a modernidade e vanguardas. Foi marcante para a caracterização de um pensamento modernista a “Semana de Arte Moderna de São Paulo”, em 1922, na qual estiveram envolvidos artistas de várias modalidades: artes plásticas, música, poesia, dança etc. As novas concepções sobre a modernidade e o papel das artes no Brasil foram difundidas em depoimentos, revistas e movimentos, como a Revista Klaxon (SP, 1922), as revistas de música Ariel (SP, 1923) e Brasil Musical (RJ, 1923) e a Revista Nova (PA, 1923-1929). Em artes plásticas acompanhou-se uma abertura crescente para as novas expressões e vanguardas e o surgimento dos museus de arte moderna e contemporânea em todo o país. A modernidade no teatro brasileiro se consolida com os teatros Arena e Oficina, que demonstraram tanto seu impulso criador quanto atuação social. Em continuidade, nos anos 60, é criado o Movimento Popular de Cultura, que atua tanto no Nordeste como no Sul do país junto aos sindicatos, centros estudantis e grupos populares, estando ligado às teorias e perspectivas pedagógicas então em desenvolvimento. Em música, o Brasil viveu progresso excepcional, tanto na criação musical erudita como na popular. A corrente musical erudita nacionalista que se fortaleceu com a Semana de 22 vai rivalizar-se com outra, a de vanguarda, após a década de 30, quando estão mais evidentes as inovações pelas quais passava a música européia, como a dodecafônica, entre outras. Na área popular, traça-se a linha que vem de Pixinguinha e Noel Rosa e chega, hoje ao movimentado intercâmbio internacional de músicos, ritmos, sonoridades, técnicas, composições etc., passando por momentos de grande penetração de música nacional na cultura mundial (PCN, 1998, p. 20).

A Educação Artística no currículo escolar, quando bem direcionada,

pode ser uma grande aliada para o avanço educacional. Pois através de sua

diversidade e poder de imagem, som, movimento e da percepção estética com

fontes de conhecimento, se torna um grande meio de comunicação mundial.

3.6 Arteterapia na Educação

O recurso da arte aplicado a psicopatologia originou-se quando Jung

passou a trabalhar com o fazer artístico, em forma de atividade criativa e

integradora da personalidade. “Arte é a expressão mais pura que há para a

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demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é

sensibilidade, criatividade, é vida” (JUNG, 1920 apud CARRANO, 2002, p. 41).

Vários autores definiam a arteterapia como a auto-expressão, que

resgata o potencial criativo do homem, buscando o psique saudável e

estimulando a autonomia e transformação interna, para reestruturação do ser.

É através da expressão artística que o homem revela-se da forma

mais pura e expontânea.

A arteterapia usa recursos artísticos (pintura, modelagem, recorte-

colagem, tapeçaria, teatro, dança, desenho e outros); contos de fadas e

mitologia. A fim de estruturar a psique humana com estudos dois seus

arquétipos imagéticos, representados através de expressões artísticas, porém

com função terapêutica.

A arteterapia na educação visa desenvolver a educação emocional e

a personalidade criativa.

A arteterapia não limita-se em trabalhar com um limitado número de

pessoas em clínicas de saúde mental ou em consultórios particulares. Ela

também pode tratar pessoas consideradas “normais”. Ou seja, pessoas que

sobrevivem aparentemente bem, mas que ainda não integraram seu princípio

autodirecionador e seu objetivo de vida a suas consciências.

Segundo Susan Bello (1998),

[...] o sistema educacional deveria estar interessado em expandir o autoconhecimento e o potencial criativo em seus estudantes e atuar como uma ponte, incorporando o aprendizado emocional ao sistema, do primeiro grau até a educação adulta. Precisamos ajudar as pessoas a serem mais espontâneas e autênticas, ajudá-las a definir seus pensamentos limitadores, suas subpersonalidades, aprender como reconhecer e comunicar seus medos, seus verdadeiros sentimentos e os desejos de seus corações (BELLO, S., 1998, p. 63).

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A palavra educar vem do latim “educar”, que significa encorajar o

desenvolvimento e a expressão das qualidades únicas de cada pessoa.

Precisa-se desenvolver cursos nas universidades preparando professores para

o aprendizado simbólico, intuitivo e emocional. Muitos foram privados, não

somente na infância, mas ao longo de grande parte da vida, da satisfação das

necessidades emocionais. Perpetua-se assim, um modelo de educação que

ignora que grande número de pessoas têm uma idéia doentia de si mesmas e

sofrem de pouca auto-estima. Deixa-se o estudo do aprendizado emocional

para o departamento de psicologia ou de assistência social e raramente

oferece-se uma abordagem experimental interdisciplinar a esse aprendizado

dentro do sistema educacional.

Os professores dizem que não têm tempo de explorar aspectos

emocionais, por causa dos programas acadêmicos inflexíveis e apertados.

Você pode, por exemplo, naturalmente, fazer uma ponte de contato no grupo,

estabelecendo reações emocionais significativas entre os membros, durante o

andamento da aula e, não necessariamente, criar um curso especial para esse

tópico. É importante criar um ambiente onde os alunos se sintam apoiados pelo

líder e pelo grupo; que suas reações sejam aceitas sem críticas e julgamento.

Entende-se que os educadores estão participando desta luta contra

um sistema que apresenta tremenda resistência à transformação. Por que

pensar que chamam-lhes de herói? Um sistema muda quando as pessoas

dentro do sistema mudam. Que espaço melhor para começar do que com as

futuras gerações?

Caos e desestruturação antecedem a transformação. Fica evidente

que parte da transformação cultural que se testemunha são as novas

expectativas dos arquétipos masculino e feminino. Sempre haverá um

arquétipo masculino e feminino, mas estamos nos afastando dos padrões

convencionais fundamentais que definem as qualidades masculinas e

femininas. Estamos vivendo num tempo onde o conteúdo dessas estruturas

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arquetípicas está se redefinindo. Isso pode implicar o retorno a um conceito de

não-dominância, onde cada pessoa se veja como ser humano mais

independente dos preconceitos de sexo e papéis sociais impostos. Homens e

mulheres são ambos provedores, protetores, sensíveis e nutridores. Esses

comportamentos já não são tão rigidamente definidos como exclusivos de um

gênero ou de outro, como antes.

É necessário estar sempre reavaliando os conceitos, incentivando a

cooperação e a autoconfiança. É preciso valorizar todas estas manifestações,

aceitando a natureza intrínseca de cada pessoa ao invés de valorizar apenas

as tarefas que ela pode fazer. É importante valorizar o processo de seu esforço

e perseverança e não apenas o resultado final de sua produção. As crianças

precisam ser encorajadas e tocadas com amor para aprenderem a encontrar

um lugar no grupo, onde possam ser aceitas e reconhecidas com dignidade.

Deve-se incentivar mais e criticar menos, não só na escola, mas na vida.

O educador emocional tenta trabalhar sempre com conceito positivo

dos sentimentos e considera todos os sentimentos como uma mensagem

fundamental, que deve ser cuidadosamente avaliada e estudada.

De acordo com Susan Bello (1998), os estudantes devem ser

encorajados a colocar seus pensamentos e sentimentos em palavras, em vez

de agir de acordo com eles.

As imprecações camuflam a verdadeira expressão de raiva ou de

sentimentos feridos e, por essa razão não são aceitáveis.

Toby Chuah, uma educadora emocional de professores em Nova

Iorque, no Centro de Estudo de Grupo, escreve sobre suas experiências em

sala de aula:

Minha necessidade de entender minha raiva era testada diariamente, a cada hora... Com algumas outras crianças que eram mais hostis, eu

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espelhava a raiva delas. Disse-lhes que gostaria de pegá-las, uma a uma, e atirá-las pela janela. Uma jovem senhora me desafiou: ‘E por que não?’. Então perguntei-lhes se eu tinha de fazer tudo que sentia. Eles acharam que era um estranho conceito. De qualquer maneira, eles disseram que quando sentiam vontade de fazer alguma coisa, eles simplesmente faziam. Então tivemos uma lição a respeito da diferença entre sentir, dizer e fazer. Em outras ocasiões, quando a raiva ameaçava vencê-los, era óbvio que a conversa não era suficiente. Descobri que convidando-os a anotar dez coisas que estavam erradas comigo lhes proporcionava uma maneira suave e segura de descarregar sua raiva (CHUAH, 1995, apud CARRANO, 2002, p. 84).

A raiva, o ódio, inveja, ansiedade, culpa e medo são emoções que

são consideradas negativas que tentamos esconder. Essas emoções são

sentimentos que embora, algumas possam parecer melhores ou piores, que

outras, não devemos, nem temos meios de eliminá-las, pois fazem parte da

personalidade do ser humano. Temos apenas que conduzir sabiamente todas

estas energias psíquicas, ou seja, aceitá-las para depois transformá-las e

evoluir cada vez mais em nossa essência humana.

[...] A expressão honesta dos sentimentos, mesmo a raiva ou o limite, cria a intimidade. Desenvolvemos a intimidade compartilhando nossos sentimentos com outras pessoas. Em vez de só trocar informação, praticamos uma linguagem que vem de outras vias neurológicas de percepção. Muitas pessoas só se comunicam num nível intelectual, trocando informações, e não dizem o que sentem. As pessoas crescem distorcidas – grandes intelectos, porém crianças, emocionalmente falando. Ouvimos grandes eruditos falando sobre criatividade, mas que não experimentaram pessoalmente a entrega ao mistério e à confiança no processo criativo, que se revela através de nós. Isso é um ato espiritual (BELLO, 1998, p. 43). A maior parte das pessoas se sente confortável no controle do mundo da informação e raramente deixa transparecer seus sentimentos ou mostra sua sensibilidade. Esse é um padrão imposto pela sociedade que nos acostumamos a aceitar. Algumas pessoas estão transpondo os limites do que é socialmente permitido. Em muitos locais de trabalho, por exemplo, isso é um tabu social. “A maioria de nós não entra cm contato profundo com as pessoas. Simplesmente olhamos um ao outro superficialmente - como é o nariz dessa pessoa ou o formato da boca. Precisamos expandir a percepção de quem somos..., e sentir a intensidade de cada momento.”(R. Toro, 1995) Estamos com medo. Nossos “scripts” dizem: “Talvez, se eu expressar meus sentimentos, vou ofender alguém” ou “Vou ser humilhado ou envergonhado, se me expuser” ou “Não posso cometer um engano” ou “Não valho nada, não sou nada e sou chato”. “Se mostrar que confio em você, você vai me usar.” “Se eu mostrar que gosto de você, você vai me rejeitar.” “Não posso mostrar meus sentimentos verdadeiros, porque vou ficar embaraçado”. (S. Johnson, 1991). Esses são pensamentos limitadores.

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É muito comum ficarmos reticentes ou embaraçados por expressar a alguém nosso afeto ou dizer a uma pessoa que gostamos de algo nela. Não é triste isso? Nosso medo de rejeição é ridículo, nos impede de viver nossa vida integralmente e a torna desassociada de nossos sentimentos autênticos. (BELLO, 1998, p. 44).

Muitos de nós aprendemos que, obtendo boas notas na escola, ganhamos o reconhecimento, o elogio e a atenção de nossa família e professores. Boas notas eqüivaliam a amor e valorização. Que megamensagem esse comportamento está comunicando? Uma criança pode ter ótima alimentação, conseguir boas notas, ter uma casa organizada e, ainda assim, sentir-se absolutamente abandonada emocionalmente. Como preencherá o vazio interior? A porta para preenchê-lo está em experimentar o amor e o desenvolvimento de uma relação amorosa consigo mesmo. Temos sido condicionados a procurar nossas necessidades fora de nós mesmos, inclusive o amor. Fomos ensinados a acreditar por Hollywood, a mídia e outros, que somente outra pessoa pode ser a fonte de nosso amor. Quem preencherá o vazio de alguém que nunca teve a oportunidade de aprender como amar e perdoar a si mesmo? Primeiro, necessitamos ser nosso próprio amante interior. (V. Harms, 1992) Os educadores raramente discutem o tópico do amor-próprio. E um assunto que não existe no programa, assim como contatar a própria fonte interior de sabedoria ou desenvolver a voz intuitiva (BELLO, 1998, p. 45).

Através do exercício do amor próprio e com discussões, análises e

atividades artísticas, a arteterapia pode contribuir com a educação escolar.

Despertando a espontaneidade das emoções no intuito de enfatizar o amor

próprio, fortalecendo o mundo interior, a sua auto-estima, para que o indivíduo

possa se libertar de pensamentos limitadores, que saia da sombra e alcance a

luz.

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CONCLUSÃO

Em virtude do que foi mencionado, conclui-se que a educação

vivencia um período de extrema complexidade social e humana. E apesar da

luta constante da escola, de forma alguma ela conseguirá resolver tudo

sozinha.

A família não pode se omitir, como tem acontecido nos dias atuais,

ela tem que ter consciência de que é parte fundamental da engrenagem inicial

do processo educacional das crianças. Sem este apoio a escola ficará sempre

incompleta, como um templo sagrado que não tem o principio da fé.

Consequentemente o professor não ficou livre deste caos social. Ele

encontra-se num conflito muito grande, desestimulado e confuso, sem saber

como resolver toda esta problemática aglomerada em uma sala de aula,

sentindo no corpo e na alma o peso da responsabilidade de solucionar um

problema que não lhe compete resolver sozinho. Há professores literalmente

doentes por tantas pressões e tão pouco apoio. Outros otimistas perseverantes

insistem na criativa mudança e, à base de inspiração divina, continuam lutando

a favor da educação. Muitos acomodam-se, vivem reclamando, nada fazem, e

ainda debocham e criticam aqueles que tentam melhorar.

Do outro lado os alunos são os termômetros na educação e é partir

do diálogo constante, democrático e objetivo entre escola, professores, pais e

alunos que se faz educação. Temos que democratizar a educação dando aos

alunos o direito de estudar em uma escola democrática. A qualidade da

educação está ligada às observações e às críticas emanadas dos alunos.

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São várias as questões essenciais para o futuro da educação:

critérios de avaliação, didática de ensino, qualidade dos profissionais e

fundamentalmente amor e sensibilidade, juntamente com um currículo que

proporcione o desenvolvimento das múltiplas inteligências do indivíduo.

Levando em consideração tudo que foi pesquisado sobre a

educação, é importante enfatizar que não há necessidade de ter uma disciplina

chamada arteterapia para considerá-la integrada ao contexto escolar e sim a

aplicabilidade da sua filosofia na educação. Observando comportamentos,

representações imagéticas das emoções individuais e coletivas. Promovendo o

respeito mútuo e auto-conhecimento do grupo trabalhado. Fazendo com que

todos reconheçam a arteterapia como um instrumento para melhorar a sua

auto-estima e sua convivência social. Porém, apesar da arteterapia na

educação promover uma educação emocional, ela não é inovadora. Ela

representa um reforço à prática da filosofia da educação libertadora e estudada

por vários autores e movimentos educacionais.

Entretanto, é preciso vontade política, não só do governo

hierárquico, mas de cada um de nós. Cada cidadão tem que fazer a sua parte.

E por esta razão, de sobrevivência, que tem que haver a integração entre

família, comunidade e escola, para que juntos criem o projeto político

pedagógico, formando e informando humanisticamente o indivíduo.

Desenvolvendo e aumentando a auto-estima e o potencial que todo ser

humano trás consigo desde o princípio de sua existência.

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ANEXOS