arqueduto da carioca

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concinnitas | ano 2012, volume 02, número 21, dezembro de 2012 105 Buscar Vitruvius nos trópicos − percepções de viajantes ingleses da primeira metade do século XIX sobre o Aqueduto da Carioca Carla Hermann Ao observar as gravuras do Rio de Janeiro feitas por viajantes que por cá passaram no século XIX encontramos um grande número de registros sobre alguns espaços específicos da cidade. São eles: o Largo do Paço, hoje conhecido como Praça XV, o Aqueduto da Carioca (hoje chamado de Arcos da Lapa), a própria Baía de Guanabara e os morros Pão de Açúcar e Corcovado. 1 Desses parâmetros iconográficos nos chama a atenção a quantidade de representações feitas dos aquedutos, especialmente na primeira metade do século XIX. Assim, vamos percorrer algumas gravuras e desenhos feitos com os Arcos da Lapa, a obra arquitetônica mais imponente existente em terras cariocas quando da chegada dos viajantes que passaram pelo Rio de Janeiro ao longo do século XIX. Essa seria a construção mais obviamente percebida como marco civilizatório, de forma francamente clássica e que, eventualmente, ocuparia o lugar da ruína clássica nas composições artísticas. A escolha recorrente do Aqueduto da Carioca como tema dos registros dos estrangeiros no século XIX precisa ser compreendida na transferência de valores da tradição clássica ocidental para a realidade brasileira. Entretanto, também a permanência e herança da tradição clássica no seio da cultura do continente europeu através dos séculos nos dá subsídio para entender essa escolha e a própria conformação da paisagem moderna. Na Europa do século XV a aparição da paisagem indicou uma transformação do olhar do homem europeu sobre o mundo. O ordenamento físico da natureza se tornou objeto de apreciação, e não mais dependia da subjetividade humana para a construção desse conhecimento. O nascimento dessa razão paisagística está diretamente ligado à dualidade moderna entre sujeito e objeto, 2 e por isso a representação da natureza exterior é não apenas representativa de um processo modernizador, mas também tradução de um olhar que busca compreender o espaço natural.

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Paisagem do Rio de Janeiro Sec. XIX

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  • concinnitas | ano 2012, volume 02, nmero 21, dezembro de 2012

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    Buscar Vitruvius nos trpicos percepes de viajantes ingleses

    da primeira metade do sculo XIX sobre o Aqueduto da Carioca

    Carla Hermann Ao observar as gravuras do Rio de Janeiro feitas por viajantes que por c passaram no sculo XIX encontramos um grande nmero de registros sobre alguns espaos especficos da cidade. So eles: o Largo do Pao, hoje conhecido como Praa XV, o Aqueduto da Carioca (hoje chamado de Arcos da Lapa), a prpria Baa de Guanabara e os morros Po de Acar e Corcovado.1 Desses parmetros iconogrficos nos chama a ateno a quantidade de representaes feitas dos aquedutos, especialmente na primeira metade do sculo XIX. Assim, vamos percorrer algumas gravuras e desenhos feitos com os Arcos da Lapa, a obra arquitetnica mais imponente existente em terras cariocas quando da chegada dos viajantes que passaram pelo Rio de Janeiro ao longo do sculo XIX. Essa seria a construo mais obviamente percebida como marco civilizatrio, de forma francamente clssica e que, eventualmente, ocuparia o lugar da runa clssica nas composies artsticas. A escolha recorrente do Aqueduto da Carioca como tema dos registros dos estrangeiros no sculo XIX precisa ser compreendida na transferncia de valores da tradio clssica ocidental para a realidade brasileira. Entretanto, tambm a permanncia e herana da tradio clssica no seio da cultura do continente europeu atravs dos sculos nos d subsdio para entender essa escolha e a prpria conformao da paisagem moderna. Na Europa do sculo XV a apario da paisagem indicou uma transformao do olhar do homem europeu sobre o mundo. O ordenamento fsico da natureza se tornou objeto de apreciao, e no mais dependia da subjetividade humana para a construo desse conhecimento. O nascimento dessa razo paisagstica est diretamente ligado dualidade moderna entre sujeito e objeto,2 e por isso a representao da natureza exterior no apenas representativa de um processo modernizador, mas tambm traduo de um olhar que busca compreender o espao natural.

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    Segundo o gegrafo Denis Cosgrove, entre 1550 e 1620 os europeus experimentaram mudanas dramticas na sua capacidade de conceitualizar e representar o mundo. Isso se deu no s pelos novos espaos materiais descritos pelo heliocentrismo e pela ao geopoltica ocenica e continental, mas tambm pelos espaos representacionais do entendimento matemtico e da representao tcnica. A geometria aplicada balstica e a pesquisa em triangulao, o uso da grade no mapeamento e tanto a teoria quanto a prtica da perspectiva no desenho e na pintura, somados mecanizao da viso ocasionada pela cmera obscura e as lentes, transformaram fundamentalmente as espacialidades europeias. A tipografia mvel e a emergente cultura da gravura foram cruciais no somente para a comunicao e por conseguinte para o impacto social dessas mudanas, mas para a realizao efetiva dessas transformao da espacialidade. O debate entre a autoridade clssica antiga e eclesistica de um lado e a experincia contempornea do outro era mediado pelos textos impressos; novos mundos eram anunciados e representados pela imprensa e por gravuras, e a consistncia dos clculos e ilustraes cientficas era assegurada por uma comunidade cientfica e erudita geograficamente espalhada. Prticas cientficas recm-reavivadas, como a geografia e a arquitetura que tinham em comum o interesse de conceitualizar e representar o espao material e entender a maneira como os humanos transformam o mundo fsico foram profundamente afetadas por esses processos. Dois textos redescobertos no Renascimento foram fundamentais. A geografia foi transformada em teoria e prtica pelo reaparecimento no Ocidente do texto de Claudius Ptolomei A Geografia, do segundo sculo d.C., enquanto Dez Livros da Arquitetura, de Vitruvius Pollio, datado de um sculo antes, teve impacto similar na arquitetura. Cada qual ofereceu uma espcie de manual tcnico para sua respectiva prtica espacial: de um lado, classificao, registro e mapeamento de lugares. Do outro, engenharia, planejamento e construo deles. Cada qual localizava seu conhecimento e prticas especficos dentro de uma concepo de ordem espacial mais ampla, que abarcava desde o cosmo s localizaes individuais. E cada um enfatizava a representao grfica dessa ordem espacial, problematizada nas iconografias comuns a ambos, o uso da sphaera mundi e do compasso. As tenses epistemolgicas e prticas que acompanharam a revoluo espacial do Ocidente, notadamente entre a retrica humanista e a techne mecnica, aparecem em ambos os textos e nos sumrios e comentrios deles derivados. Tenses essas que no permanecem desconectadas da amarga diviso entre f e prtica religiosa do sculo XVI europeu.3

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    Subsdios clssicos para entender a paisagem: corografia e geografia A prpria origem etimolgica da palavra paisagem ambgua, podendo designar tanto as coisas do ambiente fsico (grande natureza) quanto a representao dessas coisas (imagem). Ela se constitui ento, na reciprocidade entre as dimenses material e simblica, objetiva e subjetiva, factual e fenomenal.4 Para o gegrafo francs Augustin Berque, a ideia principal a de que paisagem no possui apenas uma dimenso material, considerada uma mediao entre o mundo das coisas e aquele da subjetividade humana. 5 Algumas investigaes histrico-filosficas podem ajudar a entender as razes do idealismo especfico da arte de paisagem. Novamente Denis Cosgrove 6 associa o advento da paisagem cnica s tcnicas de representao, perspectivas decorrentes da descoberta renascentista da cartografia e da corografia das formulaes feitas por Ptolomeu, para quem a corografia estava ligada arte pictrica, e esse aspecto visual foi enfatizado quando da reinterpretao renascentista, devido influncia neoplatnica. O radical grego para corografia , choros ou chora, significa literalmente espao definido, poro de cho, lugar, enquanto graphia definida por Ptolomeu como mimesis dia-graphis, significando imitao/representao atravs da forma grfica. No processo de traduo para o latim teria sido entendido como imitatio picturae.7 O prprio Ptolomeu parece ter sido influenciado por Plato, e o papel da representao na filosofia platnica sugere que a graphia permitiria a visualizao das ideias arqutipas da cosmologia platnica. Portanto, implicava algo mais que a simples semelhana grfica. Da mesma forma, a cosmografia ptolomeica criou uma imagem do mundo que era antes de mais nada uma representao do quadro espacial ideal platnico, dentro do qual o mundo se inscrevia e, especialmente atravs da perspectiva linear, criava a iluso do espao vivido cotidianamente. Kenneth Olwig, outro gegrafo focado numa perspectiva cultural para pensar a paisagem e suas representaes, identifica que Ptolomeu tinha conscincia de a habilidade do espao mapeado criar um todo ilusrio, tal qual um rosto, uma face. Ele localiza uma fala do grego, segundo a qual o propsito da corografia a descrio de partes individuais, como se fosse desenhar uma orelha ou um olho, mas o propsito da geografia ter uma viso do todo, como por exemplo, como se desenha uma cabea inteira,8 e relaciona essa noo de todo representado pela cabea com uma famosa xilogravura do sculo XVI. Uma ilustrao sobre a Cosmografia de Ptolomeu, impressa no livro Cosmographicus Liber em 1533 traz a imagem do globo terrestre como um rosto. Ao

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    representar a Terra como um rosto, os cosmgrafos renascentistas deram paisagem uma mscara, uma personalidade capaz de ser capturada pelos pintores, tal como em um retrato do espao.9 A paisagem sendo fundamentalmente a representao de um espao ideal dentro do qual so dados ao mundo um rosto e uma personalidade pitoresca e subjetiva subsidia a consolidao de noo moderna que se desenvolveria ao longo dos sculos seguintes. Isso de suma importncia para ns, que desejamos compreender a insistncia de alguns artistas viajantes que passaram pelo Rio no sculo XIX e enfatizaram o aqueduto existente na cidade em suas paisagens urbanas. Vimos que a noo de paisagem como representao de um espao idealizado ao qual atribudo uma personalidade possui tambm raiz clssica. Vejamos agora como a busca do pitoresco (ou aspectos singulares capazes de definir a personalidade de uma dada paisagem) e a identificao do Aqueduto da Carioca como capaz de recompor a memria do passado auxiliaram nessa escolha. Isso ocorre tanto pela identificao da forma dos arcos como monumento de identidade clssica quanto por sua utilizao como substitutos de runas. O aqueduto e a sombra da runa Durante o Renascimento, fragmentos e escombros de monumentos, de edificaes, tmulos e esculturas da Antiguidade clssica se tornaram as principais referncias culturais dos artistas passando a ser estudados, interpretados e classificados , sempre cada vez mais valorizadas. Apesar do interesse pelas runas existir desde o sculo XIV com Petrarca, foi a partir de meados do sculo XVIII, com as escavaes de Pompeia e Herculano e a sistematizao da arqueologia como cincia, que a Europa Ocidental conheceu a ruinomania.10 At ento, a runa poderia ser entendida como clssica ou greco-romana, e era valorizada no por seu estado de decrepitude, mas por remeter a uma forma ntegra idealizada, por testemunhar o poder e o esplendor de uma civilizao outrora apotetica e agora desaparecida, afirmando a imprevisibilidade do destino e as consequncias irreversveis da passagem do tempo. A imagem das runas arquitetnicas perpassa o pensamento do sculo XVIII e expressa a magnitude da perda e da f nos fragmentos. As arquitetas Ceclia Rodrigues dos Santos e Ruth Verde Zein nos dizem que no instigante quadro cultural do sculo XVIII apresentado em sua obra A inveno da liberdade, Starobinski discorre sobre a melancolia das runas e sua potica, e anuncia, em linhas gerais, as principais caractersticas do sculo XIX, como a negao de certa "qualidade dilacerante das coisas perdidas" e "do tempo que passou", em favor do

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    entendimento, do registro cientfico, da organizao do conhecimento sobre pocas desaparecidas atravs da escrita da histria, e tambm da restaurao dos monumentos do passado: "o sentimento das runas do sculo XVIII sofreu a concorrncia do despertar do pensamento histrico moderno, que despoetizou os documentos do passado medida que sua pesquisa se tornava mais metdica.11 A runa desempenha, a bem da verdade, o papel de um monumento. Monumentos arquitetnicos so o passado que ainda se pode experimentar, os vnculos sociais e os smbolos de aes histricas e do tempo. No latim,monumentum vem de monere, que lembrar, e era inicialmente um signo da memria, parte das questes simblicas de uma sociedade. Sua natureza era simblica e coletiva, relacionada transmisso das ideias religiosas e perpetuao do mito. Dessa forma, a relao entre arquitetura clssica e o divino tema que percorre muito do que viria a seguir. Acredito que a forma do Aqueduto da Carioca tenha desempenhado tanto funo de monumento clssico quanto a de substituio da prpria runa. Afinal, o sculo XIX trouxe mudanas na percepo da monumentalidade. Desde sempre atos conscientes de representao do poder, os monumentos passaram a ser vistos cada vez mais como modo de alavancar agentes sociais. A atitude no autorreflexiva que tnhamos para com os monumentos e a realidade social tornou-se abordagem calcada no historicismo, que foi o princpio organizador do sculo XIX. O recm-descoberto senso histrico, visto pelo ngulo do zeitgeist, incluiu a busca das origens e a identificao de causas externas atravs do tempo,12 afirma Argyro Loukaki, para quem a maneira de se aproximar do tempo mudou no referido perodo e permitiu a expresso de pensamentos mais complexos em termos arquitetnicos, levando construo de novos edifcios, pensados como restauraes de monumentos antigos. Para o autor o importante projeto para o Bank of England e seu esforo de conectar a poderosa nao inglesa da dcada de 1830 ao classicismo grego um exemplo evidente dessa concepo construtiva como uma reconstruo arqueolgica. Consolidadas, conservadas, s vezes transportadas para salas de museus, isoladas de seu stio de origem, as runas vo ter grande impacto sobre a arquitetura produzida na poca, seja nos projetos novos, seja nos projetos de restauro, ambos trabalhando com a mesma noo de histria, com a pesquisa e a valorizao do passado.13 Tomemos por exemplo esta aquarela de Lwersten. Algumas partes da composio passaram por tantas simplificaes formais, que quase se aproximam da abstrao. O cu e o morro ao final do Aqueduto se confundem, tamanha a falta de

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    naturalidade de suas cores. O mesmo ocorre com as duas rvores franzinas do lado esquerdo superior do desenho. Traos ligeiros que transmitem a ideia representada sem a preocupao do detalhamento. Por outro lado, o Aqueduto em si aparece razoavelmente detalhado e fiel a sua forma real, mostrando, alis, na fileira inferior de arcos alguns deles fechados e transformados em residncias. Os detalhes mais interessantes ficam por conta da imaginao do artista, um cidado dinamarqus que, por designao da coroa dinamarquesa, permaneceu no Brasil entre 1827 e 1829 para realizar um tratado comercial. Em clara associao do aqueduto s runas romnticas, o artista dispe de partes de cantaria em dois lugares distintos da composio como se fossem destroos de contrues. esquerda e embaixo, recortes de pedra, entre eles uma parte com voluta que parece algo entre um capitel e um pequeno fronto. No meio da composio h ainda um pedao de coluna e algo que remete a um fuste e um capitel de formas retangulares. Parece ainda haver outra referncia ao classicismo, bastante sutil pois diminuta, mas potente por seu significado: o olhar aproximado ou aumentado revela uma figura branca inserida num dos arcos, tal como uma escultura. Aqueduto como metfora da civilidade Em Viagem pelo Brasil (1817-1820), Spix e Martius consideraram o aqueduto o mais belo e o mais til monumento de arquitetura existente no Rio de Janeiro.14 Hoje o trecho com os Arcos, sua parcela mais visvel, foi praticamente tudo o que restou do aqueduto que, com mais ou menos 8km, transportava a gua do Rio Carioca desde a encosta do Corcovado, passando pelos Arcos, at as portas do Convento de Santo Antnio. Toda a estrutura dos canos ao longo da antiga Rua do Aqueduto, atual Rua Almirante Alexandrino, em Santa Teresa, foi destruda h muito tempo, assim como o trecho dos Arcos at o Largo da Carioca, restando apenas a chamada Me Dgua, onde o aqueduto comeava, e alguns outros pequenos vestgios, no Silvestre. Incrustada entre o mar e a montanha, ocupando regio formada por alguns pequenos morros e muitas lagoas, pntanos e manguezais, a cidade colonial cresceu lutando contra as reas alagadas. E, paralelamente, foi preciso construir um sistema de abastecimento de gua potvel. Depois de muitos anos de obras, interrompidas e recomeadas, em que trabalharam ndios e geraes de escravos africanos, finalmente em 1723 as guas do Rio Carioca estavam jorrando no chafariz construdo no p do Convento de Santo Antnio, no atual Largo da Carioca. Em 1750, durante o governo de Gomes Freire de Andrade, ficaram prontos os

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    Arcos de pedra e cal que hoje chamamos de Arcos da Lapa. Com o crescimento da cidade ao longo do sculo XIX, outros rios so canalizados e, aos poucos, o sistema do Carioca passa a no ter mais importncia. No final do sculo, o velho aqueduto, obsoleto, deixa de funcionar e transformado em 1896 em viaduto para o bonde de Santa Teresa. Dentre as raras imagens da cidade no sculo XVIII, muito conhecida a Vista da Lagoa do Boqueiro com os Arcos. A pintura, atribuda a Leandro Joaquim, faz parte da coleo de ovais pertencentes ao Museu Histrico Nacional. Na imagem h uma oposio entre a gua pura, gua potvel, lmpida, aquela que no podemos ver, mas sabemos que transportada pelo aqueduto, e a gua parada da lagoa. No uma lagoa lgubre; nela parece haver vida e, principalmente, trabalho ou funes. H negros por toda parte e alguns poucos brancos, como o que est sendo carregado, provavelmente por seu escravo, ao fundo, no centro da imagem. O espao da lagoa o espao do trabalho escravo.15 E a gua est parada, no controlada pelo engenho humano, em oposio s construes, igrejas, casas e, principalmente, o aqueduto, em sua forma to regular. A gua que corre pelo aqueduto foi civilizada, a gua parada da lagoa ainda precisa ser. Podemos pensar que o Aqueduto, em sua forma romana, lembrava a herana clssica que a Coroa trazia para a colnia. No s a figura do aqueduto, mas toda a distribuio das guas no espao citadino importante indicador do grau de organizao e de civilizao. fato notvel das conquistas construtivas o abastecimento de gua em Roma e nas grandes cidades do Imprio. O primeiro aqueduto romano foi construdo no sculo IV a.C. para levar gua de Praeneste at a cidade. Em 144 a.C um pretor (magistrado) construiu o primeiro aqueduto com setores de alto nvel em arcos de comprimento considervel, o chamado Acqua Marcia, que supria a cidade de guas vindas de 58km de distncia e sintetizava o interesse especial de Roma por obras pblicas de utilidade e materialidade slida.16 No perodo imperial um milho de metros cbicos de gua flua diariamente pela cidade por 11 aquedutos, quantidade s ultrapassada pela Roma moderna na dcada de 1970. A forma de fileira de arcos, embora no fosse a nica existente, se tornou a mais conhecida ao longo dos anos. O nico texto da literatura romana sobre arquitetura que chegou at ns De architectura, escrito pelo romano Marco Vitrvio Polio no sculo I a.C. Para Vitrvio, a arquitetura consiste no ordenamento, disposio, ritmo, proporo, convenincia e

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    agenciamento. 17 Este ltimo elemento refere-se funcionalidade, configurando os ambientes em espaos e usos. Tambm conhecido por Dez livros sobre a architectura, cada volume aborda um determinado aspecto da arquitetura. Interessa-nos diretamente o Livro Oitavo,18 em que as questes de hidrulica e distribuio da gua so as principais temticas abordadas. Partindo das ideias de Tales de Mileto, que considerava a gua Arch de todas as coisas, ou seja, a maior fonte de vida, Vitrvio descreve engenharias para a distribuio de gua urbana, como encontrar gua, refere suas qualidades e propriedades, e dedica um captulo aos aquedutos, poos e cisternas. Seu legado , alm da engenhosidade da distribuio das guas, o difundir a importncia dessas construes para o sucesso das cidades, ao frisar o papel da gua como principal requisito para a vida, para a felicidade e para o uso dirio.19 Passados quase dois mil anos, Lewis Mumford escreveu, em A cidade na Histria (1961): Quando se pensa na antiga cidade de Roma, pensa-se imediatamente em seu imprio: Roma com seus smbolos de poder visvel, seus aquedutos, seus viadutos e suas vias pavimentadas, cortando sinuosamente colinas e prados, saltando sobre rios e pntanos, movendo-se em formao ininterrupta, como uma vitoriosa legio romana.20 Aquedutos so, assim, imagens da expanso do poder de Roma. E, como Mumford continua observando, nas reas perifricas da metrpole, somente um vislumbre ocasional de planejamento urbano, um templo, uma fonte, um prtico e um jardim, despertaria um eco nobre do Centro da cidade.21 A litografia de Gore Ouseley nomeada Aqueduto e Convento de Santa Teresamostra o caminho da Rua de Mata-Cavalos (atual Rua do Riachuelo) tendo ao fundo o aqueduto, representado apenas com uma das suas carreiras de arcos, em vez de duas. Sua aquarela atribuda a 1939, sendo gravada posteriormente em Londres por Jonathan Needham. Gore Ouseley chegou ao Brasil em 1333, como secretrio de Negcios da delegao britnica, e no ano seguinte seguiu para Buenos Aires em misso diplomtica. Ao fim de 1834 regressa ao Brasil e viaja para a Bahia. Alguns anos depois (1838) promovido a encarregado de Negcios e passa a ocupar a Chcara das Mangueiras, no Flamengo, localizao que influenciar algumas de suas vistas da cidade. Em 1841 deixa as terras brasileiras para s regressar rapidamente de passagem pelo Rio alguns anos depois em viagem a Buenos Aires. Em seu livro Vistas da Amrica do Sul... esse artista amador relata que na poca de sua viagem ao Brasil devido a recomendaes mdicas de se estabelecer em climas amenos, procurou viver nas serras prximas ao Rio de Janeiro, combinando a busca da

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    sade busca do pitoresco.22 Nessa gravura, isso aparece na cena com alguns detalhes curiosos e caractersticos que procuram remeter a uma natureza acolhedora e generosa. H ainda certa assimetria entre as importncias na composio pictrica. Por um lado a perspectiva conduz ao aqueduto, que parece ser a ltima construo nessa linha de mirada. Adiante dele no h nada alm do cu. Enquanto outros artistas optavam por forar o campo de viso colocando os morros, Ouseley deixa o cu tocar a terra por trs dos arcos, que aparecem como verdadeiros marcos civilizatrios: a partir dali no h nada. As casas de fachadas com traado colonial simples trazem alguns indcios de modernidade: janelas com vidro, uma delas aberta para que a mulher branca possa olhar para fora e observar a movimentao das escravas vendedoras de frutas. O outro destaque dado mata, frondosa a ponto de ocultar o morro de Santa Teresa, abundante a ponto de parecer que o convento sustentado pela nuvem de verdes. algo como ceder relao romntica entre a natureza em seu esplendor, crescida na cidade mas em seu estado livre, e a presena da cultura simbolizada pela construo do aqueduto, resultante da mo do homem.23 O relato de Ouseley descreve essa dualidade: O aqueduto um objeto impressionante e bem construdo, que cruza diversas ruas do Rio de Janeiro, levando guas excelentes das alturas da montanha do Corcovado s vrias fontes da cidade. O nome da rua de onde essa vista foi tomada Matacavalos, de maneira alguma um termo errneo prvio condio atual de caminhos para carruagens, pavimentada em toda sua extenso. H algumas casas grandes e bonitas ao longo dessa rua e adjacncias, com jardins exuberantes que, apesar de prazerosos aos olhos, esto prontos para acomodar uma variedade de mosquitos e at mesmo rpteis.24 Em sua admitida busca do pitoresco, ao dizer que poderia facilmente escapar da ateno de um viajante, a no ser aquele mais empenhado em explorar os recantos de um pas pitoresco do que os habitantes ou estrangeiros residentes, que so naturalmente absorvidos em atividades mais rentveis,25 Ouseley fez questo de registrar as runas da Capela de So Gonalo26 em Rio Vermelho, em Salvador. Ao dedicar duas plantas de seu livro e um breve captulo ao assunto, o britnico traz as questes j abordadas da evocao de um passado esquecido e importante. Encarrega-se ele mesmo de dar importncia a edifcio arruinado e diz que encontrou vestgios de detalhamentos arquitetnicos em pedra e mrmores bem cortados, atestando o cuidado com o qual o local fora antes ornamentado, e a que custo fora construdo. 27 Semelhante destaque dado ao aqueduto, considerado

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    impressionante e bem construdo, adjetivos que nem sempre eram aplicados s construes encontradas na cidade de So Sebastio. Ainda no final do sculo XVIII, em 1792, outro artista, William Alexander, teve oportunidade de observar a paisagem carioca de primeira mo, quando de passagem para a China, acompanhando a misso diplomtica de Lord Macartney. Tratava-se de uma fragata inglesa rumo China, visando fundao de uma embaixada nessa regio do Oriente, que, como muitas outras, parou no Rio de Janeiro. Nessa ocasio, Alexander desenhou nosso aqueduto. O desenho original, em lpis e aquarela se encontra atualmente na British Library, e no foi possvel obter reproduo satisfatria. O acesso a ele foi feito a partir da reproduo de um livro28, em preto e branco e formato reduzido. Entretanto, h duas gravuras distintas feitas a partir do desenho de Alexander. A primeira gravura foi gravada por Medland e feita em ilustrao aos relatos de Sir John Barrow, uma espcie de tesoureiro da misso de Lord Macartney. De sua passagem pelo Rio, Barrow destaca aspectos variados, como o comportamento das mulheres, os jardins, a grande quantidade de insetos e mosquitos e o eficiente sistema de distribuio de guas, fundamental para a atividade porturia. A esse tpico dedica pouco mais de trs pginas escritas, e a nica ilustrao sobre o Brasil a compor essa publicao essa do aqueduto. Seu relato mostra a impresso de que se tratava de obra de vulto, deixando o viajante impressionado. O reservatrio alimentado por meio de um aqueduto [...]. Essa parte desse grande trabalho que atravessa o vale e se comunica diretamente com o reservatrio parece ser to desnecessria quanto deve ter sido cara; sustentada em uma fila dupla de elevados arcos, compondo-se de mais de quarenta em cada fileira, e um ornamento nada modesto para a cidade, como ser facilmente percebido pelo exame apensado. Uma srie de canos colocados ao longo ou abaixo da superfcie teria inquestionavelmente respondido proposta de conduzir a gua igualmente bem, mas, como Sir George Stauton observou justamente, exibio e magnificncia, assim como utilidade, so s vezes os objetivos do trabalho pblico.29 Outros relatos de viajantes ingleses que estiveram no Rio em uma mesma expedio trazem comentrios sobre o Aqueduto da Carioca. Os viajantes so George Staunton, secretrio da misso inglesa em questo, e Aeneas Anderson, oficial da marinha britnica. No incio do captulo sobre a Cidade de So Sebastio, George Staunton relata o

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    trajeto da frica ao porto do Rio de Janeiro, detalhando questes climticas, martimas e distncias em termos longitudinais e latitudinais. Desse modo, no h maiores comentrios sobre a Cidade de So Sebastio. Entretanto, entre seus poucos comentrios h o elogio da estrutura do porto da cidade e a meno ao aqueduto, considerado novamente superior necessidade da cidade. Staunton se surpreende com o conhecimento que os portugueses possuam das tcnicas construtivas dos romanos: Tal aqueduto passa por vales em fileira dupla de arcos, uma acima da outra: uma estrutura de grande ornamento para a cidade, embora, talvez, a gua pudesse ser conduzida com a mesma eficcia por canos. Esse aqueduto no supe ignorncia dos portugueses a respeito da lei hidrosttica segundo a qual a gua sempre atinge seu nvel; as estruturas do mesmo tipo nos entornos de Roma no fazem nada alm disso, justificando essa suspeita no que concerne aos antigos romanos. Por fim, os objetos dos trabalhos pblicos servem de exibio e magnificncia, bem como utilidade.30 Para completar as impresses dos viajantes ingleses vindos com a misso de Lord Macartney, o relato de Aeneas Anderson. A publicao que leva seu nome possui estrutura bastante similar s de Sir John Barrow e de George Stouton; bastante extensa, falando de diversos portos pelos quais a esquadra passou a caminho da China e um breve captulo (de aproximadamente oito pginas) sobre o Rio. Novamente, o aqueduto mencionado por seu tamanho e pela eficincia do sistema de distribuio de guas: A noroeste da cidade h um aqueduto estupendo que um objeto de incomum curiosidade. Tem a forma de uma ponte, tem 80 arcos e, ao menos em algumas partes, tem 150 ps de altura, podendo ser visto de diferentes pontos de vista, o que causa um efeito peculiar, chegando aos poucos acima das maiores construes da cidade. Essa imensa cadeia de arcos estende-se ao longo de um vale e une os montes que o formam. A finalidade com que se fez tal construo clara, j que ela leva a gua de fontes perptuas, distncia de cinco milhas, para a cidade, onde, por meio de canos plmbeos, conduzida a um grande e elegante reservatrio na praia, em frente ao palcio do Vice-rei.31 Voltando s gravuras feitas a partir do desenho de William Alexander, veremos agora a segunda, esta gravada por George Cooke. Em comparao ao exemplar realizado por Medland, vemos diferenas considerveis, especialmente no que concerne ao posicionamento dos arcos em relao ao espectador. O gravado de Cooke, por suas definies decorrentes pela tcnica empregada

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    de metal com buril, nos d uma cena mais preenchida, o que confere carter um pouco mais urbano que o anterior, em que o descampado acentuado pelas cores claras com pouca variao de tons parece mais buclico. A forma como Cooke organizou a perspectiva da fileira de arcos nos coloca mais prximos da cena, mais dentro dela. Medland, por outro lado, nos deixa um pouco destacados, posto que cria trs planos distintos: a elevao rochosa em que se encontram os frades, o aqueduto e o morro onde h o convento e o horizonte por trs dos arcos, com as montanhas embaadas pela atmosfera. Embora possa parecer mais delicado, com isso Medland confere maior destaque ao aqueduto, especialmente com sua contraposio ao descampado cortado pelos caminhos. Um dado curioso que no desenho original de Alexander h pessoas no primeiro plano, funcionando quase como observadores da cena que se descortinava. Cooke mantm um escravo apenas (e diferente dos do desenho original) nesse lugar, enquanto a gravura de Medland substitui os escravos por dois frades franciscanos. Da mesma forma, o original traz no canto esquerdo uma rvores de galhos retorcidos e pouca folhagem e apenas parte de folhas de uma palmeira que parece ter ficado fora do enquadramento. As duas interpretaes para impresso fazem questo de colocar palmeiras detalhadas, smbolos das terras tropicais. Talvez a verso de Alexander fosse menos tropical do que aquilo que os leitores dos livros de viagem esperariam. Alexander d menos destaque ao aqueduto, que aparece menor do que a cadeia de montanhas. Os dois gravuristas se entendem sob esse aspecto: Medland esmaece o relevo grandioso por trs da construo, e Cooke o valoriza pelo enquadramento perspectivo. certo que h diversas semelhanas: as rvores, o Convento de Santa Teresa, os escravos carregando uma liteira, uma carroa, um grupo de construes residenciais. Execues diferentes para os mesmos temas. Reinterpretaes com o propsito de melhor ilustrar relatos e convencer sobre pontos de vista diversos. Consideraes finais Parece que a herana romana inclui a imagem dos aquedutos como caminhos distribuidores dessa vida citadina e como sinal da prpria civilizao, noo que embasa nossa prpria ideia contempornea de civilidade e perdura at os dias atuais. Os adjetivos dispensados aos Arcos pelos viajantes aqui mencionados, bem como a descrio de suas funes, muito se assemelham aos prprios escritos de Vitruvius. Quando se referem a questes de utilidade e magnificncia dessa construo, estabelecem conexes diretas com o texto clssico e reproduzem termos utilizados no prprio tratado. Vale lembrar que a

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    obra completa vitruviana traduzida para o ingls havia sido recm-lanada em 1791,32 estando no apenas em voga, como muitas vezes presente nas prprias frotas de navios. Isso pode ser relacionado ao interesse maior pelo Aqueduto da Carioca por parte dos viajantes ingleses que passaram pelo Rio de Janeiro na primeira metade do sculo XI 1 CHIAVARI, Maria Pace. Os cones na paisagem do Rio de Janeiro: um reencontro com a prpria identidade. In: MARTINS, Carlos. A Paisagem Carioca. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 2000, p. 56-75. 2 OLWIG, Kenneth. Choros, Chora and the question of landscape. In: DANIELS, Stephen; DELYSER, Dydia; ENTRIKIN, J. Nicholas; RICHARDSON, Douglas.Envisioning landscapes, making worlds: Geography and the Humanities. Londres: Routledge, 2011. 3 COSGROVE, Denis. Ptolomy and Vitruvius: spatial representation in the Sixteenth- Century texts and commentaries. In: PONTE, Alessandra; PICON, Antoine (Org.). Architecture and the Sciences: exchanging metaphors. Princeton: Princeton Architectural Press, 2003, p. 21. 4 LIRA, Lenice da Silva. Les raisons du paysage de la Chine antique aux environments de syntse. Paris: ditions Hazan, 1996. Resenha de BERQUE, Augustin. Le raison du paysage. Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, n.6, 1999. 5 Ibidem. 6 OLWIG, Kenneth. Choros, Chora and the question of landscape. In: DANIELS, Stephen; DELYSER, Dydia; ENTRIKIN, J. Nicholas; RICHARDSON, Douglas.Envisioning landscapes, making worlds: Geography and the Humanities. London: Routledge, 2011. 7 Ibidem. 8 PTOLOMEU, apud Olwig, op. cit. 9 Ibidem. 10 LOUKAKI, Argyro. Living Ruins, Value Conflicts. Hampshire: Ashgate Publishing, 2008, p. 52. 11 SANTOS, Cecilia Rodrigues; ZEIN, Ruth Verde. Rpidas consideraes sobre a preservao das runas da modernidade (1). Disponvel em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.135/3997. Acessado em 20.10.2012. 12 LOUKAKI, op. cit., p. 55. 13 SANTOS; ZEIN, op. cit. 14 SPIX, J. B., MARTIUS, C. Viagem pelo Brasil, 1817-1820. So Paulo: Edusp, Belo Horizonte: Itatiaia, 1981. 15 ALMEIDA, A. C. L. de. O aqueduto da Carioca: paisagem de urbanidade. In: TERRA, Carlos, ANDRADE, Rubens de (Org.) Coleo Paisagens Culturais: interfaces entre tempo e espao na construo da paisagem sul-americana. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro/Escola de Belas Artes, 2008, v. 2, p. 249-255. 16 GRANT, Michael. The History of Rome. London: Faber and Faber, 1993 (1978), p. 138. 17 DZIURA. Giselle Luzia. Trs tratadistas da arquitetura e a nfase no uso do espao. Da Vinci, Curitiba, v.3, n.1, p. 19-36, 2006, p. 21 18 Os Dez Livros so organizados e distribudos nos seguintes temas: - Livro Primeiro: discute o conceito de arquitetura e as condies mnimas para o assentamento das cidades e suas defesas (muralhas e fossos). - Livro Segundo: estuda a origem da arquitetura, materiais de construo. - Livro Terceiro: analisa a construo dos templos e sua adequao s ordens arquitetnicas.

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    - Livro Quarto: continua as anlises do livro anterior, tratando da origem e sistematizao das ordens, das propores entre as partes, e em relao ao todo. - Livro Quinto: trata de outras construes pblicas: praas, baslicas, tesouros, prises, assembleias municipais, teatros, termas, ginsios, portos e obras subaquticas. - Livro Sexto: verifica as edificaes privadas, urbanas e rurais, para residncias dos cidados. - Livro Stimo: estuda os acabamentos, a pintura e a decorao das edificaes. - Livro Oitavo: discursa sobre a hidrulica. - Livro Nono: verifica a construo de grficos do movimento solar para efeito de conforto ambiental. - Livro Dcimo: estuda a mecnica. 19 VITRUVIUS. Ten books on architecture. The project Gutemberg E-Book, 2006. Livro Oitavo, p. 225. 20 MUMFORD, Lewis. A cidade na histria: suas origens, transformaes e perspectivas. So Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 227. 21 MUMFORD, op. cit., p. 246. 22 OUSELEY, William Gore. Views of South America: from original drawings made in Brazil, The River Plate, The Parana. With Notes. London: Thomas McLean, 1852, p. v. 23 COELHO, Teixeira (Org.). Romantismo, a arte do entusiasmo Catlogo de Exposio. So Paulo: Museu de Arte de So Paulo Assis Chateaubriand MASP, 2010, p. 46. 24 OUSELEY, op. cit., p. 34. 25 OUSELEY, op. cit., p. 17. 26 A Capela de So Gonalo do Rio Vermelho, construda entre 1636 e 1695, foi provavelmente a primeira igreja dedicada ao santo no Brasil. Em 1724, o templo foi doado ao Mosteiro de So Bento. No final do sculo 18, a imagem de So Gonalo foi transferida para a Igreja do Bonfim, e a festa de So Gonalo foi adaptada para o novo local. 27 OUSELEY, op. cit., p. 18. 28 MARTINS, Luciana de Lima. O Rio de Janeiro dos viajantes.(o olhar britnico 1800-1850), Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. 29 BARROW, op. cit., p. 80 (grifo meu). 30 STAUTON, George Leonard. An Authentic Account of an Embassy from the King of Great Britain to the Emperor of China. London: Printed by W. Bulmer and Co. for G. Nicol, Bookseller to His Majesty, Pall-Mall. V. 1 (trecho do captulo V Passage of the Line. Course across the Atlantic. Harbour, City, and Country of Rio de Janeiro, p. 151 e 190) 30 de novembro a 17 de dezembro de 1792. Biblioteca do Itamaraty. 31 ANDERSON, Aeneas. A Narrative of the British Embassy to China. Dublin: Printed for William Porter, 1795, p. 22. 32 VITRUVIUS, Pollio. The Architecture of M. Vitruvius Pollio. Trans. W. Newton. 2nd ed. London, 1791. Meus agradecimentos s colocaes feitas pelo Professor Hugo Arciniega, da Universidade Autnoma do Mxico, no Seminrio Unfolding Art History in Latin America em Buenos Aires, em novembro de 2012.

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    Referncias Bibliogrficas

    ALMEIDA, A. C. L. de. O aqueduto da Carioca: paisagem de urbanidade. In: TERRA, Carlos, ANDRADE, Rubens de (Org.) Coleo Paisagens Culturais: interfaces entre tempo e espao na construo da paisagem sul-americana. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro/Escola de Belas Artes, v. 2. p. 249-255. 2008. ANDERSON, Aeneas. A Narrative of the British Embassy to China. Dublin: Printed for William Porter, 1795. BARROW, John. A Voyage To Conchinchina, In The Years 1792 And 1793. London: Printed for T. Cadell and W. Davies in the Strand, 1806. Chapter IV, 26 x 20cm. CHIAVARI, Maria Pace. Os cones na paisagem do Rio de Janeiro: um reencontro com a prpria identidade. In: MARTINS, Carlos. A Paisagem Carioca. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, p. 56-75. 2000. COELHO, Teixeira (Org.). Romantismo, a arte do entusiasmo Catlogo de Exposio. So Paulo: Museu de Arte de So Paulo Assis Chateaubriand MASP, 2010. COSGROVE, Denis. Ptolomy and Vitruvius: spatial representation in the Sixteenth- Century texts and commentaries. In: PONTE, Alessandra; PICON, Antoine (Org.).Architecture and the Sciences: exchanging metaphors. Princeton: Princeton Architectural Press. 2003. DZIURA. Giselle Luzia. Trs tratadistas da arquitetura e a nfase no uso do espao. Da Vinci, Curitiba, v.3, n.1, p. 19-36. 2006. GRANT, Michael. The History of Rome. London: Faber and Faber, 1993 (1978). LIRA, Lenice da Silva. Les raisons du paysage de la Chine antique aux environments de syntse. Paris: ditions Hazan, 1996. Resenha de BERQUE, Augustin. Le raison du paysage. Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, n.6. 1999. LOUKAKI, Argyro. Living Ruins, Value Conflicts. Hampshire: Ashgate Publishing. 2008. MARTINS, Luciana de Lima. O Rio de Janeiro dos viajantes (o olhar britnico 1800-1850). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2001. MUMFORD, Lewis. A cidade na histria: suas origens, transformaes e perspectivas. So Paulo: Martins Fontes. 1998. OLWIG, Kenneth. Choros, Chora and the question of landscape. In: DANIELS, Stephen; DELYSER, Dydia; ENTRIKIN, J. Nicholas; RICHARDSON, Douglas.Envisioning landscapes, making worlds: Geography and the Humanities. London: Routledge. 2011. OUSELEY, William Gore. Views of South America: from original drawings made in Brazil, The River Plate, The Parana. With Notes. London: Thomas McLean, 1852. SANTOS, Cecilia Rodrigues & ZEIN, Ruth Verde. Rpidas consideraes sobre a preservao das runas da modernidade (1) In: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.135/3997 Acesso em 20.10.2012.

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    SPIX, J. B., MARTIUS, C. Viagem pelo Brasil, 1817-1820. So Paulo: Edusp, Belo Horizonte: Itatiaia, 1981. STAUTON, George Leonard. An Authentic Account of an Embassy from the King of Great Britain to the Emperor of China. London: Printed by W. Bulmer and Co. for G. Nicol, Bookseller to His Majesty, Pall-Mall. V.1 (trecho do captulo V Passage of the Line. Course across the Atlantic. Harbour, City, and Country of Rio de Janeiro. VITRUVIUS. Ten books on architecture. The project Gutemberg E-Book, 2006.

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    Apianus Petrus. Cosmographicus Liber. Vaeneunt Antuerpiae excusum Antuerpiae, 1529, P. 12 Fonte: Biblioteca

    Nacional de Espaa. Disponvel em http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/3212849 Acesso em 03.11.2012

    Georg Heinrich von Lwenstern, Os Arcos da Carioca; aquarela 37 x 52,5cm, Coleo Geyer/Museu Imperial de

    Petrpolis, 1828

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    Leandro Joaquim. Boqueiro e Arcos da Lapa. leo sobre tela, final do sculo XVIII, 96,1 x 126cm Museu Histrico Nacional

    William Gore Ouseley, Views of South America: from original drawings made in Brazil, The River Plate, The Parana. With Notes Gravado por Jonathan Needham, edio de Thomas McLean, Londres, 1852 Biblioteca

    Nacional

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    William Gore Ouseley. Ruined Chapel of San Gonsalvo, Rio Vermelho Bahia, 1852 Litografia, col.: 56,6 x 35,7cm

    Biblioteca Nacional1

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    William Alexander. Arcos da Carioco or Grand Aqueduct in Rio de Janeiro,1806, 26 x 20cm [gravador Thomas

    Medland] Biblioteca Nacional de Portugal2 1 OUSELEY, op. cit. 2 BARROW, John. A Voyage To Conchinchina, In The Years 1792 And 1793. London: Printed for T. Cadell and W. Davies in the Strand, 1806. Chapter IV, 26 x 20cm.