arlindc oliveira, presidente técnico - ulisboa.pt · a certa altu ra descreve uma experiência em...
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Arlindc Oliveira,presidente do Técnico"Poderá chegaro momento em queseremos os macacosdos computadores"// PÁGS. 22-25
Zoom // Entrevista
Licenciou-se pelo Instituto Superior Técnico, escola de que éatualmente
presidente. Doutorou-se em Engenharia Eletrónlcae de Computadores naUniversidade da Califórnia em Berkeley. Publicou originalmente na MTT fteás,um livro que foi recentemente traduzido em Portugal, "Mentes Digitais,a Ciência Redefinindo a Humanidade''.
Adindo Oliveira "Poderáchegar o momento emque seremos os macacosdos computadores"
Um dia, um concíliopapal vai ter que se
pronunciar se asmáquinas têm alma. Há
só uma certeza, antesterá de pronunciar-se se
as cópias humanas a têm
NUNO RAMOS DE ALMEIDA(Texto)
TERESA NETO (Fotografia)
nuno. [email protected]
teresa. newiwiotiline.pt
"Mentes Digitais, A Ciência Redefinindo a
Humanidade" foi editado primeiro nosEUA que em Portugal. É um livro indis-
pensável, saído sem as luzes dos holofo-
tes e que nus fala das implicações de umfuturo que ac está a decidir agora. O autor,Arlindo Oliveira, que preside à universi-dade de en genharia com mais nome emPortuga] (IST), coloca ao conhecimentodos leigos as investigações de ponta quese fazem sobre o cérebro, a InteligênciaArtificial e a sua evolução sem barreiras
aparentes.Simmel. uri conhecido sociólogoalemão, tem um texto em que refletesobre a influência da tecnologia no
pensamento, em que compara um sino,
que toda a gente percebe comofunciona, com uma campainha elétrica,
que implica uma certa opacidade. Podedizer-se que muitas vezes a tecnologiacondiciona e estrutura a nossa maneirade pensar?
Seguramer te muita coisa afeta a formacomo vemos o mundo. Basta pensar noFacebook e nas outras redes sociais. Vive-
se muito focado naquilo.
Qual a razãD que o levou, quando foi
estudar enf ;enharia informática para os
EUA, a interessar também por estudar o
funcionamento do cérebro?Desde mui :o novo que cresci com estaideia de Intsligência Artificial (IA). Eu jáia com ambição de trabalhar em coisas
relacionada;; com lA. A minha tese de mes-
trado foi sobre machirie learning [máqui-nas que aprendem] e, no processo, apro-veitei e tirei uma especialização comple-mentar cm neurociências. A minhauniversidad e era muito boa nessa área, o
que me permitiu aprender com as melho-
res pessoas do ramo, não só IA como inte-
ligência natural. Embora ainda não se sai-
ba ainda muito. A gente já sabe como fun-cionam os mecanismo básicos do cérebro.
Já se conhece muito bem como funciona
um neurónio. Tem-se uma ideia como são
as ligações bobais do cérebro. 0 que não
se percebe íiinda é a escala intermédia.A certa altu ra descreve uma experiênciaem que vão retalhando e estudando
partes docérebro,mas segundo as
atuais possibilidades técnicas, paraperceber a totalidade do cérebro seria
preciso mais tempo do que o tempo quedemorou o universo a chegar até aqui.Onde apanhou esse gosto pela IA?
A IA é uma coisa muito antiga, já se fala-
va do assunto na década de 50.
ComoTuring?Começou com Turing em 1947, ele foi
influente, mas depois não desenvolveumuito. Até porque foi fazer outras coisas.
Quando eu acabei o curso em 1986, a IAjá estava muito desenvolvida. Mas era algomuito diferente daquilo que se trata hoje.Era uma IA que se concentrava em pro-blemas de planeamento. Era a chamada
inteligência simbólica; que aquilo que nós
fazíamos era manipular símbolos, e queo expoente mais elevado da inteligênciaera conseguido por essa manipulação de
símbolos: por exemplo, a demonstraçãode um teorema matemático. A IA traba-lhava nisso ou no planeamento de um con-
junto de ações: como a feitura de um horá-rio complexo. Mas nos últimas dezenasde anos, percebemos que grande parte da
inteligência é subsimbólica. É a manipu-lação de padrões, como quando olhamos
e reconhecemos uma cadeira. A maior
parte da nossa inteligência exerce-se de
uma forma subsimbólica, quando reco-nhecemos a cadeira já é a parte fácil. Aparte difícil é olhar para uma fotografia e
dizer isto é uma cadeira, uma mesa e ouum carro. A IA mais recente é justamen-te a subsimbólica e essa desenvolveu-se,
principalmente, a partir da década de 70,mas sobretudo nos últimos anos.
Xo seu "Mentes Digitais" fala-se de trêscasos de máquinas que demonstramgrande capacidade em tarefas
específicas: o computador que ganhou o
jogo ao Kasparov, a máquina quepermite ordenar a indexação e procuradas páginas do Google e um
computador que ganhou um concurso
de perguntas na televisão. Sobre esseúltimo caso coloca a questão damáquina ter ganho um concurso com
perguntas difíceis, trocadilhos e
nuances, através da manipulação dos
símbolos, mas será que ela percebeu os
símbolos que manipulou?A questão é se além de manipular símbo-los e responder de forma inteligente nãohá mais nada além disso, que nós tende-mos a associar à consciência e a sabermos
que sabemos. Isso tradicionalmente temsaído da zona da lA, embora haja vários
artigos sobre isso, costuma ser mais umaárea da reflexão filosófica. Neste momen-
to, acho que começa a haver uma maior
ligação destas questões aos trabalhos sobre
a IA Daniel Dennet é filósofo, mas há cada
vez mais gente, que trabalha na IA e nas
neurociências, que tem teorias sobre o queisso significa. O que é isso de uma inteli-
gência tipo humana? Como é que isso pode
aparecer no funcionamento da IA subsim-bólica? Como é que aconsciência pode apare-cer nas máquinas, a par-tir de um conjunto de
moldes que em si mes-
mos não são particular-mente inteligentes?O complicado é que se
eu quiser encontraruma coisa tenho que adefinir e saberexatamente o que é. Se
procuro a"consciência" nas
máquinas tenho desaber o que isso é noshumanos, se é queexiste.Não é verdade. E essa
foi a grande contribui-
ção de Alam Turing. A
questão que coloca para a consciência,também é possível ser colocada para a
inteligência: a gente também não sabe o
que ela é. Temos uma ideia. Mas se per-guntarmos diretamente é difícil. Um cãoé inteligente? Uma formiga é inteligente?No entanto, inventamos os testes de QI(quociente de inteligência) em quepadronizamos e medimos um certo tipode inteligência.Se pusermos um computador a fazer os
testes de QI, ele bate todos os recordes.
Mesmo na interpretação das manchasde Rochard (manchas de tintasimétricas em que se pede às pessoaspara imaginarem o que vêem)?Sim, já há computadores que as conse-
guem interpretar e responder a isso. É pre-
ciso que embora a análise de QI tenhavários testes, eles acabam por medir umadimensão limitada da inteligência, e é pos-sível programar computadores para lhes
responder c passar em qualquer destestestes. Não é muito complicado. O que é
complicado é isso tudo junto. Mas, voltan-do atrás, Turing conseguiu responder à
questão da inteligência da seguinte for-
ma: eu não sei o que é a inteligência, masvou fazer da seguinte maneira, meto aquium ser humano, que eu sei que por defi-
nição é inteligente; meto um computador,coloco a máquina e o humano por detrásde uma parede, falo com um e falo comoutro, se não os conseguir distinguir, é por-que são ambos inteligentes. Essa é a teo-ria do Turing: evita que eu tenha que defi-
nir o que é inteligência. Para a consciên-cia é a mesma coisa, pressupõe-se que umser humano é consciente; mete-se aquium ser humano e um computador, escon-
didos por detrás de uma parede, se a cons-
ciência serve para alguma coisa, tem queconseguir distingui-los. Se não conseguir,é porque o computador é consciente.É a chamada prova pelo contrárioEste é que foi o grande passo de Turing:a gente pode nunca saber o que é a cons-
ciência, mas se, daqui a 20 anos, tiver umrobot em casa, chega e cumprimenta-o.Um dia, ele está triste e pergunta-lhe: então
o que aconteceu? E ele responde-lhe, sou-
be que o meu colega morreu num aciden-
te e fiquei triste e preocupado sobre se me
pode acontecer o mesmo. Se não conse-
guir distinguir o comportamento de umser humano de um robot, tem que reco-nhecer que ele é consciente. Acho que aconsciência não é uma coisa tão profun-da assim. Há muitas experiências que faze-
mos que mostram que a consciência é algode muito enganador.No livro tem uma passagem em quemostra uma experiência quandoalguém diz para se fazerconscientemente uma coisa, a coisa édesencadeada no cérebro antes mesmode estarmos conscientes de o fazencomo se a consciência viesse do ato enão o ato fosse desencadeado pelaconsciência.A minha teoria - se calhar não devia avan-
çar tanto, até porque estou a escrever umacoisa sobre isto - é que a consciência é ummódulo que cria um sentido a posteriori atodas as coisas que a gente fez, inclusiveaté algumas que fizemos sem querer. Aconsciência cria isso tudo e acaba por seruma espécie de relator da nossa própriahistória Não só a "reescreve", como a pro-
continua na página seguinte »
"A tecnologia afeta a formacomo vemos o mundo, basta
pensar no exemplo do Facebook'
"Até agora a questão de que se as
máquinas podiam ter consciênciaera uma questão filosófica"
"Turing resolveu a questão sobrese as máquinas são inteligentesfazendo um teste: se nãoconseguirmos distingui-lasdos humanos é porque são"
Do ponto de vista legal, vai sermuito difícil qualificar quais os
direitos de uma máquina que pensae sente e ao mesmo tempo não
pode ser considerada um"indivíduo" singular, até porquepode ser copiada até ao infinito
jcta no futuro, porque isso acaba por cons-
tituir a base das nossas motivações. Essa
teoria originariamente não é minha, é de
Bcnnet.
Sim, descreve-a no seu livro. É mais ao
menos como quando alguém tem uma
paixão. Nesse estado, a pessoa, de
alguma forma, também reconstitui o
seu passado e o primeiro encontro queteve com o outro, como algo que tinhadesde o início uma imensaintencionalidade...Exatamente.0 teste de Voight-Kampff ,
no filme"Blade Runner" e no livro "Do AndroidsDream of Electric Sheep?" de Philip K.
Dick, é baseado no teste de Turing e é
aquilo que permite distinguir os
humanos dos replicants.Por acaso não vi o mais recente. O filmeinicial é baseado no excelente livro do Phi-
lip K. Dick, e aí faz-se uma espécie de tes-
te de Turing e o homem, que o executa, é
um especialista, porque consegue não ser
enganado,No fim do filme nota-se que os
replicants são mais humanos do que se
esperava ou que muitos humanos. Maso que lhe estava a perguntar é se esta
questão da consciência pode ser inútil:se as máquinas fazem todas as funções e
existem, para que precisam de serconscientes?
Elas não precisam, aquilo acaba por ser
um insídc effect, como para nós a cons-ciência acabou por ser um inside eífect da
evolução. Quanto tiver uma máquina quetoma conta da sua casa, leva os miúdos à
escola, trata do jantar c faz tudo por si,tenderemos a atribuir-lhe uma consciên- 1
cia. Começamo-nos a preocupar por ela.
A consciência c essa ideia de criar conti-
nuidade num conjunto de ações. Se tiver
uma assistente pessoal que se esquece detudo o que fez no dia anterior, isso não é
muito útil. Vocc quer é uma assistente pes-soal que se lembre da história toda anti-
ga, quando e que são os anos da sua mulher,
o que vai fazer amanhã. É esse conjuntode conhecimentos que depois acaba porser a consciência. Vista por dentro c quea consciência parece uma coisa muito sofis-
ticada. Até porque se cruza com ideias de
alma e imortalidade, mas provavelmenteconsciência é uma ideia de conseguirmosmanter um todo coerente.Vai colocando no livro o conceito de
singularidade tecnológica e ele é
aplicado de várias maneiras:abordando, por um lado, um momento
de rutura e descontinuidade tecnológicaem que se atinge um nível superior de
tecnologia, mas também podemosentender a singularidade tecnológicacom uma espécie de criação de uma
subjeti\idade quase humana?Talvez haja uma certa coincidência, pode
corresponder a uni momento que a socie-
dade se altera profundamente. Desse pon-to de vista, as duas coisas podem ocorrerao mesmo tempo: se houver uma alturaem que os computadores atingirem umnível muito grande de sofisticação, primei-ro, passarão a fazer todos os tipos de tra-balho e, provavelmente, serão a escolha
mais óbvia dos patrões. Passarão a fazerentrevistas como esta, e todo o tipo de tra-balhos. Essas máquinas naturalmentepoderão reproduzir-se, são digitais, é sem-
pre possível fazer cópias. Sc tiver entreelas um Prémio Nobel pode sempre fazer
cópias. No momento cm que atingirmosessa sofisticação, poderemos atingir esse
ponto de que fala.
Não deveríamos estar a destruir as
máquinas, como os luditas (operáriosque inventaram um herói Ned Ludd e
que destruíam as máquinas de tear,com receio que lhes ficassem com o
trabalho) tentaram fazer?Não sei, Nessa parte eu não me pronun-cio muito. Em minha opinião, não. Mastalvez a melhor resposta será a que nun-ca iremos conseguir destruir as máquinastodas. Haverá sempre o governo chinês
ou um miúdo numa garagem na Lapóniaa tentar construir uma máquina.Vamos para a leoria da conspiração: a
partir desse momento de singularidadetecnológica em que atingem um grau de
inteligência muito grande e, como hoje,estão todas ligadas, não sabe o que cias
podem decidir fazer.
"Tal como nos humanos,a consciência resultou
da evolução; nasmáquinas ela pode vir dasoma de conhecimentos"
"É impossível conseguirimpedir as máquinas
e os computadores de setornarem superiormente
inteligentes"
Neste momento ainda temos uma ideia.
Depois, é verdade, que vamos ter menos
controlo.
Já agora é assim: tem os drones quefazem reconhecimento, monitorizaçãode comunicações, vigilância, cálculos de
padrão de comportamento e que podemem função disso liquidar suspeitos.É verdade. É preciso uma profunda medi-
tação. Mas não me parece viável proibiras pessoas de investigarem e trabalharemnestas áreas. Dizer que ninguém mais tra-balha em IA ou tecnologias digitais nãome parece muito viável. Nunca consegui-mos ter esse tipo de proibições. É impos-sível impedir as máquinas de virem a ser
inteligentes. Agora, há um conjunto de
coisas, pelo menos enquanto não perce-bemos mais disso, que devíamos parar,nomeadamente a existência de armas letais
autónomas. Deviam ser proibidas imedia-tamente. O que não impede que o Irão as
possa desenvolver.
Pelos vistos, quem as tem desenvolvidosão os EUA.O problema é que isso embora seja uma
tecnologia de ponta, pode vir a estar aoalcance de muita gente.Mas isso também é aquilo que se
argumenta com a genética, paraultrapassar de forma pragmática todasas discussões éticas: se houver umaforma de melhorar o genoma humano,por muitas questões éticas complicadasque haja, alguém irá fazê-10.
Na genética é mais fácil: primeiro, porquea tecnologia é um pouco menos acessível
que a da lA. Só preciso de um computa-dor portátil - eu com isso, teoricamente,
posso desenvolvei' a tecnologia mais avan-
çada do mundo. A DeepMind, que é umapequena empresa no Reino Unido, desen-volveu as tecnologias mais avançadas no
campo das lcarning machines. Mas a gené-tica é mais fácil de regulamentar, porqueimplica pessoas; Portugal pode dizer quenão faz experiências e manipulações gené-ticas de seres humanos,Mas se houver possibilidade tecnológicapode ser feita numa ilha.Mas a nós não nos afeta ou afeta as pes-soas que íá vão, ao passo que a IA vem peloar.O seu argumento inicial era que se não o
fizermos, outros irão fazê-10. O mesmopode ser dito em relação à manipulaçãogenética, se for produzida uma "raçasuperior", isso vai ter implicações do
ponto de vista do poder mundial. Nãobasta proibir em Portugal.Percel» que esse argumento - se não fizer-
mos, alguém faz- conduz-nos a unia mes-
ma resposta: é melhor fazermos, para não
ficarmos de fora e ficarmos em igualdadeem relação aos outros. Apesar disso, pen-so que é diferente a situação na genéticae na lA.
Num capítulo fala do perigo que secorre no desenvolvimento das
supermáquinas. Se considerarmos quehá um risco de autonomização total das
máquinas, o mínimo que nos podeacontecer é uma imagem que usa, de
passarmos a ser os macacos das
máquinas.Nós podemos passar a ser os macacos das
máquinas. O problema é; qual é a solução?Não consegue proibir que se continue a
investigar nesse domínio. Como é queimpede os chineses de continuarem a inves-
tigar, mesmo que na Europa se resolva
parar de o fazer?
Isso também se coloca com o ambiente,é possível fazer um acordo c os EUA
rompê-10. Mas a questão é tomar amelhor decisão e lutar por cia.O ambiente é de qualquer forma diferen-te. Se vários países deixarem de queimarcarvão, isso tem um efeito, mesmo queoutros não o façam, E podemos lutar porisso e, qualquer dia, deixam de se utilizarcombustíveis fós^ís. A diferença é que nalA, se alguém fizer uma fogueira incen-
deia o mundo inteiro: uma aplicação comsucesso expande-se para além das fron-teiras. Basta haver uma pessoa que tenhasucesso. No íimbiente, basta que 99% cum-
pram, na IA tinham que ser 100%. Logo a
proibição mo vai resultar.
Portanto, estamos condenados a
acelerá-la? Tenha isso as implicaçõesque tiver, desde virmos a ser dominados
por máquin is até a ser liquidados porelas?
Eu também não disse isso. Acho que pode
ter muitas saídas boas e estou convenci-
do disso. O interessante é que o pessoal
que trabalha nisto e os governos têm umbocadinho consciência das consequên-cias. Acho que as consequências mais rápi-das serão que vai haver muitas funçõeshumanas a passar a ser desempenhadas
por máquinas. Neste momento isso já é
verdade. Embora a gente não saiba se vão
aparecer outros empregos melhores comoresultaram da Revolução Industrial - háate economistas muito otimistas que afir-
mam que é isso que vai acontecer. Mas,se isso não acontecer, basta ver na vossa
profissão para perceber que não é líqui-do, há uma grande pressão causada pelasnovas tccnologias - nem estamos a falarda IA - como as redes sociais e a Internet.Trata-se de produzirmos umamercadoria que, embora tenha valor de
uso, como é feita por todo o lado pornão profissionais, passa a não ter valorde troca e caminhar para um custo
marginal zero.É isso e a IA vai contribuir para isso. Umasérie de coisas que são desempenhadaspor pessoas, e muito bem, mas se tiverem
que ser desempenhadas por computado-res ou robots, terão um valor muito maisbaixo. E temos que pensar nisso. Pode ser
que corra tudo muito bem e os empregos
aumentem noutros setores, mas pode ser
que não. E, neste último caso, o que vamosfazer? Há várias soluções: vamos ter sema-nas de trabalho mais curtas para os empre-gos poderem abranger mais gente, vamoster que dar a quase toda a população Ren-dimentos Básicos Incondicionais. Na Euro-
pa do Norte, há muita gente a trabalharmenos que cinco dias por semana.Consta que no Paleolítico trabalhavammenos que nós.
[Risos] Parece que a Revolução Agrícolaterá sido boa para a espécie em geral, mas
péssima para os indivíduos em particular,que como caçadores recolctores trabalha-
vam muito menos. E, desde aí, só tem vin-do a piorar.Um dos aspetos mais curiosos no seu"Mentes Digitais" é com que estatutolegal nós passaremos a caracterizarmáquinas que têm inteligência e quepensam por si. Do ponto de vista da
declaração dos direitos do homem e da
máquina. Como é possível darindividualidade a algo que é
reproduzível até ao infinito e como é
que não é possível dar, se vai passar a
pensar ca sentir?É de facto um problema complexo. Nósnão estamos habituados a que os sereshumanos possam ser reproduzidos facil-
mente e em grande quantidade, mas podiaacontecer que fosse, que houvesse umamáquina de fotocopiar seres humanoscomo uma máquina de teletransporte.Que direitos teria o original e que direitosteria a cópia? Esses problemas são novos,ainda não se aplicam.Se chegarmos à duplicação e
teletransporte, podemos garantir quevai tudo de um lado para outro, não háum excedente de "alma", que nos
caracteriza, que pode não ir?Tenho a minha opinião, se a cópia for deátomo por átomo c molécula por molécu-
la, conseguia-se um indivíduo igual, e aquivolto ao Turing, com consciência e comalma, o quer que cias sejam. Há pessoas
que não acreditam na possibilidade defazer esta cópia perfeita, essas pessoas têmumas respostas complicadas a dar: se asduas pessoas se comportam todas da mes-ma maneira, são indistinguíveis de todos
os pontos de vista: então como é que umalem alma e a outra não? Uma vai para o
céu e a outra não?Falta ainda o Concílio Papal paradecretar se as máquinas tem alma.
Daqui a pouco, sím. Mas até podemos fugiràs máquinas. A Igreja nunca teve que se
pronunciai" se uma cópia de um ser huma-no tem ou não tem alma,
"K impossível impedirque se continue a
investigar emInteligência Artificial,
mesrio que se proíba"
"Não acho que o únicocaminho seja a existência
de supermáquinas quenos vão liquidar. Há
muitos bons caminhos"