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«FEMINISMO: le.mi.nis, mo. nome masculino. 1. Doutrina que advoga a defesa dos direitos das mulheres, com base no princípio da igualdade de direitos e de oportunidades entre os sexos. 2. Movimento (político, social, cultural, etc.l que procura pôr em prática essa doutrina. (...) In CiannánonfcDÉdia ria Línçua Portuguesa com Acordo Ortográfico |™v/.irfopficia.pt];Pcrtn Editara, ?O(I3-?O1 7 Será possível criar crianças que vejam homens e mulheres como seres iguais? A educação para a igualdade entre os sexos é uma preocupação crescente a nível internacional, mas também em Portugal, onde é, acima de tudo, uma questão de política pública. Entre dúvidas, receios e conversas difíceis, cinco famílias mos- tram como fazem em casa. Texto Catarina Fernandes Martins

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Page 1: para famílias tram - ULisboa › sites › ulisboa.pt › files › public › como_educa… · NANOITEEMQUESÓNIASESENTOUCOM O FILHO NOSOFÁ para umaconversa sobre machismo, Manuel

«FEMINISMO:

le.mi.nis, mo. nome masculino. 1. Doutrina que advoga a defesa dos direitos das mulheres, com base no princípio da igualdade

de direitos e de oportunidades entre os sexos. 2. Movimento (político, social, cultural, etc.l que procura pôr em prática essa doutrina. (...)

In CiannánonfcDÉdia ria Línçua Portuguesa com Acordo Ortográfico |™v/.irfopficia.pt];Pcrtn Editara, ?O(I3-?O1 7

Será possível criar crianças que vejam homens e mulheres comoseres iguais? A educação para a igualdade entre os sexos é umapreocupação crescente a nível internacional, mas também emPortugal, onde é, acima de tudo, uma questão de política pública.Entre dúvidas, receios e conversas difíceis, cinco famílias mos-tram como fazem lã em casa.Texto Catarina Fernandes Martins

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NANOITEEMQUESÓNIASESENTOUCOMO FILHO NOSOFÁ para umaconversa sobre

machismo, Manuel abraçou a mãe e agra-deceu-lhe. «Senti-me especialporter umamãe que me ensina, que se esforça para queeu não cresça dentro do sistema, para queeu não seja mais uma ovelha no rebanho»,diz o rapaz de 11 anos. Sônia Silvestre cres-ceu numa família «matriarcal» de Trás--os-Montes, bisneta de uma mulher que,conta, recusou casar com o pai dos filhos

por considerá-lo «um gabiru» que tinhacrianças «até na Galiza», mas que nem

por isso «deixou de fazer o que queria» e

filha de uma empresária que um dia, can-sada de esperar pelo marido que se demo-rava no café, atirou a panela do jantar pa-ra o chão. «O meu pai não voltou a chegartarde», lembra Sônia, 43 anos.

Em casa dela as mulheres «eram fortes»e, de uma forma geral, «bem tratadas pe-los homens», mas as tarefas domésticaseram predominantemente desempenha-das por elas enquanto as «facadas no ma-trimónio» eram exclusivo deles. Foi assim

que Sônia percebeu que homens e mulhe-res têm «papéis diferentes». Quando es-tudava Filosofia na faculdade descobriuo feminismo no Segundo Sexoãe SimoneBeauvoir e desde então, não consegue nãover a realidade à luz dessa teoria que de-fende direitos iguais para todos os sexos.

Quando Manuel nasceu, Sônia sabia quenão havia outra opção. Teria de educá-lo

para ser um homem feminista.Em 2015, a Organização das Nações

Unidas (ONU) estabeleceu 17 objetivos

«Senti-me especialpor ter uma mãeque me ensina,que se esforça paraque eu não cresçadentro do sistema,para que eu não sejamais uma ovelhano rebanho», diz oManuel, de 11 anos.

de desenvolvimento sustentável. O quintoobjetivo é o da igualdade de género e esta-belece a intenção de «acabar com todas as

formas de discriminação contra todas as

mulheres e meninas, em toda aparte» e decontribuir para «o empoderamento de to-das as mulheres e meninas em todos os ní-veis». Anível internacional tem-se dedica-do muita atenção - em jornais, livros, no-ticiários ou programas de TV - ao tema daigualdade de género na infância. Em Por-tugal, a secretária de Estado para a Cida-dania e a Igualdade definiu como priori-dade o desenvolvimento da cidadania e

promoção de igualdade de género nas es-colas e através da educação. Mas será es-

ta, por enquanto, uma preocupação de al-

guns pais liberais em Portugal? Cristina C.

Vieira, investigadora da Faculdade de Psi-

cologia da Universidade de Coimbra e umadas autoras dos Guiões de Educação Géne-ro e Cidadania, promovidos pela Comis-são para a Cidadania e a Igualdade de Gé-nero (CIG), acredita que não. «Trata-se deuma questão de política pública». No en-tanto, especialistas em igualdade de géne-ro falam de uma aplicação ainda incipien-te dos princípios nas escolas e os pais quese esforçam por educar as suas crianças deacordo com um modelo feminista quei-xam-se de um ambiente escolar que formaos filhos no sentido contrário.

Alguns dos pais entrevistados para es-te trabalho assumiram-se como feminis-tas, definindo-se defensores da igualda-de de género e assumindo a necessidadede ultrapassar as desigualdades - nas re-lações, no mercado laborai, na política, naeconomia - que ainda afetam muitas mu-lheres em todo o mundo. Uns são ativistasfeministas, outros querem contribuir pa-ra o fim das desigualdades - nas relações,no mercado laborai, na política, naecono-mia - e acham que não há melhor ponto de

partida do que o lar.

HA DOIS ANOS, ANTÓNIO BATEU NUMACOLEGADEESCOLA.Amãerefereoassun-to de passagem, meio envergonhada. «Eletinha 4 anos e eles aprendem isso na es-cola.» O incidente deu origem a uma con-versa familiar. A promotora de espetácu-los Jwana Godinho, 42, e o marido, o em-presário Domingos Folgue Guimarães, 43,juntaram Margarida, a filha mais velha,e Francisco, o filho do meio, e explicarama António, o mais novo, que «não se bate

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em raparigas». «A Margarida e o Francis-co reagiram de imediato: "Não se bate emninguém"», lembra Jwana, orgulhosa.

É com orgulho que lembra, também, o

dia em que, respondendo a alguém que re-preendeu António por chorar depois decair ao chão com a frase «pareces umamenina», Margarida disse, de imedia-to, «Desculpa?» Ou o à-vontade com queFrancisco levou, um dia, ganchos no ca-belo para a escola. A esperança de que os

comportamentos dos filhos mais velhossirvam de exemplo ao mais novo deixamJwana à vontade para «respeitar a indivi-dualidade» de António, que não quer ves-tir cor-de-rosa.

Jwana e Domingos cresceram em fa-mílias onde a igualdade entre homense mulheres foi sempre discutida e deci-diram, ainda antes de terem filhos, queos educariam para a igualdade - o que,segundo Jwana, se insere num sentidomais lato de «educar para os direitos hu-manos». Calhou que Margarida nascesse

primeiro. Domingos, que se diz um ati-vista feminista, esforça-se por «assegu-rar-lhe, diariamente, que ninguém podedeterminar o seu futuro além dela mes-ma», diz. Talvez por isso Margarida sejajá uma «líder natural», como descrevemos pais. «Uma rapariga destemida comuma personalidade muito forte», que ad-mira Malala Yousafzai e que aos 10 anosfoi sozinha para um campo de férias forado país. E uma irmã a quem os pais recor-rem para ajudar na educação de rapazesfeministas. «A Margarida não dá qual-quer hipótese de que abusem dela, porisso temos muita sorte», diz Domingos.«Temos todos impulsos machistas, masde geração em geração a filtragem vai fi-cando mais fina.»

Mas por vezes, fora do ambiente prote-gido do lar, há comportamentos que saemdeste enquadramento de igualdade e Jwa-na e Domingos esforçam-se para que isso

não afete os princípios que querem passaraos filhos. Jwana vê com alguma preocu-pação a separação das crianças por sexo naescola onde os filhos estudam, o que origi-na um diálogo a quatro:- «Na turmado António as raparigas brin-cam com raparigas e os rapazes brincamcom rapazes», diz Margarida (11 anos).- «Porque os rapazes correm muito e ra-parigas não jogam futebol», responde An-tónio (6 anos).

- «As raparigas não querem jogar», dizFrancisco (9 anos), enfatizando o verbo

querer.- «Na escola dizem sempre: o rapaz e a me-nina. Nunca dizem "rapariga e menino"»,continua Margarida. «Parece que estão adizer que as raparigas são inferiores.»- «É verdade», confirma a mãe. «Deveschamar a atenção para esse ponto.»

TAL COMO JWANAE DOMINGOS, TAMBÉMFRANCLIM E TERESA assistem com algu-ma apreensão aos hábitos que afilha mais

velhatrazporvezesdaescola.Franclim Ri-beiro, 35 anos, eTeresaCosta, 38, conhece-ram-se enquanto aprofundavam as respe-tivas formações - ele é psicólogo, ela é mé-dica - na área da medicina legal. Apesarde terem crescido em famílias mais con-servadoras do que as de Sônia ou de Jwanae de Domingos, dizem nunca ter sido for-malmente educados a distinguir homensde mulheres. Mas Teresa não gostava deouvir o avô berrar com a avó e jurou quecom ela seria diferente.

No exercício das suas profissões, Tere-sa e Franclim cruzaram-se com várias ví-timas de violência doméstica e as histórias

que conheceram fizeram crescer neles apreocupação de educar as filhas, Caro-lina, de 7 anos, e Sofia, de 2 anos, para aigualdade entre os sexos. Para já, a prin-cipal preocupação é Carolina, que descre-vem como uma «menina sensível que ado-ta muito do que ouve». A situação, admi-te o casal que se mudou há pouco tempodo Porto para Olhão, é mais grave no Suldo país. «Falam do tradicionalismo das fa-mílias do Norte, mas nós temos encontrado casos aqui que nos deixam muito sur-preendidos... Numa festa de anos de umaamiga da Carolina havia uma mesa comcervejas e camarões para os homens e asmulheres ficaram de pé a partilhar umprato de camarão sem cervejas», diz Tere-

sa, entre o humor e a indignação. «Apesardos exemplos que lhe damos, ela continua aser influenciada pelo resto dafamília e pe-lo resto da sociedade.»

«A situação na escola é tal que tivemosde ensinar a Carolina a bater porque che-

gava a casa cheia de nódoas negras...»,lembra Franclim. «Uma vez disse que os

meninos não podiam usar camisolas corde rosa», conta Teresa. «Eu comprei umacamisola cor de rosa para o meu maridoe disse: "Olha que bonito fica o papá com

«Uma vez a Carolina[7 anos] disse que os

meninos não podiamusar camisolas cor-de-

-rosa», diz Teresa.«Comprei uma camiso-

la cor-de-rosa parao meu marido e disse:"Olha que bonito ficao papá com esta cor."»

esta cor." Ela chega a casa a dizer que háprofissões de meninos e profissões de me-ninas... Eu tento dizer-lhe que acima detudo somos pessoas e todos podemos fazertudo, mas nos livros da escola não há mu-lheres poderosas.»

Se visse os Guiões de Educação, Géneroe Cidadania (www.cig.gov.pt/siic/2014/12/guioes-de-educacao-genero-e-cidada-nia-publicacao-cig/),um conjunto de ma-nuais com boas práticas e recomendaçõesa adotar por professores desde o pré-esco-lar até ao terceiro ciclo - o Guião para o En-sino Secundário «está na gaveta», diz umadas suas autoras, Cristina Vieira - Fran-clim Ribeiro ficaria mais descansado.

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Vera e Rui usam a suaprópria relação paramostrar a Lavra, de 9anos, relações saudáveis,baseadas no respeito.Acreditam que é peloexemplo do que a criançavê em casa, sobretudo naforma como os pais falamum com o outro, que cres-ce de forma equilibrada.

Além de oferecerem a professores um en-quadramento teórico sobre igualdade, os

guiões encomendados pela Comissão pa-ra a Igualdade de Género (CIG) disponibi-lizam também um conjunto de materiais

que poderiam ser utilizados na sala de au-la, como jogos em que se invertem os este-

reótipos dos sexos nas tarefas domésticasou nas profissões e sugerem abordagenspossíveis de adotar no processo de ensino(dicas sobre como desconstruir as narrati-vas sexistas em livros de Harry Potter, no-mes de figuras femininas na História de

Portugal ou nas artes do século xx que po-dem servir de modelos de inspiração).

ENTRE 0 ANO LETIVO 2013/2016 E

2016/2017, A CIG INVESTIU verbas emações deformação para cercade 1200 pro-fessores de todo o país. Em 2012, a Comis-são Europeia considerou os guiões umaBoa Prática em Género e Educação. Em2015, o Conselho da Europaintegrou-os nacompilação Boas Práticas no combate aos

estereótipos de género na e através da edu-

cação. Apesar disso, estes guiões não estãoa ser utilizados de forma sistemática pe-los professores portugueses, diz CristinaVieira. Para Dália Costa, vice-presidentedo Centro Interdisciplinar de Estudos deGénero da Universidade de Lisboa (CIEG- ISCSP, ULisboa), «há uma série de reco-

mendações e prioridades definidas, masestes esforços estão a ser mal articulados.É típico as escolas desenvolverem proje-tos quando existe alguém, na direção ouno corpo docente, atento à importânciadaigualdade de género. É aleatório.»

Sofia Neves, membro do CIEG, tem in-vestigado a violência no namoro e tem crí-ticas a fazer também nesse âmbito. «Nãoacredito no modelo da prevenção da vio-lência de género nas escolas. Os projetossão financiados a curto prazo por organi-zações não governamentais e estas equi-pas não têm uma presença continuada nasescolas e não estão em todas as escolas do

país. Ou nos unimos - escola, família e po-der político - para lutar contra esta violên-cia ou não vamos conseguir. A substituiçãode modelos de pensamento é um trabalho

que tem de ser cimentado de forma estru-tural e que não se faz num ano ou dois.»

Apsicóloga Cristina Valente vai mais lon-

ge e defende que os currículos escolares de-vem levar em consideração as diferençasno desenvolvimento cognitivo de rapazes e

raparigas. «Temos de perceber que na pré--adolescência e na adolescência, rapazese raparigas têm velocidades diferentes aonível do desenvolvimento físico e cogniti-vo. Eles têm desafios distintos. Se a educa-

ção tivesse em conta essas diferenças - se,

por exemplo, as raparigas tivessem acessoà Matemática dois anos mais cedo do queos rapazes - tudo seria melhor.»

Vera e Rui também acham que há mui-to trabalho pela frente. Por isso usam a sua

própria relação para mostrar à filha Lav-ra, de 9 anos, relações saudáveis, baseadasno respeito. Um exemplo? Falam aberta-mente com ela, permitindo-lhe que se ex-

presse com total liberdade.- «Eu quando era pequenina não sabiao que era e gostei de uma menina...», dizLavra.

- «Pequenina ou grande, gostas de quemquiseres», responde a mãe, lembrando queteve de interferir uma vez.- «Era um rapaz estúpido...», confirmaLavra.- «Que te faltava ao respeito e mentia»,completa Vera.- «Eu acho que só gostava dele porque eleera bonito. Eu sonhava com ele e nem per-cebia que ele me tratava mal. Acrediteinos meus sonhos...», diz a rapariga, entre

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suspiros, antes de encerrar o assunto com

determinação. «Agora nunca faria isso.»Vera Vitorino, 36 anos, é administrativa

num sindicato. Rui Guerra, 37 anos, é mú-sico e administrativo de piscinas. Cresce-

ram em famílias com mulheres fortes queadmiravam e que, dizem, lhes deram o

exemplo. Exemplo que procuram dar ago-ra às duas filhas. «Eu digo à Lavra: "Não

gostavas que o pai fizesse isso à mãe, poisnão?"», pergunta Vera. Rui diz que, acima

de tudo, valoriza as emoções da filha. «Per-guntei-lhe: "Como te sentes quando ele tefala assim?". Só isso importa. Se não nossentimos bem com alguma coisa c porquealgo errado se passa. Isso ensina-a a legiti-mar o que sente.»

A psicóloga Cristina Valente acreditaque o problema da desigualdade começaprecisamente na forma desajustada com

que alguns pais e educadores lidam com as

emoções das crianças. É uma verdadeira

«iliteracia emocional». «Dizemos aos ra-pazes que não podem chorar e às rapari-gas que não podem sentir agressividade.Ao fazê-lo estamos a negar-lhes a possi-bilidade de sentirem pelo menos uma das

emoções básicas que são a raiva, a triste-za, a alegria e o medo, limitando-os emo-cionalmente.»

Clarice Canha, 70 anos, Judite CanhaFernandes, 45, e Lavra Roque, 18 anos, re-presentam três gerações de uma família

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com décadas de história no ativismo fe-minista. Clarice foi uma das fundadorasda União de Mulheres Alternativa e Res-

posta (UMAR) e descobriu-se feministaainda sem usar o termo durante os temposda ditadura, ao ver a repressão em que vi-viam as mulheres pobres na Madeira. Ju-dite foi educada nesse meio e pensou queo assunto estava «arrumado» dentro de siaté ter tido Laurac perceber que «a socie-dade esperava que mudasse enquanto mu-lher». Então envolveu-se ativamente com aMarcha Mundial das Mulheres.

ParaLaura, «o feminismo foi a dobrar».Viu a mãe partir para o Congo e para Mo-çambique para ajudar outras mulheres,acordou várias vezes às três da manhãquando a mãe atendia chamadas dalinhade violência doméstica. Sentindo-se pro-tegida neste meio, diz não ter tido aindaa hipótese de exercer a sua própria cons-ciência sobre o feminismo. Mas sabe que,tendo filhos, irá educar uma quarta ge-ração de feministas. Como se educa parao feminismo? Como foi que Clarice edu-cou Judite? Como a educou a ela Judite?As três respondem com uma palavra ape-nas: «liberdade».- «Eu não fui educada para o feminismo»,diz Judite. «Fui educada c eduquei no fe-minismo. Tinha liberdade para ser quemera, vestir o que queria.»- «Lembras-te de uma vez me veres discu-tir com o teu pai e me teres dito: "Oh mãe,às vezes é feminismo a mais"», pergunta,divertida, Clarice.- «Eu também disseumasérie de vezes: "fe-minismo hoje nã0. . .", completa Lavra. «Àsvezes queria ser igual aos outros meninos e

tu começavas logo a analisar as razões de

o professor ter dito isto ou aquilo. Mas averdade é que tive sempre liberdade de ser

quem era, cm todas as fases, com a paciên-cia e o humor que tivesse no momento.»

LIBERDADE E AUTONOMIA TAMBÉM SÃO

ASPALAVRASDEORDEMemcasadeSóniaSilvestre. Divorciada há mais de dez anos,habituou o filho a partilhar com ela as ta-refas domésticas. «Ele levanta-se, vai pas-sear o cão, veste-se, toma o pequeno-almo-ço sozinho e sai para a escola enquanto eudurmo. Depois chega a casa, cozinha, aspi-ra. . .Não partilhamos as tarefas a 50% por-que ele é uma criança, mas quis ensiná-lo

para que um dia ele possa fazê-lo com umcompanheiro ou companheira.»

Sônia diz que educar um rapaz feminis-ta é um duplo desafio, mas diz que se nãoforem educados dessaforma, nada funcio-nará. «Se elas estão aser educadas parase-guirem os seus sonhos e os rapazes conti-nuam a querer mulheres que fiquem emcasa, vão afastar-se.»

Mas, em conversa com Manuel, Sônia

expressa o receio de que o feminismo caiaem exageros.- «Acho que vamos passar por uma fasede desigualdade ao contrário. Sabemos o

que é a opressão, não podemos cometer o

mesmo erro.»-«Nahistóriadahumanidade foram sem-

pre os homens a mandar», responde o fi-lho. «Está na hora de tomarem vocês o po-der. Hámulheres de todo o tipo. Não somostodos iguais. Estánaalturade as mulherestomarem o poder. Se houver respeito pelosoutros está tudo bem.»

«Eu disse uma série de vezes:"feminismo hoje nã0. . ."», dizLavra. «Às vezes queria ser igualaos outros meninos e tu, mãe,começavas logo a analisar asrazões de o professor ter ditoisto ou aquilo. Mas tive sempreliberdade de ser quem era,em todas as fases.»

5 FORMAS

FILHOSFEMINISTAS

1EDUCAR PARA RELAÇÕESSAUDÁVEIS

Franclim Ribeiro e TeresaCosta esforçam-se pormostraras filhas as caracte-rísticas de relações de ami-zade saudáveis que possamservirdebasea relaçõessaudáveis de todo o tipo.

2EMPODERAMENTO

Jwana Godinho e DomingosFoLgue Guimarães fazem umtrabalho diário junto da filhamais velha para que ela sesinta dona das suas escolhas.

3DIVIDIR TAREFAS

Vera Vitorino e Rui Guerranão dividem as tarefasdomésticas de forma igualdevido aos ritmos do trabalhode cada um, mas Lavra sabe

que em casa é o pai quecozinha. Esabequeseo paiestiver de folga é provávelque acabea limpar a casa.

DESCONSTRUIR PALAVRAS

Sônia Silvestre corrige asexpressões que o filho utilizasem se aperceber, como«gordo» e «gorda» e

explica que as pessoasnão se distinguem porcaraterísticas físicas.

5DAR ÜBERDADEClarice deu liberdade a Judi-te para ela explorar a pessoaque é e para expressar todasassuas dúvidas e opiniões.Judite fez o mesmo comLavra. Mas não há liberdadesem responsabilidade,defendem.

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