seminário machismo na esquerda

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  • 7/30/2019 Seminrio Machismo na Esquerda

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    H MACHISMO NA ESQUERDA?SEMINRIO-DEBATE

    DOCUMENTO

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    Sumrio1. INTRODUO .................................................................................................................................................................. 2

    2. RELATORIA DO SEMINRIO ........................................................................................................................................ 3

    2.1 Apresentao da Atividade................................................................................................................................. 3

    2.2 Problemticas trazidas pelas Debatedoras ..................................................................................................... 3

    2.3 Grupos de discusso ............................................................................................................................................. 7

    2.4 Encaminhamentos finais ...................................................................................................................................... 8

    ANEXOS ....................................................................................................................................................................................... 9

    1CARTA DE CONVOCAO A COLETIVOS .............................................................................................................. 9

    2CARTAZ DA ATIVIDADE .............................................................................................................................................. 10

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    1. INTRODUONa prtica cotidiana de nossas lutas vemos manifestaes de machismo por parte de nossos companheiros e

    tambm de companheiras. Entendemos que somos frutos dessa sociedade desigual, violenta e opressora. Mas

    tambm entendemos, que na condio de lutadoras e lutadores, temos que avanar na reflexo das opresses e

    entre ns superarmos esta reproduo. Este seminrio-debate se prope a ser uma primeira atividade, voltada aos

    companheiros e companheiras da esquerda anticapitalista e revolucionria, para debatermos a questo da mulher,

    da superao do machismo e do patriarcado.

    Foi com este chamado que cerca de 70 pessoas, entre homens e mulheres, independentes e de organizaespolticas de esquerda atuantes em So Paulo, participaram do seminrio H machismo naesquerda?, no dia

    10 de novembro de 2012.

    O seminrio foi organizado por uma unio de esforos de mulheres dos coletivos Anastcia Livre e VioletaParra, que estabeleceram um dilogo nos trs meses que antecederam a atividade para pensar um caminho

    inicial a esta discusso, de maneira propositiva, com vistas a uma continuidade do debate.

    E convocando demais coletivos para esta construo, no ms de outubro foi possvel fazer este chamado geral,tendo nesta discusso e organizao da atividade, a participao de mulheres independentes e dos coletivos

    DAR e Revoluo Preta.

    O seminrio iniciou com a exposio realizada pelas debatedoras convidadas a partir de 03 eixos de debatea) Teoria poltica e mulheres (histrico, organizao, prtica de lutas); b) Diviso sexual nos espaos das

    organizaes polticas e c) Casos de violncia contra a mulher nas organizaes e como so encaminhados (Aesquerda respalda os mtodos punitivos do Estado?) . Seguido por grupos de discusso que se propuseram a

    pensar em formas/estratgias de enfrentamento ao machismo nos movimentos e uma plenria final quepermitiu encaminhamentos iniciais.

    Este documento tem a inteno de apresentar um relato sobre esta atividade, com o fim de ser um indicativopara a continuidade desta discusso, e que possamos avanar politicamente na continuidade de superao do

    machismo entre ns militantes, e que a questo da mulher seja uma bandeira real de luta da esquerdarevolucionria.

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    2. RELATORIA DO SEMINRIOIMPORTANTE: Esta relatoria no tem a inteno de reproduzir as falas do pblico presente, mas dar

    uma sntese das ideias, pensamentos e problematizaes levantadas no seminrio.

    2.1Apresentao da AtividadeO objetivo do Seminrio H machismo na esquerda? colocar em pauta a problemtica do

    machismo nos espaos de esquerda, pois muitas vezes o assunto tratado como tabu e acaba velado em meios discusses. H a suposio de que basta fazer parte da esquerda revolucionria para ter a iseno docomportamento machista, como se fosse o suficiente. Mas os vrios casos de machismo espalhados pelosespaos nos faz crer que a realidade diferente, e precisamos nos unir para discutir isso em totalidade.

    2.2Problemticas trazidas pelas DebatedorasA mesa de debate foi composta por convidadas pensadas a contribuir com a formao poltica e

    para darem mais elementos de discusso atividade.O vdeo completo com a problematizao trazida pelas debatedoras est disponvel em:

    http://muda.radiolivre.org/sites/muda/files/ratz/machismoNaEsquerda.webm

    a) Terezinha VicenteMilitante da Ciranda da Comunicao Independente e da Marcha Mundial das Mulheres.

    Terezinha relatou sua atuao no Sindicato dos Bancrios nos anos 70, setor repleto de homenscomunistas, foi uma das poucas mulheres a participar. Nos conta que sim, h machismo na esquerda, e que elao sentiu na pele em toda a sua histria de militncia. A discriminao de mulheres estava presente com toda afora nos movimentos de esquerda, e foi quando ela ingressou no Partido Comunista. L, sofreu diversos tipos

    de assdio, as reunies eram feitas nas casas dos companheiros, em que suas esposas tinham de preparar acomida e cuidar do conforto dos participantes, sem poder fazer parte da discusso poltica, esta era umasituao tida de forma naturalizada, e desenvolveu sua crtica a respeito da situao. Para ela, a diferena que naquela poca as mulheres conseguiam se unir em seus prprios espaos, ainda que houvesse uma divisoclara entre militantes do PCB e do PC do B, aponta que poca j havia influncia da religio na estruturados partidos.

    Outro ponto interessante que, para ela, a discusso sobre machismo estava mais forte naquelapoca dentro dos espaos de esquerda, isso porque o perodo era de ps-guerra, com a segunda ondafeminista efervescente na Europa influenciando as militantes daqui. Comentou que sua participao nomovimento feminista, se deu no final da ditadura, em 1975, quando a ONU declarou o ano internacional damulher.

    Em sua viso, elementos socialmente construdos do feminino e masculino existem em todas as pessoas.Fala da importncia do rompimento da dicotomia entre feminino e masculino / homem e mulher, e por issohomens tambm podem e devem ser feministas e a esquerda deve ter essa viso. S assim, podemos construirjuntos espaos amplos de militncia.

    Terezinha nos conta ainda que boa parte das suas companheiras e companheiros de geraoacabaram se vendendo poltica partidria e institucionalizada. Ela lamenta, e emenda que naquela poca

    era a nica mulher no Partido Comunista (PCB) e que entrou no partido junto com o seu companheiro. Ela pdever de perto a realidade da diviso sexual do trabalho dentro daqueles espaos, naturalizada,principalmente, pelas ideias fundamentalistas da Igreja. Ela nos lembra como o pensamento cristo destruiu aideia da divindade feminina e imps seu deus masculino, secundarizando e inferiorizando a mulher. Fala dahistrica proibio do prazer que a mulher sofreu ao longo dos sculos, que nunca foi discutido a srio aquesto do machismo na esquerda, principalmente pela pouca participao das mulheres nos espaospolticos.

    http://muda.radiolivre.org/sites/muda/files/ratz/machismoNaEsquerda.webmhttp://muda.radiolivre.org/sites/muda/files/ratz/machismoNaEsquerda.webm
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    Para Terezinha, o feminismo ganhou fora dentro da esquerda graas aos departamentos femininosque foram criados dentro dos sindicatos de 70 at 80. A discusso comeou nesses espaos justamente porqueas mulheres trabalhadoras precisavam de creches e oportunidades de trabalho, e isso impulsionou a lutafeminista organizada. Com a unio dos pases para combater as ditaduras na Amrica Latina, os laos entreas mulheres militantes se tornaram ainda mais fortes, e elas organizaram congressos e disputaram seu espaocom muita garra. Para ganhar o direito fala sendo mulher, era preciso gritar ainda mais alto, e por isso elas

    se apropriaram da agressividade dos companheiros para conseguir representatividade. No sindicato nohavia sequer disputa de poder, de falas entre homens e mulheres. Aos poucos, as mulheres que foramconquistando espaos, tiveram de assumir posturas de autoritarismo, violncia para conseguir suas

    participaes.

    b) LukaFranaParaense radicada em So Paulo, jornalista, me, feminista e socialista. Compe a Frente Nacional contra

    a Criminalizao de Mulheres e pela Legalizao do Aborto-SP.

    Luka inicia falando sobre o livro O Poder do Macho, de Heleieth Saffioti, que traz uma anlise

    feminista da dicotomia pblico/privado, que destina mulheres esfera domstica e homens esfera pblica,e como isso influencia todos os espaos de fazer poltica atuais. Ela cita o exemplo do movimento pela

    moradia, que apesar de ser majoritariamente composto por mulheres, ainda tem a diviso de funesbaseada em machismo. So os homens que ainda detm o poder de articulao, formulao e organizao,sendo responsveis pela maioria das falas e tendo maior credibilidade. Ela explica uma tendncia comum daesquerda que relegar as mulheres s discusses sobre mulheres, especificamente, excluindo-as historicamentedos debates sobre as questes mais amplas, como salrio mnimo, moradia, entre outras. Observa que nosespaos polticos h o reflexo da diviso sexual do trabalho, seguindo a lgica da articulao poltica sempreestar nas mos dos homens, e quem acaba assumindo a direo nestas outras questes so os homens,Resultando que as mulheres construram seu movimento sem pautar o espao dentro dos espaos polticos noespecficos.

    Para Luka, o problema que as mulheres no disputam a direo dos movimentos, e isso acabafragmentando questes importantes da pauta da esquerda. Por exemplo, no podemos discutir legalizaodo aborto se no discutirmos genocdio negro, porque isso deixa o debate pela metade. A mesma lgica seaplica criminalizao da pobreza, e por isso, quando no fazemos a interseco entre os temas, estamosrecuando no debate. sim necessrio, por exemplo, compreender a criminalizao da mulher negra e pobrecomo tambm um processo poltico geral, que deve ser discutido por todos da organizao.

    Ela comenta sobre a importncia de espaos como o seminrio, e que h 4 anos isso era muito maisdifcil. Ela acredita que o momento oportuno mundialmente, devido aos levantes socialistas que estamospresenciando; isso porque, se temos um cenrio em que as pessoas esto dispostas a mudar o status quo, ficamais fcil abrir o debate para questes de opresso de gnero. Por essa razo, dialogar sobre machismo naesquerda possvel, j que existe a vontade de transformar o mundo ao redor.

    Luka acredita que o problema do machismo aparece da mesma maneira em vrios espaos diferentes:partidos, espaos anarquistas, DCEs, movimento estudantil, sindicatos, etc. Os homens brancos e heterossexuaiscontinuam sendo os mais privilegiados. Por isso, Luka acredita que devemos apostar na sororidade e superar

    nossas diferenas para nos identificar enquanto mulheres militantes de esquerda. Apenas com a unioconseguiremos superar o problema do machismo, j que quando tentamos mudar a estrutura dos espaos,somos atacadas e acusadas de fundamentalistas feministas (l vem a feminista). H tempos no h um

    congresso de mulheres, no nos unimos, e assim no existe espao para que possamos debater poltica. Eladefende que devemos debater com todos os grupos, como a Marcha Mundial de Mulheres. Precisamos sentare conversar sobre nossas semelhanas e diferenas, e s assim poderemos combater o machismo nos nossosespaos.

    Ela afirma que h uma estrutura de poder que tem beneficiado uma classe e um gnero, e queprecisamos enxergar essa estrutura em totalidade para conseguir super-la. Assuntos como antiproibicionismo,revista vexatria de mulheres, criminalizao da pobreza e genocdio negro, por exemplo, estocompletamente interligados. No podemos nos render ao discurso de que tudo ser resolvido com a

    Revoluo, porque as lutas se fazem juntas, e se no discutirmos uma nova moral, no adianta nada. Porque

    exatamente isso que queremos para a sociedade: transformao total.

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    necessria a retomada no processo de luta pelo espao pblico e poltico, j que aqueles que sepropem a debater as relaes sociais, est mais propenso a debater as relaes polticas de classe e vice-versa. Mesmo assim, sabemos que h a relutncia por conta da estrutura de poder da sociedade, pela divisosexual do trabalho, que coloca a mulher como organizadora, apoiadora de atuaes que homens tomam afrente.

    Os espaos para serem disputados, muitas vezes, as mulheres precisam ganhar no grito einjustamente acabam sendo taxadas de fundamentalistas feministas. Atualmente no h o interesse dasmulheres de comporem as demandas polticas que no tangem somente suas questes, as mulheres dificilmentese juntam para debater suas vises polticas para entender suas semelhanas e diferenas. S se pensa emdiscutir problemas sociais quando a gua bate na bunda dos homens, temos que entender que o s debatesde questes especficas no divide a classe trabalhadora, pois a classe trabalhadora tem gnero, raa,orientao sexual. Temos que superar a dificuldade de nos percebermos quanto classe. O debate da polticaest no nosso cotidiano, uma falcia dizer que todos os problemas sero resolvidos com a Revoluo,todos estes aspectos devem caminhar juntos, visando o que queremos para a sociedade.

    c) Renata GonalvesProfessora de Sociologia do departamento de Servio Social da Unifesp/Santos

    Renata iniciou a fala sugerindo a possibilidade de chamarmos os companheiros das organizaescitadas da poca de organizao da Terezinha para falar como viam e veem hoje a questo da mulher.

    Conta que o feminismo brasileiro sempre foi muito influenciado pelo feminismo europeu. A diviso dofeminismo acontece, principalmente, entre o movimento de mulheres trabalhadoras da periferia e as mulheresfeministas de classe mdia. Nosso feminismo foi impulsionado pelas mulheres exiladas da ditadura, queencontraram na Europa efervescente de Simone de Beauvoir uma inspirao. Porm, quando retornaram aoBrasil, sofreram muita resistncia dos seus prprios companheiros dentro dos movimentos de esquerda contra ofeminismo. Fez uma breve comparao da situao da mulher no Brasil na dcada de 60 e 70, com asmulheres organizadas na Europa, nos chamados Crculos de Paris.

    Ela retoma a Revoluo Francesa, uma revoluo burguesa que tinha como proposta a igualdadeentre todos os cidados e trouxe um novo ordenamento poltico para o mundo. As mulheres participaram doprocesso, mas depois foram expulsas do movimento e dos espaos pblicos aps o chamado estado de paze perderam seu status de cidads. Isso porque as mulheres sofreram com a naturalizao de um papelfeminino de mulher virtuosa, que foi utilizado como justificativa para forar seu retorno ao lar, que era seulugar definitivo como cuidadora - pensamento influenciado por Rousseau.

    Os Direitos do Homem e do Cidado, documento criado poca afirmava a necessidade deigualdade entre os seres humanos. Mas os cidados, na verdade, eram bem determinados: homens, maioresde 21 anos, que detinham propriedade, como na Repblica de Aristteles, em que apenas alguns podiamparticipar da poltica. Rosseau era a base terica do momento, assim como a filosofia antiga de Aristteles.Esta lgica aristotlica d base para levar adiante a ideia de que somente os homens proprietrios (nomomento, chamado de burgueses) poderiam participar da vida poltica. O lugar da mulher era na vidadomstica. Lembra que na Revoluo Russa de 1917 h elementos da Revoluo Francesa, mesmo com algunsavanos em seu incio. Cita Kollantai, que chama a ateno para a crtica dos companheiros comunistas queviam na discusso sobre mulheres um enfraquecimento da luta comunista.

    Mesmo com os avanos que as mulheres conseguiram no ps-revolues, o problema do machismopassou muito longe de ser solucionado. Comumente, a questo das mulheres era e ainda vista como umaespecificidade, algo que ser resolvido depois da revoluo e pode ser secundarizado. Pior: vista como umaquesto que pode dividir o movimento e causar rompimentos internos. Essa lgica reproduzida em todos osmovimentos, inclusive os emblemticos como El Salvador, EZLN e MST.

    O que rege a diviso sexual do trabalho so os princpios de separao e hierarquia, que ditam queo trabalho feminino vale menos do que o masculino. Assim, as mulheres reproduzem as mesmas funespatriarcais de sempre durante e aps as revolues. Ainda que peguem em armas, so as responsveis porcozinhar, cuidar da sade e educao de crianas e da comunicao. A elas so reservadas posiessubordinadas, que dependem do aval dos companheiros homens, especialmente da figura de autoridade do

    pai e do marido. Dessa forma, as mulheres nos movimentos permanecem refns da diviso pblico/privado,exercendo jornada tripla e recebendo ordens, tal qual o espao domstico ditava. At mesmo estupros e

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    outras violncias contra elas so acobertadas, em nome do projeto da revoluo. Em resumo, temos doisprincpios bsicos dessa diviso sexual: princpio da separao de atuao e princpio da valorizao destestrabalhos.

    Renata aborda o estudo da sociloga, professora, feminista francesa, Jules Falquet, para nos contarcomo se deu a participao da mulher na Frente Farabundo Mart de Libertao Nacional (FMLN), em El

    Salvador. Falquet vai para El salvador e acompanha a participao das mulheres na guerrilha. Escreveu edocumentou quase todo o processo. Percebeu que as mulheres faziam de tudo um pouco, mas as principaistarefas das mulheres consistiam em tarefas que mantinham a ideia de diviso sexual de trabalho. Na rdioque atuavam, s podiam levar ao ar, aquilo que fosse passado pela aprovao dos homens. Havia enormeresistncia em permitir a ascenso das mulheres nas posies militares dentro da guerrilha. As mulheresacabavam desempenhando dupla ou tripla jornada dentro do movimento de guerrilha, pois acabavamconciliando os deveres familiares com os deveres polticos. Muitos dos dirigentes eram pais ou maridos dasmulheres e isso aumentava a relao de autoridade entre estes (autoridade patriarcal do domstico para opblico).

    No Zapatismo, por exemplo, h uma lei revolucionria para proteger mulheres e crianas dosestupros, casamentos forados e exploraes. Apesar disso, as mulheres do movimento permanecemresponsveis por cozinhar, cuidar dos feridos e fazer tortillas, com um nmero inexpressivo de comandantes

    mulheres.No MST, da mesma forma, o modo burgus de sociedade reproduzido nos assentamentos. um

    movimento que tem como lema no repetir os erros do passado, e se diz um movimento da famliaembora oconceito de famlia seja discutvel e faa parte do problema. conhecido justamente por ter a participaoativa de mulheres e crianas, ainda que as mulheres permaneam essencializadas como cuidadoras. Nosacampamentos onde se encontra mais igualdade nas tarefas, porque as mulheres fazem a segurana, porexemplo, e os homens cozinham. Mas, a impresso que Renata relata de que no assentamento como se ascoisas voltassem ao normal, e as estruturas de poder familiar so retomadas, relegando as mulheres aoespao das tarefas domsticas novamente. Ela acredita que isso acontece porque os acampamentos nosofrem a influncia do Estado, na verdade, eles so o verdadeiro dedo na ferida do Capital, com suaclandestinidade. No acampamento foi visto uma maior igualdade entre homens e mulheres. Todos tem apossibilidade de participarem das falas na assembleia. proibida num regimento qualquer forma de

    violncia contra mulheres. Uma vez que o movimento se concentra no assentamento, ele entra novamente nalgica da propriedade privada, e assim volta a ser regido pelas normas capitalistas e patriarcais. Noassentamento, as mulheres recuam para os afazeres domsticos. Comea interferncia do Estado e omovimento perde o cunho poltico que tinha antes.

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    2.3 Grupos de discussoO pblico presente foi dividido em trs grupos de discusso para que discutissem, e se possvelpropusessem encaminhamentos, com base na questo:Quais formas/ estratgias de enfrentamento ao machismo nos movimentos?

    a) Grupo 1: Relatou a necessidade de trabalhar as relaes humanas de forma poltica e subjetiva; A questo da violncia de gnero uma questo de todos, e deve ser internalizada e tomada

    por todos; Criar possibilidades de ao que no caiam no escracho; necessidade de formao por meio de

    textos, vdeos, etc. Pensar no como se solidarizar com as companheiras agredidas, e se tal solidariedade seria

    incondicional; Como se define o agressor, pensando que a solidariedade no pode implicar em parcialidade; As mulheres tem que ir para o debate e o agressor tem que se retratar, para que evite a sada

    da companheira da organizao;

    Qual o compromisso das organizaes para lidar com isto, quanto a trabalhar as relaeshumanas, j que a agresso um problema de todos, e a desconstruo tem que ser coletiva;

    Pensar em formas de posicionamento, desde o escracho, e sobretudo criar situaes cotidianas dedebate sobre a questo da mulher para que no venha acontecer novos casos;

    As situaes especificas das mulheres deve ser pauta permanente; Troca de experincias entre coletivos.b) Grupo 2: Foram discutidas experincias praticadas no MST, como as cirandas, criao de secretaria de

    mulheres que debate o machismo no interior do movimento, etc.; Duas posies sobre o escracho: que no deve ser a primeira opo, que devemos pensar em

    outras possibilidades no punitivas, mas que por outro lado, s vezes, necessrio para garantira permanncia da mulher no espao;

    Sugesto de continuidade do seminrio, mas construda de outra forma, menos centralizada(pessoas falam e outras escutam).

    Necessidade de historicizar a luta das mulheres, para que a opresso ao protagonismo da mulhermilitante possa ser melhor entendida e debatida;

    Pensar como se tratar a questo de muitas companheiras estarem saindo de espaos mistos paramilitar s em grupos de mulheres, porque se sentem mais acolhidas;

    Que na continuidade do seminrio, se paute contra quem a esquerda est lutando, j que no sna questo de gnero, estamos atuando numa lgica de punio ou omisso diante dos fatos,reproduzindo a prxis do Estado que se omite ou oprime quando conveniente, em benefcio deuma classe, na sntese do Estado Penal;

    Conclui-se que h um dficit geral de formao sob tais questes levantadas.c) Grupo 3: Formao poltica Criar um processo permanente de formao que d conta da interseco entre as questes de

    classe, raa e gnero, e que empodere mulheres em sua fala para disputar os espaos polticos com oshomens.

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    Ter um foco denso, de qualidade, considerando que a jornada tripla j representa umobstculo para a formao aprofundada das militantes.

    Ensinar feminismo aos homens, e fazer com que cobrem isso entre si. Auto-organizao

    Incentivar a organizao de mulheres em espaos exclusivos para fortalecimento, em harmoniacom os espaos mistos. Criar uma cultura do direito autodefesa, incentivando mulheres a se fortalecerem fsica e

    psicologicamente para situaes de risco e agresso.

    Tornar pblicos os casos de machismo Trazer para o espao de discusso coletiva os casos de machismo que ocorram dentro dos

    movimentos e grupos, derrubando a ideia do privado/pblico. Desconsiderar, ou ao menos desencorajar a via legal para resoluo dos conflitos. Romper com o imediatismo Pensar tticas especficas para cada caso e contextualiz-los cuidadosamente.

    2.4 Encaminhamentos finaisa) Escrita de uma carta-chamado a demais coletivos e militantes da esquerda para continuidade do

    seminrio em 2013, grupos que se propuseram: Anastcia Livre, Violeta Parra, Yab, ManGarrincha, Casa Mafalda.

    * Foi sugerido que nesta carta inclua um trecho em solidariedade aos lutadores e lutadoras de todo omundo.

    b) Reunio de balano da atividade, no dia 02 de dezembro de 2012, s 14h, no Man Garrincha.Com a seguinte pauta prvia:

    - Balano da atividade- Confeco da carta-chamado para continuidade do seminrio em 2013- Pensar estratgias/dinmicas para esta continuao.

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    ANEXOS

    1CARTA DE CONVOCAO A COLETIVOS

    COMPANHEIRAS,

    Em casa, no trabalho, nas ruas, nas organizaes, o machismo se manifesta. No novidade afirmar que eleest presente em todos os espaos em que nos encontramos. E que a superao do machismo e do patriarcado uma luta da classe trabalhadora, essencialmente das mulheres trabalhadoras.

    Convivemos diariamente com situaes de opresso manifestadas pelos mais diversos tipos de violncia contraa mulher, seja fsica, verbal, psicolgica, sexual, domstica, familiar, institucional. E ns mulheres, pertencentesa coletivos de esquerda, que lutam contra todas as formas de opresso da sociedade capitalista e pelaigualdade social, no estamos isoladas de tais violncias.

    Na prtica cotidiana de nossas lutas vemos manifestaes de machismo por parte de nossos companheiros e

    tambm de companheiras. Entendemos que todas e todos ns, somos frutos dessa sociedade desigual, violentae opressora; onde historicamente as mulheres pretas e as nativas das Amricas sofreram e ainda encontram-seem meio ao abuso e explorao do homem branco e da mulher branca burgueses, vivendo muitas vezes emcondies subumanas de negligncia por parte do Estado, que tem a represso como sua ideologia. Mastambm entendemos, que na condio de lutadoras e lutadores, temos que avanar na reflexo das opressese entre ns superarmos esta reproduo.

    Ns mulheres, no campo, na cidade e na floresta, sempre estivemos frente s lutas pelo po, terra eigualdade, mas o patriarcado, tambm presente nos espaos de organizao, tenta apagar a nossa histria ea nossa combatividade. , portanto, mais que urgente, nos unirmos para refletir sobre a reproduo domachismo nos espaos da esquerda revolucionria.

    Por este motivo, convidamos vocs, mulheres de coletivos, para uma reunio conjunta a debater tal questo. Ejuntas construirmos uma primeira atividade, voltada aos companheiros e companheiras da esquerdaanticapitalista e revolucionria, que ainda no sentem a necessidade de discutir a questo da mulher, dasuperao do machismo e do patriarcado como bandeira de luta. Entendemos que no h fim do capitalismo,ou de qualquer sistema de opresso, enquanto ns trabalhadoras continuamos sendo reprimidas e mortas,pelo fato de nossa existncia, pelo fato de sermos mulheres.

    Em luta seguimos!

    Coletivos ANASTCIA LIVRE E VIOLETA PARRA

    Reunio: 05 de agosto de 2012, domingo, 14horas.

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    2CARTAZ DA ATIVIDADE

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    Relatoria e Organizao do Documento: Coletivo Anastcia Livre

    Filmagem e Edio: Ratitu (Rdio Muda)

    So Paulo, Novembro, Ano 512 da Resistncia