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2ª fase do Modernismo Brasileiro
Geração de 30
Contexto histórico
Revolução de 30
Questionamento das
tradicionais oligarquias
Crise econômica
mundial
Choques ideológicos
Postura mais definida e
engajada: crítica e
denúncia das
desigualdades sociais
Romance social
Caminhos Cruzados (1935)
Romance urbano
de instropecção
psicológica
Panorama das
diversas
camadas sociais
“um livro de protesto que marca a inconformidade do romancista ante as desigualdades, injustiças e absurdos da sociedade burguesa” Érico Veríssimo (em 1964 no prefácio de
Caminhos Cruzados)
Técnica do “Contraponto”
Narrativas simultâneas,
intercaladas e interrelacionadas
120
“instantâneos”
da manhã de
sábado à noite
de 4ª feira
Fragmentos de situações vivenciadas por
diversos setores socias e personagens
Teia narrativa: fatos e
acontecimentos entralaçados
História
coletiva
• Democratização das vozes
que se pronunciam
(presença de diálogos)
• Tensões sociais:
desigualdades, injustiças
e hipocrisia da classe
burguesa
“[...] Rechaço a ideia de que o escritor deva estar necessariamente a serviço dum partido político, mais aceito a de que ele possa fazer isso, se assim entender. Fala-se muito em literatura engajada. Repito mais uma vez que o engajamento dum escritor deve ser com homem e vida, no sentido mais amplo e profundo destas duas palavras.” (Cadernos de Literatura Brasileira,
2003, p.35)
Contraste social
Família rica
Família pobre que ganha
dineiro na loteria
Pobreza Família miserável
Riqueza
X
Conservadorsimo
Catolicismo
Narcisismo
Hipocrisia
Teôtonio Leitão Leiria
D. Dodó
Vera (Homossexualidade)
Família rica
Dr. Armênio
Mas os olhos de Dodó procuram, procuram uma coisa que ela própria tem vergonha de confessar a si mesma... Mas procuram assim mesmo. A vaidade é um pecado. (...) É uma luta entre o Anjo da Guarda e Satanás. O Anjo da Guarda murmura:
“Dodó, uma cristã verdadeira não deve ter vaidades mundanas. (...) não procures mais...” Satanás porém, salta com sua carantonha horrível e diz: “Procura, procura, porque isso é bom, a gente sente uma coisa agradável dentro do peito, (...).” Mas o Anjo não abandona a sua protegida. E vai vencer. Porque Dodó baixa os olhos depressa para ler outra notícia. Mas é tarde... Ela já viu. (...). Ali está o nome dela... “o nome da Exma. Sra. D. Dodó Leitão Leiria, um dos mais finos vultos do nosso set, verdadeira figura de romana, a mãe dos pobrezinhos, uma personalidade a cuja inteligência, esforço, dedicação e qualidades de coração devemos a criação da maioria dos nossos hospitais e asilos...” A comoção lhe sobe em forma de maçã até a garganta. Seus olhos se turvam..
Novos ricos
Modos Interioranos
Dinheiro= status
Vida pródiga
Deslumbramento com
a cidade
Cel José Maria Pedrosa
D. Maria Luísa
Manuel
Chinita
Família pobre que enriqueceu
Salustiano Rosa (Salu)
D. Maria Luísa rumina a sua desgraça.(...). O rapaz se fina aos poucos, consumido pelas farras, pelas noites passadas em claro, pela bebida. A filha perdeu todo o respeito pelos pais, vive na rua, solta, como uma mulher da vida, desbocada, atrevida. Zé Maria perdeu o governo da casa e agora arranjou uma amante. Amigado! Maldito dinheiro! (...) dinheiro de loteria traz desgraça.
Vida marcada pela doença
tuberculose
Família miserável
Maximiliano espera. Os dias são longos. Quando trabalhava na loja, achava que o relógio andava devagar. (...) Os ruídos da rua chegam até aqui: buzinas, músicas, vozes. Os raros visitantes ficam à porta. Ele compreende... Medo do contágio. (...). O que tem é pena da mulher e dos filhos. O melhor mesmo é que a morte venha logo.
Maximiliano
Esposa
Dois filhos (Bidinho, 7
anos)
A mulher não tem serventia, não sabe fazer nada: moça criada com luxo, apesar de pobre. No princípio tudo correu bem, viviam relativamente bem com seu ordenado modesto. Um dia, aquela dor no peito, aquela fraqueza, falta de apetite, tosse. Havia um caso de tuberculose na família. (...) . Duma feita apanhou chuva. Daí por diante foi piorando. Deixou de ir à loja cinco dias seguidos. Nas outras semanas teve outras falhas. O patrão disse que não era “pai de cascudo” e mandou-o procurar outro emprego. Foi. Não encontrou. A doença progredia. O médico ficou com pena, aconselhou mudança de ar, pelo menos mudança de casa. Mas com que dinheiro?
Desemprego
Passividade
Embate entre sonho e
realidade
Família miserável
João Benévolo mira o carro com olho triste. O que sente não é raiva. O Sebastião, que também está desempregado, tenta impingir-lhe ideias comunistas. Diz que o dinheiro está mal distribuído no mundo: uns têm demais, outros têm de menos; uns tomam banho em champanha, outros morrem de fome. Mas o sentimento que os ricos despertam em João Benévolo
João Benévolo
Laurentina
Napoleão (doente)
Ponciano
é de admiração e de inveja. Uma inveja passiva de quem sabe que nunca, por mais que faça e pense e grite, poderá atingir aquelas culminâncias de felicidade e conforto. João Benévolo admira os ricos como a criaturas dum mundo remoto completamente fora de seu alcance e aceita-os quase como os povos antigos aceitavam seus reis — por direito divino. (...).
Família pequeno-burguesa
Cotidiano monótono
Ressentimentos
Falta de diálogos
Demais grupos
Virgínia não acha paradeiro em casa. A solidão a sufoca. Saudade do sol, saudade de vozes humanas. Tem a impressão de estar num presídio. Caminha do quarto para a sala de jantar, desta para o hall, do hall para o escritório do marido, do escritório para o living. Abre livros e revistas para tornar a fechá-los logo depois com impaciência. (...).
Honorato Madeira
Virgínia (Gina)
Noel
Alcides
Que fazer? Não há remédio senão ficar deitada, parada, pensando. (...). O cheiro do marido, o cheiro das criadas, o cheiro da cozinha, o cheiro especial de cada peça da casa... Tudo sempre igual, repetido, sem surpresa. Eternamente a rotina familiar, o horário invariável, os mesmos assuntos e probleminhas...
Perda do marido
Responsabilidade familiar
a cargo da filha Fernanda
Fernanda pensa... A vida podia ter sido bem diferente para ela. Se o pai não tivesse morrido daquela maneira desastrosa... ou se, morrendo, deixasse a família amparada: um seguro, uma pensão... Se ela tivesse conseguido ser nomeada professora,,,...
D. Eudóxia (mãe)
Fernanda
Pedrinho
Noel Cacilda
SONHO X REALIDADE
Profº Clarimundo
Alienação
Liberdade Cotidiano monótono
e opressivo
Personagem de seu próprio
romance
Tira da gaveta um maço de papéis. Bota uma pena nova na caneta e resolve começar o famoso prefácio de “O Observador de Sírio”.
Qual! Também não presta. O livro tem de sair fora dos moldes comuns. O melhor é atacar o assunto diretamente. Crava a pena no papel, que geme. A pena desliza: “A vida, prezado leitor, é uma sucessão de acontecimentos monótonos, repetidos e sem imprevisto. Por isto alguns homens de imaginação foram obrigados a inventar o romance. (...) Debalde os romancistas tentam nos convencer de que a vida é um romance. Quando saímos da leitura duma história de amor, ficamos surpreendidos ao nos encontrarmos na vida real diante de pessoas e coisas absolutamente diferentes das pessoas e coisas das fábulas livrescas.
Repito: a vida é monótona. Queres um exemplo frisante, vivido, observado, verificado? Ei-lo, leitor amigo: Moro numa rua suburbana cujo ponto culminante é a janela do meu quarto. E que vejo eu do meu posto de observador céptico? O mesmo ramerrão cotidiano, os mesmos quadros monótonos. (...) (...) Daí a ideia de escrever este opúsculo. Nele ciência e fantasia se combinam. Imagine-se um ser dotado da faculdade de raciocínio postado em Sírio e de lá olhando a Terra com um telescópio poderoso... Que visões terá ele do nosso planeta? Está claro que não poderia ver as criaturas e as coisas da vida como nós, pobres terrenos, as vemos. Pois eu te vou contar, leitor amigo, o que o meu observador de Sírio viu na Terra.”
SONHO X REALIDADE
Noel Transita de seu mundo
particular para a escritura de
um romance engajado
— Que é que achas? — pergunta Noel. Os olhos de Fernanda brilham foscamente na sombra. — Acho que vai bem. Agora é ter força de vontade e continuar. Quantas páginas escreveste? — Vinte. Foi um esforço danado. A todo o momento eu estava caindo em narrações autobiográficas, contando coisas da minha infância. De repente comecei a sentir que perdia o contato com a realidade e que eu já estava enveredando para o domínio das fadas. O meu herói já não tinha consciência da sua miséria...
Fernanda sorri e pensa: “Quando a gente nunca sentiu a miséria, nem sequer a pode imaginar...” Noel continua: — Sentia-se feliz porque lhe davam paz para sonhar. A miséria de sua casa era uma miséria dourada. Ele esquecia a mulher, os filhos e a falta de emprego e começava a recordar a infância com os seus mistérios e os seus contos de fada...
SONHO X REALIDADE
João Benévolo Personagem duplo
Opera-se a transposição mágica. João Benévolo salta da vida real e se projeta no domínio da ficção. Já não está mais em Porto Alegre, num sábado de maio, na Travessa das Acácias. Agora
ele se encontra em plena Paris de 1626. O seu corpo fica aqui na salinha acanhada e pobre — pequenino, anguloso, fraco, ombros encolhidos, pele amarela — e o seu eu sonhador, o seu ideal, livre das contingências humanas, vai se encarnar em D’Artagnan. João Benévolo se sente ágil, flexível e rijo como um florete. Desapareceu dele aquela sensação deprimente de ser fraco, de tudo temer e nada ousar.
SONHO X REALIDADE
Chinita Situações cinematográficas
No alto da escada aparece Chinita vestida de branco, vaporosa, cabelos úmidos e muito lambidos, franja colada à testa. Fica imóvel por alguns instantes: sua silhueta se recorta contra o violeta profundo da parede. Olha para baixo languidamente. (Greta Garbo.) A boca grande se parte num sorriso. (Joan Crawford.)
Greta Garbo
Joan Crawford
Tons de impressionismo
Cinco horas da manhã. A carroça do padeiro passa estrondando, fazendo tremer a quietude da cidade afundada [...] Quase invisível dentro da névoa, um gato cinzento passeia sobre o telhado da casa da viúva Mendonça. Debaixo desse telhado fica o quarto do prof. Clarimundo.
Descrição do cenário
Percurso cromático Da sua janela, ponto culminante da Travessa das Acácias, o Prof. Clarimundo viaja o olhar pela paisagem.(...) . Mais no fundo, um pomar com bergamoteiras e laranjeiras pontilhadas de frutos dum amarelo de gemada. Quintais e telhados, fachadas cinzentas com a boca aberta das janelas. (...). A fileira das acácias se estende rua afora. As sombras são dum violeta profundo. O céu está levemente enfumaçado e a luz do sol é de um amarelo oleoso e fluido. (...) Grasnar de buzinas. Num trecho do Guaíba que se avista longe, entre duas paredes caiadas, passa um veleiro.
(Unicamp-2017) “São Francisco botava o dedo nas feridas dos
leprosos. Mas é que ele era um santo, fazia milagres, e ela é
simplesmente Doralice Leitão Leiria, um ser humano como qualquer
outro.” (Érico Veríssimo, Caminhos cruzados. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016, p.77.)
“ – Queres seguir a política? Então? Procura imitar Bismarck! Haverá
padrão melhor?” (Idem, p. 290.)
Os fragmentos acima captam um dos traços principais de Caminhos
cruzados no que diz respeito à identidade narrativa das personagens.
Considerando o conjunto do romance, tal traço consiste em uma
a) percepção de que a necessidade de status na vida social e a
produção de desejos políticos e religiosos nascem da cópia de um
modelo consagrado.
b) afirmação, por meio do narrador, da necessidade de protagonistas
bem construídos para o êxito da narrativa ficcional.
c) recusa dos modelos bem sucedidos na vida social, pois eles
constrangem a imaginação artística e moral dos romancistas.
d) representação literária da condição humana, que não necessita de
figuras imaginárias para atribuir sentido à vida religiosa e política.