apresentação aula de 26/02/1975

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GEIARF 22/10/2015 Os anormais Aula de 26 de fevereiro de 1975 . Um novo procedimento de exame: desqualifcação do corpo como carne e culpabilização do corpo pela carne – A direção de consciência, o desenvolvimento do misticismo católico e o en!meno da possessão " #istinção entre possessão e eitiçaria " A possessão de $oudun " A convulsão como orma pl%stica e vis&vel do combate no corpo da possessa " ' problema do(a)s possesso(a)s e de suas convuls*es não est% inscrito na +istória da doença " 's anticonvulsivos: modulação estil&stica da confssão e da direção de consciência: apelo medicina- recurso aos sistemas disciplinares e educativos do sculo /011 " A convulsão como modelo neuroló2ico da doença mental. 3a 4ltima aula... 5 instauração de novas tecnoloias de sa!er e de "oder  sobre o cor"o, solit#rio e dese$ante 1  (carne) com a contra%Reforma (6onc&lio de 7rento " 899" 89;<). 3ovas re2ras da confssão obri2atória: e&austiva (toda a existência) e e&clusiva (conessor)- 3ovas t cnicas de viil'ncia , controle, distri!ui()o no es"a(o, anota(*es, etc. no e&+rcito, nos col+ios, nas f#!ricas, nas escolas, visando o disci"linamento do cor"o (sculos /01"/011) = anatomia pol&tica do corpo, uma fsiolo2ia moral da carne (dese>o e decência) = medicina peda2ó2ica da masturbação ? dese>o ? instinto = peça central anomalia, que vai trazer a se&ualidade para o campo da anomalia @mer2ência do cor"o de dese$o e de "ra,er, deslocado da direção espiritual para dist4rbio carnal    dom-nio discursivo cam"o de interven()o o!$eto de con.ecimento or"o ?sede das intensidades m4ltiplas de "ra,er e deleite sens-vel  e com"le&o da concu"iscncia B correlativo dessa nova t+cnica de "oder- ? cul"a!ili,a()o do corpo pela carne, o!$eto de discurso  e investia()o anal&tica- Cuncionamento da rera "ositiva da enuncia()o ?a se&ualidade + o ue se confessaD Efeito (de base) dessa nova tecnolo2ia de poder na 12re>a ? "ossess)o (cristianização em "rofundidade 2 ) 8 3ão mais a or2ia, o contato &sico, mas o adolescente masturbador com seus pequenos dese>os.

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7/21/2019 Apresentação aula de 26/02/1975

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GEIARF

22/10/2015

Os anormais Aula de 26 de fevereiro de 1975

.Um novo procedimento de exame: desqualifcação do corpo como carne e culpabilização docorpo pela carne – A direção de consciência, o desenvolvimento do misticismo católico e o

en!meno da possessão " #istinção entre possessão e eitiçaria " A possessão de $oudun " Aconvulsão como orma pl%stica e vis&vel do combate no corpo da possessa " ' problemado(a)s possesso(a)s e de suas convuls*es não est% inscrito na +istória da doença " 'santiconvulsivos: modulação estil&stica da confssão e da direção de consciência: apelo medicina- recurso aos sistemas disciplinares e educativos do sculo /011 " A convulsão comomodelo neuroló2ico da doença mental.

3a 4ltima aula... 5 instauração de novas tecnoloias de sa!er e de "oder  sobre o

cor"o, solit#rio e dese$ante1 (carne) com a contra%Reforma (6onc&lio de 7rento " 899"

89;<).3ovas re2ras da confssão obri2atória: e&austiva  (toda a existência) e e&clusiva

(conessor)-

3ovas tcnicas de viil'ncia, controle, distri!ui()o no es"a(o, anota(*es, etc. no

e&+rcito, nos col+ios, nas f#!ricas, nas escolas, visando o disci"linamento do cor"o

(sculos /01"/011) = anatomia pol&tica do corpo, uma fsiolo2ia moral da carne (dese>o e

decência) = medicina peda2ó2ica da masturbação ? dese>o ? instinto

= peça central anomalia, que vai trazer a se&ualidade para o campo da anomalia

@mer2ência do cor"o de dese$o e de "ra,er, deslocado da direção espiritual paradist4rbio carnal

    dom-nio discursivo – cam"o de interven()o – o!$eto de con.ecimento

or"o ?sede das intensidades m4ltiplas de "ra,er e deleite – sens-vel e com"le&o da

concu"iscncia B correlativo dessa nova t+cnica de "oder-

? cul"a!ili,a()o do corpo pela carne, o!$eto de discurso e investia()o anal&tica-

Cuncionamento da rera "ositiva da enuncia()o ?a se&ualidade + o ue se

confessaD

Efeito (de base) dessa nova tecnolo2ia de poder na 12re>a ? "ossess)o (cristianização em

"rofundidade2)

8 3ão mais a or2ia, o contato &sico, mas o adolescente masturbador com seus pequenosdese>os.

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@eitos da cristianização "ossess)o 3s+c4 %I 8 feiti(aria 3I%

II

  Cen!meno interior<- urbano- invasão exterior- rural- pacto(>ur&dicoEtroca)6orpo multiplicidade de movimentos, abalos uno, serviço do mal

  sensaç*es, tremores ? insidiosa e irresist&vel penetração do diabo

ossess)o: v&nculo de +abitat, de residência, de impre2nação, e não contratual (eitiçaria).Fai de cena a ima2em, o sexo, a imaterialidade corporal da eiticeira e entram as sensa(*esestran.as, como uma lenta penetração do diabo no corpo (sutileza), +% luta, +% batal+a, enão o consentimento total (eitiçaria).

Gossessão: vontade carre2ada dos eu-vocos do dese$o: pequenas condescendências.

' corpo da feiticeira: marcas do "rest-io: ele participa da potência diabólica, ao mesmotempo que permite ser descoberta-

' cor"o da "ossu-da: lu2ar de teatro de diferentes "oderes, cor"o%cidadela ("oder%

resistncia) ? teatro som#tico da "ossess)o ? teatro :siol;ico%teol;ico

@sse com!ate, como assinatura (H marca da eiticeira) ser% ca"ital na .ist;ria m+dica

e reliiosa do Ocidente  =convuls)o < forma "l#stica= vis-vel= do com!ate no

cor"o

>o()o%aran.a: estende seus fos do lado da  relii)o 3misticismo e damedicina/"siuiatria (p. I;J).

6onvulsão: durante dois sculos e meio, ser% o m;!il da batal+a entre amedicina e o catolicismo

A carne  torna"se carne convulsiva, no interior dessas novas "r#ticas de dire()o deconscincia  (6ontra"Keorma): corpo atravessado pelo direito do exame, submetido obri2ação da confssão exaustiva, sua resistncia5 

arne convulsiva < L, ao mesmo tempo, o efeito 4ltimo e o ponto de retorno dessesmecanismos de investimento corporal que a nova va2a de cristianização +avia or2anizadono sculo /01. M...N o eeito da resistncia  dessa cristianização no n&vel dos corposindividuaisO (p. IPQ).

Feiti(aria: eeito e oco de resistência da 8R va2a de cristianização dos tri!unais deInuisi()o

ossess)o: eeito e ponto de inversão do confession#rio e da dire()o de conscincia

I Ao contr%rio do que ocorre no en!meno da eitiçaria, eeito de uma cristianização malsucedida.

< 6onSitos próprios da instituição eclesi%stica.

 A feiticeira subscreve a troca, é uma vontade de tipo jurídica, soberana.

9 Onde há poder, há resistência.

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L3ão azendo uma +istória das doenças psiqui%tricas ou mentais do 'cidente que sepoder% entender por que os possu&dos, por que os convulsion%rios MapareceramN. 3ão creioque se>a tampouco azendo a +istória das superstiç*es ou das mentalidades: não oi porquese acreditava no diabo que os convulsion%rios ou os possu&dos apareceram. 6reio que azendo a +istória das relaç*es entre o corpo e os mecanismos de poder que o investem quepodemos c+e2ar a compreender, como e porque, nessa poca, esses novos en!menos dapossessão apareceram, tomando o lu2ar dos en!menos um pouco anteriores da eitiçaria. Apossessão az parte, em seu aparecimento, em seu desenvolvimento e nos mecanismos

que a suportam, da .ist;ria "ol-tica do cor"oO (p. IPQ"IP8).

T o caso de ?oudun (8;<I) ilustra a inter"enetra()o dos fen@menos da feiti(aria coma "ossess)o: a representação de um esorço sistem%tico de transcrever o en!menonovo  da possessão, na vel.a  litur2ia da caça s bruxas. A 12re>a tentou liquidar essesconSitos, que +aviam sur2ido da própria tcnica que ela empre2ava para exercer o poder,reinscrevendo"os nos vel.os "rocedimentos da Inuisi()o, caracter&sticos da caça sbruxas. 3o caso de $oudun, a 12re>a viu"se obri2ada a amputar um de seus membros, paraLcontrolar e dominar fen@menos ue "ertenciam a outra ordem de coisasO (p. IP<) 5

novas "r#ticas= vel.as estrat+ias

O"era()o onerosa  (automutilação) mediante formas de interven()o arcaicas(mecanismo >ur&dico), rente novas formas do "oder eclesi%stico: Le sorte ue vemosem ?oudun a Ire$a tro"e(ar nos efeitos "aro&-sticos de sua nova tecnoloiaindividuali,ante de "oder= e a vemos fracassar em seu recurso reressivo earcai,ante aos "rocedimentos inuisitoriais de controleO (p. IP).

ro!lema da 12re>a em meados do sculo /011: omo overnar a carne sem cair nacilada das convuls*esV omo diriir a carne sem ue o cor"o se o"on.a a essadire()oV

Anticonvulsivos: i) rera da discri()o: princ&pios de atenua()o  discursiva (enunciaçãocontida)- e, para crianças, mtodo de insinua()o  (dizer sem nomear)- ii) e&"uls)o doconvulsivo: azê"lo passar a outro re2istro discursivo e a outro mecanismo de controle, que o da medicina: a convuls)o  torna"se o!$eto  m+dico "rivileiado, e + ane&ando acarne ue a medicina vai se :rmar na ordem da se&ualidade:

A carne (a priori +istórico), o!$eto recortado e orani,ado "elo "oder eclesi#stico , vaiser recodi:cado  pela medicina, que começa a se tornar um controle +i2iênico, compretens*es cient&fcas da sexualidade. BCistema nervosoD: a "atoloia do sculo /0111, aprimeira 2rande codifcação anat!mica e mdica da carne, desse dom&nio que a pr%tica dapenitência +avia isolado e constitu&do: Lo sistema nervoso assume, de pleno direito, o lu2ar

da concupiscência. W a versão material e anat!mica da vel+a concupiscênciaO (p. IXI). Gorisso, o estudo da convuls)o vai ser a "rimeira rande forma da neuro"atoloia4

Gor volta de 150, a "siuiatria se desaliena, e se l+e atribui o instinto e seus dist4rbios,como seu  dom-nio. @ a convuls)o, nessa recodifcação pela medicina, vai sur2ir a2oracomo li!erta()o involunt#ria dos automatismos= constituindo%se o  modeloneurol;ico da doen(a mental:

LM...N a convuls)o como  li!erta()o autom#tica e violenta dos mecanismosfundamentais e instintivos do oranismo .umano M...N vai ser o "rot;ti"o da loucura.M...N 0ê"se conuir  assim toda essa lon2a +istória da con:ss)o crist)  e do crimemonstruoso, que a2ora conver2e nessa an%lise e nessa noção, tão caracter&stica da

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psiquiatria da poca, que a .isteroe"ile"sia6O (p. IX<). A "enetra()o da convuls)o nodiscurso e na "r#tica m+dicas= e&"ulsa "elo cam"o es"iritual= vai servir de modelo"ara os fen@menos da loucura4

=6onvulsão: móbil da 2rande batal+a entre o poder eclesi%stico e o poder mdico:

L#e $oudun a $ourdes, a $a Falette ou a $isieux, +ouve todo um deslocamento, toda umaredistribuição dos investimentos mdicos e reli2iosos do corpo, toda uma espcie de

translação da carne, rodo um deslocamento rec&proco das convuls*es e das apariç*esO-todos important&ssimos para a emer2ência da sexualidade no campo da medicina,incompreens&veis sem o estudo .ist;rico das tecnoloias de "oder.

iii) sistemas disciplinares e educacionais: azer uncionar a direção de consciência e aconfssão nos quartis, nas escolas, nos +ospitais, etc.

Los aparel+os disciplinares (col2ios, semin%rios, etc.), policiando os corpos, substituindo"osnum espaço meticulosamente anal&tico, vão permitir que se substitua essa espcie deteolo2ia complexa e um tanto irreal da carne pela observação precisa da sexualidade em seudesenrolar pontual e real. W o corpo, a noite, a +i2iene corporal, a roupa de dormir, a

cama, entre os lençóis que vai ser necess%rio encontrar os mecanismos ori2in%rios detodos esses dist4rbios da carne que a pastoral tridentina +avia eito sur2ir, que ela +aviaquerido controlar e pelos quais, por fm, ela se deixara en2anarO (p. IXP).

 O!$eto de interven()o desses novos mecanismos: o cor"o vi2iado do adolescente, domasturbador.

; LM...N que reinou desde os anos 8X9Q at sua demolição por 6+arcot em 8XP9"8XXQO (p.IX<).